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1 Como o homem começou a construir o conhecimento?Elis Regina Barbosa Angelo Meta da aula Apresentar conceitos sobre o Conhecimento, partindo da Filosofia, distinguindo Ciência e senso comum. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 1 conceituar lógica e raciocínio; 2 reconhecer os aspectos de construção do conheci- mento, a partir da Filosofia; 3 relacionar a construção do conhecimento, a par- tir das distinções entre Ciência e senso comum. 2 Aula 1 • Como o homem começou a construir o conhecimento? Introdução Bem-vindos a esta viagem! Nesta nossa primeira aula, você começará a reconhecer certos conceitos já estabelecidos pela Filosofia sobre o Conheci- mento, bem como diferenciar Ciência de senso comum. Vamos partir do princípio de que a Ciência é algo refutável por meio de pesquisa e métodos específicos com rigor acadêmico. Já o senso comum é algo estabelecido na sociedade por meio de elementos passados por gerações e são ideias não comprovadas cientifica- mente, apesar de funcionais de certa maneira no cotidiano co- mum das pessoas. A Ciência moderna nasceu há apenas algumas centenas de anos e alterou profundamente quase todos os aspectos da vida no mundo ocidental, sendo que os progressos na agricultura, na indústria, nos transportes, na saúde, na comunicação, entre ou- tros, resultaram todos da aplicação do conhecimento científico. Contudo, as aplicações práticas da Ciência não constituem o úni- co valor da ciência. A eletricidade, por exemplo, já foi tida como mera curiosidade e não possuía nenhuma utilidade prática, sen- do apenas investigada em meios acadêmicos, e hoje é essencial para a nossa vida. A Ciência é conhecimento e as leis e princípios descober- tos na investigação científica têm valor intrínseco, distinto de qualquer utilidade estreita que acaso possuam. As perguntas que naturalmente surgem, quando falamos de conhecimento científico são: Qual é a concepção de conheci- mento? E como classificamos algo como científico? Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo 3 Qual é a concepção de conhecimento? O estudo do conhecimento tem sua origem na Filosofia, sendo que nela existe uma disciplina que pode ser chamada de “Teoria do Conhecimento”. Figura 1.1: Como conceber conhecimento? Esta é uma indagação feita ao longo dos tempos que serviu para temos as mais variadas formas de saber e pensar, partindo de construções teóricas filosóficas. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/683864 Figura 1.2: As primeiras indagações sobre Teoria do Conhecimento vie- ram da busca pela compreensão do universo. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/483321 4 Aula 1 • Como o homem começou a construir o conhecimento? O que é Teoria do Conhecimento? A Teoria do Conhecimen- to ou Epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento, motivo pelo qual também é tipica- mente conhecida por Filosofia do Conhecimento. A palavra filosofia é de origem grega e compõe-se de philo e sophia, que significam respectivamente amizade, amor frater- no, respeito entre os iguais e sabedoria. De sophia advém a pala- vra sophos, sábio. Filosofia significa amor pela sabedoria, afeto e respeito pelo saber. Pitágoras acreditava que apenas os deuses teriam a sabe- doria plena e completa, mas os homens poderiam desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos, ou amantes do saber. “Quem qui- ser ser filósofo necessita infantilizar-se, transformar-se em meni- no” (Manuel Garcia Morente). Um ponto importante sobre a Filosofia é que ela é antes de tudo uma “autorreflexão do espírito” sobre seu comportamento teórico e prático, em que a autorreflexão do espírito não é um fim em si, mas um meio para atingir a visão do mundo. Figura 1.3: Pitágoras de Samos foi fundador de uma escola de pensa- mento grega. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Kapitolinischer_Pythagoras_adjusted. jpg Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo 5 Quanto às reflexões sobre a Teoria do Conhecimento Cien- tífico ou Teoria da Ciência podemos dizer que há uma divisão em teoria formal, chamada de Lógica e doutrina material da Ciência, que é chamada “Teoria do Conhecimento”. A Lógica estuda os métodos e princípios usados para dis- tinguir o raciocínio correto do incorreto, sendo que ela não está interessada nos obscuros caminhos pelos quais a mente chega às suas conclusões durante os processos concretos de raciocínio e sim, na correção do processo, uma vez completado. Uma das perguntas que devemos aplicar quando utilizamos a lógica será sempre: a conclusão a que cheguei está de acordo com as pre- missas usadas? Se as premissas fornecem bases ou provas para a conclusão