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Ariela Silva Barros- Faculdade de Direito da UFBA. 2018.1 Caderno de Direito Empresarial Professor João Glicério de Oliveira Filho 1 Informações sobre a disciplina: Referências Manuais: Curso avançado de Direito comercial de Márcia Carla Pereira Ribeiro e Marcelo Bertodi. Editora RT. Direito empresarial esquematizado. André Luis Santa Cruz Ramos. Editora método Livros específicos: Primeira unidade: Marlon Tomazette. Editora Atlas. Volume 1 do curso de Direito Empresarial Gladsson Mamede, volume 1 do curso de Direito Empresarial Brasileiro. Editora Atlas. Líderes: Patrícia Caroline: (71) 99255-0840 Flávia França: (71) 99310-1187 Avaliações o Primeira prova: 14/06/2018, quinta Segunda chamada: 19/06/2018, terça. Será o assunto dado até o dia 24 ou 29/05. o Segunda prova: 12/07/2018, quinta Segunda chamada: 17/07/2018, terça. Não tem aula no dia da segunda chamada e não necessita de requerimento. Não existe terceira chamada! 03/04 I UNIDADE INTRODUÇÃO AO DIREITO EMPRESARIAL O sistema capitalista é predominante no mundo e dentro desse sistema capitalista de produção, a mola propulsora é a atividade empresarial. Direito Empresarial é o ramo que estuda a atividade empresarial. Todos os ramos do direito, seja penal, trabalhista, administrativo ou consumidor, tem uma grande relação com o direito empresarial. 1. Teoria Geral (primeira unidade da disciplina) 2 2. Títulos de crédito (segunda unidade da disciplina) 3. Sociedades Teoria geral Espécies 4. Concursal (falimentar)- Estuda a crise empresarial. 5. Contratos empresariais 6. Propriedade intelectual- Divide espaço com o direito autoral (pertence ao direito civil) e de outro lado com a propriedade industrial (pertence ao direito empresarial). 7. Bancário- muito importante por estudar as criptomoedas. 8. Seguros- Direito securitário. Vivemos em um mundo de seguros. 9. Concorrencial- cuida da livre concorrência, de uma concorrência leal. Em direito empresarial, estudamos a teoria geral e os títulos de créditos. Em direito societário, estudamos as sociedades. O restante são conteúdos de disciplinas optativas. O estudo do direito empresarial está diretamente ligado ao desenvolvimento econômico. Estados mais desenvolvidos estudam mais direito empresarial, enquanto que os meninos desenvolvidos estudam muito direito civil e penal. 05/04 TEORIA GERAL DO DIREITO EMPRESARIAL 1. Fundamentos históricos Existem duas teorias que serviram para conformar o direito empresarial como conhecemos hoje, são elas: Teoria dos atos de comércio (1808) Os institutos jurídicos recebem a influência dos momentos históricos sempre e não é diferente com essas teorias. A teoria dos atos de comércio só existiu em razão da Revolução Francesa, sendo fortemente influenciada por esse momento histórico onde a burguesia tomou o poder da nobreza. Ao tomar o poder, a burguesia tomou inúmeros mecanismos para preservar o poder. Uma dessas medidas foi a inauguração dessa teoria que veio acompanhada de duas grandes características: a. A bipartição do direito privado Separou-se o direito privado em dois grandes ramos. De um lado o direito civil, do outro lado o direito comercial. Naquele momento, o direito civil assumiu a responsabilidade da regulamentação das relações estabelecidas entre os nobres, enquanto coube ao direito comercial regulamentar as relações fixadas entre os burgueses. Como a burguesia estava no poder, o direito comercial foi recheado por benefícios e privilégios, enquanto coube ao direito civil e os nobres apenas deveres e obrigações. O direito comercial por isso é um direito de classe, com objetivo de manter no poder a classe dominante. 3 Alguns desses benefícios do direito comercial permanecem até os dias atuais, como o tratamento tributário mais vantajoso para a atividade econômica. Naquela época, os principais impostos sobre a propriedade ou foram criados ou majorados, enquanto que os impostos sobre a atividade econômica ou foram reduzidos ou extintos. Isso se reflete até hoje, onde quem exerce atividade econômica tem um substancial beneficio tributário. Percebemos que a tributação da pessoa jurídica hoje é muito mais benéfica do que a da pessoa física e isso vem da Revolução Burguesa. O ordenamento jurídico inclusive estabelece formas de reestruturação da atividade econômica de empresas, como a recuperação judicial e extrajudicial de empresas, enquanto que não prevê nenhuma forma de reestruturação da atividade civil em crise. Esse é um dos benefícios que já existia para a atividade empresarial desde a Revolução francesa. Além disso, inúmeros benefícios se perderam ao longo do tempo, por exemplo, somente os comerciantes matriculados na junta comercial podiam aguardar julgamento em cela especial (benefício hoje que foi ampliado para todos que possuam curso superior). Outro benefício perdido ao longo do tempo é que antes apenas esses comerciantes podiam passar procuração de próprio punho por instrumento particular, enquanto que hoje se ampliou para qualquer pessoa capaz. b. Ausência de um conceito fundamental para a disciplina O legislador não trouxe um conceito fundamental para a disciplina, apenas listou os atos que eram considerados de comércio, como atos de comércio em sentido stricto, atos relacionados à indústria, bancos e seguros. Esses foram os atos listados no Código Comercial francês de 1808 e copiados no Código Comercial brasileiro de 1850, que já foi quase totalmente revogado, mas a parte sobre direito marítimo ainda está vigente. Esses atos listados eram justamente os atos praticados pelos burgueses para que só eles tivessem acesso a benefícios do direito comercial. Vários doutrinadores tentaram encontrar um conceito para “atos de comércio”, quem mais perto chegou de um conceito cientificamente sustentável foi o professor Alfredo Rocco. Para ele, atos de comercio pressupõe uma interposição na troca. Esse conceito teve certa receptividade por conseguir alcançar todos os atos que os burgueses na época achavam que deveria ser considera atos de comércio. Mas esse conceito acabou encontrando alguma resistência, porque em razão de ser muito amplo alcançava atos que não deveriam ser considerados de comércio. Essa ideia alcançava, por exemplo, a troca entre empregado e empregador, consumidor e vendedor. Esse conceito teve resistência, pois essa amplitude permitia que os nobres se adaptassem a essas características e tivessem acesso aos benefícios comerciais. Por isso, essa teoria é abandonada e assim nasce a teoria da empresa. Teoria da empresa (1942) Essa teoria nasce com um objetivo muito claro: preencher as lacunas e corrigir os defeitos deixados pela teoria dos atos de comércio. A teoria da empresa tentou reunificar o direito privado e trouxe conceito fundamental para a disciplina. No art. 2.082, primeiro artigo do livro de direito de empresa do código civil italiano, já temos um conceito de empresário, conceito esse que foi copiado pelo art. 966 do código civil brasileiro. (também primeiro artigo do livro de direito de empresa). 4 A tese da reunificação do direito privado foi fervorosamente defendida pelo professor italiano Cesare Vivante. Porém, posteriormente ele percebeu que os dois ramos tinham se especializado muito e por isso, Cesare se tornou um opositor da reunificação. Assim, a tentativa de reunificação dos dois ramos foi frustrada. Em verdade, houve unificação apenas no campo legislativo e ainda assim, foi parcial, pois existem regras dos dois ramos fora do direito civil. Do pondo didático, os dois ramos permaneceram separados. Observação: Vale ressaltar que quem primeiro propôs a reunificação do direito privado em seu projeto do CC de 1864 foi Teixeira de Freitas, projeto esse que influenciou toda a legislação civil ocidental.10/04 EMPRESÁRIO Conceito O conceito de empresário é definido pelo artigo 966 do CC. É o artigo mais importante do direito privado moderno, trazendo as características ou requisitos para enquadramento de um sujeito como empresário, consequentemente, por exclusão, diz quem não se submete às regras do direito empresarial. E quem não se submete as regras do direito empresarial, acaba se submetendo as regras do direito civil. Assim, esse artigo não apenas diz quem é empresário, mas diz também quem não é, delineando a separação entre o direito empresarial e o direito civil. A linha que delimita a separação desses ramos é justamente esse artigo, pois ao definir quem vai se submeter ao direito empresarial, por exclusão, acaba definindo quem se submeterá ao direito civil. Esse artigo elenca as características ou requisitos que delimitam o sujeito do empresário, enquanto ente central do direito empresarial, quais sejam: a. Profissionalismo b. Exercício de uma atividade econômica com intuito lucrativo c. Organização Diversos autores trazem a produção ou circulação de bens ou de serviços como a quarta característica para configuração do empresário. Entretanto, a produção ou circulação de bens e de serviços trata-se de uma finalidade e não de uma característica. Além disso, não há nenhum caráter diferenciador ou distintivo em “produção ou circulação de bens ou de serviços”, pois acaba abarcando toda e qualquer atividade econômica. Por exemplo, produção de bens se encaixa em manufatura, indústria, fabricação, etc. Produção de serviços é a prestação de serviços, e assim por diante. Entretanto, todos os demais manuais Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. 