Buscar

Direito Empresarial - João Glicério

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Direito Empresarial
Histórico: A primeira história que se tem acerca do comércio exercido como um instrumento de obtenção de lucro e de receita veio desde a idade mais primitiva do surgimento do homem. Quando o homem surge ele é essencialmente nômade e apenas vive da caça e da coleta de frutos e, isso era exclusivamente para sua subsistência. Há uma tendência natural de crescimento do ser humano, por isso, o ser humano passa a se especializar naquilo em que possui maior aptidão. Na época do surgimento do homem isso não era diferente: aqueles mais fortes, mais altos e que tinham maior aptidão para a caça começaram a caçar mais do que o precisavam para sua subsistência; os menores, mais leves e que tinham aptidão para subir em árvores, passaram a obter mais frutas do que o necessário à sua subsistência. Os homens daquele período começaram a se organizar em pequenas comunidades – dentro das comunidades começaram a ocorrer as trocas sobre o excedente e, isso possibilitou a ocorrência de uma estabilidade geográfica: o homem deixa a sua condição de nômade e passa a se fixar em determinada região. A condição de estabilidade deu ao homem uma outra aptidão – a aptidão agrícola. Iniciou-se a plantação e, o resultado dessa plantação foi utilizado pelo homem como forma de subsistência. Somente é possível viver da agricultura quando o indivíduo está sediado em uma região. Nesse momento, em suma, o homem perde seu caráter nômade e passa a viver em comunidade; a especialização gera a troca do excedente de produção. Sempre que existem relações entre seres humanos, existem conflitos e, se há conflito, regras de convivência devem ser travadas para evitar litígios. Naquele momento surgem as primeiras regras jurídicas, no sentido de acordos de convivência. O direito nasce a partir do direito comercial, pois os primeiros conflitos surgem a partir das trocas do comércio[footnoteRef:1]. Enzo Roppo é quem indica que o direito nasce do direito comercial. É a troca do excedente de produção que permite ao homem deixar a sua condição de nômade e assumir uma posição geograficamente estável e, diante disso, começa-se um processo de produção de utensílios. O homem passa a dar maior conforto a sua subsistência e, consequentemente, maior proteção à sua saúde. Quando o homem sai do nomadismo a expectativa de vida dá um grande salto. O direito empresarial não é somente a origem do direito, mas a evolução da sociedade ao estágio atualmente alcançado. A atividade empresarial atende ao que o homem tem de mais íntimo: a inquietude, a incompletude e a ambição. A internet, por exemplo, foi inventada pelo exército norte-americano para estabelecer comunicação entre suas bases, porém, a internet somente se desenvolveu efetivamente quando nela foram descobertos fins econômicos. O desenvolvimento socioeconômico da humanidade se deve à essência do ser humano em buscar o lucro. A formação dos impérios e das expansões territoriais se deu exclusivamente por conta de interesses econômicos. As revoluções sempre possuem um fundo econômico muito forte, mesmo aquelas que possuem como justifica formal ideologias ou religião. O comércio começa a se expandir de modo muito intenso. A disputa dos impérios era por conta de interesses comerciais mas, na Idade Média há um primeiro choque: a Europa Ocidental sofre a invasão dos povos nórdicos, os Estados nacionais desaparecem e as pessoas começam a se aglutinar em feudos, ou seja, comunidades produtivas autônomas onde eram estabelecidas relações de suserania e vassalagem. O feudo era murado e sua sede especialmente protegida e, era uma unidade de sustentabilidade, pois havia a produção de tudo necessário à sua subsistência. Assim como na idade primitiva, surge aqui a ideia da especialização: o feudo localizado em terra extremamente agricultável passou a produzir mais produtos decorrentes da terra; o feudo que possuía algodão e criação de ovelhas favorecida produzia mais vestuário. Os feudos passaram a se especializar e, a especialização gerou excedente de produção, havendo a necessidade de realizar a troca desse excedente. Algumas pessoas saiam dos feudos e se encontravam com pessoas de outros feudos para realizar essas trocas, até que começaram a se marcar pontos de encontro, que eram locais no meio do caminho entre os feudos que serviam para permitir o encontro com maior frequência. Esses entrepostos comerciais foram denominados de burgos e seus habitantes passaram a ser conhecidos como burgueses. Diante da superespecialização, alguns sujeitos passaram a viver somente da troca de excedentes e, assim, surgem os primeiros comerciantes profissionais da história (pós Idade Média). A classe burguesa surge então neste momento, sempre atrelada a ideia do comércio intensificado. No momento em que as pessoas passam a se especializar para viver exclusivamente do comércio, passa-se a experimentar os primeiros passos da globalização. A globalização é um fenômeno cultural, antropológico e social que derivou de um fenômeno essencialmente econômico. Ainda na Idade Média ocorrem as expansões marítimas como forma de busca por novos mercados, mercados globalizados e matéria prima. Das expansões marítimas tem-se o início da globalização do comércio. Atualmente o país mais capitalista do mundo é a China, seguida pela Rússia. O mundo é capitalista e, dentro dessa lógica, a essência do capitalismo é a atividade empresarial e, é fundamento do capitalismo a livre iniciativa. [1: Alguns dizem que o direito nasce do direito de família, porém, deve-se perceber que os sujeitos do período não possuíam noção de família, protegendo uns aos outros por uma questão de sobrevivência. Era líder do grupo aquele que fosse mais forte. Outros indicam que o direito surge do direito penal, no entanto, não existe direito penal sem tipificação – antes, haviam condutas moralmente reprováveis, mas não haviam normas que consubstanciassem o direito penal.] 
Objeto: O direito empresarial surge para buscar meios de solução de conflitos envolvendo a atividade empresarial. O objeto do direito empresarial é estudar os meios de solução de conflitos relacionados com a atividade empresarial.
Teorias: Duas teorias servem como base para o direito empresarial. Uma, já superada, é a Teoria dos Atos do Comércio. A outra, utilizada atualmente, é a Teoria da Empresa. 
a) Teoria dos Atos de Comércio: Surge em 1808 na França, em um momento pós-revolucionário. Na Revolução Francesa os burgueses tomaram o poder da nobreza e, quando chegam ao poder adotam inúmeras medidas para se manter no poder. Dentre as medidas adotadas para a manutenção desse poder, podem-se destacar duas que possuem repercussão jurídica séria. A primeira é que os burgueses realizam a bipartição do direito privado. Essa bipartição surge a partir da necessidade de estabelecimento de campos de privilégios. Naquele momento, o direito comercial é destinado a regulamentar as relações estabelecidas entres os burgueses, já ao direito civil, coube regulamentar as relações estabelecidas entre os nobres. O direito comercial da época nasce com uma feição classista, ou seja com a intenção de proteção da classe dos burgueses. Vários privilégios se destinaram ao direito comercial, enquanto ao direito civil restaram deveres e obrigações. Isso porque, o direito civil regulava a relação entre nobres. Alguns dos privilégios estabelecidos pelo direito comercial permanecem até hoje, outros se perderam ao longo do tempo. Um primeiro privilégio a ser indicado é que, proporcionalmente a pessoa jurídica paga muito menos tributos do que a pessoa física. A proteção tributária ao empresário vem desde a Revolução Francesa. Igualdade, liberdade e fraternidade foi o discurso que serviu para legitimar privilégios e, o regime de insolvência é um segundo privilégio que permanece atualmente. O regime de insolvência civil não possui os mesmos privilégios que o regime de insolvência empresaria: quando a atividade empresarial está em crise, o regime de insolvência empresarial estabelece duas possibilidades de reorganização da atividade:a recuperação judicial de empresas e a recuperação extrajudicial de empresas. No regime de insolvência civil, por outro lado, não há nenhuma forma de recuperação ou reorganização. Também são inúmeros os benefícios e privilégios perdidos ao longo do tempo. Atualmente, somente pode aguardar julgamento em sela especial são aqueles que possuem graduação em curso superior, mas, isso nem sempre foi assim: antigamente essa prerrogativa somente era dada aos empresários que possuíam matrícula na junta comercial, havendo curso superior ou não. Atualmente, qualquer pessoa capaz pode passar procuração de próprio punho ou procuração por instrumento particular. Antigamente, somente o comerciante matriculado na junta comercial tinha o direito de passar procuração de próprio punho ou procuração por instrumento particular. Antes, as pessoas tinham que realizar a procuração através da forma pública, só havendo a prerrogativa do uso de instrumento particular para os comerciários. Como supracitado, os burgueses ao bipartirem o direito privado, mantiveram para si benefícios, determinando aos nobres somente alguns direitos e diversas obrigações. Enquanto a atividade econômica era desonerada do ponto de vista tributário, a atividade não-econômica era onerada. Os primeiros impostos sobre a terra foram criados ou majorados naquele período. A Teoria dos Atos de Comércio vem com essa primeira característica, qual seja a bipartição do direito privado. Os burgueses tinham um receio grande de que os nobres se adequassem ao conceito e acessem os benefícios do direito comercial, por isso, os burgueses não trouxeram para o direito comercial um conceito. Não há um conceito central para a disciplina na legislação do período e o Código Napoleônico que consolida a teoria dos atos de comércio não trouxe um conceito fundamental para a disciplina. Se o legislador não traz um conceito fundamental, o faz com algum objetivo. Definição é a descrição de um objeto individualizado. Conceito é a descrição de um objeto em tese, de uma categoria de objetos. À época, como não havia um conceito fundamental, utilizava-se a casuística. Os burgueses listaram os atos de que deveriam ser considerados atos de comércio a partir da ótica da preservação do poder dos burgueses. O direito é instrumento de preservação do status quo, por isso foram listados como atos de comércio: o comércio em sentido estrito, as atividades ligadas à indústria, os atos relacionados com os bancos e os atos relacionados com os seguros. Foram deixados fora dos atos de comércio a agricultura, pecuária, extrativismo e prestação de serviços, pois essas eram atividades essencialmente exercidas pela nobreza. O Código Comercial brasileiro de 1850 ainda é a lei ordinária mais antiga em vigor no ordenamento jurídico (Lei 556/1850). O Código Comercial ainda está em vigência em uma pequena parte de seu texto, qual seja a parte que trata do direito comercial marítimo. A ausência de um conceito fundamental exigiu dos doutrinadores um esforço maior para tentar estruturar o conceito a partir dos elementos da época. Os doutrinadores tiveram muita dificuldade para encontra um conceito que perpassasse todos os elementos. Quem chegou mais perto do conceito de ato de comércio foi Alfredo Rocco – para ele, ato de comércio é aquele que pressupõe uma interposição na troca. O conceito de Rocco teve alguma aceitação justamente por conta da excessiva generalidade do conceito, no entanto, esse conceito acabou por abarcar atividades que se encontrariam fora do âmbito do direito comercial. Nenhum conceito de ato de comércio criado naquela época conseguiu se sustentar. O conceito de ato de comércio é um enigma para a doutrina, um martírio para o legislador e um problema insolúvel para a jurisprudência. Ato de comércio não poderia ser conceituado dentro da Teoria dos Atos de Comércio e, diante disso, a solução foi mudar o sistema.
