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Renascimento e Reformas Religiosas

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O RENASCIMENTO E AS REFORMAS 
RELIGIOSAS 
TÓPICOS DO CAPÍTULO 
1. O Renascimento Pág. 03 
2. O Desenvolvimento científico Pág. 05 
3. As reformas religiosas Pág. 05 
4. Martinho Lutero: a justificação pela fé Pág. 07 
5. João Calvino: a predestinação absoluta Pág. 09 
6. A Reforma Anglicana: catolicismo sem Roma Pág. 09 
7. A contraofensiva católica Pág. 10 
8. O preço da fé Pág. 11 
 Texto Complementar Pág. 12 
 Exercícios Pág. 13 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
www.colegiopraxiseduc.com.br
Capítulo 
13 
 1
 
 
 
 
La Gioconda (Monalisa), de Leonardo da Vinci, pintura feita 
entre 1503 e 1506 
 
Estudo sobre ombros feito por Leonardo da Vinci (cerca de 
1510). 
 
 
 
 
 
 
 
 
O TALENTO DE LEONARDO DA VINCI 
 
Leonardo da Vinci (1452-1519), autor das obras desta página, foi arquiteto, pintor, matemático, 
poeta e engenheiro militar. Autor de vários projetos em diversos campos da ciência, demonstrou evi-
dências de que a Terra girava ao redor de seu eixo de rotação, ideia que não era aceita em sua época. 
Baseado nos estudos de Arquimedes, criou uma bomba hidráulica para elevar água — a primeira do 
gênero —, uma ponte parabólica e vários modelos de barco, incluindo um movido a rodas de pás, como 
os navios a vapor de trezentos anos depois. 
Um dos maiores gênios de todos os tempos, Leonardo é considerado por muitos um homem 
universal. A sua extraordinária versatilidade o tornou um autêntico representante do Renascimento. Es-
se movimento cultural iniciado na Península Itálica é fruto das mudanças socioeconômicas pelas quais 
passou a Europa durante a Baixa Idade Média e provocou uma série de mudanças no pensamento da 
época, principalmente nos campos das artes e da ciência. A difusão deste conhecimento suscitou tam-
bém, posteriormente, questionamentos à Igreja Católica, iniciando um movimento de reforma que deu 
origem a várias outras igrejas cristãs: a Reforma Protestante. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 2
 
 
 
1. O RENASCIMENTO 
 
Desde meados do século XI, uma série de transformações políticas, econômicas e sociais vinha 
ocorrendo na Europa. Iniciou-se uma era de inquietude, na qual os valores, a cultura e as técnicas até 
então existentes não forneciam respostas para as questões que inquietavam os homens desse período. 
Na primeira metade do século XIV, iniciou-se na Península Itálica um movimento conhecido como Re-
nascimento, caracterizado por uma grande renovação nos campos da ciência, das artes plásticas e da 
política. 
Também foi na Península Itálica que surgiu o humanismo, corrente de pensamento que valoriza-
va a ação, a liberdade, o espírito crítico, o talento e a capacidade humana de conduzir o próprio destino. 
Os humanistas buscavam uma linguagem universal entre os homens, recuperando modelos e formas 
da arte grega e romana. 
Os humanistas viam o período medieval como uma "idade das trevas", em que os sentidos havi-
am sido obscurecidos por uma fé cega. Eles não viam uma continuidade entre o saber produzido por 
eles e a cultura medieval. Esses homens propunham uma renovação profunda, herdeira das tradições 
clássicas, capaz de alterar os rumos de toda a população europeia. 
 
 O pioneirismo da Península Itálica 
 
Foi no norte da Península Itálica, nas cidades de Gênova, Florença e Veneza, que o Renasci-
mento floresceu. A existência na península de um grande número de unidades políticas independentes 
impediu a formação de uma monarquia centralizada como a francesa, a inglesa ou a espanhola. Ho-
mens ricos e poderosos adquiriam títulos como os de conde, marquês e duque. Sob o comando deles, 
essas cidades alcançaram grande desenvolvimento econômico, manufatureiro e cultural. 
Florença e Veneza eram as cidades-república mais ricas e de maior poder político e militar da 
Península Itálica. Alguns dos maiores pensadores e artistas desse período provinham dessas duas ci-
dades. 
Além disso, existia na região uma tradição clássica muito forte, já que a península foi o centro do 
Império Romano e, posteriormente, sofreu a influência da cultura bizantina, pois muitos habitantes do 
Império do Oriente migraram para as cidades italianas fugindo das invasões turcas. Soma-se a isso o 
papel dos mecenas, atores fundamentais no desenvolvimento da cultura italiana dos séculos XV e XVI. 
As famílias ricas e poderosas, como os Sforza e os Visconti, de Milão, e os Medici, de Florença, 
exerciam grande influência no governo e, também, na produção artística dessas cidades, atuando como 
mecenas de vários artistas. 
 
 
 
A FAMÍLIA MEDICI 
 
Os Medici eram ricos comerciantes e banquei-
ros florentinos. Cosmo de Medici tornou-se o primeiro 
membro da família a administrar Florença. Com habi-
lidade, conseguiu neutralizar seus adversários e con-
trolar as magistraturas públicas. Grande admirador da 
arte em geral, Cosmo financiou obras do arquiteto 
Brunelleschi e dos artistas Era Angelico e Donatello. 
Seu neto, Lourenço de Medici, também se destacou 
como administrador e mecenas. Durante seu gover-
no, Florença viveu um período de paz, prosperidade 
e desenvolvimento das artes e do conhecimento. 
Lourenço foi protetor de, entre outros artistas, Leo-
nardo da Vinci e Michelangelo. 
 
 
 
Cúpula da Catedral Santa Maria dei Fiore, em Florença, 
projeto de Filippo Brunelleschi. Itália, abril de 2011. 
 3
 
 
 
 Características gerais do Renascimento 
 
Entre as principais características do Renascimento destacam-se o naturalismo, o racionalismo, 
o classicismo, o hedonismo e o antropocentrismo. 
O naturalismo pode ser definido como o interesse dos artistas em retrataras homens e os ani-
mais, o cuidado rigoroso em mostrar a natureza como de fato ela é. A valorização do retrato fiel estimu-
lou o estudo da anatomia humana, das plantas e dos animais, a fim de transportar para a arte o conhe-
cimento obtido na investigação científica. 
O racionalismo consistia na busca da verdade por meio da investigação e da experiência, e não 
mais com base em princípios religiosos e explicações sem fundamento científico. 
O classicismo manifestou-se sobretudo nas artes plásticas, no ideal de serenidade e harmonia, 
mas esteve presente em todas as esferas da criação renascentista. O classicismo expressava a inten-
ção dos artistas, literatos e pensadores do período em revalorizar a cultura e as tradições greco-
romanas, vistas como modelo de equilíbrio, clareza e perfeição. Procurando romper com a cultura me-
dieval, voltada para a exaltação de Deus e a salvação da alma, os renascentistas foram buscar na cultu-
ra clássica inspiração para valorizar a natureza, o homem e as suas conquistas. 
 
Davi, de Michelangelo, escultura em már-
more feita em 1504. A obra é um exemplo 
da valorização das formas humanas, uma 
das características do Renascimento. 
Um exemplo dessa valorização dos feitos humanos foi a 
celebração das conquistas ultramarinas portuguesas na literatura 
de Luís de Camões (1527-1580). O mar é um elemento-chave 
em Os lusíadas, a epopeia camoniana e uma das expressões 
supremas do Renascimento em Portugal. 
Além de Camões, destacam-se o florentino Dante Alighieri 
(1265-1321), autor da obra Comédia (posteriormente conhecida 
como A divina comédia, poema que narra a viagem de Dante 
pelo inferno, purgatório e paraíso, guiado pelo poeta romano Vir-
gílio); e o espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616), autor de 
Dom Quixote (na qual Cervantes ironiza particularmente o ideal 
de bravura, defesa da honra e da lealdade, valores típicos da 
cavalaria medieval). 
O hedonismo renascentista, por sua vez, consistia na va-
lorização do corpo, dos prazeres terrenos e espirituais, no culto 
do belo e da perfeição. Giovanni Boccaccio (1313-1375), Fran-
çois Rabelais (1494-1553) e William Shakespeare (1564-1616) 
são exemplos de autores renascentistas cujas obras personifi-
cam o intenso amor pelas coisas humanas e terrestres. 
O antropocentrismo, ao contrário do teocentrismo medi-
eval, reservava ao ser humano o papel de centro do Universo. A 
partir dessaconcepção, cabia ao homem a capacidade de des-
cobrir verdades por conta própria e de crescer, material e espiri-
tualmente, a fim de deixar sua marca no mundo. 
Em certa medida, porém, essa atitude gerou conflitos com 
as concepções religiosas, pois os pensadores renascentistas 
questionavam não só o conservadorismo da Igreja, mas também 
formulavam novos princípios. O Renascimento, nesse sentido, 
deve ser visto como parte do contexto de mudanças que mar-
caram a Europa na Baixa Idade Média, que impulsionaram, entre 
outros acontecimentos, a centralização do poder real e a Refor-
ma Protestante. 
 
 
 
 
 
 
 4
 
 
 
 
A Escola de Atenas (1508-1511), afresco de Rafael Sanzio. É possível observar na obra o uso da perspectiva, técnica que cria 
a ilusão de volume e profundidade das imagens num plano bidimensional. 
 
2. O DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO 
 
Com base no estudo do homem e da natureza fundamentado no espírito crítico, o Renascentis-
mo contribuiu em larga medida para o desenvolvimento científico. Em especial, os campos da astrono-
mia, da matemática, da física e da medicina tiveram importantes avanços. 
O grande feito da astronomia foi a comprovação da teoria heliocêntrica, que se contrapôs à teo-
ria geocêntrica de Ptolomeu. Enquanto os geocentristas defendiam a ideia de que o Sol girava em torno 
da Terra, os heliocentristas defendiam a ideia de que a Terra girava em torno do Sol. A teoria geocêntri-
ca foi refutada abertamente pela primeira vez por Nicolau de Cusa (1401-1464). Posteriormente, o polo-
nês Nicolau Copérnico (1473- 1543), estudioso de direito civil e canônico que frequentou importantes 
universidades na Itália, interessou-se pela astronomia. Com base em cálculos matemáticos e sugestões 
de alguns importantes cientistas italianos, concluiu que os planetas giravam em torno do Sol. 
Galileu Gatilei (1S64-1642), um dos mais renomados cientistas italianos, comprovou a teoria he-
liocêntrica de Copérnico. De posse de um telescópio, Galileu descobriu os anéis de Saturno, os satélites 
de Júpiter e as manchas do Sol. Além disso, Galileu concluiu que a Via Láctea era uma aglomeração de 
corpos celestes independentes do nosso sistema solar. O dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601) e o 
alemão Johannes Kepler (1571-1630) também se notabilizaram como astrônomos, pois aprimoraram a 
teoria de Copérnico ao comprovar que os planetas se movimentavam em torno do Sol em uma órbita 
elíptica, e não circular. 
No campo das ciências médicas, merecem destaque Mundinus (c. 1270-1326), que introduziu a 
prática da dissecação de cadáveres; Falópio (1523-1562), descobridor dos ovidutos humanos; e Para-
celso (1493-1541), que escreveu o primeiro manual de cirurgia. 
 
