Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INTRODUÇÃO À ANTROPOLOGIA O despontar da Antropologia Há quanto tempo existem antropólogos? Como muito exagero de simplificação é certo afirmar que toda ciência que conhecemos nasceu de uma questão matriz. Ao estudarmos Antropologia de forma reflexiva, com o objetivo de desenvolvermos um estilo de pensamento antropológico, devemos compreender a rede de acontecimentos que se entrelaçaram em circunstancias diversas para formação da pergunta que talhou o corpo da disciplina chamada de Antropologia. Esta pergunta provavelmente consolidou a sua forma, quando um grupo de homens se dedicou em responder o que é aquilo com pegadas idênticas as deles, mas se comporta, pensa, e, até fala diferente deles. Neste momento alguns homens perguntaram a si mesmo, num ato de questionamento quem são aqueles que estão fora seu convívio? Iniciou-se o movimento de polimento da Antropologia. O desenrolar desse polimento deu-se sobre um lento e descontínuo acúmulo de observações e questionamentos que giraram em torno do objetivo de compreender a diversidade humana que começava a ser percebida como existente dado investigado. A questão matriz que motivou a polir os conhecimentos que formaria o campo da Antropologia se situa em determinar a posição e o lugar do Homem na escala zoológica e em relação à natureza. A pré-história da antropologia tem origem, os séculos XV e XVI, nessa época as informações, acerca de outros povos distantes, eram dadas por viajantes. Nessa ocasião cogitaram duas ideologias adversárias. A primeira a ideia de que os povos primitivos eram selvagens não tinham história, nem costumes culturais. Eles não tinham tudo o que defensores apresentavam ter. No caso da segunda ideia ressaltavam os aspectos desses povos em relação o que conseguiram desenvolver e organizar os sistemas políticos e econômicos se apresentava em melhores condições em harmonia com a natureza que os outros não conseguiam. No século XVI alguns dos pensadores interrogaram se os bárbaros não eram elele como afirma Francoise Laplantine (2000), eles defendiam a “ingenuidade original” do estado de natureza. Odemos perceber quanto por trás dessas duas posições há uma visão sobre o Ocidente uma visão negativa, de recusa do estranho, tinha uma visão positiva sobre o nosso modo de vida. Pelo contrário, aqueles que viam as virtudes dos povos tradicionais tinham uma visão negativa do Ocidente. Para concluir o despontar da Antropologia como ciência está relacionado ao contexto com a intenção de busca diferentes formas de vida que ajude a ver as coisas do mundo como uma relação capaz de ter tido um nascimento, capaz de ter um fim ou uma transformação. Mas este é um aprendizado que deve ser executado a partir da problematização, analisando os pressupostos, ideias, convenções, escrita, formas de representar a alteridade – O conceito do ocidental de alteridade girou nos últimos séculos entre dois polos; se imagina uma alteridade, sobre o Outro, e, logo sobre si mesmo, uma ilusória. O Outro é a referência tomado como motivo, para legitimar práticas de exploração econômica, militares, políticas, de conversão religiosa ou de emoção estética. A Antropologia mostrou o lugar e a posição do Homem através do estabelecimento de escalas, parâmetros e conceitos que comprovaria e determinaria ao que se cabe à categoria Homem e por conseguinte, de humano. Ponto de eclosão da Antropologia O espaço social da eclosão da Antropologia como disciplina científica, dotada de uma missão investigativa com base em outras ciências, como a Biologia e a Física; situa-se no espaço continental europeu, primordialmente, com a Alemanha, França e Inglaterra. Todavia as três tradições de escrita antropológica atribui aos gregos o interesse primeiro de inspecionar diretamente o Homem, colocar como causa da variedade das riquezas de vestimentas, das culinárias, dos governos, dos costumes e os diferentes tipos de comportamentos. Cabe o grego Heródoto (484 – 424 a. C.) a responsabilidade por fazer esta primeira investida de colocar o