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Neuza Moreira

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UNIVERSIDADE 
CATÓLICA DE 
BRASÍLIA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO 
 STRICTO SENSU EM GERONTOLOGIA 
 
Mestrado 
 
O SIGNIFICADO DO LÚDICO PARA OS IDOSOS 
Autora: Neuza Moreira de Matos 
Orientadora: Prof. Dra. Carmen Jansen de Cárdenas 
 
 
 
 
 
Brasília 2006 
 
 
2
NEUZA MOREIRA DE MATOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
O SIGNIFICADO DO LÚDICO PARA OS IDOSOS 
 
 
Dissertação submetida ao Programa de Pós-
graduação Stricto Senso em Gerontologia da 
Universidade Católica de Brasília para obtenção do 
Grau de Mestre. 
Orientadora: Prof. Dra. Carmen Jansen de Cárdenas 
 
 
 
 
 
 
 
Brasília 
2006 
 
 
3
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7,5cm 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ficha elaborada pela Coordenação de Processamento do Acervo do SIBI – UCB. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
M433s Matos, Neuza Moreira de. 
 O significado do lúdico para os idosos / Neuza Moreira 
de Matos – 2006. 
 168 f. ; 30 cm 
 
 Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 
2006. 
 Orientação: Carmen Jansen de Cárdenas 
 
 
 1. Idosos - Recreação. 2. Idosos – aspectos psicológicos. 3. 
Enfermagem 
I Cárdenas Carmen Jansen de orientadora II Título
 
 
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Agradecimentos 
 
 
À Prof. Dra. Maria Aparecida Vasconcelos Moura por ter sido minha primeira orientadora do 
PIBIC, que me mostrou o “Paraíso de pedras” que é a pesquisa científica, que me despertou a 
vontade de observar, ler, investigar, formular e, por fim, escrever e publicar. 
 
Ao Cirurgião Dentista Flávio de Oliveira Gomes e a Pedagoga Eliane Cristina Mendes Gomes 
por me manterem no mundo da pesquisa, na fase que não fazia parte dele. 
 
A querida orientadora e “mãe” dessa obra Prof. Dra. Carmen Jansen de Cárdenas que com muito 
“jeito”, respeito e firmeza soube amparar e estimular o prosseguimento de cada fase da 
dissertação. 
 
Ao Prof. Dr. Luiz Otávio Teles Assumpção que me fez amante da arte de escrever, ler e reler, que 
forneceu as bases metodológicas desse edifício, mostrando nas palavras do ilustríssimo 
Graciliano Ramos que escrever é fazer como as lavadeiras fazem com o seu ofício. 
 
Aos idosos da Associação de Idosos de Samambaia do Grupo Nova Esperança e seus 
coordenadores José Muniz de Sousa e Francisca da Providência Souza pelo carinho com que nos 
receberam e pela participação espontânea nos jogos e brincadeiras, com alegria e entusiasmo, 
contribuiram para os objetivos dessa pesquisa. 
 
À Profissional de Educação Física e Mestre em Gerontologia Maria Aparecida Germano Bouzada 
pela dedicação às oficinas, empenho e amizade que moveram essa pesquisa de forma mais leve e 
científica. 
 
Por fim, ao meu Amado Esposo Carlos Eduardo Mendes Gomes, ponto de equilíbrio, 
companheiro fiel e presente, que nunca me deixa esquecer que sou mulher e esposa; que tenho 
família (filhas: Maria Eduarda e Maísa Angélica; Pais, Irmãos, Parentes e Amigos; cachorro: 
Boris); que devemos juntos continuar fazendo caridade, tendo uma religião, estudando outras 
línguas e aprendendo educação financeira; que necessitamos de atividades lúdicas e férias; e que 
acima de tudo devemos ser livres e felizes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6
 
 
RESUMO 
 
 
O lúdico está associado ao ato de brincar e de jogar. Esse estudo utilizou a metodologia 
social de base qualitativa, seguindo o método da pesquisa-ação. A pesquisa foi realizada com 18 
idosos da Associação de Idosos da Samambaia do Grupo Nova Esperança. Teve como objetivos: 
compreender o significado do lúdico para os idosos, conhecer os benefícios apontados pelos 
idosos e adaptar os jogos e brincadeiras durante as dez oficinas lúdicas, com ajuda dos idosos, 
levantando preferências, sugestões e razões das mudanças em cada atividade. 
Os instrumentos utilizados para coleta de dados foram: roteiro de entrevista, avaliação 
coletiva das oficinas, diário de campo e fotografias. Critérios de inclusão: ter mais de 60 anos, 
não ter problemas físicos ou psíquicos comprometedores e freqüentar 70% das oficinas. O grupo 
da pesquisa era composto de 94% de idosos jovens (< 79 anos), 72% do sexo feminino, 65% 
casados, 60% aposentados e 50% com escolaridade até 1ª série. 
O significado do lúdico foi modificado positivamente após a vivência das oficinas de 
jogos e brincadeiras. Os benefícios apontados com abordagem diferenciada da literatura foram: 
estimulação da mente, relembrar o passado, distanciamento do cotidiano e a associação com a 
realidade. O idoso compreende melhor o lúdico quando tem oportunidade de vivenciá-lo. A 
atividade lúdica oferece múltiplos benefícios para essa faixa etária e precisa de adaptações para 
melhor uso na velhice. Os jogos e brincadeiras adaptados para idosos é uma forma de 
estimulação geral, cognitiva e, principalmente, de memória, podendo auxiliar profissionais que 
trabalham com idosos. 
 
 
Palavras chaves: Idoso; Lúdico; Pesquisa-ação; Enfermagem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7
 
 
ABSTRACT 
 
 It is a fact that the playful is associated with the act of having fun and playing. This study 
used the social methodology of qualitative base, followed by the method of “action research”. 
This research was carried out with 18 people from an elderly association, which belongs to a 
group called “New Hope”, in Samambaia. The goals of the research were: understanding the 
meaning of playful for the elders, getting to know the benefits pointed out by the elders and 
adapting the plays and jokes during ten playful workshops with the help of the elders, eliciting 
preferences, suggestions and reasons of the changes in each activity. 
 The tools used for the data collection along the research were: interview outlines, 
collective evaluation of the workshops, a diary with all the procedures and photographs. The 
criteria of inclusion were: Being more than 60 years old, not having compromising physical or 
psychological problems and finally, being frequent in 70% of the workshops. The research group 
was formed by 94% young elders (<79 years old), 72% of them were female, 65% of them were 
married, 60% of them were retired and 50% of them had studied up to the first grade of primary 
school. 
 The meaning of the playful was modified positively after experiencing the games and the 
fun in the workshops. The benefits pointed out with differentiated approach of the literature were: 
stimulating the mind, remembering the past, avoiding thinking about the daily life and avoiding 
association with the reality. Elders have a better understanding of the playful when they have the 
opportunity to experiencing it. Playful activities offer multiple benefits for this age group as well 
as require a couple of adaptations for a better use with elder people’s age group. The games and 
plays adapted for elders are ways of general and cognitive stimulation, mainly of the memory, 
and also will be able to help professionals who work with elders. 
 
Words keys: Elderly; Playful; Action Research; Nursing. 
 
 
 
 
 
 
8
SUMÁRIO 
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 
1.1 – Justificativa.......................................................................................................... 
1.2 – Problema de Investigação.................................................................................... 
1.3 – Objetivos..............................................................................................................09 
11 
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17 
2. METODOLOGIA……........................................................................................... 
2.1 – Classificação da Pesquisa.................................................................................... 
2.2 – Participantes da Pesquisa..................................................................................... 
2.3 – Local das Oficinas............................................................................................... 
2.4 – Instrumentos de Coleta de Dados........................................................................ 
2.5 – Análise dos Dados............................................................................................... 
2.6 – Oficinas Lúdicas.................................................................................................. 
18 
18 
19 
20 
20 
21 
24 
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................... 
3.1 – Envelhecimento, Velhice e Velho....................................................................... 
3.2 – O Universo Lúdico dos Jogos e das Brincadeiras............................................... 
3.3 – Os Benefícios dos Jogos e Brincadeiras.............................................................. 
3.3.1 – Alívio de Tensões e do Tédio........................................................................... 
3.3.2 – Recreação, Prazer, Alegria, Humor e Riso....................................................... 
3.3.3 – Socialização e Integração................................................................................. 
3.3.4 – Criatividade e Beleza........................................................................................ 
3.3.5 – Auto-estima e Auto-conhecimento................................................................... 
3.3.6 – Aprendizagem e Estimulação........................................................................... 
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4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS............................................................ 
4.1 – Caracterização do Campo.................................................................................... 
4.1.1 – Histórico da Associação de Idosos................................................................... 
4.1.2 – Descrição das Atividades Desenvolvidas na Associação de Idosos................. 
4.1.3 – Identificação do Grupo de Idosos Participantes do Estudo............................. 
4.2 – Comparação Entre o Significado do Lúdico no 1º e 10º Dia de Oficina............. 
4.3 – Benefícios dos Jogos e Brincadeiras para os Idosos............................................ 
4.4 – Adaptações dos Jogos e Brincadeiras para os Idosos.......................................... 
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52 
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66 
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS...................................................................... 
5.1 – Identificação do Grupo de Idosos e da Associação............................................. 
5.2 – Comparação entre as Respostas Dadas para o Significado do Lúdico................ 
5.3 – Benefícios das Atividades Lúdicas Apontadas pelos Idosos............................... 
5.4 – Adaptações de Jogos e Brincadeiras, Razões e Preferências dos Idosos............. 
82 
82 
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6. RECOMENDAÇÕES............................................................................................. 107 
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 114 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
ANEXOS 
Anexo A – Carta de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UCB 
Anexo B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 
Anexo C – Roteiro de Entrevista 
Anexo D – Instrumento de Avaliação Coletiva 
Anexo E – Cronograma de Atividades das Oficinas de Jogos e Brincadeiras 
Anexo F – Apostila de Jogos e Brincadeiras 
 