3. AS REFORMAS RELIGIOSAS 
 
Durante a Idade Média, a Igreja Católica teve o seu período de apogeu. Representando a única 
forma de poder centralizado em meio aos fragmentados poderes locais, ela exercia enorme influência 
na sociedade europeia. Enquanto a maior parte da população tinha vida simples, o alto clero medieval 
vivia na ostentação, cercado pelo luxo. Os cargos eclesiásticos podiam ser comprados e representavam 
 5
 
 
 
poder e renda — obtida por meio dos tributos — àqueles que os adquiriam. Disso resultava o enorme 
despreparo de parte dos clérigos, que muitas vezes atuavam na esfera religiosa sem nenhuma instru-
ção. 
O aumento das heresias na Baixa Idade Média demonstrou a incapacidade do catolicismo em 
atender às necessidades espirituais e materiais de largos setores da população. Muitos grupos conside-
rados heréticos pela Igreja denunciavam a corrupção do clero e propunham uma vida simples e igualitá-
ria, semelhante à dos primeiros cristãos. Com isso, criticavam também os privilégios e o luxo da nobre-
za, que se uniu aos eclesiásticos para reprimir a esses movimentos. Várias heresias foram combatidas 
e seus partidários condenados à morte. Mas suas ideias contribuíram, séculos depois, para a reforma 
religiosa. 
A formação das monarquias modernas foi outro fator que colaborou para o nascimento do movi-
mento reformista, uma vez que o conflito entre o poder temporal, representado pelo rei, e o poder espiri-
tual, representado pelo papa, constituía um obstáculo ao fortalecimento da autoridade central. Além 
disso, os dízimos transferidos para Roma prejudicavam as finanças dos Estados. E as extensas propri-
edades da Igreja em cada reino eram cobiçadas pelos reis e pela nobreza. 
 
 Os precursores da Reforma 
 
Alguns intelectuais dos séculos XIV e XV podem ser considerados precursores do movimento re-
formista. Entre eles está o inglês John Wycliffe (c. 1330-1384), professor em Oxford, que denunciou a 
corrupção do clero e desafiou a autoridade da Igreja ao afirmar que qualquer um que tivesse fé poderia 
conseguir a salvação eterna. Suas ideias sobre a salvação pela fé e não pela prática de "boas obras", 
como a compra de indulgências, serviram de inspiração para as 95 teses que marcaram a ruptura de 
Martinho Lutero com a Igreja Católica em 1517. 
 
 
Jan Huss sendo queimado na fogueira, gravura da obra A crônica de Ulrich von Reíchental, século XV 
 
Outro precursor da Reforma foi o padre jan Huss, natural da Boêmia (região que hoje integra a 
República Tcheca), que morreu queimado na fogueira em 1415. Profundo conhecedor dos textos bíbli-
cos e do pensamento de Wycliffe, Huss pregava a obediência estrita às Escrituras e denunciava a cor-
rupção e o luxo do clero. Ele traduziu textos sagrados para a língua do seu povo. 
No nível mais geral, a reforma religiosa deve ser vista no contexto de florescimento do mundo 
urbano e dos valores burgueses, que não admitia a autoridade inquestionável da Igreja. No nível mais 
espefícico, a Reforma foi motivada também pelas práticas da Igreja Católica: a venda de indulgências 
 6
 
 
 
para o perdão dos pecados, as negociatas em torno dos cargos religiosos e o despreparo intelectual e a 
vida desregrada de muitos sacerdotes. 
 
4. MARTINHO LUTERO: A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ 
 
Monge agostiniano e doutor em teologia pela Universidade de Wittenberg, na Alemanha, Marti-
nho Lutero deu início ao movimento religioso que ficou conhecido como Reforma Protestante. Ele acei-
tava as ideias de jan Huss principalmente no que dizia respeito à liberdade de culto e de consciência 
individual. Divergindo das orientações de Roma, Lutero acreditava que a salvação da alma resultava da 
fé e não das boas obras. A partir dessas ideias, Lutero condenou a venda de indulgências como passa-
porte para o reino dos céus. 
As condições políticas e econômicas do Sacro Império Romano Germânico, que abrangia boa 
parte dos territórios alemães, favoreceram a difusão das concepções de Lutero. O império era formado 
por diversos principados independentes, governados por nobres que elegiam o imperador. Além disso, 
muitos feudos eram controlados pelo clero, que conseguia grandes lucros com o arrendamento dessas 
terras. Outras fontes de renda da Igreja provinham da arrecadação do dízimo e do comércio de indul-
gências. O poderio econômico e os abusos cometidos pelos sacerdotes criaram um sentimento hostil à 
Igreja e favorável à reforma religiosa. 
Em 1517, uma bula do papa Leão X estabeleceu a venda de indulgências para a construção da 
Catedral de São Pedro, em Roma. Para efetivar o "negócio", Leão X propôs acordos com a França e a 
Inglaterra e também com os banqueiros alemães. 
No mesmo ano, denunciando a venda de indulgências e a doutrina da salvação pelas obras, Lutero afi-
xou na porta da Igreja de Wittenberg, onde era sacerdote, um documento que continha 95 críticas ao 
papado, conhecido como as 95 Teses de Lutero. 
A publicação das 95 Teses deu início ao confronto entre Roma e o monge. O papa Leão X exigiu 
que Lutero se retratasse, sob pena de ser considerado herético. Lutero respondeu à ordem papal quei-
mando publicamente o documento que continha a intimação vinda de Roma. Excomungado pela Igreja, 
recebeu a proteção da nobreza alemã, que o manteve escondidoem um castelo. 
 
 
Gravura atribuída a Lutero que, em um jogo visual, demoniza o papa Alexandre VI (1431-1503
 
 7
 
 
 
 
AS 95 TESES DE LUTERO 
 
“Por amor à verdade e no empenho de elucidá-la, discutir-se-á o seguinte em Wittenberg, sob a presi-
dência do reverendo padre Martinho Lutero”. [...] Em nome do nosso Senhor Jesus Cristo. Amém. 
 
1. Ao dizer: 'Fazei penitência' [...], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis 
fosse penitência. 
2. Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental, isto é, da confissão e satis-
fação celebrada pelo ministério dos sacerdotes. [...] 
20. Portanto, sob remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas 
somente aquelas que ele mesmo impôs. 
21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena 
e salva pelas indulgências do papa. 
22. Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, 
elas deveriam ter pago nesta vida. [...] 
24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indis-
tinta promessa de absolvição da pena. [...] 
36. Qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito à remissão plena de pena e culpa, mes-
mo sem carta de indulgência. [...] 
LUTERO, Martinho. 95 Teses. Revista Espaço Acadêmico. 
 
 
QUESTÕES 
 
1) De acordo com o pensamento de Lutero, estabeleça uma relação entre o papa e a questão das in-
dulgências. 
2) Para Lutero, corno os cristãos conseguiriam obter o verdadeiro perdão? 
 
 Reforma e rebelião 
 
Entre 1523 e 1525 começaram a acontecer as mobilizações do campesinato alemão. Os cam-
poneses eram liderados pelo pregador Thomas Münzer, um dos seguidores mais radicais de Lutero. 
Percebendo que as propostas luteranas beneficiavam prioritariamente a aristocracia, Münzer rompeu 
com Lutero e estabeleceu sua própria doutrina, que pregava o fim da propriedade privada. Seus adep-
tos, principalmente camponeses e aprendizes das cidades, revoltaram-se contra o domínio da nobreza, 
dos sacerdotes e dos cidadãos mais ricos. 
Na Alemanha central, o movimento exigiu a abolição da servidão e a posse comunitária da terra. 
Lutero manifestou-se contrário ao movimento popular, condenando-o publicamente. Tropas financiadas 
pela nobreza reprimiram o movimento camponês. O saldo da rebelião foi a morte de milhares de pesso-
as, entre as quais Thomas Münzer, que morreu decapitado. 
 
 Reforma e conciliação 
 
Em 1530, Lutero redigiu um documento que fundamentava sua doutrina. Nele, afirmava que a fé 
constituía a única e verdadeira fonte da salvação e que o dogma absoluto da Igreja reformada era o 
texto das Escrituras. Lutero defendia a livre interpretação da Bíblia e sua tradução nas línguas nacio-
nais; ele próprio traduziu a Bíblia para o alemão. 
A doutrina criada por Lutero aboliu a hierarquia eclesiástica e a figura de uma autoridade superi-
or, como representava o papa para a Igreja Católica. Em vez de uma igreja universal, haveria igrejas 
nacionais. Haveria apenas dois sacramentos: o batismo e a eucaristia. Lutero também negou o ato da 
transubstanciação (transformação do pão e do vinho em corpo e sangue de Cristo), sugerindo que o ato 
religioso fosse visto como a bênção sagrada no pão e no vinho, que ele chamou de consubstanciação. 
Em 1555, na tentativa de promover a conciliação com o poder imperial, a nobreza luterana fir-
mou um acordo conhecido como Paz de Augsburgo. O acordo determinou que cada príncipe alemão 
tinha o direito de escolher a sua igreja, assim como a de seus súditos. 
 8
 
 
 
5. JOÃO CALVINO: A PREDESTINAÇÃO ABSOLUTA 
 
A Reforma Protestante na Suíça representou, antes de tudo, uma necessidade burguesa. O país 
estava dividido em cidades-república, como Zurique, Basileia, Berna e Genebra, todas elas importantes 
centros comerciais. O poder político nessas cidades estava nas mãos de uma burguesia nascente, im-
pedida de expandir seus negócios devido às fortes barreiras impostas pela Igreja Católica. O clero com-
batia a liberdade econômica e o crescente lucro dos setores mercantis. A burguesia necessitava, desse 
modo, de novos parâmetros morais, econômicos e religiosos que legitimassem a obtenção do lucro por 
meio do comércio e da exploração do trabalho assalariado. 
Huldrych Zwingli, ardente defensor das ideias de Lutero, foi o iniciador da reforma religiosa na 
Suíça. De formação humanista, ordenou-se padre em 1517, mostrando-se sempre muito crítico em re-
lação aos dogmas da Igreja Católica. Em 1531, quando tentava levar seus ensinamentos a grupos mais 
conservadores, teve início uma guerra civil que provocou a morte em combate do reformador. 
As revoltas religiosas estenderam-se até Genebra, região submetida a um duplo poder político, 
dividido entre o bispo católico local e os duques de Savoia. Os habitantes de Genebra enfrentaram esse 
duplo poder e tornaram-se independentes. A cidade de Genebra foi o cenário para a atuação de um dos 
maiores impulsionadores da Reforma Protestante, o teólogo francês João Calvino (1509-1564). 
Valorizando a disciplina, o trabalho e o acúmulo de riquezas, Calvino ofereceu aos setores bur-
gueses uma justificativa religiosa sólida e bem elaborada para suas atividades. Ao contrário do que 
afirmava a doutrina católica, o lucro passaria a ser visto como sinônimo de salvação. A santificação do 
trabalho, da poupança e do lucro contribuiu para que a doutrina calvinista ganhasse adeptos nas princi-
pais cidades da Suíça e se espalhasse posteriormente por outros núcleos urbanos europeus, impulsio-
nando as atividades mercantis e manufatureiras. Assim, na Inglaterra (puritanos), na Escócia (presbite-
rianos), na França (huguenotes) e em muitas outras regiões surgiram adeptos da fé e da ética calvinis-
ta. 
 