comportamento como causa da diversidade e pluralidade entre os homens. No entanto, de forma precisa, não podemos assegurar que com Heródoto se tenha formado um plano de tradição do pensamento antropológico, similar ao que se produziu com a Filosofia. Pois, a Filosofia se firmou nas colônias gregas ao ponto de se consolidar em escolas filosóficas, com força de implantar uma longeva tradição que se expandiu em torno de renomados filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles, ao ponto destas escolas com suas reflexões servirem de base para Filosofia ocidental a qual conhecemos hoje nas salas de aulas. Se os gregos não fundaram escolas antropológicas, não fundaram uma comunidade de antropólogos, portanto, não deixaram um conhecimento rigoroso nesta área. Talvez o mérito deles, tenha sido de transmitir a inspiração, da percepção da alteridade, centrada na noção da diferença entre “nós” e “eles”, que marcará o paradigma de explicação antropológica. Tal paradigma é incorporado como um guia da Antropologia por revelar que a escrita dos textos antropológicos é construída entre dois mundos o do antropólogo e do outro, cabe o desafio ao conhecimento antropológico servir de ponte para ligar os dois mundos. Assim, de forma indiscutível, a possibilidade material e reflexiva para a formação do início da tradição de conhecimento antropológico, longe de esta na Grécia, tem como epicentro a “descoberta do Novo Mundo”, do outro lado do Atlântico, que deu ao homem europeu a visão de todo o continente e povos ausentes da narração bíblica, que era até então, o livro bússola do ocidente. ANTROPOLOGIA COMO CIÊNCIA Definições e classificações A constituição da Antropologia como ciência, precisamos antes definirmos o conceito de ciência e em seguida tentaremos apresentar o desenvolvimento das chamadas Ciências humanas, local onde se encontra a Antropologia. Etimologicamente, ciência vem do latim scientia que significa “conhecimento”. A Filosofia, como conhecimento pode ser chamada de ciência. Mas, não estamos falando aqui nesse sentido, estamos falando da ciência experimental que surgiu na modernidade. É a ciência de Galileu, Newton e tantos outros. Algumas definições de ciência são amplas e acabam escapando a especificidade do sentido de ciência que estamos estudando aqui. Exemplo de tais generalidades são as definições de ciência, como um corpo de conhecimento sistematizado ou conjunto de verdades certas e logicamente encadeadas entre si, de modo a formar um sistema coerente. Podemos citar a definição de Goode e Hatt (1967), acerca da ciência como uma definição plausível: É um método de abordagem do mundo empírico todo, do mundo que é susceptível de ser experienciado pelo homem. Embora exista nas ciências vários ramos de estudos, daí o termo “ciências” no plural, elas são uma, e tal unidade se fundamenta no método científico e no objetivo de todas as ciências: o conhecimento objetivo- experimental. Por isso, ao se falar de ciências exatas, ciências naturais e ciências humanas estamos a falar de ciência. Após conceituarmos o termo ciência passaremos ao conceito de Ciências Humanas para em seguida darmos início ao estudo do desenvolvimento histórico das ciências humanas, e, por conseguinte, da Antropologia. Ao definirmos ciências humanas (ou social), faremos em paralelo com a ciência natural. Segundo Mello (1982) “A ordem da natureza, dizia-se, está submetida ao reino do determinismo, é o universo da necessidade: mantendo-se constantes as condições, o mesmo fenômeno reproduzir-se-á indefinidamente” (MELLO, 1982). Semelhante consciência e continuidade permitem às ciências da natureza edificar leis e teorias explicativas. Em contrapartida, a atividade humana tem um cunho de espontaneidade, de criatividade,de liberdade; escapando a rigidez do determinismo que não pode deixar-se encerrar numa lei explícita. A Antropologia se inscreve na classificação das ciências humanas, mas não se limitará a esta, pois Antropologia é comumente definida como o estudo do homem e de seus trabalhos, assim definida, deverá incluir