e a afirmação da verdade destas premissas, garan- tirão a afirmação de que a conclusão também será verdadeira, então o raciocínio é correto. A distinção entre o raciocínio correto e o incorreto é o problema central que incumbe à Lógica tratar, pois seus métodos e técnicas foram desenvolvidos primordial- mente para distinguir se o raciocínio é válido ou inválido, e isso independente do seu conteúdo. Podemos usar, para ilustrar essa ideia, o seguinte exemplo: Premissa 1. Todo jogador de basquete é alto. Premissa 2. João é jogador de basquete. Conclusão: Então João é alto. A conclusão acima está logicamente válida, pois está de acordo com as premissas. Mas, e se o jogador João tiver apenas 1m de altura? Neste ponto, reflita sobre esta declaração de Aris- tóteles: Quer nossa discussão diga respeito aos negócios públicos ou a qualquer outro tema, devemos conhecer alguns, ou todos os fatos sobre o tema de que estamos falando ou a cujo propósito discutimos. Caso contrário, não teremos os materiais de que os argumentos são construídos (ARISTÓ- TELES, 2005). 6 Aula 1 • Como o homem começou a construir o conhecimento? A base da retórica de Aristóteles nos dá o caminho da inda- gação. Para isso, devemos conhecer todas as informações acerca do objeto antes de pensar em refutá-la ou não. A argumentação consitui-se a partir do conceito de totalidade de informações. Aristóteles (384-322 a.C.) Filósofo e sábio universal da Grécia Antiga, foi professor de Ale- xandre, filho do rei Filipe da Macedônia, que mais tarde se distin- gue como um dos maiores gênios militares e políticos de todos os tempos, conquistando para a Grécia todo o Oriente, desde o Egito até a Índia, passando a ser conhecido na História como Alexandre o Grande. Figura 1.4: Imagem de Aristóteles, o Grande Pensador. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Aristoteles_Louvre.jpg Enquanto a Lógica pergunta a respeito da correção formal do pensamento sobre sua concordância consigo, a Teoria do Co- nhecimento pergunta sobre a verdade do pensamento, sobre a sua concordância com o objeto de estudo. Também podemos, por isso, definir a Teoria do Conhecimento como a teoria do pen- samento verdadeiro, por oposição à Lógica, definida como a teo- ria do pensamento correto. E ri c G ab a Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo 7 Na Teoria do Conhecimento, o fenômeno apresenta uma defrontação entre conhecimento e objeto, sujeito e objeto. O co- nhecimento aparece como uma relação entre esses dois elemen- tos. Nessa relação, sujeito e objeto permanecem eternamente separados. No dualismo sujeito e objeto permanece a essência do conhecimento, ou seja, a relação estabelecida entre sujeito e ob- jeto depende da concepção das realidades observadas, pois são opostas, antagônicas. Ao mesmo tempo, a relação entre os dois elementos é uma relação recíproca (correlação). O sujeito só é sujeito para um ob- jeto e o objeto só é objeto para um sujeito. Eles só “são”, por assim dizer, apenas na medida em que um é para o outro. Essa correlação, porém, não é reversível. Ser sujeito é algo comple- tamente diverso de ser objeto. A função do sujeito é apreender o objeto; a função do objeto é serapreensível e ser apreendido pelo sujeito. Quando o sujeito vai apreender o objeto, traz as impressões deste para sua esfera. Não traz o objeto em si, mas a “figura” que contém as determinações deste objeto como uma imagem. Nesse ato, o objeto tem preponderância sobre o sujeito. O objeto é o de- terminante, o sujeito é o determinado, e por isso o conhecimento pode ser definido como uma “determinação do sujeito pelo obje- to”. Devemos ter em mente que não é o objeto que causa a deter- minação e sim a sua imagem, e esta, por sinal, é o meio pelo qual a consciência cognoscente apreende seu objeto. Dizer que o conhecimento é uma determinação do sujei- to pelo objeto é dizer que o sujeito comporta-se receptivamente com respeito ao objeto. Essa receptividade, contudo, não signifi- ca passividade, pois a “imagem” relacionada ao objeto pode ter uma participação do sujeito na sua criação. Um exemplo simples da interação sujeito-objeto e a gera- ção do conhecimento a partir da construção da “imagem” pode ser ilustrada neste exemplo: Dualismo É uma concepção filosófica ou teológica do mundo. Pode-se dizer que se baseia em dois princípios ou realidades opostas, por exemplo, corpo e alma. Cognoscente É a consciência ou o que tem a capacidade de conhecer. 