b) Teoria da Empresa: Nasce em 1942, na Itália. A teoria da empresa surgiu com um objeto muito claro: preencher as lacunas e corrigir os defeitos deixados pela Teoria dos Atos de Comércio. A maior lacuna deixada pela Teoria dos Atos de Comércio foi a ausência de um conceito fundamental. O Código Civil Italiano em seu primeiro artigo do Livro de Direitos de Empresa, trouxe o conceito de empresário, como sendo o conceito fundamental da disciplina. O conceito de empresário foi copiado pelo Código Civil Brasileiro, que também o positivou em seu primeiro artigo do Livro de Direito de Empresa (art. 966, CC). Segundo o art. 966, CC, considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada, para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. O art. 966 é o artigo que delimita os campos do direito civil e do direito empresarial, indicando se o sujeito se vincula às regras empresariais ou às regras cíveis. A Teoria da Empresa veio com a intenção de corrigir as lacunas deixada pela Teoria dos Atos de Comércio. Por conta disso, além de buscar trazer um conceito fundamental para a disciplina, a Teoria da Empresa buscou eliminar a bipartição existente entre direito comercial e direito civil, trazendo a tese da reunificação do direito privado. Quem mais fervorosamente defendeu a reunificação do direito privado foi Cesare Vivante, indicando que este seria o caminho natural do direito, no entanto, na quita edição do seu livro ele mudou de ideia, indicando que o altíssimo grau de especialização das disciplinas impossibilitava a reunificação. Direito comercial e direito civil passaram mais de cem anos separados, logo, a reunificação era difícil. Cada disciplina criou regras próprias para regular seus respectivos sujeitos. O direito empresarial foi ficando cada vez mais pró empresário e o direito civil cada vez mais pró indivíduo. Quem primeiro propôs a reunificação do direito privado foi um professor brasileiro: Teixeira de Freitas defendeu a reunificação do direito civil em seu projeto do Código Civil de 1864. O direito privado não foi reunificado – houve uma unificação parcial apenas no aspecto legislativo. Do ponto de vista didático, profissional e científico as disciplinas continuam autônomas e independentes. O direito empresarial é ramo autônomo do direito privado. 
Empresário
Segundo o art. 966 do Código Civil de 2002, considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada, para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Os elementos que caracterizam o empresário são os seguintes: profissionalismo, exercício de atividade econômica com intuito lucrativo e, organização. Os livros de direito empresarial indicam que a produção e circulação de bens e serviços são um quarto elemento do conceito de empresário. João Glicério não concorda, pois, ‘produção e circulação de bens e serviços’ não tem caráter distintivo. Produção de bens é a atividade industrial e manufatureira; produção de serviços é a prestação de serviços; circulação de bens é a intermediação de mercadorias; circulação de serviços é a atividade de agenciamento – o agenciador vende serviços que não são prestados por ele. Diante disso, tudo se enquadra em ‘produção ou circulação de bens e serviços’, então esse quarto elemento não possui nenhum caráter diferenciado, logo, não pode ser enquadrado como requisito do conceito de empresário. Para ser empresário, portanto, é imprescindível que haja profissionalismo, intuito lucrativo e organização. 
Ao se falar de empresário, fala-se de um gênero que comporta três espécies: empresário individual, sociedade empresária e EIRELI. O empresário individual é a pessoa física que exerce a atividade empresarial. A sociedade empresária e a EIRELI são pessoas jurídicas. O empresário individual tem responsabilidade ilimitada pelas obrigações negociais – o patrimônio particular do sujeito pode ser alcançado para saldar dívidas do negócio. O empresário individual recebe CNPJ da Receita Federal, mas isso não o torna pessoa jurídica. A personalidade da pessoa jurídica se inicia a partir do registro no órgão competente e, os três órgãos competentespara atribuição de personalidade jurídica são o RCPJ, as juntas comerciais e a OAB. O RCPS para as sociedades simples, junta comercial para as sociedades empresárias e OAB para as sociedades de advogados. A Receita Federal não é órgão competente para atribuição de personalidade. O fato do empresário individual possuir CNPJ não o torna pessoa jurídica – ele continua sendo pessoa física, só que com CNPJ. O uso do CNPJ serve para diferenciar o que é patrimônio da empresa do que é patrimônio pessoal, em termos tributários. Em termos de responsabilização, o patrimônio pessoal pode ser atingindo. A sociedade empresária é uma pessoa jurídica formada por sócios. Os sócios podem possuir responsabilidade ilimitada ou limitada a depender do tipo de sociedade e do tipo de sócio. O sócio não se confunde com a sociedade – a personalidade jurídica da sociedade não se confunde com a personalidade jurídica do sócio. Quem exerce a atividade empresarial e precisa atender às regras do art. 966 é a sociedade, não o sócio. O sócio não é empresário, a sociedade é que é empresária. O sócio não precisa atender aos requisitos do art. 966. A EIRELI também é uma pessoa jurídica formada por um único integrante ou um único titular – esse titular não é o empresário, a EIRELI é que é empresária.
a) Profissionalismo: Ser profissional é agregar três características: habitualidade, pessoalidade e monopólio de informações. 
· Habitualidade: Muita gente acha que ser habitual é estar todos os dias exercendo a atividade empresarial, no entanto, ser habitual é atender a demanda periódica da atividade e, a demanda periódica depende do tipo de atividade que está sendo exercida. Existem variações nas atividades em termo da periodicidade. A periodicidade de uma farmácia, por exemplo, é diária. Já a periodicidade de um bloco de carnaval é anual.
· Pessoalidade: A pessoalidade é o exercício da atividade empresarial em nome do empresário. O empresário irá contratar mão de obra, mas, essa mão de obra deve agir em nome dele. Esse é o grande fundamento da responsabilidade atribuída ao empresário pelos atos de seus prepostos. A responsabilidade é o reflexo da pessoalidade e, o fundamento da responsabilização do empresário pelos atos de seus prepostos é justamente o fato de o proposto agir em seu nome. 
· Monopólio de informações: Surgiu com o advento do código de defesa do consumidor. Monopólio de informações é uma expressão ruim, pois dá a entender que o empresário deve saber tudo e guardar as informações para si. Na verdade, o empresário não precisa saber tudo e, aquilo que ele é obrigado a saber não pode ser guardado só para ele. O empresário sequer precisa possuir conhecimentos técnicos relacionados com o exercício de sua atividade. O dono de um hospital, por exemplo, não precisa ser médico. O que o empresário é obrigado a saber não pode ser guardado só para ele: o empresário é obrigado a conhecer os aspectos relacionados ao consumo do produto ou serviço que ele oferece: elementos como eventuais defeitos de fabricação, riscos que o produto oferece, etc. Através do manual de instruções o empresário deverá repassar aos consumidores as informações. 