 
 
 
9
O SIGNIFICADO DO LÚDICO PARA OS IDOSOS 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Atividades lúdicas são atividades que geram prazer, equilíbrio emocional, contribuem 
para o desenvolvimento social e levam o indivíduo à autonomia sobre seus atos e pensamentos. O 
lúdico está associado ao ato de brincar e de jogar. Desde as épocas mais remotas, o ser humano 
joga e brinca (HUIZINGA,1938/2001). Segundo Araújo (2000, p. 60) tal como a linguagem e a 
escrita, também o jogo e a brincadeira fazem parte da criação humana. O jogo, por definição 
deste autor, é um exercício ou passatempo recreativo sujeito a certas regras ou combinações, em 
que se dispõe habilidade, destreza ou astúcia. E a brincadeira, segundo Santos Filho (999, p.12), 
um elemento lúdico e da cultura, que pode proporcionar uma riqueza de sentimentos que tem a 
possibilidade de traduzir-se em prazer, satisfação, alegria, vontade de viver, amor próprio e 
autoconfiança. 
Nesta perspectiva, a atividade lúdica pode ser uma dentre os vários aspectos favoráveis à 
melhor qualidade de vida da pessoa idosa, que pode ser alcançada por uma prática lúdica que 
abra as portas para situações estimulantes dentro dos jogos e das brincadeiras, buscando diminuir 
as resistências ao tato, ao contato, ao movimento e ao prazer pela vida. O idoso traz uma 
bagagem de infância, a vivência de jovem e de adulto, e mais ainda, sua experiência atual da 
velhice, o que o leva a possuir certamente um significado do lúdico. Uma nova significação 
positiva do lúdico na fase atual como idoso pode ser uma forma agradável e dinâmica de ter um 
crescimento emocional e social, e mais, uma oportunidade de vivenciar os benefícios das 
atividades lúdicas. 
As mudanças demográficas acarretam mudanças também no estilo de vida das pessoas, a 
necessidade de criação de novos espaços, novos produtos e serviços e, obviamente, a 
reformulação de conceitos e posturas (ZIMERMAN, 2000, p.15). A atividade lúdica pode ser um 
espaço para buscar entender a percepção que os idosos têm a respeito da brincadeira e do jogo, 
enquanto experiências básicas para a vida, interação com sua realidade atual e passada. Pode 
também reviver sentimentos de alegria e contentamento do passado, definindo melhor antigos 
conceitos e dando nova significação a eles. 
 
 
10
A pesquisa realizada nesta dissertação foi de cunho qualitativo, seguindo o método da 
pesquisa-ação. O objetivo central dessa pesquisa foi compreender o significado do lúdico pelos 
idosos através da participação em dez oficinas de jogos e brincadeiras adaptadas para essa faixa 
etária. Os 18 idosos participantes eram da Associação de Idosos de Samambaia do Grupo Nova 
Esperança e as oficinas foram realizadas no galpão onde se reuniam semanalmente. Os encontros 
foram realizados uma vez por semana, com tempo médio de duas horas por oficina, entre os 
meses de Maio a Agosto de 2005. Todos os idosos assinaram o termo de consentimento livre e 
esclarecido, sendo informados dos objetivos da pesquisa e da liberdade que teriam de participar 
ou desistir, de responder ou não a qualquer dos questionamentos. 
Nas oficinas foram utilizados basicamente dois instrumentos de coleta de dados. Uma 
entrevista no primeiro dia de oficina lúdica com perguntas de identificação geral do idoso e uma 
pergunta sobre qual o significado do lúdico (jogo e brincadeira)? Sendo essa pergunta repetida no 
último dia de oficina. As respostas dadas à mesma pergunta no primeiro e décimo dia foram 
comparadas e analisadas quanto à mudança, permanência ou nova significação de conceitos sobre 
o lúdico. O segundo instrumento foi o de avaliação coletiva das oficinas. No início de cada 
oficina foi aplicado coletivamente e gravado as respostas sobre a oficina anterior, sendo 
relembrado os jogos e brincadeiras, abordado sobre quais os benefícios sentidos com as 
atividades, as preferências por determinado, jogo ou brincadeira, além das sugestões e razões de 
mudança em cada atividade lúdica. Os benefícios apontados pelos idosos foram listados e 
comparados com a literatura. As adaptações sugeridas servirampara modificar mais outros jogos 
e brincadeiras. 
A participação dos idosos nas oficinas de jogos e brincadeiras contribuiu para a 
modificação positiva do significado do lúdico entre os idosos. As respostas ao significado do 
lúdico no último dia de oficina foram mais espontâneas, mas completas, com a utilização de 
palavras sobre os benefícios sentidos e com adjetivos sobre a realização das oficinas. O idoso 
compreende melhor o lúdico e o valoriza quando tem oportunidade de vivenciá-lo. A atividade 
lúdica ofereceu múltiplos benefícios aos idosos. As adaptações de jogos e brincadeiras são 
necessárias para o melhor uso na velhice. 
 
 
 
 
 
11
1.1 - Justificativa 
 
Ao se estudar a vida de qualquer povo, das civilizações mais primitivas às dos dias atuais, 
encontra-se sempre como expressão de sua cultura os jogos e as brincadeiras. Para o historiador 
Huizinga (1938/2001, p.3) o jogar é tão antigo quanto o homem, ou até mais antigo, pois os 
animais também jogam e brincam. Os jogos e as brincadeiras com suas variadas formas exercem 
atração em pessoas de diferentes idades, desde tempos imemoriais. As atividades em grupo ou 
individuais que divertem e entretêm são necessárias à constituição psíquica do ser humano 
(MORAES, 1997, p. 41). No cotidiano observam-se pessoas de todas as faixas etárias e classes 
sociais distintas praticarem atividades lúdicas. 
Almeida (1987 – apud MORAES, 1997, p.11) narra que, com a ascensão do cristianismo, 
os jogos foram perdendo o seu valor, pois eram considerados profanos, imorais e sem nenhuma 
significação. Somente a partir do século XVI, os humanistas começaram a perceber o valor 
educativo dos jogos, e os colégios jesuítas foram os primeiros a recolocá-los em prática: 
“Impuseram, pouco a pouco, às pessoas de bem e aos amantes da ordem uma opinião menos 
radical com relação aos jogos”. Moraes (1997, p.42) reforça que os teóricos escolanovistas 
participaram nas mudanças das idéias preconceituosas dos jogos quando passaram a utilizar 
atividades lúdicas com crianças menores nos chamados “jardins de infância”. 
Segundo Moraes (1997, p.41) por ser uma categoria, com propriedades amplas que 
assumem significados distintos, o jogo foi estudado por historiadores (Huizinga, Caillois, Ariès, 
Margolin, Mandon, Jollibert), filósofos (Aristóteles, Platão, Schiller, Dewey), lingüistas (Cazden, 
Vygotsky, Weir), antropólogos (Bateson, Schwartzman, Sutton-Smith, Henriot, Brougère), 
psicólogos e psiquiatras (Bruner, Jolly e Sylva, Fein, Freud, Piaget, Vygotsky) e educadores 
(Chateau, Vial, Alain) em diferentes épocas. 
Hoje a questão do lúdico está encontrando espaço e este fato é constatado pelos diversos 
trabalhos (ARAÚJO, 2000; GUERRA, 1993; KISHIMOTO, 1992 E 1993; PAIVA, 2000) que 
envolvem o ser humano e o lúdico, especialmente na primeira fase da vida. Nas últimas décadas, 
segundo Paiva (2000, p.56) houve um aumento do interesse da comunidade científica em relação 
ao estudo do jogo, haja vista a realização de seminários e congressos internacionais, 
aparecimento de periódicos e livros especializados sobre o assunto, bem como a criação de 
museus dedicados ao brinquedo e a jogos tradicionais. 
 
 
12
A atividade lúdica tem maior concentração de estudos na área de educação física, 
pedagogia e psicologia (BONAMIGO, 1990), sendo as pesquisas voltadas para a infância e para 
o comportamento lúdico infantil, mostrando sua importância no desenvolvimento motor e 
psicológico da criança (ELGAS, 1988 e LANGLEY, 1985). O jogo como esporte e lazer para os 
idosos vêm sendo pesquisados, principalmente, pelos profissionais da educação física. Segundo 
Cabral (1992, p.13) também a sociologia e antropologia estão em processo de reconhecimento da 
seriedade do elemento lúdico, considerando-o de não menor importância que outros temas para a 
compreensão do real. 
O levantamento bibliográfico feito na presente pesquisa encontrou poucos estudos com 
abordagem do lúdico na fase da velhice. O de Huizinga (1938/2001) e Santos (2003) que 
escrevem sobre o lúdico em qualquer fase do ciclo da vida humana; o de Vital (2005), Lima 
(2000), Faria Junior (1999) e Moraes (1997) onde o lúdico é uma opção na metodologia de 
ensino-aprendizagem do idoso; o de Paiva (2000), Santos Filho (1999) e Cabral (1992) e que 
aborda sobre as brincadeiras vivenciadas no passado de idosos e o gosto pelo lazer atual; e o de 
De Gáspari e Schwartz (2005) que aborda a ressignificação emocional do lazer em um programa 
de convivência para idosos. 
O autor Santos Filho (1999, p.3) cita que o mundo do trabalho e da racionalidade 
confinou o lúdico ao mundo infantil, restando à criança a concessão especial do direito de 
brincar. O brincar é um direito da criança, segundo os Direitos da Criança de 1989, adotado pela 
Assembléia das Nações Unidas, a Constituição Brasileira de 1988 e o Estatuto da Criança e do 
Adolescente de 1990. Todos colocam o brincar como prioridade, sendo direito da criança e dever 
do Estado, da família e da sociedade. 
O brincar modificou-se através do século XX, segundo Paiva (2000, p.46) a tal ponto que 
muitas crianças desconhecem o que é “brincar de amarelinha”, “cabra cega” e “brincar de roda”. 
O autor Cabral (1992, p.20) reforça essa idéia, em sua dissertação, quando diz que há décadas 
atrás, entre 1930 e 1960, a natureza oferecia oportunidades lúdicas às pessoas, onde a imaginação 
e a criação substituíam a falta de brinquedos industrializados. Com o desenvolvimento industrial, 
a crescente urbanização e a influência dos meios de comunicação, entre outros, as brincadeiras e 
os brinquedos, muito diversificados, são substituídos rapidamente, transformando-se em mais 
uma atividade de consumo, como outra qualquer. 
 