algumas ciências naturais e todas as ciências sociais. Os campos estudados por esta disciplina é o da origem do homem, classificações de suas variedades e a investigação dos chamados povos primitivos. O desenvolvimento das ciências do homem Para compreendermos o desenvolvimento das ciências humanas, estudaremos o seu primeiro momento ou fase, o Positivismo. Ao tratarmos do positivismo iremos contextualizá-lo como uma teoria social pertencente às Ciências Humanas. Em seguida apresentaremos as principais características e seus pressupostos epistemológicos. Veremos o pensamento de Max Weber, que em alguns aspectos, também se insere dentro do positivismo. O termo epistemologia deriva do grego “epistemi” e significa ciência. Opõe-se a “doxa” que significa opinião. A epistemi pretende ser um conhecimento certo, verdadeiro. A ciência que tratava do Homem antes do século XIX era a Filosofia, utilizando o método especulativo utilizado pela metafísica. Na modernidade a Filosofia como Metafísica entra em crise. Kant fará uma crítica à razão pura cujos resultados foram que a Metafísica não se constituía como uma Ciência, a exemplo da Matemática e da Física. A Metafisica não é capaz de produzir uma ciência como o faz a Matemática e a Física. Embora, ideias de Deus, mundo, liberdade, alma, possam ser pensadas, não podem ser conhecidas. A Metafísica, pensada como os dogmáticos, é uma ilusão, um não conhecimento. Assim, surge um espaço vazio. A Filosofia se viu incapaz de dizer o que é o homem. Este espaço vazio será ocupado pelas ciências humanas, estas com grande prestígio derivado do êxito obtido no campo da Matemática e Física, pretenderá ser a detentora do verdadeiro conhecimento do mundo e do homem. Nesse momento é notório uma mudança de método, abandona-se o método especulativo (da Filosofia) e adota-se o método da observação, da empiria. Várias ciências surgiram na tentativa de dar conta do humano (Sociologia, Antropologia, História, Geografia, etc.), mas todas, tendo como referência as ciências naturais. Esperava-se alcançar nas ciências humanas o mesmo grau de objetividade das ciências naturais. O Positivismo O positivismo é uma proposta teórico-metodológica com pretensão de constituir-se como ciência capaz de explicar as relações e fenômenos sociais. A problemática subjacente que perpassa nosso estudo e nos questiona: O positivismo pode ser explicado a partir de três ideias principais ou hipóteses fundamentais: A sociedade humana é regulada por leis naturais, imutáveis, ou seja, não sofre1. influências da vontade ou ação humana. Essas leis regulamentam a vida social, econômica e política e são do mesmo tipo que as leis naturais. O método para conhecer a sociedade são os mesmos utilizados para conhecer a2. natureza. As ciências naturais são ciências objetivas. Livres de juízos e valores, as ciências3. humanas devem ser do mesmo tipo, ou seja, devem ser objetivas. Os valores são empecilhos à objetividade, são contrários, portanto, indesejáveis nesse campo. Talvez tenhamos um elemento utópico, pois o positivismo “afirma a necessidade e a possibilidade de uma ciência social completamente desligada de qualquer vínculo com as classes sociais, com as posições políticas, os valores morais, as ideologias, as utopias, as visões de mundo”. (LOWY, 1985, p. 36). O positivismo pretende completar a isenção de preconceitos para as ciências humanas. Sendo filha do Iluminismo, entendemos seus motivos, ao compreendermos o contexto o qual estava inserido, pois lutava contra a ideologia dominante da época, a ideologia clerical, feudal, absolutista. No primeiro momento, o positivismo se mostra possuidor de um caráter utópico, crítico e revolucionário. O primeiro representante do positivismo foi Condorcet (1743-1794), postulando que a ciência da sociedade deve tornar o caráter de uma matemática social, ou seja, deveria ser preciso, rigoroso e objetivo. Considerava o conhecimento da Física um modelo de ciências isentas de valor ou paixão, assim deveria ser as ciências humanas. Em seguida temos Saint-Simon (1760-1825), discípulo