b) Atividade econômica do intuito lucrativo: A atividade econômica está ligada a ideia de lucro. A fundação e a associação exercem atividade econômicas e podem ter lucro – o que não pode haver é o intuito lucrativo, o objeto de lucro. Lucro é um conceito contábil. A fundação e a associação são obrigadas a reinvestir o lucro na própria atividade, já o empresário pode perseguir o lucro. Em uma associação e em uma fundação, o lucro é meio para alcançar outros fins (culturais, sociais, de assistência). O empresário tem que ter a intenção do lucro. Nem sempre que o lucro é meio a atividade é civil. Existem atividades civis que possuem o intuito lucrativo, a advocacia, por exemplo, é uma delas. A essência da atividade empresarial é a busca do lucro, mas essa não é uma atividade empresarial. Aquele que não possui intuito lucrativo não é empresário, mas, nem todo que possui intuito lucrativo é empresário, sendo necessária a análise dos outros elementos. O Código Civil não trouxe o conceito de empresa. A Teoria da Empresa foi concebida por Alberto Asquini, que indicou que são quatro os perfis da empresa. O perfil subjetivo se relaciona com o sujeito da atividade econômica organizada e, consequentemente com o empresário. O segundo perfil é o objetivo, que se relaciona com o objeto da atividade econômica, que é o estabelecimento empresarial (instrumento utilizado pelo empresário para alcançar os seus objetivos). O terceiro perfil é o perfil funcional ou abstrato, que se relaciona com a empresa, e, aqui se percebe que o Código Civil não conceituou a empresa porque a empresa não é uma coisa nem uma pessoa, ou seja, não é sujeito nem objeto. Tecnicamente, a empresa é o vínculo jurídico que liga o sujeito ao objeto. A empresa é um elemento abstrato e intangível. Empresa vem de empreender, sendo sinônimo de atividade. O quarto perfil da empresa é o perfil corporativo, que se relaciona com a mão de obra ou os prepostos do empresário. Julius Von Gierke indica que em verdade a empresa não possui quatro perfis, mas sim três, pois a mão de obra representaria um dos fatores de produção e não um dos perfis da empresa, até porque a mão de obra é articulada pelo empresário.
c) Organização: A organização é a articulação dos quatro fatores de produção. Os quatro fatores de produção que devem ser articulados pelo empresário são o capital, a mão de obra, os insumos e a tecnologia. O capital pode ser próprio ou alheio, pertencendo ao empresário ou não. A mão de obra pode ser direta ou indireta – a mão de obra direta é aquela decorrente do vínculo empregatício, a mão de obra indireta decore de prestadores e terceirizados. Insumo é a matéria prima utilizada pelo empresário. Tecnologia é o aprimoramento da técnica para atender à demanda. Vincenzo Buenocore defende que a mão de obra não é requisito do conceito de empresário, sendo possível o exercício da atividade empresarial sem a contratação de mão de obra. Inúmeros professores de direito empresarial se insurgiram contra essa tese, indicando que a principal característica do empresário está justamente na articulação dos fatores de produção, principalmente recursos humanos. No Brasil, quem mais fortemente fez oposição a Vincenzo Buenocore foi Evaristo de Morais Filho, que defendeu a manutenção da mão de obra como requisito do conceito de empresário e, até hoje a sua tese prevalece: se o indivíduo não contrata mão de obra alheia, não pode ser considerado empresário.
Atividades civis ou não empresariais: São quatro as hipóteses de atividade civil.
a) Excludente: Não será considerado empresário quem não atender às regras estabelecidas pelo art. 966. Aqueles que não atenderem aos requisitos irão se sujeitar ao regime civil, não ao regime empresarial.
b) Profissão intelectual: Essa exceção está prevista no parágrafo único do art. 966, CC. Não se considera empresário aquele que exerce profissão intelectual de natureza científica, literária ou artística, ainda que como concurso de colaboradores ou auxiliares, salvo se o exercício da atividade constituir elemento de empresa. Quando o artigo 966 indica que não se considera empresário aquele que exercer profissão intelectual de natureza científica literária ou artística, trata dos profissionais liberais em geral. Os profissionais liberais em geral, em regra, não são considerados empresários. Em razão da especialização elevada no exercício de sua atividade, estes não são considerados empresários. A segunda parte do dispositivo estabelece um reforço argumentativo ao indicar que o profissional intelectual não será considerado empresário mesmo que conte com auxílio de terceiros. O fato de contratar auxiliares não atribui a condição de empresário ao profissional intelectual. A terceira parte do dispositivo apresenta uma excepcionalidade e, essa excepcionalidade é controvertida. Indica-se que se o exercício da atividade constituir elemento de empresa,a atividade poderá ser empresarial. Esse é o pondo em que a doutrina mais diverge. A atividade irá constituir elemento de empresa quando o profissional intelectual deixar de ser referência daquela atividade para a sua clientela, ou seja, a referência deixa de ser o profissional e passa a ser a instituição. Um médico de um consultório é a referência daquela atividade para a sua clientela, pois o paciente que vai ao consultório busca aquele médico. O médico que trabalha em um hospital não é referência, a referência é a instituição. Não é o tamanho da atividade que define se ela é empresarial ou não. O que define se a atividade é ou não empresária é a sua organização, de modo a que o referencial seja o indivíduo profissional ou que o referencial seja a instituição. 
Questão: O advogado é um profissional intelectual. O parágrafo único do art. 966 pode ser aplicado ao advogado?
Muita gente defende que o parágrafo único do art. 966 não se aplica à advocacia em razão do contexto de dispositivos do Código de Ética que vedam a mercantilização da advocacia. O Código de Ética veda uma série de práticas associadas à atividade empresarial que tenham o condão de mercantilizar a advocacia, mas não há a vedação de que o escritório de advocacia possua atividade empresaria. Há a vedação, por exemplo, da publicidade excessiva, da venda casada, etc. João Glicério entende que é possível a aplicação do art. 966 à advocacia, pois deve atentar à realidade.
c) Atividade rural: Aqueles que exercem uma atividade rural podem escolher onde efetuar o registo e, essa escolha é que determinará sua natureza jurídica. O conceito de empresário aqui passa a ser formal, pois, o registro assume um caráter constitutivo. Para os que exercem atividade rural, o registro é obrigatório, mas há a opção de escolher onde será efetuado esse registro. O registro pode ser efetuado na junta comercial ou no RCPJ (registro civil de pessoa jurídica). O agricultor familiar que escolher realizar o registo na junta comercial, ainda que não cumpra os requisitos dispostos no art. 966, CC, será considerado empresário. O agronegócio registrado no RCPJ, ainda que cumpra todos os requisitos, será considerado atividade civil. Para quem exerce atividade rural, o fato determinante da natureza jurídica é o lugar do registro. O registro é obrigatório, a faculdade existente é na escolha do local onde esse registro será realizado.
d) Cooperativas: As cooperativas serão sempre sociedades simples, ou seja, sempre irão se sujeitar ao direito civil. As cooperativas nunca se sujeitarão ao direito empresarial, por expressa previsão legal (art. 982, parágrafo único, CC). Tal dispositivo indica que as cooperativas serão sempre sociedades simples e as sociedades por ações serão sempre sociedades empresariais. Sociedades por ações são aquelas que são divididas por ações: sociedade anônima e sociedade em comandita por ações.
Vedações ao exercício da atividade empresarial: Existem duas formas de vedações ao exercício da atividade empresarial: incapacidade e proibição. Essas são espécies que possuem objetivos diametralmente opostos. A incapacidade é a incapacidade civil, e existe para proteger o indivíduo que não tem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil. O objetivo da proibição é diametralmente oposto, pois a proibição protege a coletividade de um indivíduo que já se mostrou nocivo ou potencialmente nocivo. 
a) Incapacidade: Questiona-se se o incapaz pode exercer atividade empresarial. Não existe uma incapacidade empresarial – aplica-se o sistema de incapacidade civil ao direito empresarial. Existem duas maneiras distintas do exercício da atividade empresarial: por intermédio de pessoa física ou por intermédio de pessoa jurídica. O incapaz nunca poderá iniciar uma atividade como empresário individual, pois toda atividade empresarial, especialmente em seu início, envolve alto risco. Por essa razão, o incapaz não poderá iniciar uma atividade como empresário individual, porque dessa forma, estaria atraindo ao seu patrimônio (necessário para sua subsistência) um risco. De outro modo, poderá o incapaz continuar uma atividade iniciada por ele quando capaz ou que tenha sido objeto de herança. Isso porque, continuar uma atividade é muito menos arriscado do que iniciar uma atividade. Além disso, o incapaz, provavelmente, tem os rendimentos da atividade empresarial continuada como forma de subsistência. A continuação da atividade depende de uma autorização judicial constante de alvará. Neste alvará o juiz deve listar os bens particulares do incapaz ao tempo da sucessão, pois, estes bens particulares estarão protegidos do eventual insucesso do negócio. Se o bem particular for utilizado no exercício da atividade empresarial, direta ou indiretamente, ele perde a proteção. Pela Teoria da Aparência (33:00 – 34:30). Tem-se aqui uma das hipóteses de limitação extraordinária da responsabilidade do empresário individual. O juiz deverá reforçar a nomeação do representante ou assistente do incapaz (...). Se o representante ou assistente estiver impedido de realizar a atividade empresarial, deverá o juiz nomear um gerente. O juiz não estará destituindo o representante ou assistente para os atos da vida civil, porém, para os atos da vida empresarial, há a nomeação de um gerente. É possível o incapaz ser sócio de uma sociedade empresária ou integrante único de uma EIRELI. O incapaz pode ser sócio de uma sociedade desde o início: isso porque, em uma sociedade o risco é limitado e compartilhado. Para que o incapaz seja sócio de uma sociedade devem ser atendidas as regras do parágrafo terceiro do art. 974 do Código Civil Brasileiro. O incapaz deve estar representado ou assistido. Além disso, o incapaz não poderá participar da administração da sociedade, pois não possui discernimento sequer para administrar seus próprios bens. O capital social tem de estar integralizado. Capital social é toda contribuição que os sócios fazem para que a sociedade possa iniciar sua atividade e desenvolver o seu objeto social – o valor de contribuição depende do tipo de negócio que está sendo iniciado. Quando o capital está integralizado, cada sócio responde por sua parte, por isso, para que o incapaz seja sócio é necessário que o capital social da empresa esteja integralizado.
