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Roteiro de Aula - LPE - JECRIM II - Renato Brasileiro - Aula 6

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 
Renato Brasileiro 
Aula 06 
JECRIM II 
 
 
ROTEIRO DE AULA 
 
 
JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS II (JECRIM) 
 
JECRIM E PACOTE ANTICRIME 
 
PREVISÃO CONSTITUCIONAL. 
 
2. CRITÉRIOS ORIENTADORES E FINALIDADES DOS JUIZADOS. 
 
3. COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS. 
 
4. INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO. 
 
5. APLICAÇÃO DA LEI 9.099/95 NA JUSTIÇA MILITAR. 
 
6. COMPETÊNCIA TERRITORIAL. 
 
7. TERMO CIRCUNSTANCIADO. 
 
8. FASE PRELIMINAR DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS. 
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- Existem duas fases no Juizado: (a) Preliminar e (b) Judicial. 
 
- Na fase preliminar, dois são os objetivos: 
 
Lei 9.099/95, Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor do fato 
e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a 
possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não 
privativa de liberdade (= transação penal). 
 
9. COMPOSIÇÃO DOS DANOS CIVIS. 
 
10. OFERECIMENTO DE REPRESENTAÇÃO. 
 
- A representação é uma condição de procedibilidade em relação a certos crimes. O melhor exemplo de crime 
que depende de representação é o estelionato. 
 
Lei 9099/95, Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido a 
oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo. 
Parágrafo único. O não oferecimento da representação na audiência preliminar não implica decadência do 
direito, que poderá ser exercido no prazo previsto em lei. 
 
OBS¹.: nos casos em que não há acordo, o momento adequado para o oferecimento da representação é a 
audiência preliminar. Se o ofendido estiver ausente na audiência, não podemos reaproveitar uma 
representação feita na polícia (doutrina majoritária). Isso, porque a representação deve ser feita, 
obrigatoriamente, na audiência. 
 
RENATO BRASILEIRO: se no CPP, que é muito mais formalista, podemos reaproveitar a representação feita na 
polícia, não há porque não aceita-la no JECRIM, onde prevalece a informalidade e a simplicidade. Além disso, 
se não reaproveitarmos a representação é bem provável que se opere a decadência, tendo em conta a demora 
para que a audiência ocorra. 
 
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OBS².: se o ofendido estiver ausente e não tiver havido representação em nenhum momento anterior, isso 
não implica em extinção da punibilidade (vide parágrafo único). Ausente o ofendido, a decadência opera-se 
apenas depois de 6 meses, contados estes do conhecimento da autoria (mesma ideia do Art. 38 do CPP). 
 
ATENÇÃO: o prazo previsto em lei é o de 6 meses contido na regra geral do Art. 38, CPP e não o de dia 30 dias 
previsto no Art. 91 da Lei 9099/95. 
 
11. TRANSAÇÃO PENAL. 
 
CONCEITO: trata-se de acordo celebrado entre o titular da ação penal e o autor do fato delituoso, assistido 
por seu defensor, objetivando a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou de multa (penas não 
privativas de liberdade). 
 
- A transação representa aquilo que a doutrina convencionou chamar de princípio da oportunidade (ou 
discricionariedade regrada), o qual substitui a ideia de obrigatoriedade da ação penal nestes casos. 
 
- A ideia de consenso e de acordo é cada vez mais presente no âmbito processual penal. 
 
- A transação penal não gera, por si só, efeitos penais e nem civis. Ou seja, o fato de o indivíduo ter celebrado 
o acordo faz com que ele continue ostentando a qualidade de réu primário e com bons antecedentes. O único 
efeito concreto decorrente do acordo nestes casos é a impossibilidade de novo acordo de transação penal ou 
de não persecução penal nos próximos 5 anos. 
 
Lei 9099/95, Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, 
não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva 
de direitos ou multas, a ser especificada na proposta. 
 
§1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade. 
 
§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: 
 
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença 
definitiva; 
 
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II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou 
multa, nos termos deste artigo; 
 
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as 
circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida. 
 
§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz. 
 
§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva 
de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o 
mesmo benefício no prazo de cinco anos (ver Art. 28—A, §2º, III, CPP). 
 
§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82 desta Lei. 
 
§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de antecedentes 
criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados 
propor ação cabível no juízo cível. 
 
- Ao aceitar o acordo, o indivíduo não está sequer assumindo culpa, não estando automaticamente obrigado 
a reparar eventuais dano na seara cível. 
 
11.1. REQUISITOS. 
 
A. INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO; 
 
Infração de menor potencial ofensivo: contravenções e crimes com pena máxima não superior a dois anos, 
cumulados ou não com multa, sujeitos ou não a procedimento especial, ressalvadas as hipóteses de violência 
doméstica contra a mulher. 
 