de Condorcet. Esse formulou uma ciência social segundo o modelo biológico (fisiológico). Sua reflexão tem caráter crítico utópico. Para ele algumas classes são parasitas do organismo social, uma referência à aristocracia e ao clero. Também caracterizada como combatente das classes dominantes. Com Auguste Comte (1798-1857), temos uma mudança, pois este criticava, seus antecessores em virtude de seu caráter crítico e negativo. Segundo Comte o conhecimento deveria ser positivo. O positivo aqui soa quase como conservador. Embora, continue a tradição anterior, considera a ciência natural como paradigma a ser perseguido, chama sua concepção de “física social”, é uma ciência que estudará os fenômenos sociais. Esses fenômenos são submetidos a leis invariáveis. Essas leis são naturais. Na economia é natural que as riquezas se acumulem nas mãos de poucos e o proletariado deve se conformar com tais leis imutáveis. Vemos aqui como as ideias de Comte refletem os interesses da nova burguesia já estabelecida. Max critica a existência de tais leis. Émile Durkheim foi um sociólogo no sentido pleno, por isso, o positivismo depende mais das ideias desse sociólogo do que das ideias do teórico Comte. Para Durkheim o objetivo da sociologia era estudar fatos que obedecem às leis sociais, leis invariáveis do mesmo tipo que as leis invariáveis da natureza. O método era o mesmo. O cientista social deve pôr de lado suas pré-noções antes de iniciar sua pesquisa. Deve deixar-se conduzir pela imparcialidade científica, o sangue-frio. Fazer calar as paixões. Esta tese é mantida por todos os positivistas. É claro que essa imparcialidade não é conseguida nem mesmo por Durkheim, que deixa claro seus valores conservadores em sua obra As Regras do Método Sociológico. Na análise de Max Weber, autor positivista com algumas divergências, acredita como todo positivista, que há possibilidade de uma ciência social livre de juízos de valor. Weber, considerava que toda ciência da sociedade, da história e da cultura implica uma relação com os valores que servem de ponto de partida para a investigação científica. Assim, não considerava algo negativo, os valores estarem presentes no início da pesquisa. Os valores são pressupostos indispensáveis a qualquer investigação. Determinam a seleção do objeto, informa a direção da pesquisa, irão fornecer a problemática, ou seja, as perguntas que serão feitas. Em um segundo momento, o da resposta, Weber considera que, as ciências sociais devem ser livres de valores e devem ser neutras diante das Ciências Sociais. A investigação empírica deve submeter-se a leis ou regras objetivas e universais da ciência “Deste modo, os pressupostos da pesquisa são subjetivos, depende de valores, mas os resultados da investigação devem ser inteiramente objetivos, isto é, válidos para qualquer investigador.” (LOWY, 1985, p.50). Historicismo O historicismo constitui uma das três principais teorias ou concepções acerca conhecimento social. Abordaremos suas três fases, a saber: conservadora, relativista e desenvolvida por Karl Maurheim, sempre destacando a problemática que subjaz todas essas perspectivas, que é a questão da objetividade, do relativismo e dos juízos de valor, nessas abordagens que pretendem a cientificidade. , O historicismo se norteia por três diretrizes: Todofenômeno social é histórico e só pode ser compreendido dentro da História,1. através da História. Os fatos sociais são diferentes dos fatos naturais. As ciências que as estudam é de um2. tio diferente (método diferente). Tanto o objeto como o sujeito da pesquisa se encontram imersos no fluxo da história.3. Passemos a conhecer o desenvolvimento histórico desta corrente social chamada4. historicismo. O historicismo surge por volta do século XVIII e início do século XIX e tem, nessa primeira fase, um caráter conservador. Visa legitimar as instituições econômicas, sociais e políticas existentes na Alemanha, na Prússia, enfim na sociedade tradicional representada pelos senhores feudais, o clero, os valores culturais e religiosos da época. Estes, entendiam