 
13
Os idosos desse início do século XXI vivenciaram em sua infância os jogos e 
brincadeiras, sendo a criatividade e a vontade de brincar os fatores que ditavam as regras; o pré-
requisito para quem queria participar de jogos, de brincadeiras ou, até mesmo, construir 
brinquedos (CABRAL, 1992, p.21). Tais experiências já vivenciadas em outras fases do ciclo da 
vida lhes trouxeram uma compreensão intuitiva do significado do termo: lúdico. Ao se vivenciar 
em seu atual momento de vida, uma nova oportunidade de contato com jogos e brincadeiras, 
acredita-se que os idosos poderão desfrutar dos benefícios de tais atividades lúdicas e dar novo 
significado ao lúdico de forma positiva. 
Santos Filho (1999, p. 63) cita que é no período da infância que se trabalha com maior 
ênfase o refinamento dos controles neuromusculares. A criança precisa de “mais tempo” para 
empenhar-se em atividades físicas e de divertimento mais diferenciados do que em outros 
períodos, pois há maiores facilidades com um crescente repertório de habilidades motoras, 
ajudando-a a adquirir “competência” nas atividades cotidianas e em etapas futuras. 
Comparativamente, também na velhice surgem os problemas de ordem neuromuscular, de falta 
de estimulação cognitiva, principalmente relacionada à memória, de ócio, de alterações físicas 
gerais, psicológicas e sociais. A atividade física e o divertimento continuam sendo oportunidades 
que podem beneficamente fazer parte do desempenho da pessoa idosa. 
 Quanto aos aspectos físicos, a autora Rauchbach (2001, p. 17 e 20) reforça que à medida 
que se envelhece o desenvolvimento físico do indivíduo se deteriora, tanto estrutural como 
funcionalmente. Contudo, pode-se afirmar que a prática da atividade física e recreativa é um 
componente de essencial benefício e imprescindível para a manutenção da qualidade de vida 
durante o envelhecimento. Estas refletem a vantagem de poderem ser aplicadas em todos os 
estágios da vida, desde que se adaptem devidamente às possibilidades e aos limites de cada um. 
A vivência lúdica para o idoso é de grande importância, a partir do momento em que pode 
proporcionar um contato pessoal necessário para as estimulaçõesdos sentimentos e emoções. 
Santos Filho (1999, p. 67) especifica que os problemas com a idade cada vez mais avançada não 
são apenas sociais, mas deve-se ter uma preocupação com o lazer, o prazer e a satisfação nas 
atividades em que se envolvem. O autor (op. cit., 1999, p.11) comenta ainda que, ao se levar em 
consideração os diversos e contraditórios conceitos do lúdico, mostrando-os como uma das 
competências básicas para a qualidade de vida das pessoas idosas neste terceiro milênio, podem 
se representar à uma nova abordagem para os valores e funções sociais. 
 
 
14
Marcelo et. al.(1997, p.10) relata que os jogos de regra, apresentam características mais 
complexas do que a espontaneidade imediata, atingindo assim, o controle do pensamento 
operatório concreto. Neles existem o prazer do exercício e o domínio das categorias espaciais e 
temporais, bem como, a socialização de condutas que caracterizam a vida adulta. As regras 
determinam a ação dos participantes, estabelecem limites para esta ação e são necessárias para 
que as convenções sociais e os valores morais sejam transmitidos a cada um dos participantes. 
Desta forma, alguns jogos e brincadeiras levam a pessoa a experenciar e a lidar com emoções 
nem sempre agradáveis destas atividades, qual seja a perda e a derrota (ARAÚJO, 2000, p.33). E 
isso, de certa forma, é positivo para o idoso, pois inclui a possibilidade dele ter de superar seus 
conflitos e limitações. 
A proximidade entre as definições de lúdico, atividade lúdica, brincadeira e jogo, e suas 
semelhanças faz justificar o entendimento do lúdico como o sentimento de contentamento, 
concentração e envolvimento profundo, que será alcançado através de atividades lúdicas 
(SANTOS FILHO, 1999, p.71). A atividade lúdica é uma categoria mais abrangente e que 
contempla os jogos e as brincadeiras. Os termos jogos e brincadeiras serão referidos como 
sinônimos1. 
O conceito de velho vem assumindo várias conotações ao longo dos tempos 
(NEGREIROS, 2003, p.18). Desde o ancião respeitável, advindo dos raros patriarcas com 
experiência acumulada e valorizada; ao velho, caracterizando tudo o que está gasto e degradado, 
ou ainda, afetivo-protetor; passando para o idoso, significando pleno de idade, termo respeitoso, 
destinado as camadas mais ricas da população; até terceira idade, que também tem duplo 
significado, como ócio, inutilidade e inatividade (início), ou como idéia de etapa destinada a 
novas oportunidades e prazeres (atual); e mais, quarta idade que é associada à imagem de 
decadência e de perdas de capacidades físicas e psico-sociais. Atualmente há uma clara tendência 
á distinção entre jovens idosos (60 e 79 anos, sadios) e idosos velhos (acima de 80 anos, mais 
frágeis e dependentes). 
______________________________________________________________________
_______ 
1 Na banca de qualificação do mestrado o Co-orientador Prof. Dr. Vicente de Paula Faleiros e a Prof. Dra. Paola 
Biasoli Alves deixaram a sugestão para já na justificativa ser esclarecido a definição de lúdico, atividade 
lúdica, que os jogos e brincadeiras serão entendidos como sinônimos e que o sujeito dessa pesquisa 
será chamado de idoso. Na fundamentação teórica nos itens 3.1 – Envelhecimento, Velhice e Velho e 3.2 - O 
Universo Lúdico dos Jogos e das Brincadeiras as diferenças entre esses conceitos serão melhor detalhados. 
 
 
15
O velho nesta pesquisa será, portanto, chamado de idoso. E a palavra significado, que é 
utilizada no título dessa dissertação e foi utilizada na entrevista com os idosos, será entendida 
como: o sentido; a acepção; a significação; aquilo que uma coisa quer dizer, o sentido das 
palavras; o valor (AMORA, 1998, p.657). 
Como aponta De Conti (2001) a criança desde seu nascimento integra-se num mundo de 
significados construídos historicamente. E através da interação com seus parceiros sociais, 
envolve-se no processo de significação dela própria e de objetos, eventos e situações outras, 
construindo e reconstruindo ativamente novos e velhos significados. Esse processo continua 
durante todo o ciclo da vida. A autora Santos (2003, p.7 e 18) organizadora do livro sobre o IV 
Encontro Sul Brasileiro sobre brinquedoteca realizado em 1998 refere-se também ao lúdico no 
contexto da vida humana: da primeira infância a terceira idade. A ludicidade é estudada como 
algo fundamental no processo de desenvolvimento humano. A atividade lúdica e a vivência 
lúdica contemplando a criança, o adolescente, o adulto e também o idoso, fazendo com que cada 
vez mais se produzam estudos de cunho científico para entender sua dimensão no comportamento 
humano como um todo. 
Sendo assim, verifica-se a importância do lúdico em qualquer fase da vida humana e, 
segundo Santos Filho (1999, p.12), sua quase negação nas fases finais do ciclo da vida. Deste 
modo, conclui-se pela necessidade de estudos que busquem compreender o fenômeno lúdico 
como experiência passada e presente do ser humano. Especialmente nessa última fase do ciclo da 
vida, onde os estudos estão começando e o lúdico pode ter um papel fundamental na qualidade de 
vida na velhice. Os autores Dytz e Cristo (1995) alertam para o fato de que a qualidade de vida, 
nos níveis individual e coletivo, está diretamente condicionada às oportunidades de conhecimento 
e escolha de uma gama de valores, os quais nem sempre pertencem à sociedade onde o ser 
humano se acha inserido. 
 Justifica-se, portanto, entender o significado do lúdico a partir do relato dos próprios 
idosos. A vivência lúdica no cotidiano do idoso possibilita uma modificação positiva do 
significado do lúdico, à medida que revela a alegria no jogar, no brincar e no conviver com outros 
sujeitos sociais. O idoso, portanto, como sujeito participante das atividades lúdicas é o mais 
credenciado para interpretar se uma situação é lúdica ou não, à medida que descobre seus 
benefícios, revela suas preferências, dá sugestões e faz modificações nos jogos e brincadeiras. 
 
 
 
16
1.2 - Problema de Investigação 
 
O idoso traz com o seu envelhecimento vivências sócio-culturais-históricas em relação ao 
lúdico, que podem ou não adquirir novos significados, quando o mesmo vivencia os efeitos 
benéficos das atividades lúdicas por meio de oficinas de jogos e brincadeiras. 
 A reflexão sobre o tema “O significado do lúdico para os idosos” fez-se a partir da 
detecção de problemas como: o preconceito histórico em relação aos jogos, a infantilização do 
idoso, o fato das atividades lúdicas poderem exercer um efeito benéfico em relação à saúde 
físico-mental e a necessidade de adaptações de jogos e brincadeiras para essa faixa etária de 
características tão específicas, pois a literatura é voltada para o mundo infantil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17
1.3 - Objetivos 
 
1.3.1 - Objetivo Geral: 
 
 Compreender o significado do lúdico para os idosos. 
 