Súmula 536 do STJ: “A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de 
delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha”. Terceira Seção, aprovada em 10/6/2015, DJe 15/6/2015. 
 
B. NÃO SER CASO DE ARQUIVAMENTO DO TERMO CIRCUNSTANCIADO; 
 
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- Só se deve celebrar o acordo quando verificar-se a viabilidade da denúncia, isto é, quando não está claro que 
se trata de caso de arquivamento. 
 
Exemplo.: termo circunstanciado por perturbação da ordem formulado contra a dona de uma chácara que 
alugou o imóvel para um grupo de jovens que realizou uma festa barulhenta. Neste caso, é muito provável 
que o caso seja de arquivamento, motivo pelo qual o mais razoável seria o promotor ter ordenado tal 
providência e remetido o caso para a instância de revisão ministerial e não propor transação penal. O grande 
problema é que a transação virou algo costumeiro no âmbito do JECRIM, mesmo quando ela não seria 
estritamente necessária. 
 
C. NÃO TER SIDO O AUTOR DA INFRAÇÃO CONDENADO, PELA PRÁTICA DE CRIME, À PENA PRIVATIVA DE 
LIBERDADE, POR SENTENÇA DEFINITIVA; 
 
- A decisão condenatória deve ser irrecorrível (= trânsito em julgado). 
 
- A condenação deve ser pela prática de crime e não por contravenção penal. 
 
- A condenação pela prática de crime não pode ser em pena de multa ou restritiva de direitos. 
 
D. NÃO TER SIDO O AGENTE BENEFICIADO ANTERIORMENTE, NO PRAZO DE 5 ANOS, PELA TRANSAÇÃO 
PENAL; 
 
E. ANTECEDENTES, CONDUTA SOCIAL, PERSONALIDADE DO AGENTE, BEM COMO OS MOTIVOS E 
CIRCUNSTÂNCIAS DO DELITO FAVORÁVEIS AO AGENTE; 
 
- Uma vez visualizado que a transação não é necessária e suficiente em vista da análise das circunstâncias 
judiciais elencadas acima, é possível negar a celebração do acordo. 
 
F. REPARAÇÃO DO DANO AMBIENTAL NOS CRIMES AMBIENTAIS. 
 
Lei n. 9.605/98, Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação imediata 
de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei n. 9.099/95, somente poderá ser formulada 
desde que tenhahavido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo 
em caso de comprovada impossibilidade. 
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- Em crimes ambientais, deve haver a prévia composição. 
 
11.2. LEGITIMIDADE PARA OFERECIMENTO DA PROPOSTA DE TRANSAÇÃO. 
 
- A transação penal NÃO é um direito subjetivo do acusado, pois, se assim, fosse, ela poderia ser concedida de 
ofício pelo juiz, mesmo contra a vontade do titular da ação penal. Não há como realizar o acordo se uma das 
partes (no caso o MP) não concordar. A transação encontra-se no plano da discricionariedade do titular da 
ação penal. 
 
- Se o promotor não oferecer a proposta e o juiz entender que a proposta é devida, ele remeterá o caso ao 
procurador geral, pois a última palavra quanto a celebração do acordo cabe sempre ao MP. 
 
Súmula 696 do STF: “Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas 
se recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o Juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, 
aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal”. 
 
LEMBRE-SE: o Art. 28 do CPP vem citado na súmula em sua redação antiga; antes do pacote anticrime. Na 
redação antiga, havia um controle judicial do arquivamento. Hoje, não há mais tal controle, cabendo ao 
promotor determinar o arquivamento e, em seguida, remeter para a instância ministerial. 
 
- Apesar do juiz ter sido retirado do Art. 28, ele ainda continua autorizado a aplicar o dispositivo por analogia. 
Isso, porque quando há discordância entre promotor e juiz, o magistrado não pode obrigar o promotor a 
proceder da forma como ele, julgador, deseja. 
 
- Pela literalidade do Art. 76, a transação penal só seria cabível em crimes de ação penal pública condicionada 
à representação e crimes de ação penal pública incondicionada, devendo o MP oferecer a proposta. Desta 
forma, não seria cabível transação nos crimes de ação penal privada. Isso é objeto de crítica pela doutrina já 
há muitos anos, pois não haveria critério razoável para o estabelecimento desse discriminem (= violação da 
isonomia). Por isso, doutrina e jurisprudência são pacíficas em dizer que a transação penal é cabível tanto nos 
crimes de ação penal pública quanto nos de ação penal privada. 
 