b) Proibição: A proibição existe para proteger a sociedade de um indivíduo potencialmente nocivo ou que já se mostrou nocivo à sociedade. O falido não pode exercer atividade empresarial, pois sua atividade já deu errado, não sendo possível que volte a exercer atividade empresarial até que esteja reabilitado. A reabilitação do falido ocorrerá com a extinção de todas as suas obrigações (não só as obrigações civis, mas também as obrigações penais) – deve haver o trânsito em julgado da decisão que reconhece a extinção de todas as obrigações do falido. O segundo proibido de exercer a atividade empresarial é o condenado por crime incompatível com o exercício da atividade empresarial – tratam-se de crimes que possuem seus efeitos potencializados quando praticados no exercício da atividade empresarial e cuja pena veda o acesso ao exercício da atividade empresarial. O terceiro proibido é o leiloeiro – o leiloeiro é um agente auxiliar do empresário. O funcionário público também está impedido de exercer atividade empresarial, porém, existem diversos níveis de impedimento a depender da categoria e do regime jurídico do funcionário. O servidor público federal não pode ser empresário individual nem sócio administrador de uma sociedade, somente podendo ser sócio investidor. Alguns estados seguem a mesma linha do servidor público federal – outros estados estabelecem regime jurídico distinto: na Bahia, por exemplo, é possível que o servidor seja sócio administrador e empresário individual. O quinto proibido de exercer o direito empresarial é o estrangeiro – não poderá o estrangeiro exercer a atividade empresarial em determinadas atividades estratégicas, a exemplo de atividade jornalística e de rádio fusão e aviação civil e comercial. No casoda vedação à atividade jornalística e de rádio fusão, há proibição constitucional (art. 222, CF) – o estrangeiro não pode ter participação superior à 30% da empresa, não pode exercer cargos de direção e não pode controlar a programação. O estrangeiro é aquele não naturalizado a pelo menos dez anos. No caso da aviação civil e comercial, o estrangeiro não pode ter participação superior a 20% na empresa. A razão da proibição foi a ocorrência da segunda guerra mundial. O último proibido de exercer atividade empresarial é o devedor do INSS – não é possível iniciar nova atividade empresarial diante de débitos. O art. 973 do Código Civil ressalta que se o proibido exercer atividade empresarial ele não poderá se eximir do cumprimento das obrigações assumidas (a ninguém é dado se beneficiar da própria torpeza).
Prepostos: Preposto é toda mão de obra utilizado pelo empresário, seja ela direta ou indireta. O ato praticado pelo preposto vincula o empresário, sendo ele responsável pelo ato praticado pelo seu preposto, se cumpridos os requisitos. Os dois requisitos são objeto e lugar. O ato deve estar relacionado com o objeto da atividade e tem que ser praticado no lugar em que a atividade é exercida. Existem atividades que oferecem entrega em domicílio e, com isso há ampliação do lugar de exercício de sua atividade.
Exemplo: O dono de uma loja de móveis comunica aos prepostos que existem três cadeiras com defeito e que não devem ser vendidas. Se o preposto vende a cadeira e o cliente sofre dano por conta disso, é possível a propositura de ação o empresário. Se esse mesmo preposto realiza a venda de um tênis, não é possível a propositura de ação contra o empresário, já o objeto é diverso. Se o gerente de um banco oferece a um cliente um financiamento enquanto está na praia e, posteriormente o financiamento não ocorre, não é possível processar o banco, pois o lugar não foi o local de exercício da atividade. 
Deve-se perceber que o Código de Defesa do Consumidor estabeleceu uma ressalva para as propostas feitas de maneira equivocada, mas que representa um valor absolutamente irrisório, de modo a não gerar qualquer expectativa no consumidor. O que não gera nenhuma expectativa não há de ser protegido. Se a proposta for irrisória o empresário não precisa cumprir os seus termos. Irrisório não é o pequeno valor, mas sim valor absolutamente incompatível com os valores de mercado. Se a proposta irrisória é legítima e feita conscientemente, deverá ser cumprida. O preposto do empresário não pode concorrer com o empresário, pois se trata de modalidade de concorrência desleal e que é inclusive tipo penal. Além disso, a concorrência desleal enseja responsabilização civil. O Código Civil destacou dois prepostos como os mais importantes para o empresário: o gerente e o contador. O gerente é o preposto do empresário que tem função de chefia: o empresário pode limitar os poderes do gerente mas, para que essa limitação produza efeitos em relação a terceiros, ela deve ser feita por escrito e arquivada na junta comercial. O gerente é um preposto facultativo, logo, o empresário pode não ter um gerente. Qualquer pessoa capaz pode ser gerente, não havendo necessidade de habilitação específica. O contador ou contabilista é o preposto que cuida da escrituração do empresário. Só pode ser contador quem tem formação em contabilidade e registro no conselho competente (CRC) – o contador é preposto obrigatório, salvo nas localidades onde não existir contador. Nesses locais, o próprio empresário pode fazer sua contabilidade ou contratar um profissional não habilitado. 
Nome empresarial
O nome empresarial é aquele utilizado pelo empresário para se identificar enquanto sujeito exercente da atividade empresarial. O nome empresarial identifica o sujeito de direito. O nome empresarial não se confunde com a marca. Enquanto o nome empresaria identifica o sujeito de direito, a marca identifica o produto ou serviço que é posto em circulação na sociedade. O nome empresarial tem a função de fazer com que haja a correta identificação do sujeito de direito – o nome empresarial serve para identificar corretamente o empresário, que é o sujeito de direito e, ao mesmo tempo serve para o proteger da concorrência. O nome empresarial é tutelado. 
Natureza jurídica do nome empresarial: A doutrina brasileira aponta três correntes para a identificação da natureza jurídica do nome empresarial. A primeira corrente é a tese do direito pessoal, encabeçada por Pontes de Miranda em 1956, indicando que o nome é tido como expressão da personalidade agregado à pessoa do comerciante e, consequentemente, inalienável e impenhorável. A segunda corrente é a tese do direito patrimonial, defendida por Clóvis Beviláqua em 1908, sustentando que o nome empresarial é um bem incorpóreo e imaterial, suscetível de proteção pelo direito industrial. A terceira corrente é a teoria mista, encabeçada por Tomazeti, onde o nome, além de atributo da personalidade do comerciante (feição subjetiva), o nome é ao mesmo tempo, elemento de identificação da própria atividade empresarial (feição objetiva).
Espécies de nome empresarial: São duas as espécies de nome empresarial: firma e denominação. O empresário individual utiliza a espécie ‘firma’. A sociedade anônima utiliza a ‘denominação’ e a sociedade limitada pode optar por qualquer um dos nomes. A diferença consiste na estrutura do nome empresarial e na sua função.
· Estrutura e função da firma: A firma tem por base, necessariamente, um nome civil, seja do próprio empresário individual ou de sócio da sociedade empresária. Pode acompanhar ou não menção ao ramo da atividade. A firma é composta obrigatoriamente pelo nome da pessoa civil. A firma possui a função que a denominação não tem, servido também de assinatura do empresário.
· Estrutura e função da denominação: Pode utilizar como base qualquer estrutura linguística, seja ou não o nome civil de sócio que integra a sociedade. Quando a expressão linguística escolhida pelos sócios para a estrutura da denominação não for nome civil, chama-se elemento fantasia. Elemento fantasia difere de nome fantasia. A denominação não serve para a assinatura.
Formação e proteção do nome: A formação do nome empresarial deve atender a dois princípios: o princípio da veracidade e o princípio da novidade, ambos previstos no art. 34 da Lei 8.934/94. O princípio da veracidade determina que o nome empresarial corresponda à realidade da empresa – esse princípio proíbe a adoção de nome que veicule informação falsa sobre o empresário a que se refere, devendo representar fidedignamente a realidade da empresa. Justamente por isso, havendo exclusão, retirada ou morte de um dos sócios, o nome correspondente deve ser retirado. O princípio da novidade impede a adoção de nome igual a semelhante, trazendo a garantia de exclusividade do nome – aquele que arquiva primeiro o nome empresarial terá garantida a proteção. Os referidos princípios visam coibir a concorrência desleal e preservar a reputação do empresário perante seus fornecedores e financiadores, além de possibilitar a identificação correta do empresário.
Diferenças entre marca e nome empresarial: A primeira diferença diz respeito à identificação: o nome empresarial identifica o sujeito de direito, enquanto a marca identifica o produto ou serviço posto em circulação na sociedade. A segunda diferença se relaciona ao órgão onde ocorre o registro: o nome empresarial é registrado na junta comercial do estado, ao passo que a marca é registrada no INPI. A terceira diferença diz respeito ao âmbito material da tutela: o nome empresarial tem tutela irrestrita, já a marca tem proteção limitada ao seguimento correspondente da atividade empresarial (a exceção as marcas que grande renome, que possuem proteção irrestrita – princípio da especificidade). A quarta diferenciação diz respeito ao prazo da tutela: o nome empresarial é protegido por tempo indeterminado, já a marca é protegida por dez anos, cabendo pedido de renovação, desde que a empresa esteja ativa.