1.3.2 - Objetivos Específicos: 
 
- Comparar as significações vivenciadas pelo idoso sobre o lúdico antes e após as oficinas 
de jogos e brincadeiras; 
- Conhecer os benefícios das atividades lúdicas para os idosos; 
- Realizar adaptações das atividades lúdicas antes, durante e após as oficinas, com ajuda 
dos idosos, apontando suas preferências, sugestões e razões das mudanças. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18
2. METODOLOGIA 
 
2.1 - Classificação da Pesquisa 
 
Essa foi uma pesquisa social de base qualitativa, orientada de acordo com o método da 
pesquisa-ação (THIOLLENT, 2000; HAGUETTE, 2000; GOLDENBERG, 1997; BARBIER, 
1985). A pesquisa foi realizada através de entrevista e observação participante, a coleta de dados 
foi realizada no período de Maio a Agosto de 2005. Durante a apresentação dos dados foi 
utilizado as iniciais dos nomes dos idosos. 
O projeto de pesquisa seguiu as orientações do Comitê em Ética de Pesquisa da 
Universidade Católicade Brasília (CEP/UCB) baseado na resolução CNS nº 196/96, que fornece 
as diretrizes da pesquisa envolvendo seres humanos no Brasil. Segue anexa a carta de aprovação 
do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Brasília (Anexo A). O roteiro de 
entrevista e o instrumento de avaliação de cada oficina foram aplicados após prévia leitura do 
termo de consentimento livre e esclarecido e os objetivos da pesquisa para os idosos (Anexo B). 
Durante a realização das oficinas o idoso teve a liberdade de recusar-se a participar ou retirar seu 
termo de consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma ou prejuízo à sua 
pessoa. 
A pesquisa qualitativa favorece o estudo do significado de algo (HAGUETTE, 2000, p. 
64). No caso desta pesquisa do significado do lúdico (jogo e brincadeira). A evidência qualitativa 
é usada para captar dados psicológicos que são reprimidos ou não são facilmente articulados 
como atitudes, motivos ou pressupostos, mas precisa da participação do pesquisador na realidade 
dos sujeitos. O que foi feito neste estudo com a participação da pesquisadora, não só nas oficinas, 
mas também nas reuniões do grupo, nas atividades e conversas após as oficinas, no horário do 
lanche, enfim no convívio semanal. 
Segundo Barbier (1985, p.156) a pesquisa-ação é uma atividade de compreensão e de 
explicação da práxis (ação e reflexão) dos grupos sociais por eles mesmos, com ou sem 
especialistas em ciências humanas e sociais, com o fito de melhorar essa práxis. No caso das 
oficinas lúdicas houve duas profissionais da área da saúde que fizeram o papel do pesquisador-
animador, ou seja, as facilitadoras das oficinas. A Enfermeira Neuza Moreira de Matos, 
mestranda em gerontologia e autora dessa dissertação, trabalhou na seleção e aplicação das 
 
 
19
atividades lúdicas e, junto aos idosos, fez o processo de reflexão e ação dessa atividade e os seus 
significados, aplicando e avaliando instrumentos, mas principalmente, na observação participante 
no cenário de prática. Houve também a imprescindível participação da Profissional de Educação 
Física e Mestre em Gerontologia Maria Aparecida Germano Bouzada, a qual contribuiu para as 
gravações, fotografias, suporte técnico, seleção e aplicação dos jogos e brincadeiras. 
A pesquisa-ação é voltada para a descrição de situações concretas e para a intervenção ou 
a ação orientada em função da resolução de problemas efetivamente detectados na coletividade 
considerada (THIOLLENT, 2000, p.18). A pesquisa-ação não deixa de ser uma forma de 
experimentação em situação real, na qual os pesquisadores intervêm conscientemente. Os 
participantes, entretanto, não são cobaias e desempenham um papel ativo, modificando o meio, 
comentando, dando sugestões e decidindo. Esta participação no caso do idoso foi bem evidente 
durante as oficinas e na avaliação das mesmas. 
O mesmo autor (op. cit., 2000, p.19) esclarece ainda que, na pesquisa-ação, o foco da 
pesquisa está na dinâmica de transformação de uma situação atual numa outra situação desejada. 
No caso desta dissertação, a transformação do significado dos jogos e brincadeiras antes da 
realização das oficinas em um novo significado do lúdico após a participação, e também, o 
aumento da percepção dos idosos sobre os benefícios das atividades lúdicas. 
Esse método de pesquisa tem dois objetivos (THIOLLENT, 2000, p.19): o prático, que é 
contribuir para o melhor equacionamento possível do problema; o de conhecimento teórico, que é 
obter informações que seriam de difícil acesso por meio de outros procedimentos. No caso da 
atual dissertação o objetivo de conhecimento é o que norteará a pesquisa na busca do significado 
e de novas significações do lúdico para o idoso na prática de jogos e brincadeiras durante as 
oficinas. 
 
 
2.2 – Participantes da Pesquisa 
 
Participaram dezoitos (18) idosos da Associação de Idosos de Samambaia do Grupo Nova 
Esperança, tinham acima de 60 anos, de ambos os sexos, que foram matriculados 
espontaneamente nas oficinas de atividades lúdicas, sem restrição física ou mental 
comprometedora e que tiveram participação em 70% ou mais das oficinas. 
 
 
20
2.3 - Local das Oficinas 
 
As oficinas de atividades lúdicas foram realizadas no galpão da Associação de Idosos de 
Samambaia do Grupo Nova Esperança, os quais são parceiros do Projeto Fênix da Universidade 
Católica de Brasília. 
A pesquisa ocorreu durante as oficinas em um espaço físico pré-determinado, que foi o 
galpão onde os idosos se reúnem regularmente. As atividades foram oferecidas ao grupo uma vez 
por semana, com duração em média de duas horas cada oficina, nas terças-feiras ou quintas-feiras 
à tarde das 14:00 às 16:00 horas, no período de Maio a Agosto de 2005. 
Segundo Huizinga (1938/2001, p. 13) a limitação do espaço é outra característica 
importante do jogo. Todo jogo se processa e existe no interior de um campo previamente 
delimitado, de maneira material ou imaginária, deliberada ou espontânea. 
 
 
2.4 - Instrumentos de Coleta de Dados 
 
A combinação de métodos diversos no estudo do mesmo fenômeno tem por objetivo 
abranger a máxima amplitude na descrição, explicação e compreensão do objeto de estudo 
(GOLDENBERG, 1997 e GALLEGO, 2002). Assim, a coleta de dados foi realizada durante as 
oficinas lúdicas por meio de quatro modalidades, sendo estes instrumentos corrigidos e adaptados 
durante todo o processo de trabalho. 
Modalidades de coleta de dados utilizadas: 
1ª) Entrevista individual com cada idoso através da utilização de um roteiro de entrevista 
(Anexo C); 
2ª) Instrumento de avaliação coletiva (Anexo D), que foi um norteador, sendo gravada a 
discussão em grupo sobre a avaliação das oficinas; 
3ª) Observação participante com o uso do diário de campo; 
4ª) Registro fotográfico das atividades. 
O roteiro de entrevista foi aplicado nas entrevistas com cada idoso, sendo um roteiro 
semi-estruturado. Para se referir aos idosos durante a apresentação dos dados, preservando suas 
identidades, foram usadas as iniciais dos nomes dos idosos. Os dados coletados com esse 
 
 
21
instrumento foram: identificação (nome, como gosta de ser chamado, endereço, telefone, grau de 
instrução, estado civil, profissão/ocupação, aposentadoria, data de nascimento, idade e 
restrições); e a pergunta sobre qual o significado de lúdico (jogos e brincadeiras)? Esta pergunta 
foi feita no primeiro dia de oficina e repetida novamente no último dia, para que fosse possível a 
comparação entre as respostas dadas sobre o significado do lúdico antes e depois da experiência 
com as oficinas. Neste instrumento foi colocado o item restrições, a fim de identificar problemas 
de saúde, uso de medicação controlada, restrição física ou mental que o idoso tivesse e que o 
impedisse de participar das atividades lúdicas, ou que, comprometesse a resposta feita às 
perguntas da pesquisa. Também foi feita uma lista de freqüência para verificar a participação de 
cada idoso nas oficinas, pois, por critério da Universidade Aberta da Terceira Idade só recebe 
certificado quem obtiver participação igual ou superior a 70% nas oficinas. 
Os critérios de inclusão dessa pesquisa, portanto, foram: idade (idoso com mais de 60 
anos); não ter problemas físicos ou psíquicos que comprometessem as respostas; e ter participado 
em 70% ou mais das oficinas. Vale ressaltar que os idosos participaram das oficinas de jogos e 
brincadeiras independentes dos critérios de exclusão, responderam a todos os instrumentos, 
inclusive assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Na apresentação e discussão 
dos resultados da pesquisa é que foram considerados os critérios de exclusão acima. 
O objetivo prioritário do pesquisador não é ser considerado igual, mas ser aceito na 
convivência. Esse interagir entre pesquisador e pesquisados, que não se limita às entrevistas e 
conversas informais, aponta para a compreensãoda fala dos sujeitos em sua ação (DESLANDES, 
1994, p.62). Nesse caso, além da entrevista escrita e da vivência da prática lúdica, também existiu 
o contato antes do início das oficinas e após as oficinas, durante o lanche. 
 O instrumento de avaliação coletiva das oficinas foi feito em grupo no início de cada 
encontro, antes da realização da oficina prevista para o dia. Os idosos inicialmente relembravam 
quais atividades foram feitas na oficina anterior, comentaram sobre as atividades de uma forma 
geral, depois as preferências e os benefícios sentidos, por fim as adaptações e sugestões de 
mudança com suas razões. Essa discussão em grupo foi gravada, em fita cassete, sendo 
posteriormente realizada a transcrição das falas, a fim de registrar os relatos no instrumento. 
A observação participante foi realizada em cada oficina, sendo utilizado um diário de 
campo para anotação de comportamentos, impressões e observações feitas pelo idoso antes, 
durante e após as práticas lúdicas. Como cita Deslandes (1994), quando se refere ao diário de 
 