• Enquanto na ação penal pública quem oferece a proposta é o MP, na ação penal privada a doutrina 
se divide: 
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1ª CORRENTE: é o próprio MP quem oferece a proposta. 
 
FONAJE - ENUNCIADO 112: na ação penal de iniciativa privada, cabem transação penal e a suspensão 
condicional do processo, mediante proposta do Ministério Público (XXVII Encontro – Palmas/TO). 
 
2ª CORRENTE: se a ação penal é a privada, a legitimidade é do querelante, pois ele é o titular da ação penal 
neste caso. Se ele não quiser oferecer a proposta, nada mais pode ser feito para a solução consensual (não há 
como aplicar o Art. 28 do CPP). 
 
STJ: “(...) A transação penal, assim como a suspensão condicional do processo, não se trata de direito público 
subjetivo do acusado, mas sim de poder-dever do Ministério Público (Precedentes desta e. Corte e do c. 
Supremo Tribunal Federal). II - A jurisprudência dos Tribunais Superiores admite a aplicação da transação penal 
às ações penais privadas. Nesse caso, a legitimidade para formular a proposta é do ofendido, e o silêncio do 
querelante não constitui óbice ao prosseguimento da ação penal. III - Isso porque, a transação penal, quando 
aplicada nas ações penais privadas, assenta-se nos princípios da disponibilidade e da oportunidade, o que 
significa que o seu implemento requer o mútuo consentimento das partes”. (STJ, Corte Especial, Apn 634/RJ, 
Rel. Min. Felix Fischer, DJe 03/04/2012). 
 
11.3. RECUSA INJUSTIFICADA POR PARTE DO TITULAR DA AÇÃO PENAL EM OFERECER A PROPOSTA DE 
TRANSAÇÃO PENAL. 
 
A) POR PARTE DO OFENDIDO NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL PRIVADA; 
 
B) POR PARTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA; 
 
Súmula 696 do STF: “Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas 
se recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o Juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, 
aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal”. 
 
11.4. MOMENTO PARA O OFERECIMENTO DA PROPOSTA DE TRANSAÇÃO PENAL. 
 
- Pelo menos em regra: antes do início do Processo Penal. 
 
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- Se o processo já estiver em andamento, ainda é cabível a transação penal ou a suspensão condicional do 
processo, sobretudo nos casos de (i) desclassificação ou (ii) procedência parcial da pretensão punitiva. 
 
Exemplo.: imagine um processo de furto qualificado por emprego de chave falsa. Durante a audiência, 
ninguém confirma que houve o emprego de chave falsa. Diante disso, o próprio MP, em sede de alegações 
orais, admite a existência apenas de furto simples, o qual permite a suspensão condicional do processo. Uma 
vez verificado o excesso na acusação, é perfeitamente possível que o promotor ofereça a suspensão 
condicional. 
 
SÚMULA nº 337 DO STJ: “É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na 
procedência parcial da pretensão punitiva”. 
 
CPP, Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe 
definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave. 
 
§1o Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão 
condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei. 
 
§2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados os autos. 
 
11.5. DESCUMPRIMENTO INJUSTIFICADO DO ACORDO HOMOLOGADO DE TRANSAÇÃO PENAL. 
 
- Se o indivíduo celebrar um acordo de transação penal e vier a descumpri-lo, o feito retoma o seu estado de 
origem. 
 
- Antigamente, o STJ entendia que a decisão que homologa a transação penal tinha natureza condenatória, 
fazendo coisa julgada formal e material, de tal sorte que a única medida possível seria propor ação cível para 
exigir a prestação devida. Hoje, entende-se que a decisão não tem natureza condenatória, mas meramente 
homologatória, não fazendo coisa julgada formal e material. Por esta razão, o descumprimento injustificado 
faz com que o feito retorne ao estado de origem (status quo). 
 
Súmula vinculante n. 35 do STF: “A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 
não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-
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se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou 
requisição de inquérito policial”. 
 
12. ANÁLISE DO PROCEDIMENTO COMUM SUMARÍSSIMO DOS JUIZADOS. 
 
A) PEÇA ACUSATÓRIA 
 
Lei 9.099/95, Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela ausência 
do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério Público 
oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis. 
 
§ 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência referido no art. 
69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a 
materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente. 
 
§ 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da denúncia, o Ministério 
Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças existentes, na forma do parágrafo único do art. 
66 desta Lei. 
 
§ 3º Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser oferecida queixa oral, cabendo ao Juiz verificar se a 
complexidade e as circunstâncias do caso determinam a adoção das providências previstas no parágrafo único 
do art. 66 desta Lei.B) CITAÇÃO 
 
Lei 9.099/95, Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por 
mandado. 
 
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo 
comum para adoção do procedimento previsto em lei. 
 