 
Calvino retratado em gravura de autoria desconhecida, s.d. 
 
6. A REFORMA ANGLICANA: CATOLICISMO SEM ROMA 
 
A penetração das ideias de Lutero, e mais tarde de Calvino, nas camadas sociais como a gentry, 
pequena nobreza envolvida com as questões comerciais e nos setores mercantis e profissionais, teve 
repercussões importantes para a história do protestantismo na Inglaterra. 
O início da reforma religiosa inglesa deu-se por iniciativa do rei Henrique VIII, que encontrou 
apoio em seus súditos para organizar a Igreja Anglicana. Em 1527, Henrique VIII solicitou ao papa Cle-
mente VII que anulasse seu casamento com a espanhola Catarina de Aragão para casar-se com Ana 
Bolena. Mas o papa evitava intervir nessa questão, uma vez que Catarina era tia do imperador Carlos V, 
que auxiliava a Igreja no combate aos luteranos. 
Os sucessivos adiamentos do papa levaram Henrique VIII a tomar a iniciativa em 1531, obrigan-
do o Parlamento a votar uma série de leis que submeteram a Igreja inglesa ao controle do Estado. Em 
1534, o Ato de Supremacia proclamou o rei chefe supremo da Igreja Anglicana, podendo nomear os 
eclesiásticos e determinar os dogmas religiosos. A partir de 1536, as terras do clero foram expropriadas 
e vendidas a nobres, comerciantes e fazendeiros, que passaram a ser o sustentáculo político da Igreja 
Anglicana. 
 9
 
 
 
7. A CONTRAOFENSIVA CATÓLICA 
 
A Reforma Católica ou Contrarreforma foi o movimento realizado pela Igreja Católica com o obje-
tivo de combater o avanço do protestantismo e disciplinar o clero católico na atividade religiosa. Para 
isso tomou um conjunto de medidas, entre elas a reorganização do Tribunal do Santo Ofício, também 
conhecido como Inquisição. Durante a Idade Média, a Inquisição tinha por objetivo combater as heresi-
as e as seitas contrárias aos dogmas do catolicismo. Muitas mulheres, consideradas pela Igreja como 
bruxas ou feiticeiras, foram queimadas vivas ou enforcadas em cerimônias públicas chamadas Autos de 
fé. 
A Inquisição moderna, por sua vez, estabeleceu-se com mais força em Portugal, na Espanha e 
na Itália a partir do século XV. Seu principal alvo eram os cristãos-novos,que estavam envolvidos nas 
atividades administrativas e comerciais dos reinos ibéricos. A influência desse grupo gerava conflitos 
com os cristãos-velhos, principalmente entre os membros da nobreza e do clero. Eles também eram 
vistos como uma ameaça à centralização política, uma vez que os soberanos tentavam unificar as leis, 
o território e a religião em seus domínios. A Inquisição também perseguiu os adeptos das igrejas refor-
madas. 
 
 
A INQUISIÇÃO E OS PROTESTANTES 
 
"A perseguição inquisitorial contra os protestantes só se desenvolveu de urna forma sistemática 
durante as décadas de 1540 e de 1550, tanto na Espanha e em Portugal como na Itália. Essa conjuntu-
ra repressiva, que se prolonga até as décadas de 1560 e de 1570 (e mesmo na de 1580, na Itália), para 
se estabilizar em seguida, nunca atingiu, no caso hispânico, o nível de violência observado em face dos 
cristãos-novos. Devemos destacar, contudo, certas execuções de grupos de protestantes, sobretudo no 
ano de 1559 em Sevilha e em Valladolid, que tiveram urna grande repercussão na Europa [...]. Como 
resultado dessa ação, mais ou menos sincronizada nos vários Estados onde a Inquisição exercia sua 
jurisdição, houve um considerável fluxo de refugiados, provenientes sobretudo da Itália e da Espanha, 
para as regiões protestantes da Suíça, da Alemanha e, mais tarde, dos Países Baixos. [...] 
As primeiras narrativas protestantes sobre a Inquisição são estruturadas pela ideia de tirania. Tra-
ta-se, desse ponto de vista, de um poder ilegítimo de inquérito sobre as consciências e os comporta-
mentos religiosos, fundado sobre uma tradição construída fora das Escrituras e contra os ensinamentos 
da Igreja primitiva. A contestação visava não apenas ao poder de inquirir, mas também ao poder de 
julgar: os inquisidores concluíam os processos distribuindo penas, que podiam ir da penitência espiritual 
até a entrega ao braço secular, um eufemismo para a condenação à morte." 
 
BETHENCOURT, Francisco. História das Inquisições: Portugal, Espanha e Itália: séculos XV-XIX. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2000. p. 344-346. 
 
Além disso, por iniciativa do papa Paulo III, a Igreja Católica realizou um dos encontros mais im-
portantes de sua história: o Concílio de Trent°. O Concílio ocorreu entre 1545 e 1563, com algumas in-
terrupções, e teve como objetivo principal posicionar-se diante das doutrinas criadas pelas novas igre-
jas. Entre as decisões tomadas em Trento, destacaram-se a reafirmação dos dogmas católicos, a ma-
nutenção dos sacramentos e a confirmação da transubstanciação, da hierarquia do clero e do celibato 
clerical. 
 
 
Concílio de Trento: encontro do sínodo realizado na Catedral de Trento, gravura de autor desconhecido, 
de 1565. 
 10
 
 
 
O Concílio de Trento também formulou normas para coibir abusos, como a venda de in-
dulgências, e aprovou propostas para a fundação de seminários de teologia, destinados a melho-
rar a formação do clero. Por último, estabeleceu o Index Librorum Prohibitorum, uma lista dos 
livros cuja leitura era proibida aos católicos. Obras como O elogio da loucura, do humanista cató-
lico Erasmo de Rotterdam; Decamerão e todas as novelas de Boccaccio; e o Livro de la oración, 
do respeitado teólogo Frei Luís de Granada, constavam da lista proibitiva. O índex, constante-
mente revisto, foi abandonado apenas em 1966. 
O movimento católico foi ainda reforçado pela estruturação de ordens religiosas, como a 
Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola em 1540. Os jesuítas, como ficaram conhe-
cidos seus integrantes, organizaram-se como um verdadeiro exército para a contraofensiva cató-
lica. Responsáveis por expandir e fortalecer o catolicismo em muitas regiões, transformaram-se 
em educadores e desempenharam papel fundamental na catequese dos povos nativos das colô-
nias portuguesas e espanholas na América. 
 
8. O PREÇO DA FÉ 
 
A reforma religiosa impulsionada por Lutero e Calvino contribuiu decisivamente para a de-
sestruturação das relações sociais predominantes no feudalismo. Em um primeiro momento por-
que, ao criar uma moral econômico-religiosa, contribuiu para reposicionar a burguesia na socie-
dade, legitimando os seus negócios e atribuindo-lhe uma nova imagem. Em seguida, porque pro-
vocou a ruptura da cristandade na Europa Ocidental, abalando o prestígio e a autoridade do pa-
pa, um dos sustentáculos do mundo feudal. 
Os efeitos mais contundentes da Reforma Protestante foram a divisão da cristandade na 
Europa Ocidental, ocidental em diversas tendências hostis entre si. A liberdade de culto, a livre 
interpretação das Escrituras e a substituição do latim pelas línguas locais nas cerimônias religio-
sas foram elementos importantes trazidos pela Reforma. Eles contribuíram para a gênese de uma 
nova maneira de o indivíduo se relacionar com a religião. Entretanto, a liberdade de culto propa-
gada pelo protestantismo não significou, a princípio, liberdade religiosa. A intolerância e a perse-
guição aos adversários também fizeram parte da ortodoxia protestante. 
 
 
 
LEMBRE-SE 
 
 Renascimento foi um conjunto de mudanças que repercutiu nas artes, na ciência e na política. 
O movimento teve sua origem na Península Itálica, no século XIV, e espalhou-se para outras 
regiões da Europa. 
 O humanismo valorizava a liberdade, a capacidade de ação do homem, a criatividade e o espí-
rito crítico. 
 As artes plásticas do Renascimento caracterizaram-se, sobretudo, pelo naturalismo. Imagens 
humanas, paisagens e animais eram exaustivamente estudados antes de serem representa-
dos nas obras de arte. 
 A Reforma Protestante, ocorrida no século XVI, foi liderada pelo monge Martinho Lutero. O 
movimento teve início na Alemanha e depois se espalhou por outros locais da Europa. 
 Na Suíça, as ideias religiosas do teólogo francês João Calvino deram origem à doutrina calvi-
nista, que tem como ponto principal a teoria da predestinação. 
 O rei Henrique VIII foi o responsável pela reforma religiosa ocorrida na Inglaterra. O monarca 
tornou-se o líder supremo da chamada Igreja Anglicana, 
 A Contrarreforma foi um conjunto de ações tomadas pela Igreja Católica com objetivo de disci-
plinar o clero católico, reafirmar os dogmas da Igreja e conter o avanço do protestantismo 
 
 11
 
 
 
 
 
TEXTO COMPLEMENTAR 
 
 
A REVOLUÇÃO PERMANENTE DA IMPRESSÃO GRÁFICA 
 
A imprensa, uma das grandes invenções do período renascentista, 
foi um instrumento fundamental para o desenvolvimento da Reforma Protestante. 
 