5 falam em quatro requisitos no conceito de empresário, sendo que apenas o professor defende que são três. São eles: 1. Profissionalismo Ser profissional é congregar três características. Originalmente eram apenas duas, mas a partir da década de 90 passamos a ter uma terceira, quais sejam: a. Habitualidade Ser habitual é atender a demanda periódica da atividade e cada atividade tem demanda pessoal distinta, dependendo do tipo e natureza da atividade. Habitualidade não significa funcionar todos os dias, mas atender a demanda periódica da atividade. Com uma farmácia se espera um funcionamento habitual, que é todos os dias, enquanto que um bloco de carnaval também se espera demanda habitual, mas anualmente. Habitualidade pode ser anual, mensal, diária, o que importa, portanto, é que a demanda seja periódica. Quando falo de empresário, trata-se de um gênero que comporta três espécies: I. Empresário individual É uma pessoa física que exerce atividade empresarial, que tem responsabilidade ilimitada pelas obrigações negociais e por isso o seu patrimônio particular poderá ser alcançado por dívidas negociais. Há uma unicidade no patrimônio do empresário individual, de forma que ele responde pelas dívidas, sejam pessoais, sejam profissionais. II. Sociedade empresária Pessoa jurídica formada por sócios, normalmente mais de um sócio. III. EIRELI- Empresa individual de responsabilidade limitada É uma pessoa jurídica formada por um único integrante, um único titular. O único titular na EIRELI não se confunde com a pessoa jurídica, assim como os sócios não se confundem com a sociedade empresária, pois a sociedade e a EIRELI possuem personalidade jurídica própria. O sócio não é o empresário e sim a sociedade. Quem precisa atender as regras do artigo 966 é a sociedade, não o sócio, é a EIRELI, não o único titular. Se dono de farmácia não aparece lá todos os dias, ele pode fazer isso porque ele não é o empresário e sim a “pessoa jurídica farmácia”. A sociedade é um ente autônomo, independente e por isso não pode ser confundido com o sócio. A sociedade tem, portanto, vontade própria e por isso deve atender os requisitos desse artigo. O fato de a receita atribuir ao empresário individual um CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) não o torna pessoa jurídica, pois ele é uma pessoa física e a aquisição da essa personalidade jurídica da pessoa física acontece com o nascimento com vida. Ele recebe CNPJ apenas para fins tributários. Já a aquisição da personalidade da pessoa 6 jurídica ocorre a partir do registro no órgão competente. O órgão competente para registro de pessoas jurídicas empresárias é a junta comercial. Para pessoas jurídicas não empresárias, é o RCPJ (Registro civil de pessoa jurídica) e para pessoas jurídicas que vão exercer a advocacia, o órgão competente é a OAB. Portanto, a receita não tem prerrogativa de atribuir personalidade jurídica a alguém, só a OAB, a Junta comercial e o RCPJ. b. Pessoalidade É a segunda característica do profissionalismo. Significa o exercício da atividade empresarial em nome do empresário. O empresário contrata mão de obra para trabalhar por ele, por exemplo. Em responsabilidade civil, temos que o empresário é responsável pelos atos praticados pelos seus prepostos, por que os prepostos estão agindo em nome do empresário. A pessoalidade é o grande fundamento da responsabilidade, são dois lados da mesma moeda. A responsabilidade é o reflexo no espelho da pessoalidade. Historicamente, o profissionalismo era marcado por habitualidade e pessoalidade apenas, mas da década de 90 para cá, com o advento do Código de Defesa do Consumidor, tivemos o terceiro elemento. c. Monopólio de informação A expressão é muito ruim. Em verdade, o empresário não precisa ter conhecimentos técnicos específicos de sua atividade. Exemplo: o dono de um hospital não precisa ser médico, pode ser um advogado. O dono de uma construtora não precisa ser engenheiro. Obviamente, é recomendável, mas não existe uma obrigação legal nesse sentido. Mas o empresário precisa saber das informações relacionadas com o consumo do produto ou serviço que ele oferece, para compartilhá-las com seus consumidores. Informações como eventuais riscos a vida do consumidor, eventuais condições de uso daquele produto, eventuais defeitos de fabricação. É esse tipo de informação que o empresário é obrigado a deter. Portanto, se pessoa tem habitualidade, pessoalidade e monopólio de informações, ela pode ser considerada profissional. Mas para ser considerado empresário, também precisa exercer uma atividade econômica com intuito lucrativo. 2. Exercício de uma atividade econômica com intuito lucrativo Empresário Empresário Individual Sociedade Empresária EIRELI 7 Sempre que se fala em atividade econômica, estamos naturalmente perpassando a ideia de lucro. Associação e fundação podem ter lucro, o que elas não podem é ter finalidade lucrativa. O lucro é um meio para alcançar outros fins, como fins culturais, assistenciais, sociais e assim, lucro deve ser reinvestido na própria atividade. Lucro é um conceito contábil, sendo o resultado da subtração entre a receita e a despesa, quando a receita é maior do que a despesa. Para o empresário, o lucro é um fim, pois é requisito para o empresário ter intuito lucrativo, perseguir o lucro. Quem não tem intuito lucrativo, não pode ser considerado empresário. O requisito não é ter lucro e sim perseguir o lucro (lucro como objetivo). Ter lucro não depende exclusivamente do empresário, o que depende dele é perseguir o lucro. Posso afirmar que quem não tem intuito lucrativo não é empresário, mas nem todo aquele que tem intuito lucrativo, é empresário, pois existem atividades civis que também perseguem o lucro, como a advocacia. Assim, só saberemos se estamos diante de um empresário, se todos os três elementos estiverem presentes cumulativamente. Questão: O CC traz conceito de empresário e de atividade empresarial, mas não traz conceito de empresa. Por quê?Alberto Asquini escreveu um artigo que inaugura a teoria da empresa, tratando da empresa como um dos perfis da atividade empresarial. Esse artigo foi traduzido para o português por Fábio Konder Comparato e é chamado de “Os perfis da empresa”. Pela leitura desse artigo, podemos responder “Qual o conceito de empresa?”. Resposta: No seu artigo, Alberto Asquini defende ser a empresa um fenômeno poliédrico, e desse fenômeno podemos tirar quatro perfis: Subjetivo: Está relacionado com o sujeito da atividade econômica organizada, que é o empresário; Objetivo: está relacionado com o objeto da atividade econômica organizada, que é o estabelecimento empresarial; Funcional ou abstrato: está relacionado com a empresa, que é elemento imaterial da atividade empresarial, é o elemento abstrato; Coorporativo: relacionado com a mão de obra ou com os prepostos do empresário. O professor alemão Julius Von Gierke defende que a mão de obra não seria um perfil de empresa, mas sim um fator de produção, de forma que a empresa teria três perfis e não quatro. A empresa compõe o perfil funcional, o perfil abstrato, nos levando a conclusão de que a empresa não é coisa, nem pessoa, não é agente, nem paciente. A empresa não é sujeito, nem objeto. Empresa é, portanto, o vínculo jurídico que liga o sujeito ao objeto, é a atividade em exercício e por isso o CC não conceituou empresa, por não ser algo palpável. Há quem faça referência à empresa como um lugar ou como sujeito, como quem diz que a empresa pegou fogo; a empresa importou algo, etc. Isso não é possível, pois a empresa não é tangível. 8 Empresa vem de empreender, sendo sinônimo de atividade. Então, para saber se o termo empresa foi corretamente empregado em uma frase, basta substituir o termo por “atividade”. Seria adequado dizer que “a empresa é muito arriscada”, pois é uma substituição sonoramente perfeita. O lugar onde atividade é desenvolvida é chamado de ponto empresarial e não de estabelecimento empresarial. Estabelecimento tem outro conceito que será ainda estudado. 12/04 3. Organização O terceiro requisito para ser empresário é a organização. A organização é a articulação dos quatro fatores de produção. São eles: i. Capital: Pode ser próprio ou alheio, o requisito não é ter capital e sim articular capital. O capital não precisa, portanto, necessariamente pertencer ao empresário. ii. Insumos: Matéria prima utilizada para desenvolver a atividade iii. Mão de obra: Pode ser direta ou indireta. No direito do trabalho, essa classificação pode ter vários sentidos. Há quem defenda que a mão de obra direta está relacionada com a atividade fim e mão de obra indireta está relacionada com atividade meio. Mas não é a classificação que nos interessa. A classificação que aqui nos interessa é aquela que entende que mão de obra direta é a que tem vínculo empregatício e a mão de obra indireta é a que não tem vínculo empregatício. O requisito para ser empresário não é contratar empregados, é contratar mão de obras. Mesmo que o individuo não contrate nenhum empregado, e só contrate prestadores e terceirizados, já atendeu o requisito exigido. Empresário pode não ter nenhum empregado e mesmo assim atender o requisito plenamente (mão de obra indireta). Vincenzo Buonocore defende que contratar mão de obra não deveria ser requisito do conceito de empresário. Para ele, o indivíduo que consegue executar todas as tarefas relacionadas ao negócio, também pode ser considerado empresário. O exemplo que ele dava era da lavanderia de alto serviço, onde pessoa pagava para lavar as roupas utilizando as máquinas. Empresário no final do dia fazia contabilidade do negócio e no final de semana, prestava manutenção das