- Como regra, a citação será pessoal e no próprio JECRIM. Não sendo possível, o juiz expedirá o mandado de 
citação para que seja feita por Oficial de Justiça. 
 
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- Não cabe citação por edital ou por carta rogatória no JECRIM. Todavia, há entendimento no sentido de que 
é cabível a citação por hora certa. Nesse sentido, vejamos: 
 
FONAJE - ENUNCIADO 110: no Juizado Especial Criminal é cabível a citação com hora certa (XXV Encontro – 
São Luís/MA). 
 
C) DEFESA PRELIMINAR 
 
- Oferecida a peça acusatória, o indivíduo é notificado para apresentar a defesa preliminar. Somente depois 
disso é que o juiz realiza o juízo de admissibilidade, rejeitando ou acolhendo a denúncia e, neste último caso, 
determinando a citação. 
 
- A defesa preliminar é manifestação da defesa entre o oferecimento da peça acusatória e o juízo de 
admissibilidade, que tem como objetivo precípuo convencer o magistrado da necessidade de se rejeitar a peça 
acusatória. 
 
- Não há previsão legal da defesa preliminar para todos os procedimentos, tendo em vista que ela é exceção. 
Exemplos de procedimentos que contam com defesa preliminar são: JECRIM; Lei 8038; Art. 514 do CPP, Lei de 
Drogas, etc... 
 
- A diferença é que no JECRIM a defesa preliminar pode ser apresentada oralmente. 
 
Lei 9.099/95, Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à acusação, após o 
que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima e as 
testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se 
imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença. 
 
§ 1º Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, podendo o Juiz limitar ou 
excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias. 
 
§ 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, assinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve 
resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a sentença. 
 
§3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os elementos de convicção do Juiz. 
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- Ao contrário do que ocorre no CPP, a sentença no JECRIM dispensa o relatório como consequência do 
princípio da celeridade. 
 
D) (DES)NECESSIDADE DE RESPOSTA À ACUSAÇÃO 
 
- Previsão legal da resposta à acusação (396-A, CPP) 
 
Momento: apresentada pela defesa depois do recebimento da peça acusatória. 
 
- Uma leitura fria da lei poderia nos levar a conclusão de que, uma vez citado o acusado, permanece a 
necessidade de apresentar-se resposta à acusação por força do Art. 393, §4º do CPP. Isso, contudo, não faz 
muito sentido, dado que a defesa já foi ouvida durante o procedimento. Por isso, o ideal é entender que a 
defesa preliminar é NECESSÁRIA e em todos os procedimentos legais nos quais ela estiver presente, o 
conteúdo da resposta à acusação deve ser por ela abarcado. Ou seja, o conteúdo do Art. 396-A do CPP, 
relacionado a resposta à acusação, deve ser abordado em sede de defesa preliminar também. Aplica-se aqui 
o princípio da eventualidade. 
 
CPP, Art. 394. 
 
§4º As disposições dos arts. 395 a 398 (396-A e 397) deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais 
de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código. 
 
CPP, Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar 
liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo 
de 10 (dez) dias. 
 
Parágrafo único. No caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fluir a partir do 
comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído. 
 
E) POSSIBILIDADE DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA 
 
CPP, Art. 394., §4º As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais 
de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código. 
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CPP, Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá 
absolver sumariamente o acusado quando verificar: 
 
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; 
 
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; 
 
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou 
 
IV - extinta a punibilidade do agente. 
 
- A absolvição sumária deve ser aplicada no âmbito do JECRIM por força do que consta no Art. 394, §4º do 
CPP. 
 
13. SISTEMA RECURSAL DOS JUIZADOS. 
 
- Embora a Lei 9099/95 determine de forma expressa que são passíveis de interposição os Embargos de 
Declaração e Apelação, a mesma lei admite a aplicação subsidiária do CPP, o que amplia a possibilidade de 
interposição de recursos. 
 
13.1. TURMA RECURSAL 
 
- A Turma recursal é formada por juízes em exercício no 1º grau de jurisdição. 
 
Constituição Federal Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: 
 
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o 
julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial 
ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a 
transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau; 
 
Obs.: a turma recursal funciona como juízo ad quem apenas no âmbito do JECRIM. 
 
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- Se houver uma causa de mudança de competência do juizado (conexão, complexidade da causa, citação por 
edital), os autos serão encaminhados para o juízo comum, o qual julgará a infração de menor potencial 
ofensivo. Nestes casos, eventual recurso deverá ser interposto no Tribunal e não na Turma Recursal. 
 