que estas instituições e a sociedade como um todo eram produtos legítimos do processo histórico, como resultado de séculos e história, resultado de um processo orgânico de desenvolvimento. Portanto, ir contra essa sociedade, era ser um arbitrário superficial, e anti-histórico. Daí o historicismo conservador ser contra as posturas revolucionarias, como a Revolução Francesa e contra o próprio capitalismo. A Antropologia em uso As artes do fazer antropológico A Antropologia é uma ciência “dos observadores capazes de observarem a si próprios.” (LAPLAMTINE, 1998, p. 170). Durante o estudo das unidades anteriores podemos observar e compreender que Antropologia passou por um processo de polimento, não só da sua questão matriz, mas dela mesma como disciplina. Com grau de polimento alcançado, a Antropologia transformou-se numa peça capaz de ser empregada para refletir a própria imagem do homem como um espelho. Ao bem da verdade, grande parte dos trabalhos antropológicos são formas distintas de termos acesso tanto aos espelhos como as imagens daqueles homens em sua realidade presenciada. O que deu sustentação para que a Antropologia tornasse essa espécie de grande vidraçaria a permitir confeccionar os mais diversos espelhos do homem foi o trabalho de campo, em outras palavras, a pesquisa de campo. A Bronislaw Malinowski, nos anos vinte, do século anterior, é mérito dele ter estabelecido com a sua pesquisa e obra, Argonautas do Pacífico Ocidental o plano de trabalho, quanto do uso da observação participante em campo. A partir Malinowski o trabalho de campo se efetivou como prática antropológica e adquiriu a mesma importância do laboratório usado pelas ciências naturais. Desta forma, a ida ao campo e os métodos que lá se aplicam como a observação participante e as entrevistas, passaram a ser o caminho para a ampliação da teoria antropológica ou da sua negação. Pois ao invés da companhia da biblioteca, de agora em diante, o antropólogo passou a se encontrar cada vez mais, a olho nu com as diferenças do outro, a contrastar com seu próprio olhar. Assim, o que o trabalho de campo impõe ao antropólogo é a necessidade de mudar a postura para com os costumes considerados como exóticos, em lugar de classificá-los e de colecionar objetos que os representem para compor um museu ou uma coleção particular de costumes exóticos. Inicia-se a observar os costumes e registrá-los como integrantes de uma dada realidade social e cultural, que representa os sentidos e os significados das experiências de indivíduos definidos pelo termo “outro”. Talvez seja válido reconhecer que o trabalho de campo quando metódico é o instrumento que proporcione à Antropologia testar seus conceitos, teorias e os modelos de interpretação dos sistemas sociais oriundos das observações das experiências humanas. Portanto, a viagem do antropólogo ao campo guiado pelo seu referencial teórico, apreendido na universidade, bem como da sua sensibilidade de registrar o que está diante dele, formam uma possibilidade verdadeira de surgir um novo olhar antropológico. Desta forma, a Antropologia está sempre aberta a ser reinventada a partir do que ela obteve anteriormente da posição e do ponto de vista do “outro”. Em suma, ela se reinventa por meio do encontro dos antropólogos com os outros e dos antropólogos com as teorias antropológicas. Além de testar as certezas antropológicas, o campo casado com a teoria possibilita montar um diálogo perpetuou entre as diversas experiências humanas, assentadas não numa mesa de vidro, mas numa mesa imaginária que é a escrita antropológica, para que o homem possa se reconhecer em suas experiências. E, deste modo, se posicione em seu lugar de forma mais ordeira. Portanto, a maior herança que a Antropologia vem proporcionando com o trabalho do campo é de tornar visível à experiência da existência de formas de sociabilidade e de relacionamentos sociais distintos que são o que são por causa das ações e das crenças reinante naquelas sociabilidades e relacionamentos. Assim, o que está em jogo nesse contato entre antropólogo e campo