máquinas. Fazia tudo absolutamente sozinho e para Vincenzo esse indivíduo também deveria ser considerado empresário, porque congrega todos os elementos para ser empresário, apenas não congrega esse elemento da mão de obra. Hoje outro exemplo é a internet, caso de pessoas que ganham dinheiro com sites e aplicativos. Mas movimentar muito dinheiro não é requisito para ser empresário, existem fundações, associações e até o governo que movimentam dinheiro e nem por isso são considerados empresários. Evaristo de Moraes Filho fez muita oposição no Brasil a Vincenzo, escrevendo um livro muito relevante intitulado “Do contrato de trabalho como elemento de empresa”. Para ele, a atividade de empresário não é atividade de execução e sim de coordenação, é uma atividade de articulação. O empresário deve articular os elementos que possui a sua 9 disposição para desenvolver determinado negócio. Esses elementos são os recursos financeiros, humanos, materiais e tecnológicos. Assim, é da natureza da atividade empresarial a articulação de recursos humanos e por isso a contratação de mão de obra alheia não é um elemento dispensável, sendo um elemento essencial à caracterização do empresário. Essa é a visão mais difundida e aceita no mundo. Assim, o caso da lavanderia e outros casos que não se encaixam nesse conceito, são regulados pelo direito civil como uma atividade civil. iv. Tecnologia: É o aprimoramento da técnica para atender a demanda. ATIVIDADES CIVIS Trata-se das atividades não empresariais, pois para compreender quem é empresário, é necessário entender quem não é. Excludente: A primeira hipótese de atividade civil é justamente a hipótese excludente, é o consectário lógico negativo do conceito de empresário. Não será considerado empresário quem não atender a qualquer dos requisitos do art. 966 do CC. A ausência de qualquer desses requisitos, coloca aquela entidade no âmbito daqueles que vão se sujeitar ao regime jurídico civil. Profissional intelectual: A segunda hipótese é a do parágrafo único do art. 966. Os profissionais liberais em geral não serão considerados empresários, como médico, advogado, pintor, músico, escultor, escritor, contador, etc. O fato de contratarem colaboradores ou auxiliares não os torna empresários. Exemplo: O médico que contrata enfermeiras e recepcionistas não se torna empresário por isso, pois o médico ainda é o referencial daquela atividade. Quando o profissional é o referencial, trata-se de atividade civil. As pessoas não vão ao médico pelo consultório e sim pelo médico. Porém, a parte final do dispositivo diz que “salvo se o exercício da atividade constituir elemento de empresa”. Vamos supor que esse médico trabalha em um hospital, que é uma organização econômica que exerce inúmeras atividades, como medicina, alimentação, hospedagem. Ainda que serviço médico seja o mais relevante, referencial deixa de ser o profissional e passa a ser a instituição. Contratar bons profissionais é uma característica do hospital e não do medico e por isso se trata de atividade empresarial. O advogado é profissional liberal de natureza científica, por exemplo. A ideia de que quanto maior a atividade, mais empresária ela é, é errônea, pois o que vai definir se atividade é empresária ou não é a organização. Duas clínicas de mesmo tamanho podem realizar atividades diferentes, por exemplo, em uma clínica os médicos se reuniram apenas para dividir as despesas, pois cada um tem sua clientela e seu faturamento, trata-se de uma atividade civil, pois o referencial é o profissional, enquanto na outra clínica os médicos se reuniram para Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. 10 desenvolver um empreendimento comum. A clientela e o faturamento são da clínica. Depois de paga as despesas, o resultado é dividido entre os profissionais. O referencial é a instituição, e por isso, trata-se de uma atividade empresarial. Questão: O escritóriode advocacia pode ser enquadrado como atividade empresarial? O STJ já se posicionou sobre a natureza jurídica do exercício da advocacia, sobre essa atividade ser empresarial ou civil e a decisão do STJ foi influenciada por questões eminentemente tributárias, por isso devemos ver essa decisão com ressalvas. Além disso, é bom consultarmos o Código de Ética e o Estatuto da advocacia quanto às condutas vedadas a advogados e também o parágrafo único do art. 966. Resposta: O STJ considera a advocacia atividade de natureza civil e não uma atividade empresarial. A ação discutia justamente esse enquadramento da advocacia para fins tributários e naturalmente, esse entendimento favoreceu aos advogados, sendo uma decisão eminentemente política. O estatuto e o Código de ética da OAB proíbem a mercantilização da advocacia, para evitar que a profissão se torne indigna. O código de ética não proíbe que o escritório tenha a estrutura organizada empresarialmente, proíbe apenas a mercantilização. A decisão do STJ está errada para o professor. Nos EUA o advogado pode fazer qualquer propaganda. Para o professor, a advocacia pode ter natureza empresarial, de forma que o final do parágrafo único do art. 966 se aplica aos advogados amplamente, mas a OAB entende que não. 17/04 Até aqui tivemos um conceito material de empresário. Dentro dos requisitos para ser empresário, não foi mencionado o registro porque tem caráter meramente declaratório. É um mero reconhecimento de uma situação jurídica consolidada. Se o individuo atende os requisitos do art. 966 e não fez registro na junta comercial, ele é empresário. O empresário que atende a todos os requisitos, mas não faz o registro, é empresário sim, mas é um empresário irregular. Atividade rural: Para a terceira hipótese, a coisa muda de figura. A terceira hipótese é para aquele que exerce atividade rural. E quem exerce atividade rural terá em seu registro o único elemento suficiente para determinar se exerce atividade empresarial ou não. Se realizar o registro na junta será considerado empresário, se não fizer o registro na Junta comercial, não será considerado empresário e será uma atividade civil. Para quem exerce uma atividade rural, para fins de reconhecimento da natureza jurídica do empresário, o registro será constitutivo. Quando falamos de uma pessoa física exercendo atividade rural, essa pessoa física pode efetuar registro na Junta ou não (se registrar na Junta é empresário). Quando falamos de uma pessoa jurídica exercendo atividade empresarial, ela é obrigada efetuar o registro, mas pode escolher onde fazê-lo. Se a pessoa jurídica decidiu efetuar o registro no RCPJ (registro civil de pessoa jurídica), estamos diante de atividade de natureza civil, já se escolher efetuar na Junta comercial, estamos diante de uma atividade empresarial. 11 Para quem exerce atividade rural, é o lugar do registro o fator determinante de sua natureza jurídica, não sendo os requisitos do artigo 966 relevantes. Assim, uma pessoa jurídica que atenda a todos os requisitos pode não exercer atividade empresarial, caso opte por efetuar o registro no RCPJ. Cooperativas: É a quarta e última hipótese de atividade civil. As cooperativas serão sempre sociedades simples e nunca serão sociedades empresárias e, portanto, se submeterão as regras do direito civil, não importando a organização nem o lugar do registro. A natureza jurídica das cooperativas é estabelecida por determinação legal (paragrafo único do artigo 982 do CC). Esse mesmo dispositivo também estabelece que as sociedades por ações sempre serão sociedades empresárias. Sociedades por ações são aquelas sociedades divididas por ações. Temos duas: I. Sociedade anônima II. Sociedade em comandita por ações As sociedades por ações nunca serão sociedades simples, pois são sociedades empresárias. Mesmo que a sociedade por ação não atenda a todos os requisitos do artigo 966, elas serão empresárias. Exemplo: Uma sociedade anônima sem intuito lucrativo é empresária. As cooperativas por determinação legal deve efetuar seu registro na Junta comercial, o que é muito criticado pela maioria dos autores, já que se trata de atividade civil, mas isso se dá por um incentivo ao cooperativismo, já que a Junta Comercial é mais rápida que os cartórios civis. A razão de incentivar o cooperativismo é a melhoria da qualidade de vida das pessoas, pois as pessoas que se organizam em cooperativas, conseguem fornecer preços melhores. Caso de médicos anestesistas que se organizaram em cooperativas para receberem salários melhores. Não tem como uma cooperativa ser atividade empresária, mesmo que atenda todos os requisitos, exceto em caso de fraude. Essas são, portanto, as quatro hipóteses de atividade civil. Agora veremos quem não pode ser empresário. VEDAÇÕES AO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE EMPRESARIAL Quando falo de vedações ao exercício da atividade empresarial, estou tratando de duas espécies: Incapacidade e Proibições. 