13.2. APELAÇÃO NOS JUIZADOS. 
 
• 3 hipóteses de cabimento: 
 
(i) Rejeição da peça acusatória 
 
- Há aqui uma diferença em relação ao CPP, pois nele o Art. 581, I determinar que o RESE é o recurso cabível 
contra a rejeição da peça acusatória. 
 
(ii) Sentença condenatória/absolutória 
 
(iii) Decisão homologatória da transação penal 
 
Lei n. 9.099/95, Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, que 
poderá ser julgada por turma composta de três juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos 
na sede do Juizado. 
 
§1º A apelação será interposta no prazo de 10 dias, contados da ciência da sentença pelo Ministério Público, 
pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente. 
 
 
 
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- O prazo é maior no JECRIM, pois nele a petição de interposição deve estar acompanhada, obrigatoriamente, 
das razões. 
 
13.3. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. 
 
- O prazo dos Embargos na Lei 9099/95 é mais elástico do que aquele previsto no CPP, onde o prazo é de 2 
dias (382 e 619 do CPP). Além disso, os ED podem ser apresentados oralmente nos juizados. 
 
Lei n. 9.099/95, Art. 83. Cabem embargos de declaração quando, em sentença ou acórdão, houver 
obscuridade, contradição ou omissão. 
 
§1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da 
ciência da decisão. 
 
§ 2o Os embargos de declaração interrompem o prazo (= devolução do prazo por inteiro à parte) para a 
interposição de recurso. (Redação dada pelo novo CPC). 
 
§3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício. 
 
13.4. RECURSO EXTRAORDINÁRIO E ESPECIAL. 
 
CF, Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição Federal, 
cabendo-lhe: 
(...)III – julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a 
decisão recorrida: 
 
- A Constituição não diz, em nenhum momento, que tal decisão precisaria ter sido proferida por um Tribunal. 
Por isso, doutrina e jurisprudência entendem que o RE é cabível no âmbito do JECRIM, desde que observado 
todos os requisitos constitucionais e infraconstitucionais. 
 
Súmula 640 do STF: “É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas 
causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal”. 
 
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CF, Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 
(...) 
III – julgar, em recurso especial, as causas decididas em única ou última instância pelos Tribunais Regionais 
Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: 
 
 - Ao tratar do REsp, a Constituição fala em TRF e Tribunais Estaduais e, como a Turma Recursal não tem 
natureza de Tribunal, não cabe Recurso Especial no âmbito do JECRIM. 
 
Súmula 203 do STJ: “Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos 
juizados especiais”. 
 
13.5. “HABEAS CORPUS”. 
 
- O HC é cabível no âmbito do JECRIM, mas desde que haja risco potencial à liberdade de locomoção. No 
JECRIM, existem muitas infrações penais nas quais não há cominação de pena privativa de liberdade (ex.: porte 
de drogas para uso pessoal – Art. 28, Lei de Drogas) e, nestas infrações, não há risco que justifique a 
impetração de HC. 
 
- É possível impetrar HC contra decisão do juiz de 1º grau no JECRIM, cabendo o seu julgamento a Turma 
Recursal. Se, no entanto, a Turma Recursal se tornar autoridade coatora, o julgamento do HC será realizado 
pelo Tribunal (Federal ou Estadual) e não pelo STF como acontecia anteriormente (= overruling da Súmula nº 
690 do STF pelo HC nº 86.834). 
 
Súmula 693 do STF: não cabe "habeas corpus" contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a 
processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada. 
 
Súmula n. 690 do STF: “Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de habeas corpus 
contra decisão de turma recursal de juizados especiais criminais”. 
 
STF: “(...) COMPETÊNCIA - HABEAS CORPUS - ATO DE TURMA RECURSAL. Estando os integrantes das turmas 
recursais dos juizados especiais submetidos, nos crimes comuns e nos de responsabilidade, à jurisdição do 
tribunal de justiça ou do tribunal regional federal, incumbe a cada qual, conforme o caso, julgar os habeas 
impetrados contra ato que tenham praticado”. (STF, Pleno, HC 86.834, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe 
09/03/2007). 
16 
 
 
13.6 MANDADO DE SEGURANÇA. 
 
MS impetrado contra juiz do JECRIM: julgamento pela Turma Recursal 
 
Súmula n. 376 do STJ: “Compete à Turma Recursal processar e julgar o mandado de segurança contra ato de 
juizado especial”. 
 
MS impetrado contra ato da Turma Recursal: o julgamento cabe a própria Turma Recursal, aplicando-se a 
mesma lógica aplicada no caso de MS contra os Tribunais. Assim, tal como o MS impetrado contra os Tribunais 
não vai para o STJ, o MS contra Turma Recursal é apreciado pela própria Turma. Há aqui a aplicação analógica 
do Art. 21, VI da Lei Complementar nº 35. 
 