 
22
campo: “ (...) esse instrumento ao qual recorremos em qualquer momento da rotina do trabalho de 
pesquisa (...), é um amigo silencioso que não pode ser subestimado... podemos colocar nossas 
percepções , angústias, questionamentos, informações que não são obtidas através da utilização 
de outras técnicas.” 
 Turato (2003, p. 28) reforça a capacidade do pesquisador em perceber ruído, detalhes, 
minúcias, indícios e pistas são extremamente importantes. Principalmente, no caso dessa pesquisa 
com idosos onde houve atividades práticas e onde se desejou ajustar as atividades lúdicas para a 
faixa etária em questão. Portanto, os resmungos, expressões de cansaço, dificuldade física de 
realização de atividades, forma de segurar os objetos e de se posicionar fisicamente foram 
importantes para o ajuste do tempo e da qualidade do jogo ou da brincadeira para essa faixa 
etária. A percepção e sensibilidade da pesquisadora foram fundamentais para a adaptação das 
atividades durante a realização da mesma. 
A captação das imagens durante a oficina foi feita por registro fotográfico das atividades 
de jogos e as brincadeiras com os idosos. Esse recurso é particularmente importante por se tratar 
de uma atividade prática. A imagem fotográfica das oficinas lúdicas permitiu registrar a beleza do 
jogo e da brincadeira, sua organização e expressões do grupo durante o momento da atividade. Os 
participantes das oficinas tiveram a oportunidade de ver as fotografias das oficinas no último dia 
de oficina do grupo, onde foram expostas em um painel. Após exposição das fotos essas foram 
dadas aos seus membros. Como cita Deslandes (1994) esse registro visual amplia o conhecimento 
do estudo porque nos proporciona documentar momentos ou situações que ilustra o cotidiano 
vivenciado. 
No primeiro dia de oficina foi anexado na Associação um Cronograma de Atividades das 
Oficinas de Jogos e Brincadeiras para Idosos (Anexo E), o qual constou que no último dia de 
oficina houvesse a entrega de um certificado, oferecido pela Universidade Aberta da Terceira 
Idade da Universidade Católica de Brasília a todos os idosos que tiveram mais de 70% de 
freqüência nas oficinas. No último dia também foi feita uma confraternização entre facilitadoras e 
o grupo de idosos. 
 
 
 
 
 
 
23
2.5 - Análise dos Dados 
 
A análise dos dados foi feita da seguinte forma: 
1) Apresentação da identificação do grupo e da Associação a qual fazem parte; 
2) Comparação entre as respostas dadas para o significado do lúdico no primeiro e no 
último dia de oficina, analisando se houve novos significados ou não do lúdico, baseado no 
roteiro de entrevista (Anexo C) e observações de campo; 
3) Lista dos benefícios das atividades lúdicas apontadas pelo grupo de idosos, 
comparando-os com os apresentados na literatura, baseado no instrumento de avaliação coletiva 
das oficinas (Anexo D) e gravações; 
 4) Demonstração de quais foram às adaptações e sugestões de mudanças de jogos e 
brincadeiras apresentadas pelo grupo durante as oficinas, bem como as razões para tais 
modificações e preferências, baseado no instrumento de avaliação coletiva das oficinas (Anexo 
D), gravações e observações de campo. 
Nesta dissertação os materiais analisados fora: à transcrição das gravações, a análise das 
anotações de campo e a avaliação dos instrumentos de coleta de dados (Anexos C e D). As 
respostas dadas e comportamentos observados foram colocados em categorias, feitas de acordo 
com a semelhança das respostas, principalmente quanto aos benefícios dos jogos e brincadeiras 
para os idosos. Barbier (1985, p.169) escreveu que o material a ser analisado é reconstituído 
posteriormente e conservado pelos mais diversos meios técnicos. 
Segundo Deslandes (1994, p.70) as categorias são empregadas para se estabelecer 
classificações. Neste sentido, trabalhar com elas é significativo para os elementos vividos, idéias 
ou expressões em torno de um conceito capaz de abranger o todo. De um modo geral, pode ser 
utilizado em qualquer tipo de análise e pesquisa qualitativa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24
2.6 - Oficinas Lúdicas 
 
A oficina é a forma prática de se fazer algo, é a prática da vivência, da dinâmica de grupo 
ou técnica de grupo (MIRANDA, 1996 e 2000; MILITÃO, 2000). A dinâmica de grupo surgiu 
em 1912, com Jacob Levy Moreno, um jovem estudante de medicina apaixonado por teatro e 
música, que começou a observar crianças brincando nos jardins de Viena. Moreno volta-se para 
os problemas das relações profundas, verdadeiras, significativas entre os seres humanos, 
enfatizando a relação do Eu e o Outro (MILITÃO, 2000, p.22). 
Toda atividade que se envolve com um grupo (reuniões, workshops, grupos de trabalho, 
entre outros) que objetiva integrar, desinibir, “quebrar o gelo”, divertir, aprender, promover 
conhecimento, incitar à aprendizagem, competir e aquecer, pode ser denominada dinâmica de 
grupo, vivências e técnicas de grupo. A vivência será a palavra utilizada para representar essa 
prática das oficinas. As oficinas lúdicas serão as práticas de vivências de grupo. 
As oficinas lúdicas foram compostas por jogos e brincadeiras que foram vivenciados 
pelos idosos. Essa vivência em grupo permitiu descobrir os tipos de jogos e brincadeiras de maior 
preferência dos idosos, as dificuldades de realização e as adaptações para melhor acomodação 
destas atividades aos idosos. A vivência do lúdico permitiu também ao idoso dar novo significado 
ao lúdico ou reforçar o já existente. 
A grande importância das oficinas lúdicas para os idosos foi a estimulação. Estimular, 
segundo Zimerman (2000, p. 35), consistirá em excitar, incitar, instigar, ativar, animar e 
encorajar. Estimulação é um dos melhores meios para minimizar os efeitos negativos do 
envelhecimento e leva as pessoas, neste caso o idoso, a viver com melhor qualidade de vida. Os 
jogos e as brincadeiras permitem criar meios de manter a mente, as emoções, a comunicação e os 
relacionamentos em atividade. 
Santos Filho (1999, p. 68) relata que o mundo lúdico somente se manifesta como forma 
viva e vivida. As oficinas de atividades lúdicas podem ser realizadas em qualquer espaço, 
bastando para isso pessoas dispostas a fazê-lo. Esse mesmo autor (op. cit., 1999, p. 72) refere que 
a possibilidade de ter prazer e satisfação com a vida diária sem se restringir às oportunidades das 
outras pessoas sentirem também, são razões contundentes para vivenciar a ludicidade nas mais 
variadas situações dentro das atividades oferecidas às pessoas idosas. Essa concepção reforça a 
idéia de que o lúdico para ser compreendido, tem que ser vivido, caracterizando uma experiência 
 
 
25
única e individual determinada por cada idoso, à medida que vivencia as atividades lúdicas 
durante as oficinas. 
As atividades lúdicas foram vivenciadas pelos idosos durante dez (10) oficinasde jogos e 
brincadeiras. Cada oficina trabalhou um grupo específico de atividades lúdicas, como segue 
abaixo: 
Oficina nº 1 - Jogos dinâmicos de apresentação e integração; 
Oficina nº 2 - Jogos de percepção e sensibilização; 
Oficina nº 3 - Jogos cooperativos; 
Oficina nº 4 - Jogos competitivos; 
Oficina nº 5 - Jogos teatrais; 
Oficina nº 6 - Brincadeiras de grupo ao ar livre; 
Oficina nº 7 - Jogos de memória; 
Oficina nº 8 - Brincadeiras cantadas; 
Oficina nº 9 - Jogos interativos de leitura e histórias contadas; 
Oficina nº 10 - Jogos dinâmicos de finalização de atividades. 
A forma de classificar os jogos, segundo Guerra (1993, p. 21), varia conforme o objetivo 
de cada autor, eles são agrupados seguindo uma característica específica para fazer uma 
coletânea. O jogo pode ser agrupado: pela natureza da atividade predominante ou pela função 
geral e específica, pela intensidade das atividades do consumo de calorias gastas, pelo interesse e 
necessidades dos participantes, conforme a origem e o fim educativo, de acordo com a idade e o 
desenvolvimento psíquico, pela habilidade manual e pelo uso dos grupos musculares. 
Pretendeu-se nas oficinas seguir uma idéia semelhante à de Guerra (op. cit., p. 20) só que 
aplicado para idosos, ao invés de crianças e de jovens. Ou seja, reviver junto aos idosos as formas 
variadas de brincar e de jogar. Planejar jogos para as horas livres de uma forma sadia e produtiva. 
Escolher jogos com funções diferentes, em que as atividades obedeçam às regras dos jogos ou 
totalmente livre como as brincadeiras; outras com retenção de emoções, percepção e 
sensibilização; ou ainda, a estimulação do corpo e da mente através de jogos competitivos e de 
memória. 
A finalidade da classificação foi permitir aos idosos ter acesso a um número considerável 
de atividades lúdicas e a diferentes tipos de jogos e brincadeiras. A primeira oficina foi composta 
por jogos de apresentação e integração, com a intenção de integrar a pesquisadora ao grupo. A 
 