"Se a cidade-Estado italiana foi o ambiente 
onde se desenvolveu o Renascimento, sua cor-
respondente alemã, a 'cidade livre', como Nurem-
berg ou Estrasburgo [...] foi o centro da Reforma. 
Martinho Lutero (-1483-1546), favorável a um en-
volvimento mais direto de leigos com as atividades 
religiosas, [...] incentivou a leitura da Bíblia e a 
liturgia em vernáculo - o que envolveu novas tra-
duções. Ele justificava esse envolvimento pelo 
que chamou de 'sacerdócio de todos os crentes', a 
ideia de que cada um tivesse acesso direto a 
Deus sem necessidade de mediação dos clérigos. 
[...] 
O envolvimento do povo na Reforma foi tan-
to causa quanto consequência da participação da 
mídia. A invenção da impressão gráfica solapou o 
que foi descrito, com certo exagero, como mono-
pólio de informação da Igreja medieval, e algumas 
pessoas tinham consciência disso na época. O 
protestante inglês John Foxe, por exemplo, prega-
va que 'o papa deve abolir o conhecimento e a 
impressão gráfica, ou esta, a longo prazo, vai 
acabar com ele'. Como vimos, os papas parecem 
ter concordado com Foxe, e foi por essa razão 
que se criou o Index de livros proibidos. 
Depois que as igrejas protestantes se esta-
beleceram, [...] elas começaram a transmitir suas 
tradições por intermédio da educação das crian-
ças. Peças, pinturas e impressos agora eram re-
jeitados em favor da palavra, fosse ela escrita ou 
falada, Bíblia ou sermão. Por outro lado, na pri-
meira geração [...] décadas de 1520 e 1530,os 
protestantes se baseavam no que pode ser cha-
mado de 'ofensiva da mídia', não somente 
para comunicar suas próprias mensagens, mas 
também para enfraquecer a Igreja Católica, 
ridicularizando-a, usando o repertório tradicional 
do humor popular para destruir o inimigo pelo 
riso. [...] 
Um dos principais objetivos dos 
reformadores era se comunicar com todos os 
cristãos. [...] Nesse sentido, a impressão gráfica 
converteu a Reforma em uma revolução 
permanente. [...] 
Para o desenvolvimento do protestantismo 
a longo prazo, a tradução da Bíblia de Lutei-o foi 
ainda mais importante do que seus panfletos. 
[...] Mais de 80% dos livros em alemão publicados 
no ano de 1532 [...] tratavam da reforma da Igreja. 
[...] 
Eles foram descritos, com algum exagero, 
como um 'meio de comunicação de massa'. [...] 
Como somente uma minoria da população 
sabia ler, e menos ainda escrever, presume-se 
que a comunicação oral deva ter continuado a 
predominar na chamada era da impressão gráfica. 
Ela teve muitas formas distintas em diferentes 
contextos, indo de sermões e conferências em 
igrejas e universidades a rumores e boatos nos 
mercados e tabernas." 
BURKE, Peter; BRIGGS, Asa. Uma história social da mídia: 
de Gutenberg à internet. Rio de Janeiro: Jorge. Zahar, 2004. 
p. 83-86. 
 
Vernáculo: Língua própria de um país ou de uma 
região. 
 
 Compreendendo o texto 
 
1) Quais as estratégias defendidas e empregadas por Martinho Lutero para conquistar fiéis? 
2) De que modo a impressão gráfica representou uma ameaça à Igreja Católica na Idade Moderna? 
3) O texto registra a importância da mídia escrita para a propagação dos ideais dos reformadores cristãos. 
Para as igrejas, a mídia continua sendo um instrumento primordial no trabalho de evangelização? 
Argumente dando exemplos. 
 
 
 
 
 
 
 12
 
 
 
 
 
 
 
1. Você estudou que o movimento renascentista 
revigorou alguns valores que faziam parte da 
tradição da Antiguidade clássica. Em todos os 
campos do saber emergiu uma vitalidade cultural 
que contrariava os valores e padrões da socie-
dade medieval. 
a) Conceitue Renascimento. 
b) Cite e explique duas características do Renas-
cimento. 
 
2. O Renascimento teve início na Península Itá-
lica, numa época em que, na região, já havia 
uma economia próspera, em que os burgueses 
tinham interesses e recursos para investir na 
cultura. 
a) Que fatores contribuíram para o pioneirismo 
da Península Itálica no movimento renascen-
tista? 
b) Identifique o papel dos mecenas nesse pro-
cesso. 
 
3. Os renascentistas consideravam o meio urba-
no o local ideal para o florescimento das artes. 
Nos séculos XV e XVI, as regiões mais urbani-
zadas da Europa Ocidental localizavam-se na 
Península Itálica e nos Países Baixos. 
a) Explique as razões de o ambiente urbano ser 
mais propício para o desenvolvimento da arte 
e da cultura renascentista. 
b) Por que as regiões mencionadas no texto 
eram as mais urbanizadas da Europa Oci-
dental daquela época? 
 
4. Nas diversas transformações ligadas ao ad-
vento do mundo moderno, destaca-se um fe-
nômeno que pode ser chamado de Revolução 
Científica. Tal processo, relacionado aos estudos 
de Copérnico, Galileu, Brahe e Kepler, entre ou-
tros, levou a profundas mudanças nas concep-
ções acerca da construção do saber. 
a) Explique o sentido do termo Revolução Cien-
tífica. 
b) Escolha um dos cientistas apresentados no 
texto e faça urna pesquisa sobre a sua vida e 
obra. Com base nas informações obtidas, 
monte uma ficha biográfica do autor. 
c) Procure juntar ao seu trabalho imagens e cu-
riosidades sobre esse personagem. 
d) Com seus colegas, organize um mural para 
expor os trabalhos da turma. 
5. Explique a teoria da predestinação desenvol-
vida por Calvino e relacione-a com o desenvol-
vimento do capitalismo a partir do século XVI. 
 
6. O teólogo Martinho Lutero foi o primeiro a 
organizar um movimento bem-sucedido contra o 
clero católico. 
a) Cite as principais críticas de Lutero contra a 
Igreja Católica. 
b) Apresente as propostas que fundamentaram 
a doutrina luterana. 
c) Analise a posição de Lutero diante da revolta 
dos camponeses na Alemanha, liderada por 
Thomas Münzer. 
 
7. Caracterize o Concílio de Trento e cite as 
principais decisões estabelecidas nele. 
 
8. Que características do Renascimento obser-
vamos nas obras de Leonardo da Vinci, na pági-
na 170? 
 
9. Releia o texto A Inquisição e os protestantes, 
na página 178, e responda. 
a) A Inquisição limitou-se à perseguição dos 
cristãos-novos? Justifique sua resposta. 
b) Durante a Idade Moderna, a Inquisição con-
trapunha católicos aos adeptos de outras 
crenças, principalmente judeus e protestan-
tes. Hoje, a intolerância religiosa continua a 
causar uma série de conflitos. Você tem co-
nhecimento de algum conflito recente en-
volvendo essa questão? 
, 
10. O gráfico apresenta o perfil das religiões no 
Brasil em 1991 e 2000. Após analisar os dados, 
enumere três informações que você conseguiu 
extrair. 
 
 As religiões no Brasil (1991 e 2000) 
 
 
Fonte: Censo 2000. (IBGE) 
 
EXERCÍCIOS 
 13
 
 
 
A EXPANSÃO ULTRAMARINA EURO-
PEIA E O MERCANTILISMO 
TÓPICOS DO CAPÍTULO 
1. Em busca de novos territórios Pág. 03 
2. O grande apelo do desconhecido Pág. 03 
3. O expansionismo Ibérico Pág. 05 
4. O encontro entre europeus e americanos Pág. 07 
5. O mercantilismo Pág. 09 
 Texto Complementar Pág. 13 
 Exercícios Pág. 14 
 Questões de vestibulares e do Enem Pág. 15 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Capítulo 
14 
 1
 
 
 
 
Imagem criada a partir de software de computador pela equipe do projeto Mars500 com o protótipo do Simulador de 
pressão Rover, veículo que possibilitaria a locomoção dos astronautas em solo marciano. Foto de 8 de abril de 2011. O 
projeto, realizado pela Agência Espacial Europeia (ESA), isolou seis voluntários em um instituto de pesquisas localizado 
em Moscou, Rússia, entre junho de 2010 e novembro de 2011 
 
 
 
 
 
A CONQUISTA DO ESPAÇO 
 
“Pálidos, mas sorridentes, os participantes de urna experiência que simulou urna 
viagem a Marte receberam nesta sexta-feira aplausos e luz do sol, após 520 dias confinados em 
minúsculos espaços sem janelas. 
A experiência Mars500, que custou 15 milhões de dólares, se dispôs a elucidar urna das 
grandes incógnitas das viagens espaciais: se as pessoas conseguiriam permanecer saudáveis e 
equilibradas durante os mais de seis meses de trajeto até o Planeta Vermelho. 
Os seis voluntários, todos homens, se submeteram a condições muito próximas de urna 
viagem real [...]. Eles ocuparam um espaço de 550 metros quadrados em um instituto moscovita 
de pesquisas. [...] 
'É realmente ótimo ver vocês todos outra vez, bem reconfortante', disse o ítalo- -
colombiano Diego Urbina 'Nesta missão alcançamos o mais longo isolamento, de modo que a 
humanidade pode ir para um planeta distante, mas alcançável', acrescentou. [...] 
Especialistas dizem que ainda faltam várias décadas para que seja possível realizar a viagem 
real - o que exige proteger os astronautas da radiação cósmica, fazê-los pousar a pelo menos 56 
milhões de quilômetros e então trazê-los de volta à Terra." 
 
CARBONNEL, Alissa de. Após 520 dias, voluntários concluem simulação de ida a Marte. Reuters Brasil, 4 nov. 2011. 
 2
 
 
 
1. EM BUSCA DE NOVOS TERRITÓRIOS 
 
No início da Idade Moderna, o homem se aventurou pelos oceanos em busca de riquezas e de 
novas terras. Um grande volume de capital foi investido pelos Estados modernos no desenvolvimento 
de tecnologias que possibilitassem viagens tão distantes e incertas. O medo de tudo o que era desco-
nhecido, como o de poder cruzar a linha do Equador sem morrer queimado, as doenças que acometiam 
a tripulação ou o risco de ser atacado por monstros marinhos não impediram as grandes expedições 
marítimas de acontecer. 
Que relação podemos estabelecer entre as grandes navegações do século XV e os projetos que 
visam conquistar o espaço?Que interesses comuns ligam a ESA, a Agência Espacial Europeia, ao fi-
nanciar um projeto espacial como a viagem a Marte, e os Estados modernos que financiaram as expe-
dições marítimas? E, por último, por que o homem estaria interessado em projetos tão arriscados como 
as viagens ultramarinas, no século XV, e a conquista do espaço, no século XXI? Apesar da multiplicida-
de de respostas para essas questões, uma coisa é certa: os impulsos para uma aventura espacial ou 
uma aventura marítima não são, e não foram, apenas comerciais. 
 