13.7. REVISÃO CRIMINAL. 
 
Lei n. 9.099/95, Art. 59. Não se admitirá ação rescisória nas causas sujeitas ao procedimento instituído por 
esta Lei. 
 
- A vedação ao cabimento de ação rescisória no âmbito do Juizado Especial Cível não foi repetida no âmbito 
do JECRIM para a revisão criminal, motivo pelo qual esta é sim cabível, desde que preenchidos os pressupostos 
do Art. 621 s.s do CPP. Afinal, onde a lei não distingue, não é dado ao intérprete faze-lo. 
 
- O julgamento da revisão criminal cabe a própria Turma Recursal, já que é ela que exerce a função de juízo ad 
quem no âmbito do JECRIM. 
 
STJ: “(...) Apesar da ausência de expressa previsão legal, mostra-se cabível a revisão criminal no âmbito dos 
Juizados Especiais, decorrência lógica da garantia constitucional da ampla defesa, notadamente quando a 
legislação ordinária vedou apenas a ação rescisória, de natureza processual cível. É manifesta a incompetência 
do Tribunal de Justiça para tomar conhecimento de revisão criminal ajuizada contra decisum oriundo dos 
Juizados Especiais. (...) A falta de previsão legal específica para o processamento da ação revisional perante o 
Colegiado Recursal não impede seu ajuizamento, cabendo à espécie a utilização subsidiária dos ditames 
previstos no Código de Processo Penal. Caso a composição da Turma Recursal impossibilite a perfeita 
obediência aos dispositivos legais atinentes à espécie, mostra-se viável, em tese, a convocação dos 
magistrados suplentes para tomar parte no julgamento, solucionando-se a controvérsia e, principalmente, 
17 
 
resguardando-se o direito do agente de ver julgada sua ação revisional. Competência da Turma Recursal”. (STJ, 
3ª Seção, CC 47.718/RS, Rel. Min. Jane Silva, DJe 26/08/2008). 
 
13.8. CONFLITO DE COMPETÊNCIA ENTRE JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS E JUÍZO COMUM. 
 
• JECRIM FEDERAL x JUÍZO FEDERAL 
 
Conflito positivo: os dois juízos consideram-se competentes. 
 
Conflito negativo: os dois juízos consideram-se incompetentes. 
 
- Durante muito tempo, o STJ entendeu que a Turma Recursal estaria no mesmo nível hierárquico dos 
Tribunais, motivo pelo qual a competência para julgar o conflito pertenceria a ele. Nesse sentido, veja-se a 
súmula: 
 
Súmula n. 348 do STJ: “Compete ao Superior Tribunal de Justiça decidir os conflitos de competência entre 
Juizado Especial Federal e Juízo Federal, ainda que da mesma Seção Judiciária” (= overrruling da Súmula 348 
do STJ). 
 
- Se tanto o juiz federal quanto o juiz do JECRIM estão submetidos ao mesmo Tribunal, é ele quem julgará o 
conflito. Vale anotar, porém, que se o juiz estiver vinculado a um Tribunal (SP – TRF 3ª Região) e o magistrado 
do Jecrim vinculado a outro (MG – TRF 1ª Região) em virtude de pertencerem, cada um, a um estado da 
federação, o conflito deverá ser julgado pelo STJ. 
 
Súmula n. 428 do STJ: “Compete ao Tribunal Regional Federal decidir os conflitos de competência entre 
Juizado Especial Federal e Juízo Federal da mesma Seção Judiciária (Tribunal)”. 
 
- Apesar da Súmula 428 ter sido redigida sob a ótica da Justiça Federal, o seu raciocínio se aplica também ao 
conflito entre juiz estadual (Justiça Comum Estadual) e juiz do JECRIM estadual. 
 
14. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. 
 
18 
 
CONCEITO: a suspensão condicional do processo é instituto despenalizador por meio do qual o processo fica 
suspenso durante certo tempo (= período de prova), permanecendo o indivíduo submetido ao cumprimento 
de certas condições para que seja possível extinguir-se a punibilidade. 
 
Lei 9.099/95, Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas 
ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por 
dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro 
crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código 
Penal). 
 
 
Exemplo.: a competência para julgar o furto simples, que tem pena de 1 a 4 anos, é do Juízo Comum. No 
entanto, ainda assim, cabe a suspensão condicional do processo, pelo menos em tese. 
 
Art. 89 (...) 
 
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá 
suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições: 
 
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; 
 
II - proibição de frequentar determinados lugares; 
 
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades. 
 
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao 
fato e à situação pessoal do acusado. 
 
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou 
não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano. 
 
19 
 
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por 
contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta. 
 
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade. 
 
§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo. 
 