1. Incapacidade Trata-se estritamente da incapacidade civil. Não existe uma incapacidade só empresarial. A incapacidade existe para proteger aquele individuo que não tem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil, ou seja, existe para proteger Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa. 12 aquele indivíduo da coletividade que o cerca. A proibição existe para proteger a coletividade daquele indivíduo que se mostrou nocivo ou potencialmente nocivo. Portanto, a incapacidade e a proibição possuem objetivos diametralmente opostos. Como aqui se trata da incapacidade civil, é importante frisar que o emancipado é plenamente capaz e por isso pode exercer atividade empresarial. Há cinco formas de emancipação: casamento, graduação em curso superior, outorga dos pais, estabelecimento por economia própria e nomeação para emprego público efetivo. Pode o incapaz exercer atividade empresarial? Aqui incluímos tanto o absolutamente incapaz, quanto o relativamente incapaz, e também aqueles que se sujeitam ao estatuto da Pessoa com deficiência. Ao falar em incapaz, incluímos os instrumentos de proteção, quais sejam: representação, assistência e curatela (para aqueles que se sujeitam ao EPD). É necessário destrinchar essa pergunta em duas: Pode o incapaz exercer atividade empresarial como pessoa física? O incapaz não pode nunca começar uma atividade como empresário individual. Mas ele pode continuar uma atividade iniciada por ele quando capaz ou que tenha sido objeto de herança. Começar uma atividade empresarial exige um risco muito maior do que continuar uma atividade empresarial já em funcionamento. Por isso que o incapaz pode continuar, mas não pode começar. Para continuar a atividade, ele vai precisar de uma autorização judicial constante de alvará. Neste alvará, o juiz vai listar os bens particulares do incapaz ao tempo da sucessão, para proteger esses bens do eventual insucesso do negócio. Se o negócio der errado, os bens particulares não serão alcançados, salvo se os bens particulares forem utilizados na atividade, pois nesse caso perdem a proteção. Além disso, se eventualmente o representante, assistente ou curador estiver impedido por qualquer motivo de praticar atividade empresarial, nesse alvará o juiz deverá nomear um gerente. O gerente vai apenas cuidar dos negócios do incapaz, ele não vai substituir o representante em tudo na vida do incapaz. Exemplo: é o caso do representante do incapaz ser servidor público federal da Ativa (pai/mãe que não pode praticar atividade empresarial) e incapaz herdar um estabelecimento empresarial.Nos outros atos da vida, esse representante continuará sendo o responsável. Mas, especificamente para gerenciar esse negócio, (a atividade empresarial), o juiz deverá nomear um gerente. Pode o incapaz exercer atividade empresarial por intermédio de uma pessoa jurídica? Pode o incapaz ser sócio de uma sociedade empresária ou integrante de uma EIRELI? A resposta é sim, desde o começo inclusive. O incapaz pode até começar uma atividade empresarial na pessoa jurídica, pois na pessoa jurídica o risco é distribuído. Mas para isso, o incapaz precisa atender os requisitos do artigo 974, §3º do CC, quais sejam: O primeiro requisito é está o incapaz representado, assistido ou curatelado. Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança. 13 O segundo requisito é que o incapaz não pode participar da administração da sociedade, o que é relativamente óbvio, pois se ele não tem discernimento para administrar seus próprios bens, não terá discernimento para administrar bens alheios. O terceiro requisito é que o capital social precisa estar devidamente integralizado. Pois na sociedade ilimitada a responsabilidade do sócio muda de acordo com a integralização do capital. Se o capital estiver integralizado, cada um responde pela sua parte, não estando, um sócio pode ser chamado a responder pela parte do outro. Para limitar a responsabilização do sócio incapaz, é que se exige a integralização do capital. Integralizar o capital é aquele início da sociedade, é o que se promete pagar a sociedade para que ela possa começar o negócio. 19/04 2. Proibições Quem está proibido de exercer a atividade empresarial por representar um risco a toda a coletividade? O falido está proibido de exercer a atividade empresarial. O falido já quebrou, já prejudicou muitas pessoas e por isso fica proibido de exercer a atividade empresarial. Como no Brasil não há penas perpétuas, o falido poderá voltar a exercer atividade empresarial quando estiver reabilitado. A reabilitação do falido ocorrerá com a extinção de todas as suas obrigações, tanto as obrigações civis, quanto as obrigações penais. A extinção das obrigações penais ocorre justamente com a extinção de punibilidade e a extinção das obrigações civis, ocorre com o pagamento, prescrição, novação, confusão, por exemplo. O segundo proibido de exercer a atividade empresarial é o condenado por crime incompatível com o exercício da empresa, que é aquele tipo penal cuja pena veda o acesso ao exercício da atividade empresarial. São tipos penais que no exercício da atividade empresarial possuem uma potencialidade lesiva majorada, como crimes contra a economia popular, crimes contra as relações de consumo, crimes contra o sistema financeiro nacional. Logo, são crimes que envolvem recursos financeiros vultosos. Essa pessoa ficará proibida de exercer atividade empresarial até a extinção de punibilidade. Art. 974. § 3º O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais deverá registrar contratos ou alterações contratuais de sociedade que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de forma conjunta, os seguintes pressupostos: (Incluído pela Lei nº 12.399, de 2011) I – o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade; II – o capital social deve ser totalmente integralizado; III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz deve ser representado por seus representantes legais. 14 O terceiro proibido de exercer a atividade empresarial é o leiloeiro, que é agente auxiliar do empresário, tendo acesso a informações privilegiadas que poderiam ser utilizadas em desfavor ao empresário e por isso, ele está proibido. Ainda que não intencionalmente, o leiloeiro poderia usar as informações privilegiadas que possui. O leiloeiro é agente privado que nasceu para ajudar empresário, muito tempo depois que o estado se apropriou das funções do leiloeiro para vender bens públicos e bens judiciais. O quatro proibido de exercer atividade empresarial é aquele que possui débitos tributários e/ou débitos previdenciários. O sujeito poderá continuar exercendo a atividade que gerou os débitos, mas ele ficará impedido de começar novas atividades. O quinto proibido de exercer atividade empresarial é o estrangeiro, pois existem algumas atividades que o estrangeiro não pode exercer no Brasil, normalmente atividades relacionadas com segurança nacional e interesse público nacional. Existem vários exemplos, mas podemos citar dois mais relevantes: O estrangeiro não pode ter participação superior a 20% de empresas de aviação civil comercial doméstica no Brasil. A segunda guerra mundial mostrou que os aviões têm poder destrutivo muito alto. Por essa razão, há essa proibição aos estrangeiros. Esse limite se aplica a todos os estrangeiros somados e não a cada. A outra restrição está no artigo 222 da CF, que prevê que o estrangeiro não pode ter participação superior a 30% de empresas jornalísticas e de radiodifusão, bem como não podem exercer cargo de direção, nem coordenar a programação. Isso porque a mídia exerce um poder muito forte de influenciar a população e naturalmente, esse poder se reflete em eventualmente colocar a população contra o governo em eventual guerra, o que pode enfraquecer o país numa guerra. Por isso, os estrangeiros não podem utilizar os meios de comunicação no Brasil. Trata-se de uma vedação constitucional. O sexto proibido de exercer a atividade empresarial é o funcionário público. O funcionário público tem algumas restrições ao exercício da atividade empresarial, o problema é que existem no mínimo seis mil regimes jurídicos distintos, não sendo possível falar de todas essas restrições. Existem alguns regimes altamente restritivos, outros mais permissivos. Por isso, trataremos do regime que abarca a maioria dos servidores públicos, que é o regime jurídico único dos servidores públicos federais da Ativa. O servidor público federal da Ativa não pode ser empresário individual e não pode ser sócio administrador de sociedade. Pode ser sócio investidor de sociedade, e por isso pode ser sócio cotista quanto sócio acionista. Isso só se aplica aos servidores que ingressaram a partir de 1997. Temer em julho de 2017 editou a MP 972, mais conhecida como MP do PDV (Plano de Demissão Voluntária do Governo Federal) que trazia essencialmente o estímulo ao servidor público federal a pedir demissão e também a pedir redução de carga horária, e com isso conferia alguns benefícios. Dentre os benefícios, para os que pediam redução de carga horária, nos interessa aqui o beneficio da possibilidade de exercer atividade empresarial. O servidor 15 público federal da Ativa que pediu redução de carga horária na vigência do MP do PDV está autorizado a exercer plenamente a atividade empresarial, podendo ser empresário individual e também sócio administrador de sociedade. Se o proibido de exercer atividade empresarial, mesmo assim o faz, não poderá se eximir do cumprimento de suas obrigações alegando essa proibição, pois a ninguém é dado beneficiar-se da própria torpeza. Mas mesmo assim, existe uma regra do CC que proíbe esse tipo de beneficio, que é o art. 973. In verbis: A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações contraídas.. PREPOSTOS DO EMPRESÁRIO Trata-se de toda mão de obra utilizada pelo empresário, tanto a mão de obra direta (tem vínculo empregatício), quanto à mão de obra indireta. É o empresário responsável pelos atos praticados pelos seus prepostos? Sim, desde dois requisitos sejam atendidos: objeto e lugar. O ato tem que ser praticado no lugar da atividadee precisa estar relacionado com o objeto da atividade. Exemplo 1: Sujeito entra em uma loja de móveis procurando uma cadeira e vendedor