2. O GRANDE APELO DO DESCONHECIDO 
 
Quando falamos de expansão ultramarina europeia, devemos considerar a coragem e o espírito 
de aventura dos homens envolvidos nessa empreitada. Se o ser humano não fosse curioso, arrojado e 
criativo, os ousados projetos de exploração do além-mar não teriam tido resultado. No caso da expan-
são ultramarina eram várias as motivações europeias. Entre elas, o desejo de conhecer "as maravilhas" 
narradas pelos poucos homens que puderam viajar para o Oriente naquela época. 
Os relatos de viagens e os textos dos pesquisadores mesclavam realidade e fantasia. O Livro 
das maravilhas, do italiano Marco Polo, e as histórias do francês Jean de Mandeville são bons exemplos 
da união entre o real e o imaginário. 
Os mitos que cercavam o homem moderno, e que estiveram presentes no movimento ultramari-
no dos séculos XV e XVI, tinham suas origens na mentalidade medieval, que relacionava o mito e a 
busca pelo paraíso com motivações religiosas e a procura de riquezas. Essa tradição mítica medieval 
foi fertilizada na modernidade pelo imaginário que cercava a aventura do além-mar. 
 
 
Elefante, burro selvagem, unicórnio e urso, animais que Marco Polo descreveu ter visto na índia, mesclando o real e o imaginá-
rio em seu relato. Essa iluminura faz parte da edição francesa do Livro das maravilhas, c. 1412. 
 
 
MARAVILHAS DE MARCO POLO 
 
“Fez construir, num vale, entre duas montanhas, o mais belo jardim que jamais se viu. Havia 
neste vale os melhores frutos da terra. No meio do parque foram edificadas as mais suntuosas moradi-
as e palácios que Os homens já viram; eram dourados e pintados com maravilhosas cores. No centro 
do jardim havia uma fonte, com muitas bicas, de onde jorravam o vinho, o leite, o mel e ainda a água. 
Havia nesse jardim as donzelas mais belas do mundo; estas sabiam tocar todos os instrumentos e can-
 3
 
 
 
tavam como os anjos, e o Velho fazia acreditar aos seus súditos que aquele reino era o paraíso. E todos 
acreditavam no que ele dizia, porque Maomé deixou escrito que aqueles que fossem para o céu teriam 
todas as mulheres formosas que quisessem ter, e encontrariam ali fontes preciosas, donde sairia água, 
mel, vinho e leite." 
POLO, Marco. Livro das maravilhas. Porto Alegre: L&PM, 1996. p. 69. 
 
 
 
 
 
Bússola de bolso alemã, século XV. e Astrolábio de ouro feito 
por Johannes Stoeffler (1452-1531), século XVI 
 
As grandes viagens de exploração que se inicia-
ram no século XV foram possibilitadas pelo avan-
ço da cartografia e da tecnologia marítima, com a 
invenção da caravela e o aperfeiçoamento dos 
mapas e de instrumentos como a bússola e o as-
trolábio. 
O conhecimento cartográfico, a partir do século 
XV, passou a significar poder e múltiplas vanta-
gens para os Estados modernos, como no caso 
dos portugueses, que no final do século XV lidera-
vam a confecção de mapas. O Estado detinha o 
monopólio do conhecimento cartográfico sob a 
forma de manuais de navegação, os portulanos. 
Esse domínio se manteve até o momento em que 
navegadores e cartógrafos começaram a ser con-
tratados por reinos e companhias de navegação 
rivais. 
 
 
O TRATADO DE TORDESILHAS 
 
A expansão marítima portuguesa e espa-
nhola foi seguida por inúmeras petições (pedidos 
ou solicitações dentro das formalidades Legais) à 
Igreja com o objetivo de proteger o acesso aos 
metais preciosos, às especiarias orientais e às 
oportunidades missionárias do Oriente. 
A Igreja respondeu às petições espanholas 
e portuguesas decretando uma série de bulas 
papais que lhes concediam o monopólio sobre 
determinados territórios. Em 1493, o rei lusitano 
opôs-se aos termos estabelecidos pelo papa e 
exigiu novas negociações. Um acordo foi alcança-
do no ano seguinte, por meio do Tratado de Tor-
desilhas. 
O documento, assinado entre os dois go-
vernos na cidade de Tordesilhas, na Espanha, 
traçava uma linha imaginária 370 léguas a oeste 
das Ilhas de Cabo Verde. As terras localizadas a 
leste dessa linha pertenciam a Portugal e as en-
contradas a oeste pertenciam à Espanha. 
Pode-se dizer que tal tratado amenizou a 
disputa entre os países ibéricos. Mas, quando 
outros países entraram na corrida colonial, não 
houve acordo que os detivesse. Contestando a 
partilha estabelecida no tratado, o rei da França 
Franciscol teria dito: "Gostaria de conhecer a 
cláusula do testamento de Adão que dividiu o 
mundo dessa forma". 
 O Tratado de Tordesilhas (1494) 
 
 
 
 
 
 4
 
 
 
3. O EXPANSIONISMO BÉRICO 
 
Os projetos de expansão marítima dos portugueses e espanhóis atendiam aos interesses de di-
versos grupos sociais e instituições que compunham a sociedade ibérica. As grandes navegações rece-
beram apoio financeiro da nobreza e da burguesia, interessadas na exploração de outras terras e no 
alargamento do comércio; e também dos reis, ansiosos por encontrar novas fontes de renda. A Igreja, 
por sua vez, sonhava em conquistar novos fiéis e em empreender seu trabalho de catequese em territó-
rios virgens, ideais que não se chocavam com a descoberta e a posse de novas terras e riquezas. Co-
mo escreveu Colombo numa carta, o ouro tinha a virtude de enviar almas ao paraíso. 
A verdade é que a Europa do século XV sofria as consequências da escassez de metais precio-
sos para a cunhagem de moedas. A formação das monarquias modernas e a expansão do comércio, 
que em parte encontrava barreiras devido ao monopólio muçulmano, exigiam o aumento da circulação 
monetária, insuficiente para atender às demandas criadas por uma economia e uma população em 
crescimento. As narrativas lendárias a respeito da existência de tesouros no além-mar, principalmente 
ouro e especiarias, aumentavam a cobiça dos europeus, que pretendiam buscá-los a qualquer custo. 
O aumento dos preços das especiarias motivou os europeus a buscarem esses produtos direta-
mente nos seus locais de origem, burlando o monopólio dos muçulmanos das cidades de Gênova e 
Veneza. Portugueses e espanhóis precisavam encontrar o caminho marítimo para as índias, pois isso 
lhes permitiria eliminar os intermediários e aumentar os lucros no comércio de artigos orientais. Os por-
tugueses foram os primeiros a chegar à Ásia navegando pelo Oceano Atlântico. 
O pioneirismo português pode ser explicado pelos seguintes fatores: consolidação precoce da 
monarquia centralizada; relativa escassez de recursos naturais; existência de um grupo mercantil forte e 
enriquecido; liderança em tecnologia náutica; desejo de conversão dos pagãos. 
A primeira conquista dos portugueses no continente africano foi a cidade marroquina de Ceuta, 
em 1415. A seguir, atingiram a Ilha da Madeira (1419) e, entre 1427 e 1431, o Arquipélago dos Açores. 
Em 1440, as explorações ganharam um importante apoio tecnológico com o desenvolvimento das cara-
velas, mais leves e manejáveis. Utilizando caravelas, os portugueses atingiram o Arquipélago de Cabo 
Verde em 1445 e continuaram a explorar a costa africana. 
 
 
Monumento aos descobrimentos, em Lisboa, Portugal. Fotografia de agosto de 2009. A obra, inaugurada em 1960, é uma 
homenagem aos navegadores portugueses. 
 
 5
 
 
 
 Viagens marítimas (séculos XV a XVI) 
 
 
 
O projeto de exploração marítima recebeu novo impulso no reinado de d. João II. Em 1482, Dio-
go Cão chegou à foz do Rio Congo e, nos três anos seguintes, conduziu seus navios mais para o sul. 
Depois foi a vez de Bartolomeu Dias, que, entre 1487 e 1488, conseguiu chegar ao extremo suldo 
continente africano, que passou a ser chamado de Cabo da Boa Esperança. Em 1497, Vasco da Gama 
partiu de Portugal à frente de uma expedição que, no ano seguinte, atingiu Calicute, descobrindo o ca-
minho marítimo para as Índias. 
Em 1500, o nobre português Pedro Álvares Cabral viajou para as Índias como enviado especial 
de d. Manuel, encarregado de estabelecer contatos diplomáticos com os reis daquela região. Pouco 
mais de quarenta dias depois, Cabral aportou na Ilha de Vera Cruz, primeiro nome dado ao Brasil, e 
depois seguiu viagem até a Índia. Ao regressar com a notícia de que havia tomado posse das terras do 
Novo Mundo, ampliando as possessões lusitanas, recebeu várias homenagens. 
Na tentativa de descobrir o caminho marítimo para as Índias, diferentemente dos portugueses, 
os espanhóis optaram por outra rota: a do poente (oeste). 
Cristóvão Colombo, genovês financiado pela Coroa espanhola, chegou à América em 1492 — 
que ele julgava ser parte das Índias. As expedições subsequentes ao Novo Mundo acirraram as dispu-
tas entre Espanha e Portugal. 
A rota ocidental para o Oriente foi retomada em 1519, com a expedição de Fernão de Maga-
lhães, navegador português financiado pela Espanha. Com cinco navios, Magalhães dirigiu-se ao Atlân-
tico sul, atingiu o Oceano Pacífico utilizando a passagem hoje conhecida como Estreito de Magalhães, 
seguiu viagem e, em 1521, chegou às Filipinas, onde foi morto num conflito com os nativos. A viagem 
prosseguiu e, no ano seguinte, sobreviventes da tripulação retornaram à Espanha, concluindo a primei-
ra viagem de circum-navegação. 
Outros Estados, como Inglaterra e França, seguiram os passos dos ibéricos. Assim, foi a serviço 
da Inglaterra que o italiano João Caboto realizou duas viagens ao Canadá, em 1497 e 1498. Em mea-
dos do século XVII, os habitantes de todos esses países já haviam tido contato com a América de al-
guma forma. Essas viagens modificaram profundamente o conhecimento que os homens tinham do 
mundo e de si mesmos, abrindo caminho para novos interesses e maneiras de pensar. 
 