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores 
termos. 
 
14.1. REQUISITOS. 
 
A) CRIMES (OU CONTRAVENÇÕES PENAIS) COM PENA MÍNIMA IGUAL OU INFERIOR A 1 ANO: 
 
CP, Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: 
 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
 
OBS. 1: atenção para crimes com pena de multa cominada de maneira alternativa; 
 
- É muito raro que tenhamos crimes com penas elevadas nos quais a pena de multa venha cominada de forma 
alternativa. Em geral, quando a pena é elevada, a multa é aplicada de forma cumulativa. Existem, todavia, 
exceções como a contida no Art. 7º da Lei 8.137/90: 
 
Lei 8.137/90., Art. 7° Constitui crime contra as relações de consumo: 
 
(...) 
 
Pena - detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa. 
 
STF: se a pena de multa é cominada de maneira alternativa, isso significa dizer que ao final desse processo o 
indivíduo pode ser condenado, exclusivamente, à pena de multa. E, se o indivíduo é condenado apenas a uma 
pena de multa, seria incongruente não dar a ele direito à suspensão condicional do processo, porquanto a 
pena de multa representa um minus quando comparada à pena privativa de liberdade. Com base nesse 
20 
 
raciocínio, o STF entendeu que quando o crime tiver pena de multa cominada de maneira alternativa, a 
suspensão condicional será cabível, ainda que a pena mínima cominada seja superior a 1 (um) ano. 
 
STF: “(...) Previsão alternativa de multa. Suspensão condicional do processo. Admissibilidade. Recusa de 
proposta pelo Ministério Público. Constrangimento ilegal caracterizado. HC concedido para que o MP examine 
os demais requisitos da medida. Interpretação do art. 89 da Lei nº 9.099/95. Quando para o crime seja 
prevista, alternativamente, pena de multa, que é menos gravosa do que qualquer pena privativa de liberdade 
ou restritiva de direito, tem-se por satisfeito um dos requisitos legais para a suspensão condicional do 
processo”. (STF, 2ª Turma, HC 83.926/RJ, Rel. Min. Cezar Peluso, DJe 101 13/09/2007). 
 
OBS².: Concurso de crimes: 
 
Exemplo.: furto simples (pena de 1 a 4 anos) em concurso com o desacato (pena de 6 meses a 2 anos). 
 
- Os Tribunais entendem que as hipóteses de concurso de crimes devem ser levadas em consideração, seja no 
critério do cúmulo material, seja quando houver o critério da exasperação (Art. 70, CP). 
 
SÚMULA 723 DO STF: não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma 
da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano. 
 
SÚMULA 243 DO STJ: O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais 
cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, 
seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano. 
 
OBS³.: Violência doméstica e familiar contra a mulher: 
 
Lei 11.340/06, Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, 
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995. 
 
Súmula 536 do STJ: “A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de 
delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha”. Terceira Seção, aprovada em 10/6/2015, DJe 15/6/2015. 
 
B) NÃO ESTAR SENDO PROCESSADO OU NÃO TER SIDO CONDENADO POR OUTRO CRIME: 
 
21 
 
- Não há necessidade de o indivíduo ter sido condenado. O processo em andamento já é óbice à suspensão. 
Isso não viola a presunção de inocência, pois estamos diante de um instituto despenalizador, ou seja, um 
prêmio para o sujeito que tem o crime em questão como um fato isolado de sua vida. A lei, portanto, não 
pode autorizar a realização de acordos com indivíduos que já estão sendo processados por outro delito. 
 
- Vale anotar que a condenação que é óbice à suspensão é a que diz respeito a crime e não à contravenção. 
 
C) PRESENÇA DOS DEMAIS REQUISITOS QUE AUTORIZAM A SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA: 
 
CP, Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 
2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 
I - o condenado não seja reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as 
circunstâncias autorizem a concessão do benefício;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 
III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 
7.209, de 11.7.1984) 
 
14.2. CABIMENTO DA SUSPENSÃO EM CRIMES DE AÇÃO PENAL PRIVADA (vide BLOCO DA TRANSAÇÃO 
PENAL) 
 
14.3. INICIATIVA DA PROPOSTA DE SUSPENSÃO (IDEM) 
 
Súmula 696 do STF: reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas 
se recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao procurador-geral, 
aplicando-se por analogia o art. 28 do código de processo penal. 
 
14.4. MOMENTO PARA O OFERECIMENTO (IDEM) 
 
Súmula 337 do STJ: é cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na 
procedência parcial da pretensão punitiva. 
 
22 
 
14.5. CONDIÇÕES DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO 
 
- Quando o processo fica suspenso, o indivíduo sujeita-se ao cumprimento de certas condições. 
 