oferece uma cadeira, mas o que pessoa não sabia era que o empresário tinha proibido todos os vendedores de negociar aquela cadeira, por ela está com defeito. Mas vendedor oferece cadeira mesmo com defeito. Pessoa comprou a cadeira, e ao chegar em casa e utilizá-la, cai da cadeira, ficando meses internado na UTI. Após ser liberado, decidir propor uma ação indenizatória, buscando a reparação dos danos causados. Os dois requisitos, objeto e lugar foram atendidos, pois loja de móveis vende cadeira e a cadeira foi vendida na loja. Por essa razão, é o empresário responsável pelos atos praticados pelos seus prepostos. Já se o vendedor tivesse oferecido par de tênis, que posteriormente estivesse com defeito, ainda que tênis tenha sido vendido dentro da loja, não está relacionado com o objeto da atividade e por isso, o empresário não será responsável. A ação indenizatória deverá ser proposta apenas contra o preposto do empresário, pois ninguém espera comprar par de tênis em loja de móveis. Obviamente, se o empresário ampliar o espectro de exercício de sua atividade, naturalmente amplia o objeto de sua atividade, como por exemplo, as farmácias que hoje vendem tudo. Exemplo 2: Gerente do banco oferece um investimento fantástico ao cliente que está na Praia e era um golpe. O Banco não será responsável, pois ainda que se trate do objeto do Banco (captar recursos para investimentos), ato não foi praticado no lugar da atividade. Devemos reconhecer que quando o empresário oferece serviço de venda pela internet, telefone e entrega a domicilio, ele está ampliando o lugar de exercício da sua atividade. Se por exemplo o entregador da pizza cobra um valor, e em verdade a pizza era mais cara, o empresário será responsável pelos atos de seus prepostos, pois ele que ofereceu essa entrega a domicílio. Tem uma ressalva nas relações de consumo que se trata de construção jurisprudencial: Se a proposta feita equivocadamente for irrisória não obrigará o empresário. Se for feita intencionalmente, obriga, mas aquela feita equivocadamente não obriga. Mas não tem percentual definido para saber se proposta é irrisória ou não. Se ela está completamente fora dos padrões de mercado ela é irrisória. Por exemplo: carro zero 16 sendo anunciado com 50% de desconto. Já passagem área com 90% de desconto não é irrisória, pois esse desconto é corriqueiro. Pode o preposto concorrer com o empresário? Não, o preposto não pode concorrer com o empresário, pois o é crime de concorrência desleal, além de infração trabalhista e também ilícito civil, podendo surgir o dever de indenizar. Exceto quanto o empresário expressamente autoriza essa concorrência ou quando do tipo de atividade se depreende a ausência de exclusividade, por exemplo, médico e professor. No contrato de trabalho desses dois profissionais, a exclusividade tem que ser expressa. Manicure é uma atividade exclusiva, então quando ela faz serviço na casa da pessoa escondido da patroa, é crime de concorrência desleal. O CC destaca dois prepostos como mais importantes para o empresário: O gerente O contador ou contabilista 24/04 O gerente é o preposto do empresário que tem funções de chefia. Obviamente, o empresário pode limitar os poderes do gerente e essa limitação pode ser feita por qualquer meio, como oralmente, por escrito, etc. Mas para que essa limitação produza efeitos em relação a terceiros, ela tem que ser feita por escrito e arquivada na Junta Comercial (pois assim se dá publicidade a essa limitação). É algo parecido com a negociação de um bem imóvel, é precisa averbar a negociação na matrícula do imóvel e por isso é oponível erga omns. Qualquer pessoa capaz pode ser gerente, não se exigindo do gerente nenhuma formação ou habilitação específica. Exatamente por isso, o gerente é um preposto facultativo e o empresário pode ter ou não gerente. Já o contabilista cuida da escrituração do empresário, livros, balanços e declarações dos empresários. O contabilista ou contador tem que ter formação específica em contabilidade e registro no conselho competente. Trata-se de preposto obrigatório do empresário, pois todo empresário é obrigado a contratar um contador ou contabilista, salvo nas localidades em que não existir contador. Nessas localidades, o próprio empresário pode fazer a sua contabilidade ou contratar um profissional não habilitado. OBRIGAÇÕES DO EMPRESÁRIO Dentre as várias obrigações que o empresário possui, temos três mais importantes: 1. Registro É a obrigação de registrar-se na Junta Comercial. A obrigação de registrar-se é a obrigação que tem o empresário de dizer ao Estado que vai iniciar uma atividade econômica organizada. 1.1.Histórico 17 Tem-se notícia dessa obrigação de registro da atividade empresarial desde a Idade Média, quando as corporações de ofício passaram a fazer registro dos artesões e dos aprendizes. Chegou ao Brasil em 1808. O alvará real de 23 de agosto de 1808 cria o Tribunal da Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábrica e Navegação. Os alvarás reais não tinham número, eram identificados por datas e por isso, só saia no máximo um alvará por dia e havendo mais de uma matéria para tratar no mesmo dia, era colocado no mesmo alvará. Nesse mesmo alvará o Banco do Brasil foi criado. Esse tribunal tinha dupla função: de efetuar o registro da atividade empresarial e de julgar eventuais conflitos decorrentes desse registro, funções que eram absolutamente incompatíveis. Em 1850, tivemos a edição do Código comercial brasileiro, sendo a lei ordinária mais antiga em vigor do nosso ordenamento até hoje (lei 556 de 25.06.1850). Esse tribunal diminuiu o nome e passou a se chamar de apenas Tribunal de Comércio e foram criados os tribunais de Relação. Os Tribunais de Comércio permaneceram nas capitais e os tribunais de Relação se expandiram para o interior do Brasil. O Tribunal de Relação era exatamente o Tribunal de Comércio, mas com atuação em interior, com objetivo de viabilizar a expansão para o interior, fazendo com que o território brasileiro fosse ocupado. Em 1875, a atividade registral é separada da atividade judicante. São criadas as Juntas comerciais e as Inspetorias Regionais. Os Tribunais ficaram apenas com a atividade judicante e as Juntas com a atividade de efetivação do registro. Em 1889, o registro passa a ser de competência dos estados. Mas isso gerou outro inconveniente, pois cada estado fazia o registro de uma maneira e isso gerava naturalmente algumas incompatibilidades quando um comerciante queria expandir suas atividades para outro estado. Em 1946, passamos a ter o sistema atual, um sistema híbrido em que a União tem a função de estabelecer as regras do registro (regulamentação) e os estados possuem a função de executar o registro, seguindo as orientações e direcionamento estabelecido pela União. Os estados passaram a ter apenas função executiva. Continuamos com esse sistema hoje. Hoje a lei que regulamenta o registro é a 8.934 de 18 de novembro de 1994, que regulamenta o atual SINREM – Sistema nacional de registro empresarial, que em âmbito federal é o DREI e no âmbito estadual são as Juntas comerciais. O DREI é o Departamento de Registro Empresarial e Integração, que está vinculado à Secretaria especial da Micro Empresa e da Empresa de pequeno porte. É uma secretaria que tem status de Ministério. A Junta Comercial tem dupla subordinação: está subordinada tecnicamente ao DREI e administrativamente ao governo do estado. Quem diz como o registro deve ser feito é o DREI (subordinação técnica), mas quem paga as contas como luz e água da Junta, é o governo estadual (subordinação administrativa). A única junta comercial do país que não tem dupla subordinação é a Junta Comercial do DF, queestá subordinada tanto técnica quanto administrativamente ao DREI. 1.2.SINREM (Sistema Nacional de Registro de Empresas) 18 O DREI tem as seguintes competências/funções: Competência regulamentadora: Regulamentar o funcionamento do registro no Brasil através da edição de instruções normativas; Competência de fiscalização: Fiscalizar a execução do registro em território nacional; Competência correcional: Corrigir o registro feito de maneira equivocada. Não confundir com correição, que é processo de punição de quem fez de forma inadequada, e que quem faz isso é o governo do Estado; Manutenção do Cadastro Nacional de empresas. Esse cadastro nacional tem caráter meramente informativo e não substitui o registro feito na Junta. A Junta Comercial tem as seguintes competências: Efetivar o registro seguindo as orientações do DREI; Fazer o assentamento de usos e práticas mercantis. O direito empresarial é um dos ramos do direito com maior influência dos costumes e por isso existe essa consolidação das regras costumeiras no direito empresarial; Servir de órgão profissional para os auxiliares do empresário. Tradutores, intérpretes e leiloeiros devem ser matriculados na Junta comercial (é como os advogados na OAB). Se a Junta serve de órgão profissional para esses auxiliares, também é da Junta comercial a competência para a expedição da carteira profissional. 