8 Aula 1 • Como o homem começou a construir o conhecimento? Ao observar a maçã ela recebe a imagem da maçã azul, sua mente interage de alguma forma com esta imagem sendo que ela poderia interagir com a maçã sentido a textura, o peso e, se for corajosa até o sabor. No final deste processo, ela tira suas conclusões e esta “imagem” passa a ser um conhecimento acerca desta maçã azul. Atividade Atende ao Objetivo 1 1. Como podemos diferenciar lógica de raciocínio? Figura 1.5: Uma pessoa pega uma maçã azul... E aí? (considere esta maçã como azul). Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/15/Red_Apple.jpg Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo 9 Resposta Comentada A Lógica é o ramo da Filosofia que cuida das regras do bom pensa- mento, ou do pensar correto, sendo assim, um instrumento do pen- sar. A Lógica filosófica trata das descrições formais da linguagem natural. Os filósofos assumem que a maior parte do raciocínio “nor- mal” pode ser capturada pela Lógica, desde que seja possível en- contrar o método certo para traduzir a linguagem corrente para essa lógica. O raciocínio é considerado um mecanismo da inteligência que gerou a convicção nos humanos de que a razão unida à imagi- nação constituem os instrumentos fundamentais para a compreen- são do universo, cuja ordem interna, aliás, tem um caráter racional. Como classificamos algo como científico? A Ciência é, antes de tudo, um modo de conhecimento que busca objetividade, tentando atingi-la de diversas maneiras. Para entender o conhecimento científico, partiremos de algumas definições de sua base de investigação, assim temos os seguin- tes critérios: • sempre desconfiar de nossas certezas, de nossa adesão ime- diata às coisas, da ausência de crítica ou formulação de ques- tionamentos; • onde o senso comum vê muitas vezes fatos e acontecimentos, o conhecimento científico vê problemas e obstáculos a serem desvendados por meio de pesquisa; • ele busca leis gerais para os fenômenos, a fim de interpretá-los, já que busca o sentido das coisas. Ex.: A queda dos corpos é explicada pela lei da gravidade. 10 Aula 1 • Como o homem começou a construir o conhecimento? Não acredita em milagres, mas acredita na regularidade, constância, frequência dos fenômenos e a explicação é algo que vai definir o fenômeno por si no seu sentido. • É generalizador, pois reúne individualidades sob as mesmas leis, sob as mesmas medidas. Ex.: A Química revela-nos que a enorme variedade de cor- pos reduz-se a um número limitado de corpos simples que se combinam de modos variados. • Aspira à objetividade enquanto o senso comum caracteriza-se pela subjetividade, algo que pode ou não ser, dependendo da perspectiva a ser analisada. • Dispõe de uma linguagem rigorosa cujos conceitos são defini- dos de modo a evitar qualquer ambiguidade, mas que, pode ser refutado a qualquer momento por uma nova abordagem, desde que seja comprovada. É quantitativo, pois busca medidas, padrões, critérios de comparação e de avaliação para coisas que parecem ser diferen- tes. Nesse sentido, a Matemática e a Estatística constituem ins- trumentos importantes na busca por padrões de várias Ciências. • Tem método rigoroso para a observação, experimentação e verificação dos fatos, que comprovados seguem um padrão de abordagem. • Diferente do senso comum, que muitas vezes é marcado pelo sentimento, o Conhecimento científico busca em si a razão, sendo dela a análise final. Atividade Atende ao Objetivo 2 2. Como podemos reconhecer os aspectos de construção do co- nhecimento, a partir da filosofia? Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo 11 Resposta Comentada O conhecimento é o ato ou efeito de abstrair uma ideia ou noção de alguma coisa. Temos alguns tipos de conhecimento cujas especifi- cidades são leis, documentos, Medicina, entre outros. É absorvido por meio de informações, para um determinado fim ou não. O co- nhecimento distingue-se da mera informação porque está associado a uma intencionalidade. Tanto o conhecimento como a informação consistem em declarações verdadeiras, mas o conhecimento pode ser considerado informação com um propósito ou uma utilidade. Ao relacionar o conhecimento à Filosofia, devemos partir do princí- pio de que ele se liga à construção de ideias e conceitos na busca de verdades do mundo por meio da indagação e do debate; do que se conhece como “filosofar”. Trata de questões imensuráveis, metafísi- cas e, a partir da razão do homem, o conhecimento filosófico prioriza seu olhar sobre a condição humana. Como definir senso comum O senso comum pode ser compreendido através das coi- sas entremeadas pelo saber social, ou seja, por meio das experi- ências vividas no cotidiano, como costumes, hábitos, tradições, normas éticas e todo o processo do viver de forma organizada, mas simples, sem rigor científico. Dentre suas conotações, encontram-se alguns critérios, a saber: • o senso comum não necessita de parecer científico para com- provar o que foi dito, basta a crença