- Ao oferecer uma denúncia pelo furto, o promotor, pode, concomitantemente, oferecer a proposta de 
suspensão. Diante disso, o juiz recebe a denúncia – o que é importante para fins de interrupção da prescrição 
– determinando, logo em seguida, a suspensão condicional do processo, submetendo o acusado a um período 
de prova. 
 
Art. 89, § 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que 
adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado. 
 
RENATO BRASILEIRO: embora parte da doutrina entenda que as condições referidas no Art. 89, §2º não 
possam ser equivalentes a penas restritivas de direito, pois a lei fala em condições e não em pena, esta não é 
a orientação que prevalece na visão dos Tribunais Superiores. Nesses é dominante o entendimento de que o 
promotor pode sim oferecer condições que, na verdade, reproduzem penas restritivas de direito. 
 
STJ: “(...) Não há óbice a que se estabeleçam, no prudente uso da faculdade judicial disposta no art. 89, § 2º, 
da Lei n. 9.099/1995, obrigações equivalentes, do ponto de vista prático, a sanções penais (tais como a 
prestação de serviços comunitários ou a prestação pecuniária), mas que, para os fins do sursis processual, se 
apresentam tão somente como condições para sua incidência. (STJ, 3ª Seção, Resp 1.498.034/RS, Rel. Min. 
Rogerio Schietti Cruz, j. 25/11/2015, DJe 02/12/2015). 
 
• É possível estabelecer a doação de sangue como condição? 
 
RENATO BRASILEIRO: é questionável se valer da força do Direito Penal para constranger alguém a um gesto 
humanitário. Além disso, até mesmo o caráter invasivodessa intervenção pode ser questionado. 
 
14.7. REVOGAÇÃO DA SUSPENSÃO. 
 
A) REVOGAÇÃO OBRIGATÓRIA: o juiz não tem margem nenhuma de discricionariedade (§3º). 
 
B) REVOGAÇÃO FACULTATIVA: o juiz tem certa discricionariedade (§4º). 
 
23 
 
Art . 89 
 
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou 
não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano. 
 
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por 
contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta. 
 
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade. 
 
§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo. 
 
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores 
termos. 
 
14.8. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. 
 
PRAZO: 2 a 4 anos 
 
- Embora haja quem entenda que o decurso por si só extingue a punibilidade, prevalece o entendimento de 
que o benefício pode ser revogado mesmo depois do decurso do período de prova de 2 anos, desde que a 
causa revogatória seja a ele anterior. 
 
STJ: “(...) Se descumpridas as condições impostas durante o período de prova da suspensão condicional do 
processo, o benefício poderá ser revogado, mesmo se já ultrapassado o prazo legal, desde que referente a 
fato ocorrido durante sua vigência. (STJ, 3ª Seção, Resp 1.498.034/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 
25/11/2015, DJe 02/12/2015). 
 
14.9. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO EM CRIMES AMBIENTAIS. 
 
Lei 9.605/98, Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, aplicam-se aos 
crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações: 
 
24 
 
I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5° do artigo referido no caput, dependerá de 
laudo de constatação de reparação do dano ambiental, ressalvada a impossibilidade prevista no inciso I do § 
1° do mesmo artigo; 
 
II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o prazo de suspensão 
do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no artigo referido no caput, acrescido de mais 
um ano, com suspensão do prazo da prescrição; 
 
III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do § 1° do artigo mencionado 
no caput; 
 
IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de constatação de reparação do 
dano ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser novamente prorrogado o período de suspensão, até o 
máximo previsto no inciso II deste artigo, observado o disposto no inciso III; 
 
V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de punibilidade dependerá de laudo 
de constatação que comprove ter o acusado tomado as providências necessárias à reparação integral do dano. 
 
15. QUADRO COMPARATIVO ENTRE O CPP (CP) E A LEI N. 9.099/95. 
 
 
 
STF: “(...) AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE ESTADUAL. SERVIÇO PÚBLICO. POLÍCIA MILITAR. 
ATRIBUIÇÃO PARA LAVRAR TERMO CIRCUNSTANCIADO. LEI 9.099/95. ATIVIDADE DE POLÍCIA JUDICIÁRIA. 
ACÓRDÃO RECORRIDO EM HARMONIA COM O ENTENDIMENTO DO SUPREMO. (...)”. (STF, 1ª Turma, RE 
702.617 AgR/AM, Rel. Min. Luiz Fux, j. 26/02/2013, Dje 54 20/03/2013). 
 
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FONAJE - ENUNCIADO 110: no Juizado Especial Criminal é cabível a citação com hora certa (XXV Encontro – 
São Luís/MA). 
 
 
 
 
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