26/04- Não houve aula! 08/05 1.3.Atos do registro Registro é o gênero que comporta três espécies: o Matrícula A matrícula já foi ato de registro do empresário, mas hoje não é mais, sendo ato de registro dos auxiliares do empresário: tradutores públicos, intérpretes comerciais e leiloeiros devem ser matriculados na Junta Comercial. Tínhamos ainda os administradores de armazém gerais e os trapicheiros. Os trapicheiros são os administradores dos trapiches, e os trapiches são armazéns gerais de pequeno e médio porte. Os armazéns ficavam perto dos portos, aguardando as mercadorias chegarem de navios, e essas mercadorias eram colocadas nos portos, armazéns e trapiches, enquanto aguardavam fiscalização e DREI Âmbito Federal Juntas Âmbito Estadual 19 transporte. Com a criação dos contêineres, os armazéns e trapiches foram extintos. O contêiner foi a maior criação logística da humanidade, pois permitem o transporte da mercadoria da mesma forma que ela é armazenada e por isso os trapiches se tornaram desnecessários. o Arquivamento O ato de registro do empresário é o arquivamento. O arquivamento é o ato de registro do empresário individual, da sociedade empresária e da EIRELI (espécies de empresário). O prazo para requerimento de arquivamento é de 30 dias a contar do momento em que o ato for praticado, como por exemplo, a contar da assinatura do contrato social, da assinatura da alteração contratual, da assinatura do destrato. Empresário tem 30 dias para requerer arquivamento perante a Junta Comercial. Se o arquivamento for requerido dentro do prazo, produzirá efeitos retroativos. O processo de deferimento pode se estender além do prazo, falamos aqui do requerimento do ato, já que os efeitos do deferimento retroagem ao momento do requerimento. O arquivamento requerido dentro do prazo convalidará todos os atos praticados, produzindo efeitos “ex tunc”, retroativos. Esses atos que eram irregulares perdem essa condição porque são convalidados. Entretanto, o arquivamento requerido fora do prazo, produzirá apenas efeitos “ex nunc”, dali em diante, não retroagindo, de forma que os atos anteriores não serão convalidados, e esses atos ficarão sujeitos a todos os efeitos da irregularidade, inclusive, à responsabilização ilimitada do sócio. o Autenticação É ato de registro que se refere aos instrumentos de escrituração contábil (livros empresariais) e é ainda requisito extrínseco da escrituração. A autenticação tem dupla função: Veracidade Ao levarmos cópia e original de documento ao cartório, a copia será autenticada, onde se atribui fé pública àquela cópia de documento. A junta Comercial também funciona como cartório do empresário. Se empresário levar cópia do contrato social, a Junta autenticará a copia, afirmando que ela confere com o original. Regularidade A autenticação é requisito de regularidade de inúmeros documentos empresariais. A autenticação é forma de proteger os documentos empresariais por conta da possibilidade de adulteração. Os livros empresariais, por exemplo, em todas suas páginas, são autenticados. Busca-se evitar as fraudes que eventualmente sejam cometidas com os livros empresariais. 10/05 Exame das formalidades Quando realizado um pedido de registro perante a Junta Comercial, a junta comercial não pode examinar aspectos materiais desse pedido. Somente poderá examinar aspectos 20 formais do pedido. Exemplo: Duas pessoas decidem formar uma sociedade para plantar morango no Nordeste, não caberá a Junta Comercial indeferir o pedido porque não é possível cultivar o morango no Nordeste. Esse aspecto material não interessa à Junta Comercial. O nosso sistema está sedimentado na livre iniciativa, que tem previsão constitucional no artigo 1º da CF, que é o que fala dos fundamentos da República, sendo extremamente importante. A livre iniciativa não é só um direito fundamental do individuo, como é um dos fundamentos da República. A Junta pode, por exemplo, verificar se contrato social tem as cláusulas que precisam, se as certidões exigidas foram juntadas, etc. Ou seja, só deve examinar aspectos formais do pedido. Existem exceções em que o Estado pode examinar os aspectos materiais, mas são atividades previstas na CF, em que controle estatal é necessário em razão de interesse nacional relevante ou questões que envolvam a soberania nacional, como por exemplo, as telecomunicações que possuem sistema próprio, em que aspecto material é examinado, mas em regra, nas atividades empresariais em gerais não são examinados os aspectos materiais dos pedidos. Ao examinar as formalidades, a Junta comercial pode se deparar com duas categorias diferentes de vícios: I. Vícios insanáveis Atingem a validade do ato praticado. Consequentemente, cabe a Junta apenas uma única saída: indeferir o pedido formulado. Exemplo: contrato social assinado por absolutamente incapaz sem representação é vício insanável, não há possibilidade de correção. II. Vícios sanáveis Atinge a eficácia do ato praticado. Atinge a sua registrabilidade. Neste caso, caberá a Junta converter o pedido em exigência para que o interessado possa no prazo de 30 dias corrigir o vício. Exemplo: ausência de uma certidão obrigatória ou necessária. Processo decisório da Junta Comercial O processo decisório da Junta é dividido em duas categorias, dois procedimentos distintos: I. Atos de maior complexidade Exigem um exame mais apurado, e por isso, devem ser decididos de modo colegiado. Quem é o colegiado na Junta Comercial? Na junta Comercial, temos tanto o Plenário de Vogais, quanto as Turmas de vogais. O Plenário é formado por todos os vogais, enquanto que as Juntas são formadas por alguns vogais. Vogal é o integrante da Junta Comercial, assim como um desembargador integra o Tribunal de Justiça. II. Atos de menor complexidade Não exigem um exame mais apurado, podem ser decididos de maneira singular. É o presidente da Junta Comercial que decide as questões de menor complexidade. Não é ele pessoalmente que vai decidir, na verdade, ele vai delegar a decisão para um vogal ou para um funcionário da Junta. A Junta Comercial faz parte da administração pública estadual indireta, de forma que na maioria dos estados ela é uma autarquia estadual. 21 O Plenário vai julgar apenas os recursos das decisões das Turmas e das decisões do Presidente da Junta Comercial. As turmas vão julgar: Os arquivamentos relacionadoscom a sociedade anônima; Os arquivamentos relacionados com as operações societárias; Operações societárias são as operações na estrutura societária. Como exemplo, temos a transformação, a fusão, a incorporação e a cisão. Exemplo de fusão: Perdigão e Sadia, resultando na BRF; O Santander incorporou o Real. São exemplos de operações societárias realizadas. Os arquivamentos relacionados com os grupos de sociedades e os consórcios de empresas. Grupos de sociedades são empresas que atuam sob o mesmo controle ou com uma relação de coligação. Exemplo: A Odebrecht trata-se de várias empresas que compõem o mesmo grupo de sociedades e não apenas de uma única empresa. Consórcio é uma relação interempresarial entre sociedades distintas para explorar determinada atividade, por um período determinado. Exemplo: Consórcio de empresas que se uniu para explorar a BR324 é chamado de consórcio Via Bahia. Já o presidente, de modo singular, vai decidir os demais arquivamentos, como relacionados com a sociedade ilimitada e arquivamentos relacionados com sociedade em nome coletivo. Além disso, os pedidos de matrícula e de autenticação serão decididos pelo presidente da Junta Comercial ou por quem recebeu dele a delegação. Quanto ao prazo de decisão, temos que: Atos de maiores complexidades devem ser decididos em até cinco dias úteis; Atos de menores complexidades devem ser decididos em até dois dias úteis. Isso não significa que o processo terminará nesse prazo, pois a decisão pode ser pelo deferimento, indeferimento ou ainda por conversão em exigência. Diferentemente do direito processual civil, o prazo de decisão em direito empresarial é prazo próprio, de forma que a não decisão no prazo gera consequências. Se a Junta Comercial não decidir no prazo, teremos o arquivamento tácito ou o registro por decurso do prazo, ou seja, considera-se deferido o pedido. Plenário de Vogais Turmas de Vogais Junta Comercial 22 Processo revisional Caso a pessoa não concorde com a decisão, ela poderá tanto ir ao judiciário questionar a decisão, quanto questionar a decisão administrativamente. O procedimento administrativo que questiona a decisão é chamado de processo revisional. O primeiro ato do processo revisional é o pedido de reconsideração. O pedido de reconsideração é direcionado ao próprio órgão julgador. Caso esse órgão julgador mantenha o indeferimento, o ato seguinte é o recurso ao Plenário da Junta Comercial. Se o Plenário mantiver o indeferimento, o ato seguinte é o recurso ao Ministro de Estado (sendo na verdade recurso ao secretário especial da microempresa e empresa de pequeno porte). O prazo para a interposição de cada um desses recursos é de 10 dias úteis. Irregularidade Estará o empresário irregular quando não fizer o registro na Junta Comercial ou quando passar mais de 10 anos sem fazer um arquivamento na Junta Comercial. Ele tem que fazer um arquivamento em até 10 anos após o último. O primeiro arquivamento que ele faz na Junta Comercial é do contrato social. Caso entre um sócio ou saia, empresário deve fazer alteração contratual que leva a arquivamento na Junta. Na situação de se passar os 10 anos e empresário não ter tido nada para levar a arquivamento na Junta, ele deve pegar o contrato, colocar o nome “Consolidação do contrato social” e tornar a arquivar. É o mesmo que dizer ao Estado que aquela atividade empresarial está viva, continua funcionando. São consequências da irregularidade: a. Impossibilidade de requerer recuperação de empresas. A recuperação é um beneficio que a legislação confere ao empresário em crise e obviamente, apenas o empresário regular tem acesso a esse beneficio. b. O empresário irregular não poderá requerer a falência de outro empresário. Mas pode ter a sua falência requerida. Ou seja, poderá ser réu da falência, mas não poderá ser autor. A única falência que o empresário irregular pode pedir é a sua própria falência. c. O empresário irregular não terá inscrição nos cadastros fiscais, não terá inscrição na Receita municipal, estadual, nem federal. d. Não terá matrícula no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). e. O empresário irregular não poderá contratar com o poder público, ou seja, não poderá participar de licitações e nem poderá firmar contratos administrativos. 