Título de estabelecimento:É a identificação do local onde a atividade é exercida e, por vezes se identifica com a marca. O título de estabelecimento é o nome fantasia. O título de estabelecimento não tem uma proteção direta e específica como ocorre nos casos do nome e da marca – a proteção do título de estabelecimento é indireta, em razão da interpretação conjunta do art. 1.806, CC e do art. 195 da Lei de Propriedade Industrial.
	
Obrigações do empresário
1) Livros empresariais: Os livros empresariais servem para o registro da atividade empresarial. A escrituração empresarial possui três funções, quais sejam, função gerencial, função documental e função fiscal. Comete crime de falsidade ideológica aquele que insere informações inverídicas nos livros empresariais.
· Função gerencial: Serve para orientar o empresário na tomada de decisões. Através dela é possível a verificação das situações que necessitam de intervenção gerencial.
· Função documental: Decorre da necessidade que tem o empresário de demonstrar a terceiros o funcionamento da atividade. É através dela que, por exemplo, o empresário pode buscar novos investimentos e contrair empréstimos, demonstrando que possui condições. 
· Função fiscal: Decorre da necessidade que o Estado tem de controlar a incidência e o pagamento dos tributos. O Estado pode ter acesso aos livros empresariais para examinar se aquele empresário está pagamento corretamente os tributos devidos, fiscalizando se o que foi registrado nos livros empresariais corresponde à realidade da atividade empresarial. 
Espécies de livros empresariais: 
a) Livros obrigatórios: São aqueles impostos pela legislação. A sua falta acarreta sanção ao empresário. Os livros obrigatórios subdividem-se em comuns e especiais. Os livros obrigatórios comuns são impostos a todos os empresários, indistintamente. O diário, que também é um livro comum, é exigido à todos os empresários, com exceção aos microempresários e os empresários de pequeno porte – isso para facilitar e incentivar o surgimento de microempresários e empresários de pequeno porte, haja vista seu potencial para geração de empregos. Os livros especiais são impostos apenas a certas categorias de empresários, a exemplo do livro de atas de assembleias em uma sociedade anônima, ou um livro de registro de duplicatas para as empresas que emitem duplicatas.
b) Livros facultativos: Não são impostos pela legislação, ficando a critério do próprio empresários. A sua ausência não importa em qualquer sanção jurídica. No Brasil, os livros facultativos não possuem tanta utilidade fiscal, por outro lado, possuem utilidade gerencial. Na Argentina, entretanto, a lei prevê a possibilidade de substituição dos livros obrigatórios pelos facultativos em casos de perda ou extravio.
Requisitos da escrituração empresarial: Esses requisitos são obrigatórios somente para os livros obrigatórios.
a) Requisitos intrínsecos: São relacionados com a técnica contábil, por isso, quem realiza a escrituração contábil são os contadores. Deve-se obedecer três características: a escrituração deve ser em idioma nacional. A escrituração deve ser feita em moeda corrente nacional. Se uma operação for realizada em moeda estrangeira, deve ser registrado no livro a conversão para o real, conforme o câmbio do dia. A escrituração deve ser feita em forma mercantil: tem de ser feita em ordem cronológica, sem rasuras, sem borrões, sem espaços em branco e sem transporte para margem.
b) Requisitos extrínsecos: São relacionados com a segurança dos livros. Deve haver um termo de abertura e um termo de encerramento, deve haver autenticação em todas as páginas do livro.
Eficácia probatória dos livros empresariais: As informações contidas em um livro empresarial podem ser favoráveis ou contrárias ao empresário que o produziu. As informações favoráveis só podem ser utilizadas se os livros estiverem regulares, ou seja, observar os requisitos intrínsecos e extrínsecos. Já as informações contrárias ao empresário podem ser utilizadas mesmo que os livros estejam irregulares. Isso porque, se o livro está irregular é porque o empresário pode ter fraudado os livros.
Exibição dos livros empresariais: Os registros empresariais são protegidos pelo sigilo. As razões que justificam a exibição de um livro devem ser úteis ou extremamente necessárias para a resolução do litígio. Os livros empresariais são documentos particulares do empresário. Por isso, são alcançados pelo princípio do sigilo (art. 1.190, CC). A exibição desses livros pode ser feita de modo judicial ou administrativo. A exibição judicial pode ser feita ex officio ou a requerimento da parte interessada e, pode ainda ser total ou parcial. A exibição parcial será determinada sempre que útil à solução do conflito, enquanto que a exibição total do livro só será determinada se for necessária para a resolução da lide. A exibição administrativa ocorre quando o agente público estiver no cumprimento estrito do seu dever de fiscalizar o pagamento de impostos (art. 1.193, CC).
2) Balanços periódicos: Todo empresário tem que apurar dois tipos de balanço por ano. O balanço nada mais é do que um resumo daquilo que está nos livros empresariais. Enquanto no livro são lançadas operações individuais detalhadas, no balanço há uma aglutinação de operações, entre débitos, créditos, receitas e despesas. O balanço de resultado econômico também é chamado de DRE – demonstrativo de resultado do exercício.
Balanço patrimonial: É o balanço que demonstra todo o ativo e o passivo do empresário do exercício fiscal correspondente. As informações que estarão contidas no balanço são retiradas dos livros.
Balanço de resultado econômico: Demonstra os lucros ou prejuízos do empresário.
3) Registro:
Histórico: A obrigação de registrar-se na junta comercial é pressuposto das obrigações dos livros e balanços. No registro, o empresário informa ao Estado que quer iniciar uma atividade empresarial. No Brasil prevalece o regime da livre iniciativa, que é um dos fundamentos da república (art. 1º, CF). O indivíduo pode iniciar qualquer atividade econômica que desejar, desde que lícita. A regra é da não existência de restrições ao exercício de uma atividade econômica – as restrições conhecidas são exceções. O registro da atividade empresarial é uma mera informação ao Estado do início da atividade – o Estado não pode fazer restrições materiais, mas, pode exercer o controle da atividade naquelas questões que entende como estratégicas e indispensáveis (energia nuclear, telefonia, saneamento básico) – são atividades que necessitam de autorização do Estado para o início da atividade econômica. O registro da atividade empresarial começa a partir das corporações de ofício da Idade Média. Nessa época, havia a inscrição dos artesãos e aprendizes. No Brasil, o registro se inicia em 1808. Em 1808 o Brasil começa a se relacionar com a Inglaterra de modo autônomo e independente, ocorre a fundação de universidades, a criação de uma estrutura do judiciário e administrativa-estatal, e mais uma série de medidas que colocou o país no caminho de sua independência. Em 1808 criou-se o Tribunal da Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábrica e Navegação (TRJCAFN), através de um alvará real de 23 de Agosto de 1808. O TRJCAFN tinha a função de julgar os litígios envolvendo a atividade econômica e efetuar o registro da atividade empresarial. Diante disso, o TRJCAFN congrega características absolutamente incompatíveis: o TRJCAFN acumulava tanto a função judicante quanto a função executiva. O alvará que criou a TRJCAFN foi o mesmo alvará que criou o Banco do Brasil. Esse tribunal estava localizado nos centros urbanos e, esses locais ficavam próximos ao litoral – já naquele período havia uma preocupação acerca da expansão dos limites territoriais brasileiros para o interior. Diante disso, foram criados os Tribunais de Relação no interior do Brasil e os TRJCAFN se transformaram em Tribunais de Comércio. A passagem ocorre juntamente como o Código Comercial de 1850 (25 de Junho de 1850). O Código Comercial transformou o TRJCAFN em Tribunais Comerciaise criou os Tribunais de Relação – essa é a primeira estrutura registral do Brasil independente. Os Tribunais de Comércio ainda possuíam dupla função (judicante e executiva): os tribunais continuavam julgando e registrando – ou seja, ele estará julgando um ato por ele praticado. Se o litígio versar sobre o registro, o próprio tribunal irá julgar um ato por ele praticado. Essa é razão pela qual quando se fala em registro empresarial, ele só se separa da função judicante em 1875, quando são criadas as juntas comerciais e as inspetorias regionais. Os Tribunais de Comercio e Juntas ficavam nas capitais, os Tribunais de Relações e Inspetorias ficavam no interior do Brasil. Em 1889 ocorreu a proclamação da república e a constituição da federação brasileira – em 1889, a atividade registral passa a ser de competência dos estados e isso implica em um problema: como cada estado fazia o registro, surgiram microssistemas registrais diferentes em cada estado e, o empresário que pretendia expandir sua atividade empresarial acabava encontrando incompatibilidade registral, surgindo a necessidade de um sistema híbrido, que só ocorre com a Constituição 1946. Em 1946, passou-se a ter o sistema a híbrido traz a competência repartida entre União e estado. Cabe à União estabelecer as regras de funcionamento do registro – a União deve estabelecer a forma de funcionamento do registro empresarial. Os estados possuem a responsabilidade de efetuar e executar o registro segundo os limites estabelecidos pela esfera federal. Atualmente, o funcionamento atual do registro é realizado sob a égide do SINREM – Sistema Nacional de Registro Empresaria, regido pela Lei 8.934/94.