 A viagem de Cabral 
 
Os romanos detinham um conhecimento relativamente extenso da Ásia e da África e alguma no-
ção sobre a existência de um continente além-mar. Esse conhecimento chegou aos árabes e, por oca-
sião do domínio mouro na Península Ibérica, eruditos portugueses tiveram acesso a essas informações. 
Esses dados teriam ajudado Portugal a reivindicar a ampliação, a leste, da linha imaginária traçada pela 
bula papal. 
Esse tema é bastante controverso. Alguns historiadores não acreditam que, ao estabelecer o 
Tratado de Tordesilhas, Portugal estaria preocupado com a obtenção de terras. O interesse dos portu-
 6
 
 
 
gueses residiria na manutenção do monopólio das rotas de navegação do Atlântico sul, que acredita-
vam ser essenciais para o comércio com as Índias. 
Documentos importantes mostram que Cabral não teria sido o primeiro explorador a serviço de 
Portugal a desembarcar em terras americanas, Antes dele, a Coroa portuguesa teria enviado à América 
o navegador português Duarte Pacheco Pereira, em 1498, feito relatado na obra Esmeraldo de situ or-
bis, ou O tratado dos novos lugares da Terra, por Manoel e Duarte, escrito entre 1505 e 1508. 
 
 
“Bem abenturado principe temos sabido e visto como no terceiro anno de vosso reynado do ha-
no de nosso senhor de mil quatrocentros nouenta e oito dondo nos vossa alteza mandou descobrir ha 
parte oucidental passando alem ha grandeza do mar ociano honde he hachada e nauegaada huma tarn 
grande terra firme com muitas e grandes ilhas ajacentes a ella." 
 
CARVALHO, Joaquím Barradas de. Esmeralclo de situ oihis de Duarte Pacheco Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulben-
kian, 1991. p. 182. 
 
A missão de Pereira ficou em sigilo porque ele teria aportado numa área de possessão espanho-
la, na fronteira do Maranhão com o Pará. Dois anos depois, Cabral foi enviado pelo rei à América para 
reconhecer as terras e estabelecer um ponto de apoio português para a chegada às Índias. Os portu-
gueses acreditavam que a distância entre a costa africana e a americana fosse menor. Desfeito o enga-
no, Portugal perdeu o interesse pelas terras. A ideia de que Cabral teria aportado acidentalmente no 
Brasil é contestada por importantes historiadores portugueses e brasileiros. 
 
 
Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 7500, pintura de Oscar Pereira da Silva, 1922. 
 
4. O ENCONTRO ENTRE EUROPEUS E AMERICANOS 
 
As conquistas ultramarinas produziram grandes transformações tanto na Europa como nas Amé-
ricas. O mundo conhecido pelos europeus ampliou-se enormemente. O comércio tornou-se mundial, 
deslocando o eixo econômico do Mediterrâneo para o Atlântico. Os italianos perderam de vez o mono-
pólio comercial, e o declínio das repúblicas italianas acentuou-se. Portugal, Espanha, Inglaterra e Fran-
ça passaram a ocupar papéis de destaque na economia da modernidade. Na Europa, o grande afluxo 
de metais provenientes das colônias americanas provocou uma verdadeira revolução nos preços dos 
produtos. 
Os europeus introduziram na América uma série de animais e plantas até então desconhecidos 
pelos nativos. Do mesmo modo, as instituições políticas, o cristianismo e as doenças acompanharam os 
conquistadores pelo Novo Mundo. 
 
 
EPIDEMIAS NA AMÉRICA 
 
“Naquele tempo, não havia doenças, nem febres, nem doenças dos ossos ou de cabeça [...]. 
Naquele tempo, tudo estava em ordem. Os estrangeiros mudaram tudo quando chegaram. 'De fato, por 
 7
 
 
 
mais saudosismo que possa expressar esse lamento, parece mesmo que as doenças do Velho Mundo 
foram mais frequentemente mortais nas Américas do que na Europa. Um missionário alemão chegou 
inclusive a escrever, no finalzinho do século XVIII, que 'os índios morrem tão facilmente que só a visão 
ou o cheiro de um espanhol Os fazem passar deste para o outro mundo'. Umas quinze epidemias dizi-
maram a população do México e do Peru." 
 
FERRO, Marc. História das colonizações: das conquistas às independências — séculos XIII a XX. São Paulo: Companhia das 
Letras, 1996. p. 219-220. 
 
 
Nativos Americanos tentando tratar pessoas contaminadas com doenças trazidas pelos europeus, como sífilis e catapora. 
Gravura de Theodore de Bry, c. 1590, colorizada posteriormente. 
 
 
PORTUGUESES E INDÍGENAS 
 
“Esses índios são de cor baça e cabelo corredio; têm o rosto amassado e algumas feições dele à 
maneira de chins. Pela maior parte são bem-dispostos, rijos e de boa estatura; gente muito esforçada e 
que estima pouco morrer, temerária na guerra e de muito pouca consideração. São [...] mui desumanos 
e cruéis, inclinados a pelejar e vingativos em extremo [...]. São muito desonestos e dados à sensualida-
de, e assim se entregam aos vícios como se neles não houvera razão de homens, ainda que todavia em 
seu ajuntamento os machos com as fêmeas têm o devido resguardo, e nisto mostram ter alguma vergo-
nha. A língua de que usam, por toda a costa, é uma [...]. Não adoram coisa alguma, nem têm para si 
que há depois da morte glória para os bons e pena para os maus." 
 
GANDAVO, Pero de Magalhães de. A primeira história do Brasil. A história da província de Santa Cruz a que vulgarmente 
chamamos Brasil. Lisboa: Assírio e Alvim, 2004. p. 97-99. (Coleção Sete-estrelo) 
 
QUESTÕES 
 
1) Como o português Pero de Magalhães Cândavo descreveu os indígenas que viviam no Brasil no 
século XVI? 
2) Que sentimento em relação aos povos indígenas predomina na descrição feita por ele? Justifique. 
3) De que forma o fervor religioso dos portugueses aparece no texto? Como podemos relacioná-lo à 
expansão ultramarina? 
4) Na sua opinião, há ainda hoje visões preconceituosas em relação a culturas diferentes? Dê exem-
plos.
 
 O olhar europeu sobre o desconhecido 
 
Quando ocorreu o encontro dos europeus com os povos nativos do continente americano, no fi-
nal do século XV, parece que a reação foi de espanto geral. As características observadas no outro 
eram bem diversasdas que as pessoas estavam acostumadas a ver nos seus iguais. 
 8
 
 
 
A leitura cristã feita do encontro dos europeus com os habitantes da América tinha forte conota-
ção maniqueísta. De um lado, estava o "bem", simbolizado por Deus e pela busca do paraíso; de outro, 
o "mal", representado pelo Diabo e o inferno. A ideia da conquista de novas terras vinha acompanhada 
do objetivo de levar a palavra de Deus para as "criaturas demonizadas" do Novo Mundo, por meio da 
catequese. A crença na existência de uma humanidade inferior nas terras ultramarinas, sustentada pe-
las considerações imprecisas de alguns viajantes, reforçava a lógica de identificação desses povos com 
o demônio. 
Em torno desse tema, articulou-se uma sucessão de representações fantásticas que se trans-
formaram em perfeitas epopeias. O pensamento cristão havia se adaptado à política expansionista, e a 
propagação da fé vinculava-se à empresa marítima. O próprio "descobrimento" do Brasil recebeu uma 
explicação teológica. Para os religiosos portugueses, entre as diversas nações do planeta, Portugal 
teria sido escolhido por Deus para levar a mensagem cristã a todos os povos do planeta. 
 
5. O MERCANTILISMO 
 
A chegada dos europeus ao Novo Mundo foi decisiva para a sistematização da política econômi-
ca característica da Idade Moderna: o mercantilismo. Também conhecido como capitalismo comercial 
ou capitalismo mercantil, o mercantilismo é um conjunto de princípios e práticas econômicas adotadas 
pelos Estados europeus durante esse período. 
A expansão marítima possibilitou que o Oriente e as Américas, até então isolados, se integras-
sem à economia europeia. Essa integração, auxiliada pelo aperfeiçoamento dos transportes com o uso 
de novas tecnologias, iniciou a expansão do comércio em escala mundial. 
Diante desse quadro, pensadores de vários reinos europeus desenvolveram teorias com o objetivo de 
ampliar o potencial do comércio como fonte geradora de riquezas para o Estado nacional. A partir des-
sas teorias traçaram-se diferentes políticas econômicas, destinadas a orientar os governos na condução 
dos negócios do país, com o objetivo de fortalecer a Coroa e enriquecer o reino. 
Sobre o mercantilismo, o historiador Francisco José Calazans Falcon afirma que: 
 
“[...] o mercantilismo deve ser entendido como o conjunto de ideias e práticas econômicas que 
caracterizam a história econômica europeia e, principalmente, a política econômica dos Estados moder-
nos europeus durante o período situado entre os séculos XV, XVI e XVIII." 
FALCON, Francisco J. C. Mercantilismo e transição. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 11. 
 
As práticas mercantilistas adotadas pelos Estados modernos tinham como meta a manutenção 
da balança comercial favorável, isto é, o superávit comercial, obtido com o aumento das exportações 
e a redução das importações. Para que a balança comercial permanecesse positiva, algumas práticas 
foram adotadas por esses Estados. Apesar das diferenças de Estado para Estado, todas essas práticas 
visavam garantir o superávit da balança comercial. 
 
 
Partida de Lisboa para o Brasil, para as índias e para a América, gravura de Theodore de Bry, 1592. Na imagem, o artista re-
presentou a grande movimentação comercial do porto de Lisboa. 
 9
 
 
 
 As práticas mercantilistas 
 
As práticas mercantilistas variaram no tempo e no espaço, ou seja, não foram as mesmas para 
todos os Estados nem foram adotadas em conjunto no mesmo período. Mesmo assim, elas apresenta-
ram, no geral, características comuns, como a intervenção do Estado na economia (com o objetivo de 
regulamentá-la), a busca da balança comercial favorável, o metalismo e o protecionismo alfandegário 
visando o fortalecimento do Estado e a riqueza nacional. 
Os governos que adotaram o colonialismo tinham como preocupação incorporar extensas regi-
ões da África, do Oriente e da América à economia europeia. Para isso, estabeleceram o chamado pac-
to colonial ou exclusivo comercial metropolitano. 
Pelo pacto colonial, a colônia existia em função da metrópole, ou seja, a produção colonial deve-
ria possibilitar lucros elevados aos comerciantes e à Coroa metropolitanos, que monopolizavam as im-
portações e as exportações. A atividade econômica das colônias deveria complementar as necessida-
des da economia metropolitana, sem jamais concorrer com ela. Essa política restritiva foi adotada prin-
cipalmente pelas coroas portuguesa e espanhola. 
 