2. Livros Obrigação de manter uma escrituração regular. É a obrigação de lançar nos livros as operações realizadas. 03/05 2.1.Escrituração empresarial 23 É uma obrigação do empresário, estando estritamente relacionada a obrigação de registro do empresário. Escrituração quer dizer livros empresariais. 2.1.1. Finalidade É fazer com que o empresário dê ciência a comunidade sobre os atos que estão sendo praticados no exercício de sua atividade. O registro empresarial não é um requisito para ser empresário, pois seu caráter é meramente declaratório, assim é possível que uma pessoa exerça atividade empresarial sem ter feito registro, porém, essa pessoa será um empresário irregular. A obrigação de registro é realizada por três atos: Matrícula: É um ato de registro que não está propriamente vinculado a constituição de empresário. Por força dos costumes, há alguns profissionais que exercem determinadas atividades, que são obrigados a se registrarem perante o Registro Público de empresas mercantis e esse registro é realizado a cargo das Juntas comerciais. É o caso dos leiloeiros, tradutores públicos e intérpretes comerciais. Arquivamento: É o ato pelo qual o empresário se registra perante a junta comercial e feito esse registro, se cria um número de matrícula para ele e nessa matrícula do empresário, serão averbados os principais atos do exercício da atividade empresarial. Exemplo desses atos: entrada ou saída de sócio da sociedade; eventual aumento do capital social; abertura de filiais. Autenticação: É o que está mais ligado a esse tema. É o ato pelo qual o empresário registrará a sua escrituração na Junta comercial. 2.1.2. Princípios Há bastante divergência doutrinária nesse tema. Há autores que elencam oito a nove princípios, mas a maioria dos autores, como Tomazette elencam apenas três, quais sejam: Princípio da uniformidade temporal Essa nomenclatura não é muito adequada, trata-se da obrigação da escrituração ser realizada de acordo com um único método contábil. Esse princípio diz que o método contábil adotado deverá permanecer durante toda a existência dos livros empresariais, sendo vedado ao empresário que altere o método contábil no meio do caminho, durante a vigência desse livro. Princípio da fidelidade Diz que os lançamentos realizados nos livros empresariais deverão corresponder aos documentos pelos quais essas operações se lastreiam. Exemplo: empresário emite um cheque no valor X, deverá lançar no livro o mesmo valor, deve ser fidedigno, pois os livros empresariais detêm de força probatória. 24 Princípio do sigilo Em regra, os livros empresariais são sigilosos e que esses livros são de posse exclusiva do empresário. Salvo as hipóteses legais, os livros empresariais são sigilosos, cabendo ao empresário decidir se quer ou não exibi-los para terceiros. 2.3.Livros empresariais em espécie Os livros empresariais se dividem em obrigatórios e facultativos. Há também uma divergência doutrinária, porque alguns autores incluem uma terceira classificação, dos livros especiais e comuns, mas é mais teórica, pois esses livros podem ser encaixados facilmente em obrigatórios ou facultativos. a. Obrigatórios Lei impõe que empresário tenha estes livros. Podem ser comuns, que são necessários para todo e qualquer empresário, que é o caso do livro diário. Livro diário é o livro pelo qual o empresário lançará dia-a-dia as informações contábeis concernentes a sua atividade. Essas informações que serãolançadas deverão atender o método da contabilidade e esse livro detém uma grande especificidade e riqueza de detalhes. Por exemplo, determinada operação financeira ou patrimonial para ser lançada nesse livro deve gozar de grande detalhamento. Deve indicar operação de crédito realizada; se conta com participação do terceiro, empresário deve indicar nome do terceiro, etc. O livro diário é em regra é obrigatório a todos os empresários. Porém, o legislador abriu duas exceções: Microempresas: o faturamento não pode ser superior a 360 mil anuais. Empresas de pequeno porte: faturamento anual entre 360 mil e 3 milhões e 600 mil. Mas essas microempresas e essas empresas de pequeno porte só estarão dispensadas de manter o livro diário, se forem optantes do regime tributário do simples nacional. Sendo optante do simples nacional, deverá manter dois livros: o livro de registro de inventários e o livro caixa. Livro de registro de duplicatas: Duplicata é título de crédito que empresário tem prerrogativa de emitir ou não, de acordo com sua conveniência. A lei das duplicatas diz que caso o empresário opte por emitir esse título de crédito, deverá manter esse livro onde se lançará o registro de duplicatas. Alcança também as microempresas e empresas de pequeno porte, caso elas emitam duplicatas. É um exemplo de livro especial, pois só será obrigatório em sociedades que emitem duplicatas. Outro exemplo de livro especial é que toda sociedade anônima deve manter ata de suas assembleias, é a chamada ata da S/A. b. Facultativos 25 Empresário não é obrigado a manter, só utilizará dessa escrituração se convir para sua organização. São eles: Livro razão: Em regra é facultativo, mas torna-se obrigatório quando o empresário é optante do regime tributário do núcleo real. É uma versão simplificada do livro diário, e nele consta as informações do livro diário, mas não nessa riqueza de detalhes e aprofundamento. É um livro bastante útil no cotidiano da atividade do empresário. Quando o empresário precisa saber de informações para tomada de decisões, é mais comum que ele recorra a esse livro. Os optantes do regime tributário do simples nacional não são obrigados a manter o livro diário, mas são obrigados a manter o livro caixa. Livro caixa: é obrigatório aos optantes do simples nacional. É uma versão mais simplificada ainda do livro diário e do livro razão. Há obrigatoriedade de registro apenas das operações financeiras. O empresário vai registrar as operações de entradas e saída de dinheiro. Requisitos intrínsecos dos livros empresariais a) Livro deve estar escrito em língua nacional, mas se na linguagem contábil houver termos estrangeiros de ampla utilização, não é necessário serem traduzidos. b) Deve estar em moeda nacional. O empresário pode realizar transações com estrangeiros, mas no lançamento do livro, isso deve ser convertido. c) Obrigatoriedade de o registro ser lançado em ordem cronológica (dia/mês/ano em que foi realizada a operação). d) Forma mercantil: Necessidade de não haver no que foi lançado nos livros nenhum tipo de rascunho, rasura, riscos, borrões e nem ter espaços onde possam ser acrescidas novas informações. Livro deve ser enxuto. Não pode ter espaços em branco. e) Todas as informações lançadas devem estar em modalidade contábil. f) Paralelamente, temos a necessidade de esses lançamentos serem realizados por profissional habilitado, o contador. Não havendo na localidade um contador habilitado, pode o empresário ele mesmo fazer esses lançamentos, mas não é recomendado. Requisitos extrínsecos a) Deve conter a identificação do empresário e do profissional técnico responsável pelo seu lançamento, no caso o contador. b) Necessidade de termo de abertura c) Necessidade de termo de encerramento d) Autenticação em todas as páginas (um dos atos de registro). 2.3.1. Força probatória Esses livros possuem essa formalidade na essência, porque possuem força probatória, conforme o CPC. Essa força probatória obviamente pode ser utilizada a favor do empresário ou contra ele. Em um eventual litígio, essa prova não é capaz de ser uma 26 prova cabal, porém, a regularidade dos livros empresariais juntamente com outras provas, forma um lastro probatório de confiabilidade. A favor do empresário somente poderão ser utilizados em litígios em que a outra parte também seja empresária. Mas uma doutrina minoritária admite que se utilize frente a consumidor ou próprio fisco. São três as principais finalidades de se manter uma escrituração regular: Escrituração tem natureza gerencial. Uma escrituração de forma fidedigna é importante auxiliar para o empresário saber como seu negócio está se desenvolvendo, e se eventualmente ele está tendo prejuízo, seus lucros, excesso de despesas, etc. Portanto, orienta os investimentos do empresário. (Função gerencial) Esses livros podem servir de provas a terceiros, não somente em litígios, mas também em transações. (Função documental) Os livros empresariais servem para fins tributários. (Função fiscal) 2.3.2. Exibição dos livros Em regra, os livros são sigilosos. Mas há possibilidade de o empresário apresentar os livros, que pode se dar pela via administrativa ou judicial. Por via administrativa, eles só podem ser exibidos para análise de questões tributárias (prerrogativa exclusiva do Fisco). O empresário tem dever não só de autenticar esses livros perante a Junta comercial, mas também de dever de guarda desses livros e por isso o Fisco não pode tomar posse fisicamente desses livros. Assim, na esfera administrativa para exibir livros, empresário pode ser intimado a levá-los na sede do Fisco, e assim auditor terá acesso a eles para analisá-los, mas sempre a vista do empresário (que detém poder de guarda). A outra possibilidade é o Fisco ir diretamente ao encontro dos livros, assim fiscal fazendário pode ir à empresa e pedir acesso aos livros, e se constatar irregularidade, poderá ali mesmo lavrar auto de infração. Ocorrendo perda, extravio ou inutilização dos livros, empresário deverá publicar em imprensa regional, informando o fato pelo qual ele não possui a guarda daquele livro. Além disso, o empresário deverá se dirigir a Junta comercial no prazo de 48 horas e informar minuciosamente como se deu essa perda, extravio ou inutilização. O empresário que não mantém seu dever de escrituração é um empresário irregular e poderá sofrer sanções, quais sejam: Em eventual litígio, por conta da força probatória dos livros, os fatos alegados no litígio serão presumidamente verdadeiros; Impossibilidade de pedir falência de outros empresários; Impossibilidade de gozar dos benefícios da recuperação judicial; Possibilidade de incorrer em crime falimentar. 