SINREM – Sistema Nacional de Registro Empresarial: Existem duas esferas: um órgão do âmbito federal e um órgão do âmbito estadual. No âmbito federal há o DREI e no âmbito estadual, as juntas comerciais. O DREI é o Departamento de Registro Empresarial e Integração e, tem a responsabilidade de estabelecer os critérios de funcionamento registro no Brasil. O DREI diz como deve funcionar o registro no país. O DREI está subordinado à Secretaria Especial da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. A junta comercial é quem executa o registro seguindo as determinações do DREI. A Junta possui dupla subordinação – subordinação técnica ao DREI e subordinação administrativa ao governo estadual. Quem determina como o registro deve ser realizado é o DREI, mas quem paga as despesas da Junta é o governo estadual. O Distrito Federal é uma figura híbrida. O DREI, além de dar as regras de funcionamento do registro (função normativa ou regulamentadora), também possui a função fiscalizadora – é o DREI que tem a função de verificar se o registro está sendo realizado da maneira adequada. O DREI também possui a função correcional – correcional vem de correção, ou seja, refazer de forma adequada. O DREI também tem a função de manutenção do cadastro nacional de empresas. Esse cadastro não substitui o registro feito na Junta Comercial. Esse cadastro tem função meramente informativa, orientando o governo federal, por exemplo, nas suas políticas econômicas de incentivo. Além da função de efetuar o registro, a junta comercial também tem a função de assentamento dos usos e práticas mercantis. O direito comercial é um direito eminentemente costumeiro e, os usos e práticas são frequentes. Os costumes são consolidados na junta comercial e, no futuro poderão ser utilizados para solução de litígios. A terceira função da junta é a de servir de órgão profissional para os auxiliares do empresário – tradutores públicos, intérpretes comerciais e leiloeiros são matriculados na junta comercial. A junta comercial também tem competência para a emissão das carteiras profissionais.
Atos do registro empresarial: Ao se falar em registro, fala-se em um gênero que comporta três espécies, quais sejam matrícula, arquivamento e autenticação. 
a) Matrícula: Atualmente, é o ato de registro dos auxiliares do empresário (tradutores públicos, intérpretes comerciais e leiloeiros). Antigamente eram cinco os auxiliares: haviam os administradores de armazéns gerais e os trapicheiros. Os administradores dos armazéns gerais cuidavam dos armazéns gerais e os trapicheiros cuidavam dos trapiches. O trapiche era um armazém geral de pequeno e médio porte, geralmente particular. 
b) Arquivamento: É o ato de registro do empresário individual e de constituição, alteração e dissolução da sociedade empresária e da EIRELI. EIRELI é a empresa individual de responsabilidade limitada. O prazo para arquivamento é de trinta dias a contar da prática do ato. Antes do arquivamento, outros atos podem ser praticados. Se o arquivamento for solicitado dentro do prazo produzirá efeitos retroativos (ex tunc), convalidando todos os atos praticados pelo empresário. Se o arquivamento for requerido fora do prazo, não retroagirá (ex nunc), produzindo efeitos dali em diante e, os atos praticados anteriormente não serão convalidados (atos praticados por empresário irregular). 
c) Autenticação: A autenticação possui dupla função: a função de veracidade e a função de regularidade. A função de veracidade diz respeito à autenticação da cópia – afirma-se que cópia confere com o original e, a declaração emitida por agente público passa a ter fé-pública. Além da função de veracidade, há a função de regularidade. Alguns documentos empresariais só são considerados regulares se devidamente autenticados. A autenticação passa a ser um requisito de regularidade de certos documentos, como uma forma de evitar fraude. Se há um livro com todas as páginas autenticas e, uma página some, sabe-se que houve fraude. Autenticação difere de reconhecimento de firma: o reconhecimento de firma é reconhecimento de autoria.
Exame das formalidades: O registro tem a função de informar ao Estado que a atividade econômica será iniciada – a função do registro não é controlar o exercício da atividade. Não cabe à Junta Comercial examinar aspectos materiais do pedido. A Junta Comercial examina apenas aspectos formais do pedido. A Junta irá verificar, por exemplo, se todas as formalidades exigidas pela lei foram ou não atendidas. Ao examinar aspectos formais, a junta pode encontrar vício sanável ou não sanável. Vícios sanáveis somente atingem a eficácia do ato. O pedido é devolvido ao interessado para que ele corrija o vício e atenda a exigência que foi pontuada pela Junta. Se a exigência não depender de órgão público, o prazo de atendimento é de trinta dias. Se o prazo para atender à exigência depender de órgão público, será de sessenta dias. O vício sanável apenas atinge a registrabilidade ou eficácia do ato. A junta irá realizar a conversão em diligência para que em trinta ou sessenta dias o vício seja sanado.
Processo decisório: O processo decisório da junta comercial é dividido em duas categorias, em razão da importância e complexidade dos atos praticados. Os atos são divididos em atos de maior complexidade e atos de menor complexidade. Atos de maior complexidade são decididos por um órgão colegiado, enquanto os atos de menor complexidade são objeto de decisão singular. Existem dois colegiados na junta comercial: o plenário e as turmas. O plenário é integrado pelos vogais, bem como as turmas. Quem decide singularmente é o presidente da junta comercial. O plenário irá julgar os recursos das turmas e das decisões singulares. AS turmas julgam os arquivamentos relacionados com as sociedades anônimas, com as operações societárias (fusão, incorporação, cisão, transformação), com grupos de sociedades e consórcios de empresas. O presidente julga os atos de menor complexidade, ou seja, os demais arquivamentos, a matrícula e a autenticação. O presidente pode delegar a função a um vogal ou a um funcionário da junta. De acordo com a complexidade a decisão é diferente. O prazo de decisão no direito empresarial não é impróprio, logo, se o prazo não for respeitado, gerará consequências. O prazo de decisão da junta para atos de maior complexidade é de cinco dias úteis. O prazo de decisão para menor complexidadeé de dois dias úteis. Se esses prazos não forem respeitados, a consequência é o registro tácito ou registro por decurso do tempo – considera-se deferido o pedido feito pelo empresário.
Processo revisional: Se o pedido do empresário for indeferido, ele pode adicionar o judiciário ou tratar da questão administrativamente e, não é necessário que haja o esgotamento da esfera administrativa para que ocorra o processo judicial. Se o interessado optar por permanecer na esfera administrativa, precisará conhecer o processo revisional, que é o processo administrativo recursal em matéria de registro. O processo revisional está essencialmente estruturado em três atos: o primeiro é o pedido de reconsideração, que é direcionado ao próprio órgão julgador. O julgador poderá manter o indeferimento ou deferir o pedido. O segundo ato é o recurso ao plenário: do indeferimento da decisão do presidente ou das turmas, o recurso pode ser direcionado ao plenário. Se o plenário de vogais mantiver o indeferimento, o interessado pode interpor recurso ao ministro de estado (secretário especial da microempresa e da empresa de pequeno porte – possui status de ministro). O prazo do processo revisional é de dez dias úteis. O plenário possui trinta dias corridos para decidir o recurso.
Irregularidade: O empresário pode ficar irregular de duas maneiras distintas: ou quando não faz o registro na junta comercial ou quando mesmo tento feito registro passa mais de dez anos sem fazer o arquivamento na junta comercial (torna-se inativo: inatividade gera irregularidade). A primeira consequência da irregularidade é que a responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais passa a ser ilimitada. A proteção da limitação à sociedade não é concedida a uma sociedade irregular, que não poderá ter acesso aos benefícios da limitação de reponsabilidade. A segunda consequência é que o empresário irregular não possui legitimidade para requerer recuperação de empresa. A recuperação é um benefício dado ao empresário em crise e, se ele está irregular, não tem direito ao benefício. A terceira consequência é a ilegitimidade para requerer a falência de outro empresário. O empresário irregular, por outro lado, pode ser réu da falência, ou seja, ter a sua falência decretada. A única falência que o empresário irregular pode requerer é a dele mesmo (autofalência). A quarta consequência da irregularidade é que o empresário irregular não terá inscrição nos cadastros fiscais (receita federal, estadual e municipal). A quinta consequência é que o empresário irregular não terá matrícula no INSS. Por fim, o empresário irregular também não poderá contratar com o poder público.
Estabelecimento comercial
É comum achar que estabelecimento comercial é o lugar onde a atividade empresarial é desenvolvida, porém, essa visão é equivocada. O lugar onde a atividade é desenvolvida é chamado de ponto empresarial. Estabelecimento empresarial não é o lugar do exercício da atividade empresarial. Estabelecimento empresarial é o conjunto de bens materiais e imateriais do empresário destinados ao exercício da atividade econômica organizada. Quando se refere aos bens da sociedade empresária, não se fala dos bens dos sócios, mas sim da sociedade – excluindo os bens do sócio. Quando se fala em bens do empresário individual, se fala nos bens da empresa. Há uma diferença entre estabelecimento comercial e patrimônio e, essa diferença reside na destinação. Patrimônio empresarial é tudo que pertence ao empresário, excluindo o patrimônio particular. Só integra o estabelecimento comercial a parcela do patrimônio destinada ao exercício da atividade econômica organizada. O bem integra o estabelecimento se for utilizado direta ou indiretamente para a atividade empresarial. Não se pode confundir estabelecimento com patrimônio (diferença de destinação) e nem se deve confundir patrimônio empresarial com patrimônio particular (diferença de titularidade ou vinculação). Questiona-se se há como calcular um valor para o estabelecimento empresarial. O valor do estabelecimento não é a simples soma dos valores dos bens que o compõem, pois é necessário somar o aviamento. Aviamento é o valor agregado ao estabelecimento empresarial em razão de sua organização. Quanto mais organizado o estabelecimento, maior será o valor do aviamento. Quanto maior o valor do aviamento, maior o valor do estabelecimento empresarial. Após alcançar o valor do estabelecimento empresarial, questiona-se se é possível a sua venda. 