 O mercantilismo na França 
 
O Estado francês adotou o industrialismo ou colbertismo, termo derivado do nome de Jean-
Baptiste Colbert (1619-1683), ministro das finanças durante o reinado de Luís XIV. As medidas mercan-
tilistas adotadas por Colbert visavam compensar os altos gastos do Estado francês, obrigado a susten-
tar o luxo da nobreza cortesã e frequentemente envolvido em guerras dispendiosas. 
Especialmente durante o século XVII, a França incentivou o comércio e a produção ma-
nufatureira.Tecidos de luxo, malharia, tapeçaria, porcelana, objetos de vidro, armas e papéis passaram 
a fazer parte da pauta de exportações francesas. A exploração das colônias americanas cumpriu papel 
importante no fornecimento de matérias-primas para as manufaturas francesas. 
 
 
Os embaixadores franceses, pintura de Hans Holbein, 1533. Observe a variedade de tipos de II ianufaturas que aparecem 
representados na obra: tecelagem, tapeçaria, bordados, joias, mosaicos, marcenaria, alfaiataria, artes em couro etc 
 10
 
 
 
 
 
 O mercantilismo na Península Ibérica 
 
 
 
Moedas de ouro espanholas do século 
XV. 
O metalismo foi uma característica central do mercantilismo 
dos países ibéricos, principalmente a Espanha. Segundo esse princí-
pio, a riqueza estava diretamente relacionada à capacidade de acu-
mular o máximo de ouro e prata no reino. 
Entre os séculos XVI e XVII, a descoberta de metais preciosos 
na América espanhola levou os espanhóis a adotarem uma política de 
entesouramento dos metais, sem a preocupação de investir as rique-
zas obtidas com a mineração no desenvolvimento das manufaturas. 
Estima-se que 18 mil toneladas de prata e 200 toneladas de 
ouro tenham sido levadas da América para a Espanha entre os sécu-
los XVI e XVII. Embora a extração de metais preciosos da América 
fosse a base do sistema colonial espanhol, o comércio de escravos 
negros, a pilhagem, a agricultura e a pecuária, especialmente a cria-
ção de gado bovino, também se converteram em valiosas fontes de 
riqueza. 
Já Portugal procurou promover o superávit de sua balança comercial, num primeiro momento, 
através do comércio de especiarias orientais. Mais tarde, passou a enfatizar a exploração colonial, prin-
cipalmente em suas terras americanas. A produção de açúcar no Nordeste brasileiro e a exploração 
aurífera na região das Minas nos séculos XVII e XVIII são exemplos de práticas mercantilistas adotadas 
pela Coroa portuguesa. 
 
 O mercantilismo na Inglaterra 
 
Os ingleses optaram pelo comercialismo, baseado no estímulo à produção manufatureira, es-
pecialmente de artigos têxteis. Também houve incentivo ao desenvolvimento da marinha mercante e às 
atividades dos piratas, que pilhavam os galeões espanhóis carregados de metais preciosos. 
A política mercantilista inglesa dos séculos XVI e XVII coincidiu com a expansão marítima e co-
lonial. A Companhia Inglesa das Índias Orientais, organizada em 1600, estabeleceu entrepostos na Ín-
dia e na Indonésia. Posteriormente os ingleses se instalaram na Pérsia (atual Irã), em Bombaim (Índia) 
e na América, tanto nas Antilhas quanto no continente, onde fundaram as Treze Colônias. 
O resultado dessa política expansionista refletiu-se no desenvolvimento do comércio exterior e 
na marinha mercante britânica. Alágien, papel e, principalmente, artigos têxteis passaram a ser exporta-
dos com regularidade pelos ingleses. 
Os Atos de Navegação tiveram enorme importância para o desenvolvimento da marinha mer-
cante britânica no período mercantilista. O primeiro, promulgado em 1651por Oliver Crornwell, estabe-
lecia que as mercadorias que entrassem na Inglaterra só poderiam ser transportadas em navios ingle-
ses ou em navios de seu país de origem. O segundo ato, promulgado em 1660, especificava que o capi-
tão e pelo menos três quartos da tripulação dos navios deveriam ser britânicos. 
 
 
ATO DE NAVEGAÇÃO DE 1660 
 
“ Não mais será lícito doravante carregar num navio, cujo proprietário ou proprietários são, no todo 
ou em parte, estrangeiros, e cuja equipagem não é inglesa pelo menos em três quartos, mercadorias, 
peixes, mantimentos, enviados de um porto ou de um embarcadouro da Inglaterra, da Irlanda ou cio 
País de Gales com destino a um outro porto destes países e reinos da Inglaterra, Irlanda e País de Ga-
les, sob pena de confisco das mercadorias e do navio..." 
 
O Ato de Navegação inglês de 1660. In: DEYON, Pierre. O mercantilismo. São Paulo: Perspectiva, 1973. p. 94. 
 
Os dois Atos de Navegação foram estabelecidos durante o processo revolucionário chamado de 
Revolução Puritana, uma guerra civil que resultou no fim do absolutismo na Inglaterra e na instituição de 
um modelo de Estado voltado aos interesses da burguesia inglesa. 
 11
 
 
 
 
 
As medidas tomadas no período mostraram-se cruciais para o enriquecimento do Estado inglês, 
para a expansão colonial do país e para a vitória sobre seus concorrentes, sobretudo a Holanda, princi-
pal potência marítima da época. 
 
 O mercantilismo nos Estados germânicos 
 
Os Estados germânicos — fragmentados em centenas de unidades, com diferentes tamanhos e 
graus de soberania — adotaram um modelo de política econômica mercantilista totalmente diferente 
dos de outras nações europeias, e que ficou conhecido como cameralismo. Essa expressão origina-se 
do termo kammer (tesouro real) e serve para designar as medidas que pretendiam combater os efeitos 
da divisão territorial excessiva. 
A política econômica adotada pelos cameralistas tinha como objetivo aumentar a riqueza tributá-
vel, isto é, a arrecadação de impostos, e como consequência promover o crescimento da renda dos 
Estados. Por meio de regulamentações, os príncipes dos Estados politicamente mais fortes, sobretudo 
a Áustria, assumiram o controle e a organização da produção agrícola e manufatureira. As exportações 
de matérias-primas e as importações de produtos manufaturados foram proibidas. 
As práticas adotadas pelos Estados germânicos sobreviveram por quase três séculos e contribu-
íram para que estes se aproximassem da autossuficiência econômica no século XIX, quando, liderados 
pela Prússia e sem a participação da Áustria, foram unificados em uma nova entidade política, a Alema-
nha imperial. 
 
 O mercantilismo na Holanda 
 
Na Holanda, uma ativa burguesia mercantil e bancária desenvolveu uma política mercantilista 
apoiada em três sólidos pilares: a Companhia das Índias Orientais e a das Índias Ocidentais, encarre-
gadas de dirigir o comércio holandês em terras coloniais (compras, remessas de ouro, venda das mer-
cadorias recebidas) e de explorar os recursos de territórios ultramarinos; o Banco de Amsterdã, respon-
sável pelo fornecimento de crédito e de moedas de todos os países aos mercadores, para que estes 
pudessem comprar mercadorias de qualquer origem; e uma frota mercante capacitada a transportar 
cargas pesadas ao longo das rotas marítimas. 
Os holandeses desenvolveram ainda várias atividades de transformação. Dentre elas destaca-
ram-se a indústria de lanifícios e tecidos, o tingimento e a tecelagem da seda, o acabamento de tecidos 
ingleses, o corte de diamantes, a cervejaria, a destilaria, a preparação de sal, tabaco e cacau, o traba-
lho de chumbo, o polimento de lentes ópticas, a fabricação de microscópios, pêndulos e instrumentos 
de navegação e a impressão de mapas (terrestres e marítimos) e de livros em diversas línguas. 
 
 
LEMBRE-SE 
 
 A expansão marítima europeia foi impulsionada pelo interesse em encontrar um caminho marítimo 
para as Índias, descobrir novas fontes de riquezas e expandir a fé cristã, além de ser motivada pelo 
espírito de aventura e pela curiosidade dos homens. 
 Portugal foi pioneiro na aventura marítima graças à centralização precoce do poder real, à escassez 
de riquezas naturais em seu território e à existência de um poderoso grupo mercantil interessado em 
investir nas navegações. 
 A descoberta de novos caminhos e novas terras alterou o cenário do comércio mundial. Nesse perí-
odo, muitos Estados europeus sistematizaram novas práticas econômicas, conhecidas como mer-
cantilismo. 
 A intervenção do Estado na economia, o metalismo, a balança comercial favorável e o protecionismo 
alfandegário são algumas características do mercantilismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 12
 
 
 
 
 
TEXTO COMPLEMENTAR 
 
 
O COTIDIANO DAS VIAGENS MARÍTIMAS 
 
Uma viagem oceânica nos séculos XV e XVI era um empreendimento arriscado. 
Os portugueses enfrentavam a fome, as doenças, os perigos e a incerteza. 
Veja no texto a seguir. 
 
“Quando a viagem transcorria sem inciden-
tes, a comida mal bastava para as necessidades 
dos embarcados, mas, se um longo período de 
calmaria, a imperícia do piloto ou qualquer outra 
ocorrência provocassem o alongamento da via-
gem, a fome atingia o navio de modo implacável. 
[...] Embora mais frequentes nas longas viagens 
para a Índia, crises agudas de fome também 
aconteciam em outras rotas, como se pode ler no 
livro de Jean de Léry, que ao deixar o Brasil de 
volta para a Europa viveu o problema em seu na-
vio: [...] 'tivemos que cozinhar camundongos na 
água do mar, com intestinos e tripas'. [...] 
Quando as situações não eram de exceção, 
o principal alimento a bordo era o biscoito. [...] A 
ração diária de cada tripulante era de qua-
trocentos gramas ou pouco mais. Entretanto, a 
qualidade do biscoito servido - o que pode ser 
estendido aos outros alimentos - deixava muito a 
desejar, havendo problemas em sua conservação 
durante as viagens, pois eram 'armazenados em 
paióis pouco (ou nada) arejados, sujeitos pelo 
menos duas vezes a climas equatoriais, quentes e 
úmidos'. [...] 
A água, para beber e cozinhar, também era dis-
tribuída à razão de uma canada por dia, sendo 
armazenada em tonéis ou grandes tanques nem 
sempre apropriados, acumulando bactérias e pro-
vocando a ocorrência de infecções e diarreias. 
 [...] Em meio a tudo isso, proliferavam ratos e 
baratas, disputando aos homens o alimento es-
casso e comprometendo as sempre precárias 
condições de higiene a bordo do navio. 
Dentre as práticas condenáveis - além da 
prostituição, do jogo e da leitura profana - des-
tacavam-se as blasfémias e pragas que a tradi-
ção, agora em correspondência com os registros 
do cotidiano de bordo, sempre pôs na boca dos 
marinheiros. Mais uma tarefa dos padres embar-
cados. [...] 
Para cobrir as blasfémias dos marinheiros, 
as vozes dos padres de bordo levantavam-se em 
ladainhas e orações, e as procissões solenes per-
corriam o convés, na tentativa de combater as 
dores e dificuldades que alimentavam o medo 
coletivo. [...] As procissões quase sempre eram 
feitas depois do pôr do sol, dando-se três voltas 
pelo convés." 
 