é a produção de espelhos. Ele é fabricado ao se estudar uma dada situação social e compará-la a realidade do antropólogo. O exemplo a seguir exemplifica melhor. Se você estudar as castas da Índia, terá condições de visualizar até que ponto a estrutura que sustenta a hierarquia das castas se faz presente em nossa sociedade através de outras formas, mas que tem efeito semelhante de barrar a ascensão social ou de justificar lugar dos subordinados, como é tão similar em nosso país o papel do preconceito racial que funciona como fator hierarquizante entre os brasileiros, ao mesmo tempo, que serve para justificar porque afrodescendentes estão situados em condições tão difíceis no Brasil. Adquirido bagagem para ir ao campo Para o antropólogo o trabalho de campo é um esforço em direção ao outro para poder traduzi- lo. É uma espécie de tradução para o antropólogo porque chega-se apenas a compreender o que o outro representa para ele. O que se compreende é redigido em um diário de campo com o intuito dos registros da tradução ser comparado com que ele compreende da sua própria cultura. Dessa relação de comparação por contraste dos dois sistemas culturais gradativamente tornam-se visíveis as variáveis de organizações sociais que estavam ocultas. Desta forma o lado mais estimulante do processo de constituição da Antropologia como disciplina com status de ciência é o contato com o campo. Ele proporciona todo um desvenda do métier de antropólogo que os séculos anteriores não proporcionaram por estar o saber e o fazer antropológico enclausurado em gabinetes de museus ou não. Nos gabinetes homens experientes em história natural e Filosofia social liam os relatórios de missionários e viajantes que chegavam as suas mãos e construía textos pretensamente antropológicos com informações não colhidas por eles. Todavia a ida ao campo e o saber movimentar em campo funcionará para qualificar todo um estilo de produção de conhecimento antropológico, bem como, de caracterizar o ofício de antropólogo que hoje conhecemos por meio das universidades. Isto de forma tão intensa, que há uma constante reavaliação na perspectiva de trabalho de campo para se alcançar um novo patamar de clareza de compreensão teórico-empírico do campo e da própria teoria antropológica. Portanto, observar como a prática de campo é refletida e produzida continua sendo uma tripla oportunidade. Primeiro para conhecermos a Antropologia, segundo lugar para propor uma nova concepção de Antropologia e por fim, de nos estimularmos a imaginarmos agindo como antropólogo no dia a dia. Para que possamos exercitar esta prática é indispensável acompanhar aqueles que tomaram o campo como objeto de reflexão da disciplina. Neste sentido escolhermos o antropólogo Roberto Cardozo de Oliveira (2006). Para Oliveira (2006), o métier do antropólogo enraíza-se na perspectiva de apreensão da realidade social tendo como instrumentos de trabalho indispensável o olhar, o ouvir e o escrever, ou seja, a larga revolução que a Antropologiaforjou no século XVIII, a determinar seu objeto de estudo, como estando ligado “uma olhar especifico”, encravado na própria epistemologia da Antropologia continua a ser cultivada até hoje e ampliado. Isto significa dizer que o olhar do antropólogo é sempre mediado por referencial teórico que o livra de um olhar ingênuo para um evento ou para uma feijoada. Para ele por conta do seu aporte teórico, a depender do contexto; os quitutes na panela é uma comilança que reproduz a mistura das relações sociais do país. Por isso, ela representa um dos símbolos da identidade da nação brasileira como é a bandeira nacional. O antropólogo a decidir aprofundar seus dados a respeito da feijoada que está sendo servida no fundo do quintal da mansão no bairro nobre, tem além do olhar para perscrutar as relações em vista, mantida daquele momento que observava os participantes, necessita recorrer ao ouvir, com o intuito de saber se a feijoada é para celebrar o batismo de um membro da família recém-nascido ou para festejar alguma entidade do terreiro de umbanda presente