Trespasse: A venda do estabelecimento empresarial é chamada de trespasse. O estabelecimento empresarial é o bem mais importante do empresário. Traspasse é a alienação do estabelecimento empresarial. Se o estabelecimento é o bem mais importante do empresário, é a principal garantia dos seus credores, por isso, para alienar o estabelecimento empresarial, algumas regras precisam ser observadas.
O contrato do trespasse tem que ser escrito para que possa ser arquivado na Junta Comercial. A publicação do trespasse deve ocorrer através da imprensa oficial. O terceiro requisito é a anuência ou concordância de todos os credores. Se o patrimônio restante for solvente, ou seja, suficiente para saldar as dívidas do empresário, não haverá necessidade de anuência ou concordância dos credores. O patrimônio restante é o que sobre após a venda do estabelecimento empresarial. Se ocorrer a venda sem a anuência, há alienação irregular do estabelecimento empresarial, ensejando a possibilidade de ser decretada a falência do empresário, além da invalidação da alienação. A anuência ou concordância dos credores ocorre de duas maneiras distintas: podem manifestar a concordância expressamente ou tacitamente caso não se manifestem em trinta dias após a notificação. Quando há alienação do estabelecimento empresarial, ocorre a alienação de um bem coletivo. Quando há alienação de bem coletivo, o acessório segue o principal, logo, as dívidas devidamente contabilizadas são transferidas juntamente com o estabelecimento comercial – o adquirente passa a ser responsável pelas dívidas devidamente contabilizadas, no entanto, permanecerá o alienante solidariamente responsável pelo período de um ano, a contar da alienação do trespasse para as dívidas vencidas e um ano a contar do vencimento para as dívidas vincendas. No Direito Empresarial, as partes podem dispor sobre a responsabilidade pelas dívidas de maneira diversa (normas dispositivas). As partes podem indicar, por exemplo, que somente o alienante arcará com as dívidas. Essas disposições estabelecidas entre alienante e adquirente somente aproveita a eles, não afetando os terceiros (princípio da relatividade dos contratos). Essa é regra geral, mas há exceção em relação às dívidas trabalhistas e tributárias. As dívidas trabalhistas seguem a regra estabelecida pela CLT (arts. 10 e 448) e as dívidas tributárias seguem as regras estabelecidas pelo CTN (art. 133). As dívidas trabalhistas também se transferem ao adquirente (sucessor), mas, a responsabilidade do alienante será subsidiária até a prescrição da dívida. O TRT de Campinas defende que o alienante deveria ser irresponsável pelos créditos trabalhistas, somente havendo responsabilidade do adquirente. João Glicério entende que a responsabilidade do alienante pelas dívidas trabalhistas deveria ser solidária, tendo o prazo de um ano. A partir do segundo ano, deveria aplicar a CLT. Quanto as dívidas tributárias, aplica-se a regra do art. 133 do CTN. Se o alienante continuar a exercer alguma outra atividade econômica, ou parar e voltar antes de seis meses, será ele (o alienante) o responsável pelas dívidas tributárias, enquanto terá o adquirente, responsabilidade subsidiária (essa é a regra: dívida tributária não se transfere). Se o alienante encerrar definitivamente o exercício de qualquer atividade econômica, ou parar e voltar após seis meses, será o adquirente integramente responsável pelas dívidas tributárias.
Ponto empresarial: É o lugar do exercício da atividade econômica organizada. Quando o empresário começa a exercer a atividade em umimóvel, ele poderá ser dono do imóvel ou realizar um contrato de locação. Atualmente, financeiramente não é interessante imobilizar dinheiro.
· Locação empresarial: Atualmente, a maioria dos empresários prefere realizar um contrato de locação. A lei que cuida da locação é a Lei 8.245/91. A locação residencial é aquela em que o imóvel é utilizado para fins de moradia, enquanto a locação não residencial é utilizada para o exercício de uma atividade econômica. A locação empresarial é aquela que tem como locatário o empresário e o imóvel é utilizado no exercício da atividade econômica organizada. Sempre que há um investimento em uma locação, ele merece ser protegido. O investimento empresarial é pesado, havendo reforma substancial para adaptar o imóvel a sua atividade. Esse investimento merece ser protegido.
· Direito de inerência ao ponto: É a forma de proteção do imóvel alugado para fins não residenciais. O direito de inerência ao ponto é o direito que tem o locatário de renovar o contrato de locação mesmo que o locador não queira. É o direito a uma renovação compulsória do contrato de locação. A vontade de uma das partes prevalecerá sobre a da outra, por isso, alguns requisitos devem ser observados. Esses requisitos se encontram no art. 51 da Lei de Locações. É necessário que haja contrato escrito de prazo determinado. O locatário deve possuir ao menos cinco anos ininterruptos de contrato ou contratos (inclusive com diferentes titulares, desde que entre eles se tenha estabelecido o vínculo jurídico inter vivos ou mortis causa. Os tribunais têm entendido que uma interrupção do contrato de locação para renovação não desnatura o direito de inerência ao ponto. A interrupção meramente formal para a renovação do contrato não desnatura o direito de inerência. O locatário deve ter ao menos três anos ininterruptos de exercício efetivo da mesma atividade quando da propositura da ação renovatória. O prazo da propositura da ação renovatória vai de um ano a seis meses antes do fim do contrato de locação. Este prazo é decadencial e, não pode ser interrompido, suspenso ou prorrogado. Entende-se que a ação renovatória prorroga o prazo pode mais cinco anos e, é possível realiza-la sempre. Na renovação, o valor dos alugueis será majorado. Existem cinco hipóteses de exceção de retomada (arts. 52 e 72 da Lei de Locações).
De acordo com Luciano Lima Figueiredo, a Lei do Inquilinato nos arts. 51 e seguintes dispõe acerca do direito de renovação compulsória. Trata-se de uma situação na qual o proprietário do imóvel não terá direito de retomada, sendo deferido ao inquilino permanecer no imóvel por um determinado prazo. Para verificar esse direito no caso concreto existem alguns requisitos: a locação deve ter sido pactuada por escrito e com prazo determinado. O prazo do contrato ou o prazo da soma dos contratos seja igual ou superior a cinco anos. O terceiro requisito é que o locatário esteja explorando o mesmo fundo de comércio a pelo menos três anos. O quarto requisito é que o locatário proponha a ação renovatória no prazo de um ano até seis meses antes do termo final do contrato (prazo regressivo). O direito à renovação compulsória existe visando proteger o fundo de comércio. O fundo de comércio são os atributos materiais e imateriais de um determinado negócio. Existem atividades onde a localização é fundamental, por conta disso, a lei se preocupa em proteger o direito do locatário comercial a permanecer neste ponto. A lei protege a função social da empresa. Em algumas atividades, entretanto, a localização da empresa não interfere em nada (em regra, escritório de advocacia e clinicas não tem direito a renovação compulsória). Para que se forme uma clientela é necessário que a atividade se mantenha por um certo tempo e, a lei entendeu que três anos é um prazo razoável para que se firme uma clientela. A lei dispõe que terá direito à renovação compulsória aquele que ficar por mais de cinco anos no imóvel – o instrumento contratual pode ser único ou pode ser sucessivo. O dono do imóvel comercial não costuma buscar realizar o contrato de cinco anos, pois, se o contrato chegar a cinco há o direito de renovação compulsória. Quando os contratos sucessivos ultrapassam cinco anos há o direito à renovação. O contrato deve ser por escrito e com prazo inicia determinado. A doutrina e a jurisprudência afirmam que basta haver um instrumento escrito que tenha prazo determinado: é muito usual que se faça o contrato por dois anos e, ao final do segundo ano o contrato seja prorrogado por prazo indeterminado – a doutrina afirma que como o primeiro contrato traz o prazo inicial, não é necessário que haja no sucessivo. Há prazo decadencial para o exercício do direito: um ano e seis meses antes do término final do contrato. A matéria de defesa do proprietário encontra-se prevista no art. 52 da Lei do Inquilinato (fatos impeditivos à renovação compulsória). O locador poderá discutir o valor do aluguel eventualmente. A renovação compulsória é um por período, logo, será de no máximo por mais cinco anos (súmula 178, STF). Com base no art. 53 da Lei do Inquilinato, nas locações de imóveis utilizados para hospitais, unidades sanitárias, asilo, estabelecimento de saúde e de ensino, o contrato de locação somente poderá ser desfeito nas situações do art. 9º ou do inciso II do art. 53. A lei dificulta o desfazimento do contrato em razão da função social.
	Prazo inicial: 01/01/2015
	Prazo final: 01/01/2020
	A ação deve ser ajuizada entre 01/01/2019 e 01/06/2019
Direito Cambiário
É o ramo do direito empresarial que estuda os títulos de crédito enquanto instrumento de circulação da riqueza produzida pelo empresário. 