3. Balanços É a obrigação de levantar balanços periódicos. Trata-se de um resumo do que está nos livros empresariais. Constitui uma obrigação de o empresário fazer o levantamento de dois balanços, pelo menos anualmente, quais sejam: 27 Balanço patrimonial: É um livro simples, onde empresário fará levantamento da sua real situação entre ativos, passivos, bens imóveis e assim, poderá aferir seu patrimônio líquido. Em caso de decretação de falência do empresário, por esse balanço patrimonial que serão tiradas as informações concernentes ao patrimônio da empresa, que servirá para saudar as obrigações perante os credores. Balanço de resultados econômicos: Livro onde empresário fará levantamento de seu desempenho financeiro, atrelado a períodos determinados. Assim, ele irá apurar se está tendo lucro ou prejuízo no exercício de suas atividades. Essa obrigação de levantar balanços está associada à escrituração obviamente e deverá o empresário fazer o levantamento desses balanços e depois lançá-los no livro diário. 11/05 ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL 1. Conceito O estabelecimento empresarialé o objeto da atividade econômica organizada. Diferentemente do que muitos acreditam o estabelecimento empresarial não é o lugar de exercício da atividade empresarial. O lugar do exercício da atividade empresarial é chamado de ponto empresarial. Tecnicamente, estabelecimento empresarial é o conjunto de bens materiais e imateriais do empresário, destinados ao exercício da atividade econômica organizada. O conceito de estabelecimento empresarial não se confunde com o conceito de patrimônio empresarial. A diferença entre o patrimônio e o estabelecimento é a destinação. O estabelecimento empresarial é a parcela do patrimônio que é destinada ao exercício da atividade econômica organizada. O estabelecimento está contido no patrimônio empresarial. Posso ter bens do patrimônio que não integram o estabelecimento empresarial, mas a recíproca não é verdadeira. Não existem bens do estabelecimento que não integre o patrimônio. Todo o estabelecimento empresarial está contido no patrimônio empresarial, necessariamente. É a destinação que vai dizer se o bem integra ou não o estabelecimento empresarial, se ele for utilizado para a atividade, ainda que de modo indireto, ele vai integrar o estabelecimento. Patrimônio Empresarial Estabelecimento Empresarial Se o bem não pertence ao empresário, não tem como ingressar no estabelecimento empresarial, é o caso de imóvel alugado. O que ingressará no estabelecimento empresarial é o conjunto de direitos e deveres que emanam do contrato de locação. Tem o estabelecimento empresarial uma valoração econômica? A resposta é positiva. O valor do estabelecimento empresarial é a soma do valor dos bens que o compõe, incluindo tanto os bens materiais (palpáveis, tangíveis), quanto os bens imateriais 28 (fisicamente intangíveis). Mas não é só isso. As marcas são passíveis de valoração econômica, existindo todo um material de cálculo para fazer essa quantificação. Hoje, a Apple é considerada a marca mais valiosa no ranking da Forbes, seguida pelo Google. Existe um valor agregado ao estabelecimento empresarial em razão de sua organização. Esse valor é chamado de aviamento. Aviamento é o valor agregado ao estabelecimento empresarial em razão de sua organização. Exemplo 1: Temos dois carros rigorosamente idênticos, mesmo ano, modelo, cor, etc. Mas um está montado, enquanto o outro está desmontado. Qual carro vale mais? Normalmente, o carro montado valerá mais, pois já está pagando pela montagem. Exemplo 2: Dois carros de fórmula 1, mas cada um montado de uma forma. Um carro independente de qualquer coisa será mais rápido, por conta da organização das peças. A organização das peças faz toda diferença e o carro mais rápido valerá mais. É o mesmo carro, as mesmas peças, ambos montados e ainda assim um valerá mais. Exemplo 3: Duas lojas do Boticário, equidistantes simetricamente, porém uma com um atendimento bom, estoque completo e gerente presente/eficiente e a outra com atendimento ruim, estoque faltando e gerente ausente, obviamente, as pessoas escolherão a loja de atendimento melhor, ainda que ela seja mais longe e por isso, a loja mais organizada valerá mais. Quanto mais organizado o estabelecimento, maior o valor do aviamento. Quanto maior o valor do aviamento, maior o valor do próprio estabelecimento. 2. Trespasse Como bem coletivo que é, pode o estabelecimento ser objeto de alienação. A alienação do estabelecimento empresarial é chamada de trespasse. O trespasse é a alienação do estabelecimento empresarial, ou seja, de um bem coletivo. O estabelecimento empresarial é em regra o bem mais importante do patrimônio empresarial. Consequentemente, é também a principal garantia dos credores do empresário. Assim, naturalmente, para poder alienar o estabelecimento empresarial alguns requisitos precisam ser atendidos. Quais são os requisitos do trespasse? O contrato do trespasse tem que ser escrito, para que possa ser arquivado na Junta Comercial. O segundo requisito é a publicação da alienação na imprensa oficial. O terceiro e mais importante requisito é a anuência ou concordância de todos os credores. Bens que compõem o estabelecimento Aviamento Valor do estabelecimento 29 Não basta a maioria, tem que ser todos. Se um credor não concordar, não se pode alienar o estabelecimento empresarial. Isso pode ser resolvido se pagando a esse credor, e assim a alienação pode acontecer. Mas há ainda outra forma de alienar sem pagar a credor que não anuiu. Se o patrimônio restante for solvente, ou seja, suficiente para saldar todas as dívidas do empresário, não haverá necessidade da concordância ou anuência dos credores. Se o patrimônio restante for suficiente para pagar a dívida apenas daquele não concordou, não se poderá alienar ainda, pois o patrimônio restante tem que ser suficiente para saldar todas as dívidas. Se o patrimônio não for suficiente para saldar todas as dívidas, será necessária a anuência ou concordância de todos os credores. Essa anuência ou concordância tem que ser expressa ou tácita. Se comunicado, um credor não se manifestar no prazo de 30 dias, ele está tacitamente concordando com a alienação do estabelecimento empresarial. Se exige a existência de um patrimônio restante solvente, de forma que não é permitido utilizar o dinheiro da alienação para pagar aquele credor que não anuiu, pois o dinheiro em mãos do empresário tem uma fluidez, liquidez muito maior. Portanto, se credor não se manifestar no prazo de 30 dias, temos uma anuência tácita. Essas regras só se aplicam a venda do estabelecimento empresarial, que é o conjunto de bens. Se empresário vende individualmente um bem ou outro, não incide essas regras. Quando se vende um estabelecimento, se está vendendo um bem coletivo, e como tal, tudo que a ele está relacionado o acompanha (o acessório segue o principal). Inclusive as dívidas, desde que devidamente contabilizadas. Portanto, as dívidas devidamente contabilizadas se transferem para o adquirente do estabelecimento empresarial, mas permanecerá o alienante solidariamente responsável por elas, pelo período de 1 (um) ano. 1 ano a contar da alienação (do trespasse) para as dívidas vencidas e; 1 ano a contar do vencimento de cada uma delas, para as dívidas vincendas (que ainda vão vencer). Se contará 1 ano do vencimento regular, a não ser que a antecipação do vencimento seja gerada pelo trespasse (nesse caso conta do vencimento antecipado). 15/05 Existem duas exceções a essa regra: As dívidas tributárias Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual, responde pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até à data do ato: I- integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade; II- subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses a contar da data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão. 30 As dívidas tributárias seguem o artigo 133 do CTN. O alienante não poderá exercer a mesma atividade que o estabelecimento que foi objeto de alienação, para evitar a concorrência desleal. Ele ficará impedido por cinco anos de exercer a mesma atividade que esse estabelecimento que foi alienado. Se o alienante continuar a exercer alguma outra atividade econômica (que não tenha concorrência com a do estabelecimento alienado) ou parar e voltar antes de seis meses,
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