individual e coletiva, pois seu enfoque advém de fontes a ele confiáveis; • é um saber acrítico, pois, não tem interesse em comprovar o que foi dito; 12 Aula 1 • Como o homem começou a construir o conhecimento? • todas as receitas caseiras podem ser entendidas por senso co- mum, pois são formas de experiências e de verbalidades pas- sadas geracionalmente; • o senso comum difere-se em alguns aspectos da Ciência, pois a Ciência busca a “verdade” em todas as coisas por meio de testes e comprovações, enquanto o senso comum é utilizado antes mesmo que se saiba se o método empregado traz o que se espera, não requerendo a verdade a qualquer custo, mas apenas acredita no que foi dito sobre aquele assunto; • a Ciência é objetiva, sempre em busca de critérios, avaliações, busca leis de funcionamento, renova-se e principalmente se modifica e busca de forma intermitente se firmar no conheci- mento, por isso buscamos na academia critérios de pesquisa e de entendimento nas mais variadas formas do pensar. Figura 1.6: “Conhecimento é poder”, segundo Francis Bacon. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Francis_Bacon.jpg Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo 13 Como interpretar o conhecimento? Sabemos que o senso comum parte de fatos cotidianos muitas vezes sem lógica. Já o conhecimento precisa de algu- mas indagações para se tornar algo mais aprofundado. Tome- mos como exemplo a arte de Leonardo da Vinci que, a fim de tentar conhecer o homem e suas dimensões, elaborou o dese- nho conhecido como “Homem Vitruviano”, demonstração da busca peloconhecimento, a partir do estudo das proporções do ser humano. O artista, por meio de seus estudos, chegou a uma conclusão, a partir da investigação minuciosa e do deta- lhamento e mensuração do corpo humano. Dessa forma, cada cientista e cada pesquisador, dentro de sua área de conheci- mento, foi ao longo de sua história buscando o conhecimento a partir de uma lógica de construção do saber, seja pela Arte, pela História, pela prática, pela técnica, ou por outras catego- rias capazes de comprovar suas teorias. 14 Aula 1 • Como o homem começou a construir o conhecimento? O homem proporcional de Da Vinci Figura 1.7: Homem Vitruviano (Leonardo Da Vinci, 1490). Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Da_Vinci_Vitruve_Luc_Viatour.jpg A união dos interesses de Leonardo pela Ciência e pela arte da pro- porção é representada neste famoso desenho, em que duas imagens sobrepostas de um homem nu estão contidas em um círculo e um qua- drado. A inspiração para este desenho veio do tratado De arquitetura, do arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio. A obra defendia que os edifícios deveriam se basear na simetria e proporção da forma humana. Segundo o arquiteto, o corpo humano, com os braços e pernas estendi- dos, ajustava-se perfeitamente ao círculo e ao quadrado. Muitos artistas da Renascença tentaram traçar o ideal de Vitruvius, façanha plenamente realizada por Leonardo. O desenho talvez seja um dos mais famosos de seu legado. Nele, ele insere suas próprias observações sobre a forma humana, corrigindo algumas medidas inconsistentes de Vitruvius (DA VINCI, 2011). Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo 15 O que possibilita ao ser humano pensar, sentir, problema- tizar e agir é a inteligência simbólica, que diferentemente da sis- tematizada, organizada por meio de métodos de pesquisa, pos- sibilita a busca da investigação de novos saberes e formas de conhecer objetos e gerar novos conhecimentos. Algumas formas de saber são relevantes para sistemati- zarmos as ideias que geram as mais variadas formas do pensar. Assim, temos: 1. O saber da vida É a forma de saber baseada na experiência que começa assim que nascemos. Esse processo ocorre do momento em que nascemos até a nossa morte. Essa é a razão de criar possibilida- des de exploração de tudo que diz respeito à vida na Terra. As principais características desse tipo de saber compreendem a simples ordenação da vida cotidiana sem rigor metodológico. O resultado dessa relação cotidiana com o mundo é um saber que muitos chamam de empírico, vulgar, ou senso comum (exemplo: saber das mães sobre o aleitamento). Figura 1.8: O saber da vida. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/789125 M ar ek B er n at 16 Aula 1 • Como o homem começou a construir o conhecimento? 2. O conhecimento mítico Baseia-se na intuição e deriva do entendimento de que pos- sam existir modelos naturais e sobrenaturais dos quais advém o sentido de tudo que existe. É uma forma de entender as coisas mundanas por meio das representações que não são logicamente racionais, nem resultantes de experimentações científicas, mas de uma forma de linguagem fantasiosa e de crença (exemplo: crença em santos e padroeiros que curam e fazem milagres). Figura 1.9: Conhecimento mítico. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/216930 R o d ri g o F o n se ca Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo 17 3. Conhecimento teológico É a forma de saber que se fundamenta na fé. É dedutivo por partir de uma realidade universal para representar e atribuir sentido a realidades particulares, no entanto, colocam à prova verdades, que se caracterizam por ser indiscutíveis, inquestio- náveis. Nesse sentido, não é preciso compreender e investigar, mas aceitar como dogmas, sem explicação científica (exemplo: a bíblia como fundamento de fé para os católicos). Figura 1.10: Conhecimento teológico. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/162055 Je sp er N o er 18 Aula 1 • Como o homem começou a construir o conhecimento? 4. Conhecimento filosófico O conhecimento filosófico é racional, sistemático, mas não experimental. Vai à raiz das coisas e é produzido segundo o rigor lógico que a razão exige de um conhecimento que se quer, bus- cando a verdade do existente. Essa forma de pensar busca “por- quês” de tudo o que existe. Um dos exemplos seria o questiona- mento de qual o real sentido da vida (exemplo: a comprovação por meio de experimentos nas mais variadas formas de Ciência, como: a Biologia, a Física, a Matemática, entre outras). Figura 1.11: Conhecimento filosófico. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1138723 Iv a V ill i Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo 19 5. Conhecimento científico Neste tipo de conhecimento, busca-se produzir algo me- diante a investigação da realidade, seja por meio de experimen- tos, seja por meio da busca do entendimento lógico de fatos, fenômenos, relações, coisas, fatos, verdades, curiosidades, as- suntos, seres e acontecimentos que ocorrem na realidade cós- mica, humana e natural. É sistemático, metódico, realizado por meio da experimentação, validação e comprovação daquilo que se quer provar. Figura 1.12: Conhecimento científico. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/574983 H . B er en d s 20 Aula 1 • Como o homem começou a construir o conhecimento? 6. Conhecimento técnico O fundamento básico deste tipo de conhecimento é o sa- ber fazer, a operacionalização. No mundo atual, é um tipo de sa- ber que se aplica a quase tudo, pois em todas as áreas temos as técnicas, desde a simples formatação do ato de dirigir até a com- pilação de dados científicos (exemplo: técnico em informática, técnico em Enfermagem etc.). Figura 1.13: Conhecimento técnico. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1071720 S an ja G je n er o Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo 21 7. O saber das artes Esta forma de saber valoriza as experiências estéticas do humano, proporcionando-lhe o refinamento do espírito ao ofere- cer-lhe a relação com o senso do gosto, do bonito e do grotesco. Experimentar a beleza e extrair dela a matéria fundamental para o refinamento de si é a finalidade maior de tudo aquilo que se produz em termos de artes e sem as quais o ser humano se vê empobrecido e pequeno (exemplo: conhecer artes, estilos, esté- ticas, arquitetura, paisagismo, entre outras). Figura 1.14: O saber das artes. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/598643 A n a B el en 22 Aula 1 • Como o homem começou a construir o conhecimento? 8. Conhecimento sensorial É o conhecimento comum entre seres humanos e animais. Obtido a partir de nossas experiências sensitivas e fisiológicas (exemplo: tato, visão, olfato, audição e paladar). Figura 1.15: Conhecimento sensorial. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/587215 M ar co M ic h el in i Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo 23 9. Conhecimento intelectual Esta categoria é exclusiva ao ser humano; trata-se de um raciocínio mais elaborado do que a mera comunicação entre cor- po e ambiente. Aqui já se pressupõe um pensamento, uma lógica (conhecimento aplicado em qualquer área do saber, direcionado, específico: Direito do trabalho, Direito público, entre outros). Figura 1.16: Conhecimento intelectual. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/581730 M ax im e Pe rr o n C ai ss y 24 Aula 1 • Como o homem começou a construir o conhecimento? 10. Conhecimento intuitivo Inato ao ser humano, o conhecimento intuitivo diz respeito à subjetividade, a tudo que percebemos e apreendemos do mun- do exterior e à racionalidade humana. Essa manifestação pode se concretizar por meio da epifania, compreendida como uma “manifestação espiritual” (exemplo: sentir que algo vai aconte- cer e realmente acontece...). Figura 1.17: Conhecimento intuitivo. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/801003 Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo 25 Na intuição, há duas correntes, entendidas como:1 - Intuição sensorial/empírica: A intuição empírica é o conhecimento direto e imediato das qualidades sensíveis do objeto externo: cores, sabores, odores, paladares, texturas, dimensões, distâncias. É também o conhecimento direto e imediato de estados internos ou mentais: lembranças, desejos, sentimentos, ima- gens (CHAUÍ, 2000). 2 - Intuição intelectual: a intuição com uma base racional. A partir da intuição sensorial, você percebe o odor da margarida e o da rosa. A partir da intuição intelectual você percebe imediatamente que são diferentes. Não é necessário demonstrar que a “parte não é maior que o todo”, é a lógica em seu estado mais puro; a razão que se com- preende de maneira imediata. Para saber mais sobre a Filosofia e as formas de conhecimento, acesse: http://www.brasilescola.com/ Recomendações específicas: Conhecimento http://www.brasilescola.com/filosofia/conhecimento.htm O conceito de Filosofia http://www.brasilescola.com/filosofia/a-filosofia-grega.htm Condições para o surgimento da Filosofia http://www.brasilescola.com/filosofia/condicoes-historicas-surgi- mento-filosofia.htm O conflito entre fé e razão http://www.brasilescola.com/filosofia/o-conflito-entre-fe-razao.htm Caixa de Pandora http://www.brasilescola.com/filosofia/caixa-de-pandora.htm 26 Aula 1 • Como o homem começou a construir o conhecimento? Ciência, conhecimento e atitude: como aprender Ao analisar o conhecimento científico, faz-se necessário al- guns elementos de apoio, como responder a: o que se entende por conhecimento? O que entendemos por Ciência? Para Marilena Chauí, em Convite à Filosofia, cada um dos campos do conhecimento é uma Ciência e a filosofia das Ciên- cias é a epistemologia (em grego, Ciência é episteme). Teoria do conhecimento ou estudo das diferentes modali- dades de conhecimento humano: o conhecimento senso- rial ou sensação e percepção; a memória e a imaginação; o conhecimento intelectual; a ideia de verdade e falsidade; a ideia de ilusão e realidade; formas de conhecer o espa- ço e o tempo; formas de conhecer relações; conhecimento ingênuo e conhecimento científico; diferença entre conhe- cimento científico e filosófico etc. (CHAUÍ, 2000, p. 66-67). Por Conhecimento científico, entende-se uma produção que se efetiva através da técnica, da Ciência, da observação e da certeza. Já na atitude científica veem-se os problemas e obs- táculos, as aparências que precisam ser explicadas e, em certos casos, afastadas. A atitude científica busca sempre desconfiar das verdades já estabelecidas e, assim, gera novas discussões e argumentações ao que já foi criado por outros cientistas no decorrer do tempo. Até aqui, vimos os primeiros passos do conhecimento para em seguida entendermos os processos pelos quais passam as atividades acadêmicas de pesquisa nas mais variadas formata- ções. O conhecimento e o senso comum são imprescindíveis para iniciar as discussões de construção de novas áreas, pesqui- sas e busca do saber, sendo a academia a grande responsável pela geração do conhecimento na atualidade. Na filosofia de Platão, há forte influência no conhecimento científico e no conhecimento das Ciências que se dedicam ao es- tudo do Homem e a todos os aspectos materiais e imateriais da vida cotidiana. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo 27 Figura 1.18: Quem foi Platão? Platão foi filósofo, fundador da pri- meira instituição de ensino superior. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Platonismo Filosofia de Platão Platão buscava em métodos de debate e conversação as formas de alcançar o conhecimento. Os indivíduos para ele deveriam desco- brir as coisas, superando os problemas impostos pela vida. A educa- ção deveria funcionar como forma de desenvolver o homem moral, tendo como princípio básico alcançar por meio de seus esforços, o desenvolvimento intelectual e físico, e ter na base educacional o aprendizado de retórica, debates, educação musical, geometria, astronomia e educação militar. Frases de Platão: “O belo é o esplendor da verdade”. “O que mais vale não é viver, mas viver bem”. “Vencer a si próprio é a maior de todas as vitórias”. “O amor é uma perigosa doença mental”. “Praticar injustiças é pior que sofrê-las”. Atividade Atende ao Objetivo 3 3. Como vimos até o momento, o senso comum é a compreen- são das coisas por meio do saber social, ou seja, por meio das experiências vividas no cotidiano, como: costumes, hábitos, tradi- 28 Aula 1 • Como o homem começou a construir o conhecimento? ções, normas éticas e todo o processo do viver. Já o conhecimento