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CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro JOHANNA LINDSEY – Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro EQUIPE PL ENVIO: SORYU TRADUÇÃO: SORYU EQUIPE DE REVISÃO INICIAL: SOO JEONG, KRIS, LUKITA, SANDRA P, RUTE, GILMA REVISÃO FINAL: NATHALIA D., RAFAELA VIEIRA LEITURA FINAL E FORMATAÇÃO: CAROL CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro RESUMO No planeta Kystran, no ano 2139, um lugar onde as regras de tecnologia não dão nenhum espaço para a paixão, a guarda de segurança de primeira linha – Seg 1, Tedra De Arr, é uma força a ser reconhecida. Escultural, de uma beleza surpreendente e a altura da perfeição física, Tedra nunca conheceu o toque de um homem, só porque nenhum homem, em seu planeta, pode vencê-la na batalha ou na cama. Quando o planeta é tomado por um déspota do mal, Tedra consegue fugir com sua amiga Martha, um computador rabugento. Juntas, elas encontram refúgio em um mundo exótico, onde os poderosos guerreiros reinam supremos, num planeta alienígena, no qual, a inocente e insolente, Tedra, desafia um bronzeado bárbaro chamado Challen. Infelizmente para Tedra, ela perde e deve se tornar escrava de Challen, cumprindo cada desejo seu "mesmo quando ele dorme". Mas o que começa como uma punição logo se torna alegria sensual, quando ela descobre o que significa desejo, enquanto tenta, sem sucesso, extinguir a sua paixão a fim de salvar o seu mundo. Série: 01 – A Mulher do Guerreiro 02 – Keeper of the Heart 03 – Heart of a Warrior CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro “A tradução em tela foi efetivada pelo Grupo Pégasus Lançamentos de forma a propiciar ao leitor o acesso à obra, incentivando-o à aquisição integral da obra literária física ou em formato e-book. O grupo tem como meta a seleção, tradução e disponibilização apenas de livros sem previsão de publicação no Brasil, ausentes qualquer forma de obtenção de lucro, direto ou indireto. No intuito de preservar os direitos autorais e contratuais de autores e editoras, o grupo, sem prévio aviso e quando julgar necessário poderá cancelar o acesso e retirar o link de download dos livros, cuja publicação for veiculada por editoras brasileiras. O leitor e usuário ficam cientes de que o download da presente obra destina- se tão somente ao uso pessoal e privado, e que deverá abster-se da postagem ou hospedagem do mesmo em qualquer rede social e, bem como abster-se de tornar público ou noticiar o trabalho de tradução do grupo, sem a prévia e expressa autorização do mesmo. 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Os distúrbios previstos já tinham começado e estavam agora em seu apogeu, suas filas aumentadas com os cidadãos aborrecidos e frustrados na busca de um pouco de excitação e liberação de suas tensões. Se estivessem envolvidos unicamente os ecologistas que tinham feito uma arte do protesto, não existiria nenhum problema sério, mas a Clínica Antitensão estava fechada há uma semana, para sua remodelação e ampliação, os cidadãos solteiros de Fanya, que não se registraram para a dupla ocupação se mostravam mais agressivos que de costume. — Se não receberem diariamente seu tratamento sexual nas clínicas, acreditam que chegará o fim do mundo -queixou-se o chefe de ciências de Fanya ao atual representante do Kystran, Garry C. Bernn- Estes jovens não recordam como era a vida antes que tivéssemos clínicas antitensão em todas as cidades. — Nós tampouco! -replicou o representante, gélido, mas apesar disso, tinha acessado o requerimento de enviar um guarda de segurança para lhe apaziguar. Tedra de Arr foi a afortunada voluntária que recebeu a ordem de deslocar-se a Fanya para dirigir-se a seção de segurança local. Logo depois de uma hora no lugar tinha compreendido que, se a multidão crescente se debandava, não teria alternativa que dominá-la com graves riscos para os ossos e até a vida de alguns dos revoltosos. A Divisão de Segurança de Fanya não era outra coisa que um grupo de novatos que não distinguiam as CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro unidades phazor das unidades de comunicação, razão pela qual nunca lhes tinham entregado as unidades combinadas. E se os cidadãos decidiam se converter em seres destrutivos, ao tentar resgatar às horríveis e diminutas boskratas, não via nenhuma possibilidade de detê-los com a sorte da ajuda disponível nesta pequena cidade. Com apenas quarenta homens sob seu comando e pelo menos cem cidadãos que já estavam derrubando as portas de acesso, Tedra considerou a ideia de escapulir silenciosamente pela porta traseira. Isso era, precisamente, o que tinham feito esses cientistas assustados e não lhe importava um maldito caminho dessas pequenas criaturas escamosas que tinham deixado para trás para que ela as defendesse. As defender, nem pensar! Não podia suportar essas coisas horripilantes, assim por que quereria as defender? Murmurava maldições ao homem que a tinha mandado realizar esta tarefa temporária antes de desprender de seu cinturão o rádio transmissor que a comunicava diretamente com Martha, seu computador Mock II de uso pessoal. — Conhece as estatísticas, Martha. Que probabilidades têm de arrebatar as boskratas e fugir? — Em torno de sessenta por um -ouvia a voz extremamente feminina através da pequena unidade de rádio que cabia em uma mão. Contudo a ouviu forte e claro- se não fosse pela Clínica Antitensão estar fechada... Tedra cortou a comunicação com um grunhido e devolveu a unidade compacta a seu cinturão. — Maldito sexo! -resmungou baixo- Quando se converteu em essencial, em curar tudo, em obrigatório para não desmoronar-se... ou voltar-se violento? — Você disse algo, Seg 1? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Tedra deu a volta e olhou o jovem que estava as suas costas. Na realidade era um menino. Não podia ter mais de dezoito anos. Obviamente, quando tinha essa idade havia estado à frente de sua classe, trabalhando ativamente durante um ano embora continuasse seu treinamento, já era incomparável em sua especialidade. Isso já fazia cinco anos. Quatro anos atrás tinha ganhado seu cargo atual, Seg 1, o cargo mais alto para um perito em combate mano a mano ou com armas. O jovem que lhe tinha falado nem sequer chegara a Seg 5, o cargo mais baixo, embora tinha que ser atribuído a ela. Não deveriam lhes enviar para cumprir tarefas ativas até que estivessem preparados, mas não se podia dizer isso à administração, especialmente quando havia tal escassez de elementos de segurança disponíveis. A grande maioria destas últimas ninhadasde estudantes escolhia treinar para carreiras menos arriscadas, as que lhes proporcionassem mais satisfações, sobretudo em um planeta que não estava em guerra e que pertencia a uma liga de planetas dedicados à paz e ao comércio lucrativo. — Não, não disse nada, Seg 5, mas direi agora. Deixaremos que os cidadãos obtenham o que desejam, porque não acredito que um edifício e um punhado de horríveis boskratas fedorentos valham tanto para matar alguém. Mantenha-se afastado, fora do caminho e rogue que se conforme com as boskratas, caso dirijam-se a você, dispare o raio paralisador e se isso não for suficiente, corra como o demônio. Passe a ordem para que dispararem somente para paralisar. Se no final tiver sequer um cidadão morto, quando tudo tiver se passado, os seguranças se verão comigo! Não teve que acrescentar que, desejariam eles serem os mortos se algo assim chegasse a acontecer. Não se devia contrariar a um Seg 1, já que qualquer um deles podia utilizar um ajudante como trapo para esfregar o chão, como mínimo. E o segurança sabia disso. Quando Tedra atravessou a última porta e entrou no amplo laboratório abobado, havia pouco estudante ecologista entre eles, desgraçadamente. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Estas pobres criaturas eram cidadãos solteiros a quem tinham negado sua ração diária de terapia sexual durante toda uma semana e não estavam interessados nas malditas boskratas, exceto como desculpa para descarregar tensões e frustrações do velho modo, com uma grande violência. Dirigiram- se diretamente às equipes, os segs, rompendo e atacando o que podiam. Os raios paralisadores serviram pouco depois da primeira horda. Tedra de Arr passou a meia hora seguinte atacando e rompendo alguns ossos e rostos. Os médicos locais estariam ocupados o resto da tarde, mas ao menos ninguém tinha ficado gravemente ferido. Mesmo assim, ela estava ainda furiosa. Não lhe agradava romper ossos e ouvir os gritos dos homens enquanto o estava fazendo, sobretudo por essas malditas boskratas. Ficava um consolo: ao menos as mulheres do grupo só se dedicaram a destroçar móveis e equipamentos, porque gostava menos ainda de ouvir gritos de mulheres e não necessitava nada mais para piorar seu mau humor. Contudo, era um fiasco e um desperdício de talento. Ainda estava furiosa quando, momento depois, retornou ao alojamento temporário que lhe tinham atribuído. O rapaz que havia conhecido à tarde não tinha tido por que estar ali e para o cúmulo, disparou um raio no próprio pé com a unidade phazor. O que ela não daria para ter seu instrutor cinco minutos sob seu comando. Certamente depois disso, não se arriscaria a soltar estudantes, antes que estivessem preparados para o combate. Indo para a porta deu bateu no identificador e sem parar e se bateu contra o obstáculo imóvel. Soltou um palavrão antes de se acalmar o suficiente para apoiar a palma da mão sobre a fechadura durante os dois segundos requeridos para sua identificação. A porta abriu deslizando silenciosamente sob seu olhar carrancudo, mas nem sequer isso fez com que se acalmasse. A próxima vez que ocorresse a Garr Ce Bemn. a ideia de que ela apreciaria as poucas fichas de troca extra que lhe reportaria uma tarefa alheia às suas específicas, ia dizer o que ele mesmo podia fazer com elas, sem se importar que fosse o líder máximo de todo o planeta. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Ela era Seg 1 e a tarefa de um Seg 1 consistia em proteger e defender os líderes máximos do planeta, não ir trabalhar em qualquer departamento. O posto que ela ocupava era o melhor remunerado em sua especialidade, visto que estava atribuído ao Edifício Governamental e ao diretor em pessoa, mas para ser justa, ele sabia que acabava de comprar uma casa nos subúrbios da capital e certamente acreditava que necessitaria de alguma ajuda para pagá-la. Considerou que estava lhe fazendo um favor. Uma vez que se tranquilizasse, ela também veria desse modo e até chegaria a agradecê-lo quando retornasse à cidade de Galeão, mas primeiro tinha que recuperar a calma. Retomou rapidamente e foi direta para a parede sanitária, em um canto do seu quarto de alojamento, apertou o botão e começou a se despir, enquanto painéis deslizavam para fora para incluir-se dentro de uma área de três metros quadrados. As luzes acenderam automaticamente quando o ambiente foi criado, fechando completamente com um clique suave. Apareceu um banheiro, também viu a mudança de cabelo e olhos e ainda uma gaveta cheia de loções e algumas colônias masculinas deixadas pelo ocupante anterior. No entanto, a única coisa que lhe interessava no momento era o banheiro. Despiu o uniforme de uma só peça, feito de tecido solar cinza prateado, que correspondia a seu cargo. A sua esquerda, uma parede espelhada refletiu a imagem de um corpo em excelente estado físico com pernas longas, esbeltas e músculos rígidos. Tudo nele falava de força, sem necessidade de aparentar protuberâncias musculares, que pelo contrário, mostrava curvas muito femininas e enganosas. Era, em realidade, um corpo que tinha sido submetido a quinze anos de duro treinamento e exercícios intensivos até se converter em uma máquina de briga. Tedra ainda lamentava os três anos de sua vida que tinha esbanjado estudando Descobrimento Mundial, a carreira alternativa que tinha elegido, antes que alcançasse sua estatura atual e lhe permitissem retomar a carreira que tinha elegido em primeiro lugar. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Parou uns segundos quando se viu refletida no muro espelhado e observou o sobrecenho ainda franzido, que afetava o rosto de feições deliciosas. Necessitava de um relaxador de tensões e sabia que o banho não cumpriria essa função. O que precisava era seu massagista, mas como essas máquinas não eram muito comuns e só as utilizavam alguns residentes do Kystran, não era comum encontrá-las nos alojamentos temporários. O apartamento estava equipado com a maioria das outras comodidades que podia encontrar em seu próprio lar, mas um massagista não era uma delas. Sabia muito bem o que aconselharia Martha sobre o assunto e se alegrava que a Clínica Antitensão da Fanya estivesse fora de serviço, porque pela primeira vez em sua vida se sentia tentada a visitar uma. Os benefícios seriam os mesmos, obtidos apenas com um tipo diferente de batimento corpotal, o tipo que ela teria ainda que experimentar, embora não por falta de ofertas. Os homens se sentiam atraídos por ela, apesar de sua altura, e era apenas sua posição de Sec 1 que os impedia de incomodá-la com este assunto. Ela sempre quis saber o quão ruim seria, caso não fosse tão alta quanto ela, mas ela estava acima da média de altura, cerca de três centimetros acima da média masculina que girava em torno de um metro e setenta e cinco centímetros. Um metro e oitenta centímetros era o máximo alcançado pelos homens de Kystran, mas era algo raro, e todos eram Segs, o que teria sido agradável, caso ela estivesse interessada, mas não estava. Algum dia chegaria a sua vida o homem que não pudesse vencer em combate e só então se alegraria de que seu próprio corpo fosse elástico e bem proporcionado, os seios bem formados, a cintura mais estreita que a da maioria das mulheres e os quadris curvados. Tampouco podiam passar despercebido o saudável tom dourado de sua pele, os grandes olhos amendoados, o nariz pequeno e a boca carnuda de tom coral suave. O severo tom café do cabelo e dos olhos se devia só às atividades que tinha tido que desenvolver nesse dia, mas não era natural. Entretanto, não tiravam o atrativo das belas feições que estavam em acordo com o resto do corpo. Tedra não se queixava desse físico perfeito. Só nunca tinha tido CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter01 – A mulher do guerreiro motivos para apreciá-lo com justo valor, exceto sua estatura que era um dos principais requisitos para ingressar na carreira de Segurança. Deixou o uniforme no chão já que sabia, que um robô assistente sairia em disparada para recolhê-lo, assim que abrisse a porta e saísse. Ninguém podia acusar Tedra de ser ordeira, mas por outro lado, a existência de robôs assistentes era muito anterior à época de seu nascimento e estes tendiam a consentir demais às pessoas, mantendo tudo reluzente, higiênico e ordenado. A máquina não era mais alta que seus quadris e deslizava por meio de rodinhas silenciosas, portanto jamais resultava um incômodo. De fato, a maioria das vezes, nem sequer sentia sua presença enquanto trabalhava a seu redor. A unidade que tinha em sua casa estava programada para receber suas ordens e levar sua comida à cama, se estivesse cansada demais para pressionar o botão de seu fornecedor de comidas. Demônios, essa maldita coisa até lhe escovaria os dentes se deixasse. O banheiro de raio solar era uns trinta centímetros menor que a unidade que tinha em sua casa, e a banheira tubular media meio metro de diâmetro, logo era adequada para alguém de seu tamanho. A porta curva se fechou silenciosamente assim que os dois pés pisaram no chão da unidade, uma luz vermelha inundou todo o alto cilindro, banhando-a em tinturas escarlate. O raio de luz durou só três segundos e apagou ao mesmo tempo abriu automaticamente a porta, como um convite para que saísse. Tedra o fez. Limpa agora dos pés a cabeça. Até a opaca cor café do cabelo brilhava com suave brilho depois do banho. Em realidade, não tinha ideia de como funcionava, mas o banho de raio solar era usado há mais de cinquenta anos após a Grande Escassez de Água e permaneceu em uso devido a sua eficácia para economizar tempo. Sua unidade doméstica, um modelo novo, estava projetada para ser compatível com o tecido solar dos uniformes e limpá-los também. O uniforme era bastante fino e cômodo para dormir, ou seja, economizaria ainda mais tempo não tendo que trocar de roupa para ir ao trabalho. Muito poucos habitantes do planeta recordavam como era banhar- se de outro modo que não com o raio solar. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Ao sair do banho marcou um traje de duas peças no disco seletor e o guarda-roupa apresentou calças e jaqueta sem mangas, os únicos objetos de vestir que havia trazido para sua breve visita a Fanya, foram os uniformes. Fazia uma semana que se perfumou com sua loção favorita e não seria necessário reforçá-la, a pouca maquiagem que usava nos olhos, uma fina linha de delineador preto como suas pestanas e o tênue rubor que lhe coloria as bochechas eram permanentes. Finalizada a tarefa, já não tinha necessidade de usar essa indescritível cor de cabelo, assim dedicou os vinte segundos seguintes, para trocá-lo por um vibrante amarelo limão, que só se poderia usar com a maquiagem café que tinha nas pálpebras. Conservou o comprido cabelo enroscado no coque regulamentar, já que era desnecessário soltá-lo para lavar ou tingir. Tirou a franja da frente com rápidas passadas de escova e enfim estava pronta para partir, cinco minutos depois de sua entrada ao apartamento. O robô assistente rodava em sua direção tão logo se abriram os painéis e desapareceram suas ranhuras. — Empacote minhas coisas para viajar, companheiro. -não tinha se incomodado em nomear a unidade temporária, por temer o possível ciúme de sua unidade doméstica se o fizesse, embora esta última não fosse um modelo que pudesse pensar por sua conta, como o fazia Martha e não queria correr o risco de alterar o perfeito funcionamento de suas servidoras domésticas. Enquanto esperava que a unidade, reunisse seus pertences e os empacotasse devidamente, dirigiu-se ao console audiovisual para chamar seu chefe e informar que sua missão tinha fracassado. Todas as boskratas, sem exceção, tinham desaparecido do laboratório, quando os estudantes ecologistas finalmente tinham entrado, tropeçando com os corpos cansados no chão, para resgatar suas amigas escamosas. Em realidade, não havia fracassado. O edifício ainda se mantinha sobre seus alicerces, ninguém tinha morrido e só o interior do laboratório tinha sofrido danos menores. Ninguém CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro a tinha comunicado que não devia permitir que as boskratas abandonassem o edifício. Deixou-se cair na poltrona adaptável diante do console, que imediatamente se adaptou a sua estatura e contorno. Estava a ponto de ativar o canal de larga distância com acesso direto à cidade de Galeão, há quinze quilômetros de distância, quando a tela de um metro acendeu e um homem, a quem reconheceu vagamente, encheu a tela com vívidas cores. Sua mão ficou suspensa no ar e Tedra, na poltrona, ficou um tanto sobressaltada pelo fato da tela ter se acendido sem ter recebido a ordem "Responda", em voz alta. Ninguém aparecia nos consoles audiovisuais sem permissão, já que a visão era bilateral e seria invadir a intimidade se o fazia. Contudo, ali estava esse homem, olhando-a, sentado detrás de um escritório, que reconheceu, como escritório do diretor de Kystran, mas ele não era Garr Ce Bernn. Recuperou o ânimo antes que ele falasse ou que ela mesma, se desse conta de que, na verdade, ele não podia vê-la. Era só uma entre milhões de espectadores em uma transmissão múltipla. Sabia que se podia fazer, a que todas as unidades audiovisuais, sem exceção, transmitissem simultaneamente a todo o planeta, mas nunca tinha sido feito antes, assim não podia se culpar por ter se desconcertado no princípio. Voltou a sobressaltar-se no instante em que ele começou a falar. — Bem vindos, cidadãos! -a voz era bem modulada, parecia um homem feliz e certamente o era, se acreditasse em sua mensagem- É provável que alguns de vocês me recordem como candidato ao cargo de diretor em 2134 DC., há cinco anos. Agora sabia onde o tinha visto antes, com cabelos mais claros do que os que ela acabava de trocar e olhos cinza, como aço. A luta pelo cargo de diretor tinha tido lugar antes que a enviassem ao Edifício Governamental, quando ainda era Seg 2, mas recordava a indignação dos cidadãos pelas táticas turvas e ocultas deste homem, ao comprar votos do Conselho dos CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Nove, que eram todos poderosos unicamente durante a época de eleições, a cada dez anos, quando seu dever era decidir a questão de meros conselheiros durante a década seguinte. — Seja que me recordem ou não, não tem maior importância. - continuou- Tudo o que precisam saber é que sou Crad Ce Moerr, seu novo representante. — Ao demônio, com o que diz! - exclamou ela, deixando escapar quase o resto da mensagem, já que ele não se deteve para lhe permitir esse acesso de fúria. — Pelo uso da força, no dia de hoje, tomei o controle do Edifício Governamental e não tenho intenções de renunciar a ele. A tirada do poder se realizou sem dificuldades e um mínimo de baixas. Sentirão prazer ao saber que seu anterior representante está livre de perigo, enquanto não se tente tirá-lo do Edifício Governamental, onde desfrutará de um cômodo confinamento, para garantir seu bom comportamento durante a transição do comando, assim como também nos anos futuros. Permitam-me lhes assegurar que não sobrevirão mudanças importantes durante minha direção. Suas carreiras e vidas, bons cidadãos, continuarão como até agora, inclusive para aqueles que pertencem a Segurança. A diferença será seu novo representante, para guiá-los em paz e prosperidade, um novo representante a quem proteger e reverenciar. Esse sou eu, Crad Ce Moerr. -terminou. A tela ficou em branco e os pensamentos de Tedra explodiram de indignação e incredulidade. Era uma brincadeirae de muito mau gosto. Essa palavra "reverenciar", seguia soando em seus ouvidos, semeando a dúvida que começava a torturá-la. Irá exigir reverência? Que espantosamente autocrático. Garr Ce Bemn era amado e reverenciado pelo povo. Não tinha que exigi-lo. Pelo uso da força? Segurança contra segurança? Não! Impossível! Mas, era a verdade. Abriu rapidamente o canal de longa distância e entrou na linha direta com o Edifício Governamental. Enquanto aguardava que reacendesse a tela, CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro cravava as unhas nos braços da poltrona. O corpo de segurança do Edifício Governamental era o melhor, como puderam derrotá-lo? Teriam subornado? Teriam prometido alguma recompensa especial? Podia ter trabalhado tanto tempo com esses homens e não os conhecer absolutamente? Maldição e malditas as estrelas! Por que ela não estava ali? Poderia ter feito algo, mudar em algo a situação. A tela permaneceu em branco se negando a dar respostas. Tentou se comunicar com outro lugar imediatamente enquanto o canal continuava ainda aberto. A tela se acendeu com o rosto de um de seus amigos, Rourk C Dell, chefe do Museu de Relíquias. — Graças às estrelas do céu! Tedra. Tínhamos tanto medo de que houvesse... -não concluiu a frase e passou a mão pelo rosto em um gesto de extremo cansaço e alívio. O coração de Tedra acelerou, esperando o pior depois dessas palavras- Escute com atenção e não me interrompa! É verdade, se viu como o resto de nós, que o Edifício Governamental está fechado e se apropriaram dele. Quão último soubemos sobre o diretor Bernn, era que ainda estava com vida, mas o resto... nada mais que mentiras. Não poderia acreditar em algumas das notícias que ouvimos! Esse maldito traidor está expedindo ordens à direita e esquerda, milhares de mudanças e se está saindo com a sua. — Só me diga como, Rourk. -disse Tedra. — Te direi assim que chegar aqui. — Rourk! — Agora não há tempo, Tedra! -disse, frustrado e ansioso, igual a como ela mesma sentia- Devo manter aberta esta linha para o Slaker. Está fazendo maravilhas no laboratório de computadores. Quando não pude me comunicar contigo, pensei que ainda estivesse na Fanya e corri o risco de pedir que a inscrevesse na lista das baixas desde ontem, assim não suspeitariam de nada. Elaboramos um novo estado para você, mas surgiram alguns problemas com o computador de documentação e registro de pessoas, como se eles tivessem considerado a possibilidade de que CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro tentássemos alterar alguns dados e travaram os arquivos, mas Slaker está se ocupando disso e já sabe quão bom é. — Sim, eu... — Retorne assim que puder, Tedra, e se dirija diretamente a minha casa. Nem pense sequer, em se aproximar do Edifício Governamental, Complexo de Segurança ou até mesmo de sua nova casa. Não fale com ninguém mais e tente não se preocupar muito. De alguma forma Slaker e eu a tiraremos do planeta. — Do planeta? -disse Tedra, faltando-lhe a voz- Devo abandonar o planeta? — Isso ou algo pior, Tedra. Crad Ce Moerr deve pagar seus mercenários de alguma forma. Todas as mulheres Seg, que caírem em suas mãos, serão a primeira cota. — Mercenários não seguranças? -Tedra tentou articular- Como? — Os Sha-ka’ari1 -respondeu. Mas os Sha-ka’aris só empunham sabres e espadas, pensou incredulamente e finalmente desligou a tela. 1 Shak’ara – Grupo étnico de Kan-is-Tran (várias cidades). CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 02 Em seu cruzeiro aéreo de quatro lugares, Tedra levou menos de vinte minutos para chegar a Gallion. Entretanto, levou várias horas para encontrar um lugar em que pudesse estacionar, uma vez que o apartamento de Rourk estava situado bem no coração de Gallion e encontrar um lugar adequado para estacionar um cruzador aéreo nunca foi fácil, mas hoje era quase impossível. Desejou se atrever a voar aos subúrbios para trocar o cruzador por sua muito menor aeronave, Fleetwing II, que normalmente usava para viajar pela cidade, mas depois das advertências de Rourk, seria louca se tentasse. Ainda não sabia o que diabos tinha acontecido no Edifício Governamental, e até que soubesse, seguiria suas sugestões, ao pé da letra. Finalmente, outro cruzador decolou de um telhado de estacionamento a três quarteirões de distância, e antes que várias aeronaves pudessem ocupar o espaço, pousou sua nave. Era muito provável que semelhante congestionamento na cidade se devesse à transmissão do Crad Ce Moerr. Tedra não seria a única ansiosa por descobrir o que estava realmente acontecendo. Sua cabeça estava cheia de ideias, de perguntas sem resposta e nada parecia ter sentido. Conhecia muito pouco aos Sha-Ka’ari, mas tinha que haver toneladas de informação, armazenadas no arquivo do computador já que Kystran estava traficando com Sha-Ka’ari desde que tinham descoberto esse pequeno planeta, oculto no setor norte do sistema Estelar Centuria fazia alguns anos. Tudo o que recordava era que era habitado por gigantes, que se aferravam a muitas crenças e costumes antigos. Uma prova disso era, que ainda existia escravidão entre eles, e que continuavam fazendo guerra em seu próprio planeta. Entretanto, cobiçavam as tecnologias avançadas de outros mundos para poder melhorar as condições de vida de seus habitantes, o que tinham obtido em grande medida. Mas a última notícia que tinha ouvido sobre esses gigantes, era que continuavam com suas práticas escravagistas e que ainda eram guerreiros que lutavam com CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro espadas como únicas armas, o qual não tinha sentido, a menos que Ce Moerr, os tivesse adestrado e provido de armamento moderno para a tomada do poder. No mesmo momento em que a ideia cruzava por sua cabeça e parecia ser a única explicação possível, Tedra viu os demônios em questão pela primeira vez. Eram dois e foram pela avenida deslizante, que levava os transeuntes a qualquer parte, em uma velocidade três vezes maior que a caminhada. Ela, por sua parte, estava cruzando essa avenida uns metros mais adiante, por seus próprios meios, já que desejava se manter distante das avenidas lotadas de gente, embora fossem só uns metros, pois tinha bem presente a advertência de Rourk de não falar com ninguém. Simplesmente ver suas cabeças se sobressaindo acima da multidão, fez que seu organismo bombeasse adrenalina por todo seu corpo. Eram realmente maiores do que tinha imaginado, mesmo que tivessem fama de gigantes. Os homens de Kystran podiam chegar a ser altos; ao menos alguns, mas não adquiriam força muscular. Em comparação, os dois guerreiros Sha-Ka’ari eram autênticos colossos, até o que não parecia medir mais de um metro oitenta. Seu companheiro tinha uns dez centímetros a mais de estatura, mas ambos eram tão musculosos que dava vontade de chorar amargamente. Estrela celestial! Eram todos assim? Mas usavam espadas, por amor às estrelas! Uma vez mais não tinha sentido. Ao lutar contra um phazor pareceriam desarmados. Suas próprias armas estavam na maleta, mas poderia empunhá-las imediatamente, se tivesse que fazê-lo. Contra simples espadas nem sequer as necessitaria. Anos atrás tinha avançado mais à frente do treinamento regular de segurança, continuando se autotreinando em algumas das mais mortíferas técnicas de luta sem armas. Rourk, que trabalhava no Museu de Relíquias, proporcionava todas as fitas de vídeo gravadas que pudesse necessitar. Até tinha se entusiasmado com a história antiga geral, que se converteu em sua segunda paixão, logo depois de seu trabalho. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Acreditou que não aconteceria nada, mas ao simplesfato de ver estes dois guerreiros, o bombeamento de adrenalina a tinha feito compreender que não seria assim. De fato, ambos desembarcaram da avenida deslizando na sua frente, certamente porque sua elevada estatura tinha chamado atenção. Como os corpos eram tão grandes e largos, não haveria espaço para rodeá-los e seguir seu caminho, a menos que subisse na avenida, mas eles não estavam bloqueando seu caminho em vão, e que a perseguissem pelas avenidas deslizando, não era o que ela considerava divertido, nenhuma forma de manter um perfil baixo. Estavam sorrindo como se ela fosse algo que tivessem perdido e reencontrado, enquanto falavam entre si em uma língua infernal, provavelmente Sha-ka’ari, que era uma amostra de descortesia, posto que não poderia acreditar que viessem lhes invadir, sem antes ter feito um curso de hipnose do sono com os tradutores Kystrani para, pelo menos, aprender o idioma do planeta alvo do ataque. Mesmo que não tivessem chegado preparados para que nos entenderem, poderiam ter aprendido o idioma na primeira noite enquanto dormiam. Dormiam iguais a todos, não era assim? Os guerreiros usavam uniformes similares aos de Seg, de mangas largas, pernas largas e uma só peça de um material azul que não reconheceu. Era algo grosso, provavelmente para conter toda essa musculatura que parecia estar a ponto de fazer saltar todas as costuras disponíveis. As botas eram de material comum, como os cinturões que se diferenciavam unicamente por estar desenhados para conter as espadas e nada mais. Ao mesmo tempo em que conversavam animadamente a observavam com o mesmo cuidado que ela os observava. A língua que falavam já começava a incomodá-la. Podia falar as setenta e oito línguas dos Planetas Confederados da Liga Centuria do sistema Estelar. Kystran ocupava o décimo segundo lugar em importância na liga, por ser o principal exportador de artigos de luxo, tais como banhos de raio solar, trocadores de cabelo e olhos, poltronas, camas adaptáveis, mantas de ar e todas as pequenas coisas que faziam a vida mais confortável e eficiente. Kystran recebia uma CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro grande quantidade de visitantes da Liga Centuria, mas o planeta ShaKa'ar não estava confederado, assim não tinha tido nenhum motivo para aprender em sonhos a tradução dessa língua, se por acaso estivesse registrada nos arquivos do Kystran. Quando estava a ponto de dizer que era uma descortesia falar em uma língua estranha diante dela, o mais alto começou a lhe dirigir a palavra usando um kystrani, idioma falado por Tedra, muito preciso e pausado como se desconfiasse do idioma que falava, o que resultava num sotaque divertido. Poucas pessoas dos mundos subdesenvolvidos tecnologicamente, acreditavam possível, que pudessem aprender uma nova língua em sua totalidade, só em umas poucas horas, sobretudo quando não era necessário estar acordado e escutando-a. Os que experimentavam pela primeira vez, sempre se mostravam céticos e não confiavam, que as novas palavras guardadas no subconsciente, saíssem de acordo com seus pensamentos conscientes. Demoravam mais tempo para poder pensar, também, na língua nova. — Pertence a Segurança, não é assim, mulher? -por todas as estrelas! Era por sua atitude como se estivesse pronta para derrubá-los ao primeiro movimento em falso ou era por sua estatura? É obvio que só estavam adivinhando. Para se salvar teria que fazê-los pensar outra coisa dela. — Eu, da segurança? Só pode estar brincando, querido! Na verdade, pareço da segurança? -esticou os braços ao lado do corpo, o máximo que pôde, para que a parte inferior do colete se abrisse e deixasse descoberto boa parte do torso nu, e ali pousaram imediatamente os olhares de ambos, como tinha esperado, lhes desviando a atenção da segurança- Sou programadora na Bolsa de Exportações! -continuou, se por acaso restasse alguma dúvida- Fui transferida faz três anos, mas ainda não me acostumei a viver na cidade. Por todas as estrelas, e todas as vantagens que tem! Tudo isto é péssimo para o corpo, se compreenderem o que quero dizer. Em meus dias livres tenho que sair da cidade e fazer exercício ou ficaria louca! CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Dias livres são dias de feriado escolar -disse um guerreiro ao outro. Não estavam realmente seguros. Uma língua nova sempre tinha algumas palavras ou expressões que careciam de sentido, porque não podia comparar com as do seu próprio mundo. Nesses casos, era necessária uma explicação verbal, caso fosse usar a língua por um tempo prolongado. — Certamente estão de visita em nossa bela cidade, não é assim? -era o comentário lógico nessas circunstâncias e, depois de tudo, Ce Moerr não tinha mencionado os Sha-ka’aris em sua mensagem, assim que o cidadão comum não tinha por que saber que estes guerreiros eram a "força" que, de certo modo, faziam possível a usurpação do poder. Não responderam e não tinha esperado que o fizessem. Além do fato que, deviam estar sob ordens estritas de não alarmar os cidadãos fazendo-os saber quem eram e por que estavam ali, quem não fosse segurança insistiria em obter uma resposta? Ela tinha negado pertencer a segurança e tinha a esperança de havê-los convencido plenamente. O mais alto se aproximou mais e a obrigou a jogar a cabeça para trás para seguir olhando em seus olhos, uma experiência absolutamente nova e bastante assustadora. Nunca tinha tentado medir suas forças e habilidade na luta com um ser desse tamanho. Embora, na realidade, o tamanho carecesse de importância com a maioria de seus movimentos, mas sempre existia alguma remota possibilidade de que seu competidor tivesse sorte e se ela não pudesse usar suas mãos e pés livremente, a força física inclinaria a balança para o outro lado. Devido a seu intenso treinamento, sabia que não devia permitir que se aproximasse tanto para utilizar essa força contra ela, mas se retrocedesse nesse momento poderia reavivar as suspeitas desse homem. — Nos alegra saber que tem tempo livre, mulher. Nós também temos, assim que o compartilhará conosco. -não haviam dito "quer?" nem "o que te pareceria?", a não ser "fará". Acabava de aprender algo novo sobre os Sha- ka’aris. Sua arrogância era realmente incrível. Além disso, era óbvio que ela CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro tinha atuado muito bem em seu papel de jovenzinha despreocupada, alegre e absolutamente inofensiva. Com muita dificuldade sufocou um grito de assombro quando uma mão enorme cobriu virtualmente toda a pele do seu peito, que tinha ficado descoberta e nesse instante não coube nenhuma dúvida do que eles queriam fazer, enquanto compartilhavam o tempo com ela. Então assim, teve uma desculpa para retroceder e fingir indignação. — Compartilhar? Os três? Por quem me tomam meninos, por uma empregada da Clínica Antitensão? -o guerreiro foi incrivelmente rápido e agarrou seu pulso antes que pudesse se afastar muito. Em dois segundos poderia liberar o pulso, mas mostraria o que podia fazer e o jogo acabaria. — Ouça...! -começou a dizer, mas só escutou — Então... Escolhe. -podiam ser razoáveis se um deles obtivesse o que propunha. Bem, isso era melhor e preferível à primeira insinuação. Já tinha cometido um grave engano se mostrando tão cordial e frívola, mas era muito tarde para mudar. Os olhares destes homens diziam bem às claras, que suas libidos se exacerbaram ao máximo, e que por mais que ela tentasse mudar de atitude, não serviria para nada. Teria que suportar um deles e enquanto não tivesse alternativa, não correria riscos. Sorridente, voltou o olhar ao guerreiro que só era alguns centímetros mais alto que ela, com a esperança de que fosse mais fácil de dominar. — É tão bom como parece, riqueza, ou terei que provar seu companheiroem outro momento? -seu pulso ficou livre assim que escolheu, mas só para que seu "eleito" desse um passo adiante e rodeasse sua cintura com o braço. — Se for tão boa como parece, neném, nenhum dos dois ficará desiludido. -não havia nada como se meter no papel que se estava representando, pensou Tedra, se lamentando interiormente, mas em voz alta, disse: CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Então, o que estamos esperando? Minha casa está só a uma rua daqui. -seu companheiro disse algo ao mais alto em sua língua incompreensível e ambos se puseram a rir. Tedra teve a sensação de que ainda tinham a intenção de compartilhá-la, já que a consideravam um achado pessoal de ambos e acordaram para fazê-lo separadamente. O mais alto voltou a subir à avenida deslizante, tranquilizando-a, mas seu problema atual não afrouxava o braço musculoso de sua cintura e lhe ocorria uma nova ideia. — Estarei mais cômodo se formos a minha nave. Remotamente improvável, esteve a ponto de grunhir, recordando o que Rourk havia dito sobre o pagamento que receberiam. Temia que esse pagamento não fosse temporário. Depois de tudo, os Sha-ka’aris eram escravagistas, mas o olhar que cruzou com ele não tinha nada do ódio crescente que sentia. — A estação de lançamento está do outro lado da cidade. De verdade, deseja esperar tanto tempo? -quase lhe triturara as costelas como resposta. — Depois irá visitar minha nave. — Estarei muito esgotada, certamente -respondeu com dobro de intenção- mas já veremos. O guerreiro deve ter considerado que era tudo o que obteria no momento pois assentiu, e começaram a caminhar na direção que ela tinha indicado. Tedra voltou a respirar mais tranquila enquanto se perguntava como sairia sem lutar. Não era para menos já que enfrentava um guerreiro de um metro e oitenta, seguro de si mesmo, arrogante e namoradeiro. A primeira técnica poderia ser sua melhor aposta, ele nem sequer poderia imaginar um ataque de parte dela. Assim foi quando chegaram ao apartamento de Rourk. Ela pousou a palma sobre o identificador que obtinha seu rastro no arquivo, passou o braço ao redor do pescoço do gigante, CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro colocou os dedos no lugar certo e pressionou enquanto ele estava distraído vendo a porta abrindo. O único problema foi não ter caído no chão imediatamente, pois voltou a cabeça para olhá-la e durante quase quatro segundos, Tedra sentiu que seu sangue gelava nas veias. Logo caiu estrepitosamente ao chão. Para alguém de seu tamanho, demorou um tempo provavelmente pelos grossos músculos do seu pescoço. Estrelas, que susto! Mas não tanto quanto o susto que deu ao pobre Rourk, apresentando-se em seu apartamento com um guerreiro Sha-ka’aris atrás. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 03 — O que quer dizer com: não desejo matá-lo? -exclamou Rourk, gritando. — Não sei. -respondeu Tedra, suspirando- Me disse seu nome quando estávamos chegando aqui. Se não houvesse dito isso... — Tedra! — Este homem passou suas mãos por quase todo meu corpo e não me incomodou muito. Sabe quanto tempo esperei que algo assim me acontecesse? -disse Tedra. Por ouvi-la, Rourk ficou olhando fixamente. De todo o tempo, tinha que ser este, precisamente, o momento para que Tedra de Arr se lembrasse de que era mulher. Por quê? Durante anos esteve tentando comprometê-la com um homem ou outro e tudo o que ela tinha feito era desafiá-los a um duelo, vencê-los e não voltar a mencionar seus nomes. Ele conhecia o problema de sua amiga, pois a conhecia há uns cinco anos e não podia ignorá-lo. Para falar a verdade, se compadecia disso. Ele mesmo não se sentiria cômodo se inscrevendo para a dupla ocupação com uma mulher que poderia derrubá-lo em questão de segundos, se alguma vez chegasse a irritá-la. Os parceiros do ato sexual brigavam de vez em quando, era algo inevitável, mas a qualquer homem desgostaria saber que poderia terminar gravemente ferido ou talvez morto, se sua companheira perdesse a cabeça. A Tedra tampouco agradava. Ainda estava esperando pelo homem que lhe impusesse certo respeito. Fazia muito tempo que esperava. — Não esta pensando em se associar ao inimigo, não é mesmo? — Não o derrubei? -bufou ela- Não teve possibilidade alguma! -ali estavam os quatro segundos que acreditou que a primeira técnica tinha falhado e também estavam esses sentimentos sobre onde Kowal a tinha beijado, uns metros antes de chegar à casa do Rourk. Maldito guerreiro. Por CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro que tinha que beijá-la?- Não tenho vontade de matá-lo, ok? -resmungou, zangada, não estava acostumada a se sentir desta forma. — Muito bem, muito bem -aceitou rispidamente Rourk. Por um momento olhou fixamente o guerreiro desmaiado, apoiado contra uma cadeira- Existem outras possibilidades, é obvio. Agentes que poderiam fazê- lo esquecer completamente estas últimas vinte e quatro horas, mas não tenho acesso... — Martha tem! -disse. Rourk olhou-a com o rosto iluminado. — Isso! Sempre me esqueço de que é um Mock II. Estrelas celestiais! Sabe que só há três Mock II em todo o planeta? Que tenha um e em pagamento de uma aposta... — Garr jamais deixa de cumprir sua palavra e aceitou a aposta, mas não lhe custou muito, só a suspensão de todos os impostos de importação dos artigos do Morrilian durante todo um ano. -Rourk sufocou a risada enquanto passava a mão por seu cabelo avermelhado. — Não muito, né, quando a sede do Morrilian custa uma fortuna? Bem, isso soluciona o problema de seu amigo. Pensando bem, provavelmente, Martha poderia se meter nos Registros com mais facilidade que Slaker. Tem aí um radio frequência? — Sim, mas quer dizer que estivemos aqui falando pelos cotovelos todo este tempo quando meu futuro ainda está no ar? — Slaker terá forçado a entrada esta noite. No mais tardar terá um dia ou dois para aprovisionar a nave que usará ... — Já conseguiu uma nave? -perguntou Tedra. Ele negou com a cabeça. — Temos que te inscrever primeiro em Explorações, antes de solicitar uma nave. -ao ver que ela tinha intenções de interrompê-lo novamente, fez um gesto com a mão- Não tem importância. Envia Martha ao console do CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro computador de Slaker e deixe que ele cuide dos últimos detalhes. Enquanto isso, contarei o que sabemos até agora. Assim fez Tedra, mas primeiro, Martha teve que conhecer as razões para isso, como era de esperar. As duas discutiram brevemente sobre quem mandava e quem devia obedecer, antes que Martha se conectasse com o computador de Slaker, lhe causando, provavelmente, um susto enorme já que não tinha ideia de quem apareceria. Enquanto isso, Rourk gargalhava ouvindo-as discutir. Às vezes, o computador pensante, ultramoderno e de última geração de Tedra, levava a mais problemas que soluções. Demônios, a maioria das vezes, tinha tido que suportar alguns debates para conseguir o que precisava, pois deviam programá-la para que fosse compatível com seu temperamento. Naturalmente tinha se escandalizado ao descobrir que essa coisa discutia suas ordens com muita frequência, incomodando-a e provocando-a. O que tinha acontecido com a compatibilidade que lhe tinham garantido? Mas depois tinha compreendido que provavelmente essas discussões eram o que necessitava, como um desafogo para as tensões de seu trabalho, já que não usava a Clínica Antitensão como os outros e tinha sido sincera sobre o tema nos exames. — Conte como fizeram os Sha-ka’aris para tomar o poder? Como conseguiram invadir a guarda de segurança de Garr? Que tipos de armas usaram? -questionou Tedra. Rourk ficou sério imediatamente ao recordar o acontecido. — Essas espadas ... —Não me venha com essas! Não poderiam aproximar-se de um Seg com apenas umas espadas, e você sabe. — Se me deixasse contar o que aconteceu, então saberia que isso foi precisamente o que fizeram. Essas espadas e escudos são feitos de um tipo de aço desconhecido para nós, embora para falar a verdade, já não usamos CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro muito aço no planeta. Chama-se Toreno e unicamente seus armeiros conhecem o segredo para fabricá-lo. Estava ali nos Registros para qualquer um que se interessasse em revisá-los e Crad Ce Moerr deve tê-lo feito antes de ter que abandonar, em desgraça, o planeta. Nada pode penetrar este aço Toreno, Tedra. Todos os disparos que fizeram ricochetearam nos escudos. - Tedra se encolheu na cadeira, deprimida e pensou: Assim tão fácil? Sem armas secretas, nenhuma estratégia brilhante, só escudos para se proteger. E então se mexeu no assento, envergonhada. Tinham derrotado sua própria unidade de segurança. — Assim que as armas resultaram inúteis? Mas os Seg 1 não necessitam de armas -recordou Rourk- O dia em que eu não possa dançar ao redor de uma espada, em uma luta corpo a corpo, me retirarei, assim como... — Não te ponha agora na defesa. Olhe com atenção a uma dessas espadas. Medem pelo menos um metro e vinte centímetros de comprimento, sem mencionar a folha de duplo fio. Esta esquecendo os escudos que são mais compridos ainda. Some a isso a força desses gigantes, o maior alcance de seus braços além da longitude das espadas, o lugar estreito para lutar e, por último, por mais que te agradaria que fosse de outra maneira, ninguém em sua unidade é tão bom lutador quanto você. Rourk não disse expressamente, mas deixou entrever que ela não teria tido possibilidade alguma de mudar os acontecimentos. Pôde se imaginar no combate, onde uma maldita parte de metal rechaçava cada golpe ou patada que lançasse, onde todas as técnicas que conhecia se voltavam inúteis como as armas. Desabou na cadeira. — Como brigamos contra algo como isso? Como recuperamos nosso planeta, Rourk? — Não o fazemos... por agora. Até pode acontecer alguns anos antes que Crad Ce Moerr se sinta o bastante seguro para não se rodear de guardas. Tampouco permitirá aos Seg que se aproximem do Edifício CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Governamental. Provavelmente ainda os utilize em outras cidades, mas no Edifício Governamental, onde têm Garr Ce Bemn, como refém, estão só os Sha-ka’aris. — Ele também será um prisioneiro, se espera seguir com vida -grunhiu ela. — Mais ou menos -concordou Rourk- Não cruzaremos os braços fingindo que tudo está bem. Quando se apresentar a primeira oportunidade de nos desfazer do maldito lixo, faremos. — Mas se não ficarem Segs na cidade... — Acredita por acaso que os homens têm que ser Segs para combater, Tedra? – ela ruborizou um pouco. Não quis insinuar que ele era um covarde, mas demorariam uma eternidade se dependessem dos cidadãos para vencer os Sha-ka’aris. — Alegra-me saber que ao menos ninguém toma isto com indiferença. — Oh, pode estar certa de que há muitos que não dão importância. O novo diretor e suas ordens não prejudicarão a todos. Até haverá alguns aos quais agradarão as mudanças. Pode ser que os computadores, dado todos os fatos com que os alimentou até agora, se equivoquem nos objetivos que sugeriram como possíveis, mas parece ser que a C Moerr, havia gostado do estilo de vida dos Sha-ka’aris. Uma das possibilidades é que pretenda subjugar as nossas mulheres, deslocá-las de seus atuais postos de poder e retroagi-las à posição servil da que escaparam faz milhares de anos. — Que demônios têm feito, que possa sugerir tal coisa? — Em Gallion já despediram todas as mulheres que ocupavam algum posto de importância e até algumas em posições secundárias. Imediatamente subiram aos homens que as seguiam em fila. — Sem motivo? -ofegou ela. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Não se necessita nenhum quando a ordem vem do Edifício Governamental, sabe bem. — Que mais? -exigiu ela, paralisada pela cólera. — Já foram classificadas nos arquivos como inaceitáveis para qualquer emprego. — Então, o que se supõe que façam para conseguir as fichas de troca? Como podem manter-se... ? — Precisamente, Tedra, não podem. Terão que violar a lei, em cujo caso passará ao poder dos Sha-ka’aris ou terão que depender de um homem que as mantenha, o que não é uma situação fácil de aceitar para algumas mulheres. Não, por certo. Sabia que ela não poderia. Ver-se obrigada a pedir a um homem tudo o que necessitava ou queria, quando sabia perfeitamente bem que podia obter ela mesma, receber um não por resposta se a ele lhe desejava muito ou se vir forçada a suplicar e adular para consegui-lo. Tedra estremeceu e rapidamente passou à alternativa que ele tinha mencionado. — O que quer dizer com isso de violar a lei e que passem o poder aos Sha-ka’aris? — Não vai gostar, Tedra, mas isso me disse, Dexal, que esteve observando o Edifício Governamental. Esta manhã levou três mulheres ali por infrações leves, que não mereciam outro castigo que uma palmada e uma advertência, entretanto, pouco depois levaram as três a uma das naves dos Sha-ka’aris. Essa nave já abandonou o planeta. Parece que as mulheres segurança não são as únicas que prometeram aos Sha-ka’aris como pagamento por sua ajuda. Aí estava, o que tinha temido. — Tavra e Prish, de minha unidade? — Ambas nessa mesma nave. Parece que os Sha-ka’aris querem para si todas as mulheres segurança, por isso estava me voltando louco de CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro angústia por ti, antes que chamasse. Acredito que lhes agrada a ideia de converter em escravas as que consideram guerreiras. Já saiu a ordem para que todas as mulheres de segurança do planeta se apresentem no Edifício Governamental imediatamente. Se apresentarão sem suspeitar nada, a menos que as façamos saber de algum modo o que está acontecendo, mas interromperam toda circulação fora da cidade e não se permitem as comunicações interurbanas. Nossa única esperança é poder as acautelar quando chegarem. -Tedra fechou os olhos se entregando a terríveis pensamentos. — Têm a intenção de escravizar todas as mulheres kystranis? — Acredito que levarão todas as que possam, de todos os modos, podem obtê-las sem necessidade de alertar à população em geral sobre o que estão fazendo. As infratoras da lei são presas fáceis. Podem trazê-las sem que se formulem perguntas e se alguém, pede informe sobre elas, podem responder que foram condenaram. Já trocaram várias leis que converterão em infratoras numerosas mulheres, sem que elas saibam sequer. Você é uma delas. — Seriamente? -perguntou Tedra. — Ce Moerr reduziu de vinte e cinco para dezoito anos, a Idade de Consentimento das mulheres. Agora é virgem ilegalmente. — Não podem fazer isso! -exclamou pálida como a morte- Não sou a única mulher que nunca aceitou ter relações com um homem antes! Há muitos anos decidiu que não devia se permitir às mulheres negar- se a manter relações sexuais, pois era prejudicial para a saúde. Tedra era um exemplo vivo de que isto não era uma verdade absoluta, mas quem era ela para se opor às leis em vigência? Assim que se fixou uma idade limite, vinte e cinco anos, considerado como um tempo suficientemente longo, para que as mulheres se inscrevessem na dupla ocupação ou se registrassem em uma ou mais clínicas antitensão. Se nesta idade ainda não se aventuravam a CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro averiguar os supostos benefícios das relações sexuais, escolhiam um parceiro, por computador, para que convivessem perfeitamente e com permissão, forçando-as legalmente, se ainda se mostrassemindecisas. Uma onda de pânico tinha ido se apoderando dela ao se aproximar da Idade de Consentimento, já que nem sequer uma Seg podia burlar a lei. Claro que poderia ter escolhido qualquer um antes desse momento, preferentemente a Rourk, só para encher os requisitos de uma lei injusta, mas não tinha pensado muito nisso. Rourk interrompeu seus pensamentos. — Não franza tanto a testa, Tedra. Seu novo histórico a incluirá entre as mulheres violadas e como membro de pelo menos quatro clínicas antitensão. Ruborizou-se violentamente. Não pôde remediá-lo. Não tinha muitos amigos íntimos como Rourk, mas esses poucos que tinha, encontravam muito divertidos seu modo de reagir, com respeito às relações sexuais, sobretudo porque a apavorava sem reserva, e porque seu único problema era a eleição do parceiro Felizmente, Martha reapareceu na linha nesse momento. — Já está tudo sob controle, querida. -Martha estava falando com uma voz sensual e ronronou em consideração a Rourk- A partir de agora é Tamber De Lhes, piloto de Descobridores Mundiais, dependente de Explorações. Suponho que agora você gostaria de ter uma nave de Descobridores Mundiais. — Não estaria mau -respondeu Tedra, seca- E se não fosse um grande problema, poderia se conectar com os computadores de Provisões e requisitar provisões suficientes para uma comprida viagem. — Não há problema, querida. Algo mais? — Sim, quero... -Rourk a interrompeu com uma palmada no ombro. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — É melhor que faça algo com seu amigo. Eu direi a Martha o que mais necessita. Tedra já estava cruzando a habitação a passo firme, se ajoelhando ao lado do guerreiro que começava a dar sinais de vida. Maldição, não tinha perdido a consciência por muito tempo. — Solicite a Martha que procure esse agente e que o enviem aqui o quanto antes -gritou por cima do ombro enquanto rechaçava a mão do guerreiro que queria tocá-la assim que a ouviu falar- Calma, querido. - desenroscou os dedos do guerreiro de seu cabelo e se agachou para lhe falar no ouvido- Está ébrio. Bebeste muitas taças do bom vinho Antury, mas o estamos ajudando a ficar bem. Deve ter pensado o mesmo porque virou a cabeça e a beijou nos lábios, enquanto os dedos acariciavam seu pescoço. Torvelinhos de desejo e necessidade longamente reprimidos surgiram à superfície, e ela quase esqueceu de aplicar pressão no lugar devido, para desacordá-lo novamente. Quando aplicou, seus lábios continuaram juntos aos do guerreiro, uns segundos mais, antes que cabeça dele caísse para o lado. Tedra sentou sobre os calcanhares, soltou um suspiro e ficou olhando- o fixamente. Tinha o cabelo curto e negro, como a cor original do de Tedra. Os olhos eram de uma adorável cor ambarina. Não acreditava ter visto em sua vida um homem tão atraente, talvez com a exceção do outro guerreiro mais alto. Era uma verdadeira vergonha que tivessem que ser seus inimigos. Tinha sido capaz de derrubar este, mas teria sido tão fácil se não o tivesse surpreendido? Acariciou seu braço forte, duro como uma rocha até em estado de relaxamento total. Se esses braços tivessem lhe rodeado em meio a uma luta, poderia estar em uma nave a caminho da escravidão. Tinha tentado levá-la à nave e teria tentado outra vez, depois de terminada sua relação sexual. Se perguntava quantas mulheres teriam roubado dessa forma. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — É uma pena, querido. -acariciou a bochecha- Mas não me interessa a escravidão, por mais atraente que seja o amo. Teríamos terminado nos matando. — O que está dizendo? -perguntou Rourk a suas costas. — Nada. — Está segura de que não recordará nada depois do que fará o agente? — Nada, absolutamente, e doerá a cabeça para se convencer de que bebeu muito, se não o fizer a perda da memória. — Quando me detiveram na rua havia outro guerreiro com ele. É provável que recorde de Kowan... — Então, por que não lhe faz algum arranhão ou algo ao estilo para que tenha algum motivo para desejar poder recordar o acontecido? Tedra sorriu e voltou a se reclinar sobre o guerreiro estendido no chão. Aproximou os lábios da garganta do homem dormindo, e quando terminou, viu um pequeno chupão parecido ao que tantas vezes notou no pescoço de Rourk, depois de ter compartilhado uma relação sexual com Xeta. — Isso deve fazê-lo renunciar às bebidas alcoólicas por bastante tempo -declarou Rourk- Está certa de não querer que a viole antes de se perder no espaço? Tedra o olhou e ficou sobressaltada ao ver que falava a sério. — Rourk! — Sinto muito -disse, envergonhado- É que nunca te vi tão terna e suave. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Teria influenciado tanto nela o beijo do guerreiro? Estava demais irritada. Depois de tudo, esse maldito lixo tinha tentado escravizá-la. Ficou em pé abruptamente, resmungando. — Escolhi um bom momento para recordar que sou uma mulher. -ele sufocou um risinho ao ver que a Seg tinha retornado. — Suponho que a ocasião é espantosa. — Conseguiu uma nave de Descobridor Mundial? — Não, mas consegui um posto prioritário, assim não terá problema para partir do porto. — Poderei partir do porto? Que outra espaçonave pode pilotar uma só pessoa...? — Tive que tomar a que estava disponível, Tedra. Os Descobridores estão todos fora do planeta ou em reparos. Consegui um Vagamundo de Transporte, em troca, pode voar tão distante como um Descobridor, até mais longe, já que é mais veloz também. É maior, isso é tudo. — Muitíssimo maior, Rourk. Como supõe que eu possa pilotar sozinha uma nave semelhante? Não conheço nada sobre os Vagamundos. Meus estudos, breves como foram, se dedicaram aos Descobridores. — Não se preocupe. -sorriu com malícia- diga, Martha. — Ele tem razão, querida -a voz de Martha flutuou através da habitação, provando que estava escutando a conversa- Tudo o que tem que fazer é ligar-me ao computador a bordo do Vagamundo e assumirei tudo. Estou programada para pilotar o que tenham. Por que acredita que sou tão cara? — Sempre me perguntei isso -replicou Tedra, cortante e só ouviu o que pareceu um bufo de parte do computador feminino. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Vamos! Não é para tanto! -interveio Rourk olhando Tedra e rindo em silêncio. Tedra lançou um suspiro. — Se encarregou das provisões? — As provisões estão reguladas para um Vagamundo -disse Martha- Somente tive que dar a data de partida e eles se encarregam de provisionar a nave por completo. — Para uma tripulação completa? Como bem sabe, um Vagamundo geralmente leva uma tripulação completa. E o que me diz disso? Os encarregados da estação de lançamento me deixarão sair sem cumprir esse requisito? — Conforme os informes que têm, supõe-se que recolherá a tripulação em Tara Tey e uma vez que tenha partido farei que Slaker apague todas as entradas -acrescentou Rourk- As provisões adicionais possivelmente possam ser uteis. -ante o olhar de surpresa de Tedra, recordou-lhe- Poderia passar muitos anos antes que pudesse retornar ao planeta sem correr perigo. Bem, poderia se dedicar um pouco em descobrir outros mundos enquanto está no espaço. Anos, pensou Tedra, abatida. Recordou a nova casa nos subúrbios onde se mudou fazia só uma semana, todos os pertences que deveria deixar atrás, seus amigos. — Pelas estrelas, todas minhas coisas! -ofegou ela- Quem vai recolher as placas controladoras de Martha? Ela só está aqui através de um link. Seu corpo e alma estão em minha nova casa, — Não pensará que me esqueceria desses pequenos detalhes de tanta importância, verdade? -perguntou Martha com vaidade presumida- Slaker, o amigo do Rourk, está se encarregando de tudo isso neste mesmo momento. Estarei a bordo do Vagamundo muitoantes que você. -Tedra chiou os dentes. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Lembrou-se de Corth e de Bolt quando enviou a alguém para que te recolhesse? — Esquecer meus pequenos amigos? Não sou eu quem se esquece de que uma identificadora requer pelo menos dois segundos para fazer uma identificação. -ardeu as bochechas de Tedra- Nenhum comentário, querida? - ronronou Martha. — Não, nenhum diante de companhia. -respondeu mordendo as palavras e lançou um olhar a Rourk, desafiando-o a dizer uma só palavra. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro CAPÍTULO 04 — Onde estamos agora, Martha? — Ainda no meio do espaço, querida, igual à última vez que perguntou. Se fosse para ficar tão impaciente, deveria ter ficado em nosso próprio sistema Estelar. Ainda restam centenas de planetas inexplorados com os quais você poderia ter se divertido. — E em um alcance de frequência pelo qual poderiam ter me chamado de volta. Não se esqueça que sou piloto feminino. — Eu sou o pilo... -começou Martha. — Não discuta! -interrompeu Tedra perdendo a paciência- Entendeu perfeitamente bem o que quero dizer. Está dentro da lei de probabilidades e por um tempo, preferiria não correr o risco de aparecer em Kystran na lista dos procurados, por não responder a uma ordem de retorno. Enquanto sobrar tempo... — Iremos saltando de um sistema estelar a outro. -disse Martha. — Do que se queixa? Na semana passada acreditava que era uma grande ideia! — Isso porque ainda estávamos na cauda de asteróides e podíamos brincar de esconder ou de desviar deles. Este espaço está tão vazio que um cego poderia navegar tranquilamente por ele. -debochou Martha. — Não me diga que a aborrece, Martha. -Tedra conteve a risada- Tem que vigiar todas as estações de controle da dotação espacial que não temos a bordo. Não acredito que tenha tempo para se aborrecer. — Isso é um jogo de crianças! CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Não me venha com essa, você adora estar no controle de tudo! Está tratando de começar uma discussão e isso não vai acontecer. Ainda estou muito encantada por você ter saqueado o Museu de Relíquias antes de nossa partida, foi realmente simpático e considerável de sua parte. Um profundo silêncio foi a resposta. Tedra riu internamente. Martha ficava aborrecida que suas táticas não dessem resultado e Tedra tinha descoberto que era muito divertido acabar com os planos dela, mas, além disso, tinha dito a verdade. Sua alegria tinha sido imensa ao descobrir centenas de vídeos de história, armazenados na memória de Martha, já que tinha acreditado que teria que renunciar a seu passatempo favorito, até que passasse o perigo em seu planeta e pudesse retornar ao seu lar. Contava com vídeos para vários anos se não os passasse em tradução. — Você dormiu, Tedra? -voltou a ouvir a voz de Martha, quinze minutos depois. — Ainda não. — Você tem razão, querida. Provavelmente estou aborrecida. Por que não discutimos um pouco sua vida amorosa? Tedra se levantou abruptamente, a ponto de morder a isca, mas voltou a se deitar em seu leito adaptável, que logo se alargou para que Corth pudesse se deitar junto a ela e acomodar-se novamente entre seus braços. Ao fazê-lo, o surpreendeu sorrindo para ela, demonstrando ter ouvido a sugestão impertinente de Martha. Quando o andróide pareceu a ponto de falar, Tedra lhe lançou um olhar severo e se dirigiu a Martha. — Por que não discutimos sua vida amorosa, companheira? O que me diz de suas relações com o computador de vôo da nave? -zombou Tedra. Ouviu-se então um bufo categórico. Martha estava ficando uma perita nesse som. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Falemos a sério? Não há nenhuma máquina nesta nave que esteja à altura de minha excelência, mas você sim, tem uma ali a altura de suas expectativas. Trouxe o homem comigo para que você pudesse se servir dele. Então, por que não o faz? — Estou fazendo -respondeu Tedra, ao tempo que colocava com mais força os braços de Corth ao redor de seu corpo. Isso era tudo o que necessitava de vez em quando da parte de Corth, que ele a abraçasse. Crescer nos Centros Infantis de Kystran deixava um grande vazio na vida de algumas pessoas e era provável que fosse a causa de que tantos jovens começassem a recorrer às clínicas antitensão, assim que alcançavam a idade regulamentar, em busca do amor que tinha faltado na infância. Os Centros Infantis eram onde se ia unicamente para aprender. Ali recebia aprovação, motivações, auto-estima e muitas boas qualidades, mas não davam amor. Algumas vezes essa carência afetava profundamente Tedra e era a razão pela qual tinha comprado Corth há um ano. Era um andróide de entretenimento, desenhado para entreter uma mulher por qualquer meio possível. Podia pensar por sua conta até certo ponto, já que era capaz de seguir e participar de uma conversação quando requeresse respostas lógicas e o tema estivesse armazenado em seus bancos de dados. Não podia tomar decisões como Martha, carecia de sentimentos aos que se pudesse ferir ou excitar e, que as estrelas não permitissem jamais, que pudesse discutir com alguém. Ao fabricá-lo, tinha sido suprimida a agressividade, mas não a espontaneidade. Tedra só teria que acariciá-lo sensualmente para que se convertesse no amante ideal, totalmente consagrado a lhe dar amor e prazer. Conseguir, em troca, que a abraçasse com ternura sem que interviesse o lado sexual, não era tão fácil, tinha que solicitá-lo verbalmente. — Martha está certa, Tedra do Arr -disse Corth com doçura às suas costas- Não aproveita devidamente todas minhas habilidades. — Me aproveito delas tanto e até onde quero, carinho. — Seria gentil ao te deflorar. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Tedra se sentou e o olhou com certo receio. — Desde quando insiste em um tema que se deixou de lado, Corth? - não esperou a resposta e seus olhos se cravaram no console de comunicações que estava no próprio centro do vasto salão de recepção onde passava a maior parte do tempo- Martha! Esteve se intrometendo na programação de Corth? — Eu? -sua voz de inocência ultrajada soou totalmente falsa- Por que eu faria isso? — Bem, será melhor retornar o que modificou, dama de metal, ou... - parou Tedra quando Corth a atraiu a sua posição anterior. — Relaxe, Tedra do Arr. Sou incapaz de te machucar. -Tedra escapou de seus braços e saltou fora do leito, bastante acovardada pela mudança que ele tinha sofrido. Afinal de contas, como máquina, tinha a força de dez homens juntos e Martha tinha lhe dado uma grande dose de agressividade. — Vou te matar, Martha! -ameaçou Tedra. — Vamos querida, só é um pouquinho mais natural agora, isso é tudo - foi a resposta do computador Mock II- Estava me atacando os nervos sua constante submissão a você. — Você não tem nervos, pedaço de sucata sem mãe, só tem circuitos. E esses podem se desconectar! -bravou. — Você não pode me parar, querida. -Martha escolheu um tom mais razoável agora que tinha obtido uma reação de Tedra- Recorde que eu dirijo a nave, te provenho de oxigênio, comida e muitas outras coisas indispensáveis. Se me desconectar, morre comigo. Não sabia que era propensa ao suicídio. — Se cale de uma vez! -explodiu Tedra- E quanto a você -exclamou fulminando o andróide com o olhar- não se aproxime nem um centímetro de mim ou terei que arruinar seu funcionamento com um chute. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Vamos, Tedra, não o faça -rogou Martha com sua voz tranquilizadora- Se quebrá-lo, quem o arrumará aqui no espaço? Como sabe, a unidade do Vagamundo só trabalha com humanos. — Então, é melhor que volte a deixá-lo como estava. Nãome deixarei violar por uma máquina. — Ele não faria semelhante coisa -insistiu Martha- Só atua com um pouquinho mais de energia. Tranquilize-a, Corth.- o andróide ficou em pé, mas não para tranqüilizá-la. — Minha aparência não mudou, Tedra do Arr. Acaso já não a atraio tanto desde que conheceu o guerreiro Sha-ka'ari? — Então também carregou sua memória com isso, companheira? - inquiriu Tedra, bem mais irritada. — Falamos bastante deles! -respondeu Martha alegremente- Pensei que não devia ignorá-lo. — Esse é seu problema. Pensa muito. -e agora tinha que devolver a Corth a confiança em si mesmo. Isto sim que era grotesco- Eu adoro seu aspecto, Corth. É mais atraente que qualquer homem que conheço! - tranquilizou-o. O que era verdade, a estrutura exterior era o resultado das indicações precisas de Tedra, cabelo negro com um comprimento moderado, adoráveis olhos verdes, uns quinze centímetros mais alto que ela e de aparência juvenil. Se fosse humano, certamente ela suplicaria para se inscrever na dupla ocupação, mas jamais perdeu contato com a realidade de que não era humano, nem sequer quando se servia dele para cobrir sua necessidade de fantasiar que a amava e a mimava- É só que não quero que me persiga pela nave, carinho -continuou ela e então escutou o suspiro longo e profundo de Martha- E quanto a você, já basta! -ordenou ao Mock II- Fez isso de propósito para me incomodar e não acredite que não sei! Martha não respondeu, mas Corth estava teimando em demonstrar quão efetiva era sua nova programação. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Mas comigo desfrutará mais seu defloramento, Tedra do Arr. -disse Corth. — Sem te ofender, Corth, mas... -fez uma pausa ao lhe ocorrer um pensamento desagradável- Martha, ele pode se ofender agora? — Não, o que é uma pequena vantagem. -respondeu Martha. — É deste modo, carinho. Preferiria que minha primeira relação sexual fosse com um homem de carne e osso. É um ato emocional que quero compartilhar com alguém que sinta as mesmas emoções que eu sinto. — Martha pode me dar emoções. -disse Corth. — Será melhor que não o faça -grunhiu Tedra perdendo a paciência- Agora se conecte a Martha e se livre da necessidade de discutir comigo ou vou desligar sua bateria. O andróide vacilou por uns instantes, mas ainda era impossível desobedecer uma ordem direta de sua ama. Quando retornou a seu lado um momento depois. — Voltou para sua anterior forma de ser? -perguntou Tedra. — Sou como deseja que seja, Tedra do Arr. -respondeu Corth. Tedra suspirou, aliviada. — Estou encantada em saber disso. O que te parece se jogarmos uma partida de simulado de Guerra, para me esquecer deste desgosto? Assentiu com a cabeça e se dirigiu imediatamente ao console da tela de imagens, para ativar os módulos de jogo e fazer sair à tela da ranhura no céu raso, onde o guardava quando não usava. Como o simulado de Guerra era um jogo que parecia real em tudo, até com pessoas que pareciam verdadeiras em um mundo real, só podia jogar em uma tela de imagens. A única escolha que podia fazer antes de começar a jogar era o armamento da época que se devia usar. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro A tela do Vagamundo tinha uma superfície de seis metros quadrados, mas algumas telas podiam medir várias centenas de metros quadrados, segundo a localização e a quantidade do público assistente. Como estas telas se usavam principalmente para ver contos e histórias dramatizadas, o computador de imagens podia criar um retrato visual de qualquer dos milhões de histórias e contos antigos armazenados em seus bancos de memória, com pessoas de aparência absolutamente real atuando como intérpretes. Claro que todos os contos e histórias até aqueles escritos milhares de anos atrás estavam modernizados e atualizados, o que era uma verdadeira vergonha, posto que se tivessem ficado em sua forma original teria sido como ver a história viva. Mas a maioria dos cidadãos de Kystran não estava familiarizada com a história antiga e tinham estudado a história moderna do planeta só a partir da colonização, se é que o tinham feito. Então, quase nenhuma, das histórias mais antigas teria tido algum sentido para eles se as vissem em sua forma original. Tedra sentou em uma das seis cadeiras para jogar diante da tela. Certamente a bordo de um Vagamundo não havia nada mais que fazer para se divertir. Outra coisa teria sido se estivesse em um Descobridor, porque tinha tido suficiente treinamento em seus três anos de estudo com essas naves, para poder pilotá-las posto que eram pequenas, só requeriam um piloto para guiá-las e nenhum navegante a bordo. No Vagamundo, tinha que se conformar com o papel de embaixatriz e negociadora comercial, se chegasse a descobrir algum novo mundo. Claro que tinha a intenção de cumprir essas tarefas o melhor possível, já que desejava demonstrar em sua volta ao planeta, que, ao menos, não tinha perdido tempo. Mas qualquer contrato comercial que pudesse conseguir para Kystran não seria para benefício do novo diretor, então não o informaria. Esperaria até que Garr Ce Bemn retornasse ao poder. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro CAPÍTULO 05 — Possivelmente teria sido melhor comprar um modelo inteligente e programá-lo para entretenimento. -murmurou Tedra para si mesma enquanto seguia Corth com o olhar, ele se deslocava pelo amplo ginásio onde a equipe o estava alistando para seus exercícios diários- Embora seus corpos não estejam desenhados para ser tão... atraentes. — Ouvi corretamente? -ronronou a voz de Martha do pequeno intercomunicador audiovisual da nave, instalado na parede atrás dela- Mudou de ideia em relação a nosso doce Corth? — Não. -Tedra suspirou se deixando cair pesadamente sobre o colchonete, desejou que Martha reduzisse seu nível de audição- Mas se pudesse passar um tempo com o guerreiro Kowan, a resposta poderia ser diferente. — Bom, bom. -disse Martha com presunção- Então teria deixado que o Sha-ka'ari a violasse... Me pergunto por que? Talvez porque ele poderia tê-la vencido? — Duvido que pudesse, mas pela primeira vez poderia ter estado perto de fazê-lo. — E pensa que terá que se conformar com essa possibilidade e nada mais? Já que esperou todo este tempo, querida, o que são uns quantos anos a mais? — Caramba, como você muda! -Tedra conteve a risada- Então, me diga, quanta compatibilidade teria tido com esse guerreiro? — Como parceiro sexual, teria sido ideal para você, se gostar da musculatura excessiva, o que sei bem que gosta, entretanto, não a teria convencionado para a dupla ocupação. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Nem sequer se não fosse o inimigo? — Nem sequer! Esquece que não há mulheres livres em Sha-Ka'ar. Os homens Sha-ka’aris não conhecem outras mulheres que não sejam escravas e é assim há centenas de anos. — Então quer dizer que teria tentado me tratar como escrava? — Tentado não, querida. O teria feito sem dúvida nenhuma e não tem precisamente um caráter que te permita aceitar um trato semelhante... Não por um tempo longo. — O que supõe que significa isso? — Poderia aceitar a situação por um tempo! Até poderia desfrutar um par de vezes como diversão e jogo, sempre e quando o visse desse modo. — Maldito sistema multipropósito de circuitos mal conectados, está teimando em procurar briga? -Tedra grunhiu baixo ao se levantar do colchonete e jogar um olhar furioso pela pequena tela do intercomunicador que mostrava a sala de controle e o computador principal onde Martha se alojava. — Só estava brincando, querida! Me interessa ver que estaria disposta a se associar com o inimigo. — As mulheres estiveram fazendo isso desde o começo da humanidade, por uma razão desesperadaou outra. — Devo supor que "desesperada" é a palavra chave? — Tedra do Arr jamais tem que se sentir desesperada -disse uma nova voz a suas costas- ao sentir as mãos de Corth em seus quadris, Tedra ficou rígida, ele rapidamente a atraiu contra seu corpo para lhe recordar quão funcional ele podia ser. Com o rosto vemelho girou completamente e lhe deu um tranco para se liberar. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Martha! -ao olhá-la, viu que a pequena tela do intercomunicador se apagou. Ao ser descoberta em falta, Martha tinha preferido sair de cena. Esse intrometido pesadelo de metal, como se atrevia a desobedecer uma ordem direta? Tedra voltou a olhar para Corth com certo receio, mas ele só a estava observando. — Acreditava que não podia mentir! -declarou Tedra, acusando-o. — Não posso! - respondeu ele, plácido. — Sério? Disse que ela o tinha retornado para a normalidade, mas não o fez! — Eu sou como você quer que seja, Tedra do Arr. -ele voltou a repetir o que havia dito há dois dias. — E o que Martha o tem feito acreditar que espero de você, Corth? — Que seja paciente. Martha acrescentou paciência a minha nova programação e agora posso esperar até que esteja disposta a me usar. — Mas, enquanto isso, vai seguir me pressionando, não é? — Se não recordá-la constantemente que estou ansioso para te proporcionar prazer, não considerará a possibilidade de mudar de opinião sobre meu uso. Tedra pôs os olhos em branco. Por todas as estrelas! Como desejava que Martha tivesse pescoço para torcer. — Paciência, não é? Eu vou necessitar paciência se devo repetir uma e outra vez que me deixe em paz. Se te ordenar que me deixe em paz, me obedecerá? — Claro. — Então, me deixe em paz, carinho. Estou aqui para me exercitar com as máquinas, não com você. -ele apenas sorriu. Demorou até ela se dar CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro conta do que havia dito e então sua risada encheu o salão. O súbito e forte bater de grandes tambores fez tremer até as paredes, e Tedra estava a ponto de saltar da cama quando compreendeu que não era uma invasão e sim a música, que tinha programado para despertá-la, no mais alto volume. — Mais baixo, por favor! -teve que gritar antes que o ruído baixasse a um nível suportável. — Como pode aguentar esses ruídos infernais dos antigos? –disse Martha ao silêncio da música. Demorava certo tempo para se acostumar à música dos antigos com acompanhamento de palavras, que a maior parte das vezes não tinham sentido, e ritmos enlouquecedores. A música de Kystran não incluía palavras e muito menos essas coisas chamadas tambores. A música dos antigos provocava dor de cabeça na maioria dos kystranis, entretanto Tedra a achava estimulante e geralmente sentia a necessidade de seguir o ritmo com pequenos golpes de seus pés no chão ou mover o corpo de algum modo quando a escutava. Nesse momento o que faria era ignorar Martha. — Ontem não se animou a me responder, covarde. Hoje não estou falando com você! -rapidamente afundou a cabeça debaixo do travesseiro. — Seg 1 estão acima de todo mau humor, querida. Assim que ouviu essa afirmação teve que aceitar que era verdade. Jogou o travesseiro no chão e imediatamente, Bolt, seu robô assistente, apareceu de um nada para recolher. Ela quase não percebeu sua presença. — Sinto falta do meu companheiro de cama, Martha. — Então, por que o mandou embora? — Porque já não confio que só me abrace desde que você se intrometeu em sua programação. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Tedra pediu os serviços de massagista e subindo ao aparelho se encerrou na caixa que tinha a forma de seu corpo. Se parecia mais a uma unidade médico-técnica, só que não possuía tantas vantagens a não ser uma, aliviar a dor dos músculos. Doíam alguns depois dos exaustivos exercícios que tinha realizado no dia anterior, quando o silêncio de Martha a tinha encolerizado. As centenas de paus de macarrão e dedos mecânicos que pressionavam pontos chave de seu corpo dos pés a cabeça, quase a fizeram dormir outra vez, mas a unidade estava desenhada para se abrir sozinha depois de ter afrouxado por completo, primeiro os músculos superiores e logo os inferiores. Ao abrir o aparelho ela só ouviu música, mas uma olhada ao console áudio visual que estava no camarote do comandante confirmou que a luz de recepção ainda estava acesa. Soube então que Martha aguardava algumas palavras a mais de sua parte. Tedra a deixou esperando enquanto tirava o traje de dormir e tomava um banho de raio solar. Deixou abertas as paredes sanitárias, se por acaso, Martha demonstrasse alguns sinais de impaciência. É obvio que não demorou muito em fazer tudo isso e ela também seguia esperando ouvir a explicação de Martha. — Muito bem -disse finalmente ao se dirigir ao trocador de cabelos e olhos que tinha saído automaticamente quando tinha ativado o banho- Por que não voltou Corth para a normalidade como ordenei? — Porque necessitava a excitação que te produziu a perseguição, criatura. Tedra soprou. Para ser um computador tão inteligente e pensante, Martha, decididamente, podia ser muito teimosa quando lhe ocorria uma ideia. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Então teria que ter tramado para subir Kowan a bordo do Vagamundo antes da partida -replicou Tedra, sem falar muito a sério, com a esperança de enfatizar o fato de que desejava um homem de carne e osso, antes de chegar a considerar sequer o uso de um homem artificial. Embora a tinha realçado antes, os bancos de dados de Martha se faziam de esquecidos - Poderia tê-lo mantido preso e ter gozado dele tudo o que quisesse. — Pensei nisso -admitiu Martha. Era muito provável que o tivesse feito, o que finalmente fez que Tedra compreendesse que seria melhor se dar por vencida. Martha seguiria se metendo na vida sexual de Tedra até que tivesse uma verdadeira relação sexual e então, certamente, sairia com uma dúzia de boas razões pelas quais Tedra deveria se abster. Teria que escolher entre não fazer caso do computador ou ficar louca. Decidiu pela primeira possibilidade. — Me surpreenda -disse ao trocador de cabelo e sim, ficou surpreendida pelos resultados- Que antiquado! -exclamou ao ver a cabeleira de cor negra lustrosa, que era a sua própria, caindo pelos ombros. — O que me diz de um par de olhos prateados com brilhos de ouro combinando com esse cabelo? –ouviu a voz de Martha. Tedra deu uma olhada ao console para comprovar se a tela acendeu e Martha podia estar vendo-a. Tinha esquecido que Martha também podia ver, um dos requisitos indispensáveis para guiar naves espaciais. — Não, como comecei com um estilo bem antiquado, bem poderia completá-lo com minhas próprias cores para variar- E ordenou ao trocador de olhos que apagasse a tintura artificial que tinha brilhante até esse momento. O que ficou foi uma maravilhosa e limpa cor verde água. Sorriu ao se olhar no espelho- Tinha esquecido o quão chamativas são minhas próprias cores quando estão juntas. O que te parece, Martha? — Ninguém acreditaria que é uma Seg, querida. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Então agora se dá conta por que devo ficar irreconhecível quando estou trabalhando. -replicou Tedra. — É uma pena. A teriam deflorado faz anos se... — Suficiente. — Bom, mas é assim. — Teriam tentado, mas não teriam conseguido sem meu consentimento. Bem, o que te parece me deixar a sós um momento para poder me vestir em paz? — Com outro uniforme do Vagamundo de enfadonha cor cinza escuro, que é o único que você usou desde que saímos de Kystran? Hoje não, minha querida. Ficaria melhor em um desses vestidos longos e elegantes com que Fornecimentos encheu seu guardaroupa, algo suntuoso coalhado de cintilantes pedras de Canture. As minas de Canture produzem as pedras de melhor qualidade do sistema É-tear. — O que passa com você esta manhã, Martha? Sabe muito bem que jamais uso roupa feminina que possa travar minhas pernas e estorvar meus movimentos. — Então, o que me diz de um desses trajes muito curtos que deixam pele descoberta? Esses sim não são restritivos. — Quer me dizer por que deseja me pôr num desses trajes especiais para climas tórridos quando a nave tem ar condicionado? Está planejando elevar a temperatura... ou programou Corth para que me assalte se mostrar um pouco de minha pele? — Nenhuma das duas coisas. -ouviu o que pareceu um suspiro- Parece que encontrei um planeta para você, isso é tudo. Pensei que gostaria de deslumbrar aos possíveis comerciantes. Para isso estão em seu roupeiro todos esses trajes chamativos e suntuosos. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Por todos os...por que não disse logo em vez de dar voltas para me chatear? Já sei para que Fornecimentos enviou essa roupa tão escandalosa. É um procedimento normal de Descobridores Mundiais tratarem de impressionar aos nativos com um pouco de brilho. Já estamos o bastante perto para a transferência? — Faz duas horas que entramos em órbita ao redor deste planeta. — E deixou que eu seguisse dormindo! — O planeta não vai a nenhuma parte, querida! -a tela se apagou e Tedra ficou amaldiçoando sem que ninguém a escutasse. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro CAPÍTULO 06 — Não está nada mal, garota -comentou Martha quando Tedra entrou na sala de controle, o centro vital do Vagamundo, que com suas numerosas redes cintilantes e monitores de todas as classes, controlava constantemente as funções da nave- Devo reconhecer que tem muito bom gosto! Tedra elevou a xícara de café que levava na mão para agradecer o elogio. Tinha escolhido um apertado traje de duas peças de calças e túnica de mangas largas, que a cobria inteiramente dos tornozelos ao pescoço, de uma malha opalescente muito brilhante, que parecia resplandecer como uma jóia sob luzes intensas, mas se tudo isto não bastasse para causar admiração, o tinha adornado com um colar de duas voltas de grandes kystrales, o diáfano cristal extraído das minas da única lua de Kystran, que era mais prezado que às famosas gemas de Canture, pois estes cristais vivos mudavam de cor a pedido, para se parecer com qualquer gema imaginável. Tedra tinha solicitado um tom vermelho sangue, mais brilhante e intenso que o vermelho fogo, que se usava habitualmente como complemento dos outros tons do traje opalescente. Uma larga tira de várias voltas de pérolas retinha a longa cabeleira negra no alto do cocuruto, deixando seu rosto espaçoso ao mesmo tempo em que permitia que caísse, como uma grossa cascata ondulante sobre as costas. As botas baixas eram prateadas assim como também o cinturão utilitário de onde pendurava uma combinação de phazor e unidade de comunicação com o computador, que atenderia a todas suas necessidades, apesar de ser uma caixinha retangular de aspecto inofensivo. Dentro do cinturão levava um pequeno aparelho direcional de sinais, para que Martha não perdesse seu rastro no meio de uma multidão. Corth tinha permanecido sentado na poltrona do comandante acompanhando Martha. Ao ver a entrada de Tedra ficou em pé, mas indicou que voltasse a sentar-se com um gesto da mão, posto que estava muito nervosa para sentar. Agora que efetivamente tinha que investigar um novo CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro planeta, utilizaria o famoso aparelho Transfer pela primeira vez. Voltaram para sua memória os pesadelos que tinha sofrido durante dois anos aproximadamente depois de ter conhecido a existência da transferência molecular, o meio moderno para se deslocar de uma nave para um planeta, e retornar a ela sem necessidade de utilizar uma astronave ou aterrissar. A transferência era tão rápida que alguém entrava e se encontrava rodeado de paredes metálicas e redes cintilantes a bordo da nave, e num abrir e fechar de olhos tinha os pés firmemente plantados em qualquer planeta ao que o tivessem mandado. Transfer não demorava sequer um segundo completo na operação, simplesmente um estalo, e a pessoa se encontrava em outro lugar. Este tipo de transferência só era possível nas naves espaciais propulsadas a crysillium como o Vagamundo, precisamente. O crysillium era a fonte de energia mais potente conhecida pelo homem e o único que permitia uma transferência sem perigo. Era essa palavra "perigo" que tinha afetado à criatura de sete anos que era ela, quando estava em seu segundo ano de estudos de Explorações e a classe recebeu a primeira informação sobre a transferência. Desde esse instante sua ativa imaginação concebeu toda sorte de acidentes que poderiam acontecer, que ela seria a única com quem falharia o aparelho Transfer, que terminaria perdida entre o Transfers, fosse isso o que fosse, e que ninguém jamais a encontraria. Ao fazer oito anos mudou para Artes Marciais e acreditou que nunca teria que experimentar uma transferência, mas ainda seguiu com seus pesadelos por um ano mais. Neste momento podia ser adulta e reconhecer que aqueles temores infantis tinham sido tolos, mas mesmo assim o nervosismo estava presente. Tudo andaria bem contanto que Martha não percebesse e a atormentasse com seus sarcasmos. E uma vez que realizasse a transferência poderia relaxar até que tivesse que passar por ela novamente. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Onde está? -perguntou enquanto se aproximava das quatro telas de observação que dividiam a área que rodeava à nave em quadros que eram vistos com atenção, mas todas estavam vazias. E então, a tela superior esquerda revelou uma imensa esfera azul e verde. — Tem vegetação! -exclamou Tedra. — Estamos bastante longe de nosso sistema Estelar para entrar em negociações por mantimentos, garota -Martha precisou assinalar. — Não estava pensando nisso, precisamente. Somente quero vê-lo, pois sempre acreditei que era uma injustiça, que os cidadãos de Kystran fossem proibidos de visitar seus próprios jardins espaciais. — A contaminação, querida. Se quiser contê-la, deve se manter longe disso. — Sei -suspirou Tedra- Mas observa toda essa folhagem verde. Daqui de cima é muito mais bonito e agradável de olhar, que os tons cinza opacos de Kystran. Agora, me diga: se houver vegetação devem coexistir outros tipos de vida. Alguma delas é humanoide? — O explorador de grande alcance indica que não é um planeta excessivamente povoado, mas há muitos habitantes reunidos em pequenos grupos, provavelmente no que consideram cidades, assim não terá problemas para fazer contato com eles. — Tenho a sorte de poder me comunicar com eles em alguma língua que tenha em sua memória ou terei que me dirigir trabalhosamente mediante a comunicação universal? — Realizei algumas sondagens acústicas com o explorador de curto alcance em ambos os hemisférios, recolhendo as vozes desses seres vivos e a língua parece ser a mesma em todo o planeta. Embora possam ter certas diferenças no acento. -o explorador de curto alcance podia recolher conversações com toda claridade, mas só em um raio de dois metros. Se CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro realizada numa escala maior, o resultado seria uma mescla de sons ininteligíveis- É, também, uma língua que você aprendeu ultimamente... Sha-ka’aris. Tedra ficou rígida e logo deu a volta para fulminar com o olhar o computador gigante que ocupava toda uma parede, além de um imenso console principal localizada no centro da sala de controle. — Perdi algo enquanto dormia? Algo como uma viagemde volta a casa não prevista? -disse Tedra. Martha mostrou seu tom ofendido. — Sabe perfeitamente bem que Kystran está a três semanas, quatro dias, dezoito horas, onze... — Sei a que distância está, maldita seja! Só me diga que esse planeta que está ali abaixo não é sha-Ka'ar. — Não é. — Mas está recebendo essa língua. -perguntou Tedra- Não está equivocada? — Não cometo equívocos. -o tom ofendido foi mais evidente esta vez. Tedra soltou um suspiro e voltou a olhar a tela de observação. — Martha, eu sinto muito. — Aguarde um momento! Vou entrar em curto-circuito. — Oh, cale a boca -ordenou Tedra rindo- Iriam acreditar que nunca me desculpei com alguém. — Eu só acredito porque é a verdade. — Por favor, não saiamos do tema. Este planeta que temos em frente, acaso pode ser o planeta mãe dos sha- k'aris? — Essa é uma boa possibilidade. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Não exatamente boa -grunhiu Tedra. — Não, necessariamente -Martha discordou- Deve recordar que os Sha-ka’aris apareceram no sistema Estelar de Centura há aproximadamente trezentos anos. Eles se esqueceram de onde provinham pois não levaram os arquivos, e se lembram muito pouco de como chegaram a seu novo planeta. A única coisa que recordam vagamente é que os capturaram para servir de escravos nas minas de prata e que terminaram matando seus captores e tomando o poder, inclusive o planeta. Nós não podemos saber como evoluiu este outro mundo em todo esse tempo. Além disso, os sha- k'aris eram conquistadores e os conquistadores tendem a escravizar aos vencidos. Isso vai com o território. Não quer dizer que os arrancaram de um planeta cheio de escravos. Assim não sabemos com certeza o que temos ali abaixo, exceto não seria difícil imaginar que haverá uma classe dominante de guerreiros e eu não gosto absolutamente desta expressão que vejo em seu rosto. — Está brincando, Martha! -replicou Tedra, excitada. A idéia floresceu em sua mente. Tinha estado a ponto de estar louca de frustração, pensando em todas essas mulheres de Kystran forçadas à escravidão, suas amigas, mulheres como ela mesma que lutariam contra isso e seguiriam lutando até que as matassem ou sucumbissem à loucura. Tinham que ser resgatadas de algum modo, e antes que perdessem totalmente a razão. E aqui, milagrosamente, tinha a solução. — Crad Ce Moerr utilizou os Sha-ka’aris para se apoderar de Kystran - continuou ela- seria justiça divina se pudéssemos utilizar seus antepassados para recuperá-lo. Afinal de contas, nossas armas são inúteis contra eles e não somos espadachins, mas guerreiros como eles... — Só disse que podia ser uma boa hipótese. — Mas se são... — Possivelmente não se deixem comprar. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — E talvez sim. Deixe de discutir comigo. Averiguarei uma ou outra forma quando chegar ali. — Eu, em seu lugar, não me jogaria no vazio com essa grande incógnita. Solicitar ajuda a eles para lutar contra os de sua mesma raça, poderia não cair muito bem. — Sei como provar as águas, velha amiga. Depois de tudo, tenho outro motivo para estar aqui. — E se depois de se aventurar, tudo for inútil? — Então, talvez, possa comprar o aço Toreno. O manejo da espada se aprende com a prática. Se Martha tivesse olhos, os teria posto em branco, mas se conformou lançando uns brilhos desnecessários em seus ralos de exposição. — A gravidade é ligeiramente menor, mas você foi se aclimatando lentamente desde que entrou em meus domínios, assim não a pegará despreparada quando chegar ali. O ar é mais puro do que está acostumada, mas isso não será nenhum problema. — Como é o clima? — Moderadamente quente, diretamente debaixo de nós que é no hemisfério austral. Sugeriria a você uma transferência secreta a uns quilômetros de distância de qualquer assentamento humano. Não vejo a necessidade de deixá-los boquiabertos. Poderiam cortar sua cabeça a machadadas se o fizesse. — Muito divertido. — É o que pensei -disse Martha. — E que horas são? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Meio dia, mas posso te deixar do outro lado do planeta, num abrir e fechar de olhos se prefere chegar à noite, quando correrá menos risco de que a vejam fazendo a transferência. — Certamente não me veriam, mas tampouco eu veria muito. Precisamente aqui me parece bom e se isso for... — Não tão depressa, garota. Onde está sua unidade lazor? — O combo phazor servirá. — Não se tiver que usá-lo repetidamente. — Oficialmente estou aqui para tratados de comércio, Martha, não para apagar o planeta do espaço. E se começo matando, jamais conseguirei sua ajuda. O phazor durará muito mais tempo se só o usar apenas para aturdir. O poder se esgota somente quando fixá-lo para aniquilar. Além disso, o lazor se assemelha mais a uma arma. Descobridores Mundiais não aconselham seu uso e por agora eu sou uma descobridora, não uma Seg 1. Se me meter em problemas a farei saber isso para que me transfira de retorno a nave. — Então, se assegure de manter aberto o link. — Não se preocupe, velha amiga. Esse é um procedimento padrão na primeira transferência. E seus exploradores deveriam tê-la informado que ativei o aparelho direcional de sinais, que não pode se apagar. Não poderia me perder embora quisesse. Assim siga em frente e me transfira. Estou preparada. — Seriamente? E essa careta? Tedra suspirou e abriu os olhos que tinha fechado com força. Ao fazê- lo deu de cara com Corth que estava diante dela. — Te desejo uma transferência sem perigo, Tedra do Arr. — Gostaria que não tivesse dito isso, Corth. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Mas ele estava em um programa de um só pensamento. -E até que retorne... Elevou-a em seus braços e a beijou. Tedra teve a ideia absurda de que esses não eram lábios mecânicos, não podiam ser. Quando ele a depositou novamente no chão, estava sorrindo. Tedra não pôde ser tão cruel para se enfurecer com ele. — Muito bem, carinho, estabeleceu seu ponto de vista, pensarei nisso quando retornar. - virou para Martha- Estou preparada! Voltou a fechar os olhos e aguardou, mas não aconteceu nada. Quando voltou a abri-los estava em outro mundo. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 07 O grosso ramo de árvore já estava ficando desconfortável para se estar estendido sobre ele, mas não teria que continuar ali por muito mais tempo. Um grande taraan ia se aproximando cada vez mais e nesse momento estava apenas a quarenta metros de distância. Taraan era um animal de quatro patas, de um marrom ameno, grande o bastante para haver carne suficiente para dar por terminada a caçada e retornar a Sha-Ka- Ra ao amanhecer do dia seguinte. Challen Ly-San-Ter tinha cada vez menos tempo para desfrutar da caça junto de seus guerreiros. Desde que tinha se convertido no shodann de Sha- Ka-Ra, seu dever era permanecer na cidade e estar sempre disponível para cobrir as necessidades de seu povo, não para se divertir com seus guerreiros. As caçadas como esta tinham sido sua única diversão antes de assumir o governo. O taraan seria sua terceira caça desde o amanhecer, mas os dois pequenos kisraks, um animal de porte médio e de pouca carne, agora preso em seu hataar, forneceria alimento apenas até ao meio-dia. Challen, de fato, sentia fome apenas pensando nos kisraks assados e pôs toda sua vontade para que o taraan apertasse o passo, mas fracassou em seu intento. Estava a vários metros de distância do acampamento, assim passaria ainda um bom momento antes que pudesse saciar seu estômago, embora pudesse derrubar o taraan nos próximos minutos. Foi talvez por ter seus pensamentos concentrados em se alimentar, que deixou de ver a mulher entrar na clareira,de repente estava lá, em pé, no caminho entre ele e o taraan. Como foi possível para ele não ter notado sua chegada, quando os bracs e comtoc que usava, brilhavam como as pedras gaali, ele não poderia dizer. Não encontrava uma resposta, mas ela estava ali agora. Não podia duvidar do que via por que estava vendo, mas as CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro mulheres não se vestiam com as roupas de guerreiros, nem se aventuravam a sair sem a companhia de um homem, entretanto, esta mulher estava sozinha. Podia apostar seu instrumento de caça, hataar, que ela não pertencia à servidão. Nenhum servo possuiria tais roupas inusitadas ou jóias próprias ao redor do pescoço. Estava seguro de que ela não pertencia a nenhuma cidade de Kan-é-Tra. O cabelo negro era diferente de Kan-é-Tra e suas roupas também pareciam estrangeiras. Possivelmente era de Ba-Tar-ah, no extremo norte do planeta. Sabia que esse país era conhecido por ter costumes estranhos e talvez, permitisse que suas mulheres usassem as roupa de um guerreiro. Mas o que ela fazia ali? Ainda estava meditando quando o taraan, também notou a presença da mulher, deu um salto e começou a fugir aterrorizado. Ela deu a volta ao ouvir o ruído produzido pelo animal e apontou o braço na direção do taraan e ele simplesmente caiu ao chão. Um grunhido surdo escapou da garganta de Challen. Uma coisa era sua estranha presença no lugar, outra muito maior era que roubasse sua caça. Embora, na realidade, não podia sequer imaginar como o tinha derrubado. Estava a ponto de se fazer notar de uma maneira muito agressiva quando ela falou, nada que ele entendesse e certamente, tampouco se dirigindo a ele, pois ainda olhava o animal abatido. O fato de que não se aproximasse do taraan o tranquilizou e quando se voltou para ele, Challen já estava mais calmo. Então, ela não desejava se apoderar de seu taraan, mas por que o tinha matado? E como o tinha matado? Essa era a incógnita. Ela estava de frente para ele novamente, olhando as árvores que cercavam a área, possivelmente a procura de mais animais. O estranho era que seguia falando sozinha. Desta vez, Challen viu a pequena caixa branca que segurava na mão. Fina e retangular, isso poderia ser o que tinha matado o taraan? Não, tal coisa era impossível. As caixas não podiam matar e CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro mesmo se pudessem, as leis proibiam que mulheres caregassem armas. Era hora de averiguar quem ela era. Tedra estava nervosa depois de ter se assustado com o animal. Seu instinto de conservação tinha anulado o sentido comum, paralisando a pobre criatura antes de sequer vê-la. Demoraria um tempo antes que acordasse e pudesse se converter em comida para outros animais. — Não entendo por que se culpa, garota -comentou Martha. Tinha visto o incidente através do diminuto visor na parte anterior do phazor e tinha ouvido Tedra praguejar pelo que tinha feito- Não tinha outra solução. — Eu não deveria ter dado tanta voltagem ao raio paralisador -disse Tedra ao visor bilateral de maior tamanho no lado plano da unidade enquanto reduzia a voltagem- Eu estou no meio do nada, pelo amor às estrelas! Posso ver qualquer coisa que se aproxime, com tempo para levantar o raio paralisador, se for necessário. Se essa criatura fosse menor a teria aniquilado. — Olhe, é a primeira vez que põe o pé em outro mundo. É lógico que se sinta nervosa. Isso é natural, mas por desgraça, não é provável que tenham clínicas antitensão nesse planeta para remediá-lo. — Fala sério, não é? -retirou o dedo do botão do raio paralisador e tratou de respirar profundamente, umas quatro vezes, antes de sua próxima reação. — Farei... Oh, caramba! — O que aconteceu? — Falando de perder a cabeça -começou Tedra com voz que denotava assombro e admiração de uma só vez. — Caiu, querida? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Parece bastante com isso. Dê uma olhada. -apontou a unidade que havia caído embaixo de uma árvore a uns dez metros de distância. — Esse "oh, caramba!" subestima a realidade, me parece. -a voz da caixa refletia uma total admiração- É tão alto como parece daqui? — Muito mais. Estrelas do espaço! Deve medir mais de dois metros! O que supõe que é, além de ser um gigante? — Uma hipótese bastante exata seria um bárbaro, exatamente como seriam ainda os Sha-ka’aris, se não tivessem tido contato com os mundos avançados de nosso sistema Estelar. — Um bárbaro... Malditos infernos! -demarcou Tedra, desiludida. Um guerreiro arrogante era uma coisa e outra bem distinta era um guerreiro bárbaro- Possivelmente é melhor que retorne ao Vagamundo. — Não está desistindo muito rápido? — A espada que leva na mão é terrivelmente grande, Martha. — Essa caixinha que tem na mão é um phazor terrivelmente potente, garota! Tedra sorriu então. — Tem toda a razão. Com o que tenho que me preocupar? E é um espécime magnífico. Isso foi um eufemismo. Ele superava em muito o atraente Kowan, em altura, musculatura e aparência. Até Corth, cujos traços eram artificialmente perfeitos, perdia, se comparado a este bárbaro. Ele era a arrogante masculinidade personificada, braços, pernas, peito, tudo muito maior do que já tivesse visto alguma vez. Grossas sobrancelhas da cor de ouro escuro, muito baixas sobre os olhos, quase em linha reta. O queixo quadrado e agressivo com uma muito leve fenda no centro; os lábios finos como talhos, sem indícios de humor. Pele de intensa cor de ouro era apenas um pouco CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro mais clara que a do cabelo comprido e ondulado, que caíam até seus ombros maciços e nus. A única vestimenta que usava era uma calça negra de fino couro, que se aderia a sua pele e moldava suas grossas pernas musculosas. As botas altas eram do mesmo couro suave, e do pulso ao cotovelo tinha preso por correias um escudo com um desenho esculpido muito intrincado. Seus únicos outros acessórios eram um largo cinturão em seus quadris, aonde se pendurava a espada, e um grande disco de ouro do tamanho de seu punho, se destacando no meio do seu peito largo e fornido. Tedra não se deu conta de que tinha estado olhando-o profundamente ou por tanto tempo, até que seus olhares se cruzaram. — Por que ele está me olhando dessa forma, Martha? -perguntou, inquieta. O bárbaro não estava carrancudo, mas sua expressão era de grande desagrado. — Possivelmente porque não entende nenhuma palavra do que esteve dizendo, ou talvez porque nunca viu falarem com uma caixa. Pode apostar suas riquezas em que jamais se encontrou com algo como eu, e você mesma tampouco encaixa na categoria de normal. É melhor se apresentar, garota, antes que ele creia que é uma visão maléfica que deve tentar banir. Afinal, não sabemos se suas crenças são muito primitivas. -enquanto Martha falava, os olhos escuros do guerreiro se dirigiram à unidade phazor. A espada se elevou um pouco mais no ar e Tedra deu um passo atrás. — Acredito que acertou em cheio, amiga -disse Tedra, pensativa- Vou te desconectar por um momento, para que não se sinta tentada a se intrometer. — Ouça, espere... Tedra cortou a ligação e sorriu. Não podia fazê-lo no Vagamundo já que Martha controlava as saídas e entradas de absolutamente todas as comunicações. Era um verdadeiro prazer poder fazê-lo nesse momento. Martha ainda podia ouvir o que acontecia através do scanner de curto CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro alcance encerrado no aparelho direcional de sinais, só que não poderia replicar. O bárbaro tinha visto o sorriso de Tedra e embora não fosse para ele, baixou a ponta da espada, voltando a cravá-la na terra. Ela relaxou um pouco ao perceber esse movimento. Ele não havia dito uma só palavra,ainda assim Tedra se perguntava se a teria visto se materializar do nada. Se esse fosse o caso, teria que estar em estado de comoção ou pensar que era um tipo de bruxa ou demônio... se é que esta gente ainda acreditava em tais coisas ou seus equivalentes. Mais valeria dissipar essa idéia, se lhe tinha ocorrido realmente. — Minhas saudações, guerreiro -disse em Sha-Ka’ari para que ele a entendesse e assim, ao dirigir-se a ele dessa forma, não o ofenderia- Espero não tê-lo surpreendido com minha presença. Se o fiz, posso explicar, embora seja um pouco complicado e, portanto, melhor deixar para depois. -não houve nenhuma resposta que pudesse interpretar de qualquer modo- Meu nome é Tedra de Arr. –e então elevou a mão no sinal universal de amizade. Foi um gesto desperdiçado porque o bárbaro não o reconheceu. Mas, a expressão de seu rosto demonstrou que tinha compreendido as palavras. Depois de ouvi-la falar em uma língua tão estranha, mostrou uma ligeira surpresa quando ela começou a falar em Sha-ka’ari, mas obviamente ela não lhe tinha tranquilizado o suficiente para que deixasse a espada de lado. Ela fez outro intento - Venho como amiga... — Por que está vestida desse modo, mulher? -ele disse. O som de sua voz a sobressaltou bastante. Era uma voz grave, autoritária e arrogante. Havia dito seu nome, mas ele ainda a chamava de mulher. Tinha suposto, e com razão, que seria fácil tratar com os bárbaros, mas se reprovou amargamente de não haver se dado conta de que, um ser tão primitivo como este, veria nela um ser extravagante e quimérico com essa roupa. — É a roupa que usa meu povo! -explicou. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — É a roupa que usam os guerreiros. -então era isso. Não o assombrava a malha, mas sim que ela usasse o que ele considerava roupa de uso exclusivo dos homens. Conhecia pelos vídeos do Museu de Relíquias, que tinha havido uma época em que os antigos do planeta mãe de Kystran, haviam sustentado a mesma crença primitiva que as mulheres não deviam usar calças. A ela não interessava travar uma longa discussão sobre o progresso e muito menos com ele. Precisava impressionar os shodani, mestres em artes marciais e líderes deste planeta, com as maravilhas dos mundos avançados, não a um simples guerreiro. — Me vi na necessidade de tomar emprestados estes objetos. — Tire isso. -mandou ele. — Ouça... Aguarda um... -começou Tedra. — Tire isso, mulher. -ele disse calmamente. Não tinha que dizer com esse tom. Era uma ordem que esperava que ela obedecesse imediatamente e Tedra esteve por um triz de fazê-lo rapidamente, o que era uma loucura. Não era nenhuma jovem indefesa sujeita à vontade de um homem. Lamentava muito se seu traje o tinha ofendido, mas não podia remediar. Não tiraria nenhum objeto, nem por ele e nem por ninguém. — Vai dizer que suas mulheres não usam roupa? -perguntou com receio. Se tal era o caso, partiria nesse mesmo instante. — Elas usam o chauri. — Tudo bem! -replicou Tedra, complacente- Se encontrar um chauri para mim, poderia considerar a possibilidade de trocar de roupa. De outro modo, conservarei a que... -as palavras morreram em sua garganta quando ele levantou a espada do chão e a fez girar no ar para introduzi-la na bainha, antes de começar a avançar para ela. Nesse instante, não teve a menor dúvida das intenções desse gigante. Nem sequer tinha considerado sua CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro razoável proposta. Tinha ordenado que tirasse a roupa e como não tinha obedecido, ia tirar ele mesmo. — Guerreiro, eu não posso deixar... Pare, neste momento! Exijo que se detenha! -ele não parou e a distância entre eles ia diminuindo rapidamente. Tedra não sabia como falar com ele usando as palavras, se é que havia palavras para se comunicar com alguém que parecia tão resolvido. Mas não permitiria que alguém tão enorme se aproximasse muito para lhe pôr as mãos em cima- Maldito tolo! -vaiou ela sem fôlego antes de apontar o phazor e apertar o botão. O gigante ficou paralisado instantaneamente, mas continuou em pé por conta de seus pés grandes e largos. Estava muito furiosa para apreciar essa circunstância, pois esta não era a forma de começar uma relação amistosa. O bárbaro não compreenderia o que tinha feito quando voltasse em si, mas essa não era a questão. Reabriu a caixa. — Ouviu todo isso, Martha? Pode supor tanta arrogância em um homem? — Teve que o deter com o raio? -questionou Martha. — Que mais podia fazer? Estava a ponto de me arrebatar a roupa do corpo! — Possivelmente deveria ter deixado que o fizesse, garota. Quase, garantiria umas negociações muito mais amistosas. — Muito graciosa -replicou Tedra, embora a possibilidade não tenha lhe repugnado. Não podia negar a forte atração que tinha experimentado por esse bárbaro. Sentou estranhamente sacudida pela mesma sensação experimentada quando Kowan a beijou. Entretanto, o bárbaro sequer havia olhado para ela. Enquanto o observava, voltou a perceber a sensação, e como já era perigosa, ficou tentada com a ideia de se aproximar para contemplá-lo mais atentamente. Toda essa pele nua e esses músculos à vista eram realmente irresistíveis. Cedeu ao desejo de tocá-lo, primeiro com dedos vacilantes e CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro logo com mais firmeza. A pele era suave e quente ao tato, mas sem flexibilidade, como uma rocha recoberta de veludo. Depois de apalpar o peito largo e maciço, seus dedos desceram, quase inconscientemente, até os quadris onde descobriu o couro de suas calças. Era tão fino e suave como tinha imaginado. Sem saber por que, se encontrou pensando em, como era possível uma civilização tão atrasada como esta, poder produzir artigos de excelente qualidade industrial como esse couro. O aço que enrolado em torno do antebraço esquerdo parecia, efetivamente, Toreno, mas não poderia provar se estava certa, sem disparar contra ele quando o gigante estivesse acordado, para ver se desviava o raio paralisador ou se voltaria a imobilizar o bárbaro. Era indubitável que ele se desgostaria enormemente se chegasse a ser submetido a essas provas e, por outro lado, Tedra já se sentia muito mal por ter tido que paralisá-lo. Tinha violado seu sentido de igualdade e jogou limpo, ao golpeá-lo com algo desconhecido e inesperado para ele, especialmente em um enfrentamento entre dois combatentes, onde ela poderia tê-lo abatido, de mil formas distintas, se o grande tamanho desse homem não a tivesse aterrorizado. Ao examinar os braços do gigante seu assombro não conheceu limite, já que suas mãos não chegavam a abranger a metade da circunferência de seus músculos. Ficou diretamente diante dele se sentindo pequena e vulnerável, uma sensação estranha e difícil de se livrar. A cabeça de Tedra chegava à altura dos ombros do bárbaro e seu peito era tão largo que não podia compará-lo com nada. Era realmente uns trinta centímetros mais alto que ela e para poder olhá-lo tão de perto, precisava erguer a cabeça torcendo o pescoço com grande esforço. Quando retrocedeu uns passos para examinar seu rosto, os olhos escuros a inquietaram. Eram provavelmente marrons, mas uma sombra muito escura apareceu, dando a sensação de que estava olhando-a com vivacidade, o que era absolutamente impossível que refletisse, estando ele inconsciente como devia estar. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Me permita analisar o que significa seu silêncio tão prolongado. -o tom seco e cortante de Martha se fez ouvir através da unidade. As bochechas da Tedra arderam. Maldito computador. Como, demônios, conseguia fazer isso, quando a unidade estava apontada apontando outro lugar, longe do bárbaro, para que não pudesse ver o que Tedra estava fazendo? — Sou simplesmentehumana -resmungou Tedra. Era inútil negar que tinha abusado do estado inconsciente do bárbaro- Não pode se ofender por algo que ignora. Não te parece lógico? -só houve silêncio como resposta e Tedra sentiu medo ao observar que seus olhos escuros, devolviam um olhar fixo e alerta- Martha? — Lamento ter que te estragar a festa, querida, mas tenho sérias dúvidas que o raio funcione apropriadamente em um espécime tão grande e menos ainda com a voltagem tão baixa quanto a que leio em sua unidade. Há algo estranho na atmosfera desse planeta... — Como não funcionou? -interrompeu-a Tedra, gritando- Está imobilizado! — Sim, mas não acredito que esteja inconsciente. Parece-me que pode te ouvir, te sentir... — Está a caminho de ir diretamente ao parque de sucata, Martha, juro- lhe isso! Por que diabos, não me disse isso imediatamente? Quer acaso que me viole? -gritou Tedra, amedrontada. — Seria uma violação? -replicou Martha, plácida. Tedra estava tão furiosa que deu um murro no botão de transmissão temendo jogar a unidade no chão e inutilizá-la, se ouvisse uma palavra a mais de Martha. Pior que sua fúria era sua mortificação, que chegou ao limite quando cruzou novamente o olhar com os olhos negros e comprovou que ele a estava vendo com absoluta claridade. Consciente. O bárbaro estava consciente e sabia exatamente tudo o que lhe tinha feito. Esse CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro pensamento fez com que desse um salto atrás, com tanta rapidez e força que tropeçou e caiu, mas cair de costas no chão não a envergonhou tanto quanto o que fez a tinha envergonhado. Nada podia ser pior do que o que já estava sentindo. Ao elevar a vista uma vez mais, viu que os olhos a tinham seguido ao chão e só desejou rolar e afundar a cabeça na terra. Ao invés disso, se levantou e retornou ao lado do gigante imóvel. Uma vez mais aproveitaria de seu estado para se explicar, enquanto estivesse forçado a escutá-la. — Olhe, sinto muito. Seriamente o sinto. Não devia ter te examinado dessa forma, guerreiro. Não tinha nenhum direito e minha única desculpa é... a curiosidade... sim, isso foi o que aconteceu. Deixei-me arrastar pela curiosidade. De onde venho, os homens não chegam a ser tão grandes como você. São mais ou menos da minha estatura, o que pode não significar muito para você, mas era bastante grande para mim, até que topei com os guerreiros Sha-ka’ari, porém sequer eles eram tão colossais como você! Não despertaria sua curiosidade algo que jamais tinha visto antes? Ele estava escutando. Não tinha mais remédio que escutar, e isso trazia outro problema. As pessoas que saíam do atordoamento e paralisia, geralmente ficavam um pouco desorientadas, mas não restava lembrança alguma desse estado, nem sequer do tempo que o tinham sofrido. Poderia se perguntar sobre as diferenças que encontravam a seu redor, como sentirem falta de pessoas que tinham estado antes ali, mas a menos que vissem o phazor de antemão e o reconhecessem pelo que era, consideravam inexplicável esse incidente e o esqueciam. O bárbaro, entretanto, ao estar consciente, sabia que não podia se mover, sabia que lhe tinha feito algo e provavelmente experimentaria uma grande confusão e até um pouco de temor. Certamente nunca em sua vida tinha estado tão reduzido à impotência, e não gostaria absolutamente, mas ele o tinha procurado. Não ia se culpar por isso também. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Se tivesse se detido quando pedi, guerreiro, não teria sido obrigada a paralisá-lo, mas logo passará. Quando sair desse estado estará como novo. Supunha que devia te deixar inconsciente, mas a voltagem era muito baixa e você muito grande... Calculo que provavelmente tentará me tirar isso, embora eu não possa permitir. Já elevei a voltagem. A próxima vez te deixará inconsciente por completo e estou dizendo isso para que não haja uma próxima vez. Desagrada-me paralisar as pessoas tanto como lhes desagrada que as paralisem. Agora, se mantiver uma distância prudente até que possamos chegar a algum tipo de acordo, não terei que voltar a usar o phazor contigo. Estou pedindo muito? Não vim aqui para causar problemas ou para machucar alguém. Estou aqui para comercializar com seu povo ou talvez algo mais, mas isso quem tem que decidir é seu shodan. Se fosse tão amável de aceitar me levar até... -Tedra chiou assustada. Ele se moveu com tal rapidez ao se recuperar, muito rápido para os reflexos de Tedra, que só pôde se esquivar, mas tampouco teve êxito nisto. Ele obteve o que procurava, arrancando a unidade phazor da sua mão, e a jogou em grande distancia, enquanto ela tropeçava novamente e caía ao chão. Normalmente Tedra não era tão lenta em seus movimentos e era odioso que fosse justamente nesse momento. Ficou deitada numa posição bastante desajeitada e desta vez olhava um bárbaro acordado, consciente e que podia se mover normalmente. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 8 Challen estava muito furioso para falar, mas mais que nada, sua fúria estava dirigida a ele mesmo. Entretanto, não demonstrava absolutamente nada disto. Tinha atuado como um verdadeiro tolo ao se aproximar dessa mulher, depois de ter visto o que tinha feito ao taraan com sua caixinha. Que fizesse exatamente o mesmo com ele, sem mais nem menos, merecia sua estupidez. Ele permitiu que o ligeiro desgosto que tinha causado a roupa da jovem o transtornasse por completo, algo que um shodan não devia ter feito. O exame que ela realizou em seu corpo era outra questão. Tinha lhe aborrecido, mas só porque não podia reagir na devida forma, e a maior parte de sua cólera se apoiava no simples feito de que, ainda não podia dar à mulher o que sua audácia demandava dele. Se não tivesse bebido o suco da dhaya essa manhã, como acostumados a fazer os guerreiros quando a caçada se prolongava muito tempo, ela já estaria debaixo dele, recebendo a adequada instrução de como tratar um guerreiro. Mas ao ser bebido sem diluir, o suco da dhaya impedia que sentisse necessidade de uma mulher, de fato impossibilitava por completo de tomar uma mulher, razão pela qual se usava durante invasões para que as cativas não distraíssem os guerreiros e também durante as caçadas. Se bebesse misturado com vinho cumpria outro propósito, o de impedir de engravidar a qualquer mulher, porque somente a companheira de toda a vida podia levar seus filhos no ventre e lhes dar a luz. Esta mulher o intrigava com sua estranha forma de falar unindo as palavras e sua outra língua que não conseguia entender. Também era muito bela e dava gosto olhá-la. Algo que não tinha indicado antes de tê-la perto era o quão distraído ficou por sua vestimenta e audácia. Pelas pedras de gaali! Nunca tinha visto algo semelhante. As mulheres expressavam suas necessidades e desejos com palavras e olhares e punham suas esperanças em que um guerreiro se interessasse nelas. Não tocavam um homem sem CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro receber previamente o consentimento para fazê-lo, nem que seu papel era dar, não tomar para si. Challen finalmente sorriu, se lembrando que a mulher estava ali diante dele sem a companhia de um homem, o que a convertia em reclamável, se chegasse a desejar oferecer-lhe seu amparo. Se deixasse se guiar por sua vestimenta, a mulher devia pertencer à classe alta, mas as leis concerniam a todas as mulheres por igual, de servas a aristocratas. Poderia reclamá-la ou usá-la, tudo dependeria de sua própria eleição, se ela não fazia uso da lei perderia seu direito de se libertar. Ele nunca tirou proveito antes desta lei. As mulheres chegavam ante ao shodan para solicitar amparo, sejam anciãs, viúvas e órfãs. Jamais se tinha visto na necessidade de encontrar alguma parareclamar, quando tinha mais que suficientes mulheres em seu lar para levar uma vida tranquila e sem sobressaltos. Claro que aquelas que solicitavam seu amparo, não podia utilizar, se não se oferecessem elas mesmas para isso, mas uma mulher reclamada não tinha voz no assunto. Tedra não gostava nada do sorriso que via no rosto do gigante. Era um sorriso de satisfação que não pressagiava nada bom para ela. O bárbaro acreditava que tinha ganhado a partida? Então teria que desenganá-lo rapidamente. — Pode ter jogado longe meu phazor -disse ao se recompor- Mas isso não significa que sou indefesa, assim não crie ilusões ou ambos lamentaremos. -o sorriso dele não se alterou e era fácil ver que o divertiam suas palavras. — Está sozinha, mulher, sem a companhia de um guerreiro, o que, sem dúvida nenhuma, te torna indefesa... e reclamável! Deveria ter solicitado meu amparo imediatamente, porque então eu teria sido obrigado a lhe proporcionar isso, como não o fez, declaro-te reclamável! -disse Challen. Tedra franziu o sobrecenho. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Se isso significar o que acredito, pode esquecer. Não me declararei absolutamente nada e não necessito do amparo de ninguém! -disse Tedra. Isso apagou o sorriso dos seus lábios, embora não havia outros sinais de que as palavras o chateassem. — Estou te reclamando, mulher. Vai resistir a minha reclamação? — Não vou permitir que me viole, se isso for ao que chama resistência. — Não há violação em uma reclamação. Sua falta de amparo te nega o direito de resistir! — Mas eu não estava desprotegida. Esse phazor que jogou longe de mim era todo o amparo que necessitava. Parou você, não é assim? - provocou Tedra. Não lhe agradou que o recordasse. — Sua arma é desconhecida para mim, mas é uma arma e às mulheres são proibidas de usá-las. Como a lei proíbe, só o amparo de um homem pode impedir uma reclamação. -Challen explicou. Ela sentiu que não estava se comunicando com ele como deveria, apesar de falar a mesma língua, mas isso não a impediu de tentar outra vez. — E se puder te impedir eu mesma? -ele se agachou junto aos pés de Tedra para tê-la ao alcance das mãos. Ao recordar a rapidez de movimentos que ele tinha mostrado antes, sentiu o desejo urgente de encolher as pernas e escapar de seu lado. Entretanto, permaneceu sentada no chão tal como estava, com as pernas bem estendidas, como se não tivesse com o que se preocupar. Embora, para falar a verdade, estava mais preocupada do que queria admitir. Martha, que podia ouvir o que estava acontecendo, poderia transferi-la e tirá-la desta situação, mas Tedra estava convencida de que não o faria. Martha aprovaria sem reservas que este bárbaro a violasse, pensando, provavelmente, que era exatamente o que ela necessitava. Precisamente, quando se tratava das necessidades de sua ama, esse maldito computador sempre acreditava saber o que mais lhe convinha. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Tem outras armas estranhas que ainda não vi? -perguntou o bárbaro. — Estranhas segundo seu nível de conhecimentos, mas não segundo os meus. -ao falar isso, tinha despertado sua curiosidade. — Mostre essas armas, mulher. — E arruinar a surpresa? Pareço tão estúpida, guerreiro? -ela perguntou. Ele soltou uma gargalhada e lhe agradou sua risada. Também lhe agradava inteiro, mas era uma pena que seguisse insistindo em sua reclamação. Não podia permitir que um homem a reclamasse neste mundo, quando não passaria um tempo muito prolongado nele, e quando devia realizar negociações que poderiam ser a salvação de seu planeta. Não podia se permitir o luxo de que, seus caprichos, gostos e desgostos, estorvassem sua missão. Quando o momento de diversão passou, e o bárbaro voltou a olhá-la com um novo brilho demonstrando certa admiração. — Qualquer surpresa que tenha oculto à vista aparecerá assim que nos ocupemos de suas roupas e acessórios! -ele disse, olhando-a. Tedra nem sequer tentou dissimular seu gemido. Foi comprido e forte. — Isso outra vez? Acreditei que tinha sido clara a esse respeito! Não recebeu um golpe antes por tentar tirar minha roupa? Ficará com ela e não há nada mais que dizer. De todos os modos, não te serviria. Com um suspiro de irritação fez que soubesse o que pensava dessa última piada, mas ela sabia de antemão que não queria usar sua roupa, somente queria que ela não a usasse e ele estava nesse momento olhando-a pensativamente, o que aumentava o nervosismo de Tedra em tê-lo tão perto. — Te reclamei, mulher. Como bem sabe, isto significa que deve ceder a minha vontade. Entretanto, continua me desafiando e se expondo ao castigo. Nunca conheci uma mulher que procurasse com tanto afinco que a castigassem. -ou ele estava realmente perplexo por sua atitude ou lhe CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro estava dando a entender sutilmente o que poderia esperar se não se dobrasse ante suas demandas. Tedra apostou na última e jamais havia gostado das ameaças, sutis ou não. — Ainda não encontraste, guerreiro. O que não entendo é o fato de que nunca antes ouvi falar de sua maldita reclamação. Então, como diabos eu poderia conhecer as regras ou regulamentações correspondentes? É uma palavra que os Sha-Ka’ari usam, ao menos um que conheço, mas não no sentido em que a está usando, mas muito além disso, simplesmente não deixarei que me reclamem. Soa suspeitosamente a escravidão e matarei o homem que tente me escravizar... o que me recorda algo que devia ter perguntado no começo. É verdade que têm escravos aqui? -Tedra podia ver claramente que o guerreiro morria por responder antes alguns dos outros temas, mas contudo, se dignou a responder a sua pergunta. — Não, em Kan-is-Tra não há necessidade da escravidão. Temos serventes em abundância de Darasha, de uma terra conquistada há séculos. Há países ao leste que escravizam seus cativos, mas os guerreiros de Kan-is-Tran lidam de forma diferente com os prisioneiros. — De que outra forma? — Como tratam as mulheres reclamadas. — Muito bem. -suspirou- Que diferença há entre as duas? — A uma mulher reclamada não se pode maltratar, vender ou amarrar, como se faz frequentemente com os escravos. Também pode se converter na mãe dos filhos de um guerreiro, se ele decidir lhe conceder essa honra. O que ela não pode fazer é descumprir a vontade de seu guerreiro. — E se descumprir? — Eu lhe disse quais são as consequências de uma ação semelhante. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — O castigo, quando acaba de dizer que não poderiam maltratá-la! - exclamou. — Existem diversas formas de castigo que não causam muito dano. — Alegra-me que tenhamos esclarecido isso. Tinha a sensação de que sua famosa reclamação não seria de meu agrado e tinha razão. Forçosamente terá que passar por cima do fato de que eu tenha vindo aqui desacompanhada por... Aguarda um minuto! -sorriu subitamente- Não me considere descortês, mas... -ela mudou para Kystrani- Martha, envie Corth aqui, imediatamente. Não tenho por que aceitar as ofensas deste bárbaro! Devo realizar uma tarefa e não posso cumpri-la se tiver que lutar contra cada guerreiro que desejar me reclamar. Corth preencherá os requisitos de amparo que eles consideram apropriados... Martha? Vamos, maldição! Sei muito bem que está me ouvindo! -aguardou mais um momento e ergueu a mão quando o guerreiro quis falar- Martha, se me contrariar nisto, juro que me vingarei! Não estou aqui para que me violem, por muito que você queira ver de outro modo. Agora, deixe de tolices e envie Corth! -nada aconteceu e o bárbaro se cansou de esperar. — Por que fala sozinha e com palavras sem sentido? -ele perguntou, confuso. — Estou falando com Martha. É possível que tenha ouvido suavoz saindo de minha unidade phazor. — Mas você apagou a voz, te vi fazendo isso. — Mas ela ainda pode me ouvir. — Embora não esteja aqui presente? É algum Deus, por acaso? — Sim, suponho que poderia dizer que Martha é como um Deus -disse Tedra, amargurada e se dirigiu a Martha- Não se engasgue de risada pelo que acabo de dizer, maldita traidora! -voltou-se para bárbaro uma vez mais- Se ela quisesse poderia me fazer desaparecer ou enviar um homem que CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro passaria por ser o amparo que você diz que necessito. Obviamente, ela decidiu não fazer nenhuma das duas coisas a não ser me abandonar a minha própria sorte para tratar contigo. -as dúvidas se refletiam claramente no rosto do homem, praticamente dizendo que não acreditava em uma só palavra de tudo isso. — Tinha acreditado que vinha de Ba-Tar-ah, no remoto norte do planeta, mas eles falam como nós. De que país você vem, mulher, que as outras palavras não têm significado? Deste Sha-Ka’ari de que falar? — Sha-Ka’ari é sua língua, meu grande amigo, não a minha. Eu venho de Kystran, não de outro país deste planeta, mas sim de outro planeta. Estou aqui para negociar com seu povo, para oferecer as maravilhas de meu mundo. — Outro planeta. -seu sorriso foi mais uma careta zombadora e Tedra soube que ainda não acreditava em absolutamente nada- Como é possível vir de outro planeta? — Em uma espaçonave -resmungou Tedra e logo acrescentou em voz mais alta- Que Martha poderia te mostrar caso notasse que estou fazendo um avanço aqui. — A mulher de Kystran tem muito talento para narrar histórias. -o bárbaro riu entre dentes- Não me desgosta, pelo contrário, esperarei ansiosamente ouvir mais de seus contos tão divertidos. — Maldito seja, na realidade estou aqui para negociar e talvez contratar alguns mercenários, se alguns dos guerreiros estivessem interessados. Preciso falar com seu shodan. Poderia, ao menos, parar um pouco com essa tolice da reclamação até ter tido uma oportunidade de provar... -ele a reduziu ao silêncio com um movimento da mão. — Não confiaria semelhante tarefa a uma mulher, nem com a negociação, nem com a contratação de guerreiros. Acredito que usa essas roupas de guerreiro durante muito tempo. Têm-lhe feito acreditar que pode CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro fazer o que te agrade, mas não é assim. -ele não voltou a insistir em que as tirasse. Estirou o braço para ela com a intenção de tomar a mão para ajudá- la a levantar e assim se encarregar ele mesmo de fazê-lo, mas Tedra não toleraria isso. Agarrou seu braço com ambas as mãos e deu um puxão, caiu para trás para dar maior impulso e levantou as pernas para ajudar a fazer voar o bárbaro por cima de sua cabeça. A manobra funcionou apesar do peso colossal de homem, mas só porque tinha utilizado o chute adicional de suas pernas. Assim que o teve feito desejado ficou em pé imediatamente. O bárbaro era quem estava estendido de costas no chão nesse momento. Não se moveu durante uns dez segundos, depois se levantou e a olhou por cima do ombro. Não parecia enfurecido, nem sequer surpreso. Tedra suspeitou que o bárbaro quase nunca demonstrava seus sentimentos. — Vou supor, mulher, que não sabia o que fazia. — Pode acreditar o que desejar, mas não recomendaria isso. Tenho mais truques como esse! — Então, me desafie! -antes de ficar em pé soltou uma gargalhada curta e depreciativa- Pelas pedras de gaali, resolveste o problema de sua própria resistência. — Sério? -disse ela sem tom na voz- Espere um momento, eu não estou te desafiando, bárbaro. Tudo o que tenho feito é defender meu direito de ter a roupa sobre meu corpo! — Uma mulher reclamada não tem nenhum direito e certamente me desafiou. Eu agora aceito a provocação e indico suas armas. -falava sério. Ela compreendeu e com a morte na alma viu que não tinha escapatória. Por outro lado, ele via como a solução do problema que tinha confrontado e estava absolutamente encantado que ela tivesse resolvido por ele. — Suponho que irá me cortar em pedaços com essa espada que tem. - ela falou. Ele apenas sorriu para ela. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Você não poderia sequer levantar a espada de um guerreiro, kerima, se houvesse aqui uma espada para seu uso. Não, eu vou escolher o combate sem armas, dos quais você parece ter algum conhecimento. -falado isso, foi a vez de Tedra sorrir. — Se você insiste... -ela disse. Ele não tinha esperado que sua confirmação apareceria com tanta rapidez. — Entende bem as consequências deste desafio? - Não, mas tenho certeza que você está morrendo de vontade de me dizer. -ela provocou. O sangue frio de Tedra lhe arrancou um grunhido. — O vencedor pode pedir a morte ou os serviços do vencido, que não poderá exigir nada mais. — Em outras palavras, o perdedor não pode nem pensar em se livrar do serviço, se for o serviço a pena escolhida? — Se escolher não há forma de evitá-lo. — O que acontece se o perdedor simplesmente se recusar a cumprir a pena? — A desonra o privará de seus direitos. Muitas vezes lhe corta a mão, para que nunca mais desafie alguém quando não tem intenção de respeitar o resultado. — Quem decide isso é o vencedor? — Os desafios se regem pelas leis dos guerreiros, leis que todos os guerreiros fazem cumprir. Como já havia dito, não há forma de evitar o resultado de uma provocação. -continou ele. — Muito bem, posso entender como respaldarão todos os guerreiros se acontecer algo a eles. Agora, de que tipo de serviços se trata e quanto dura? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — O tipo de serviço também é da escolha do vencedor, mas só pode ser um serviço. Se necessitar de um novo estábulo para seus hataaris, o vencido receberá a ordem de construí-lo e como é uma tarefa específica, o serviço durará até que termine. A maioria dos serviços, entretanto, são geralmente trabalhos singelos, em uma granja ou uma mina ou até na casa do vencedor, este tipo de serviço normalmente dura um mês. — E só pode pedir um único serviço? Não pode lhe destinar aos deveres de casa e logo trocar de opinião se necessitar de um moço na lavoura? — Isso é exatamente assim. Depois de ouvir, ela meditou durante um minuto. Parecia muito fácil, um pouco de trabalho braçal por apenas um curto de tempo. O que o fazia tão encantado com esse desafio? Apertou os olhos ao observá-lo com desconfiança. — Um dos serviços entre os que se pode escolher não seria, por acaso, no quarto? -perguntou ela. — Jamais se exigiu semelhante serviço porque somente os homens desafiam ao duelo... mas pode ser considerado um serviço. Então era isso o que ele escondia na manga. Ele havia previsto corretamente, nada além de problemas ao reivindicá-la, mas com essa coisa de desafio, ele poderia obter exatamente o que queria dela sem qualquer esforço. Enfurecida com o fato de que ele sequer teria mencionado esse serviço se ela não o tivesse perguntado, Tedra apertou os lábios. — E se eu ganhar, guerreiro? — Você terá a mesma escolha, minha morte ou serviço. — Excelente, acredito que demorarei ao redor de um mês para levar a cabo a tarefa que devo realizar neste planeta. Estou certa de que será um guia simpático ou um assistente amável para mim. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Você realmente espera me derrotar, mulher? -o tom divertido da voz seria natural, supôs, mas mesmo assim era extremamente irritante. — Você não me conhece, criatura. Sou tão orgulhosa de minhas habilidades como você das suas e sei ser arrogante como você. — A arrogância está proibida em uma mulher. — Por que não comprova primeiro se é merecida antes de não admiti- la? -quase ronronou com a esperança delhe tirar do sério, mas cada vez se convencia mais de que era impossível saber o que acontecia a cabeça do gigante e isso a incomodava. Ele simplesmente, inclinou a cabeça em sinal de assentimento, como reconhecendo a verdade dita por ela. — Respeitará o resultado da provocação? — Lamento ter que pôr reserva a seu entusiasmo e confiança, guerreiro, mas brigar é minha profissão e a honra é imprescindível para um lutador no mundo de onde venho. Sua dúvida, me insulta. — Jure por... oor sua Martha! -insistiu ele. — Por amor às estrelas! -suspirou- Jurar pela Martha não significaria nada posto que não é um Deus, meramente uma pilha de sucata que se aumentou muito para seus circuitos e a quem dá a casualidade que desprezo nestes momentos. Jurarei pelas estrelas do universo que é um juramento que me obrigo a cumprir, mas espero ganhar esta luta, criatura, assim não diga que não lhe adverti isso. Pode ser grande, mas não é dois. Jura você também respeitar o resultado? -perguntou ela. Ele se sufocava de tanta raiva e isso a fez rir por dentro ao ver que, depois de tudo, suas ironias chegavam ao destino o fazendo reagir com irritação e voltou a insistir- O justo é justo, criatura. Você me obrigou, então jure para mim também. — Juro por Droda -grunhiu- Mas também juro que lamentará por ter me provocado com suas brincadeiras, mulher! CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Veremos! -replicou ela, serena- Está seguro de que deseja levar a cabo a provocação? — Agora não há nada que poderia me deter, tyra. -ele tinha a chamado de bruxa e tinha lhe irritado tudo o que convinha e muito mais. Uma das primeiras regras da luta era permanecer imperturbavelmente frio. — Então, o que está esperando? Estou preparada! CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 9 Sua estratégia consistia em não permitir que ele pusesse as mãos em cima dela. Tedra descobriu rapidamente que o bloqueio de pouco servia contra esses braços sólidos, portanto qualquer ataque frontal ficava descartado. Conseguia conectar seus golpes dos flancos e desde atrás, mas isto implicava num devastador trabalho de pernas para manobrar, bailando ao redor de seu competidor. O bárbaro podia ser grande, mas desgraçadamente, não era lerdo nem torpe. De fato, seus movimentos eram tanto ou mais rápidos que os dela, o que não ajudava para terminar rapidamente a briga como tinha previsto. Ao descobrir no começo da luta que ele se mostrava pouco disposto a machucá-la seriamente, se sentiu melhor. Nos primeiros momentos ele tinha tido várias oportunidades para terminar a briga, mas ela teria tido vários ossos quebrados como prêmio. Ela não albergava uma disposição semelhante, embora não se iludia de poder machucar o bruto seriamente, com os golpes limitados pela grande distancia que devia guardar. Essas golpes que conseguia conectar deviam derrubar o colosso, mas simplesmente não conseguiam. Era possível que ele sentisse dor mais tarde, mas pelo que podia ver nesses momentos, não sentia absolutamente nada, já que todos esses músculos maciços amorteciam seus golpes. Teria que se decidir a utilizar uma golpe com chute e saltou apostando tudo em lhe alcançar a garganta, por mais alta que estivesse ou esperar a oportunidade para o tomar despreparado pelas costas e aplicar a primeira técnica. Depois de conectar dois golpes laterais, sucessivos, que ele se viu impossibilitado de bloquear, Tedra conectou um terceiro, que o fez cambalear um pouco. Entusiasmada, não perdeu tempo e saltou escarranchada sobre as suas costas, para tentar encontrar o ponto que devia pressionar no pescoço deste homem. Estando nessa posição poderia ter quebrado suas costas ou o pescoço, com apenas o levantar dos pés para fazer alavanca ao mesmo tempo em que atirava sua cabeça para trás. Teria CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro ouvido primeiro um estalo antes que o peso adicional fizesse rodar pelo chão a ambos, mas não teve suficiente ânimo para matar o bárbaro. Em troca, aplicou a primeira técnica e conteve a respiração enquanto contava os quatro segundos adicionais que demoraria para dar resultado em alguém de semelhante tamanho. Mas passaram quatro, logo seis e Tedra começou a suar quando tinham acontecido oito segundos e ele continuava em pé. Os músculos de seu pescoço eram extremamente grossos e fortes e quando ouviu o ruído surdo da risada contida, compreendeu que ele poderia tê-la detido em qualquer momento, mas que lhe tinha permitido aplicar seu melhor golpe. Pensou nesse instante em abandonar o navio, mas sabia que se aproximaria dele se acabasse tudo. No mesmo momento em que se soltava das costas, a mão do guerreiro estava ali para lhe impedir de cair ao chão e escapar de seu lado. Ao segundo seguinte se sentiu arrastada pela túnica até ficar cara a cara com ele. Só por um segundo pôde ver a expressão triunfante e maliciosa em seu rosto antes que a jogasse no ar. Tedra não gritou e isso disse muito em seu favor. Tampouco pôde cair ao chão livremente. O bárbaro só tinha querido sujeitá-la melhor, mas sem deixá-la ficar em pé ainda. Quando caía, ele a recebeu lhe aferrando os braços por cima do cotovelo com ambas as mãos, para sujeitar-lhe aos flancos do corpo o que era benéfico para ele. De tão curta distância e com as mãos ocupadas sujeitando-a, Tedra teria lhe rompido o nariz, lhe esmagado as cordas vocais ou efetuado qualquer quantidade de golpes que poderiam lhe haver mutilado, se tivesse podido usar livremente os braços. Contudo, ainda podia usar livremente as pernas, mas uma vez mais ele demonstrou quão rápido era para bloquear seus movimentos, e foi mais à frente ainda sacudindo-a com todas suas forças até que Tedra decidiu que tinha recebido suficiente castigo e deixou as pernas pendurando. — Admita que venci, mulher. -ele disse. Não foi uma pergunta e sim uma ordem. E realmente parecia que a tinha vencido sem ter devolvido um CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro só golpe. A força colossal tinha suas vantagens. Suas mãos a tinham bem presa para escapar se retorcendo e não a interessava que ele voltasse a sacudir seus miolos, se tentasse chutá-lo uma vez mais. Mas admitir? Não o faria até ter utilizado suas últimas opções e uma delas era levantar ambas as pernas de uma vez, plantar os pés no meio do seu peito e empurrar para trás. Deu resultado, mas só porque ele não esperava. Tedra saiu disparada pelo ar, para trás e aterrissou de costas sobre o chão duro, que foi menos doloroso se tivesse lhe arrancado os braços ao não soltá-los. Mas seu tranco não conseguiu derrubar seu oponente, como tinha esperado que acontecesse, mas só ganhou os segundos suficientes para recuperar o fôlego. No instante em que se recompunha, o corpo do bárbaro caiu sobre o dela, imobilizando-a totalmente no chão. Agarrou suas mãos, prendeu suas pernas entre as suas e como se isso fosse pouco, a fez sentir todo o seu peso, para não correr mais riscos com ela. Respirar normalmente se converteu em uma lembrança. Tedra tinha que lutar bravamente para respirar um pouco e ele sabia, mas não reduziu a pressão no mais mínimo. — Agora deve admitir que te venci. -repetiu ele. Uma vez mais não foi uma pergunta. E desta vez não cabia nenhuma dúvida em nenhum deles. Tedra não podia se mover nem um centímetro, exceto para inclinar a cabeça e assentir, e no momento em que fez, pôde voltar a respirar livremente. Mas tudo o que ele tinha feito foi levantar um pouco seu peito enorme e separá- lo do de Tedra. Não a soltou, nem mostrou intenções de ficar em pé e parecia perfeitamente satisfeito e agradado na posição que estava, enquanto a olhava de acima. O olhar de Tedra estava cheio de desgosto contra si mesma. Tinha cometido um engano atrásde outro com o bárbaro, mas ter aceito a provocação tinha sido o pior. — Não acredito que vai me matar, não é? -ela disse. Ele moveu lentamente a cabeça- sou muito eficiente na limpeza de pisos -mentiu ela. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Mais uma vez ele balançou a cabeça, mas desta vez com um sorriso- Tudo bem, desgraçado! -ela cuspiu- Que classe de serviço exigirá de mim? — Isso você já sabe, kerima. -querendo ou não, ela se sentia mesmo uma pequena menina, como ele a havia chamado. Era tão demoniacamente grande e já tinha provado todo o peso de seu corpo. Jamais sobreviveria a um ato sexual com esse gigante, estava plenamente segura disso, entretanto, quem o impediria? Ela descobriu da pior maneira que não podia. E mesmo se pudesse, a honra exigia que nem sequer tentasse. — Aqui não terá mal entendidos, guerreiro. Quero que me explique detalhadamente. Além disso, desejo saber quanto tempo irá durar. — Muito bem. Ele rolou para o lado e Teddra respirou mais tranqüila, pois parecia que seu serviço não começaria ainda, e se sentiu agradecida. Estava completamente exausta pelo esforço sobre-humano que tinha feito para vencer e depois o que foi o golpe de graça para ela, ele tinha vencido. Pela primeira vez desde que tinha se tornado uma Seg 1, tinha sido vencida, e por um homem que ela achava extremamente desejável. Uma onde vulnerabilidade a percorreu, a emoção corou suas bochechas e enfraqueceu seus membros. Aqui estava um homem que não podia pisotear, alguém que não temeria suas habilidades ou se preocuparia que ela se enfurecesse. Era como se ela tivesse a vida toda esperado por ele, e então o olhou, com os olhos arregalados, devido a expectativa e um pouco de temor. Por fim ela conheceria as relações sexuais, e embora pudesse matá-la, desfrutaria da cada segundo enquanto durasse. — O que foi? –perguntou ao perceber a expressão de Tedra. — Eu... Nada. –ela recolheu as pernas rodeando-as com os braços. Ele estava sentado perto dela com as pernas cruzadas. Não podia encará-lo novamente, mas ele não toleraria isso. Pegou seu rosto com a mão e virou para ele. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Você concordou em honrar o resultado –lembrou quase severamente. Perturbada por seu toque empurrou sua mão com gesto brusco. — Não volte a duvidar de minha honra. Ainda estou esperando ouvir o que me corresponde fazer como serviço. — Durante um mês me dará o serviço de uma mulher reclamada. -ele disse com certo ar de triunfo, mas por outro lado, esse era o motivo pelo qual ele tinha estado tão encantado com o desafio, porque ela não poderia se opor a que a reclamasse. E sem se importar o quão ansiosa estava por compartilhar do sexo com ele, esse fato a feria em carne viva. Ele sabia perfeitamente que não iria perder, mesmo que ela não soubesse. Se isso não foi uma atitude dissimulada, ela não sabia o que podia ser. — Disse que isto significa que devo me dobrar a sua vontade? Em tudo? — Assim é, exatamente. — Parece-me um pouco excessivo, guerreiro. Você também disse que este serviço poderia ser uma tarefa específica ou um determinado tipo de trabalho, mas apenas um tipo. Se tiver que limpar sua caverna, cozinhar suas comidas e esquentar suas peles, receio que terei que protestar. Isso seria mais que um só tipo de serviço! -tinha que estar irritado com ela por apontar isso, mas maldito fosse, se o demonstrava. Ela queria uma reação dele. Em realidade, não lhe importaria muito que a reclamasse segundo seu estilo nesse mesmo momento, mas tudo o que fazia era considerar cuidadosamente o assunto. — Muito bem, escolherei o serviço que você mesma nomeou. Suas palavras foram "trabalho no quarto de dormir" portanto, onde eu dormir, você não poderá me negar absolutamente nada. Ficou suficientemente específico para você? -ele disse. Tedra quase se pôs a rir. Na realidade, pensava que a faria se lamentar de ter protestado contra sua primeira CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro escolha e que esta a agradaria ainda menos. Tedra tinha conseguido que reagisse depois de tudo, embora não fosse uma reação típica, mas, de qualquer forma, não se podia acusá-lo de ser um homem típico. Para não o desiludir, Tedra deixou escapar um comprido suspiro, fingindo sofrimento. — O que posso dizer, guerreiro? Mas está desperdiçando uma excelente varredora de pisos. — Teria sido melhor como mulher reclamada. Ao menos é uma posição que merece certo respeito. -reclamou ele. A reação da Tedra obviamente tinha sido muito fraca para lhe agradar. Queria vê-la zangada, tão zangada como aparentemente o tinha zangado ao discutir sua primeira escolha de serviço. — E a que te esquenta a cama não é tão respeitada? -Tedra riu e logo encolheu de ombros, desinteressada- Bom, como é um trabalho forçado, terá que defender minha honra, o fará? -ele moveu a cabeça negativamente. — Aceitará o que venha, sem recurso. O serviço devido à derrota em um desafio, não deve ser agradável para o perdedor. -ela não tinha a habilidade do colosso para dissimular sua irritação quando a sentia. Fulminou-lhe com o olhar e chiou os dentes — Muito bonito de sua parte me dizer isso depois de consumado o fato -disse ela,apertando os dentes- Quantas surpresas desagradáveis guardas para mim? Cadeias e chicotadas, possivelmente? -e então ele sorriu. — Não posso dizer que coisas a surpreenderiam, quando conhecia tão pouco dos desafios. Tedra esperou que continuasse, mas ao não fazê-lo, exigiu saber. — O que me diz das cadeias e as chicotadas? — Por que teria que usá-los se a tiver convencido a aceitar minha vontade em tudo? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Somente no quarto -recordou-lhe ela. — Onde quer que eu durma -recordou ele- Mas... -ele voltou a sorrir- segue sendo uma mulher, não um guerreiro. -ele parecia encantado em extremo por esse fato. — Devo supor que isto significa algo em particular, em meu caso? — Uma mulher, qualquer mulher, de alta linhagem, faxineira... Ou perdedora em um desafio... Deve ceder aos guerreiros, em especial ao guerreiro que a protege, a quem além disso, deve obediência em todas as coisas. Até que seu serviço conclua e volte a ser uma mulher reclamável, devo te brindar com meu amparo, portanto me obedecerá em tudo. -a fúria deixou Tedra sem palavras por um momento. Depois se levantou de um salto. — Vai ao maldito inferno! Isso é o que disse das mulheres reclamadas. Vai dizer que todas as mulheres de seu planeta são reclamáveis? — Desconheço os costumes de todos os países -comentou no momento que também ficava em pé- Mas em Kan-is-Tra, pouquíssimas mulheres podem ser reclamadas, já que só precisam solicitar o amparo de um guerreiro para evitar a reclamação. Isso lhe foi dito e elas o fazem de boa vontade porque as mulheres de Kan-is-Tra não têm, nenhum interesse em perder seus direitos pela reclamação. — Que direitos? -exigiu ela- Parece que não têm nenhum se ainda devem obedecer... Pelas estrelas! Como odeio essa palavra... e a todos guerreiros que estalam os dedos! — Ceder, mulher, não obedecer! -replicou ele com um suspiro- Nenhum guerreiro pode exigir algo de uma mulher que está sob o amparo de outro guerreiro. Sim pode solicitar tal ou qual coisa dela, mas ela não tem por que obedecer, se considerar que a petição é pouco razoável ou repugnante para ela. Esse é seu direito. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Mas sim deve obedecer ao guerreiro que a protege? Não vejo diferença. — Quem a protege não pode ter dela o serviço que você me dará, a menos que ela declare seu desejo de oferecer tal serviço. É esta uma diferença substancial para você, mulher? -ao ouvi-lo, Tedra avermelhou. — Aindaparece uma situação muito servil para meu gosto, mas não vim aqui para viver e sim para negociar. Entretanto, não me esqueci que você me colocou no grupo das "sem direitos". -encolheu os ombros. — Podia ter solicitado meu amparo. — Eu não sabia absolutamente nada disso! — O desconhecimento da lei não... — Não pise sobre a ferida, guerreiro -estalou Tedra- se aproveitou de mim mais que qualquer outro homem na minha vida, assim mude o tema, certo? Vamos ficar aqui todo o dia ou o que? Por que não continua com o que estava fazendo até que eu apareci para te alegrar o dia? Em todo caso, o que estava fazendo sozinho neste lugar? -um olhar de mortificação apareceu nos olhos do homem, que foi alentador para Tedra, já que demonstrava que não sempre podia dissimular suas emoções. — Estava caçando o taraan que matou. — Isso é um taraan? -perguntou Tedra- Ouça, não o matei. Está profundamente aturdido, isso é tudo. Pelas estrelas do universo! Quem dera você estivesse assim e permanecido dessa forma. — Como é que tem conhecimento da palavra taraan, mas jamais viu um antes? -foi a unica reação do guerreiro. — Porque é uma de suas palavras que precisavam ser acompanhadas de uma imagem, mas os tradutores não proporcionam fotos, somente palavras. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Explique melhor, mulher. — Assim foi como aprendi sua língua, com uma fita tradutora. Conheço todas as palavras, mas não todos os significados. Seus animais, comidas, coisas como essas me darão problemas até que possa unir as palavras com as imagens. Teria o mesmo problema se lhe dessem minha língua. -sorriu então- Essa sim é uma ideia. Você gostaria que nos transferisse a minha nave para aprender minha língua? Só perderá umas poucas horas de seu tempo e o choque cultural te fará muito bem. -um bufo foi a resposta. — Vou me encarregar do taraan. Permanecerá aqui onde está. - primeiro ele se encarregou da unidade phazor, com grande pesar de Tedra. Assim que deu a ordem a ela, o gigante recolheu seu cinturão e voltou a colocar a espada que prendia nele. Logo se encaminhou ao lugar onde tinha caído a unidade quando a lançou ao ar e a enganchou na parte traseira do cinturão. Tedra fez grandes esforços para não rir as gargalhadas quando o viu vacilar uns minutos antes de recolhê-la do chão, mas se conteve. Pelo menos o bárbaro não era tão parvo para deixar a unidade esquecida e lhe permitir que tivesse alguma oportunidade de recuperá-la. Mas a recuperaria apesar de tudo. Entretanto, de nada lhe serviria tê-la em seu poder durante o mês seguinte, já que tinha dado sua palavra de honra de aceitar as consequências por ter sido derrotada no desafio e contudo, esperar essas mesmas consequências com grande ilusão, apesar do caráter dominante do bárbaro. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 10 Uma besta enorme, espantosa e peluda era o que o bárbaro chamava de hataar. Era um quadrúpede de cangote larguíssimo e crinas que caíam de ambos os lados até as patas altas e magras, com uma cauda também de cerdas que quase se arrastava pelo chão. O lombo, que servia para se sentar sobre ele, era tão alto como Tedra. Nesse momento entendeu que ele era para montar e andar, mas os Sha-ka’ari deviam ter outro nome para bestas, se tinham algumas, porque hataar era uma palavra que estava incluída no tradutor. Os antigos kystranis tinham animais semelhantes que usavam como transporte, mas não tão grandes nem tão horríveis como este e estavam extinto há muitos anos. O hataar do bárbaro era de pelagem negra com crinas e cauda brancas, que assombrosamente não mostravam sinais de descoloração. Estava preso ao final de uma fileira de árvores, ou ao princípio, dependendo de onde se aproximassem dele. Tedra tinha desfrutado enormemente, a caminhada pelo bosque de adoráveis árvores verdes e de ramos baixos e frondosos. Tinha saboreado com deleite, o aroma da terra verdejante e as coisas que nela cresciam. Em Kystran toda a vegetação tinha morrido durante a época da grande seca, o que levou a invenção dos banhos de raios solares. Naquele tempo, todos os alimentos tiveram que ser cultivados nas estações espaciais, ou importados diretamente de outros mundos. A madeira, há muito havia se tornado de inferior qualidade, não podendo ser usada como material de construção, por isso a perda de toda a vegetação, ao longo e ao largo do planeta, não se constituiu numa catástrofe grave nem em um problema que requeresse urgente solução, e quando os cientistas, por fim, tinham conseguido solucioná-lo, a terra era um deserto, que só servia para que a pavimentassem ou construíssem sobre ela. Um parque em Kystran consistia em uma grande extensão de sólido pagamento marrom, erpleto de CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro estruturas de metal gigantestas, com formato de árvores e plantas, que nada tinha a ver com o que a rodeava nesse momento. O bárbaro tinha levado o pobre taraan, que ainda estava vivo, embora seguisse aturdido e paralisado, o que a tinha alegrado, visto que ele evitava deixar um rastro sangrento para tras. Tedra se conteve de perguntar que importância poderia ter. Ainda ficavam por ver os animais selvagens desse planeta, mas isso não queria dizer que não rondassem pelos arredores. O hataar usava um artefato semelhante a um cinto, em volta do pescoço e do peito que tinha sido anexado as rédeas, a parte superior do cinto poderia ser uma espécie de alavanca, a partir da qual se pega para montar, já que o animal não tinha sela e só vi uma fina manta de pele cobrindo suas costas. Um comprido saco de couro com dois pequenos animais parecidos com coelhos, pendurados por cordas amarradas ao cinto de segurança. O bárbaro também atou o taraan, já que não era tão longo para se arrastar pelo chão. Tedra não estava ansiosa para montar a coisa gigantesca e se dirigir aonde quer que fosse, embora o lombo fosse tão largo que haveria lugar para duas e até para três pessoas sentadas comodamente. Mas quando seu acompanhante tinha terminado de assegurar a carga, não montou para empreender a marcha. Em troca, se voltou para ela e depois de estudá-la pensativamente por um momento, abriu a mão e tocou a manga da túnica. — Estes trajes ainda me ofendem, mulher. -foi tudo o que disse, mas ficou ali esperando, como se fosse adivinho e talvez o fosse. Os lábios cinzelados não sorriam, mas Tedra sabia que o sorriso devia ter estado ali e teve muito trabalho para explicar em detalhe como era a vida em Kan-is- Tran, portanto já sabia que não poderia se negar a nada deste momento em diante. Teria que tirar ela mesma a roupa ofensiva ou certamente ele o faria por ela e podia imaginar quão desagradável resultaria. E então lhe ocorreu que, caso se despisse por completo, o bárbaro poderia fazer o mesmo, até porque, que homem vigoroso e sensual de qualquer cultura desperdiçaria semelhante oportunidade? Estavam sozinhos e sobre o hataar havia um tipo CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro de manta que poderia estender debaixo de uma árvore. Não era muito difícil pensar que uma prazerosa relação sexual poderia melhorar em algo a atitude do bárbaro. Algumas concessões mútuas e em especial da sua parte para ela, melhoraria em muito sua própria atitude para ele. — Eu apostaria cinquenta fichas de troca, guerreiro, que ninguém jamais te acusou de ser flexível. Mas está bem, vale. A perseverança tem suas virtudes. É uma sorte para você que eu saiba ceder posições com graça. -sorriu precariamente antes de tirar uma bota e logo fez o mesmo com a outra. O cinturão utilitário se abriu de um só puxão e, encorajada pela forma em que os olhos escuros seguiam cada um de seus movimentos, o enroscou ao redor de seu pescoço. Riu entredentes quando os lábios do homem se apertaram e ele deixou cair o cinturão e as botas ao chão. O apertado pescoço da túnica estava desenhado para se abrir com facilidade e em questão de segundos, a parte superior da tunica foi se reunir com o restante de suas coisas junto aos pés dele. Mas ao revelar o torso quase nu de Tedra coberto apenas pela meia corporal, o bárbaro se perdeu vendo como deslizavam ao chão, suas calças. Estava totalmente fascinado por essa sua roupa, que de tão justa, parecia pintada sobre a pele. Feita de prata cintilante, cobria sua pele da parte superior dos seios até os dedos pés e isso o fascinava ainda mais. Um puxão na parte superior e se separaram as laterais por todo o corpo até os tornozelos, de modo que ela só teve que dar um passo fora dela e a meia corporal estava descartada. Durante longos e silenciosos minutos, os olhos escuros examinaram o que lhe tinha oferecido o desafio. Tedra ficou muito quieta, desaparecido seu estado de ânimo brincalhão e zombador. Nenhum homem antes a tinha visto assim e não tinha percebido quão desconcertante podia ser. Além disso, era impossível ler os pensamentos desse homem para saber se lhe agradava o que via. Esses ardentes olhos negros não revelavam nada. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Essas roupas de guerreiro ocultavam mais coisas do que tinha pensado, kerima. -disse ele, finalmente. O rubor subiu dos seios até as bochechas da Tedra. Sabia que se referia a seus grandes seios, embora não estivesse olhando-os ao dizer isso. A media corporal ajudava muito a aplanar essa parte de seu corpo, uma medida necessária para alguém de sua profissão, que não podia permitir que balanços incômodos interferissem em seu trabalho. Desejou com toda a alma que ele não os tivesse mencionado, mas desejou ainda com mais ardor, que ele desse o passo que os separava e a rodeasse com seus braços, para diminuir a confusão que sentia por estar completamente nua e ele não. O que estava esperando? — Isto sim pode guardar -disse, recolhendo o colar de kystrales que tirou com a túnica. Ele se aproximou e colocou o colar cuidadosamente pela cabeça dela. Até tratou de soltar o cabelo que tinha ficado aprisionado no colar. Nesse instante, ela pensou que a beijaria, mas não o fez. Deu um passo atrás para admirar a forma em que as duas voltas de pedras acariciavam a parte superior, os seios atraindo o olhar e Tedra cravou o olhar cheio de perplexidade. Seu controle não era normal e ia contra todos seus conhecimentos sobre os homens e a prática sexual; não tinha tido experiências próprias a respeito, mas sabia tudo o que se devia saber. O bárbaro tinha exigido um serviço sexual. Isso tinha que significar que a desejava, mas a desejaria realmente? Significasse o que significasse, Tedra pressentiu que não descobriria até muito mais adiante. Subitamente ficou desiludida que o sarcasmo brotou em cada uma de suas palavras. — Os kystrales vão perfeitamente com este traje, não é assim? — É claro que sim! -ele disse. Tedra fulminou-o com o olhar. — Agora não é precisamente o momento para que seja complacente, guerreiro. Não me despi para ficar nua! Me dê outra coisa... Estrelas! O que é isso? -ofegou Tedra ao ver uma imensa besta branca se aproximando a CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro passo rápido através das árvores- Meu phazor, rápido, homem... Dê-me isso antes que sejamos parte do menu dessa besta, agora mesmo! Estendeu a mão esperando a unidade, mas seus olhos permaneceram fixos no animal que se aproximava mais e mais. Tinha medo que fosse carnívoro. Tinha grandes presas e era quase tão grande como o hataar, certamente era muito grande para que o bárbaro pudesse dar conta dele. A cabeça era redonda com orelhas peludas, o corpo era largo, gordo e coberto por uma pelagem curta e lustrosa e a cauda era tão larga como o tronco. Só suas garras tinham o dobro do tamanho do punho de Tedra e ela não tinha nenhum desejo de tropeçar com as largas unhas que esconderiam. Mas sua mão permanecia vazia e, finalmente, decidiu dar uma olhada ao bárbaro. Ele tinha dado a volta para observar a besta, mas não tinha reagido de nenhuma outra forma. Nem sequer tinha aproximado a mão ao punho de sua espada, muito menos de sua da unidade phazor. Como estava de costas a ela, a unidade phazor estava justo ante seus olhos e Tedra nem sequer pensou em vacilar, mas no instante em que seus dedos a tocavam, outros dedos os aprisionaram e desviaram brandamente a mão em outra direção. — Perdeu o juízo? -chiou ela. O bárbaro simplesmente a olhou com expressão impenetrável. Inclinando um pouco a cabeça, Tedra viu por um flanco do corpo do bárbaro que a besta seguia avançando a passo comprido e que já estava a menos de três metros deles e de repente, a besta rugiu com todas suas forças. — Oh, estrelas! -gritou e correu em direção da árvore mais próxima. Ouviu as gargalhadas ainda antes de ter alcançado um ramo que se estendia a uns três metros do chão. Nada disso a impediu de saltar e se pendurar. O ramo era bastante forte para suportar seu peso. Tedra se agarrou com desespero. Subir em árvores era uma coisa tão estranha para ela como as árvores em si mesmas. Só quando estave estendida ao longo do ramo e CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro segura de que não havia perigo de cair ao chão, olhou para ver a que se devia a risada. Era o bárbaro, é obvio, se acabando de tanto gargalhar. De certo modo, começou a compreender o motivo quando viu o imenso felino sentado no chão junto a ele, como um maldito mascote domesticado. Logo depois de pensar um momento, Tedra chegou à conclusão de que talvez o fosse. Podia ouvir seu forte ronrono por cima do ruído que ainda fazia o bárbaro com suas gargalhadas, que pouco a pouco se foram apagando. O animal estava observando-a com seus enormes olhos azuis, como se ela fosse uma simples curiosidade. Ela mesma se sentia estúpida, ridícula e ardia de vergonha. — Essa árvore que parece querer tanto, kerima, não teria servido de nada! -comentou ele, rindo, ao aproximar-se. — Como? -perguntou Tedra. — O fembair brinca nas árvores. Se a quisesse em seu menu, teria se reunido contigo no ramo! Ah sim, era um fembair. Ela tinha aprendido a palavra em um tradutor que dava a entender que era uma espécie de animal selvagem a que se deveria evitar. Entretanto, este já não parecia tão selvagem, só pavoroso como o diabo. Continuava ao lado do bárbaro e agora que estava sobre suas quatro patas, o lombo chegava à altura do peito de seu amo. Ambos estavam nesse momento olhando-a do pé da árvore que se subiu. — Desça e seguiremos o caminho. -pediu ele. Tedra ficou chateada. Isso era tudo? Nem sequer uma desculpa pela brincadeira que lhe tinha feito? — Atualmente a vista é fabulosa daqui de cima! -replicou com irritação. Ele não fez caso das palavras, nem do tom com que foram ditas. — Se deixe cair que eu a pegarei. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Devido à casca do ramo que lhe irritava a suave pele do ventre e entre as pernas, Tedra não ofereceu mais resistência, agarrou-se pelo ramo com ambas as mãos, depois deslizou o corpo lentamente até ficar pendurada. Assim que sentiu as mãos que a sustentavam pelas panturrilhas, Tedra se soltou e caiu de repente. Os braços do bárbaro rapidamente lhe rodearam as pernas e sustentou-a pelas nádegas. Durante um momento estremecedor, uma bochecha áspera e dura se apertou contra seu ventre e depois ela deslizou, lenta, muito lentamente contra o corpo do guerreiro, até que seus pés tocaram o chão. Este tinha que ser o momento. Essa tentadora e atormentadora carícia de corpo contra corpo tinha sido um pouco deliberada da parte do guerreiro. Ardentes espiraisde antecipação e desejo estavam se embrulhando em seu ventre. Se não a beijava nesse momento... Ele deu uma suave palmada em seu traseiro antes que seu braço a soltassem e ela ficou olhando-o se afastar um minuto depois. Afastou-se! Tedra teve vontades de gritar e golpear o chão. É obvio que ela não faria tal coisa. Geralmente, quando a tomava o desânimo se submetia às provas e exercícios mais exaustivos para se desafogar, e assim economizar, seus amigos e colegas de trabalho, de um mau momento de seu mau caráter, que sempre tendia a sair à flor da pele quando se sentia dessa forma. Mas devia admitir que nunca tivesse sentido este tipo de frustração e desalento em toda sua vida. Nunca antes tinha tido a necessidade imperiosa de compartilhar sexo com alguém. Estava em pé e nua em meio da natureza desejando-o e ele partiu de seu lado, ainda não podia acreditar. Era de pedra? Talvez ela só o olhava de sua própria perspectiva e em realidade ele não a desejava. Tinha-a reclamado, mas ela tinha sido, segundo ele, uma mulher a ser reclamada, assim que outra coisa podia fazer além de reclamá-la? Até a tinha tido em uma posição perfeita para manter relações sexuais, um momento antes quando tinha perdido o desafio, mas não se aproveitou no mais mínimo dessa circunstância. Aqui estava a mulher que tinha que recuperar os cinco anos perdidos por se negar a participar do sexo em seu planeta e o que CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro conseguia quando decidia que tinha chegado o momento para fazê-lo? Um homem que podia tomá-lo, ou que não o desejava absolutamente. Maldita sua sorte! — Mulher? Um requerimento? -disse ele. Maldito requerimento! Isso foi o que conseguiu, ao lhe esfregar uma vez mais qual era sua posição, algo estalou em seu interior e perdeu todo controle sobre suas frustrações. Seguiu andando majestosa até onde estava esperando, ao lado do hataar, com os olhos água-marinha, brilhantes, entrecerrados e jogando faíscas, sem demonstrar nenhum pingo de temor pela besta branca. — Suponho que deve ser seu amigo. — Um amigo excelente. O dedo indicador foi como um estilete ao se cravar no centro o peito do gigante. — Podia ter dito, mastodonte pré-histórico, em vez de me deixar acreditar... — Mulher -interrompeu-a, meio surpreso e muito mais contrariado- Desde em qualquer lugar que venha, agora está no Kan-is-Tran. Respeitará as leis e se conduzirá como uma mulher do Kan-is-Tran. — Em outras palavras, não posso te insultar como merece, nem indicar o quão infantil foi sua brincadeira? — Respeitará um guerreiro em todo momento! — Ou o que? — Ou quem te protege te castigará como é devido -falou calmamente, entretanto, nessas palavras houve uma promessa que não lhe interessou tomar em conta. — Vá amparo -grunhiu, mas com menos ardor esta vez- Realmente não acredita que vou me transformar, por arte de magia, em uma mulher CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro modelo ao estilo de Kan-is-Tra, que dará um salto a cada exigência de sua parte, verdade? Ele ficou olhando-a durante tanto tempo e com tanta seriedade nos olhos negros ,que já estava lamentando o último sarcasmo até antes que respondesse com uma suave ameaça na voz. — Você fará. Possivelmente o faria, pensando-o bem, no momento, mas só até chegasse à conclusão de que podia suportar seus castigos. Tinha condicionado seu corpo para padecer grandes dores e sofrimentos e poder funcionar adequadamente. Teria que descobrir com o tempo. Ele deve ter suposto que a tinha submetido no momento, posto que não dissesse nada mais e voltou sua atenção ao hataar. Tirou a fina manta de pele que tinha no lombo, tirou uma larga adaga de seu cinturão e fez um talho no centro; depois, antes que Tedra se percebesse conta de quais eram suas intenções, a pôs pela cabeça com a pele para dentro e até tomou o trabalho de retirar o colar, para que este aparecesse e também o cabelo, para que não lhe incomodasse, arrumando ambas as coisas a seu gosto. Tedra não sabia se agradecia ou não. A manta cheirava a hataar, mas a pele era suave contra seu corpo. Não era um traje muito fabuloso nem cobria tudo o que ela tivesse desejado, logo chegava só até a metade das coxas, tanto na frente como nas costas, mas era tão larga que formava dobras ao longo dos braços. É obvio, o último que podia dizer é que era melhor que nada. Decidiu não agradecer já que tinha estado nua por todo esse tempo, devido a sua insistência, não por desejo próprio. — Se chegar a necessitar um cinturão -mencionou razoavelmente- o meu cairia bem. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Ele nem sequer olhou a pilha de roupa que tinha ficado no chão. Abriu de um puxão o saco de pele que pendurava na alça do cinto e extraiu dali uma corda similar às que tinha usado para segurar os animais. Tedra resmungou para seus botões. — Isso é um pouquinho velho, quero dizer que é muito antiquado, não acha? Meu próprio cinturão não tem nada de mau. — Provavelmente. É um bom cinturão para um guerreiro. -respondeu ele. Quando os olhares se cruzaram, acrescentou gentilmente- Não necessita de cinturão, kerima. — Então o que... -ele tinha agarrado seus braços e os tinha juntado, sustentando com uma de suas mãos enormes, logo começou a envolver a corda ao redor deles, com calma assombrosa. — Vamos! Aguarda um maldito minuto! -exclamou Tedra com desgosto, mas também com um pouco de alarme- Comprometi minha honra ao assegurar que te serviria todo um mês, guerreiro. Isto é desnecessário! — Qualquer pessoa derrotada em um desafio ou qualquer cativo, dá no mesmo, recebe este mesmo tratamento, para afirmar sua posição ante todos. — Ninguém vai acreditar que fui derrotada em um desafio! — Se alegre por isso, kerima. Os vencidos só recebem brincadeiras, os cativos são simplesmente uma curiosidade. — Se me tivesse deixado a roupa posta... — Todos e cada um dos guerreiros de meu acampamento teriam exigido que tirasse isso. Não sou o único que considera ofensivo ver uma mulher vestida daquela forma. Tedra chiou os dentes, se rebelou contra a corda que lhe atava os braços e o fuzilou com o olhar. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Tenho que reconhecer isso, menino, você conhece a forma de fazer com que uma mulher te odeie com paixão. — Este costume que tem de dizer o que não pensa me causa grande confusão, mulher. Melhor que se prenda à verdade, simplesmente. — Eu adoraria -replicou ressentida- Mas é seguro que me castigará se o digo, como me diz várias vezes, sem cansaço. — E qual é esta verdade? — Que estou começando a te odiar e também a seu planeta e seus malditos costumes, coloque isso na sua cabeça dura e aproveite. Quando ela virou a cabeça para o lado para não ver sua reação ante estas palavras, ele tomou seu queixo e a obrigou a olhá-lo. A reação do bárbaro a desconcertou, pois era absolutamente divertida e depois suas palavras a encheram de maior confusão, ao contradizer o que tinha visto com claridade. — Não se equivocou, kerima. Merece um castigo. Me encarregarei disso muito em breve! — Obrigada. Realmente precisava ouvir isso. -ele sacudiu a cabeça como dizendo que as observações dela eram as de uma criatura incorrigível. Seu olhar caiu sobre as mãos atadas, e contemplou-as durante um comprido momento. Franziu o cenho, o que a fez pensar que mudaria de opinião. Não teve essa sorte. Em troca, ele recolheu as calças descartadas, cortou uma parte de uns quantos metros da borda inferior de ambas as pernas, em meio dos gemidos de Tedra pela destruição de um traje tão custoso, e logo deslizou uma parte sobre cada braço debaixo da corda. Protegia sua pele? Que considerado e novamente que contraditório. Por que se preocupava com ela?A tinha amarrado para começar, então, que importância podia ter que a corda deixasse seus braços em carne viva? Era menos que uma cativa. Era a CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro perdedora de um desafio e merecedora de escárnio. Em um momento de puro desgosto pelo computador traiçoeiro que a tinha posto em semelhante problema, Tedra falou em seu próprio idioma. — Espero que esteja recebendo tudo isto, Martha, porque os pontos contra você vão se acumulando. Não só vou te vender assim que sair dessa, mas também vou te demolir, tirar todos os seus dados, contatos, derreter todos os seus circuitos e isso é só para começar! Como terei que suportar tudo isto durante um mês inteiro, mesmo que recupere o julgamento ou não, não pense que o tempo ficará de seu lado. Não me esquecerei jamais que podia ter me salvado antes desse maldito desafio. Um mês inteiro suportando humildemente tanta arrogância bárbara garantira que eu não esqueça. Você foi... O retalho de tecido que introduziu em sua boca afogou as palavras e os olhos dala se abriram desmensuradamente quando outra tira fixou o retalho em seu lugar, ficando atada sobre a nuca. As mãos atadas não a ajudaram a impedir que acontecesse isto. Tudo o que pôde fazer foi gritar furiosamente contra este último ultraje, mas o som que se ouviu foi um mero chiado e muito insatisfatório para continuar por muito tempo. Quando se deu por vencida, ele ficou uma vez mais diante dela com essa expressão impenetrável que já conhecia. — Acontecerá exatamente o mesmo cada vez que fale com essa Martha em uma língua que desconheço Quando tiver tido tempo para aprender a lição, lhe permitirei falar novamente, mas em Sha-Ka’ani. Sha-Ka'ani? Era assim como chamava a língua Sha-Ka’ari que tinha aprendido? Martha assegurou que em todo o planeta se falava uma só língua, embora o bárbaro não devia sabê-lo. Apesar de Tedra falar outra língua, ele ainda acreditava que provinha de outro país, não de outro planeta. Portanto, se isto era certo, seu planeta seria Sha-Ka'an. Não pôde dizer por que ao chegar a esta conclusão se sentiu reconfortada, como se tivesse obtido algo importante. Talvez porque ainda CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro desconhecia o nome de seu torturante, só seu país e nesse momento seu planeta. Mas que uma sensação positiva a embargasse nesses momentos, embora sobre um algo tão insignificante, era suficiente para rebater todos os pensamentos negativos que a bombardeavam. Atada e amordaçada, havia mais o que? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 11 Estavam a vários quilômetros de distância do lugar onde tinham se encontrado, quando Tedra se lembrou do cinturão e do aparelho direcional de sinais que ocultava em seu interior. Havia se focado tanto no aborrecimento que lhe provocavam as cordas, além da distração que produzia a proximidade do bárbaro, que nem sequer tinha lembrado que toda sua roupa havia ficado esquecida em algum lugar. Ele montou o hataar sem outra ajuda que no cinto onde se sustentou para dar o salto. Logo, agarrando ainda a asa com uma mão, se inclinou e a ergueu rodeando a cintura com o braço para depositá-la sobre o lombo do animal diante dele. Imediatamente estalou as rédeas encostadas à cabeça da besta e partiram ao destino desconhecido para ela, enquanto o fembair doméstico seguia a curta distância. Passada já uma longa hora, Tedra não podia acreditar que tivesse sido tão descuidada para passar por cima de um fato de tanta importância para ela. Tinha que admitir que esteve amordaçada e, portanto, incapacitada para insistir em levar seus pertences, mas simplesmente esquecê-los? E por qual motivo o bárbaro não tinha desejado conservá-los em seu poder, embora que apenas para mostrá-los como uma curiosidade a seus amigos? Quando as tinha tirado pensou que ele faria precisamente isso; de outro modo, não teria sido tão dócil e rápida para tirar e desprender de seu único contato aberto com Martha. Sem vozes que rastrear provavelmente Martha teria voltado a se unir ao aparelho direcional de sinais, possivelmente presumindo que estava participando do sexo silenciosamente durante todo esse tempo e se regozijando maliciosamente por isso. O explorador de curto alcance era absolutamente inútil se não houvesse vozes que rastrear e essa era a razão pela que o aparelho direcional de sinais era tão importante e quem podia dizer quantas criaturas estranhas se moviam na área para confundir o explorador de longo alcance? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Martha estaria tão desorientada em relação ao que estava acontecendo, que seria completamente impossível ajudar Tedra a sair de seu problema. Sem uma voz na qual unir-se, Martha não poderia transferi-la de retorno à nave. Por sua parte, sem a unidade phazor em seu poder, tampouco podia fazê-lo Tedra. Para dizer sem rodeios, ficaria abandonada indefinidamente neste mundo subdesenvolvido, e nesse preciso instante não tinha nenhuma dúvida que, é tudo por culpa desse homem. Tedra ainda seguia nestes pensamentos quando ele desamarrou a mordaça e tirou a parte de tecido de sua boca. Assim já tinha passado tempo suficiente? E ela teria que ter aprendido algo? Quão único tinha aprendido era não tentar ficar em contato com Martha enquanto o bárbaro estivesse perto, mas essa maldita mordaça não tinha proporcionado momentos muito agradáveis. Tinha a boca tão seca como um banho de raio solar, e uma das coisas que não estavam penduradas no animal era um cantil cheio de água, então ela teria que sofrer com a sede até que encontrasse água. Talvez as lições do bárbaro fossem mais engenhosas do que tinha pensado em um princípio. Tragou várias vezes, sem conseguir muito alívio. — Me diga uma.coisa?! Todo o tempo que passar... contigo... receberei um desgosto depois de outro? -ele abaixou a cabeça até apoiar o queixo sobre o ombro de Tedra, uma bochecha roçou contra a outra. A carícia a deixou tão extasiada que criou água em sua boca e quase esqueceu da sede. — Não terá desgostos, kerima, se simplesmente me obedecer e se desempenhar dignamente como uma mulher do Kan-is-Tra. — Mesmo que não pertença a este planeta e não seja uma mulher do Kan-is-Tra? — Será! -afirmou ele, convencido- Te ensinar será um verdadeiro prazer para mim. -Tedra pensou ainda quanto sofreria ela durante essa aprendizagem. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Olhe guerreiro, não sou aduladora, servil e tampouco sei guardar para mim minhas opiniões -declarou Tedra, cortante- De onde venho, ninguém jamais pôde me fazer o que você me tem feito. Isso mostra o tipo de arrogância e confiança em si mesmo, que você também possui. Não irá conseguir me despojar disto, apesar deste serviço que te devo. Se divertiria comigo tanto como parece que esta fazendo, se conseguisse, se me convertesse em uma cópia exata das mulheres que está acostumado? Por que não medita isso um momento? Não respondeu e tampouco retirou o queixo do ombro. De fato, esfregou um pouco a bochecha contra a dela, uma carícia perturbadora que arrepiou a pele dos braços e avivou a chama de desejo que ardia em seu ventre. Tedra gemeu para seus botões. Não voltaria a permitir que a atormentasse fazendo desejá-lo, a menos quando o maldito guerreiro não entregasse o que prometiam suas ações sutis. Quase tinha trocado completamente de opinião sobre querer que ele fosse seu primeiro companheiro de sexo, embora na realidade, não tivesse muitas opções a respeito durante o mês seguinte, se ele alguma vez chegasse a tocar no tema. Mas já não estava mais segura de querer que ele fosse quem a desflorasse, sobretudo pela forma como a estava tratando. O aroma deágua interrompeu seus pensamentos. Com efeito, podia cheirá-la. Voltou a cabeça e viu um regato que corria precipitadamente pela pradaria de ervas baixas que estavam atravessando, e logo serpenteava até se perder na distância. Tedra se endireitou sobre o hataar quando o bárbaro o fez girar nessa direção e já estava descendo até antes que o animal se detivesse por completo, aferrando-se em suas asas até que seus pés tocaram a terra. Tampouco esperou por permissão para saciar a sede que lhe apertava a garganta, mas sim caiu de joelhos na borda do regato de águas cristalinas e bebeu tudo o que pôde recolher nas palmas das mãos atadas. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Que tipo de guerreiros tem em seu país que não podem te vencer em um esporte de guerreiros? -assim então, esteve ruminando o que havia dito. Ou possivelmente não. Bem poderia ser que algum comentário o tivesse intrigado. Quando voltou a olhar para ver a expressão de seu rosto, se encontrou com o fembair muito perto dela. O monstruoso felino gigante a tinha seguido para olhá-la, enquanto estava de joelhos e muito mais baixa que ele. Não estava acostumada a tratar com animais vivos; e menos ainda desse terrível tamanho, mas enquanto estivesse segura de que o bárbaro diria se estivesse em perigo de ser comida, tratou de passar por cima de seu enorme mascote e se inclinou para um lado para observar ao seu redor. — O combate corpo a corpo e sem armas é o que vocês chamam esporte de guerreiros? -ao ver que ele assentia com a cabeça, Tedra sorriu- Não permitam as estrelas que lhes sugira que deixem participar suas mulheres, mas em meu mundo o fazem... e ganhamos com frequência. -ela disse, secou o queixo com o dorso do braço e ficou em pé. Ao enfrentá-lo cara a cara viu um muito leve gesto de irritação em seu semblante. Calculou que devia estar terrivelmente irritado para deixar transparecer tanto. — Segue chamando de "mundo" ao seu país. Desistirá disso, mulher. - disse, indignado. Imediatamente, Tedra reconheceu que não era isso, precisamente, o que o tinha irritado dessa forma. Era o fato de que as mulheres, simples mulheres, pudessem vencer os homens, o que lhe corroía as vísceras. — Como queira, menino –consentiu ela, sorrindo ainda mais. — Também desistirá desse costume de se dirigir a mim com palavras destinadas aos infantes. — Mas são somente palavras afetuosas, doçura. -provocou Tedra. — Tampouco me chamará dessa forma, fingindo um afeto que ainda não sente. -fulminou ele. O humor da Tedra desapareceu como a água do regato lá no sul. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Está me irritando, guerreiro. Devo recordar que não me disse seu nome até agora? — Meu nome é Challen Ly-San-Ter -replicou, fríamente. — Viva! E tenho sua elevada permissão para usá-lo, oh Amo e senhor? — Volte ao hataar, mulher. -disse suavemente. Não gritou, mas isso não significava que ela não tivesse ouvido o grito implícito no tom autoritário. Retornou ao hataar e esperou para que ele a subisse, já que a assaltou a repugnante ideia de que era o mais apropriado para uma mulher do Kan- is-Tran. Tinha engenhado para intimidá-la até certo sentido e disso não gostava absolutamente. Contudo, lhe agradava o nome, mesmo que faltassem as letras "G-E" para soletrar "challenge", que era provocação ou desafio em sua língua natal. Perguntou-se se não era todo um simbolismo. Fosse o que fosse, mesmo assim gostava de como soava. Challen Ly-San- Ter de Sha-Ka'an, um bárbaro incrível. Estavam deixando a pradaria e entrando em outra zona de bosque antes que Tedra recuperasse o juízo para reatar a conversação.com outra queixa. — Não pôde ao menos trazer minha roupa, embora não me permitisse voltar a usá-la? Sei que nunca antes viu essa espécie de material. Nem sequer sentiu curiosidade por saber de onde vinha? — Pretende falar de um país chamado Kystran, dali deve vir. —Você não gostaria de saber onde está Kystran, então? — Não. — Não? — De que serve um país de mulheres guerriera e de homens que não podem vencê-las? Os homens não devem tirar as espadas contra mulheres, nem atacar ou tratar com homens que não podem controlá-las. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Desmereceria sua dignidade, né? Mas temo que me interpretaste errado Challen. Em Kystran superamos há tempos a ideia de um sexo controlando ao outro. Ali, homens e mulheres são iguais. Ensinam as mesmas destrezas e habilidades, e permitem que tenham as mesmas oportunidades nas diferentes carreiras. É verdade que nossos homens não chegam nem em sonhos ao seu tamanho e que não empunham espadas para atacar ou se defender, mas os que pertencem à segurança como eu, usam diferentes tipos de armas sofisticadas, que não requer tamanho e força colossais para dirigi-las. Já provou uma delas, mas existem outras mais perigosas. São armas que podem matar sem deixar rastros da vítima. - ouviu-o bufar e soube que não acreditava absolutamente- Você mesmo viu e sentiu o que pode fazer um phazor. Alguma vez viu algo parecido ou ouviu sequer histórias sobre tais coisas? — Armas como essas são necessárias unicamente para homens que não podem se proteger de outro modo. — É uma conclusão razoável, mas não responde a minha pergunta. Nunca antes viu tais coisas porque não existem em seu mundo. — Existem países remotos com os quais nunca tive contato. — Tem uma maldita resposta para tudo, não é verdade? -resmungou ela- Então, como cheguei aqui desde esses remotos lugares, e melhor ainda, por que viria aqui.sozinha? — Como você mesma diz, para negociar. — E como você diz, às mulheres não seria confiada semelhante tarefa. Acaso agora está aceitando que o fariam ao menos nos países com os quais não tem contato? -ele não responderia por nada do mundo, e trocou de tema. — O que quer dizer essa palavra maldito que usa tão frequentemente? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Usa-se para expressar aversão ou aborrecimento, que é exatamente o que estou sentindo neste momento. -explicou. Por sorte não era do tipo de mulher que vivia chutando o chão para demonstrar seu descontentamento, pois teria havido fossas no chão nesse momento. Suspirou- Muito bem, voltemos às coisas que conhece profundamente... por exemplo, o serviço que te devo. Estou começando a suspeitar que não seja o que pensei num primeiro momento. Por que não me esclarece isso... em detalhes? — Fará muitas coisas para mim. — Por exemplo? — Quando sair a lua esta noite, procurará aliviar a dor de meus músculos. - Ah, pobre criatura! -ronronou ela em tom caramelado- É possível que a velha e vil Tedra tenha machucado o colossal bárbaro? -ela estava se felicitando por essa última chacota, que, sem sequer olhar, sabia que o irritaria, quando ele se inclinou para frente apertando o peito contra suas costas, para alcançar a alça do cinto de segurança. Viu que atou lá as rédeas e teve o pressentimento de estar em sérios problemas. Não sabia o que podia esperar quando ele tivesse as mãos livres. Imaginou que a golpearia, mas não podia imaginar como faria isso sobre o lombo do hataar. Quando as mãos deslizaram debaixo da capa de pele e por baixo de seus braços, surpreendeu-se por completo. Ficou sem fôlego e todo seu corpo ardeu quando suas mãos masculinas e de dedos largos, começaram a acariciar seus seios, até que cada um dos montículos sensíveis ficou prisioneiro de uma mão viril. Essa tênue chama que se agitou um tempo atrás, acendeu novamente até se converter em labaredas, enviando carícias de fogo sobre todos os seus nervos sensibilizados ao extremo. Sua cabeça caiu para trás e deu contra um ombro duro e fornido, onde descansou. Embora tivesse previsto, não teriapodido conter o suave gemido de prazer que escapou de sua garganta. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro O som repercutiu em sua cabeça, entretanto, fazendo-a compreender que o bárbaro estava obtendo outra vez, com indiferença, de má fé e sem dúvida deliberadamente, que todo seu corpo vibrasse e cantasse, quando ele não tinha nenhuma intenção de tocar um dueto com ela. Seus reflexos indicaram que o detivesse e quase levou a cabo o intento, mas recordou seus braços amarrados. Nem sequer podia colocar as mãos debaixo da manta que a cobria, muito menos apartar as dele. Estava indefesa. A sensação era tão alheia a ela que fez sair a luz seus instintos combativos. Mas, tudo o que tinha deixado para combater eram as palavras, e temia que essa fosse a norma desse momento em diante, em vez de ser a exceção. — Me escaparam alguns conceitos na tradução, guerreiro? Poderia ter jurado que meu serviço estava restrito a um lugar, sem nenhum tipo de trapaça seria permitido em outros lugares. Vamos, não vejo nada por aqui que se aproxime sequer a parecer com um quarto de dormir. A última vez que olhei, este era um hataar e não uma cama. Assim, pare agora ou estará em infração de contrato. — Em uma mulher se admiram a inteligência e o engenho, kerima. -ele disse, suavemente. — Obrigada... acredito. — Mas tanto sua inteligência como seu engenho estão desperdiçados comigo. Uma vez mais devo te recordar as palavras "onde eu durmo”. — Se for uma maneira sutil de me dizer que dorme sobre este animal, tente outra vez -replicou ela, cortante. — Quando a situação é crítica e a distância a transitar muito longa, um guerreiro certamente dormirá sobre seu hataar. Eu o tenho feito mais de uma vez, de outro modo retardaria muito seu castigo. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Tedra ficou rígida e tratou de se apartar dele, mas suas mãos a retiveram firmemente em seu lugar. Este era seu castigo? Compreendeu então por que se mostrou tão divertido quando disse que merecia um castigo por sua falta de respeito e prometeu encarregar-se de cumpri-lo o mais breve possível. O homem era diabólico. Quem, a não ser um bárbaro, pensaria em castigar a uma mulher fazendo que lhe desejasse? Não podia permitir que se saísse com a sua. Podia suportar uma ou duas surras com toda certeza, mas isto? O desejo era um sentimento muito novo para ela e descobria que todas as suas reações eram involuntárias. Tal perda do controle era inaceitável em uma segurança que sempre devia levar vantagem em qualquer situação. Não estava ali em sua função de segurança, mas para uma mulher orgulhosa como ela, as consequências poderiam ser tão más, se não piores. Fazendo um enorme esforço de vontade, Tedra se concentrou em não fazer caso das mãos que estavam acariciando os seios lenta e deliberadamente. Podia sentir a brisa quente no rosto, a áspera pelagem do hataar que montava na entreperna e até a pele suave da manta em qualquer lugar que lhe roçasse o corpo, mas não as mãos do bárbaro. Seu poder de concentração funcionou e continuou funcionando... até que uma dessas mãos ardilosas descobriu a união das pernas abertas da par em par e então, todas as sensações que tinha estado passando por cima a investiram de repente e as novas... Era como se fundir e se dissolver em labaredas ardentes. O dedo que deslizou em seu interior foi como uma tocha. Estrelas do universo! Jamais tinha experimentado algo assim. Roubou-lhe o fôlego e desenquadrou a mente. Apertou seu corpo contra o do guerreiro permitindo total acesso a ela, desejando com todas as forças que não se detivesse. O prazer era incrível, muito dentro dela, se expandindo, apressado em busca de alívio. Mas o alívio não figurava no argumento. O que começou como prazer, lenta mas inexoravelmente se converteu em agonia de frustração, de turbulência, que fazia em farrapos seus nervos CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro e não lhe dava um minuto de pausa. Tremeu, gemeu, retorceu-se em cima do hataar e contra seu torturador. Muito em breve estaria chorando... e suplicando. — Não! — O que opina da disciplina de Sha-Ka’an, mulher de Kystran? - perguntou o guerreiro. A voz tinha sido a tranquilidade e a calma personificada, exacerbando até mais seus nervos. — Isto ... fede. — Contudo, é efetiva. Não foi uma pergunta, e sim uma afirmação. Tedra não importou. Tinha que fazer um enorme esforço de concentração para ouvir através do tumulto que reinava em sua mente. Fazer algum comentário era mais penoso ainda. — Basta, Challen. Eu... eu... me desculpe. — Esta desculpada, mas por que se desculpa? — Por algo... tudo... que você queira. — Deve ser precisa, mulher; desse modo recordará o que foi o que te conduziu o castigo. Era absolutamente improvável que alguma vez o esquecesse. — Não posso pensar, tampouco posso resistir mais. -um ofego a interrompeu subitamente. Ainda não estava pronta para suplicar que a tomasse, mas nesse mesmo instante quase... poderia matá-lo alegremente. Daria algo por um pouco de poder, ao menos para brigar contra ele, apesar das mãos atadas ainda ficavam várias coisas que poderia fazer, mas a honra comprometida a conteve e forçou a suportar sua vontade, mesmo que a destruísse, o que poderia acontecer. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Estalou um soluço quando seus polegares entraram em ação, um roçando o botão endurecido em que se converteu o mamilo e o outro acariciando o nó igualmente endurecido de pele hipersensibilizada entre as pernas. Mas assim que começou a soluçar, a tortura cessou. Entretanto, a agonia de desejá-lo persistia e seu corpo ainda seguia clamando de necessidade. Os soluços continuaram, porque sabia que só o tempo aliviaria o estado de desejo que tinha despertado esse bárbaro. Ele certamente não o faria. Não obstante, os braços fornidos lhe rodearam o corpo como se tentasse oferecer consolo. Tedra apenas notou, embora o suficiente para se perguntar o que traria nas mãos. Com toda segurança não se arrependia do que acabava de fazer. — O que é isso de trapaça que disse? -ele perguntou. Se tentava distraí-la das lágrimas, conseguiu. — É uma velha palavra dos antigos de Kystran. Significa galanteio, como a prática das carícias, mas a prática mútua e a mútua satisfação que deriva dela. O que você tem feito não foi isso. — Nem foi essa a intenção -respondeu ele simplesmente antes de suspirar- Não sofre o castigo como é devido, kerima. — Queria que suplicasse, verdade? -exigiu ela, com amargura. — O som teria sido doce aos meus ouvidos. — Te odeio -exclamou e logo o arruinou tudo soluçando. O bárbaro soltou uma gargalhada. — Um guerreiro não pode atormentar sua mulher? -ele disse. — Não sou sua mulher. Sou tua para te obedecer durante um mês e te advirto, guerreiro, no mesmo instante em que esse mês termine, provavelmente vou te matar. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Vá, essas são as palavras de uma mulher absolutamente mudada. Na verdade, está progredindo ao revelar traços tão femininos. -ele disse. Tinha que ver o homem que era capaz de declarar semelhante tolice e se voltou para lhe dar uma olhada. — Almejo demais te matar e você chama a isso feminino? -ela perguntou. Ele sorriu e aproveitou a oportunidade, enquanto estava olhando, para enxugar as lágrimas das bochechas. — É comum que uma mulher diga algo assim quando se sente maltratada e não pode recorrer a outra coisa. Simplesmente são palavras, kerima, e não as devo tomar a sério. — Estupendo! Segue pensando assim, menino. Quando estiver realmente morto, não diga que não lhe avisei isso. -ela disse, inconformada. O olhar que deu disse bem às clarasque tinha ouvido como o tinha chamado, mas que deixaria passar por essa vez, mas nem sequer se deu por informado da segunda ameaça. — O castigo tem um propósito. Aprende dele, logo não repetirá seus enganos. Não tem o propósito de te machucar, mas suponho que não crê assim; por isso devo lamentar a maneira escolhida para te corrigir. Se soubesse com que rapidez chegaria ao clímax, não teria tocado num lugar tão sensível. Estava-se desculpando? Mas inclusive não percebia que estivesse oferecendo uma compensação lhe brindando com o alívio que ainda necessitava, assim maldito do que servia. Ele simplesmente estava dizendo que não tinha tido a intenção de excitá-la até as lágrimas, só até o ponto de lamentá-lo. Grandioso. Quanto ao que a concernia, a excitação era excitação e ele a tinha forçado a senti-la, sem sentir a mais mínima ele mesmo... Em realidade era feito de pedra. Como malditos infernos o fazia? E então a assaltou uma ideia incrível que poderia explicar tudo. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — É de carne e osso, Challen? Sangra pelas veias? -ela o questionou. Ele franziu o sobrecenho. — Se explique, mulher. — Tenho um andróide em minha nave. É formoso. Quase pensa por si mesmo, embora não chegue a ser como Martha, que é um computador de última geração. Está programado para fazer o que eu queira que faça, mas não é um ser humano real. É uma máquina e poderia fazer o mesmo que você acaba de fazer, se o tivesse programado para realizar e não sentir absolutamente nada. Você não sentiu nada quando me acariciava. Não pode negá-lo. Sua voz era muito serena, desgraçado. É realmente de carne e osso? Ou este planeta está mais adiantado do que pensei em um primeiro momento? —Suas histórias são cada vez mais fantasiosas, mulher. -riu- Devo me lembrar de contar essa a Tamiron, sobre seus homens "irreais". -ele continuou rindo. As sobrancelhas da Tedra se uniram ameaçadoramente. — Me dê uma resposta direta, bárbaro, ou terei que encontrar outra forma de averiguar se por suas veias corre sangue vermelho ou lubrificante negro. — Sou tão real como você, kerima. Crê por acaso que um guerreiro tem tão pouco controle sobre si que não pode se encarregar de disciplinar apropriadamente sua mulher? Já comprovou que não é assim. — Eu não sou... — Você é o que eu digo que é. Não é assim? Formulou a pergunta em um tom tal que compreendeu que era um aviso de que ainda estavam "onde ele dormia", o qual devia interpretar por "sua vontade regia a ambos". Tedra apertou os dentes e se voltou para olhar à frente. — O que você diga... menino. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Isso valeu que lhe rodeasse a cintura com o braço e a estreitasse de novo contra seu peito enquanto mordiscava o lóbulo da orelha. — Deseja expressar em outra forma sua última resposta? -ele disse, se divertindo. De fato, ela sim o fez. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 12 Quando Tedra viu o acampamento através das árvores, compreendeu por que o bárbaro a tinha deixado em paz durante os últimos dez minutos do passeio. A "natureza brincalhona" de seu captor a tinha levado a beira das lágrimas e de um ataque de histeria. Nada disto tinha passado desapercebido a ele e por isso tinha dado esse tempo para que se acalmasse antes de apresentar-se ante outros membros de sua espécie. Esses outros resultaram ser exatamente da sua classe, um bando de gigantes, embora nenhum deles tão grande como seu próprio gigante. Todos, também, se pareciam com ele, já que nenhum levava o cabelo curto, nem cobriam o torso, usavam os redondos e negros acessórios e escudos guarnecidos com aço Toreno de diferentes comprimentos atados aos antebraços. Se isso não fosse suficiente para lhes dar uniformidade, as tonalidades de suas cabeleiras foram do castanho ao loiro, igual às dos olhos que variavam da cor café ao ambarino. Enquanto se aproximavam do grupo, Tedra calculou que se um inimigo atacasse esse país, com toda segurança não teria nenhum problema para saber quem era quem. Claro que só estava vendo oito membros dessa raça. Certamente, todo o país não estaria habitado só por dourados bárbaros gigantes. Ela os observou tratando de ver um pouco de gordura, um pouco de flacidez em suas carnes, mas esses homens eram todos da casta guerreira, sem exceção, na plenitude de seus estados físicos e bastante bonitos. — Me alegra saber que não é o único macho magnífico por estes lados, Challen -afirmou Tedra com a intenção de lhe incomodar por tudo o que a tinha feito sofrer- Aqui mesmo há vários guerreiros a quem não me incomodaria pedir amparo... quero dizer, assim que termine de cumprir meu serviço contigo. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Quando seu serviço tiver terminado, voltará a ser uma mulher a ser reclamada. — Não será assim se consiguir dizer primeiro as palavras para solicitar amparo. Disse-me nesta manhã, que era tudo o que tinha que fazer, para evitar minha situação atual. Não é provável que esqueça isso, amigo. - provocou ela. Ele guardou silêncio por uns momentos. — Se eu for o único guerreiro presente quando expirar seu serviço, então deverá me dizer essas palavras... se eu não te reclamar primeiro. Podia fazer semelhante coisa? Indubitavelmente era uma questão de saber escolher o momento preciso, se a mantivesse presa... mas primeiro teria que ver a configuração do lugar, depois de tudo, o que tinha adiante era uma aldeia de barracas, embora supôs que era somente melhor que um conjunto de cavernas. Seria muito difícil sair escondida de uma barraca e entrar da mesma forma em outra? Então com só três palavras ditas a outro homem, possivelmente até mesmo ao autoritário, se estava por ali recuperaria alguns de seus direitos e poderia fazer que a viagem valesse a pena. Ficavam algumas perguntas pendentes que deveria formular, para se inteirar bem sobre esse assunto de pedido de amparo, mas isso teria que esperar um pouco ainda. Foram se aproximando já ao centro do grupo de lojas e os guerreiros que se paralisaram ao observar a chegada do Challen, se reuniram em torno deles. A ávida curiosidade com que observavam à "presa" de Challen era muito evidente para passar por alto. Tedra, a peça cobrada pelo bárbaro, recordou embora tarde, que estava quase nua, e o rubor cobriu suas bochechas. Quase ao mesmo tempo, o braço do Challen se apertou mais ao redor de sua cintura. Se perguntou se seria possível que ele também lamentasse a escassez de roupa com que a apresentava. Embora para falar a verdade, esse gesto simbolizava sua reclamação sobre ela, o gesto do macho para afirmar que lhe pertencia quando havia outros homens ao redor. Ou talvez presumisse CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro que ela poderia estar temerosa, levada dessa forma tão indigna, sem saber como seria recebida, e estava oferecendo seu apoio sutilmente? Não, tinha que deixar de atribuir bondade e consideração a seu caráter, depois de tudo, era nada mais que um bárbaro, um macho dominante e arbitrário. Que importância tinha que tivesse sido incrivelmente gentil com ela em todas as oportunidades, até destroçar sua roupa para se assegurar de que a corda, rugosa e áspera, não lhe machucasse os braços! Pensando-o bem, não tinha posto nenhuma só mão dura em cima durante toda a briga, enquanto ela tinha tentado derrubá-lo com cada golpe e quando por fim a tinha feito sua prisioneira, mostrou-se muito cuidadoso para não feri-la. Essa atitude tinha sido em benefício dela ou só era um hábito profundamente enraizado em um homem extremamente forte em seu trato com as mulheres? Teria um mês para averiguar, de algum modo. — Como chama a esse tipo de carne,Challen? -as brincadeiras começaram com uma gargalhada. Outro homem continuou imediatamente. — Doce e suculenta com a preparação adequada. — Que desperdício, encontrar um bocado tão tenro enquanto estamos em caçada -acrescentou outro mais. Este último sarcasmo causou uma risada generalizada, inclusive Challen se uniu a ela. Tedra teve que se perguntar que significado oculto teria essas palavras. Que importância tinha que o bárbaro a tivesse encontrado enquanto estavam caçando? Por que era um desperdício? — Um desperdício do que, Challen? -perguntou Tedra em voz alta e como resposta, só teve uma nova ronda de gargalhadas. Nada mudou durante os seguintes minutos; depois o bárbaro desmontou com bastante estupidez, já que seguia rindo as gargalhadas. Entretanto, suas mãos estavam firmes quando a fez descer do hataar. Foi então quando percebeu todos os animais mortos atados aos ramos das árvores próximas, alguns já esfolados, alguns simplesmente pendurados CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro para sangrar. Era repugnante, mas não estava totalmente despreparada, posto que conhecia de antemão que existiam esses métodos antiquados de conseguir mantimentos em outros planetas. Até tinha antecipado que tanto o taraan como os outros dois bichinhos pendurados no hataar estavam destinados a ser consumidos. Só porque Kystran tinha deixado de matar animais para a consumação fazia centenas de anos, não queria dizer que todas as culturas tivessem avançado ao uso de outras fontes de recursos alimentícios. — Seu temor chega tarde, mulher. -Tedra se voltou para ver quem tinha feito esse comentário. Teve que levantar a cabeça. Isso se voltaria tedioso depois de um tempo, mas nesse momento sorriu. O guerreiro tinha olhos e cabelo castanho claro e seu rosto era quase tão bonito como o de Challen. Certamente seu corpo era tão esbelto e bonito como de outro guerreiro e Tedra deixou que seu olhar passeasse lentamente, da cabeça aos pés e de baixo para cima, advertindo ao cruzar novamente os olhares que tinha dito essas palavras para lhe desconcertar. Os outros homens tinham retornado a seus afazeres, todos exceto este. — De que temor fala guerreiro? Se pensar que estive tomando a sério essa tolice sobre que um bocado tão doce era para guisado, equivocou-se. Além disso, tem o fato de que você e seus companheiros morreriam engasgados comigo, se fossem canibais, e o bárbaro aqui presente poderia se opor profundamente a perder meu serviço de um mês sob suas ordens. — Certamente, você não se oporia, verdade? -intercalou Challen, cortante. — Eu? -inquiriu Tedra aumentando os olhos- Discutir com bárbaros? Não me passaria pela cabeça, menino. -provocou e o viu ficar rígido ante sua persistência em chamá-lo de menino, mas foi salva pela pergunta do outro guerreiro. — De onde vem, Challen, que fala dessa maneira tão estranha? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Essa sim que é uma excelente pergunta -falou Tedra, sorridente- Desafio a que lhe diga minha versão em lugar da tua. — Pode fazê-lo você mesma, kerima. Como já disse, Tamiron desfruta de um bom conto, tanto quanto eu. -Tedra fez um gesto de desgosto. — Não é nada divertido te provocar, guerreiro -queixou-se- Ele não vai acreditar em mim mais que você, então conte o que queira. Reservarei a verdade para teu shodan. Ao menos, ele deverá ser bastante preparado para me permitir provar o que digo, diferente de algumas pessoas que eu conheço. — Challen... -começou a dizer o outro guerreiro, mas ele interrompeu abruptamente. — Ela é Tedra, uma mulher de Kystran, que segundo afirma, pertence a outro mundo diferente de Sha-Ka'an. — Uma voadora espacial? -inquiriu Tamiron, assombrado. — Sim. -afirmou ela- Espere um maldito minuto, sou muito estúpida ou acabam de admitir que ouviram falar de outros viajantes espaciais? Se for assim, então por que você... — Não é um conto novo, mulher, só um conto que não pode provar-se. — Mas eu posso provar, me devolva o phazor e posso... — Isso eu não farei. — Mas... — Não. -ele disse. Tedra chiou os dentes. Reconhecia um não inflexível e categórico quando o ouvia, e acabava de ouvi-lo. — Faz como queira bárbaro -falou em tom azedo- Mas quando tiver terminado meu mês de serviço, retomarei ao assunto que me trouxe para CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro este planeta, negócios interplanetários e contrato de mercenários e pode apostar seu maldito fembair que não poderá me deter. — Uma vez mais menciona o serviço limitado -disse Tamiron a Challen- Entretanto, está atada como uma cativa. Certamente não irá renunciar a uma presa tão esplêndida como ela. -como Challen não respondeu imediatamente, Tedra sorriu satisfeita consigo mesma. — O que você tem, menino? Se arrepende agora de ter que admitir que brigamos... — Aquela é minha barraca, mulher -interrompeu, ao mesmo tempo em que indicava a barraca com um movimento de cabeça- Em seu interior é onde eu durmo. Não me arrependo de nada. -Tedra tinha ruborizado ao ouvir esse aviso, enquanto ele seguia falando em direção Tamiron- A mulher era reclamável, mas se negou a aceitar minha reclamação. Em troca, me desafiou e eu não me neguei como ela. — Ela te desafiou? -perguntou Tamiron e logo estalou em gargalhadas. Tedra soube que não estava rindo pelo fato de que Challen aceitasse o desafio, mas, sim porque ela havia sido, em sua opinião, bastante imbecil para desafiar um guerreiro. Quer dizer, se chegava a acreditar, mas já riram dela muitas vezes esse dia. — Em quantos problemas me colocaria se demonstrasse que o que disse não é uma piada? -perguntou a Challen completamente séria- Depois, o elemento surpresa é tudo, como descobriu por você mesmo. Ele lançou um olhar duro e severo. Deve ter se dado conta de que estava se referindo à facilidade com que lhe tinha feito cair de costas quando menos o esperava, pois logo depois de um momento a tomou com força de um braço e, sem dizer uma palavra a Tamiron nem a ela, tirou-a dali liberando-a da tentação de meter-se em problemas. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Foi algo que disse? -ronronou Tedra, com sarcasmo, antes que a instalasse comodamente no interior da barraca e uma vez mais em um lugar onde ele dormia. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 13 A tenda era realmente muito espaçosa e com uma porta bem alta. As paredes feitas de uma espécie de tecido muito grosso, se encontravam firmemente cravadas ao chão por meio de estacas. Tedra chegou a conhecer cada centímetro quadrado, ao passear de um lado a outro, enquanto esperava a volta do bárbaro. Estava faminta e de muito mau humor por ter ficado o resto da tarde com a única companhia do fembair, e mais nervosa ainda porque tinha ordenado que ficasse ali, como uma prisioneira qualquer. Como tinha dado essa ordem em um "lugar onde dormia", devia obedecer, mas ao ficar a sós lhe tinha ocorrido que o lugar de dormir do Challen era também, a área onde vivia e passava seus momentos livres, que a tenda era um amplo espaço sem divisões, no qual poderia mudar daqui para lá durante todo o dia, em vez de fazer só de noite quando se retirasse para descansar como ela tinha suposto. As únicas vezes que não estaria sujeita a uma obediência cega e servil seria fora da tenda, mas se não a deixava sair teriam que manter um bate-papo sobre isto, entre outras coisas. Este assunto de descobrir isso quando era muito tarde para que ela pudesse fazer algo a respeito, não era precisamente seu modo de agir. O branco fembair tinha permanecido todo o tempo ao seu lado, jogado no chão sobre suas patas e com a cabeça para o alto em posição erguida, como o rei das bestas que provavelmenteera quando açoitava a larga cauda contra o chão, enquanto aqueles imensos olhos azuis não perdiam nenhum só de seus movimentos. Quando o estômago dela começou a grunhir de fome, se perguntou se o felino não estaria também faminto. Deste momento em adiante foi dominada de uma sensação de insegurança, que foi agonizando com o decorrer das horas e o interior da tenda já estava ficando obscuro. Quando por fim a porta da tenda abriu, um imenso alívio se apoderou dela, acalmando um pouco sua irritação. Diminuiu um pouco mais quando viu o prato de comida nas mãos de Challen, mas não o recebeu com um CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro sorriso. Depois de tudo tinha esquecido dela durante horas e horas e a tinha deixado sem nada que fazer, sob a vigilância de uma enorme besta. Essa vigilância tinha sido desnecessária. Tinha assegurado que cumpriria com a palavra empenhada e, segundo ela entendia as regras de jogo, significava nem mais nem menos que obedecer todas suas ordens, gostasse ou não. — Por que não destapou as pedras gaali, mulher? — Se quisesse que eu destampasse algo, devia ter me comunicado isso. Não me agrada andar xeretando as coisas de alguém que está ausente. -preveniu ela. Contudo, esteve tentada a fazê-lo, embora não houvesse muitas coisas. Um grande tapete ou manta de pele, para usar como preferisse, estava estendido no chão; uma bolsa de couro bem recheada estava de um lado e do outro, uma pequena caixa de madeira. Isto era tudo o que podia ver sobre o quadrado de tecido que cobria o espaço entre as paredes da tenda. — Então, te agrada a escuridão? -perguntou, se adiantando para colocar o prato no chão, junto à manta de pele e se sentou. — O que tem que ver a escuridão com pedras? -quis saber ela, mas só o ouviu suspirar . — Verdadeiramente está pondo a prova minha paciência com essa fingida ignorância de tudo o que é natural em nosso mundo! — Seu mundo. -corrigiu- Asseguro que não é o meu. — Isso você diz e devo supor que não sabe o que é uma caixa de pedras gaali? -perguntou. Tedra sorriu. — Certo. Essa é a que está perto de ti, já que é a única caixa que há neste lugar. Agora diga, o que é uma pedra gaali? -ela esperou, mas ele não disse, mostrou ao abrir a caixa. Tedra conteve o fôlego ao ver a luz alagando toda a tenda. Caiu de joelhos ao lado dele para jogar um olhar ao interior da caixa e viu cinco pedras redondas e lisas que irradiavam uma brilhante luz CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro azulada. Podia olhar fixamente sem que lhe machucasse a vista, entretanto davam tanta luz que o interior da tenda parecia iluminado pelo sol. — Assombroso! - exclamou ela, fascinada- É um tipo de fonte de energia? Pergunto se pode comparar ao crysillium, que foi descoberto faz uns quantos centenas de anos e antes disso, nossas naves só podiam viajar com hipervelocidade. Agora chegamos à velocidade estelar que é dez vezes mais rápida e nos facilita muito as coisas para visitar os sistemas estelares vizinhos, mas estas pedras parecem energia pura. Irradiam calor? Challen a observava com desgosto enquanto ela falava, mas não sabia. Então respondeu pegando uma das pedras gaali e colocando na palma de sua mão. Na realidade, a pedra era fria ao tato, que era ainda mais surpreendente e parecia quase vazia. Quando ele fechou a caixa que continha as quatro pedras restantes, a tenda ficou brandamente iluminada pela única pedra que ela tinha na palma da mão. Quanto mais pedras, mais luz. Tedra teve que perguntar o que poderia fazer uma pedra verdadeiramente grande. Subitamente, ao o olhar de novo em seus olhos, Tedra sentiu renascer seu espírito prático. — Poderíamos fazer bons negócios com estas pedras, Challen. Existe uma grande quantidade em sha-K'an? Obtêm-se facilmente? -quis saber. Ele tirou a pedra da sua mão, depositou sobre a tampa da caixa e se afastou dela. — Coma a comida que eu te trouxe! -foi tudo o que ele disse. — Muito bem, talvez não tenha a autoridade suficiente para negociar comigo, mas ao menos poderia responder minhas perguntas sobre as pedras gaali. — Não falará de negócios comigo, mulher. Comerá agora; depois se encarregará dos músculos do meu corpo, como mencionei antes. A idéia de ter que massageá-lo erradicou todos os pensamentos de negócios de sua cabeça. Sentiu a excitação invadir seu corpo só de pensar CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro na idéia de tocar o corpo desse homem. Resolveu se acomodar melhor sobre os joelhos onde estava sentada, jogou uma olhada sobre o prato coberto de enormes partes de carne assada e uma espécie de hortaliças, e já não tinha mais fome. — Por que não faço a massagem antes de comer? -sugeriu, mas ele só moveu a cabeça negativamente. A desilusão que sentiu foi quase evidente. Bem, o que tinha esperado? Ele era de pedra. O que a tinha feito acreditar que uma simples massagem poderia excitá-lo até o ponto de querer compartilhar um pouco de sexo com ela? Não via mais interesse em compartilhar sexo nesse momento que o que tinha durante todos esses dias. Levantou o prato e ficou contemplando a comida, se esforçando para não pensar se ele a desfloraria ou não nessa mesma noite. Não havia utensílios para comer, assim com certa vacilação pegou uma parte de carne com os dedos e tratou de passar por cima do fato de que tinha sido um animal vivo há poucas horas antes. Challen tinha se reclinado, apoiado sobre o cotovelo na manta de pele, mas observava, não pôde deixar de ver a expressão de desgosto com o primeiro bocado. — Não te agrada o kisrak? — Suponho que acostumarei ao seu sabor já que estarei aqui por um mês, no mínimo. — E onde pensa ir quando passar esse mês? -ele perguntou, indulgente. — Ordenou que não falasse disso. -ela disse. Ele apenas soltou um suspiro. — Temos outro tipo de carne assada, se não te agrada o kisrak. -ele sugeriu. Ela ficou surpresa ante o oferecimento. Ao menos em seus planos não pensava em matá-la de fome, o que a tranquilizou bastante depois de ter esperado tanto tempo por esse alimento. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Obrigada, mas um ou outro tipo de carne não fará nenhuma diferença, já que é carne mesmo o que nunca comi... Nós temos substâncias que têm o mesmo sabor de sua kisrak. Até podemos chamar de carne e vêm em uma grande variedade de sabores, texturas e cores, mas não é carne de verdade. Faz séculos que deixamos de matar animais para nos alimentar. — Homens irreais e agora carne irreal. Que outras coisas irreais têm em Kystran? -provocou. Tedra reconheceu o motivo de esconder sua descrença depois de uma máscara de brandura, mas aproveitaria de todas e cada uma das oportunidades que lhe apresentasse, para contar as maravilhas dos mundos modernos. Não poderia saber quando seria capaz de dizer algo que pudesse lhe convencer que não estava inventando estórias para sua diversão. — Oh, há muitas coisas mais, suponho, embora em geral não dou muita importância, pois são coisas do cotidiano. Temos os mascotes, por exemplo. Como se extinguiram a maioria de nossos animais durante a Grande seca, os escassos vivos que ficam para mascotes são tão caros, que só os muito decididos estão dispostos a pagar o preço exigido, em especial quando mascotes mecânicos são tão mais práticos. Vejamos, não estou falando de mascotes como seu fembair, a não ser algo pequeno e mimoso com todas as qualidades de comportamentais dos animais. — Tem um mascote dessa espécie? — Eu tenho Martha que me dá todo o trabalho que posso dirigir. Que necessidade teria de um cão mecânico programado para rolar sobre o tapete uma ou outra vez? -ao ver a falta de expressão em seu rosto, fez uma careta- Isso foi só uma brincadeira, bárbaro. Na realidade, tive quedecidir entre comprar uma casa nos subúrbios ou comprar um mascote. Preferi a casa, pois desejava um pouco mais de intimidade em vez de companhia, e já que tenho Martha, que é uma espécie de companhia igual a Corth, mas eu adorarei ter um mascote assim que puder economizar suficientes moedas de troca para comprar. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Um mascote vivo custa tanto como um lugar para morar? -ele já não ocultava mais sua incredulidade. — Mais ou menos. -sorriu- Os objetos estranhos não são mais caros que os que têm em abundância neste planeta? O que me diz de suas pedras gaali? São muitas? — Agora mudamos de assunto. -sentenciou, cortante. Tinha sido uma boa tentativa, mas tinha fracassado. — De acordo, mudarei de assunto. De qualquer forma, preciso perguntar algumas coisas. O que aconteceria se eu pedisse amparo de outro guerreiro antes de terminar meu serviço? Brigariam por mim? — Se causar confusões, mulher, te castigarei. -setenciou ele. Tedra sorriu ao ver a expressão séria. — Só sentia curiosidade, menino. Como conhecerei as regras se não perguntar? Você parece se sentir muito satisfeito esperando até que eu as viole para se referir a elas. Isso é um pouco de abuso para meu gosto. -ela falou. Ele passou a mão pelos cabelos e pela primeira vez pareceu realmente desconcertado. — É muito estranho que uma mulher não conheça as regras. Todas as mulheres, sem exceção, conhecem as leis, da mais terna idade. — Em outras palavras, não tentou deliberadamente me fazer cair em uma armadilha devido a minha ignorância? Caramba! Suponho que te devo uma desculpa então. -ela disse em um tom muito seco para que levasse a sério- Agora provamos estar por sua conta. O que acontece se desafiar alguém, enquanto ainda estou sob seu serviço, por ter perdido o desafio anterior? - ele se ergueu quase que de repente e foi um indício do desgosto que sentia pela direção que estavam tomando os pensamentos da Tedra. — Não fará isso, mulher. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Por que não? Quem diz que não o farei? Se formos a isso, o que me diz se tiver vontade de te desafiar novamente? — Perderá; e por isso seus serviços se alongaram por um mês a mais. — Mas se ganhar, terá um mês para esperar até eu possa tomar a vingança, não é assim? Vá, essa sim é uma idéia encantadora. Faria pensar duas vezes antes de me castigar outra vez? — Não. — Ao menos poderia ter vacilado um pouco antes de me responder - replicou ela, seca. Ele sorriu então. — Já te disse o que deve fazer para evitar o castigo; portanto, não deve haver mais castigos. — "Não deve" está muito longe de ser "não haverá". Agora, não me interprete mal -apressou a dizer, ao ver que o sorriso se desvanecer- Estou absolutamente resolvida a te obedecer quando me tocar... Já que falamos disso, esta casa terá que ser redecorada, se tiver que viver aqui por um mês. Teremos que fazer uma reforma provisória e umas divisões para que uma só parte seja seu lugar de dormir. — Não será necessário. — Então, enfrentamos um verdadeiro problema, amigo, porque não disse nada sobre me ter fechada o dia todo em seu quarto. Se for esse o caso... — Não é. Este é simplesmente o acampamento que usamos enquanto estávamos na área de caça. Amanhã ao amanhecer retornaremos a Sha-Ka- Ra, a cidade onde vivemos. — Em casas, espero. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Sim, em casas. -ele sorriu- Não somos tão primitivos como parece pensar. — Isso é discutível, mas estou disposta a me reservar a opinião - respondeu olhando significativamente para os dedos gordurentos. O bárbaro caiu na gargalhadas ao vê-la. — Vamos, kerima, te levarei até o rio onde poderá se lavar. — Um pano bastará. Até que encontre um desses chauri para me vestir ou ao menos um cinturão, para que esta manta pareça um pouco mais decente, ficarei aqui... se para você tudo bem. -ela tentou. Ele não respondeu, embora não estava zangado com ela por tentar desobedecer o que, com efeito, tinha sido uma ordem. — Além disso, deve aliviar seu corpo. — Oh! -exclamou ela, sobrepondo-se a confusão- bom... isso muda as coisas. Tola de mim por acreditar que o banho ia sair subitamente das paredes de uma tenda. -ao ver o olhar fixo dele, sorriu- Não tem importância. Já te diverti bastante por um dia com as maravilhas de Kystran. Vamos! Tedra deixou o prato de lado e ficou em pé, mas antes de se reunir com ela, Challen pegou a bolsa de couro e tirou uma toga, ela olhou seus braços. E o olhou carrancuda, mas de todos os modos estendeu os braços. Ao ficar em pé, ele sorriu e enrolou a toga ao redor da cintura, desatou e até ajeitou as bordas da manta para fechá-la, fixando nessa posição. Ela elevou a cabeça para olhar nos olhos e até conseguiu um pequeno sorriso. — Obrigada, depois de tudo, acredito que não é tão antipático. — Me alegra ouvir dizer isso, mas voltarei a te atar para entrar -ele anunciou- em Sha-Ka-Ra. Os olhos da Tedra se entrecerraram de fúria. Tinha uma verdadeira urgência de dar uma sova nele, mas como perderia, conteve-se... por um fio de cabelo. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Em realidade deveria aperfeiçoar sua estratégia, bárbaro - comentou, desdenhosamente- Um homem preparado teria aguardado até manhã para me contar essa pequena novidade. Ele não se mostrou afetado pelo seu sarcasmo. — Entre nós reinará a sinceridade, mulher, por isso te digo isso agora. — E me dar toda a noite para pensar na repetição da humilhação que passei hoje? Muitíssimo obrigada. Posso viver perfeitamente de sua maldita sinceridade! -gritou ela e saiu majestosamente da tenda, mas teve que parar e esperar já que não sabia em que direção estava o arroio, mais combustível para avivar sua fúria. Nem sequer podia fazer uma higiene decente neste lugar. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 14 Para levar Tedra ao riacho prometido, Challen a conduziu através de um bosque e logo por um curto atalho cercado de plantas. Tinha lua no céu, um grande disco amarelado que iluminava a paisagem com luz tênue através de um véu de nuvens. A água escorria e borbulhava calmamente entre duas beiradas cobertas de ervas e guarnecidas de pequenas flores brancas, que pareciam de ouro prateado à luz da lua. Era um lugar romântico, afastado, perfumado de flores onde o regato proporcionava um tilintar de serenata. Era um lugar ideal para compartilhar sexo, mas tudo o que pensava Tedra nesse momento era cortar em pedacinhos seu acompanhante e alimentar os peixes com eles, se havia peixes. Mas, se seus pensamentos se encaminharam pelo caminho amoroso, teriam se desperdiçado por completo, já que o bárbaro, discretamente, a deixou sozinha para que levasse a cabo suas necessidades, as quais fez sumariamente. Viver sem comodidades era para os parvos. — Se está escutando o que está me acontecendo, Martha, espero com toda a minha alma, que queime um fusível e te desligue. Água. Efetivamente se lavam com água aqui e me arrumaram um lugar que não existe nem um mísero lavabo decente em todo este maldito planeta! Se eu não fosse uma fanática por história antiga e não tivesse vagas noções sobre a vida de nossos antepassados primitivos, em meio dos desertos e selvas do planeta mãe, me sentiria verdadeiramente envergonhada e inútil neste momento. - desabafou. Não recebeu nenhuma resposta, nem a receberia sem sua unidade phazor, mas se Martha estivesse escutando, então poderia localizá- la e transferi-la pra fora desse lugar. Como Tedra permaneceu onde estava, tinha que concordar que Martha continuava jogando com ela ou não a tinha localizado ainda. Teve a esperança de que fosse a primeira ideia. Duvidava seriamenteque pudesse aguentar mais de um mês nesta vida. Retornou ao acampamento sem nenhum inconveniente e voltou para interior da tenda onde tinha passado toda a tarde. O bárbaro estava CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro esperando ali, deitado sobre a manta de pele com os braços cruzados debaixo da cabeça em repouso total. — Correu um grande risco ao me deixar voltar sozinha depois dessa tão grata surpresa que me deu sobre o que me acontecerá amanhã -disse Tedra, fria, mas apenas olhando-a, ele pôde notar que ela estava rindo por dentro. — Decidi confiar em seu sentido da honra. É estranho em uma mulher, mas é uma qualidade que demonstrou possuir. -ele disse. Odiou essa calma em que parecia envolvido e também odiou a atitude magnânima com ela. Que importância tinha se ele confiasse que ela cumpriria com as condições de sua rendição? Maldito! o que lhe serviria ao dia seguinte quando todo povo de bárbaros a olhasse com a boca aberta. — Por isso tirou a besta daqui? Não me agradou absolutamente em nada o ter todo o dia como cão de guarda. — Sharm se tornou preguiçoso vivendo comigo. Caça suas presas à espreita quando sai a lua, e no resto do dia, dorme. — Que agradável para ele. -replicou. Ao ver sua careta de desgosto, Challen riu entre dentes. — Cada vez parece mais e mais feminina, kerima. — Por que? Porque me oponho ao fato de me amarrar com cordas e me exibir para diversão de seu povo? — Porque te zanga por algo que não pode mudar. Um guerreiro não espera que uma mulher atue de outra forma. — Sério? -bufou- E isso se chama ficar zangado? Eu chamaria de enfurecer, ao menos em meu caso e como sou uma Seg 1 e treinada para aniquilar gente com as mãos nuas, não me animaria a qualificar exatamente de femininos os sentimentos que tenho neste momento. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Mas é assim quando não pode controlar. Ou pode controlar... como faria um guerreiro? — É claro que posso. Não estou te pisoteando todo o corpo, não é? O que é isso, se não ser um perfeito controle? — Inteligente restrição, uma atitude muito louvável, mas poderia exercitá-la enquanto me brinda com serviços? — Serviços? -olhou sem compreender do que falava, logo chiou os dentes ao recordar a massagem que ele tinha pedido- Deve estar brincando. Não estou de humor para dar serviço... de nenhuma espécie. — Mas fará -declarou ele, simplesmente- E pode começar agora. Contemplou-o, incrédula, enquanto ele se virava e apoiava a cabeça sobre os braços cruzados. Com efeito, ele esperava que se aproximasse e pusesse as mãos em cima do corpo, que batesse brandamente nos músculos doloridos, mas e se não o fizesse? Voltaria a castigá-la? Estremeceu ao lembrar o tipo de castigo que lhe tinha imposto. Não estava preparada para suportar outra vez, a menos que lhe garantisse que receberia o alívio correspondente muito rápido. Se aproximou lentamente e ajoelhou junto a ele. — Existem diferentes tipos de massagens, guerreiro. A que vai receber provavelmente não é o que estava esperando. — Então pode começar com o que deseja me dar, mas terminará como o que diz que espero; dessa forma conhecerei a diferença! Por que por malditos infernos tinha lhe prevenido? Que maneira de arruinar uma vingança perfeitamente sutil! e ele a tinha convertido em uma ordem que devia obedecer. Oxalá, jamais tivesse ouvido a palavra "honra". Mas tinha sua permissão para vingar-se e ali estava suas costas dourada para que ela descarregasse suas frustrações. E assim o fez, golpeando, esmurrando e lhe dando tudo, exceto uma massagem agradável CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro e prazenteira. Entretanto, houve um problema, suas mãos não suportaram por muito tempo esse tipo de castigo, contudo não ouviu nem um só grunhido de dor ou de desconforto de parte de sua vítima. Pelo menos devia ter ficado tenso quando ela trabalhava nas partes do corpo onde tinham dado seus golpes essa manhã, durante a briga. — É verdade que te fiz mal hoje? –perguntou ela. — Não. Tedra se sentou sobre os pés, levou as mãos aos quadris e lhe fulminou a nuca com o olhar. — Então, quer me explicar por que estou fazendo isso? -ele rolou tranquilamente até ficar deitado de costas e esses olhos escuros refletiram risos contidos ao cravá-los nos dela. — O que fez se deve a que ainda segue brava comigo. A razão pela que pedi a massagem foi para que se acostumasse ao meu corpo o quanto antes. Agora, me ensine a diferença. Não soube o que dizer. A massagem tinha sido para benefício dela. Era realmente consideração de sua parte... caso ela se sentisse receosa e intimidada por seu tamanho, embora talvez ele acreditasse. Não podia saber que era esse mesmo tamanho tão colossal o que ela encontrava tão atraente e de seu gosto. Considerou-se um ser desprezível por desafogar nele as frustrações devidas aos costumes desse mundo. Apesar de tudo, ele em pessoa não tinha ditado as regras para os vencidos em combate, e não era nada demais um pouco de humilhação se acaso podia conseguir um exército destes guerreiros para salvar kystran? — Sinto muito. -ela desculpou-se- Desejas conhecer a diferença, e conhecerá, se você se virar... — Não. — Não? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Fará no meu peito, para me mostrar. -antes de tocá-lo começou a arder suas bochechas ao olhar o peito maciço. Até antes de tocá-lo podia sentir esse mesmo calor descendo em espiral até seu ventre. Quando o tocou, a excitação chegou tão subitamente que quase gemeu. Sua pele era muito quente, mesmo assim cedia muito pouco sob a massagem que protagonizavam suas mãos; era tão sedosa ao tato e no entanto, os músculos eram de aço. Estrelas! Ansiava se inclinar e beijar o peito, esfregar as bochechas contra essa pele sedosa, morder, mas ele não dava qualquer indicação de desejar outra coisa que não essa massagem impessoal. Estava tão quente por ele que poderia ter feito fumaça, mas os olhos do guerreiro eram de calma personificada ao olhá-la com o corpo perfeitamente depravado, sem tensões... sem excitação. Lentamente virou e enfrentou seus olhos lhe olhando com desconcerto. — Estive equivocada ao pensar que o serviço em seu quarto significava que compartilharíamos sexo? — Compartilhar sexo? -ele não sabia do que estava falando. — Como o chamaram aqueles guerreiros? -perguntou em voz alta- Ah sim, usar. -mas ele ainda não compreendia e lhe ocorreu então que os Sha- Ka’ari, sendo escravistas e estando acostumados a tomar o prazer sem dar nada em troca, poderiam ter outro nome para a participação no sexo que seria desconhecida para estes guerreiros- Que nome dão ao ato em que uma mulher e um homem se unem intimamente? — Diversão. -sorriu, ao compreender finalmente. — Eu gosto disso. -devolveu o sorriso- Mas é a única palavra que usam para isso? — Também temos união, emparelhamento, dar prazer. Você o chamaria de fazer amor. — Eu sim, mas você não? A que se deve isso? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Suficientes pergunta por esta noite, kerima. Agora devemos dormir. -ele terminou. Por todas as estrelas, nem sequer falar disso despertava seu interesse. Obviamente, não a desfloraria nessa noite por mais que ela fizesse. Soltou um suspiro. — Muito bem, amigo, mostre minha cama e eu... — Seu leito é aqui comigo. Acreditava que seria de outro modo? — Com o pouco interesse que demonstra em ter "diversão" comigo, sim, efetivamente, claro que pensei que seria de outro modo. -ela disse. Poderia ter mordido a língua por deixar escapar essas palavras, em especial quando soavam tão parecidas como uma queixa... e com efeito eram, mas o bárbaro preferiu deixar passar e simplesmente se afastou um pouco paradeixar espaço sobre a pele. Não tinha outro remédio que se deitar ao seu lado, embora seria muito difícil conciliar o sonho o tendo tão perto. Gostaria que ele tivesse o mesmo problema, mas esse era seu próprio problema não o dele. A enfurecia que ele não se incomodava de tê-la tão perto. — Me abrace, kerima. -ele pediu. Ela o olhou com desconfiança. — Mudou de opinião e não vamos dormir? — Não. — Então, preferiria não te tocar, se dá no mesmo para você. — Mas o fará. -ele disse. Estrelas e planetas! Como estava começando a odiar essas três palavras. — Está me castigando, Challen? — Estou te ensinando a maneira como dormirá todas as noites. Por que não chegou o momento de nos unir, não significa que não te quero perto de mim. Agora faça como eu disse. Não tinha chegado o momento de se unir? Existiriam costumes específicos que deviam seguir também para isto, tantos dias, possivelmente, CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro nos que não podia aproveitar do prêmio por ter vencido em combate? Este pensamento a fez sentir melhor, razão pela qual não ocorreu de lhe perguntar diretamente. Ao menos significava que não era indiferente a seus encantos, que simplesmente estava praticando seu prodigioso controle de guerreiro. Acomodou-se rapidamente sobre a manta de pele com um braço no flanco do corpo do guerreiro e o outro rodeando seu peito. Um dos braços do bárbaro também rodeou sua cintura para mantê-la nessa posição. — Agora me beijará. -Tedra fechou os olhos para ouvir essas palavras que fizeram correr um calafrio pelas suas costas. — Isso faz parte do ritual noturno? — Sim. Serpenteou na cama até que seus lábios pudessem alcançar sua boca e se fundiram em um beijo, mas não era isso que ele tinha em mente. Se separou com rapidez logo que pôde provar o sabor de seus lábios. — Devia ser um beijo para dormir, mulher, não para nos juntar! - arreganhou. — Jamais imaginei que me proporia violar alguém. -grunhiu Tedra, mas o disse em kystrani sem se importar se isso o incomodaria ou não e se virou para lhe dar as costas. Se insistisse que o abraçasse, ele passaria muito mal. E devia ter pressentido por que não insistiu. Não disse nenhuma só palavra mais, porém seu braço descansou sobre o quadril da Tedra, ainda a mantendo perto. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 15 Challen despertou com os movimentos da mulher. Tinha perdido a conta das vezes que ela tinha perturbado o seu sonho com seus suspiros, movimentos, e viradas, mas felizmente cada vez tinha recuperado o sono facilmente. Duvidava que ela tivesse dormido muito, entretanto. Mas isso era de esperar de uma mulher cativa recém reclamada, mas não pelos motivos que chateavam sua pequena perdedora do desafio. Ela não tinha perdido o sono por ansiedade, lágrimas ou simples temor de um novo guerreiro a quem devia obedecer, mas sim porque suas necessidades a dominavam e tinha dormido com o forte aroma de sua excitação no nariz. Durante muito tempo considerou se seria conveniente aliviar sua excitação e necessidades, sem a união. Tal coisa podia fazer facilmente, mas se ela não sabia, ele preferia mantê-la na ignorância a respeito do momento, assim não fez nada. Além disso, ela só se beneficiaria se sua necessidade seguisse imperiosa, quando finalmente se unisse a ela. Era melhor um pequeno desconforto ao longo da noite, que verdadeira dor, se não estivesse preparada para ele quando os efeitos do suco de data se dissipassem. Ao abrir os olhos descobriu que o sol já tinha começado a aparecer no horizonte. Quando se voltou, encontrou à mulher de frente a ele outra vez e também descobriu, instantaneamente, que os últimos efeitos do suco de dhaya se dissiparam enquanto tinha pensado nisso. Seus flancos se encheram de necessidade, e como era de esperar, essa necessidade era nesses momentos tão capitalista que até resultava dolorosa. Além disso nunca tinha sido pior antes, porque se amontoavam em sua mente as lembranças dos momentos passados, claros e concisos, lembranças de haver ficado louco com a Kystrani, de como o tinha deixado doido, a cada olhar cheio de paixão e ardor que o tinha brindado, com esses gloriosos olhos cor água marinha. Gemeu e voltou a fechar os olhos, reprimindo a necessidade imperiosa de atrair à mulher debaixo de seu corpo e acabar com essa dor de uma vez. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Havia ela fanfarronado antes de seu maravilhoso controle de guerreiro. Onde estava nesse momento? Concentrou-se mais na dor que na necessidade, abrindo a mente para que espairecesse, mas não era o bastante intenso para lhe induzir ao estado de transe em que poderia passar por cima de todos os sentimentos. Era suficiente para lhe dar uma sensação de calma, para que voltasse ao controle normal de todo guerreiro, quando não estava sob os efeitos da luxuria. A urgência ainda estava presente, mas já não era a loucura selvagem de uma besta sem consciência. Uma vez mais olhou à mulher que dormia de esgotamento. Até com essas manchas azuis debaixo dos olhos que davam testemunho da noite desagradável que tinha passado, parecia incrivelmente formosa. Dormia sobre seu braço como se fosse o travesseiro, mas o tinha agarrado com ambas as mãos, como se sentisse em sonhos o que ele mesmo havia sentido, a necessidade de se agarrar ao que tinha encontrado, o medo de perdê-lo se o soltasse. Os medos não eram infundados de sua parte, embora não queria nem pensar que a mulher pudesse escapar. Havia dito a verdade ao comentar que confiava em sua honra. Não havia dito o mesmo a nenhuma outra mulher, já que as mulheres do Kan-is-Tra podiam afirmar que tinham honra, mas se sabia que o deixariam de lado quando lhes conviesse. Estava seguro de que não aconteceria o mesmo com a Kystrani, porque era, de fato, um soldado. Cada uma de suas ações assim dizia, até a arrogância que manifestava, era tão grande como a própria. Não, o medo surgia de outra fonte, não iminente, mas contudo, presente. Tinha carinho por esta mulher em seu destino por não mais de um mês, e um mês era muito pouco tempo. Tinha parecido a solução ideal naquele momento, utilizar seu desafio imprudente contra ela, mas neste instante não estava tão seguro. Era verdade que tinha percebido a força de sua vontade, tinha reconhecido que estaria dirigida contra ele enquanto resistisse a sua reclamação e tinha suspeitado que essa resistência não se assemelharia a nada do que tinha conhecido até então. Nem sequer a atração que sentia para ele, a qual se via claramente, pela forma direta e CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro ousada de lhe olhar à maneira de um guerreiro, poderia vencer essa resistência. E apesar de tudo, tinha decidido no momento em que a tinha cuidado com mais calma, o que seria dela. Se tivesse aparecido subitamente um protetor para lhe impedir de reclamá-la, teria brigado por ela, tal era o desejo de uni-la a sua vida, mas não queria que lutasse contra ele, portanto, o desafio lhe tinha parecido o mais indicado para suas necessidades, exceto que era uma solução temporária. Se não conseguisse fazer que ela desejasse sua reclamação dentro do tempo que lhe tinha dado pela derrota na provocação, então ela teria o direito de procurar amparo em outro lugar para finalizar seu serviço e isso o desgostava muito. Nesses mesmos momentos, ela já estava pensando em fazer exatamente isso, se ele se guiasse pelas perguntas que tinha formulado na noite anterior, e ele já tinha começado a procurar por meios de evitar, mesmo que tivesse que obter manhosamente que ela voltasse a lhe desafiar. Desgraçadamente, se ele a desafiasse os efeitos não seriam os mesmos. Ela se daria conta imediatamente de que era um intento de sua partepara transformá-la em sua mulher e reclamada, sem limite de tempo, precisamente o que ela rechaçava com tanta obstinação. Era o temporário do acerto a que tinham chegado o que a fazia aceitá-lo sem discutir. Disso estava completamente seguro. Contemplou o rosto em repouso e observou detalhes que, o brilho dos olhos, e a vitalidade e ousadia de suas expressões, o tinham impedido de observar antes. As bochechas pareciam coloridas artificialmente luzindo um tom rosado muito sutil que era quase imperceptível. Uma fina linha negra que não era natural nas bordas dos olhos. Tocou na pálpebra de um olho sem despertá-la, mas não apareceu nenhuma mancha na gema do dedo. Tinha ouvido que as mulheres de Mau-nik, no norte, procuravam realçar sua beleza colorindo o rosto, mas com cores que não se desbotavam nem manchavam? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Sua pequena soldado não era de Mau-nik, mas de onde vinha? Não queria pensar nisso por que não desejava que fosse verdade o que suspeitava, e nesse mesmo momento seu corpo lhe indicava que estava perdendo o controle e que muito em breve desapareceria por completo. Se não despertasse então, ela nem se inteiraria da união de seus corpos pela rapidez com que tudo teria acabado. O momento do despertar dos instintos, uma vez passados os efeitos da luxuria, era a única vez em que um guerreiro perdia sua arrogância e seu orgulho das artes, que jamais falhavam, em satisfazer uma mulher, pois na maioria das vezes, as esqueciam na desenfreada necessidade. Mas sobre todas as coisas devia evitar que acontecesse com esta mulher. Em questão de segundos, não mais, Challen tinha tirado seus braços e imediatamente teve que lutar contra o desejo imperioso de fundir-se no corpo quente que repousava a seu lado. O perfume que usava era ainda potente e aspirou com um suspiro sua doçura floral, mas o que queria cheirar nesse momento era o perfume da sua excitação e com isso em mente a despertou sem mais preâmbulos. Um beijo frenético e intenso exigindo o desejo que ela tinha conhecido com tanta frequência e tão subitamente no dia anterior, terminou por despertá-la. Quando Challen se virou para julgar sua reação, viu o olhar lânguido de seus olhos abertos e o sorriso em seus lábios. — Acreditei que nunca encontraria a oportunidade para chegar a isto - suspirou ela. — Não tem medo de se unir a mim? — Pareço atemorizada? — Suas palavras são valentes, kerima, não teria esperado menos de você, mas até as mulheres do Kan-is-Tra temem começar uma relação com um guerreiro. Tal temor é normal e continua até que a mulher se acostume a seu guerreiro. Esse mesmo temor é até mais frequente entre as mulheres capturadas ou reclamadas. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Esta é a categoria a que pertenço eu presumo? Me permita fazer um comentário muito pouco lógico, menino. Suas mulheres não são muito maiores que eu, certo? — Não. -ele respondeu. Ela pôs-se a rir subitamente. — Deve ser difícil ser um gigante. Pobre criatura... Vá, não te ofenda. Realmente é muito divertido do meu ponto de vista. Foi assim tão cuidadoso com todas as suas mulheres? — As mulheres são seres frágeis e as machucaria com facilidade - replicou, brusco, irritado com o bom humor da Tedra e sua habilidade de distraí-lo completamente de seu propósito. — Algumas mulheres possivelmente, mas eu passei por um treinamento desenfreado e violento. Não vou quebrar se tiver vontade de se soltar. -desgraçadamente, ela não sabia o que estava sugerindo. — Temo que não poderei ser gentil com você por mais que o deseje. Me lembro de muitas coisas do dia de ontem. — Assim, agora está obcecado com todo esse controle sobre-humano que demonstrou? Bem, não te compadeço por isso, menino. Seu maldito controle me tem feito padecer como mil demônios. -ela disse. A falta de controle de Challen nesse momento o faria sofrer o mesmo se ela não se calasse e lhe permitisse excitá-la. Existia uma única maneira de silenciar uma mulher sem amordaçá-la e resolveu levar a cabo durante todo o tempo que durasse seu controle. Não foi muito. O fogo cresceu lentamente, mas quando chegou foi uma combustão que dissipou todos os rastros de esgotamento por ter perdido a noite. Sentiu toda sua potência quando o bárbaro se moveu para cobri-la completamente. Como sabia que estava pronta para recebê-lo? A quem se importava?. Por fim ia ser desflorada e por um homem que conhecia fazia um só dia, embora parecesse que se conheciam por toda a sua vida. Isso era o mais incrível, CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro não o fato de desejá-lo tanto, nem ter esperado tanto tempo para que acontecesse, a não ser essa sensação de completa afinidade com ele. É óbvio que tentou desesperadamente encontrar alguém digno dela antes, o que provavelmente explicaria esta afinidade, seria ter acontecido tantos altos e baixos, no curto tempo desde que se encontraram. Também contribuiria à essa sensação se o tivesse conhecido durante muito mais tempo, mas nada disso importava a esse torvelinho, violento e selvagem, que ele desatava dentro dela com tanta facilidade. Challen estava bem entre suas pernas, tinha levantado o corpo para apoiar todo seu peso sobre os braços estendidos. Inchou seus bíceps e a pele brilhava de suor. Havia tanto para tocar nele e Tedra ansiava por acariciar, contemplar, mas então só o queria sentir muito fundo dentro dela. Quando o fogo do corpo do guerreiro a penetrou, Tedra conteve a respiração. Estrelas e planetas, quanta firmeza, que plenitude! Sabia que seu corpo teria capacidade para ele, mas não acreditava poder esperar muito mais para se amoldar a ele, e tampouco poderia, como pensou. O autodomínio que exercitou fazia tremer todo o corpo, estremecia os músculos e o banhava de suor. Havia duas possibilidades, ou se sentia tão incômodo como ela ou estava realizando outro esforço sobre-humano. O esforço era um desperdício. Apesar do desconforto que produzia sua penetração, apesar de saber que sobreviria uma dor mais intensa ainda, Tedra o desejava dentro dela por completo e sem demora. — Está esperando minha permissão? — Não é necessária a permissão de uma perdedora. -ele falou entre um grunhido e um gemido. — Tem sentido. -foi o melhor que pôde dizer então, incapaz de se opor a nada nesse instante, exceto a essa contenção que ele mesmo se impunha- Então, por que te contém? -ela perguntou. Tedra pensou que ele riria, mas Challen não conseguiu. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Porque é muito pequena. — Eu, pequena? Possivelmente sou normal, é você que é muito grande! Challen não podia acreditar que estivesse mantendo esse tipo de conversa nesse momento tão crucial, embora tinha que admitir que o ajudava a se conter um pouco mais e não se soltar selvagemente. — Pensa que conheci tão poucas mulheres que não sei a diferença? Deve ter viajado durante muito tempo para chegar aqui. -ele soltou. Tedra não soube a que vinha essa indagação, nem lhe interessou averiguar. — Bem, não vou alargar até que não comecemos a fazer isto regularmente. Assim se está te contendo por minha causa, não o faça. — A paciência é uma virtude que te faria bem praticar, mulher. — Como você? Esquece. Se não continuar com isto, acreditarei que está me castigando de novo, me fazendo esperar. -ela disse, quase suplicando. Ele fechou os olhos e caiu sobre Tedra. Já não suportava a tensão nem o esforço. — Não quero... te machucar. -ele disse, suspirando. Ao ouvi-lo se sentiu invadida por uma estranha ternura por ele, mas não havia razão para que ambos sofressem. Tomou o rosto de entre as mãos e o obrigou a olhá-la nos olhos. — Isto é um rasgo, Challen. A dor é inevitável para mim, não importandoo que você faça. Eu poderia ter corrigido isse se tivesse antecipado... você não sabe do que estou falando, não é? Entenderá se me penetrar, meu gentil guerreiro. Faça agora. Garanto que posso suportar. -ela o tranquilizou. Depois de ouvir essas palavras não havia nada que o pudesse deter, mas também ouviu o grito que escapou da garganta da Tedra quando ele a penetrou fundo. Nunca em sua vida tinha arrancado um som igual de uma CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro mulher, mas instantaneamente entendeu o motivo, havia sentido sua pele ao ser violada descuidadamente. Rasgo... a palavra que ela tinha utilizado. Se soubesse que seu significado era literal, e então compreendeu que sua pequenez incomum, não se devia à abstinência de uma viagem muito longa sem um homem a seu lado, e sim pela abstinência de toda uma vida. Ninguém a havia tocado, uma mulher de aparência e palavras tão ousadas, uma mulher, não uma jovenzinha. Era a única coisa que jamais teria imaginado dela. — Me perdoe. -disse Tedra, interrompendo seus pensamentos, com uma voz não muito segura.- Não... não foi tão terrível como soou. — Não foi, pequena mentirosa? — Não, realmente penso ter sido uma reação do cérebro... já sabe, esperava que doesse com um homem de tamanho normal, mas você sabe que é maior que o normal e assim foi que meu cérebro supôs que ia doer um pouco mais contigo e quando realmente começou a doer, meu velho cérebro gritou: "Cuidado!" e ali tem a consequência. Uma reação completamente desproporcional. -ele esteve a ponto de começar a rir. As explicações que esta mulher lhe dava poderiam chegar a enlouquecer se tentasse compreender, mas pela primeira vez acreditou captar o sentido do que dizia. — Uma reação do cérebro? As mulheres frequentemente choram antes de ter uma razão para fazê-lo, choram antecipando uma razão. — Não prestarei atenção a essa comparação, posto que captou a idéia geral, mas toma nota de que não tem lágrimas em meus olhos. -ela disse. Ele sorriu carinhosamente. — Não foi minha intenção ferir seu amor próprio, soldado. Grande foi sua dor, entretanto, minimizou corajosamente em consideração a mim. Além disso trata de não me fazer sentir culpado por te machucar, ao qual te agradeço. Mas sou eu quem deve te pedir desculpas. Você... rasgo... não CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro tinha por que ser tão brutal... se eu soubesse... -ela selou seus lábios com um dedo. — Não tenho intenção de te faltar ao respeito, menino, mas podemos dar por terminada esta discussão? Se não o notou, já não dói, e por mais que eu goste de te sentir dentro de mim, também gostaria de saber o que vem depois, eu agradeceria que seguisse adiante. Agradeceria que seguisse adiante. Uma donzela do Kan-is-Tran teria passado o resto do dia chorando e gritando que a tinham feito em pedaços e que não deviam tocá-la nunca mais. Sua donzela Kystrani lhe agradeceria se ele "seguisse adiante". Ele fez precisamente isso. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 16 Tedra dobrou suas largas pernas e se abraçou a elas, apoiando o queixo sobre os joelhos enquanto os suaves movimentos compassados do pente ao deslizar por sua cabeleira, começavam a adormecê-la. Challen a estava penteando havia mais de meia hora e não dava sinais de querer abandonar essa tarefa. Quando ao finalizar a comida, ele tinha tirado o pente de ouro e ordenado que se sentasse sobre o tapete entre suas pernas estendidas e abertas, não se havia oposto. Para então seus largos cachos eram um matagal infernal de nós e ela não tinha mais há mínima noção de como desembaraçá-los sem um pente à mão. Seu guerreiro tinha desembaraçado em questão de minutos, mas não se contentou somente com isso. Tedra estava começando a acreditar que gostava de pentear às mulheres. O que não lhe tinha ocorrido pensar era que pudesse estar realmente fascinado por esses compridos e frisados cabelos negros. Não tinham partido essa manhã para a cidade natal do Challen como ele tinha programado. Tedra havia tornado a dormir depois dessa primeira experiência extraordinária de parceria sexual e Challen a tinha deixado dormir profundamente durante toda a manhã. Despertou quando o sol estava bem alto no céu e tornaram a se unir imediatamente sobre o tapete de pele. Esta foi sua segunda experiência, embora muito mais pausada e prazerosa. Nesse momento Challen se inclinou sobre ela e mordiscou seu ombro nu. Tedra despertou instantaneamente. Ele adorava morder. As numerosas dentadas que tinha recebido até então tinham sido o bastantes fortes para lhe chamar a atenção, mas não tanto para deixá-la marcada. Contudo, o suspense sempre estava presente quando esses dentes brancos e iguais lhe roçavam a pele. Suspirou e olhou por cima do ombro para ver se existia alguma razão para essa dentada. Sorriu agradada ao ver o olhar desses olhos tão escuros. Era um olhar que não tinha aparecido neles em todo o dia CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro anterior, mas que tinham aparecido hoje. Inúmeras vezes esse dia, em muitas ocasiões. Significava que a desejava outra vez. Não a incomodava, tampouco a surpreendia. A terceira e a quarta vez que a tinha feito rodar debaixo de seu corpo esse mesmo dia se surpreendeu. Entretanto, tinha deixado de contar e de se maravilhar por isso, aceitando o fato de ter um bárbaro insaciável nas mãos. Fosse qual fosse a razão pela qual se conteve no dia anterior, agora a compensava com acréscimo. E como negar a lhe agradar a necessidade, se esse homem tinha lhe dado tanto prazer? — Quer algo, Challen? -ronronou com ar incitante e isso lhe valeu que a tomasse entre seus braços e a depositasse sobre seu peito, ao cair de costas sobre o tapete de pele- Devo supor que essa foi uma resposta? - inquiriu dando um beijo no queixo recém-barbeado nessa manhã. Sem dizer uma palavra lhe assinalou os lábios e ela obedeceu acolhendo a ponta da sua língua com certa indolência. Compreendendo que ela não faria mais que isso, Challen tentou mordê-la... e falhou. Tedra soltou uma risada entrecortada, logo chiou quando ele tentou de novo. O problema com esse jogo eram os braços fortes que a rodeavam e a tinham prendido. Impossível escapar, assim rapidamente estava beijando como ele desejava, dando o beijo apaixonado que levaria a união, o beijo que ele tinha rechaçado a noite anterior. Entretanto, antes que ela chegasse ao êxtase total, ele jogou a cabeça para trás. — Esta dolorida? -perguntou. A pergunta chegou um pouco tarde na opinião de Tedra, mas não o comentou- Não me diria isso, não é? — Não — Esta será a última vez, eu prometo isso. — Ouça, não se sacrifique por mim... ou é você que está dolorido? - recebeu uma dentada no pescoço por essa insinuação- OH! Assim pode fazer isto dia e noite. Jamais o duvidei. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro O comentário fez com que Challen risse a gargalhadas. O homem realmente desfrutava da parceria sexual. Tedra descobriu que ela também, ao menos com ele. Fazia com que risse e as vezes a fazia querer gritar, e sim que gritava a maioria das vezes quando o prazer a atacava por surpresa, tão intenso era. Nesse mesmo momento ele a levantou e sentou sobre a parte inferior de seu peito, com os joelhos dobrados e os pés perto de seus quadris. A posição a deixava inteiramente a disposição de suas mãos e quando começou a acariciá-la não deixou de lado nenhuma parte do seu corpo elástico e sensual. Desta vez não queria que o tocasse, assim colocou suas mãos sobre os quadris e proibiu que as tirasse dali. Tudo o que Tedra podia fazer era olhar fixamente e observar como a paixão tornava mais intenso os olhos escuros. — Me dê seu peito. -quase choramingouao ouvir o pedido através da névoa que lhe nublava os sentidos provocados pelas carícias eróticas do Challen. — É ... muito... Challen. — Me dê seu peito -repetiu ele e foi uma ordem. Inclinou-se lentamente para frente, gemendo por antecipação como ele tinha afirmado que faziam as mulheres, mas sabia que tinha uma boa razão para fazê-lo e não se equivocou. Assim que chegou mais perto, a boca de Challen se prendeu ao mamilo e começou a sugar. Ela enlouqueceu de prazer e de angústia, sabendo que ele não tinha nenhuma pressa, que tomaria todo o tempo do mundo para desfrutar dela. A urgência que lhe dominava tinha passado ao esquecimento essa mesma tarde depois da quarta vez. Ela parecia desabrochar todas as vezes que se unia, sem importar se era muito cedo ou com quanta frequência. Não rogaria, não o faria por nada do mundo. Se afastou, mas em represália ele a atraiu outra vez para sugar o outro mamilo. Um fogo abrasador correu pelos nervos dos seios aos flancos onde pulsou febrilmente. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Tremia e ardia de necessidade. Esqueceu onde deviam permanecer suas mãos e arremeteu contra ele, empurrando, mas não para escapar. Tratava desesperadamente de se deslizar sobre seu corpo para lhe encontrar sem sua ajuda, mas só conseguiu que as mãos fortes a agarrassem pelos quadris imobilizando-a onde ele queria que estivesse. "Por favor!" gritou seu cérebro enquanto os dentes se cravavam nos lábios para guardar o grito em silêncio. E então se encontrou debaixo dele e ele dentro dela, fundo, muito fundo, e estava chegando ao limite do prazer, estalando ao redor dele, estremecimento atrás de estremecimento, do mais doce, do mais glorioso êxtase jamais alcançado, continuando sem cessar durante todo o tempo que ele se impulsionava dentro de seu corpo e o fazia sem parar, incansavelmente. OH, estrelas do universo! Tedra não podia calcular quanto tempo teria passado, supondo que tinha desmaiado, já que subitamente ao elevar a vista encontrou Challen e não recordava em que momento acalmou sua respiração ou seu pulso, mas já tinham voltado para a normalidade. Ele estava sorrindo com um ar de superioridade masculina que em qualquer outro instante teria feito querer lhe esbofetear, mas nessa ocasião imaginou que era plenamente merecida. Este guerreiro sabia bem o que fazia. Era possível que esta vez a tivesse enlouquecido muito, mas o resultado final, bem, havia valido a pena. — Esta noite dormirei como um bebê -anunciou ela com um suspiro. — Antes devemos falar. — Falar? -piscou. Não o tinha feito em muitas oportunidades esse dia, mas nesse momento?- OH, vamos, menino, está saindo a lua e eu me sinto tão cansada... De um simples puxão se encontrou sentada, as pernas cruzadas sem que interviesse sua vontade e com as mãos sobre os joelhos. A perfeita posição para um bate-papo. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Imagino que falaremos -expressou sem convencimento, mas a expressão de seu rosto mostrava seu desagrado- Como é possível que fosse uma mulher virgem, e entretanto dava a sensação de... não sê-lo? — É isso o que te deixa perplexo? Chama-se educação sexual e é uma matéria obrigatória que acontece a todo mundo sem exceção, menino. Assim só pelo fato de não havê-lo provado, não significa que não conhecesse os comos ou os porquês. -pôs-se a rir subitamente- E agora posso finalmente entender por que os kystranis se voltam um pouco suscetíveis quando não têm sua dose diária. -ao ver seu olhar de incompreensão, suspirou- Isso foi demais... não se importe. Respondeu sua pergunta? Ele negou com a cabeça — O que me diz de suas maneiras que pareciam indicar experiência? — E o que há com isso? Supunha que devia fingir que me desgostava o que via? Atrevida, descarada e arrogante, essa sou eu. — Entretanto, com uma atitude semelhante, uma mulher encontraria muito em breve um par para se unir. Como é que chegou à idade que tem sem um? — Porque não te tinha encontrado ainda, doçura. — É outra espécie de elogio? — Nada de "espécie" neste último. É que eu não gostava do que via... até que apareceu você. Na realidade, é um assunto um pouco mais complicado que isso. Não me sentia confortável com os homens a quem eu podia... Que eu... — Que pudesse desafiar e vencer? -imaginou que ele poderia se ofender, como questão de princípio com respeito às espécies masculinas, mas estava rindo. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Talvez devesse te explicar algo para que não tenha uma idéia equivocada outra vez em relação aos homens kystranis. Eu não sou uma Seg 1 comum, que treinou com armas para a guerra. Eu levei meu treinamento muito mais à frente, e me dediquei, não só as técnicas do combate moderno, mas também aquelas de nossos antepassados. Faz tempo que todas essas coisas caíram no esquecimento, já que as poderosas armas modernas converteram essas técnicas em obsoletas. -franziu o cenho ao ver minha expressão- Não me parece que esteja compreendendo plenamente o que digo. — Possivelmente porque não te entendo. — Então, veja desta forma. Quanta confiança teria se eu estivesse aqui te apontando com meu phazor? Se sentiria confortável em me seduzir, sabendo que a qualquer momento poderia te paralisar? E tenha em conta que você não vai a minha cama com uma arma similar à mão... bem, quero dizer que eles não vão. Você, por outro lado, sim tem uma arma similar. Vê agora o que queria dizer? — Sua arma é a luta sem armas? Os homens kystranis se esqueceram desse tipo de luta? — Exatamente. OH, ainda sabem dar murros, mas isso é jogo de meninos comparado com o que eu posso fazer, e de todos os modos, um homem kystrani não levantaria a mão para uma mulher. Então, agora compreende por que não me tinham deflorado? — Por que escolheu que não o fizessem, sim, mas por que não te reclamaram apesar disto. — Tinha que introduzir a arrogância nisto? -perguntou, desgostada- Você pode assumir essa atitude, mas não um homem de Kystran, e a sua arma, amigo, é seu tamanho realmente incrível e esses músculos como vasos de aço. -e acrescentou uma dose de sua tão própria arrogância- sem CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro isso te teria vencido, exatamente como o fiz com Kowan, um camarada guerreiro dos teus. -ele bufou e soprou. — Este Kowan não pode ter sido um guerreiro do Kan-is-Tran. — Não o é -admitiu e decidiu não seguir com o tema se isso o acalmava e o fez- Já podemos dormir? — Primeiro me explicará o significado de "arrumá-lo". Implica que podia ter diminuído a dor de uma primeira união? — Sim. — Isso é impossível -estalou. — Não só é possível, como também se converteu no procedimento padrão no Kystran. Tudo o que demora são uns quantos segundos no interior de uma unidade médico-técnicas técnica, e essa pequena membrana que fez em farrapos, teriam extirpado sem sentir absolutamente nada. — Mas o chamou de rasgo, o que significa uma abertura. — "Rasgo” é uma palavra antiga usada antes que as mulheres fossem listadas e começasse a visitar primeiro uma unidade médico-técnica, quando estavam preparadas para iniciar a parceria sexual. Agora a palavra significa nada mais que "primeira experiência". — Me diga então por que não te encarregou de passar por essa extirpação indolor quando ficou maior de idade. — Porque teria ficado registrado e seria esperado que aceitasse meu primeiro homem muito em breve depois disso, mas como, também, teria ficado devidamente registrado em meu histórico. Ao menos já não tenho que me preocupar com a Idade de Consentimento nunca mais, embora na realidade não sei como vou provar um rasgo em velho uso, sem um computador de testemunha. Suponho que o terei que fazer outra vez diante CarolJohannaLindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro de Martha quando me encontrar. Essa maldita máquina jamais acreditará só em minha palavra. — Mulher... — Sei, sei, isso não te diz absolutamente nada, mas certamente não quer ouvir nem pensar em uma de nossas leis mais ridículas, não é verdade? — Se essa lei te corresponder, sim. — Mas já não me corresponde mais. — Proteger a minha mulher é meu direito e não poderei exercitá-lo adequadamente se ela estiver sujeita a leis que desconheço, portanto deixará que eu julgue. — Assim que o tirano se reuniu conosco. Deixá-lo sair é um mau hábito que tem... muito bem! -ofegou quando ele esticou a mão para tomar o peito. Fulminou-lhe com o olhar ao recordar que tinha prometido que não compartilhariam mais do sexo essa noite e portanto tinha a intenção de castigá-la por tratar de evitar o tema- Briga sujo, guerreiro. Não creio que não recordo... muito bem! –esquivou-se da mão que voltava a carga. — Agora me explicará. — É uma lei estúpida, promulgada por homens estúpidos há muito tempo. Nessa época se decidiu que a parceria sexual era a maldita cura de todos os males menores e obrigava a todas as mulheres a beneficiar-se utilizando-a, lhes importasse ou não. Mas só se aplica a mulheres que não se rasgou, e já não o sou mais. — Isso era tão difícil para me dizer? — Sim, é obvio, já que é um tema que me preocupou durante muito tempo, mas esse não é o ponto, Challen. Eu disse que já não me corresponde, por que não aceitou minha palavra e trocou de tema? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Também disse que deve provar que a rasgaram. Até que dê essa prova, não está sujeita a essa lei? Tinha um pouco de razão. Seu novo histórico como Tamber De Lhes e rasgada não se aplicava a Tedra do Arr, ainda sem rasgar nos registros. Certamente que não poderia recuperar sua própria identidade no Kystran até que Garr reassumisse o poder, mas mesmo assim lhe agradaria que este assunto ficasse encerrado, agora que ela mesma havia resolvido por sua conta. — É muito improvável que algum membro de Seg se apresente por aqui para me entregar ao dilacerador eleito por computadores, Challen, e sob nosso novo governo eu terminaria sendo escrava se o conseguissem, mas essa é outra história, e ao diabo com esse brilho estranho em seus olhos. Não te contarei nada disso a menos que esteja disposto a admitir que Kystran é outro planeta e não outro país de Sha-Ka'an. Ele cuidadosamente observou as belas facções da mulher por uns momentos e deve ter chegado à conclusão de que tinha insistido muito para uma noite. — Não deve se zangar com um guerreiro por seguir seu instinto natural de proteger a sua mulher de todo perigo. Era uma desculpa ou uma repreensão? Ou acaso estava insinuando sutilmente que era ela quem devia desculpar-se? Mas não mordeu o anzol. — Um sentido elementar de cortesia aconselharia esperar até que se solicitasse ajuda. — Não no Kan-is-Tran. Essa afirmação foi na verdade inquestionável. Os costumes de Sha- Ka'ari não eram os costumes dos Kystran CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 17 Tedra viu a montanha no meio da manhã, quando por fim deixaram atrás a região de floresta, e entraram numa zona de colinas baixas e arredondadas que flanqueavam férteis vales. Challen a tinha chamado Monte Raik e a vista era realmente magnífica. Elevava-se a grande altura no sul e rematava em um pico tão alto que estava coberto de gelo e neves eternas, até em um clima subtropical como o dessa parte do planeta. Para o norte também havia algumas montanhas que foram deixando atrás, a Cordilheira Bolcar, além da qual se encontravam as terras desconhecidas entre as que, supostamente, se encontraria Kystran. Era uma larga massa cor púrpura que até podia se ver facilmente por cima das copas das árvores atrás deles, embora não tenha picos tão altos e imponentes como o Monte Raik para onde se dirigiam nesse momento. Em torno do meio-dia começaram a diminuir os vales de ervas e Tedra passou a ver terras cultivadas com grãos e vegetais, mas nenhuma casa e nem celeiro pelos arredores. As árvores, imensas e majestosas, tinham reaparecido em fileiras, cortando o vento e protegendo uma horta em plena floração, um bosque de dourada folhagem rodeando pela metade um pequeno lago azul, e uma floresta de vívidas cores, onde o alaranjado, o amarelo e o brilhante vermelho das folhas, se mesclavam com toda a gama de verde e marrom. Dirigiram-se a esta última e entraram por um caminho de terra calcada que serpenteava entre os troncos das árvores, demonstrando que nada se destruiu para abri-lo. Tudo era natural. Tedra amava isso, que não se destruiu nada para fazer lugar aos homens. De fato, agradava-lhe tudo desta terra, o clima agradável e temperado, as paisagens maravilhosas e, se o pensasse bem, os homens tampouco estavam tão mal. Os que viajavam com o Challen compartilhavam uma cálida camaradagem, brincando e se acotovelando uns aos outros, rindo com frequência de piadas que Tedra ainda não compreendia muito bem embora o CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro faria com o tempo. Essa manhã a tinha envergonhado muitíssimo sair da tenda de Challen e se encontrar subitamente com aqueles guerreiros montados em seus enormes hataaris, e outros hataaris carregados com o fruto da caçada e todos eles lhes esperando. A situação ficou mais intolerável para ela ao compreender que tinha acontecido outro dia mais de caçada porque Challen esteve esse dia com ela e, em consequência, todos eles tinham que saber o verdadeiro motivo pelo qual ele tinha demorado a partida. Challen, esse caipira super desenvolvido, não tinha aliviado em nada seu desconforto ao demonstrar excessiva familiaridade com ela quando a subiu em seu hataar, deixando que suas mãos se atrasassem mais do que devido sobre a cintura e logo deixando escorregar pelas pernas nuas diante de todos os olhares. Claro que acabava de compartilhar o sexo da manhã com ela e ainda se sentia terno e amoroso. Ela, em troca, havia retornado rapidamente a seu mau humor da véspera antes de ir dormir. Sua irritação se devia principalmente a que Challen não tinha se dado conta da irritação que sentia contra ele e tivesse ordenado que o abraçasse e dormisse muito junto do seu corpo, depois de dar o beijo de boa noite. E tudo depois dessa famosa conversação que tinham mantido. Mas a última irritação tinha durado muito pouco nesta manhã, pois o dia era muito bonito e a companhia estava de muito bom humor para poder continuar mais de meia hora. Até as cordas que rodeavam seus pulsos não a machucavam tanto como tinha suposto que o fariam. Provavelmente era porque ele tinha saído cedo da cabana, retornando com outra corda que converteu em cinturão para a curta manta que cobria o seu corpo, com isso conseguiu que ficasse mais apropriado e decente que alguns dos trajes para climas quentes que ela possuía. Ficou realmente agradecida por esse cinturão, sobretudo por que o tinha recebido sem ter que pedir. Vá, entre seu despotismo da noite anterior e esta atitude benévola da manhã, seu bárbaro ocultava muito mais coisas do que tinha acreditado em um princípio. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Pouco depois de meio-dia se param junto a um riacho sinuoso, e compartilharam a carne fria da noite anterior, além de pequenos bolos redondos de um doce pão branco chamado crumos. Estavam no meio da floresta em uma clareira sombreada pelas árvores antigas. A folhagem estava povoada de pássaros que tagarelavam sem cessar e de pequenas criaturas peludas que quase não descendiam das árvores. Essa manhã Tedra tinha descoberto, pelo menos, uma dúzia de animais novos, mas todos inofensivos,já que desaparecia rapidamente ao ver se aproximar os grandes hataaris. Challen não a desatou para esta comida ligeira, mas ela nem se alterou, já que ele se viu forçado a ajudá-la, demorando ainda mais sua própria alimentação, o que, em certo sentido, pareceu ser a justa retribuição que encontrou divertida. Sentado no chão ao lado dela usou a larga adaga para cortar os bocados de carne de uma parte maior e entregar a ela. A princípio tinha tentado lhe dar na boca, mas ela mordeu seu dedo como prêmio por esse esforço degradante, mas Tedra não se sentiu tão satisfeita consigo mesma e nem divertida, pelo fato de saber que isso o agradou, se tivesse se dado conta de que ele estava tomando seu tempo deliberadamente, para encontrar uma desculpa e assim fazer que outros se adiantassem, teria se desconcertado por completo. Tal como estavam as coisas, não suspeitou de nada, nem sequer para perguntar por que nenhum dos guerreiros se ofereceu para esperar, o que ela considerava seriam uns poucos minutos, posto que Challen já estava limpando sua adaga quando o resto começou a se por em marcha. Antes que desaparecesse de vista o último homem, ele ficou em pé; ela também o fez e se dirigiu diretamente ao hataar para que ele não tivesse que ordenar, mas quando ele se colocou às suas costas não foi para subi-la ao lombo do animal. Ela aceitou o abraço inesperado e o gentil apertão que recebeu. Depois de tudo, sentia-se saciada e até feliz sem saber a que atribuir. Além disso, já CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro estava acostumada ao fato de que a seu guerreiro simplesmente agradava estreitá-la entre seus braços e apertá-la contra seu corpo. Mas depois de um momento ele a fez girar e ela nem sequer foi consciente de que lhe tinha tirado o cinturão, até que sentiu as mãos debaixo da manta, cobrindo suas nádegas para estreitá-la mais contra ele e logo deslizar para cima, acariciando a pele nua das costas sem encontrar nenhum impedimento. Quando tentou perguntar o que estava fazendo, lábios ardentes selaram sua boca, respondendo a pergunta que esqueceu imediatamente. O guerreiro sabia beijar pondo no jogo os lábios, a língua e até os dentes, e o fogo, estrelas! O fogo que disparava faíscas acesas por todo seu corpo. Poucos segundos depois se encontrou deitada sobre o suave tapete de ervas, perdida no reino das sensações puras. Logo depois dos excessos do dia anterior, seu corpo havia sentido desconforto sem que ela o advertisse, apesar de ter despertado essa mesma manhã para dançar ao som desta toada. Mas isso tinha acontecido fazia horas e o prazer que sentiu foi completo quando chegou e bastante intenso para arrancar um grito da sua garganta, que desatou uma extraordinária gritaria entre os pássaros posados nos ramos. A volta à realidade foi lenta, mas o primeiro olhar claro lhe devolveu a expressão de Challen que fez soar sinos de alarme em sua mente. Era a expressão de um homem que tinha ganho uma batalha de alguma espécie e levou uns momentos até se dar conta de que não se encontravam em um lugar "onde ele dormia", que poderia ter se negado a esta união, que tinha perdido essa opção no mesmo momento em que ele começou a beijá-la, não porque não a tivesse ou a tivesse perdido, mas sim porque lhe resultava impossível pensar com claridade, quando ele estava prendendo fogo a seu corpo que acabava de despertar ao fazerem sexo. — Por que fez isso? -perguntou só para estar segura. Ele não tentou fingir que não lhe entendia. — Para ver se podia. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Quer dizer, para ver se eu permitia isso. — Não sejamos sofistas em um tema discutível. — Serei sofista se eu quiser ser sofista -replicou ela ao serpentear para sair de debaixo de seu corpo- Estamos falando aqui de um verdadeiro abuso de autoridade, Challen. Algo que é da maior importância para mim. –ouviu-o rir entre dentes. — Mulher, o que é que desaprova, que não pensou em dizer não ou que não quis dizer não? -ele disse. O rubor subiu subitamente do pescoço às suas bochechas. — Isso não é justo. Não me deu a oportunidade de pensar nisso nem em nenhuma outra coisa. — Essa foi, precisamente, minha intenção. — Está tentando me converter em uma mulher reclamada, não é assim? -acusou- Uma mulher em que pode mandar em qualquer lugar já qualquer hora? — Não se pode fazer durante seu serviço, porque enquanto for uma perdedora em um desafio está sob meu amparo e só se pode reclamar uma mulher desprotegida. — Isso é fazer rodeios, guerreiro. Ambos conhecemos a preferência do outro e acaba de provar que tentará se sair com a sua sem se importar minha condição oficial. — Talvez. -encolheu os ombros e sorriu como um menino pego em falta- Mas essa é a natureza de um guerreiro. Se não tivesse tentado, não teríamos desfrutado um do outro, mas se não desejava o prazer que te acabo de oferecer, kerima, só tinha que dizer. — Em outras palavras, posso esperar com toda segurança que volte a fazer? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Certamente. — E não é violar as regras? — Quando o assunto depende de sua decisão? E é sua decisão que conta. Violaria as regras unicamente se não te desse outra alternativa. Sentia que não ficava outra alternativa, especialmente quando ele a beijava primeiro, mas compreendeu seu ponto de vista. Se suas demandas não fossem razoáveis não teria que obedecer fora de seu "lugar de dormir". Tudo o que ele exigia então era respeito e ela poderia se negar com o maior respeito. Tampouco teria que suportar ou aceitar seus requerimentos amorosos, embora ele estivesse assegurando que esses requerimentos fossem, bastante simpáticos e agradáveis para ser rechaçados. — Desta vez fui uma idiota. Não espere que essa seja a regra, menino. — Entretanto desfrutou. — Isso não vem ao caso. A abundância de algo bom poderia fazer que me agradasse ficar aqui. Não quer que eu me apegue a você, vejamos, te agrada o nosso compromisso ser temporário? — Sim. -ele franziu o sobrecenho. — Por que? Assim poderia pensar em mim e me ver definhar por você quando eu já tiver ido? Não é essa a atitude mais machista...? -calou na hora ao ver que Challen se levantava precipitadamente e agarrava a espada. Tedra também se levantou, mas com major cautela. Embora não tivesse ouvido nada que explicasse a tensão alerta de seu corpo, enquanto os olhos exploravam os arredores, não acreditou que fosse uma mutreta para mudar de tema. O hataar soltava sons de inquietação e parecia nervoso, mas... talvez percebesse algo que eles não podiam sentir, ou que ela sozinha não podia. Challen estava esperando que acontecesse algo sem dúvida alguma, e ela foi o bastante preparada para não distraí-lo fazendo perguntas desnecessárias. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Chegou tão velozmente que nem sequer o viu vir. De repente estava ali e saltando à garganta de Challen. Falhou, graças às estrelas, visto que ele se esquivou no último momento. A coisa passou voando do lado do guerreiro e caiu na terra muito mais longe, mas girou em volta instantaneamente para continuar lutando, provando sua incrível velocidade de movimentos. Incrível! Por que não era uma besta pequena, fosse o que fosse, era uma coisa larga e horrível, com mais de um metro e meio de altura, grandes orelhas pontudas, virtualmente nada de nariz, amarelados olhos enviesados e grandes queixadas com dentes afiadíssimos. A parte traseira do corpo era maior e mais pesada que a anterior, com patas poderosas e especialmente preparadas para os saltos com que surpreendia as suas presas e uma cauda larga, com arame farpado que usava em qualquer ataque. Não pensou muito antes de voltar a atacar. Demorou só o tempo de dar unspoucos passos, antes que essas muito poderosas patas traseiras voltassem a impulsioná-lo para cima no ar, uma vez mais, mas outra vez falhou. Embora nesta oportunidade Challen conseguiu golpear com sua espada quando a criatura passou voando a seu lado, não conseguiu feri-la e nem lhe fazer um arranhão sequer. O couro que lhe cobria todo o corpo era cinza, sem cabelos, rugoso e tão grosso e elástico que a lâmina da espada pareceu ricochetear nele. Estes ataques se repetiram várias vezes com os mesmos resultados, até que o animal compreendeu que seguindo desta maneira não chegaria a cumprir seu objetivo e trocou de tática. Tedra tinha retrocedido lentamente, mas a criatura não estava interessada nela, apenas lhe dispensou um olhar carente de todo interesse. Ou preferia enfrentar o homem primeiro, era mais inteligente do que aparentava, pois parecia pressentir que Challen era o perigo que devia tirar do meio, antes de poder fazer um banquete com seu achado. Então avançou devagar simulando sigilo e cautela. Tinha o corpo completamente inclinado para frente quase tocando o chão e soltando uns grunhidos estranhos como se não pudesse decidir-se entre estalar a língua CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro de antecipação ou demonstrar sua irritação porque a presa demorava muito em cair entre suas garras. Tedra conteve a respiração temendo que saltasse quando estivesse tão perto que Challen não teria tempo de sair do seu caminho. Mas ele deve estar pensando o mesmo, porque tomou a iniciativa. Lançou estocada a direita e esquerda, com o que conseguiu que a besta retrocedesse e pôde assim mantê-la a raia. O animal selvagem tentou girar ao redor dele, mas o braço armado com a larga espada se manteve estendido, sem lhe dar nenhuma oportunidade para o ataque, coisa que teria ocorrido caso se lançasse a investir fracamente, e já não fazia esse estalo estranho, só grunhia nesses momentos como se o dominasse a frustração. Isto poderia ter continuado indefinidamente se Challen não tivesse tropeçado em uma raiz que se sobressaía da terra. Recuperou o equilíbrio antes de cair ao chão, mas a espada se desviou durante uns segundos terríveis e a criatura aproveitou a oportunidade, saltando em sua garganta e com essa incrível velocidade que possuía, esteve muito perto quase instantaneamente. Tedra gritou com desespero e deu um passo adiante, embora não soubesse o que poderia fazer, sem contar com uma arma em seu poder para ajudar, mas os fortes dentes não se fecharam sobre o pescoço brando de Challen e sim no antebraço protegido pelo escudo de aço, que levantou no último segundo para rechaçar o animal. E antes que aquelas horríveis mandíbulas pudessem morder sua carne, levantou a espada e a afundou na pança da besta, seu único ponto vulnerável. Um grito espantoso se ouviu por toda a floresta, mas logo parou voltando a reinar o silêncio, enquanto o sangue vital emanava em abundância da ferida. As mandíbulas afrouxaram, soltando o braço de Challen, quão único seguia sustentando-o ereto. Ao soltar, caiu ruidosamente no chão, sacudiu brusca e lastimosamente durante uns segundos e logo ficou quieto. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Quando Challen se voltou e a olhou, Tedra tratava de controlar o ligeiro tremor de todo o corpo. Alguma reação retardada, supôs, mas preferiria que ele não notasse. De sua parte, ela por fim percebeu que ele tinha lutado com a besta, completamente nu e estava salpicado de sangue, mas sorrindo. — Desta vez deveria ter corrido e subido numa árvore, mulher. - sufocou a risada e isso a exasperou. Ele não estava incomodado ao mínimo pelo que acabava de passar, enquanto seu coração seguia palpitando loucamente contra as costelas. — Quer dizer que essa coisa não era outro de seus mascotes? Poderia ter me enganado. De todos os modos, o que é ou devesse dizer, era? — Um dos caçadores da floresta, que esteve entre nós desde que podemos recordar, um caçador que, felizmente não come demais. Chamamos de sa‘abo. Sua extraordinária velocidade geralmente lhe permite cair sobre sua presa antes que a vítima note sua presença. — Parecia realmente afeiçoado ao seu pescoço -realçou se aproximando um pouco mais para observar o sa‘abo morto. — Essa é sua única forma de matar, destroçando a garganta da presa. Se fosse preparado para matar de outro modo ou se usasse a cauda como arma, seria mais perigoso. — Mais perigoso ainda? Foi suficiente para meu gosto. É provável que tope com mais assassinos como este? — Não é provável a tão curta distância da Sha-Ka-Ra. Geralmente Sharm me avisa, mas ao perceber a cercania ao lar, correu apressadamente para junto de sua companheira. — Típico de um mascote não estar perto quando poderia ser útil - replicou, fria. — Esteve preocupada comigo, kerima? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Claro que não -disse com um bufido- Era grande, mas você é ainda maior. — Então, não foi seu grito o que ouvi? — Deve ter sido algum pássaro –zombou e para sua maior irritação, Challen jogou a cabeça atrás e soltou uma gargalhada estridente ante a mentira flagrante que havia dito. Então avançou para ela e Tedra começou a acreditar que podia ler sua mente, porque estava quase segura de saber o que estava pensando nesse momento. Estendeu o braço para detê-lo. — Pode ficar onde está, guerreiro. Está todo cheio de sangue, se por acaso não tenha notado. E já se aproveitou muito de mim para um dia, dê meia volta e se enfie na água para se lavar. Eu gostaria de chegar a sua cidade antes que escureça e apareçam mais sa‘abo, se há igual. Ele não respondeu, mas surpreendentemente, fez o que lhe tinha sugerido. Entretanto continuava sorrindo, muito de bem consigo mesmo e com o rumo dos acontecimentos, virando em volta e encaminhando seus passos ao riacho. Tedra acreditou saber por que. Ao maldito guerreiro agradava a idéia de que ela se preocupava por ele. A ela, em troca, não agradava absolutamente. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 18 Sha-Ka-Ra definitivamente não era o que Tedra tinha pensado que fosse. Situada em uma meseta no alto da ladeira do Monte Raik, seu acesso era através de um íngreme caminho tortuoso, em cujos lados se elevavam escarpadas ladeiras de terras estéreis. Sua localização era a ideal para a defesa, em especial por estar recostada contra a ladeira maciça da montanha. Contudo, sentiu um grande alívio ao comprovar que não a rodeavam altos muros fortificados, por isso, obviamente, não necessitava defesa. Não tinha estado ali muito tempo para considerar que simplesmente pudessem desdenhar a defesa da cidade. Tedra pôde ver Sha-Ka-Ra da distância, já que foi visível assim que abandonaram a floresta e se internaram por grandes planícies cultivadas que se estendiam por vários quilômetros antes de chegar ao pé do monte. Pôde julgar seu tamanho, que era realmente impressionante, e os diferentes tipos de moradias, quase todas de um ou dois pisos, exceto uma delas. Exatamente no centro da cidade se elevava um imponente castelo de pedras brancas, por todas as estrelas, com algumas seções arredondadas, outras quadradas ou retangulares, mas todas dando a sensação de ser de diferentes formas e alturas, como se cada habitação que continham tivesse que ser única em sua espécie. A seção mais elevada era uma torre quadrada no mesmo centro, coberta em espiral e arrematando num corredor aumentado. Certamente dali poderia ver toda a campina até a Cordilheira Bolcar e talvez mais à frente. Tedra tinha visto castelos similares por computadores, criados graças às detalhadas descrições dessas construções realizadas pelos antigos e que correspondiam às épocas remotas do planeta, mas nada parecido a esta magníficaestrutura bárbara, que sobressaía em meio da cidade como um guardião benevolente. Talvez seu interior fosse frio, sombrio e extremamente primitivo, mas essas pedras brancas davam uma aparência de calidez e de bem-vinda. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Só podia ser a residência do shodan local, o que entusiasmou Tedra porque certamente veria o interior desta maravilha primitiva, já que se apresentaria ante o nobre líder para discutir as negociações e a contratação de seus guerreiros. Mas nesse momento, ao se aproximar dos primeiros edifícios na entrada da Sha-Ka-Ra, só sentia o temor nervoso por ter que enfrentar novamente as pessoas, que a veriam como estava, com as mãos atadas, o cabelo desarrumado, os pés e as pernas nuas e com apenas uma capa de pele para cobri-la. Não era assim como tinha imaginado que entraria na primeira cidade de seu primeiro planeta descoberto, embora devia admitir que, de todos os modos, causaria sensação, embora não a mais adequada. Os guerreiros, que tinham retornado antes que eles, devem ter avisado que chegaria alguém de suma importância, porque todos os habitantes da cidade estavam saindo para ver Challen cavalgando lentamente ao longo da ampla avenida principal. Havia bárbaros por toda parte, nas janelas, nos portais, tanto em pequenos como em grandes grupos. E se tinha acreditado que o pequeno grupo de guerreiros de Challen era único em a altura e musculatura, nesse momento lhe demonstravam quão equivocada tinha estado. Todos os homens da sha-K-Ra eram iguais, centímetros mais, centímetros menos, a mesma cor de pele do dourado ao torrado, tanto nos cabelos como nos olhos e também tanto nos homens como nas mulheres. As mulheres pareciam muito interessantes a primeira vista. Não podia saber o que tinha esperado encontrar, mas não era precisamente tal evidente feminilidade, que retratava uma imagem de suavidade, acanhamento e desamparo, com suas vestes finas semelhantes a xales, flutuando ao redor delas em partes e que só acentuava esta imagem. Muitas poderiam ter a estatura requerida para ser Seg, mas não se via nem um músculo firme ou ossos agressivos entre elas. E as crianças! Estrelas! Fazia tanto tempo que Tedra não tinha visto crianças, de fato, desde que ela mesma tinha sido menina. Entretanto, aqui via dúzias deles, de todas as idades, alguns nos braços das mulheres, alguns na mão de guerreiros, CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro alguns maiores até luzindo suas espadas. Contemplou-os com a mesma curiosidade como que eles faziam, ao ver uma estrangeira de cabelo negro e olhos cor de água marinha. — O que te parece Sha-Ka-Ra, mulher? Quem dera não tivesse perguntado. Via ruas limpas bordadas de árvores e postes com pedras gaali, negociantes ordenados onde se vendiam mantimentos e mercadorias de todo tipo, um adorável parque verde cheio de árvores que davam sombra e um pequeno lago onde pulavam as crianças. As casas ostentavam arcadas belamente esculpidas, amplos janelas de vidro, de distintas formas e tamanhos, algumas tinham balcões com corrimões de ferro e outros terraços expostos ao sol e cada uma possuía seu próprio jardim, com grama e flores, sua própria horta e estábulo. A cidade era civilizada, mas contudo primitiva. Seus habitantes de tez dourada, eram bonitos e elegantes, com suas roupas de formosos tecidos e suas jóias. Todos os homens sem exceção, levavam espada, fossem mercadores, artesãos ou guerreiros; todas as mulheres e crianças estavam acompanhadas de um homem, sem permitir lhes arriscar a sair sozinhos, nem sequer na segurança de sua própria cidade. Então como responderia Tedra a um homem , que tinha demonstrado que os costumes de seu povo eram as mais primitivas de todas? Ao lado do Kystran, isto era medieval. — A cidade é... bom, é formosa, é obvio, aberta, higiênica, muito mais que o que eu tinha esperado. — Por que percebo certa reserva em sua resposta? — É por pura surpresa. Recorde que esperava me encontrar com cavernas. Ao menos suas mulheres não andam correndo por ali só cobertas com peles de animais como vós os homens. Foi injusta. O couro de zaalskin de seus bracs estava tão perfeitamente curtido que poderia ter saído de algum curtume de alta tecnologia. Na cidade, todos os homens usavam o mesmo, mas com camisas, ou para ser CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro mais precisa, uma espécie de túnica sem mangas por consideração ao clima quente, supunha, que caía até debaixo dos quadris simplesmente envoltos ao redor do corpo e presas à cintura com um cinturão, formando um amplo e profundo decote em V, que deixava à vista os enormes medalhões redondos pendurados em seus pescoços e que todos pareciam preferir. O que lhe recordou... — Queria perguntar algo referente aos guerreiros. Como é que saem para enfrentar o perigo, quase nus, mas usam mais roupa na cidade? - quanto menos restrições, melhor. Como se ela não soubesse. — Poderia não aceitar isto como certo, pela maioria dos guerreiros, soldados, ou como quer chamar os lutadores, preferem levar um pouco de amparo, alguma armadura ou armas de comprido alcance. De algum modo isso tende a aumentar as expectativas de vida. — Então, a esses guerreiros deve faltar destreza. -o tom frio da Tedra o fez sorrir. — Grandioso. A vaidade antes que a preservação. Devia sabê-lo. - desta vez ele passou por cima de seu sarcasmo- Para a guerra ou durante ataques surpresas levamos nossos escudos. Isso é suficiente. — Sua gente guerreia contra a outra? -mas respondeu sua própria pergunta- sim, claro que sim. De que outro modo obteria os cativos que mencionaste. Essas pobres criaturas que as regras exigem que estejam atadas como o tem feito comigo? -atacou-a um rancor surdo que não pôde remediar- Deveria estar agradecida. Ao menos a regra não diz, nua e encadeada. Nossos próprios antigos estavam acostumados a fazer isso, levar os vencidos arrastados pelas cidades desse modo tão ignóbil. — Nós também fazemos. -mudou o rosto enquanto seus olhos percorriam a multidão que observava avidamente a chegada de ambos. — Vai... vai fazer isso comigo? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Se tivesse pensado, kerima, já o teria feito. Girou a cabeça e lhe olhou, surpreendida. — Está violando essa regra por mim? — Não é um adversário derrotado comum. Nunca antes o há de ser uma mulher . Isso sim que era o cúmulo. — Assim não violaria duas regras para me deixar entrar livre de ataduras? — E deixar que os Sha-Ka-Ran duvidem do que significa para mim? - replicou. — Oh, naturalmente -exclamou, desgostada- Com toda segurança que nós não queríamos que duvidassem. Depois até poderiam pensar que sou de outro planeta e que vim aqui para melhorar a qualidade de suas vidas se lhes chegasse a interessar. — O que pensariam é que é reclamada... a minha mulher. Não lhes ocorreria outra coisa. — Nem sequer que sou uma mulher livre sob seu amparo? -exigiu ela. Acreditou tê-lo apanhado ali, mas ele a desenganou rapidamente. — Uma mulher livre não se apresentaria em público com essa vestimenta que leva. Exigiria que lhe proporcionasse o chauri de minha casa antes que a trouxesse para a cidade. E ele também a agradaria. Isto ele demonstrava com maior claridade que qualquer outra coisa, a diferença que existia entre uma mulher livre deste mundo e outra reclamada, a que não podia exigir nada impunemente igual a uma cativa e ela estava abaixo de todas elas. Mortificada, ouviu uma nova aspereza em sua própria voz. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Alguma vez ouviu sua gente dos anúncios públicos? Uma simples declaração de sua parte esclareceria o que sou. — É o que quer que faça? — É obvio -masa sensatez que ele demonstrava a fez pensar duas vezes e então lhe ocorreu que ele ainda não acreditava em nada do que tinha contado de si mesma, que para ele não era nada mais que uma desafiadora vencida, isso era o que com tanta magnanimidade se oferecia a anunciar aos quatro ventos, até depois de haver contado como se ludibriava e maltratava os perdedores de provocações, pior que aos cativos- Para falar a verdade, guerreiro, às vezes é ruim. -soltou com indignação antes de voltar a cabeça e olhar à frente rigidamente. — Porque eu brinco com você? Fazemos anúncio só em caso de guerra, ataque surpresa ou a segurança de nossa cidade. Jamais se realizam para esclarecer a posição de uma mulher. — Porque somos tão insignificantes? — Porque a posição de uma mulher não concerne a ninguém, salvo ao seu protetor e sua família. — Essa não é exatamente a verdade em meu caso, mas não vou elaborar mais sobre esse tema. Em troca, me permita perguntar algo. O que aconteceria se a um desses guerreiros, ante quem me faz desfilar, agradar o que vê e desejar me oferecer dobro ocupação? — Dobro o que? — O equivalente de um homem e uma mulher compartilhando a vida juntos. Os Sha-Ka’ari não tinham uma palavra para nomeá-lo porque todas suas mulheres são escravas, mas deve chamar de algum modo a união de duas pessoas para a parceria exclusiva do sexo. Isto arrancou uma gargalhada dele, que ela não apreciou de forma alguma. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Sim, temos tais uniões, mas você esta presa como o estaria uma cativa. E às cativas, não é comum oferecer união semelhante. Teve o pressentimento que esta e só esta era a razão pela qual tinha violado uma única regra por ela. Não queria que o incomodassem com oferecimentos por ela, que necessitariam de uma explicação detalhada sobre a sua verdadeira situação. — Para não seguir repisando no tema, por que não me diz tudo, sem me ocultar nada, de uma vez por todas? Classificar estas sutis diferenças entre suas mulheres estão me tirando do sério, em especial as diferenças entre reclamada e cativa, que só parecem ser uma maldita corda ao redor dos pulsos. — Uma mulher reclamada é aquela que não tinha protetor. Se a oferece, converte-se em uma mulher livre e devolvem todos seus direitos. Uma cativa é aquela que toma um protetor; portanto sua situação é só temporária. — Por que? — Isso teria que ser óbvio, mulher. Se for bastante apetitosa e desejável para que a tomem cativa, é quase certo que seu verdadeiro protetor buscará seu retorno, seja por roubo ou por compra. Por isso um guerreiro medita longamente antes de se oferecer por uma mulher que, provavelmente alguém roubará, então ele terá que roubá-la de volta, se ainda a quiser, e isso pode continuar indefinidamente, ano detrás ano. — Quer dizer que vocês, os poderosos guerreiros, preferem brincar de cabo-de-guerra com a pobre mulher, antes de solucionar o assunto com suas espadas? — Não brigamos por mulheres, kerima. — Oh, me perdoe! Continuo esquecendo quão insignificantes somos. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Os guerreiros têm suficientes motivos para brigar sem ter que acrescentar... — Esqueça isso Challen -interrompeu friamente, embora não estivesse certeza do porque suas palavras a aborreciam tanto - As explicações não vão melhorar essa afirmação. Mesmo os Kystrani não desejam compartilhar sexo com um parceiro diferente a cada dia, ainda que por vezes, briguem por uma mulher ou homem, se formos a isso. Não até a morte, pois iria contra as leis de apreciação da vida, mas solucionamos nossos problemas, portanto, te parabenizo por ter superado uma emoção básica como o ciúme. Pouquíssimas culturas podem dizer o mesmo. Caso esperasse que ele retrucasse e assegurasse que errou, se decepcionou. Ele não disse nada mais, assim ela tampouco o fez. Em troca, ruminou esta incomum revelação. Por isso tinha observado até então, que poderia ser que aos bárbaros carecessem muitas das emoções que produziam mais frustrações às espécies humanóides do universo, tais como ira, ciúmes, desilusão ou exasperação, e se esse fosse o caso, também poderiam carecer de algumas das melhores e mais agradáveis.como o amor. Teriam descido para viver ao nível dos animais, onde só contava o instinto de conservação, a procriação e nada mais? Mas eles possuíam humor, uma emoção puramente humana. Aferrou-se a esse pensamento. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 19 Tedra se animou um pouco quando dobraram a esquina e ali, ao final da rua, viu o castelo branco. Estava rodeado de altos muros da mesma pedra branca com um imenso arco de acesso, que se estendia em todo o tamanho da rua e cujas portas estavam abertas ao público nesse momento. Era uma oportunidade que não podia desperdiçar, já que não sabia quando teria outra. — Por que não paramos aqui e apresentamos nossos receios a seu shadon antes de me levar a sua casa? Eu adoraria conhecê-lo. — Para que? A pergunta era mera formalidade, considerando que ambos sabiam que ele já conhecia a resposta. Assim não considerou necessários detalhes, só devia tranquiliza-lo. — Prometo que não mencionarei uma palavra sobre minhas procedências, negociações comerciais ou benefícios mútuos. Só desejo conhecê-lo. — Sua promessa é tão confiável como sua honra no combate? — Exatamente igual. -replicou, indignada. Incomodava imaginar que duvidasse de sua integridade. Até juro ser uma modelo de feminilidade do Kan-is-Tran, obediente ao pé da letra. — Muito divertido. –replicou. Ele devia pensar isso mesmo, porque estava rindo enquanto passava pelo grande arco de entrada. Tedra não deu importância, pois focava todo seu interesse no movimento que se desenvolvia no amplo pátio murado, no que rodeava o castelo e em seu primeiro olhar a ele. Na verdade, era um verdadeiro conglomerado de edifícios, únicos em seu estilo, com casas ou edifícios de formas diferentes, um em cima de outro, com torres quadradas ou cilíndricas, separando ou flanqueando, ou simplesmente espaços abertos CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro entre o que poderiam ser terraços ou pátios altos. O castelo subia quase como uma pirâmide, com a torre mais alta de teto cônico em seu centro. Diante do castelo havia um longo edifício retangular de frente para a entrada, com teto plano e iluminado, aparentando antigas fortalezas. Em toda a distância deste edifício se estendiam seis degraus, que podia subir de qualquer ponto, mas conduziam a uma única entrada, com portas duplas feitas de, se não estava enganada, de aço toreno. Certamente tinha mais acessos de entrada ao interior de uma estrutura de semelhante tamanho, mas Tedra não podia vê-las. As portas estavam fechadas e havia dois guerreiros em posição de sentido, um cada lado e para ali se dirigiu Challen. Mas as demais pessoas, que circulavam pelos arredores e que tinham passado pela grande porta de acesso ao castelo, já se foram em hataaris ou conduzindo veículos puxados por grandes bestas de carga levando mantimentos ou mercadorias, se dirigiam para as laterais, indo à parte posterior do castelo. No pátio dianteiro ficava um estábulo, com uma grande superfície cercada e sombreada, onde se encontravam uma dúzia de hataaris sem carga, se alimentando em enormes manjedouras. Tendra acreditou reconhecer alguns deles... ao menos o do Tamiron, mas não pôde mencionar isso ao ser surpreendida pela presença súbita de um homem pequeno, que cruzava o pátio rapidamente para ir recebê-los, na realidade não era tão pequeno, embora jamais pudesse passar por um guerreiro. Tampouco usava roupa de couro como um guerreiro, e sim, um fino tecido branco tanto nas calças como na camisa, que parecia frescae cômoda, mas que, no tudo, era absolutamente comum. Não podia ser outro senão um homem Darash, da classe de servos que tinha mencionado Challen e alguém que, a julgar, pela aparência, trabalhava no estábulo, já que vinha em busca do hataar. Não falou, mas tampouco se comportou de modo servil. Challen recebeu uma saudação com a cabeça e um sorriso de sua parte, Tendra nem sequer recebeu um olhar fugaz de CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro curiosidade devido a suas pernas e pés nus. Foi tão estranho que teve que perguntar a Challen. — Não se interessa pelas mulheres? — Pelas mulheres Darash, sim! -respondeu o guerreiro tranquilamente- Mas, todas as demais estão proibidas. — Assim nem se incomoda olhar. Inteligente de sua parte, eu suponho, mas é a recíproca? Às mulheres Darash estão proibidas aos guerreiros? -sorriu sem demonstrar arrependimento. — Não. — Era de se esperar. -comentou, desgostosa. Enquanto observava o criado retornar ao estábulo, voltou a notar os hataaris.- Me diga uma coisa, Challen. Tinha que vir aqui de qualquer jeito, não é? Era necessário ou algo assim? — Era necessário que eu viesse aqui, sim. — Não poderia ter dito isso simplesmente? — Você parece preferir fazer barganhas, kerima. — Abusado, bem como um idiota. -resmungou. Ele soltou uma gargalhada ao ouvi-la, enquanto soltava seus braços e a levava escada acima. Nenhum dos dois guerreiros sentinelas, se moveu para abrir as portas, mas não foi necessário, já que uma das partes abriu antes que chegassem a elas. Eles deviam conhecer Challen, pois não perguntaram o que queria ali. Não disseram nada, mas como o servo, o saudaram com uma inclinação de cabeça e um sorriso. Diferente do servo, a comeram com os olhos, até passarem pela porta, o que a fez sentir como se as coisas voltassem ao normal. Então sua mente ficou completamente em branco ao dar o primeiro CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro olhar ao interior do castelo. Castelo? Talvez parecesse um castelo do exterior, mas dentro se parecia muito mais a um maldito palácio. Um vasto hall de entrada, de teto trabalhado e muito alto, que era tão luminoso e bem ventilado como o exterior. Um tapete azul ao redor de quatro metros de largura se estendia com no centro do ambiente, em ambos os lados, pisos brilhantes como de mármore branco. Paredes que não pareciam paredes e sim grandes arcadas abertas, se viam em ambos os lados deste vestíbulo, deixando aparecer outros ambientes mais longe com compridos balcões sem respaldo, mesas baixas, pequenas árvores tolhidas de flores, em grandes urnas e altas janelas abertas, que explicavam o frescor e a luminosidade do ambiente. Supôs que eram lugares para comer ou para reuniões, mas havia razão para que estivessem divididos? Segregação de classes... ou de sexos? Estava para perguntar a Challen quando viu que o homem que tinha aberto a porta estava saudando-os. Tinha a estatura de um guerreiro e também a vestimenta, mas era muito maior que qualquer um já visto até então. Parecia notavelmente com Challen e era incrivelmente tão alto como ele; o mesmo queixo agressivo, o mesmo nariz forte e os olhos tão escuros como os de seu guerreiro. Tão escuros que ainda não sabia bem se eram café ou negros. Só o cabelo era diferente, mais curto e de um tom castanho, não dourado como os de Challen. — Tudo esteve tranquilo? -perguntou Challen ao ancião. — Tão tranquilo como pode ser possível com tantas mulheres sob o mesmo teto, entretanto nos traz outra mais. -a expressão do velho guerreiro era de absoluta reprovação- Será melhor que me encarregue de... — Sei, Lowden, sei... -interrompeu com um suspiro- Nos encarregaremos disso quando tivermos tempo para tais assuntos, mas esta mulher é especial e não a tratará como às demais. É uma perdedora de um desafio. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Uma... -foi tudo o que pôde dizer Lowden antes de se desmanchar em risadas. Uma cópia exata da reação jocosa de Tamiron, que Tedra teria que engolir. Ficou firme, golpeando um pé no chão, e se perguntando com que força poderia golpear com as mãos amarradas se as usasse como um pau. Só a ideia de que este sujeito pudesse pensar que era um presente para o shodan fazia ferver o seu sangue, e seu guerreiro sorridente e divertido não havia dito nada em contrário, salvo que deviam tratá-la de maneira diferente. Se ele se atreveria... — Estou muito cansada de ser o motivo desta piada singular! — Eles riem de mim, mulher, não de você! -disse Challen antes que ela pudesse gritar- Para ser uma perdedora de um desafio, eu tinha que ter aceitado a provocação. Isso é o que os diverte, que eu tenha aceitado. — Bem, isso era melhor. -pensou ela e foi fácil aceitar. — Que alternativa teria depois que te fiz voar pelo ar? -ela perguntou. Lowden deixou de rir abruptamente, mas Challen continuou falando depois de ver sua expressão de incredulidade. — Melhor... é melhor que explique... -parou. Challen não pôde continuar, mas ela compreendeu o que queria dizer. — Acredito que ele quer que eu admita que o peguei de surpresa. - contou ao guerreiro de mais idade, e logo baixou o tom até sussurrar misteriosamente- Claro que só um bobo poderia pegá-lo desprevenido com essa jogada em particular. — Mulher! -o grito saiu da boca de ambos, embora só Lowden parecia realmente indignado pelo que havia dito. Os olhos de Challen seguiam sorridentes e como ele era o único que a preocupava, olhou com os olhos bem abertos. — Eu disse algo errado? –perguntou e ele tratou de se mostrar severo, e pareceu seriamente. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Sabe perfeitamente o que insinuou. O que aconteceu com o respeito que me prometeu? — Estará presente quando você... Estrelas! -ofegou- Ele não é seu shodan, ou sim? -voltou seus olhos arregalados a Lowden que parecia até mais indignado. — Eu? -soprou Lowden- Mulher, é a habilidade do shodan a que menospreza. — Veja como parece isso quando estou falando de... -fez uma pausa e girou em torno, entrecerrando apenas os olhos já a ponto de pular - Espero estar equivocada nisto, menino. Você não deixaria de me dizer que era o shodan, se realmente fosse o shodan, faria isso? — A questão era de pouca importância para nosso entendimento, kerima. -declarou com absoluta calma. — Não me chame de kerima, seu filho de um tubo quebrado! - desatando sua fúria incontida- Como ousou me enganar, quando sabia que eu tinha que negociar com o shodan e você sabia que procurava por ele? Que cinismo o teu! Até me fez prometer atuar com a maior formalidade possível para poder conhecê-lo! Bom, isso acabou, se por acaso não notou. De fato, maldito seja, deveria te desafiar outra vez! Ele permaneceu imóvel escutando seus insultos, mas quando Tedra fez uma pausa para respirar antes de seguir falando, tomou seus pulsos atados e se inclinou para passá-los sobre sua cabeça e pendurá-la em seu pescoço. Quando se endireitou, seu corpo estava imobilizado contra o dele, e sem nenhuma possibilidade de tirar os braços desse abraço forçado que lhe tinha imposto. Não era a posição ideal para escândalos e gritos, que era precisamente com o que ele tinha contado, e de fato, ela já tinha deixado de gritar. Apesar de tudo, não estava amedrontada nenhum pouco, por esta nova limitação. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Há algo que deveria saber, guerreiro. -comentou com absoluta serenidade ao olhá-lo sem expressão alguma no rosto- Quando lutamos antes não me aproveitei de certos golpes, porque pensei que você sendo um homem e eu uma mulher, não teria sido justo e nem decente. Ideia errada. Essa foi a única advertência que ele recebeu. O joelho da Tedrachegou de repente investindo entre suas pernas, liberando-a instantaneamente quando ele se dobrou em dois pela dor. Lowden, ao ver isso, agarrou rapidamente seu braço, pensando que o tinha feito para escapar, mas como ela não tinha essa intenção e nem poderia ir a nenhuma parte se desejasse cumprir com a palavra empenhada, coisa que ainda queria fazer, se sentiu mais que irritada ao ser retida por outro guerreiro. Alguém a quem não devia qualquer obediência, e igual ao Challen, que tinha sido fácil surpreender antes que soubesse tudo o que ela podia fazer, seria o mesmo com este Lowden. Com uma rápida contorção do corpo bateu um pé atrás do joelho do guerreiro, que dobrou, fazendo-o perder o equilíbrio, e foi o suficiente para fazê-lo se inclinar para ela. O braço que ele tinha agarrado serviu para que ela o empurrasse até cair ao chão. Caiu, mas se levantou imediatamente e ficou instantaneamente diante dela outra vez. Poderia ser velho, mas ainda era um guerreiro, alto e fornido como Challen, e a expressão em seu rosto dizia bem às claras que gostaria que ela tentasse outra vez, mas não era tão estúpida. — Diga a ele que retroceda, Challen. Não vou a nenhum lugar e jamais chuto um homem quando está no chão, assim não havia necessidade de me ameaçar. -Challen se levantou pela metade, mas a dor ,não tinha passado por completo. — Meu tio... não considerou... desse modo. — É por acaso minha culpa? -disse, ofendida- E a propósito, se tivesse te desafiado, eu diria que acabou de perder. -acompanhou o comentário com CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro um sorriso de satisfação- Se alegre de que só disse "deveria te desafiar" e deixemos assim. -ela disse. — A mulher merece um castigo! -falou Lowden, ao ver que Challen nada dizia. — Quem disse isso? -exigiu saber Tedra, girando em circulo e lançando chamas nos olhos cravados em Lowden- E, de todo o modo, de onde vem toda sua maldita intromissão? Isto é entre o guerreiro e eu. O guerreiro que recebeu exatamente o que merecia pelo mau comportamento de me usar e não dizer quem realmente é. — Mulher... — Esquece, tio Lowden -interrompeu bruscamente- Neste caso o castigo é inapropriado e não o aceitarei, assim guarde suas sugestões, faça o favor, e só ele pode me chamar impunemente de mulher, mas para você sou Tedra do Arr. Challen se interpôs entre ambos nesse momento já bastante recuperado para tomar o controle da situação. — Deixe-a em paz, Lowden. A mulher considera ter razões de sobra para estar furiosa comigo e em parte é assim. Não me interessava discutir com ela o que devia conversar com o shodan, assim não disse que eu era quem procurava. Não foi, precisamente, uma atitude que corresponde a um verdadeiro shodan, a não ser a de um guerreiro muito mais interessado em outras coisas. -o olhar que depositou em Tedra nesse momento, fez desnecessário que alguém perguntasse "em outras coisas?"- Eu admito o meu erro, mulher. Sua honra fica satisfeita com isso? Se não tivesse usado a palavra "honra", ela teria respondido toscamente que não, mas essencialmente estava exigindo brilhantemente seu próprio sentido de jogo limpo, assim que outra coisa podia fazer a não ser assentir? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Quanto a erros, suponho que um anula o outro, enquanto eu não ouvir mais falar de punição. — Por isso não receberá nenhum. -assegurou- Se no futuro merecer ser castigada... — Entendo perfeitamente! -mordeu as palavras. O aviso desnecessário voltou a enfurecê-la e a levou a responder:- E quando meu serviço terminar, eu encontrarei outro shodan, a quem contarei minha história, assim você não terá que se preocupar mais que eu volte a te importunar com discussões que não o interessam. De qualquer forma, é bastante liberal para satisfazer minhas necessidades. — Como quiser. -respondeu, mas ela teve a sensação de que ele tinha um ponto vulnerável. Ela só queria que ele demonstrasse! CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 20 O caminho que seguiram para ir ao quarto foi direto. Subiram por uma majestosa escada e dobraram logo à direita para cruzar outro amplíssimo vestíbulo, em cujo centro também havia um entupido tapete azul; e ali estavam as portas, duas portas realmente gigantescas de madeira esculpida, que só a força de um guerreiro poderia abrir conforme suspeitava Tedra com certa inquietação. Seu guerreiro não teve nenhum problema para fazê-lo e de repente se encontrou no meio do quarto. Também descobriu imediatamente qual tinha sido a razão para que o guerreiro mais velho, Lowden, tinha acompanhado eles até ali. — Agora deverá se desculpar com meu tio! -ordenou Challen em um tom que não admitia réplica. -ela quase se pôs a rir. Não o fez, mas sim sorriu. Era absolutamente impossível que não tivesse visto o enorme leito ao entrar no quarto, antecipadamente, sabia perfeitamente onde se encontrava e que ele tinha a intenção de aproveitar desse fato. — O que acontece, menino? Acredita que esse pedido não teria dado certo fora deste quarto? — Essa idéia passou por minha cabeça, kerima. Agora cumpra o que te ordenei. — Claro. -encolheu os ombros- Por que não? -e sem razão, olhando o rosto carrancudo e pétreo do Lowden, sorriu com descaramento- Lamento muito ter te derrubado no chão, Lowdy, e peço desculpas por qualquer outra falta de respeito que considere que eu tenha tido com você. Coisas assim costumam acontecer, entretanto, quando algum homem que não conheço põe as mãos em cima de mim. — Acaso é isto uma desculpa, Challen? -inquiriu Lowden ainda indignado. Challen suspirou. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Ao seu modo, sim. Ela é diferente, não é de Kan-is-Tran e nem sequer de algum país que conheçamos. Isto se deve ter em conta quando tratarem com ela, de outro modo algum guerreiro poderia perder facilmente o controle. — Se te mortifica tanto minha presença, guerreiro, por que não dá por terminado meu serviço e me deixa seguir meu caminho? -sugeriu Tedra. — Sua presença não me mortifica absolutamente, já que conto com sua completa obediência, não é assim? -ela esteve em um triz de se deixar enganar por uma palavra como "completa". — Neste quarto, sim. — É assim o serviço que lhe impôs por derrotá-la no desafio? - exclamou Lowden. Por algum motivo este conhecimento pareceu animá-lo. Até sufocou a risada- Devia ter esclarecido isso antes, shodan. Nesse caso só você está encarregado de sua conduta. — Por que se diverte tanto? -quis saber Tedra. Challen também riu, uma vez que compreendeu por que Lowden se mostrou tão zangado e descontente. — Pensou que ficaria cairia seu comando. Como verá todas as mulheres desta casa estão sob seu comando. — Comando? — É o encarregado de que se comportem de acordo com as normas estabelecidas. — Ah... o portador do chicote. É isso o que significa, tio? -ambos a olharam com estranheza ao ouvi-la. Ela pensou que era pelo tom irônico que tinha usado, mas a pergunta de Challen a tirou de dúvidas. — Como é que desconhece a palavra "tio"? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Tinha aprendido a palavra, mas não precisamente seu significado, já que não temos nada com o que compará-la em Kystran. É como os mantimentos e os animais que comentei antes. Sei a maioria das palavras, mas até que posso vê-las unidas a algo concreto, não sei a que conectar. - Challen ainda seguia abismado com a primeira revelação. — Não têm tios? Então, como chamam o irmão de seu pai? -—O que de mi... espere um minuto. Estão falando de parentes? — Sim, claro; família, parentes, linhagem. — Não tem que explicar tanto. Já fiz a conexão e não me olhe como se eu tivesse que reconhecer imediatamente.Já tinha dito isso, e não temos nada parecido em Kystran... ao menos não em séculos. Lembro agora que era um assunto que aparecia em uma das poucas lições de história que todos devíamos estudar. Nenhum dos dois homens pareceu ter entendido uma só palavra dita por ela, e Lowden confirmou. — Irei agora, shodan. Esta mulher faz doer minha cabeça ao tentar compreender o que diz. -assim que a porta se fechou as costas de Lowden, Tedra exclamou com desgosto. — Sei falar Sha-Ka’ani com perfeição. Como não entendeu o que tenho dito? — Ele não teve a oportunidade que tive em decifrar suas palavras abreviadas, mas o que você acabou de dizer ainda não faz sentido, mulher. As pessoas não podem sobreviver sem a família.. — Claro que podem. Conseguimos isso muito bem. É apenas mais uma das muitas diferenças entre nossos planetas, diferenças que sei que não te interessa ouvir, portanto não vou aborrecê-lo com uma explicação. Detalhes como estes, podem esperar ao shodan com quem finalmente conseguirei negociar, se estiver interessado. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Teve que afastar o olhar do rosto congestionado de Challen para não soltar uma gargalhada. Falando de vinganças sutis, ele morria por perguntar mais a fundo, mas não faria, não depois de ter admitido diante de seu tio Lowden que tinha evitado deliberadamente tratar esses temas com ela. Um tio, que idéia descabelada. Challen também devia ter verdadeiros pais, ou sim tinha, talvez até irmãos e irmãs. Devia ter se dado conta muito antes. Era uma cultura realmente primitiva e nesse momento quereria fazer algumas perguntas, mas tendo mudado o assunto da maneira que tinha feito, pouco podia perguntar. Ela não permitiu que a oportunidade perdida a incomodasse e se ocupou de examinar atentamente seu novo dormitório. Ela ficou mais do que impressionada. O tamanho do aposento quase a fez babar. Esta única câmara que o shodan usava somente para dormir, era o dobro do tamanho de toda sua nova casa em Kystran. Claro que aqui não existiam as paredes móveis, dividindo e formando quartos individuais para distintas necessidades, só tinha o que se via e a agradava muito tudo o que via. Como os grandes salões de reuniões lá embaixo, este também era excessivamente luminoso e arejado, com altas janelas arrematadas em arco numa parede larga. Transparentes cortinas brancas penduradas em todas as aberturas se agitavam com a brisa suave e pareciam se confundir com as nervuras brancas e chapeadas das paredes e pisos, era de um material semelhante ao mármore. Havia mais tapetes azuis em algumas partes, debaixo e ao redor da cama gigantesca. Outra peça caprichosa de mais de três metros de diâmetro e com desenhos brancos sobre a superfície azul, estava exatamente no centro do quarto, como um adorno, e não tinha nada em cima. Contra outra das paredes havia numerosas arcas da mesma madeira escura, cada um de aproximadamente um metro e meio de comprimento e mais de meio metro de altura, com as tampas acolchoadas no mesmo tecido branco dos divãs, o que os convertia em possíveis assentos. Era notória a CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro ausência de cadeiras, mas havia mais desses divãs sem apoio de aspecto tão tentador, colocados diante de duas janelas abertas com algumas mesinhas ao redor. Algo chamou firmemente sua atenção e o considerou o mais impactante e encantador para seu gosto. Era uma árvore de três metros de altura que se encontrava em um jardim, entre a parede com janelas e o balcão, talhado de folhas de um verde intenso, embora bem contido em uma formosa urna negra de louça envidraçada. Alguns vasos menores estavam colocados junto à árvore, enchendo esse jardim de folhagens de diferentes alturas e diante de tudo isto, havia um lago fundo de mais ou menos dois metros e meio de diâmetro com brilhantes flores vermelhas flutuando na superfície. — Um lago no quarto? -ela se virou para localizar Challen e o descobriu onde ela o tinha deixado, perto da porta e sem fazer outra coisa a não ser observá-la- Não é muito pequeno? — É para se banhar, não para nadar. — Ah, é verdade. -voltou a olhar novamente a água antes que ele visse sua careta. Esqueceu que precisava de um banho decente, não se banhava há algum tempo. Sua risada estava perto e se aproximava cada vez mais, indicando que ele logo estaria às suas costas. — Meu banheiro é uma das coisas das que não poderá se queixar, kerima. -comentou, interpretando mal a observação- Agora, vejamos, qual prefere experimentar primeiro, o banho... ou a cama? — Optaria pela cama se é que essa pausa tem algum significado, mas está realmente em condições de me ajudar a provar a cama... depois do que te fiz? -voltou a cabeça e viu seu sorriso pesaroso. — Talvez não. -ele disse. Ela sentiu a culpa, mas rapidamente a afastou. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Então, esperarei para prová-la. Temo que me perderia se a provasse sozinha, de tão grande que é. -o objeto tinha uns três metros de comprimento por outros tantos de largura, e coberta por uma suave colcha ondulante de cor azul que parecia poder tragá-la se deitasse no centro- Mas prefiro deixar de lado o banho, se não te incomodar. Preciso acalmar bastante meus nervos antes de estar pronta para experimentar essa novidade de seu mundo. Ao ouvir o que disse voltou seu bom humor. — É verdade que não é um meio normal para se banhar, mas não é tão profundo para infligir medo e foi preparado para minha chegada. — Não me preocupa a profundidade, embora suponha que devesse, mas não permita que te impeça de desfrutar dele. Eu... observarei. — Fará muito mais que isso, kerima! -ele disse, começando a rir, isso devia tê-la advertido- E o faremos juntos. -não tinha se prevenido quando tirou seu cinturão de corda, nem tampouco quando estava tirando sua manta de pele. — Certo, espere um... - dois braços poderosos a levantaram no ar e a levaram para o lago fundo antes que pudesse terminar de protestar- Me solte, Challen! Falo sério! Não quero... não! -se encontrou balançando diretamente acima da água, sustentada por mãos firmes e braços estendidos- Não te atreva...! -mas ele se atreveu e a soltou, simplesmente. Ela gritou durante a descida, mas o trajeto não foi tão longo. Ele tinha razão, o lago não era tão profundo, a água só chegava até os quadris. O chiado de terror logo se converteu em vários gritos de fúria, enquanto levantava os braços para não tocar a turbulenta água, que respingou pegajosa- Água... que horror! -Challen gargalhava, observando-a. — Se não soubesse a verdade, mulher, juraria que você não gosta de água. Não está suficientemente quente para seu gosto? -notou no momento em que ele mencionou, calor, um calor que se aderia a cada centímetro de CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro pele que tocava, rodeando e penetrando nos poros. Não era tão terrível como tinha imaginado, de certo modo era como estar dentro de uma tina cheia de gel fluido ou de ar denso, mas mesmo assim levaria tempo para se acostumar. — Imagino que esta na temperatura certa? -inquiriu finalmente levantando os olhos para ele. — Assim suponho... Preferiria um banho frio? — Preferia um banho de raio solar, mas isso não vem ao caso, já que não é provável que possa tomar um aqui. Minha pergunta foi válida, guerreiro. Quente ou frio, qual é a norma? -ele não respondeu. Começou a tirar seu cinturão de onde pendia a espada sem responder ainda. Finalmente, Tedra recebeu a mensagem, ela o tinha deixado irritado de algum jeito e acreditou conhecer o motivo. — Notará, guerreiro, que aparecerão coisas como esta, uma ou outra vez, durante o tempo que passaremos juntos. Muitas vezes pensará que tento te provocar ou incomodar,mas não estarei fazendo isso. Quando uma pessoa nunca antes esteve na água, mas a outra sim, é até natural que pergunte sobre a temperatura e coisas por... — Já basta, mulher. Você não tem um corpo que nunca conheceu a água. Crê que não poderia cheirar a diferença? –ela quase se engasgou, mas riu de boa vontade. — De algum jeito, antes de partir de volta a meu planeta, te levarei a minha nave e te colocarei dentro de um banho raio solar. Você não será tocado pela água, mas sairá mais limpo do que jamais esteve e só demora três segundos. Isso é tecnologia moderna, eficiente, rápida e cômoda. E pela expressão de seu rosto diria que pensa que acabo de te contar outra de minhas fabulosas mentiras. Está muito bem, menino. Cada um na sua. Não respondeu, mas estendeu a espada para os pulsos atados. Felizmente, o semblante mal humorado não a amedrontou porque sabia que CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro a espada procurava pela corda, não seu coração. Pôs os pulsos em uma posição conveniente, deslizou a parte inferior da corda ao longo da lamina e estava livre, sem nenhum obstáculo por fim, e tinha esperança de que fosse para sempre. Jogou a corda partida aos pés de Challen e esperou que se reunisse a ela. Se suas perguntas sobre o banho iriam incomodá-lo tanto, ela teria que esperar e ver, assim aprenderia como fazer sem ter que perguntar. Havia um tipo de banco, próximo e fora de vista que não tinha notado antes porque estava escondido no meio das plantas, assim como também vários menores em cada uma das extremidades. Perto tinha uma pilha alta de toalhas e Challen utilizou o banco do lado para sentar e tirar suas botas. Ele continuava olhando para ela e não para o que estava fazendo, mas sem deixar lugar a dúvidas, o mau humor foi desaparecendo de seu semblante. — Sente, kerima. -disse finalmente. — E me afogar? Se não se importa, não me incomodo de ficar de pé. — Atrás de você há um degrau para sentar. -disse isso com um grande suspiro. — Estou certa que é um degrau muito agradável! - falou, jogando uma olhada por cima do ombro- mas permanecerei de pé. Deixou escapar um som que ela poderia jurar ter sido causado pela irritação e logo seus braços escorregaram por suas pernas a derrubando sentada no chão. Imediatamente Tedra começou a sentir muito mais calor do que o que proporcionava a água, mais parecido ao verdadeiro ardor ao observá-lo apoiar a mão nas bordas do lago para entrar na água, mas então a água se equilibrou sobre ela distraindo-a ao bater contra seu estômago. Entretanto, no segundo seguinte Challen estava diante dela e nesse momento não era só a água que estava tocando nela. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Bem, você poderia ter se encoberto com água. -disse Challen cobrindo seus seios com as mãos. Era uma mentira flagrada e não pôde deixar de ouvir um ruído de desaprovação bastante grosseiro. — Não me venha com essas. Pode ver através da água sem nenhum problema. — Não com tanta claridade como vejo agora, mas não me incomoda o convite, mulher. — Não estava...assim, era por isso que queria que me sentasse? Bem, por que não o disse? Posso ser mais condescendente se for por uma causa nobre, e estou segura de que esta é uma causa nobre... ou está se sentindo... melhor? As mãos enormes que estavam sobre os seios se deslizaram para as costas de Tedra atraindo-a contra seu enorme físico e viu o sorriso animado antes que a boca viril cobrisse seus lábios de uma maneira extremamente deliciosa. Seus próprios braços se elevaram e rodearam o pescoço grande e no correr das horas seguintes, descobriu que um banho primitivo tinha outros usos mais divertidos e deleitosos que o banho propriamente dito. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 21 Tedra girou sobre si mesma. Ela se encontrava enroscada entre as mantas no meio da cama imensa de Challen. Tinha estado plenamente segura de que se sentiria perdida nessa maldita coisa sem o seu enorme bárbaro a seu lado, e assim se sentia. Entretanto, não tinha se dado conta de que a roupa de cama trataria de lhe estrangular. Quando por fim conseguiu libertar um dos cotovelos, o suficiente para se levantar apenas e se apoiar sobre ele, lançou uma olhada a seu redor para ver o que a tinha despertado, esperando que fosse... mas não. Challen não tinha voltado. A tinha deixado ao amanhecer logo depois de uma doce despedida, mas obviamente tinha falado sério ao dizer que teria um dia muito agitado e que provavelmente não voltaria a vê-lo até a noite, ou com suas próprias palavras, até a saída da lua. No dia anterior não tinha atendido vários chamados de urgência que haviam feito, chamados de muito tempo. Em vez disso, tinha dedicado o resto do dia para fazê-la se sentir cômoda e bem vinda a sua casa, ou ao menos ao seu dormitório, mas nesse dia tinha voltado ao trabalho como de costume e se ela se sentisse abandonada, pior para ela. O que tinha atormentado seu sono era a jovem darash que tinha conhecido no dia anterior... bem, não conhecido no sentido estrito da palavra. Challen não se preocupou em fazer as apresentações formais quando a jovenzinha tinha levado a comida para eles na noite anterior, e a jovem não tinha feito nenhum comentário ao servi-la, simplesmente tinha saído da habitação quase que imediatamente. Um guerreiro a esperava junto da porta aberta e a tinha fechado às suas costas. Tedra recordou as suspeitas que a tinham assaltado ao ver esse guerreiro que abria e fechava a porta, ela se levantou imediatamente para experimentar abrir a porta por si mesmo. Ela podia abri-la, tinha descoberto com supremo alívio, não com facilidade porque era realmente pesada, mas podia abrir. Tinham-na aberto CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro e fechado para a faxineira simplesmente porque a jovem levava as mãos ocupadas com a enorme bandeja da comida. Nesses momentos também carregava uma bandeja, muito menor desta vez e fechou a porta do dormitório detrás dela dessa vez. Tedra a observou enquanto depositava a bandeja sobre a grande mesa quadrada rodeada de divãs baixos onde tinham comido a noite anterior. Isso sim que tinha sido um quadro decadente. Deitados nesses divãs, com as cabeças frente a frente em uma das pontas da mesa, ela sobre seu ventre num deles e Challen de lado em outro, comendo com os dedos, mas não com seus próprios dedos. O bárbaro tinha que alimentá-la com o ele queria e devido ao lugar onde se encontravam, ela não podia se negar e nem morder seus dedos. Também insistiu em que o alimentasse e depois de um tempo deixou de se importar que ele chupasse seus dedos ao levar os pedaços à boca. As carícias ficaram tão eróticas que interromperam a comida durante uma hora e tiveram que terminar de comê-la fria. Tedra não deixou que ele pedisse outros pratos quentes, pois desta forma, seria fácil de adivinhar por que esfriou o que tinham servido. Aceitava o fato que todos pudessem conhecer o que estava fazendo no dormitório de Challen, mas não queria que pensassem que era tão insaciável que nem sequer podia esperar terminar uma maldita comida... sendo verdade ou não. A moça não saiu imediatamente como tinha feito na noite anterior. Aproximou-se da cama, sorridente, olhando nos seus olhos, em uma atitude que não podia parecer servil. Num degrau acima que os servos do tipo feudal, mas sem serem verdadeiramente livres, os darashas tinham uma relação muito particular com a classe governante. Eram simplesmente serventes, sujeitos a certas regras como estavam as mulheres deste mundo, mas aparentemente não sentiam desgosto pela sorte que lhes eram impostas. Vinda de um mundo carente de serventes, já que os robôs cumpriam essas funções, Tedra compreendeu que levariatempo para se acostumar a eles, acostumar a ser servida por um ser vivo, uma pessoa como ela mesma. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Esta pessoa de carne e osso parecia alguns anos mais jovem que Tedra. Uma garota bastante bonita de olhos e cabelo cor café. Essa coloração foi a única coisa que encontrou para compará-la com as mulheres que tinha visto nas ruas no dia anterior. A tez desta jovem era escura, não dourada, e como do homem darash do estábulo, era muito menor que os cidadãos deste mundo, provavelmente não media mais de um metro cinquenta e cinco, se chegasse a isso. — Desejaria a ama um banho depois de comer? -Tedra jogou uma olhada ao pequeno lago vazio essa manhã. Estes bárbaros, sem dúvida nenhuma, tinham encanamento completo, por amor às estrelas! Com água corrente fria e quente e esgoto, o que demonstrava que esta civilização não era tão primitiva como parecia à primeira vista. Pouco a pouco ia descobrindo, que os Sha-Ka’ari e os Sha-Ka'ani, mostravam muitas inovações em alguns aspectos de sua vida e arcaicos em outros, especialmente o fato de acreditar em velhas crenças e costumes. — Não, nada de banho, obrigada. Não gozaria dele sem a grata companhia de meu bárbaro que sabe como torná-lo prazeroso. — Posso, então, escolher um chauri para a ama? -Tedra franziu o sobrecenho por ouvir falar desta forma pela segunda vez. — Olhe, não é uma escrava e eu não sou sua ama, assim por que não me chama de Tedra? — Isso seria desrespeitoso de minha parte. — São todos seus amos e suas amas? — Sim, ama. — E isso não te incomoda? — Por que motivo teria de me incomodar? Tedra soltou um comprido suspiro. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Bem, esta conversa foi um agradável passeio em círculos. Agora, o que aconteceria se te ordenasse que me chamasse de Tedra? Faria efeito esse truque? — Truque? — Uma ordem, sortiria efeito? Ou por estas lareiras não contam para nada os desejos de uma perdedora de desafio? — Perdedora de desafio? A ama está brincando comigo? — Oh, sim... eu sou uma grande brincalhona! -disse com ironia. Considerou que não valia a pena receber semelhante ofensa por querer ouvir seu nome dos lábios desta moça- Pode ir buscar algo para me vestir enquanto luto para sair dessas mantas malditas... quer dizer, caso se encarregar de minha roupa faça parte de seu trabalho. À moça custou a assentir com a cabeça, pois parecia que para ela era muito difícil conter a risada. Provavelmente era muito cômico ver uma mulher enrolada em uma manta como uma caixa para presente, e sem saber a maneira certa de como sair desse embrulho. Poderia ter comentado algo em relação ao quão conveniente era usar mantas de ar que se dobravam assim que alguém se levantava na cama e sem deixar nada que pudesse enrolar nos pés, mas falar das vantagens de seu mundo, das que teria que abrir mão por um tempo, só deixava ela mais ofendida. — Se me permite... A moça subiu e engatinhou sobre a enorme cama, encontrou a ponta da manta que estava debaixo do quadril da Tedra e a soltou em um puxão; logo foi tudo o resto da manta. Ela começou a ruborizar imediatamente ao lembrar sua nudez total, mas a moça não pareceu notar. Logo depois de ajudá-la a resolver seu problema mais imediato, abandonou a cama para se dedicar a segunda missão. Ao descer da cama se enfiou por uma porta que não tinha notado no dia anterior, possivelmente porque não tinha jeito de porta de nenhum tipo e estava quase escondida entre dois desses grandes e CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro largos espaços. Abriu com apenas um empurrão e revelou um quarto que Tedra queria bisbilhotar por si própria, se conseguisse encontrar o lençol perdido entre as mantas. Minutos mais tarde quando chegou ao quarto, enrolada no lençol azul celeste e arrastando uns quantos metros dele pelo chão, demorou uns segundos para entender que estava olhando para o interior de um antiquado guardarroupas? Algo que nunca tinha visto antes. O único conceito que ela tinha disso, eram os cabides mecânicos que saíam da parede com as roupas que gostava muito de vestir, e que ela tivesse marcado na parede. Jamais tinha pensado em perguntar onde guardavam sua roupa ou aonde iriam quando se trocava e como a recolhia para limpá-la. Esta era uma das coisas que estava descobrindo, divagou sentada em seu próprio mundo, se de roupeiros se tratava, teve a sensação de que este era muito maior que a maioria, exatamente como o dormitório ao que estava conjugado. Ao ver um grande espelho, uma larga prateleira coberta de frascos e potes e até um divã em um canto, soube que também se usava como closet. A visão de numerosos cofres e arcas, e uma parede toda com gavetas, algumas tão altas que nem Tedra podia alcançar, imaginou que também era usado como um lugar para guardar coisas. Havia roupa à vista, muita roupa pendurada com ganchos nas paredes, em cabides como braços estendidos que pareciam ramos de árvore cobrindo outros apetrechos, bastante ridículos e mantidos em posição vertical. Tudo estava disponível de tal forma que era visível à primeira vista, por isso não era necessária uma lista com avisos. Entre a grande variedade de roupa masculina, botas, cinturões com espadas pendurando, dúzias de adereços de braços, todos de zaalskin negro, e de tecidos realmente fantásticos e reluzentes, os poucos chauris existentes pareciam desconjurados coberto de alguns apetrechos. Reconheceu os trajes femininos como sendo aqueles a que tinha visto no dia anterior, cobrindo os corpos das mulheres nas ruas. Eram exatamente iguais, de tecido CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro semelhante à gaze, muito fino e transparente, dando a sensação de não ser outra coisa que grandes lenços quadrados com dobras e unidos uns nos outros. — Prepararam estes três para você, ama, mas se estas cores não lhe agradam, posso preparar outro. Há retalhos de tecido de uma infinita variedade de cores. A palavra "retalhos" devia ter advertido Tedra, mas quando se aproximou da moça que estava junto aos três trajes, não pensou que pudesse se surpreender tanto. Esses objetos, em realidade, não eram outra coisa a não ser lenços... "retalhos", como os tinham chamado a moça... um corpete solto com uma saia amarrada feita para pendurar ao redor do corpo. Para falar a verdade, eram um pouco mais complicados que isso, como descobriu Tedra ao tomar entre suas mãos a parte superior do branco. Essa espécie de túnica solta estava confeccionada com no total doze lenços, cujo comprimento chegava até uns centímetros abaixo da cintura. "Preparados" queria dizer que juntaram os lenços com diminutos nós nos lugares adequados, um nó de seis lenços para cada ombro. Individualmente, cada lenço era absolutamente transparente; drapeados um sobre outro, diminuía sua transparência, mas não muito, à exceção de em cima dos seios onde se cruzavam formando uma capa a mais. A saia era outra história. Também consistia de doze lenços quadrados, mas neste caso perto de dez centímetros de um dos cantos de cada lenço estava costurada uma estreita aba elástica, um drapeado sobre outro até formar um círculo regular ao redor desta aba que se ajustava à cintura, deixando que os lenços ficassem parcialmente abertos. Nenhum destes lenços estava atado ou costurado de outra forma. Pendurados ao longo das pernas e suas pontas chegavam quase à altura dos tornozelos, deixando entre eles aberturas até a metade das panturrilhas e preparados para se separar e descobrir as canelas, os joelhos e parte das coxas ao primeiro sopro de vento rápido. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Havia também um cinturão do mesmo tecido para colocar ao redor dacintura sobre a túnica solta dando forma ao corpo e provavelmente também mantendo os lenços em seu lugar, cobrindo o que deviam cobrir. Nada poderia desagradar mais que o traje que acabava de examinar e devolver de novo a seu cabide. Só disse uma palavra à moça que esperava sua decisão, de qual escolheria para ficar. — Esquece. — Ama? — Não quero que me vejam nem morta dentro uma dessas coisas, garota... de qualquer maneira, como se chama? — Jalla, ama. Se estas cores... — Não são as cores, Jalla, embora nunca tenha sido aficionada às cores. É o tecido transparente que me incomoda, já que parece ter sido desenhado para ser tirado e não para ficar vestida. Deve ter alguma outra coisa que eu possa me vestir. — Mas... — Algo como o que você veste. -a túnica sem mangas e a saia branca eram exatamente iguais às que tinha visto o darash varão usar, embora ele usasse calças e Jalla uma saia larga até os tornozelos- Bem, isso sim que parece fresco e cômodo para usar e não me pareceria estar cobiçando por olhares para ver algo mais. — Mas isto não é um chauri. — E? — E que as damas e Kan-is-Tran só usam o chauri. Você só pode usar o chauri. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — E os servos não, evidentemente. -tampouco lhe escapou o fato de que Jalla havia incluído todo o país nessa afirmação, e não somente à cidade. — O que acontece se me negar? -ela questionou e Jalla realmente se alarmou para ouvir a pergunta. — Mas não pode. O shodan não permitiria. Tedra chiou os dentes. Não queria usar esse maldito chauri, mas tão pouco queria entrar em uma discussão com Challen quando tudo estava ido tão bem entre eles. Observou com melancolia toda a roupa do bárbaro que estava pendurada ao seu redor, mas soube que não se atreveria a tomar alguma emprestada, já que o primeiro guerreiro com que topasse, exigiria que a entregasse e não tinha nenhum interesse em voltar a passar por isso outra vez. — Maldito inferno! - quase gritou, mas apontou com o dedo- Esse. Tinha escolhido o verde claro, já que considerou que o branco e o azul eram cores simbólicas para o Shodann, se podia ver pelas cores predominantes no castelo, e nesse momento estava muito desgostosa para querer agradar usando suas cores. — De quem são estes chauris? -perguntou enquanto Jalla começava a ajudá-la a vestir e via com que facilidade essa túnica podia se enrolar sem remédio se não tomasse com cuidado. — Teus, ama. — Mas de quem eram antes? — Teus... — Esquece! -interrompeu Tedra, sua irritação tinha acabado com sua paciência. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Os trajes estavam ali antes que chegasse, assim não podiam ser dela e de verdade não tinha nenhum interesse em saber quem tinha compartilhado o guarda roupa com Challen antes que ela, mas ia dizer a ele o que pensava sobre usar o chauri de outra mulher. E quando viu a obra terminada, gemeu. Quando avistou sua imagem no espelho, gemeu mais forte. Era muito pior do que tinha imaginado. Compreendeu então por que pareciam tão suaves, tão tímidas, tão indefesas as mulheres que tinha visto nas ruas. Não podiam parecer de outra maneira nesses trajes. Tedra não se importava de mostrar um pouco de pele. Não era isso, sendo que tinha trajes grudados no corpo que mostravam muito mais, mas jamais tinha usado algo tão primoroso, tão descaradamente feminino, de uma aparência tão endemoniadamente delicada. Usando isso, se sentia estranha, desprotegida, vulnerável. — O shodan se sentirá feliz, ama! -comentou nervosamente Jalla. Não tinha deixado de notar os gemidos e grunhidos- Está muito bonita. — Pareço uma funcionária de clínica de sexo. -respondeu Tedra, com repugnância- Mas enquanto Martha não possa ser vestida assim, suponho que sobreviverei apesar de ser obrigada a vestir essa roupa. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 22 Tedra conseguiu se vingar por ser obrigada a usar o chauri e a vingança foi muito mais doce por ser inesperada. Jalla a levou para fazer uma excursão pelo castelo, depois de comer. Era, na verdade, muito interessante e até chegou a esquecer por um momento como estava vestida, especialmente quando começou a ver outras mulheres vestidas exatamente iguais e sem se sentirem envergonhadas por isso. Jalla a apresentou a várias delas, explicando quem elas eram e por que estavam ali. Essa manhã aprendeu muitas coisas sobre as mulheres da Sha-Ka'an, muito poucas que pudessem lhe agradar, mas não estava ali para mudar seu mundo, só para negociar e se pudesse, talvez, conseguir ajuda para seu mundo. Um dos salões que não devia se aproximar era onde Challen realizava seu trabalho, mas como tinha impedido de fazer sua vontade e ir lá "não devia"? Esgueirou-se pelo salão pela parte de traz, apesar dos protestos da Jalla que se negou totalmente a segui-la. Era um salão comprido e cavernoso, com as paredes e o piso de uma substância brilhante com aparência de mármore, neste caso azul celeste com nervuras escuras. Ali viu Challen, sentado atrás de uma mesa de escritório, parecia um funcionário do Governo. Esperando ver um trono ou pelo menos um estrado elevado com um montão de almofadas, esse escritório tão normal a surpreendeu muito, mas supôs que esta era só uma anormalidade mais de Sha-Ka'na, que o fazia tão diferente do que ela sabia da história de seus próprios antepassados. O salão estava lotado de homens, e cada sofá ocupado por dois ou três destes homens enormes. Provavelmente, estavam esperando sua vez para falar com o shodan, que nesse momento, estava conversando com um grupo de quatro homens que estavam de pé diante do escritório. Do lugar onde estava não podia ouvir nada do que diziam, e estava a ponto de sair novamente às escondidas do salão antes que se dessem conta CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro de que tinha entrado nesse domínio estritamente masculino, quando Challen a viu e se calou de repente. Tedra supôs que estava em dificuldades ao vê-lo ficou de pé, dar a volta ao redor do escritório e começar a percorrer o caminho em sua direção. Não se desculpou por deixar o escritório com tanta pressa, assim que as cabeças começaram a girar para ver o que era que o atraía e logo Tedra teve todos os olhares cravados nela. Queria sair antes que Challen chegasse, seriamente ansiava fazer isso, mas cheiraria a covardia, assim se manteve firme no lugar. Ser valente era doloroso algumas vezes; a mesmo ficaria com o orgulho recheado severamente. Tudo o que pôde fazer foi esperar que Challen não estivesse muito zangado com ela por invadir seus domínios. Mas quando ele foi se aproximando viu que o fogo que ardia em seus olhos não era devido à irritação. Se tranquilizou um pouco e até pareceu divertido, pois já conhecia muito esse olhar. O bárbaro estava ardendo de luxúria e de cobiça. Tedra esteve quase certa de que não só ela, mas também o chauri, este último em particular, tinham despertado seu apetite sexual. O fascinava vê-la nesse traje tão feminino e o excitava ao máximo, diziam seus olhos ao se aproximar. Quando chegou ao lado dela não disse nenhuma palavra, mas pegou-a nos braços e saiu do recinto. Uma vez fora do grande salão não parou, continuou levando-a em seus braços ao longo do corredor. — Aonde vamos? -perguntou Tedra com um sorriso perspicaz que ele nem teve a paciência de ver. — Aos meus aposentos. -foi tudo que disse. — Mas, para que eu iria querer ir lá? — Mulher... — Não, falo sério. Quer parar um minuto? -quando ele se deteve e a olhou, ela declarou- Não vejo por que devo ir a seus aposentos, Challen. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Eu sim. — Então, vá. Não vou te deter. -seu desejo estava sob controle,mas não tinha diminuído um pingo. — Virá comigo, kerima. -demandou em tom razoável. — Por que devo te obedecer? — Mulher, sabe muito bem por que. -ele disse em um tom menos razoável. Conteve a risada com muita dificuldade e conseguiu que seu semblante não a delatasse. — Talvez, mas deve olhar o meu ponto de vista, menino. Sua súbita necessidade de mim não é nada lisonjeira. Na realidade é insultante, já que sei perfeitamente bem que não fui eu quem despertou, e sim este maldito traje que sou forçada a usar. Se pudesse me vestir com minhas próprias roupas, se pudesse resgatar de minha nave, a propósito, se me devolvesse meu comunicador, não teria que estar abandonando seus assuntos para fazer sexo comigo. Em vez disso, com toda probabilidade teria gritado comigo, me ordenando que saísse do recinto em vez de sair você. Esperou um momento enquanto ele pensava sobre o que acabava de ouvir. Foi realmente cômico ver a expressão de exasperação e mortificação mescladas com desejo, mas ainda assim não riu. Isto era "vingança" de uma maneira verdadeiramente sutil e esplêndida, mas não queria arruiná-la, deixando que soubesse que estava se vingando. — E outra coisa mais... -continuou- é que estou conhecendo o castelo e desfrutando plenamente deste passeio para conhecê-lo, portanto seu desejo não me parece razoável em absoluto e exatamente agora. Tem me dito que tenho a opção de me negar a agradar seus desejos se não forem razoáveis, assim como também posso te negar meus serviços se não estamos no lugar onde dormimos. Vá, se agora for me dizer que já dormiu neste vestíbulo... CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Já chega, mulher! -interrompeu, sem fazer nada para ocultar sua indignação- Se eu te levar a meu quarto o assunto ficará solucionado. — Bem, sim, poderia fazer isso. -comentou fingindo surpresa antes de fechar a porta a essa opção- Mas se o que fizer, for considerada uma violação de nosso acordo, o que certamente é, isso me libertaria do compromisso que a mim concerne. Assim se deseja ter uma briga nas mãos cada vez que se aproximar de mim, vamos, me leve a força. Olhou-a durante uns segundos que pareceram intermináveis e subitamente ela soube sem ter a dúvidas que ele estava recordando a última vez que se amaram em um lugar que ele não dormia e como tinha admitido que não havia conseguido pensar com clareza depois de receber seu primeiro beijo. Tratou de se separar um pouco, mas Challen seguia segurando-a nos braços e não poderia se liberar dele até que ele desejasse soltá-la. — Pode tirar esses pensamentos de sua mente, guerreiro, neste mesmo momento. — Que pensamentos? — Sabe muito bem a que pensamentos me refiro. Agora mesmo quero constar que estou dizendo que não, assim se te aproveita de mim seguiria violando as regras. Ao ouvir isto Challen suspirou e a soltou dos braços. Ela voltou a se acalmar um pouco. — Ânimo, menino. Não faltam muitas horas para a saída da lua e então estarei precisamente onde quer que eu esteja. — Pensar nisso não me ajuda neste momento, kerima. -disse com tanta melancolia que Tedra quase mudou de opinião. O desejo tão imperioso de Challen fazia que também o desejasse com todo seu ser. Isto acabava sendo muito estranho já que muitos homens a tinham desejado sem que ela CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro correspondesse, mas não perderia a oportunidade de vingança por ser obrigada a usar esse odioso chauri. Teria que se encarregar de que ambos se ressarcissem mutuamente da perda do desfrute sexual que ela mesma impôs nesse momento. Agora que ele já não a tinha agarrada em seus braços, Tedra se aproximou um pouco mais e até se mostrou ousada passando o dedo pelo centro do peito, da base do enorme medalhão até a ponta do decote em V do colete, apenas por cima da borda dos bracs. — Deveria se alegrar que eu tenha te feito encontrar a razão, Challen. Não voltará ao recinto do escritório tão tarde, em que todos os homens ali reunidos soubessem a razão que te afastou de lá e te fez demorar tanto? Agora só pensarão que me tirou da sala para me repreender por ter entrado em um lugar proibido. — Nenhum dos guerreiros que me aguardam teria pensado que os deixei por qualquer outro motivo que não fosse precisamente esse, mulher, e menos depois de terem te visto por si mesmos, mas, está me dizendo que sabia de antemão que não devia entrar ali? Pensou que poderia mentir, especialmente depois de o ver como um homem que acabava de encontrar motivos para "vingança". Tedra deu um passo atrás com o sobrecenho franzido, mas tinha vacilado muito antes de responder, confirmando suas suspeitas. — Assim como atuou corretamente recordando ao guerreiro as regras que ele desejaria que tivesse esquecido, eu também farei o mesmo recordando as regras violadas. -Tedra ficou boquiaberta, logo fechou bruscamente a boca e chiou os dentes. — Se pensa em me castigar, Challen, será melhor que o faça agora mesmo. Não é minha culpa que tenha ficado excitado dessa maneira por causa deste maldito chauri que odeio usar! -ele riu ao ver que Tedra tinha ido às nuvens. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Pode pensar o que quiser, kerima, mas a roupa não foi o que me fez te desejar imediatamente. Todos os dias vejo mulheres vestidas como você, mas nenhuma me provocou uma necessidade tão imperiosa de a inundar com meu calor, ao menos nunca, como você. — Mas esse desejo premente despertou somente porque me viu embelezada como você julga apropriado, com a roupa que me obriga a usar. Admita, Challen. A culpa segue sendo do chauri. — Não posso negar que te encontro formosa e muito desejável na roupa das mulheres de Kan-is-Tran, mas não mais desejável e formosa que quando está desprovida de roupa. -suas bochechas ardiam, mas ele ainda não tinha terminado- Nem posso negar que ainda desejo que reconsidere a situação e venha comigo a meu quarto agora. — Se o fizesse, esqueceria o castigo que mereço por invadir seus domínios, certo? -perguntou no tempo que pensava secretamente que as palavras estavam carregadas de chantagem. — Não. -ele disse friamente. Não tinha esperado essa resposta. — Ao menos é sincero. -replicou a contra gosto- Mas além destas circunstâncias, compreenderá por que não estou com ânimo para reconsiderar nada. — Claro que sim. -assentiu com a cabeça e começou a retornar a grande sala. — Espere um momento. -Tedra puxou seu braço- Falei sério. Se for me castigar, faça agora. Não deixarei que arruíne o resto do dia me fazendo esperar por toda a tarde pelo famoso castigo. -ele levantou uma só sobrancelha dourada para ouvi-la. — Não acaba de dizer que não faltam muitas horas para a saída da lua? Me encarregarei de ti nesse momento, kerima, não antes. -Tedra o olhou com fúria mal contida, um olhar que não poderia inadivertir Challen, CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro antes de dar meia volta sobre seus pés descalços e se afastar a passos rápidos. Nesse momento descobriu que Jalla não estava em nenhum lugar, e que não a tinha esperado por medo de possivelmente receber algum castigo que pudesse receber- Mulher? — O que quer? -estalou girando em circulo com o mesmo olhar carregado de fúria. — Se eu tivesse te advertido que não entrasse na sala de petições, não teria desobedecido a um guerreiro, não é verdade? — Isso era discutível? Não. — Então não desobedeceu a um guerreiro, só a uma darash, uma falta insignificante que merece um corretivo leve. Não tem motivo para temer um corretivo desses. Depois de dizer isso, desapareceu no interior do salão proibido para as mulheres. Tinha feito quase uma promessa de que o castigo seria uma palmada na mão ou algo equivalente em Sha-Ka'ani. Ele não tinha porque dizer que, além disso, não queria que ela se preocupasse muito. Tedra sorriu e de repente se sentiu invadida por uma ternura tão grande por ele que lhe pareceu que explodiria o peito. Teve vontade de rir de puro prazer. Quis chamar Challen de novo a seu lado e dizer que, depois de tudo, tinha mudado de opinião. Entretanto, não fez nenhuma das duas coisas. Saboreou com alegria a inquietação que ele tinha demonstrado por ela e a paz de seu espírito, mas não perdeu de vista o fato de que, se não mostrasse seu desgosto pelas coisas deste mundo que a incomodavam seriamente, ao menos aquelas coisas que a afetavam diretamente, continuariam sem solução. Ele já sabia e o quanto ela odiava esse chauri e possivelmente faria uma exceção em seu caso e encontrariam um traje mais aceitável para seu gosto. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 23 Jalla não reapareceu mais, assim Tedra continuou seu passeio, sozinha por todo o castelo, mas logo se aborreceu sem a saborosa conversa da escrava explicando para que serviam os distintos salões, e quem era quem, das pessoas que cruzavam em seu caminho. Ficaram poucas alternativas interessantes para completar o resto do dia: Ou retornava ao quarto de Challen e não fazia absolutamente nada, ou retornava para um amplo salão que tinha passado um momento antes e que parecia ser o lugar de reunião de mulheres, ao menos as livres. As órfãs, as viúvas jovens e quão velhas tinham sobrevivido a seus filhos e maridos, tudo sob o amparo do Shodann nesses momentos, sentavam-se ali para conversar e fazer intrigas, enquanto costuravam tecidos com fios e agulhas. Tedra não podia se imaginar fazendo o mesmo que elas, especialmente depois do frio recebimento que lhe tinham dispensado as mulheres livres, algumas das quais a tinham tratado com verdadeira frieza de gelo durante as apresentações. E nunca a atraiu a ideia de cruzar as mãos e não fazer nada, assim não foi a nenhum desses lugares. Tinha visto todo o castelo, agora veria a cidade. Foi mais fácil tomar essa decisão que concluí-la, mas logo depois de explorar um pouco mais, encontrou por fim um salão na parte baixa do castelo, sem ninguém por perto e com algumas janelas convenientemente abertas, pelas quais poderia sair para o lado de fora. O seguinte passo a saltar era a porta, mas como tinha saído do castelo por um salão que estava na parte de traz, rapidamente descobriu outra porta, que não era nem tão larga nem tinha tanto movimento de gente e veículos. Ali era onde se efetuavam as entregas de mercadorias e por onde só os darashas passavam. Os homens se empenharam em não notar sua presença e as mulheres a olharam com certa curiosidade, nada mais. Sem perda de tempo, cruzou o extenso pátio traseiro e saiu rapidamente pela porta aberta. Não demorou muito para perceber que teria CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro sido muito melhor se seu traje incluísse algum tipo de calçado, mas nem passou pela sua cabeça voltar ao castelo. Se não a tinham detido ao saber que estava fazendo algo proibido, menos o fariam com os pés doloridos. Fora da porta encontrou uma espécie de mercado. Aparentemente era uma rua de mercados e cada um exibia quase a metade de seus produtos para a venda diante de sua loja, em mesas e carretas, em cestas ou no que tivesse mais à mão, ou ainda simplesmente estendidas sobre mantas nas calçadas. Certamente que havia mais para ver no interior das lojas, provavelmente as mercadorias de maior valor, mas passando o olhar pelos arredores pôde observar que ofereciam uma considerável variedade de mercadorias, desde mantimentos e panos até joias e armas. Outra vez sentiu um grande alívio ao ver que ali a maioria das pessoas pertencia ao grupo darash, que se dedicavam tanto à venda como à compra, mas também chamava atenção a presença de algumas mulheres livres, com suas capas de brilhantes cores, atadas ao pescoço e jogadas com descuido sobre os ombros, que passavam indiferentemente de uma loja a outra. Se ela tivesse uma capa a teria usado para se cobrir completamente, mas como o chauri era um símbolo de liberdade, essas mulheres o deixavam claramente à vista mais por orgulho do que nada. De que liberdade se falava quando todas tinham um ou dois guerreiros as acompanhando? Contudo, o fato de carecer de um acompanhante não teria que ser nenhum problema para ela, enquanto permanecesse bastante perto de uma mulher que sim o tivesse, já que quem podia dizer que o acompanhante dessa mulher não era também o seu? Escolheu um parceiro e foi com eles. Até teve que fazer que o guerreiro que ia com a mulher não soubesse que não acompanhava ela também, por isso tomou as precauções necessárias para se manter sempre às suas costas e não se deixar notar por ele sem por isso deixar de ver tudo o que queria na praça do mercado. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Este passeio durou uns miseráveis cinco minutos até que uma mãozona caísse sobre seu ombro e a fizesse virar. Nesse mesmo instante e até antes de levantar a vista e ver dois formidáveis guerreiros, soube que sua excursão pelo mercado tinha chegado ao fim. Um dos guerreiros sorria, mas o outro demonstrava claramente sua desaprovação. Ambos totalmente desconhecidos, mas eram típicos gigantes, embora não do físico de Challen... mas mesmo assim muito maiores que ela. Ela considerou que ainda poderia vencer se os pegasse despreparados e se não tivesse outro remédio. Tudo o que queria averiguar era como tinham descoberto, quando esteve sempre tão perto do outro guerreiro e de sua dama. Talvez não tinham descoberto na realidade. Possivelmente só desejavam ter um bate- papo amistoso com ela. — Sim? — Sim, nos diz -comentou o mais risonho, sem se dirigir a ninguém em particular- Mulher, tiveste bastante tempo para fazer sua escolha. Como não aproveitou esse tempo para pedir o amparo de um de nós, eu agora te reclamo. — Oh, por todas as estrelas! Tenho que passar por isso outra vez? - exclamou enfastiada. O tom de sua voz não a liberou do sorriso agradável. Ainda estava firmemente em seu lugar quando o guerreiro tratou de agarrá- la, mas a mão nunca chegou ao seu destino, pois Tedra a tomou na sua e com um giro violento de pulso retorceu seus dedos com todas suas forças. — Não tome como algo pessoal, guerreiro -disse serena dirigindo o homenzão, sem nem se esforçar muito para impedir que se movesse um centímetro- Mas já fui reclamada, digamos assim, ou ao menos tenho todo o tempo ocupado até dentro de um mês, então compreenda por que não posso ir contigo, certo? Ao meu próprio guerreiro desgostaria em extremo, e isso me obriga a te impedir que me leve contigo. — Bulam! -foi tudo o que ele disse, mas disse em voz bastante alta e como pedindo ajuda. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Bulam tinha que ser o outro guerreiro que tinha mostrado sua desaprovação e Tedra se voltou para lhe advertir que não intervisse, mas não o viu em nenhum lugar. Muito em breve descobriu que não tinha ido muito longe. Duas mãos de aço a rodearam por atrás, cercando seus braços, e a imobilizando virtualmente... ou assim acreditava ele. — Solte-o, mulher! -ordenou Bulam com voz irritada e profunda. — E se não o fizer? Houve uma longa pausa, como se o homem estivesse lutando para se sobrepor à surpresa ou simplesmente a incredulidade de ver que a mulher não estava cumprindo a ordem dada. — Não me obrigue a te machucar... -a advertência tirou dela mais um gonzo. — Me machucar? OH, não, guerreiro, não vai aliviar sua consciência me culpando por me machucar. Eu não pedi a dois palhaços como vocês, que me parassem e já disse que não estou disponível para reclamações. Assim qualquer dano que me façam corre por sua conta,não pela minha. É obvio que isso vale à recíproca -acrescentou com magnanimidade- Tomarei todo o crédito por qualquer dano que eu possa lhes causar. — Bulam! -voltou a gritar o guerreiro que não sorria mais. Já estava recebendo parte do estrago que ela podia causar e ansiava que parasse de uma vez. Seu amigo começou a se encarregar de pôr fim, apertando lentamente os braços que a detinham, mas Tedra tinha antecipado esse movimento, e aplicou cada vez mais pressão até que seu amigo a soltasse ou ele desmaiasse. Antes que a pressão ficasse muito forte, torceu e empurrou para cima um pouco mais o pulso do guerreiro prisioneiro em suas mãos, obtendo um gemido que distraiu momentaneamente Bulam. Este afrouxou os braços instintivamente, o tempo suficiente para que ela pudesse dobrar o braço livre para trás e para baixo, onde seus dedos se fecharam como pinças ao redor de algo macio. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Com apenas um apertão conseguiu que a soltasse mais que depressa, mas ainda tinha um grande problema. Era bem verdade que tinha ambos os guerreiros a sua mercê, mas também era muito certo que tinha ambas as mãos ocupadas para mantê-los dominados. Quanto a ela, ter dominado estes guerreiros não tinha melhorado muito sua posição. Francamente, não tinha ideia de qual seria seu passo seguinte. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Capítulo 24 — E quanto tempo mais pensa poder segurar dessa maneira, antes que outros guerreiros os vejam e venham em sua ajuda? Ao ouvir "outros guerreiros" ela acreditou que essa nova voz pertencia a um homem darash, mas ao olhar por cima do ombro viu que não tinha tido essa sorte. Não tinha reconhecido a voz, mas reconhecia Tamiron, o amigo de Challen, sem nenhuma dificuldade. No momento não sabia se a tiraria da angustiante situação em que ela mesma se colocou ou se arrumaria mais problemas. Se seu olhar gelado indicasse algum indício, provavelmente seriam problemas. Decidiu ser prudente e soltar as suas vítimas. Talvez uma desculpa fosse o mais aconselhável. — Sinto o acontecido, amigos, mas Tamiron pode confirmar o que acabo de... Estrangularam suas palavras abruptamente. Não tinha machucado o guerreiro Bulam, só o havia posto nervoso como o demônio. Assim que sua mão soltou a parte branda de seu corpo, ele reagiu com absoluta rapidez e sua reação estava em deixá-la fora de combate. Desta vez a rodeou só com um braço, mas a apertou tanto que cortou sua respiração. Com a outra mão segurou as mãos de Tedra. Não alcançou suas partes mais estimadas, embora não ficasse muita força para tentar lutar, como lutava para poder respirar. Enquanto isso, o outro guerreiro estava sacudindo o braço para que o sangue voltasse para circular pela mão e dedos intumescidos e lançando um olhar feroz com seus olhos castanho claro, que falavam de morte. Felizmente, Tamiron se interpôs entre eles nesse momento, antes que o homem pudesse pôr em execução seus pensamentos, mas se não fizesse algo rapidamente, para Tedra o resultado seria indiferente, já que estava a ponto de perder a consciência. — A mulher já tem um protetor, Kogan. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Lembre-se Tamiron Ja-Na-Der! Não ostenta nenhuma cor. — Devido a sua própria ignorância. -a voz do Tamiron pareceu afetadamente serena depois da veemência do Kogan- Ela não é de Kan-is- Tran, assim não conhece nossos costumes. Também seu comportamento difere notavelmente do de nossas mulheres, como terão notado por vocês mesmos. Acreditem acaso que uma mulher da Sha-Ka-Ra teria ousado se comportar como ela? -Tamiron não esperou nenhuma resposta. Olhou serenamente aos olhos de Bulam- Será melhor que a solte agora, antes que tenhamos que levar o assunto diante do shodan. — Não vejo o motivo para ter que envolver o shodan. -até Tedra, tonta como estava, pôde captar o nervosismo na resposta de Bulam e merda, se não a soltou imediatamente. O problema foi que quase caiu de bruços, e teria caído se Tamiron não estivesse por perto para segurar ela. — Esta bem, Tedra do Arr? -estava muito ocupada em respirar profundamente o ar para responder imediatamente, mas quando o fez, foi para se queixar, ao mesmo tempo em que o empurrava longe dela. — Fala exatamente igual a meu andróide ao me chamar por meu nome completo. É que por acaso, do Arr é minha classificação, não meu sobrenome, assim Tedra basta se formos amigos, se não, faria bem me chamar mulher. Estou me acostumando com isso. — É bom saber que está aceitando alguns costumes de nosso país. Se fosse tão sensata para aceitar todos, não teria sido reclamada por um guerreiro acreditando que estava em seu direito. — Sabia que me agradaria, menino, se suas repreensões fossem tão suaves. — Repreensões? Acredito que receberá muito mais que isso, Tedra. — OH, vamos, não irá contar a ele o que aconteceu, não é verdade? CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro — Devo saber quem é seu protetor, Tamiron, ou devo aceitar sua palavra de que o tem, quando sua presença aqui sem companhia diz justamente o contrário? -disse Kogan. Tedra passou o olhar do um ao outro esperando que se lançasse um desafio. Não tinha aprendido ainda que a arrogância de um soldado não permitiria a beligerância, que todos os guerreiros aceitavam como algo normal, por isso não era um verdadeiro insulto. Segundo seus costumes todos os homens tinham direito de duvidar, discutir e discordar, sem se importar quem estivesse envolvido. — Não há necessidade de que aceite só minha palavra -disse então Tamiron, mas estava sorrindo- Só precisa vir ao castelo e perguntar a qualquer um onde dorme a mulher, e vão dizer que dorme no quarto do grande shodan. — Expressou-se com muita rudeza! -reprovou Tedra, enquanto via como desapareciam de vista os dois guerreiros, logo depois de ouvir esta declaração. — Devia se envergonhar, mas vejo que não o faz. Melhor deixar que a discipline quem tem direito a isso. -pegou seu braço e começaram a caminhar de volta ao castelo. — Mas eu gosto muito mais de sua forma de me tratar e de me disciplinar. Insista nisso e então poderá não sentir a necessidade de apresentar mais informações do dia de hoje. -esperava que dissesse que não contaria nada a Challen sobre sua pequena escapada, mas se encontrou com um silêncio total. Chiou os dentes- Olhe, tudo o que queria era percorrer um pouco a cidade. Não ia muito longe e não estava tentando fugir, se isso for o que pensa. — Acredito que descobriu que sair sozinha de Sha-Ka-Ra não é uma tarefa fácil. Mas, jamais passou pela minha mente a ideia de que queria fugir. - e então sufocou a risada- Provavelmente não teria atraído tanta CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro atenção se estivesse corretamente vestida. Certamente que eu não teria permitido que se afastasse muito do castelo sem te deter. — Me seguiu. -acusou com indignação. Ele assentiu com a cabeça sem demonstrar o menor arrependimento por não ter intervindo, antes que a situação se tornasse tão perigosa. Certamente pensou que ela não teria aprendido tão bem a lição se o tivesse feito. Imediatamente soube por que a tinham descoberto tão logo, assim não o agrediu por seu resgate tardio. — É por essas malditas capas? E como são de diferentes cores, essas são as cores de que falava o guerreiro, as cores das capas. Tedra passou as últimas horas da tarde se afundando cada vez mais, num estado de naufrágio com intermináveis acessos de cólera. A cólera se devia ao fato de que não tinha por que estar tão nervosa. Teria que aceitar qualquer castigo que impusesse Challen pelo simples fato de que a tinha advertido de antemão, que a castigaria se saísse do castelo, mas tinha saídomesmo assim. Se alguém desobedecia as regras, não podia chorar pelas consequências. Tedra pelo menos não podia reclamar, mas maldito fosse, se não podia se queixar de lhe impor essas ridículas regras em primeiro lugar. Nunca em sua vida a tinham impedido de ir e vir ao seu desejo, ao menos não desde que tinha chegado a idade adulta. Assim não se afastaria muito, a não ser dar voltas pelo castelo por um tempo. Aceitava a parte de sua derrota, mas o serviço que exigia essa derrota não ocupava todas as horas do dia. No máximo umas poucas pela manhã e de noite e possivelmente algumas mais se Challen, por acaso, a encontrasse em seu quarto à tarde. E isso não chegava a ser nem a metade das horas em que estava acordada e estava a outra metade, confinada no interior do castelo, isso cheirava a reclusão, vissem como vissem. OH, sim, tinha todas suas queixa bem alinhadas, mas Challen a castigaria de qualquer forma, porque era um bárbaro e eles pareciam estar plenamente convencidos de que o castigo era a melhor resposta para tudo. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Certamente todas as mulheres deste mundo sabiam perfeitamente o castigo que receberiam por qualquer engano que cometessem. Tedra o ignorava por completo e isso era algo insuportável, o que era a causa de seu extremo nervosismo, que ia agonizando mais ao ir caindo a noite e se aproximava mais hora da volta de Challen. Tomando todas as precauções que pôde, Tedra se posicionou o mais longe possível da entrada do quarto. O lugar finalmente eleito foi uma sacada sob as estrelas. Queria aproveitar todas as oportunidades que se apresentassem para observá-lo atentamente, antes que se aproximasse. Deste modo poderia determinar o tamanho de sua irritação e decidir se saltar pela sacada para desaparecer de sua vista durante algum tempo, poderia chegar a ser o mais prudente. Não era provável que o fizesse, mas ainda assim queria contar com essa alternativa. Talvez quebrasse algo ao cair, estes cômodos individuais tinham seis metros ou mais de altura, ele se esqueceria de castigá-la. A sacada teria sido um bálsamo para seus sentidos em outras circunstâncias. Dali se gozava de esplêndida vista de uma boa parte da cidade por cima das altas muralhas, dos parques e jardins que rodeavam o castelo e até da rua e grandes janelas que permaneciam abertas até altas horas da noite. Podia ver os servidores encarregados das pedras gaali, com as largas varas que usavam para abrir as caixas no alto dos postes, ao longo da rua quando caía a noite. Ela mesma tinha destampado algumas logo depois de ver como Challen fez no dia anterior. Cada uma das paredes do quarto tinha uma borda estreita de dois metros e meio do chão com uma tampa de madeira que caía para trás e se introduzia na parede ao mover sua alavanca. Estas bordas, é obvio, ocultavam em seu interior várias camadas de pedras. Cada alavanca contava com cinco regulagens e graças a elas era possível iluminar todos os cantos do vasto aposento, com uma luz que podia ir de fraca até a super brilhante. O mármore branco das paredes a refletiam e os raios de luz CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro ricocheteavam no alto teto, dando a sensação de que o sol tinha entrado nele. Mas não contente com isso, Tedra também tinha destampado todas as caixas que continham estas pedras e que estavam colocadas nos pedestais por todo o aposento. Só fez uma exceção: não abriu as caixas que estavam na sacada. Contudo, a luz que se infiltrava do quarto era mais que suficiente para iluminar lá também. Tedra passou apenas uns minutos contemplando a vista da sacada antes de se virar e ficar de frente à porta do quarto. Passou bastante tempo antes que a porta se abrisse, mas não abandonou essa posição. e Challen não chegou sozinho. Sustentava a porta aberta para que entrasse uma darasha com uma grande bandeja cheia de comida e esperou que partisse para fechar. Depois a procurou com o olhar. Não foi difícil encontrá-la. Não havia onde se esconder no enorme quarto, a menos que o fosse debaixo da cama, mas ambos sabiam que ela não se rebaixaria a fazer isso. Além disso, era bem visível na sacada. Não tanto como no meio do quarto debaixo de todas as luzes, mas o suficiente; e toda essa sua espera e cuidado as precauções provaram ser inúteis. O bárbaro não deixava demonstrar nenhuma de suas emoções, enquanto avançava pela habitação até parar debaixo de uma das arcas que davam a sacada. Era o sereno controle personificado, mas possivelmente isso era bastante revelador em si mesmo. Apenas a saudou com um sorriso cálido. Não viu que em seus olhos se ascendia o fogoso olhar de paixão que a tinha queimado ao encontrá-lo nessa mesma tarde. Só recebeu um olhar escrutinador que levou uns minutos cheios de tensão. — Entre, mulher. -até sua voz estava desprovida de emoções. — Vamos comer? — Nós vamos falar e eu vou comer. — Me mandará pra cama sem comer? — Isso... entre outras coisas. CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro Por um segundo sentiu um grande alívio. Apenas a privaria do jantar. Um castigo para crianças, típico dos bárbaros, mas muito insignificante. Se adiantou então com extrema cautela para tomar a mão que ele estendia. Nem sequer pensou em dispensá-la. Apesar de tudo, estavam em um lugar onde ele exercia pleno poder sobre ela. Challen a conduziu até a mesa onde depositaram as vasilhas repletas de comida. Havia carne vermelha e branca, cortadas em pequenas partes banhadas com um molho escuro; algo que poderiam ser vegetais e frutas cortadas; uma travessa cheia de pães-doces e doces dourados; uma sobremesa assada com aparência brilhante e um aroma realmente delicioso; e um garrafão de vinho. Havia suficiente comida para dois, possivelmente para três pessoas. Tedra não tinha tido absolutamente nada de fome até esse momento em que via toda essa comida, sabendo que não provaria um bocado. Challen se acomodou em um dos divãs, mas não indicou que fizesse o mesmo. Mas fosse onde fosse dentro do quarto enquanto ele comia, faria estragos em seu estômago. Passar sem comer quando não se via ou se cheirava a comida era uma coisa, esta outra era muito distinta. Começou a dirigir seus passos para os divãs que estavam debaixo das janelas quando a voz do Challen a parou em seco. — Tire o chauri agora mesmo! -um rápido olhar em sua direção revelou que ele não estava fazendo nada para tirar os bracs, nem o extravagante comtoc azul metalizado que usava no corpo. Bom, quantas vezes esse dia tinha pensado que seria melhor estar nua que usar esse maldito chauri? E não era como que nunca tivesse estado completamente nua diante de Challen enquanto ele permanecia vestido. Encolheu os ombros. — Você manda. -desatou o cinturão e levantando por aqui e arrastando para lá, ficou de pé junto ao divã, sem nada, completamente nua. O chauri era só um montinho fofo aos seus pés. Uma vez mais os olhos CarolJohanna Lindsey Série: Família Ly-san-Ter 01 – A mulher do guerreiro de Challen estudaram seu corpo com absoluta serenidade, fazendo-a recordar o dia do primeiro encontro, o que a fez suspeitar a classe de suplício que lhe esperava essa noite. — Agora sente aqui. -disse ele. O "aqui" era seu colo, que ele assinalou enquanto observava sua reação diante da ordem. Ela não o decepcionou e se ruborizou vivamente. Também seus olhos adquiriram um brilho singular ao cravá-los nos de Challen, mas era um brilho que denunciava irritação por sua própria confusão. Se tivesse contado com anos de experiência em co- participação sexual em vez de só uns quantos dias, poderia ter aceitado até com indiferença, mas nem sequer tudo o que ambos tinham feito durante esses poucos dias a tinha preparado para sentar escarranchada sobre seus quadris, estando