no interior da mansão. Com o ouvir o antropólogo penetra no vernáculo das ideias que sintetiza o sentido da feijoada, se em prol da comemoração do batismo ou do ritual sagrado da umbanda. Neste aspecto, as conversas no fundo do quintal, são cada uma delas, intervenções para realizar uma espécie de mini entrevistas. Talvez para o senso comum a maior dificuldade de uma entrevista está situada no idioma do pesquisador que é diferente do investigado, se constitua numa fronteira linguística, um antropólogo brasileiro em contato com um esquimó por exemplo. No entanto, isto não é a única fronteira linguística possível de afetar o antropólogo na busca por ouvir seus informantes. Para Oliveira (2006), a fronteira dos “idiomas culturais” é outra, à medida que o mundo do antropólogo é outro culturalmente, colorido com camadas de significados advindo das disciplinas curriculares e da própria posição social que ocupa na sociedade. A completar os instrumentos de trabalho, de campo encontra-se o escrever. Como o olhar e o ouvir, o escrever sofre disciplinamento de corpus teóricos, porém de forma mais intensa. Pelo ato de escrever exigi uma ação reflexiva a elevar a própria escrita a tornar-se reflexiva, em outras palavras, “os vistos” e “os ouvidos” serão transformados em conhecimento inteligível a comunidade de antropólogos através do cânon da escrita que ritualiza o vocabulário pertencente a disciplina antropológica. Portanto, ausente do campo, a escrita empresta a pequenos fragmentos que o olhar e o ouvir registrou em campo, categorias de conceitos que os restituam e os reposicionam em uma nova ordem de saber, numa nova classificação, por conseguinte num novo lugar epistêmico que costumeiramente o conhecimento do senso comum desconhece por comungar de outra linguagem para escrever e para se comunica. É, portanto, nesta relação interrupta de experimentar o olhar, o ouvir e o escrever, mediado pelo princípio de reflexividade do conhecimento Giddens, (1994) que Antropologia e o antropólogo exercitam e absorvem novas formas de se questionar, para poder encontrar novas possibilidades de converter o conhecimento da realidade social em conhecimento antropológico. Os procedimentos de quem estiver em campo. A notícia da existência da comunidade rural negra, denominada Negros do Riacho, veio em 1996, por intermédio do historiador mossoroense, Raimundo Soares de Brito, ao apresentar o jornal norte-rio-grandense “Tribuna do Norte”, com um artigo assinado pelo antropólogo, Luiz Carvalho de Assunção. Justamente nesse ano, o Curso de Ciências Sociais, da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UFRN), exigia de mim, um relatório de pesquisa, por outro lado esperava encontrar uma situação de campo que possibilitasse responder algumas perguntas de ordem pessoal, por exemplo, como homens brancos julgam-se superiores aos homens não-brancos, assim tomei o percurso da comunidade com uma cópia do jornal na mala. Dessa forma, em um domingo, ao entardecer; como marujo, me encontrei pela primeira vez em Currais Novos, ao encontro dos sujeitos descritos por Assunção. Ao chegar, localiza-me numa pequena pousada, próxima a rodoviária, nesse espaço foram enseadas as primeiras palavras a serem empregadas quando do contato com os negros do Riacho. Ao amanhecer do dia seguinte, a andar pelas ruas, todos negros pobres, eram vistos por nós, como prováveis moradores da comunidade dos Negros do Riacho. O tempo se encarregou de nós avisar dessa visão etnocêntrica e deveras falha. Assim, com o reparo do erro, nos lembramos dos diálogos em sala de aula, seja no Curso de Sociologia Rural, ministrado pela Professora Josefa Salete Barbosa Cavalcanti, seja nas cadeiras de Antropologia, ministrada pelas professoras Graça Furtado e Francisca Miller, a nos revelar a importância das feiras como lugar de contato entre os diversos grupos nas pequenas cidades nordestinas. De posse da lembrança desse princípio, perguntávamos aos feirantes, se moradores do sítio Riacho dos Angicos, já haviam chegado com suas cerâmicas. Essa pergunta em nenhum