Títulos de crédito: Títulos de crédito representam mecanismos de circulação de riquezas. Os títulos de crédito nascem um pouco antes da Idade Média, mas sua consolidação ocorre na Idade Média. Com as invasões barbaras as pessoas se aglutinaram em feudos, que eram cercados e divididos em parte habitável e parte produtiva. Os muros intentavam proteger os feudos dos saques feitos pelos bárbaros. Naturalmente, o feudo tinha o objetivo de produzir tudo que era necessário para sua sobrevivência, ou seja, havia a intenção de ser autossustentável. Existem vários tipos de inteligência e as habilidades são desenvolvidas de acordo com a inteligência, dessa forma, era natural que ocorresse especialização. Além da especialização dos habitantes do feudo, as condições climáticas e geográficas favoreciam culturas diversas, influenciando no desenvolvimento da atividade. Com isso, verificou-se o excedente e, esse excedente era trocado com outros feudos que possuíam produções diversas. Inicialmente, as pessoas iam até o outro feudo para fazer as trocas, mas, com o tempo os encontros ocorriam no meio do caminho, ensejando a formação das feiras. As feiras eram entrepostos comerciais de troca do excedente produtivo. Os primeiros comerciantes profissionais surgem assim e, para maximizar a eficiência das trocas os entrepostos passaram a acolher os comerciantes – assim, surgem os burgos, acolhendo os burgueses. Com o crescimento dos burgos surgem as cidades. Os burgos ficavam próximos aos rios, pois os rios favorecem o crescimento populacional e o deslocamento das mercadorias. Passou-se a encontrar o superdesenvolvimento dos entrepostos que se tornaram burgos e deram origem às cidades. Nesse período os estados nacionais ainda eram fracos, por isso o trânsito das mercadorias e da moeda era perigoso, não havendo proteção nas estradas. Passou-se a pensar em um mecanismo de transferência segura de valores entre feudos e burgos. Antes haviam as moedas, que eram metais preciosos prensados. Essas moedas representavam riqueza e, para evitar que essas moedas fossem roubadas e a insegurança nas estradas é que foram criados os títulos de crédito. Como não existia um estado nacional forte, cada cidade tinha sua moeda. Diante disso, questionava-se como realizar a conversão cambial. Algumas pessoas se habilitaram para fazer o câmbio das moedas e essas pessoas eram chamadasde cambistas. O cambista entregava a moeda do outro local ou uma carta de crédito a ser entregue ao correspondente do cambista na outra cidade, para então realizar o resgate das moedas. Era preferível transitar com a carta de crédito entre as cidades. Os cambistas posteriormente deram origem aos bancos. Os cambistas começaram a melhorar e profissionalizar sua estrutura. A tradução de carta para o italiano é lettera e a lettera di cambi foi o primeiro título de crédito a surgir. A lettera di cambi foi traduzida para o português como letra de crédito, porém a tradução correta seria carta de crédito. Os títulos de crédito foram extremamente importantes para a globalização e integração. Com a evolução tecnológica, as transações comerciais passaram a ser informatizadas. Entre 1990 e 1994 haviam regiões no Brasil que possuíam maior circulação de cheque do que de papel moeda, inclusive, nesse período o cheque era título de curso forçado. Os títulos representaram uma função extremamente relevante na circulação de valores. Ainda há importância em relação aos títulos, principalmente em transações internacionais, pois os sistemas bancários mundiais não são integrados.
Conceito: É possível perceber a existência de dois conceitos do título de crédito – um conceito mais técnico e um conceito mais festejado pela doutrina. O conceito técnico surge da decomposição da expressão ‘título de crédito’ – título é um documento que representa uma relação jurídica ou uma situação jurídica. Crédito vem do latim credere, que significa crer, acreditar ou confiar. Do ponto de vista econômica, crédito é a troca de um bem presente por um bem futuro. Título de crédito é o documento representativo de uma obrigação pecuniária futura, pautada na confiança. Esse não é o conceito preferido pela doutrina. O conceito mais festejado doutrinariamente foi concebido por Cesare Vivante e, esse conceito é incorporado no Código Civil Brasileiro através do art. 887, que indica que título de crédito é o documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele mencionado. Esse conceito é o mais festejado porque já faz referência aos princípios do direito cambiário, e as características do título de crédito, quais sejam cartularidade, literalidade e autonomia (abstração e inoponibilidade de exceções pessoais ao terceiro de boa-fé).
Princípios gerais do direito cambiário ou características dos títulos de crédito:
· Cartularidade: É a exigência de posse do título de crédito para o exercício dos direitos que dele emanam. Em regra, para o exercício dos direitos que emanam do título de crédito não serve cópia, nem mesmo autenticada. É necessário a presença do original até para a verificação da autenticidade. Essa é a regra e esse é o princípio da cartularidade, existem exceções. A primeira exceção diz respeito à perda ou extravio – se o título for perdido ou extraviado o credor poderá exercer os direitos que emanam do título pela cópia ou pela cópia autenticada – é possível que o devedor exija documentos complementares, a exemplo de um boletim de ocorrência. A segunda exceção ao princípio da cartularidade diz respeito aos títulos de crédito eletrônicos. A doutrina clássica entende que a cartularidade é a exigência de posse do original do título em meio físico. A doutrina mais moderna indica que os títulos eletrônicos não representam exceção ao princípio da cartularidade porque cartularidade é a exigência de posse do original do título, não importando o meio. Um arquivo digital, por exemplo, possui o original. Existem arquivos que não são copiáveis e que possuem diversos mecanismos de segurança. Para a doutrina mais moderna, o título eletrônico não representa exceção ao princípio da cartularidade, pois este é entendido como a posse do título em qualquer meio, ainda que eletrônico. A terceira exceção diz respeito às duplicatas. A Lei nº 5.475/68, em seu art. 15, §2º, autoriza o exercício dos direitos que emanam de uma duplicata mesmo sem o documento original. É da essência da duplicata essa possibilidade. A duplicata foi concebida dessa maneira para facilitar sua circulação – trata-se de título eminentemente brasileiro, criado para auxiliar as transações entre os empresários.
· Literalidade: É a exigência de prática dos atos jurídicos no próprio título para que estes produzam efeitos cambiais. Não se refere aqui ao plano da existência ou da validade, mas sim da eficácia. Quando um ato jurídico é praticado fora do título e atende aos requisitos de validade, ele é existente e válido, mas, se o ato não for praticado no título, não é eficaz. O ato ineficaz pode produzir efeitos, mas não produzirá os efeitos desejados pelo agente. O ato de garantia cambial é o aval e, se o aval é praticado no título, produzirá efeitos desejados pelo agente. Se o aval é praticado fora do título, ele não produzirá os efeitos que o agente espera. O aval praticado fora do título produzirá os mesmos efeitos que o seu equivalente no direito civil, qual seja a fiança. O aval, por exemplo, não possui benefício de ordem; a fiança, por outro lado, possui o benefício de ordem. O aval é obrigação autônoma e independente e, a nulidade do ato principal não afeta o aval, desde que ele seja praticado no título. O endosso é o equivalente à cessão de crédito. O endosso praticado fora do título é valido, existente, mas não é eficaz, produzindo portanto, efeitos equivalentes aos da cessão de crédito.
· Autonomia: A autonomia é a independência entre si das obrigações constantes em um título de crédito. No direito privado, a regra geral é que a obrigação acessória acompanha a obrigação principal (princípio da gravitação). Isso é afastado no direito cambiário. A função do direito cambiário é facilitar a circulação de riqueza, porém, isso só é possível se a riqueza estiver devidamente protegida. A lógica do direito cambiário é tornar o título absolutamente confiável para novo o credor. O título só é confiável se o crédito for protegido. A pessoa só irá aceitar o crédito se houver segurança em relação ao seu recebimento. Se houver dúvida quanto ao recebimento do crédito, o credor não irá o aceitar. Quanto mais protegido o crédito, maior sua chance de circulação. O direito cambiário não esconde sua índole de proteção ao credor – o direito cambiário protege o crédito para que ele possa circular com mais segurança e indiretamente acaba protegendo o credor. O direito cambiário adota inúmeras medidas de proteção ao credor e, uma delas é a autonomia. A autonomia é uma medida de proteção do credor. A autonomia é a independência entre si das obrigações constantes no título, ou seja, se a obrigação principal for nula, nas demais obrigações permanecem – o credor ainda terá de quem exigir o cumprimento da obrigação. A proteção mais forte é a autonomia. A eventual nulidade da obrigação principal não contamina as demais e, isso foge da lógica do direito privado, com fins de proteção ao credor. A nulidade da locação acarreta na nulidade da fiança no direito civil. Na eventual nulidade do contrato de locação o credor não pode reclamar ao fiador. Se há uma nota promissória garantia por aval, a eventual nulidade da nota promissória não interfere no aval. A nulidade da obrigação principal não acarreta no aval, pois as obrigações são independentes entre si, logo, o credor poderá exigir o cumprimento da obrigação do avalista. O avalista sabe que garantirá a obrigação, mesmo em caso de nulidade da obrigação principal. No direito cambiário vige, portanto, a autonomia das obrigações constantes no título de crédito. 
Abstração é a independência do título em relação à sua causa. Essa também é uma forma de proteger o credor, pois quando se desvincula o título da causa subjacente, eventual vício que atinja essa causa não atinge o título – o título poderá circular livremente sem que terceiros sejam incomodados por razões relacionadas com a causa que deu origem ao título. O que se quer é que o título circule livremente, com segurança, que ele possua um alto grau de circulação e que as pessoas acreditem que o crédito

Continue navegando