 
26
última oficina utilizou-se jogos de finalização, que são uma oportunidade de avaliação do 
conjunto de oficinas. Na classificação das oficinas e escolha dos jogos e brincadeiras foram 
levados em conta vários fatores, tais como: idade do grupo, alterações fisiológicas do 
envelhecimento, nível de escolaridade, objetivos da pesquisa, necessidades psico-sociais, nível de 
integração, acesso a quantidade e qualidade de jogos e brincadeiras. As oficinas tiveram os jogos 
e brincadeiras escolhidas e dosadas, cuidadosamente, de modo a não discriminar sexo, raça ou 
credo. 
A idade dos idosos, ou seja, o fato de terem idade acima de 60 anos, possibilita o aumento 
de limitações quanto aos sentidos (tato – contato, visão – cores, audição – músicas, olfato – 
cheiros, paladar – gostos) o que fez se optar por jogos de percepção e sensibilização, que 
estimulam esses sentidos. 
Os jogos de memória foram escolhidos por ser a perda de memória uma queixa comum 
nessa faixa etária. Segundo Zimerman (2000) comenta-se pouco ainda em estimular a 
inteligência, a memória, a capacidade de aprendizagem, os relacionamentos, os pensamentos e a 
auto-estima. A maioria das pessoas só faz exercícios para fortalecer os músculos, para melhor 
condicionar as articulações, como se cuidar da saúde fosse apenas preocupar-se com o físico. 
As alterações fisiológicas do envelhecimento podem influenciar na realização de 
determinadas atividades lúdicas, pois as mudanças físicas do idoso podem exigir adaptação de 
posições, mudança no tipo de atividade (de individual para coletiva), mudança no tamanho dos 
objetos utilizados e até mesmo evitar determinadas atividades por risco de queda e perda do 
equilíbrio. Essas alterações foram consideradas na hora de adaptar os jogos e as brincadeiras para 
os idosos. 
O nível de escolaridade foi considerado em todas as oficinas, ao se evitar ou adaptar os 
jogos e as brincadeiras que dependiam diretamente de leitura, da interpretação do texto e da 
realização de cálculos. Porém, não foi menosprezado o fato de poderem contar história através de 
jogos interativos de leitura e histórias contadas, que dependiam da experiência de vida de cada 
idoso e não do nível de escolaridade. 
Os objetivos da pesquisa estimularam a colocar nas oficinas uma diversificação de jogos e 
brincadeiras e que, consequentemente, ofereceu diferentes benefícios para os idosos. As 
necessidades psico-sociais e de interação dos idosos foram contempladas por meio dos jogos 
 
 
27
cooperativos e competitivos, que trabalham os grupos, a liderança, a ajuda mútua, o espírito de 
competitividade e de vitória, conflitos e companheirismo. 
Segundo Zimerman (2000, p. 15) o indivíduo é, por natureza, um ser gregário. Desde que 
nasce vive em interação com outras pessoas e durante seu desenvolvimento passa por diferentes 
grupos, tendo o idoso, portanto, condições internas e a necessidade de se filiar a um grupo de 
pessoas iguais a ele. Durante a utilização do processo de grupo, visa-se à integração do indivíduo 
ao grupo. As oficinas lúdicas permitirão a convivência, que é a estimulação do pensar, do fazer, 
do dar, do trocar, do reformular e principalmente, do aprender. A convivência permitirá a troca de 
idéias e afeto, durante a participação. As experiências das interações e da convivência fazem 
surgir à oportunidade de mudanças no comportamento e no pensamento, reconhecendo valores e 
normas, embora, diferentes dos seus ou mesmo opostos. 
A seqüência de jogos e brincadeiras que melhor integrasse gradativamente os idosos fez 
com que, os jogos teatrais e as brincadeiras ao ar livre, por exemplo, fossem colocadas depois que 
o grupo já estivesse entrosado entre si, com as facilitadoras e com as atividades lúdicas, pois são 
jogos e brincadeiras que exigem mais integração, atitude e desinibição. 
Cada oficina foi composta por quatro2 tipos de jogos e/ou brincadeiras específicas 
voltadas ao tema da oficina. O último jogo e/ou brincadeira de cada oficina foi utilizado como 
plano de contingência, para os casos em que houve tempo livre, que não houve aceitação do 
grupo, que houve desmotivação ou qualquer outra intercorrência que gerou a necessidade de 
substituição ou acréscimo de atividade. Durante a seleção das atividades foram descartados os 
jogos de azar, de apostas ou qualquer outro que tenha o aspecto de competição estimulada com 
fins de aquisição material, pois alguns idosos podem ter culturalmente o preconceito quanto a 
esses tipos de jogos. 
 
______________________________________________________________________
_______ 
2 Houve três oficinas que não seguiram esse critério de quatro jogos e/ou brincadeiras por oficina. A 5ª oficina 
– Jogos teatrais – que por ter sobrado tempo acrescentou-se mais um jogo, ficando com 5 jogos. A 6ª oficina – 
Brincadeiras de grupo ao ar livre – foi realizada apenas uma brincadeira, mas composta de cinco etapas. A 10ª 
oficina – Jogos dinâmicos de finalização de atividades – que foi colocado apenas dois jogos e realizado apenas um, 
por falta de tempo. No último dia de oficina foi repetido o instrumento de coleta de dados, houve avaliação geral das 
oficinas e confraternização. 
 
 
 
28
A autora Rauchbach (2001, p.69) reforça as idéias apresentadas acima quando enfatiza 
que deve haver flexibilidade em relação ao aspecto psicológico do grupo ou a condições 
ambientais, não devendo ser seguido rigorosamente como planejado e sim, aproveitar o máximo 
as idéias que aparecem na aula, dadas pelo próprio grupo. Deve-se criar situações visando não só 
uma descontração, mas a reeducação para prazer da vida. 
Os encontros foram planejados para serem realizados semanalmente3. A avaliação das 
oficinas foi realizada sempre na oficina posterior, para que houvesse tempo do idoso acomodar as 
idéias e as sensações vividas durante a oficina de atividades lúdicas, sofrendo assim, menor efeito 
da euforia oudecepção causada por determinado jogo ou brincadeira naquele dia de oficina. 
Como afirma Haguette (2000, p. 98) o pesquisador também necessita de tempo para rever 
as entrevistas anteriores e avaliar seus resultados, incorporando questões para o próximo encontro 
ou retornando aos assuntos. Neste caso houve o tempo para escutar as gravações feitas na oficina 
e a leitura das observações de campo. 
A escolha definitiva dos jogos e brincadeiras da próxima oficina baseou-se nas sugestões 
das oficinas anteriores. Os comentários espontâneos individuais ou coletivos, feitos antes, durante 
e após a oficina (período do lanche), na avaliação grupal (instrumento específico que segue no 
Anexo D), na escuta das gravações, leitura das transcrições das oficinas anteriores e na leitura das 
anotações de campo foram feitas pela pesquisadora. 
As oficinas de jogos e brincadeiras para idosos foram organizadas de forma que as 
atividades lúdicas que exigem mais aproximação do grupo, como jogos teatrais, jogos ao ar livre, 
brincadeiras cantadas e jogos interativos fossem colocadas depois de oficinas como: jogos 
dinâmicos de apresentação/integração, jogos percepção/sensibilização e jogos cooperativos, a fim 
de tornar o ambiente mais próximo do familiar. Takavar (1988 – apud SANTOS FILHO, 1999, 
p.59) coloca que as razões do comportamento lúdico vêm em conseqüência do meio ambiente 
familiar e da ausência de demandas das necessidades biológicas e sociais. As oficinas lúdicas, 
portanto, ofereceram o meio para o idoso vivenciar o jogo e a brincadeira. 
 
 
______________________________________________________________________________ 
3 Houve um espaço bem maior que uma semana, entre a 7ª e 8ª oficina, a 9ª e 10ª oficina, que será mensionado na 
discussão dos resultados. 
 
 
 
29
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
3.1 - Envelhecimento, Velhice e Velho 
 
A partir do entendimento dos diversos aspectos inerentes ao envelhecimento, à velhice e 
ao velho, haverá subsídios para entender o conceito, os preconceitos e atitudes de pessoas e da 
sociedade em relação ao velho. Esse entendimento favorece a conquista do que falta para uma 
qualidade de vida nessa faixa etária e uma velhice bem sucedida. Também se faz refletir sobre a 
possibilidade de atividades prazerosas e lúdicas como fator de grande importância nos trabalhos 
desenvolvidos com idosos. 
Uma das primeiras representações gráficas do envelhecimento, segundo Leme (2001, p.9), 
veio do Egito: o hieróglifo que significa “velho” ou “envelhecer”, encontrado a partir de 2.800-
2.700 a.C. representa uma pessoa deitada, com ideograma representativo de fraqueza muscular e 
perda óssea. Durante o período hipocrático da história grega, cerca de 500 anos a.C. a teoria 
predominante de envelhecimento dizia a respeito ao calor intrínseco. Esse calor poderia ser 
reforçado ou restaurado, mas nunca ao nível inicial, assim, a reserva total diminuiria até a morte 
da pessoa. 
O processo de envelhecimento é uma das preocupações da humanidade desde o início das 
civilizações. No século II a. C, em De Senectude Cícero afirma que a velhice não é feita apenas 
de declínio e perdas, mas abriga muitas oportunidades de mudanças positivas e de um 
funcionamento produtivo. Porém, descreve Netto (2002, p. 2), que somente no século XX 
marcou-se definitivamente a importância do estudo da velhice, com o surgimento da 
gerontologia, gero (velho) logia (estudo ou conhecimento) criada por Elie Metchnikoff (1903) e a 
geriatria, surgida com Ignatz L. Nascher (1909) que é a especialização médica que estuda as 
patologias na velhice. 
A gerontologia estuda as mudanças que acompanham no processo de envelhecimento do 
ponto de vista físico, psicológico e sociológico, preocupado-se também com a adaptação do 
indivíduo as várias transformações que vão ocorrendo com a idade, as implicações da 
personalidade e da saúde mental nesse processo (ZIMERMAN, 2000, p.15). 
Envelhecer nos dias de hoje não é mais exceção, é regra, caracterizando um momento de 
transição demográfica e um rápido envelhecimento populacional. Nos últimos trinta anos, com o 
 