científico é quantitativo, pois busca medidas, padrões, critérios de comparação e de avaliação para coisas que parecem ser diferentes. Sendo assim, descreva como foi construída a ideia do conheci- mento a partir das colocações a seguir de Evans-Pritchard, um antropólogo que estudou profundamente a crença de um grupo africano na feitiçaria, e analise a questão do senso comum para explicar a ideia do infortúnio neste contraponto. A princípio, achei estranho viver entre os Azande e ouvir suas ingênuas explicações de infortúnios que, para nós, têm causas evidentes. Depois de certo tempo, aprendi a lógica do seu pensamento e passei a aplicar noções de feitiçaria de forma tão espontânea quanto eles mes- mos, nas situações em que o conceito era relevante. Um menino bateu o pé num pequeno toco de madeira que estava no seu caminho – coisa que acontece frequente- mente na África – e a ferida doía e incomodava. O cor- te era no dedão e era impossível mantê-lo limpo. Infla- mou. Ele afirmou que bateu o dedo no toco por causa da feitiçaria. Como era meu hábito argumentar com os Azande e criticar suas declarações, foi o que fiz. Disse ao garoto que ele batera o pé no toco de madeira porque ele havia sido descuidado e que o toco não havia sido colocado no caminho por feitiçaria, pois ele ali cresce- ra naturalmente. Ele concordou que a feitiçaria não era responsável pelo fato de o toco estar no seu caminho, mas acrescentou que ele tinha os seus olhos bem aber- tos para evitar tocos – como, na verdade, os Azande fazem cuidadosamente – e que, se ele não tivesse sido enfeitiçado, ele teria visto o toco. Como argumento final para comprovar o seu ponto de vista, ele acrescentou que cortes não demoram dias e dias para cicatrizar, mas que, ao contrário, cicatrizam rapidamente, pois esta é a natureza dos cortes. Por que, então, sua ferida havia in- flamado e permanecido aberta, se não houvesse feitiça- ria atrás dela? (EVANS-PRITCHARD, 1976, p. 64-67 apud ALVES, 1981, p. 17). Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo 29 Resposta Comentada O senso comum parte de analogias que muitas vezes nada têm de lógico, sendo suas conclusões ou deduções a tradução de um con- junto incompleto de atos de conhecimento, não aspirando ao conhe- cimento universalmente válido nem atingindo a realidade profunda das coisas. O conhecimento científico parte em contrapartida, busca o procedimento compreensivo por meio do qual o pensamento cap- tura representativamente um objeto qualquer, utilizando recursos investigativos dessemelhantes – intuição, contemplação, classifica- ção, mensuração, analogias, experimentação, observação empírica, entre outros, para conseguir obter resultados de forma ordenada e comprovadamente aceita dentro de uma lógica de cada área. O texto sobre o ritual menciona a forma com que o senso comum vê, sente e experiencia os fatos, distintamente de como o conheci- mento científico faria com os dados da situação em si. O fato real de pisar num objeto perfurocortante não significa para a Ciência que de forma direcionada e simplista a ferida não teria fechado por conta da feitiçaria, mas teria de obter por meio de pesquisas, observação e comprovação de dados os fatos mencionados. Para compreender melhor a análise do conhecimento no turismo, leia o texto indicado: http://www.pasosonline.org/Publicados/6108/PS0108_9.pdf 30Aula 1 • Como o homem começou a construir o conhecimento? Conclusão Como você pôde notar, a finalidade de nossa primeira aula foi criar vínculos por meio das ideias da Filosofia do que vem a ser Ciência e como ela se constrói no percurso do tempo. O turis- mo, sendo uma atividade ainda em construção na área do saber, precisa de novos olhares e novas formas de compreensão para se tornar uma Ciência. A partir disso, você como um novo profis- sional dessa área pode pensar na construção de suas primeiras indagações a respeito da atividade turística, como uma Ciência, uma nova forma do saber. Na nossa vida quotidiana, necessitamos de um vasto con- junto de conhecimentos, relacionados com a realidade em que vivemos e seu funcionamento, assim, temos de saber como tra- tar as pessoas com as quais nos relacionamos, como nos com- portarmos frente às adversidades e demais circunstâncias do nosso dia a dia e quaisquer outras situações. Estamos inseridos em complexos contextos que mudam cotidianamente no que se refere à informação de qualquer rea- lidade, como: manejo de sistemas bancários, transporte, apare- lhos eletrônicos com os quais temos de saber lidar e aprender constantemente. Estes conhecimentos, no seu conjunto, formam um tipo de saber a que chamamos de senso comum. O Conhecimento científico transformou-se numa prática constante, procurando tratar as informações por meio de mé- todos rigorosos, para produzir um conhecimento sistemático, preciso e objetivo que garanta prever o acontecimento e agir de forma contundente. Dessa maneira, o que diferencia o senso co- mum do conhecimento científico é o rigor na fidelidade das infor- mações e no uso de métodos para sua comprovação. Enquanto o senso comum é acrítico, fragmentado, preso a preconceitos e a tradições conservadoras, a Ciência preocupa-se com as pesquisas sistemáticas que produzam teorias que reve- lem a verdade sobre a realidade, uma vez que a Ciência produz o conhecimento, a partir da razão. Por isso, surge a importância do conhecimento científico. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo 31 Se formos capazes de gerar novos conhecimentos, a partir de indagações próprias, seremos capazes de mudar o curso da história nessa área, na qual estamos inseridos e na qual também somos sujeitos na sua construção e reconstrução. Veja no texto indicado quais foram os recursos metodológicos uti- lizados e tente descobrir o que faz parte do senso comum e o que pode ser considerado científico. http://www.eca.usp.br/turismocultural/05.Açores_Elis.pdf Atividade Final Atende aos objetivos 1, 2 e 3 Faça uma relação da coluna direita com a esquerda, inserindo os aspectos ligados a cada item. (a) Ciência ( ) adquirido por meio de tradi- ção oral, gerações e não precisa de comprovação científica. (b) Senso comum ( ) transforma a história da huma- nidade nas suas mais variadas con- cepções. (c) Lógica ( ) pode ser definida como um sistema de conhecimento objetivo com base no método científico. (d) Conhecimento ( ) estudo dos métodos e princí- pios usados para a distinção do ra- ciocínio correto do incorreto. 32 Aula 1 • Como o homem começou a construir o conhecimento? Resposta Comentada (a) Ciência (b) adquirido por meio de tradição oral, gerações e não precisa de comprovação científica. (b) Senso comum (d) transforma a história da humanidade nas suas mais variadas concepções. (c) Lógica (a) pode ser definida como um sistema de conhecimen- to objetivo com base no mé- todo científico. (d) Conhecimento (c) estudo dos métodos e princípios usados para a dis- tinção do raciocínio correto do incorreto. Resumo O conhecimento é resultado de atividade investigativa que, se for científico, requer ser organizado de forma analítica ou sintética. As indagações sobre o conhecimento têm sido uma constante na história da humanidade, sendo um grande passo para a aquisição de novos saberes e formas de interpretar o mundo. O conhecimento, por diferir do senso comum nas práticas da bus- ca pelas novas interpretações da realidade, fatos, interpretações e formas de pensar, transforma a história da humanidade nas suas mais variadas concepções. A partir dessa diferenciação, pode o iniciante dos estudos acadêmi- cos saber quais são os procedimentos de um estudo científico, bem como estar em contato com as inovações ocorridas até o momento e que foram de grande importância para o estado atual das Ciências. Outra questão tratada na aula foi em relação à Filosofia e suas principais correntes, dentre elas a platônica, considerada uma das mais importantes correntes do pensamento ocidental. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo 33 Platão elevou o método de investigação filosófica à forma literária de expressão da conversação socrática. Nos seus diálogos, ponde- ra-se a liberdade de espírito e seu pensamento movimenta-se por meio de um grande empenho na busca da verdade. Em suas obras, são claramente observados os impulsos para al- cançar o conhecimento, a aspiração à Ciência e também a contra- partida na qual se insere a concepção racional e objetiva do mun- do e do homem. A sua extrema vontade de busca orienta todo objetivo de respeito ao homem e à sua natureza. Nesta relação entre Ciência e vida ou entre teoria e prática, estão fundamentados seus apontamentos. Na Ciência platônica, o conhecimento tem de ser inserido em to- dos os contextos, a fim de reger todas as determinações da vida, não sendo assim, pura teoria. Em seus diálogos, emerge a ideia de que a alma, numa vida anterior, conviveu de alguma forma com o mundo inteligível, e teve, por isso, a percepção de coisas nas quais “resplandecem” as qualidades das ideias, pois, assim, tende a despertar o conhecimento destas, pelo que, o verdadeiro conhe- cimento seria um recordar, uma rememoração de atos e fatos. Informação sobre a próxima aula Na próxima aula, iniciaremos a discussão sobre métodos de pesquisa e sua res- pectiva aplicabilidade, e ainda voltaremos a pensar um pouco nas correntes da Filosofia que deram início ao método científico.
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