MICELI, Paulo. O ponto onde estamos: viagens e 
viajantes na história da expansão e da conquista 
(Portugal, séculos XV e XVI). São Paulo/Campinas: Página 
Aberta/Editora da Unicamp, 1994. p. 151-168. 
 
 
Canada: Unidade de medida de líquido utilizada 
em Portugal no século XVI. Uma canada equivale 
a 2,66 litros. 
 
 Compreendendo o texto 
 
1) Descreva as condições sanitárias de um navio português dos séculos XV e XVI. 
2) Identifique quais eram, de acordo com o texto, as dificuldades de uma viagem atlântica nos séculos 
XV e XVI. 
3) De que forma esses homens combatiam os temores da viagem? 
4) Comente a relação que pode ser estabelecida entre o cristianismo e as viagens ultramarinas. 
5) Na sua opinião, quais tecnologias desenvolvidas posteriormente facilitaram as longas viagens marí-
timas? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 131. O projeto expansionista europeu atendeu a 
múltiplos interesses. Redija um texto sobre os 
grupos envolvidos na expansão ultramarina e 
seus respectivos interesses. 
 
2. Você estudou que a conquista de novas ter-
ras estimulava a imaginação das pessoas e, ao 
mesmo tempo, alimentava o medo do desconhe-
cido. 
a) O que causava mais temor nos viajantes? 
b) Os navios da época ofereciam segurança 
para os navegadores? Justifique sua resposta. 
c) O que estimulou os viajantes a participarem 
das Grandes Navegações? 
 
3. Cite duas consequências da expansão ultra-
marina para as sociedades europeias e duas 
consequências para as sociedades americanas. 
 
4. Leia o texto e faça o que se pede. 
 
"O mercantilismo não é, efetivamente, uma 
política econômica que vise ao bem-estar social, 
como se diria hoje; visa ao desenvolvimento na-
cional a todo custo. Toda forma de estímulos é 
legitimada, a intervenção do Estado deve criar 
todas as condições de lucratividade para as em-
presas poderem exportar excedentes ao máxi-
mo." 
NOVAIS, Fernando. Portugal e Brasil na crise do antigo 
sistema colonial (1777-1808). 2. ed. São Paulo: Hucitec, 
1981. p. 61. 
 
Explique a ideia central do texto, relacionando-a 
às práticas mercantilistas estudadas neste capí-
tulo. 
 
5. Releia o texto do boxe O Tratado de Tordesi-
lhas, na página 04, e anote em seu caderno: 
a) os países que participaram do tratado. 
b) os fatores que motivaram a assinatura desse 
documento. 
c) o que ele estabelecia. 
 
6. Observe o mapa da expansão comercial eu-
ropeia no fim da Idade Média e responda. 
a) Cite quatro centros comerciais que faziam 
parte das rotas terrestres da época. 
b) Cite quatro centros que estavam vinculados 
às rotas comerciais marítimas. 
c) Quais eram as zonas industriais mais desen-
volvidas na Europa no fim da Idade Média? 
 
 Rotas comerciais européias no fim da Idade 
Média 
 
 
 
7. Leia o texto e responda às questões a seguir. 
 
Nasa lança sondas para preparar o retorno 
do homem à Lua 
 
"A Nasa lançou nesta quinta-feira, 18, a 
bordo de um único foguete Atlas 5, as sondas 
LRO e Leross, que estudarão a Lua em busca 
de sinais de gelo e de locais para um futuro de-
sembarque de astronautas. O plano de explora-
ção espacial da Nasa, que se encontra em revi-
são, atualmente prevê o retorno de seres huma-
nos à Lua em 2019, a bordo de urna nova gera-
ção de naves, que começou a ser desenvolvida 
após o desastre do ônibus espacial Columbia, 
em 2003. 
A busca por gelo é parte da prospecção de 
um terreno para urna futura base lunar. Ele seria 
um recurso precioso, fornecendo não só água, 
mas também combustível e oxigênio aos astro-
nautas e reduzindo, assim, a massa total de insu 
mos que teria de ser lançada da Terra para sus-
tentar os habitantes de um posto lunar." 
ORSI, Carlos. Nasa lança sondas para preparar o retorno 
do homem à Lua. O Estado de S. Paulo, 18 jun. 2009. 
 
Que relações podemos estabelecer entre esses 
cientistas e os grandes navegadores dos séculos 
XV e XVI? Que interesses comuns você conse-
gue identificar entre a conquista da Lua na atua-
lidade e a colonização da América no passado? 
Anote as suas conclusões e depois debata o 
tema com seus colegas. 
 
EXERCÍCIOS 
 14
 
 
 
 
 
 
 
 
1. (UFPA) Para o historiador Jacques Le Goff: 
 
“Os homens da Idade Média entram em contato 
com a realidade física por intermédio de abstra-
ções místicas e pseudocientíficas." 
LE GOFF, Jacques. A civiliza çào do Ocidente medieval. 
Bauru: Eduse, 2005. p. 131. 
 
Isto quer dizer que o misticismo e o cristianismo 
dos homens medievais interferiam na sua forma 
de entender o mundo que os cercava e a nature-
za. Sobre a forma medieval de conceber o mun-
do natural, é correto afirmar que aqueles ho-
mens: 
a) eram incapazes de entender a natureza e as 
leis que a governavam, decretando assim o 
atraso da época medieval em relação aos 
tempos de hoje. 
b) tinham uma interpretação simbólica do mundo 
natural, pela qual a fauna e a flora valiam pelo 
que significavam, não pelo que podemos apu-
rar pela experiência científica. 
c) eram herdeiros do mundo grego fundado na 
primazia de um Deus onipotente e oni-
presente, o que marcava a percepção me-
dieval sobre o ambiente, tido como uma mani-
festação do poder de Deus. 
d) tinham uma concepção mecanicista da natu-
reza, entendida como uma máquina perfeita, 
governada por leis e iluminada por Deus. 
e) desenvolveram o processo de matematização 
da realidade natural, fundamento da ciência 
moderna e exata. 
 
2. (UFJF-MG) O islamismo, religião fundada por 
Maomé e de grande importância na unidade 
árabe, tem como fundamento: 
a) o monoteísmo, influência do cristianismo e do 
judaísmo, observado por Maomé entre povos 
que seguiam essas religiões. 
b) o culto dos santos e profetas através de ima-
gens e ídolos. 
c) o politeísmo, isto é, a crença em muitos deu-
ses, dos quais o principal é Alá. 
d) o princípio da aceitação dos desígnios de Alá 
em vida e a negação de uma vida pós- -morte. 
e) a concepção do islamismo vinculado exclu-
sivamente aos árabes, não podendo ser pro-
fessado pelos povos inferiores. 
 
 
 
 
3. (PUC/Campinas-SP) O Império Bizantino, 
ao longo de sua história, apresentou um gover-
no que se caracterizou por: 
a) proporcionar condições sociais que possibi-
litaram eliminar, desde suas origens, o pro-
blema da escravidão. 
b) procurar eliminar suas origens romanas e por 
restringir o poder dos soberanos, que era 
bastante limitado. 
c) apresentar um caráter despótico associado à 
grande influência religiosa, dando-lhe uma 
feição teocrática. 
d) controlar, chegando a eliminar completa-
mente, o poder da burocracia no Estado. 
 
4. (UEL-PR) "[...] o aumento demográfico, 
ocorrido do século XI ao XVI, permitiu uma mul-
tiplicação da nobreza cada vez mais parasitária. 
Seus hábitos de consumo tornaram-se mais exi-
gentes e maiores, o que determinava urna ne-
cessidade de renda cada vez mais elevada. Se-
gue-se, pois, uma superexploração do trabalho 
dos servos, exigindo-se destes um maior tempo 
de trabalho [...]”. 
O texto descreve uma das causas, na Europa, 
da: 
a) formação do modo de produção asiático. 
b) consolidação do despotismo esclarecido. 
c) decadência do comércio que produziu a rura-
lização. 
d) crise que levou à desintegração do feudalis-
mo. 
e) prosperidade que provocou o processo de 
industrialização. 
 
5. (UFV-MG) A formação dos Estados nacio-
nais da Europa Ocidental, durante a Época Mo-
derna (século XV ao XVIII), embora tenha se-
guido uma dinâmica própria em cada país, apre-
sentou semelhanças em seu processo de consti-
tuição. Sobre essas semelhanças, é incorreto 
afirmar que: 
a) politicamente, o regime instituído é a monar-
quia absoluta, do qual a França é o modelo 
clássico. 
b) o clero e a nobreza tinham posição e prestí-
gio assegurados pela posse de terras e esta-
vam sempre juntos na defesa de seus inte-
resses. 
c) em termos sociais, esse período se caracte-
riza pela lenta afirmação da burguesia, que 
estava à frente de quase todos os grandes 
empreendimentos da época. 
QUESTÕES DE VESTIBULARES E DO ENEM 
 15
 
 
 
 
 
d) para fortalecer o Estado, os reis adotaram um 
conjunto de medidas para acumular riquezas 
e desenvolver a economia nacional, denomi-
nado mercantilismo. 
e) a centralização do poder político na Itália ocor-
reu devido à crescente influência da burguesia 
mercantil de Gênova e Veneza. 
 
6. (Fuvest-SP) Nicolau Maquiavel, em 1513, na 
Itália renascentista, escreveu: "Um príncipe não 
pode observar todas as coisas a que são obriga-
dos os homens considerados bons, sendo fre-
quentemente forçado, para manter o governo, a 
agir contra a caridade, a fé, a humanidade, a 
religião. [...] O príncipe não precisa possuir todas 
as qualidades (ser piedoso, fiel, humano, íntegro 
e religioso), bastando que aparente possuí-las. 
Um príncipe, se possível, não deve se afastar do 
bem, mas deve saber entrar para o mal, se a 
isso estiver

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