 
30
aumento do conhecimento científico sobre os determinantes e as características desse processo 
acontece uma lenta e gradual mudança de mentalidade em relação à velhice, no sentido de ser 
considerada uma fase de desenvolvimento e não, exclusivamente, uma etapa de perdas e 
incapacidades. Para Néri (2000, p.22) aumenta a consciência de os idosos poderem sentir-se 
felizes e realizados e, quanto mais forem atuantes e estiverem integrados em meio social, menos 
ônus trarão para a família, o serviço de saúde e a sociedade. 
O envelhecimento não possui um marcador bio-fisiológico de seu início, sendo 
arbitrariamente fixado mais por fatores socioeconômicos e legais. O envelhecimento, segundo 
Neri (2001, p.69), é o processo de mudanças universais pautado geneticamente para a espécie e 
para cada indivíduo, que se traduz pela diminuição da plasticidade comportamental, em aumento 
de vulnerabilidade, em acumulação de perdas evolutivas e no aumento da probabilidade de morte. 
O ritmo, a duração e os efeitos desse processo comportam diferenças individuais e de grupos 
etários, dependentes de eventos de natureza genético-biológica, sócio-histórica e psicológica. 
Santos Filho (1999, p.26) faz ressalva sobre o conceito biológico apresentado acima, 
citando que, como qualquer outra idade, as barreiras à funcionalidade dos idosos são fruto das 
deformações e dos mitos sobre a velhice, mais do que reflexo de deficiências reais. A velhice 
encarada como uma etapa vital é considerada mais equilibrada, baseando-se no reconhecimento 
de que o transcurso do tempo produz efeitos na pessoa, que entra numa etapa diferente das 
vividas previamente, possuindo, ainda, uma realidade própria e diferenciada das anteriores, mas 
não menos importante. 
Neri (1995, p.29) comenta que existe uma etapa posterior ou mais acentuada do 
envelhecimento, fase que se refere ao aumento da probabilidade da morte com o avanço da idade, 
a qual se caracteriza por mudanças incapacitantes e comprometedoras, capazes de afetar 
decisivamente a estabilidade e a própria vida, mas que essa etapa sofre várias influências. Santos 
Filho (1999, p.29) cita que os principais fatores que influenciam o envelhecimento do nosso 
corpo são o tempo, a hereditariedade e o meio ambiente, sobre os quais nós temos muito pouco 
controle. Contudo, outros aspectos da vida, tais como a dieta, o estilo de vida e o nível de 
exercício podem afetar beneficamente o processo de envelhecimento e aumentar nossa qualidade 
de vida e bem estar. 
Monteiro (2004, p. 86) acredita que se a velhice pudesse se caracterizar apenas como uma 
época de perdas, o idoso teria necessidade de um narcisismo suficientemente forte para atravessar 
 
 
31
este período sem cair na depressão. Assim, continua a autora (op. cit., p.87), as atividades de 
grupo e relações sociais de troca permitem que cada um volte a conhecer aquilo que está 
esquecido, permitindo que o indivíduo reconheça que, ele tem uma necessidade vital de ser 
reconhecido pelos outros. No grupo com idosos o importante não é interpretar, mas sim assegurar 
novamente a confiança, proporcionar abertura e ajudar a operacionalizar mudanças que levem ao 
envelhecimento bem sucedido, como cita Néri (2000). 
A respeito do envelhecimento bem sucedido, citado por Néri (op. cit., p. 26 e 28), em seu 
livro “A boa velhice”, este se relaciona a: auto-aceitação, relações positivas com os outros, 
autonomia, domínio sobre o ambiente, propósito na vida e crescimento. Acrescenta ainda as 
estratégias para alcançar uma velhice satisfatória: engajar em estilo de vida saudável; realizar 
atividades educacionais, motivacionais e de laços psicoafetivos; encorajar flexibilidade individual 
e social; cultivar novos hábitos; aperfeiçoar habilidades sociais; engajar-se em atividades 
produtivas;e desenvolver uma filosofia que dê significado para a vida. Os benefícios 
proporcionados pela atividade lúdica contemplam aspectos sociais, emocionais e motivacionais, e 
tem uma estreita correlação com envelhecimento bem sucedido e as estratégias para alcançá-la 
comentado pela autora op. cit. 
Na tentativa de se compreender o envelhecimento, várias teorias foram formuladas ao 
longo dos anos. Há três gerações de teorias que se complementam entre si, tendo todas, no 
entanto, limitações e críticas (SIQUEIRA, 2002, p.49). Vale ressaltar, dentre essas três teorias, a 
teoria da atividade proposta por Havighurst (1968) que diz que o declínio das atividades físicas e 
mentais, geralmente associada à velhice, é fator determinante das doenças psicológicas e do 
retardo social do idoso. Nessa teoria as atividades de grupo, em especial as atividades físicas e 
lúdicas encaixam-se perfeitamente, como forma de proporcionar melhor qualidade de vida aos 
idosos, por serem estimulantes do corpo e da mente. 
 Entende-se aqui por qualidade de vida o conceito apresentado pela OMS (2002, p. 79) que 
reforça que à medida que as pessoas envelhecem sua qualidade de vida se ver determinada em 
grande parte por sua capacidade de manter a autonomia e a independência. Refere que qualidade 
de vida é a percepção individual da própria posição na vida, dentro do sistema cultural e de 
valores em que se vive, e em relação com seus objetivos, esperanças, normas e preocupações. É 
um conceito de amplo espectro, que incluem de forma complexa a saúde física da pessoa, o 
 
 
32
estado psicológico, seu nível de independência, suas relações sociais, suas crenças e sua relação 
com o ambiente que o cerca. 
Quanto aos aspectos psicológicos, Rauchbach (1990) e Meirelles (1997 - apud SANTOS 
FILHO, 1999, p.31) evidenciam que o processo do envelhecimento é dinâmico e 
extraordinariamente complexo, sendo influenciado por fatores individuais que afetam o equilíbrio 
psicológico. Neste sentido, se destacam algumas dimensões características desta situação como: a 
aceitação ou recusa da situação de velho; acolhimento ou rejeição pelo meio; atitude hostil ante o 
novo; diminuição da vontade, das aspirações e da atenção; enfraquecimento da consciência; 
apego ao conservadorismo; deterioração da memória; além das anomalias do caráter, como a 
desconfiança, irritabilidade e indocilidade, estreitamento da afetividade, ocasionando dessa 
forma, as tensões psíquicas. 
No século XX a velhice passou a fazer parte de uma visão do envelhecimento dentro do 
conceito biológico e social. O surgimento de uma pressão social maior negando a velhice, 
correlacionando-a como uma fase de oposição à produtividade e a juventude, o que gerou uma 
conotação negativa. Vários conceitos de velhice com tal conotação são encontrados na literatura 
como cita Alves (1989, p.32): “velhice é uma caracterização da perda dos ideais da juventude, da 
dessintonização com a mentalidade de seu tempo, do desinteresse pelo cotidiano, da perda do 
humor, da desconfiança no futuro e do desamor ao trabalho”. Muitos mitos, portanto, aparecem 
sobre o envelhecimento, a velhice e o velho (LEME, 2001). 
Neste início do século XXI a negação da velhice continua, evidencia-se a valorização da 
pessoa que consegue disfarçar a idade física (cronológica), elogiando-se aquelas pessoas que tem 
65 anos com uma aparência de 50 anos; ou afirmando que se é velho por fora e jovem por dentro. 
Como refere Beauvoir (1990) o velho é sempre o outro, sendo difícil se reconhecer como velho. 
Zimerman (2000, p.20) esclarece também que a maior parte das características do velho não são 
peculiaridades de uma faixa etária. Uma pessoa não passa a ter determinada características de 
personalidade porque envelheceu, ela simplesmente mantém ou acentua as que já possuía antes. 
As perspectivas apresentadas acima proporcionam uma concepção contraditória da 
velhice considerada pela sociedade, como mostra Brito (1992 – apud SANTOS FILHO, 1999, p. 
17). Esse autor ainda reflete sobre a falta de preparo para ver e sentir a velhice como apenas uma 
etapa da vida, uma contingência, um acontecimento circunstancial e natural, ocasionado pelos 
 
 
33
anos vividos, isto é, como um processo dinâmico e progressivo onde ocorrem mudanças 
morfológicas, biológicas, fisiológicas, sociais e psicológicas. 
O critério cronológico é mais comum para demarcação do que seja idoso (CAMARANO, 
2004, p.4). A Organização mundial da Saúde (OMS, 2002), a Política Nacional do Idoso com a 
lei 8.842 de 4 de janeiro de 1994 (BRASIL, 1996) e o Estatuto do Idoso com a lei 10.741 de 1º de 
outubro de 2003 (RAMOS, 2005) consideram como idosos as pessoas com 60 anos ou mais, se 
residem em países em desenvolvimento, com é o caso do Brasil, ou com 65 anos ou mais se 
residem em países desenvolvidos. 
 Gobbi (1997, p.46) reafirma esta realidade dizendo que o envelhecimento está associado a 
declínios nas dimensões múltiplas e interdependentes do ser humano, mas, não é menos verdade 
que a participação ativa atenua significativamente tais declínios em todas as dimensões 
(psicossociais e motoras). Ele destaca ainda que o ser humano pode chegar a idades avançadas 
gozando de independência funcional, alto grau de estima e auto-estima e integração social. 
Os adultos necessitam de atividades de lazer esporadicamente. Até mesmo o trabalho feito 
com prazer é alegre e fica tão divertido quanto um jogo. Essa necessidade de lazer recorda-nos 
uma dimensão lúdica de alegria e de sonhos de que todos precisam na infância e na idade adulta. 
Sabe-se que, momentos de lazer, em geral, são significativos e necessários (MORAES, 1997, p. 
1). Para o idoso as atividades de lazer não são menos importantes, os benefícios tragos com as 
atividades lúdicas são muito bem vindos nessa fase da vida que segundo a socióloga Eclea Bosi 
(1994) é acompanhada muitas vezes por descaso, solidão, pobreza, tristeza e sofrimento, ou seja, 
muito pouco prazer. 
Erikson (1998, p.23) comenta que a atitude habitual em relação aos anciões na nossa 
sociedade é espantosa. Embora documentos históricos, antropológicos e religiosos registrem que 
os anciões longevos de épocas antigas eram aplaudidos e inclusive reverenciados, a resposta 
deste século, especificamente no mundo ocidental, aos indivíduos velhos geralmente é de 
escárnio, palavras de desprezo e inclusive repulsa. Quando é oferecida ajuda, ela tende a ser 
exagerada. O orgulho fica ferido e o respeito corre risco. Aos idosos é oferecida uma “segunda 
infância” nem um pouco divertida. 
Moraes (1997, p.42) e Santos Filho (1999, p.39, 40 e 73) ressaltam que descansar é 
importante, o colher os frutos também, mas só isso não basta para esse período da vida em que o 
indivíduo adquiriu toda a experiência, uma vivência e que tem muito ainda a dar e a receber, e 
 
 
34
principalmente a trocar. O idoso precisa continuar a viver, lutar e crescer. O crescimento não é 
nem em tamanho, nem em competência profissional, mas sim, na vida afetiva, social e 
intelectual. Uma das causas que prejudicam o cotidiano das pessoas, neste período, é a falta de 
preparação para esta fase da vida. Muitas vezes, à perda de status e à conseqüente desvalorização 
social faz com que o direito à aposentadoria e ao uso do tempo livre se torne não um benefício, 
uma conquista, ou até um prêmio, mas um período indesejável, carregado de tédio, 
marginalização e de preocupação econômica para muitos. Uma das conseqüências do despreparo 
para ocupar o tempo livre favoreceu a veiculação de uma imagem deformada de velhice, onde a 
pessoa idosa se sente conformada, inútil, desvalorizada, bastando para ela apenas estar com 
saúde. 
Com maior acesso à informação e à participação ativa em diferentes vivências, segundo 
De Gáspari e Schwartz (2005) outra marca da sociedade globalizada, o idoso vem tendo 
oportunidades, nos mais diversos âmbitos, inclusive nocontexto do lazer, de ressignificar sua 
existência, sua aprendizagem, sua importância como cidadão detentor de direitos e garantias 
legais, seu envelhecimento, sua própria velhice e os níveis de sua efetiva participação dentro da 
sociedade. O idoso parece estar, também, se conscientizando sobre a importância de adotar 
hábitos saudáveis de alimentação, de praticar exercícios físicos regulares, de estar inserido em 
programas de valorização e convívio social e de buscar por atividades mais significativas como 
forma de preservar e melhorar sua vida, sua saúde e seu bem-estar. 
Os mesmos autores relatam que aquelas imagens de inércia, sedentarismo, acomodação, 
tristeza, indisposição, fadiga, dores sem fim, isolamento, depressão e falta de perspectivas diante 
desta etapa de vida, paulatinamente, vão perdendo espaço para a crescente participação e adesão 
às inúmeras oportunidades que são oferecidas ao segmento idoso nos espaços públicos e/ou 
privados, formal e/ou informal. Este fato vem chamando a atenção da sociedade porque, em cada 
espaço/lugar dos parques e jardins, teatros, cinemas, restaurantes, família, escola, partidos 
políticos, igreja, equipamentos de esporte, recreação e lazer, pode-se constatar a presença do 
idoso. O idoso está cada vez mais consciente de sua capacidade de reverter o atual quadro de 
exclusão social que o estigmatiza à condição de cidadão de segunda categoria e modificar os 
patamares de sua qualidade de vida. 
Os estudos de Zimerman (2000) e Lima (2000) sobre o envelhecimento apontam que as 
pessoas idosas querem aprender o novo, mas querem fazê-lo em ambiente descontraído, propício 
 
 
35
à troca de experiência, o que não exclui a seriedade com que se propõe a aprender. Portanto, 
estimular os idosos a desenvolverem novas ou recuperar capacidades pode ser feito através de 
situações livres de pressões. Vale ressaltar também a importância de desenvolver um 
planejamento de atividades que proporcionem a convivência com outros idosos, sendo que os 
esportes e a recreação auxiliam nesse processo. 
Resume-se, então, que a abordagem sobre envelhecimento, velhice e velho vem se 
modificando ao longo dos tempos. Existem visões díspares quanto aos aspectos biológicos, 
psicológicos e sociais do envelhecimento, com várias teorias formadas sobre o assunto. A velhice 
bem sucedida está relacionada a muitos fatores, como a participação cotidiana e social ativa, 
hábitos alimentares, atividade física e de lazer. As atividades lúdicas podem revelar aos idosos 
novos sentidos e benefícios. Segundo Santos Filho (1999, p.35) algo fundamental para qualidade 
de vida do idoso é respeitar a necessidade da prática prazerosa e recreativa das atividades lúdicas, 
em uma sociedade, que muitas vezes, nega a vivência do lúdico nessa faixa etária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3.2 - O Universo Lúdico dos Jogos e das Brincadeiras 
 
O lúdico possui um universo de linhas de investigação e de abordagens diferenciadas. 
Vários são os autores (HUIZINGA, 1938/2001; MORAES, 1997; SANTOS FILHO, 1999; 
VITAL, 2005) que buscam uma definição do lúdico e outros consideram apenas a possibilidade 
de identificar algumas características. Autores como Paiva (2000, p.46) e Huizinga (1938/2001, 
p.21) reforçam essa dificuldade de conceituar o lúdico, mas citam as características lúdicas que 
são: ordem, tensão, movimento, mudança, solenidade, ritmo e entusiasmo. Santos Filho (1999, p. 
68) acredita que, quando se pensa em falar sobre um tema como o fenômeno lúdico, deve-se está 
preparado para encontrar um universo diverso, complexo e contraditório. O que torna o tema 
apaixonante e uma oportunidade de descobrir alguns segredos da ludicidade. 
O termo lúdico vem do latim e cobre todo o terreno do jogo com uma única palavra: 
ludus. Ludus é alegria e liberdade, abrange os jogos infantis, teatrais e os jogos de azar, refere-se 
a: brinquedo, jogo, divertimento e passatempo. Etimologicamente, a palavra jogo também vem 
do latim lodo, que significa gracejo e zombaria, que foi empregada no lugar de ludu. Embora 
ludere, de onde vem ludu e onde deriva diretamente lusus também possa significar “ilusão” e 
“simulação” (HUIZINGA, 1938/2001, p.84). Santos Filho (1999, p.54-55) e Arce (2003) 
comentam que o verdadeiro sentido do jogo humano se manifesta com os primeiros jogos de 
ilusão, ou, naquele vaivém excitante e gostoso do lúdico dentro do desenvolvimento infantil. 
No idioma italiano gioco, espanhol juego, na língua francesa jeu e em português jogo, a 
palavra jogo é usada para designar não apenas os jogos em si, mas também as brincadeiras. O 
idioma inglês trás duas palavras: game, que é o jogo organizado e play, que é o jogo sem regras, 
ou seja, conceituação mais próxima da brincadeira infantil (ARCE, 2003). Portanto, segundo 
Santos Filho (1999, p.50) para estas civilizações ludus e jogo significam a mesma coisa e se 
referem também as brincadeiras. Porém, destaca-se que não é em todas as civilizações que esta 
palavra é utilizada com o mesmo significado. 
Santos Filho (1999, p. 68) reafirma que conceituar a ludicidade é inviável para 
generalizar-se a ação de brincar: “brincar significa gerar a ludicidade para criar o universo do 
brinquedo”. Encontram-se autores que enquadram o lúdico numa determinada definição 
considerando-o como “uma situação em determinado momento que proporciona a manifestação 
do prazer, satisfação, alegria, desprazer, entre outros elementos de forma intensa e 
 
 
37
interessante”, levando o indivíduo à condição de livre escolha do tempo, lugar e duração 
(SANTOS FILHO, 1999, p.69). 
O elemento lúdico está presente desde as mais remotas eras em diversas culturas tanto 
para as crianças, como para os adultos e os idosos. Revela Kishimoto (1992) que povos distintos 
e antigos como os da Grécia e do Oriente brincaram de amarelinha, de empinar papagaios, jogar 
pedrinhas, e até hoje as crianças o fazem quase da mesma forma. A antigüidade de muitos jogos 
tradicionais infantis é atestada pela obra do rei Allphonse X que, em 1283, redigiu o primeiro 
livro sobre os jogos na literatura européia. Nesta obra, segundo Grunfeld, o rei descreve diversos 
jogos, os quais estão presentes até os tempos atuais, como o pião, o jogo de ossinho ou 
saquinhos, xadrez, o tiro ao alvo, o jogo de fio ou cama-de-gato, os jogos de trilha, o gamão, 
entre outros. Muitos destes eram jogos de adultos (MORAES, 1997, p.10). 
As relações entre o jogo e suas origens, isto é, suas raízes como atividades destinadas a 
adultos são enfatizadas por Chateau (1987 – apud MORAES, 1997, p.10 e 11). Esse autor 
menciona que os trabalhos de etnólogos mostram que os jogos eram atividades adultas que 
passaram para o mundo infantil: 
“Há, de início, certos jogos infantis que nada mais são do que antigos jogos abandonados pelos adultos. 
No século XIV, a corte de Isabeau de Baviére divertia-se com o jogo de varetas. Entre 1745 e 1755, a 
nobreza estava tomada pelas marionetes. O jogo do diabolô, importado da China, teve uma grande 
aceitação no princípio do século XIX. O jogo de policiais e ladrões era praticado no século XVIII pela nata 
da aristocracia italiana. Que as crianças tomam emprestados dos adultos seus jogos, não nos surpreende. 
Hoje as vemos tomar por empréstimo esse jogo de cartas que, quando surgiu na Europa no início do século 
XIV (não se sabe vindo de onde), era reservado aos adultos pelos reis.” ( p.22) 
Vale lembrar que a expectativa de vida no Brasil, por volta de 1940 era de apenas 42 anos 
(CAMARANO, 2004 e ZIMERMAN, 2000), ou seja, ser velho era ter idade próxima à idade de 
um adulto jovem hoje, pois poucos conseguiam chegar à maturidade. Então, quando a história se 
refere aos adultos de antigamente, os idosos também fazem parte. 
Afirma Donald W. Winnicott (1975, p. 38) que a brincadeira do adulto está relacionada 
com sua capacidade de lidar de forma

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