instante, fez o efeito desejado. Porque ninguém conhece os Negros do Riacho como moradores do Riacho dos Angicos, mas a indagar a próxima feirante, se os Negros do Riacho estariam perto de chegar. Ela logo respondeu: Os negros estão chegando, chegando em grupo, fazendo barulho. São muito preguiçosos não querem trabalhar, só vivem pedindo esmolas com sacos nas costas e bebendo cachaça. Eles brigam, que é um horror, a tapa e bofete. Com eles mesmos e, quem não paga direito a eles. Eles chegam na feira, chega a confusão, acho que já chegaram. No local da feira indicado pela informante, em frente à agência da Receita Federal, estávamos pela primeira vez, diante daquela, cuja existência nos motivou a conhecer sua trajetória de luta e vigor frente as adversidades do mundo branco. Ao vê-los diante dos nossos olhos comercializando suas cerâmicas em nenhum instante despertarmos interesse de estabelecer interação com suas pessoas. Havíamos estabelecido previamente, antes de estabelecer o diálogo, a necessidade de encontrar alguém na cidade que fosse da confiança do grupo e nos apresentasse. Com essa ideia de encontrar alguém de confiança da comunidade, dirigi-me a Secretaria de Educação e Cultura, lá, estava como secretária Dorinha. Ela apresentou um antigo professor da comunidade, por nome de Salu. que se tornou um guia por indicação abrindo as portas das casas da comunidade. Desse primeiro contato com os moradores do Riacho, numa forma de pesquisa exploratória, coletamos material suficiente para realizar relatório esperado. O desejo de continuar o relatório agora em forma de monografia, nos fez treze meses depois de sairmos da comunidade, retornamos ao Riacho. Ao chegar na comunidade, me hospedei em um galpão por uma semana, ao invés de ir e vir a cidade todos os dias. Apesar do tempo exíguo, ele foi suficiente para realizar as entrevistas e observação do participante. Ao sair do mundo do Riacho, outra semana transcorreu nas bibliotecas do município, a fim de encontrar material referente à história do negro no município, paralelo a esta tarefa entrevistou-se pessoas ligadas a paróquia da Imaculada Conceição (padre, diácono e ministras) que mantinham relação com a comunidade. Se a distância temporal de treze meses daquelas casas, pode parecer demais em um primeiro momento, dois anos sem nenhuma comunicação com os moradores do Riacho é muito mais, ainda, assim realizamos nossa terceira viagem a Currais Novos ao encontro do grupo, agora como aluno matriculado de mestrado, para passar dez dias. Nesse intervalo de dois anos, duas importantes informantes haviam falecido; Maria Sabina, porta voz do grupo dos negros, e Daliça, filha de Joana Caboclo. Ambas, eram as melhores narradorasda história oral da comunidade. A morte de Maria Sabina condicionou em definitivo que a coleta de dados na comunidade viria principalmente através dos caboclos, por mostrar-se mais abertos para conversar diante da minha presença. De forma geral, os membros do grupo dos negros buscavam evitar aproximação com as pessoas de fora. Optam por usarem do isolamento preferencial, isto é, opta pelo não contato. Apesar dessa estratégia, muitas das informações registradas aqui, vieram dos contatos fortuitos que a vivencia na comunidade nos forneceu. O vigor da vivência ressurgiu quando ao chegarmos procuramos os antigos fios de amizades que havíamos guardados com alguns habitantes da comunidade dos Negros do Riacho, para que pudessem ser ativados com a finalidade de concluir outra pesquisa mais profunda. Como de outras vezes, começaram a oferecer almoços, jantares e a pedir nosso comparecimento, à noite, para as conversas, antes da hora de dormir. Assim, a presença do “pesquisador” na casa dos caboclos era uma constante. Seja na Casa de Tereza Caboclo, pessoa mais velha do Riacho, e atual “prefeita” da comunidade, seja nas casas dos seus filhos: João, Geraldo, Tereza e Ana. A partir dos relatos gravados ou anotados destes cinco, obtivemos as maiores informações sobre a vida da comunidade. Além das entrevistas, um outro momento precioso para obter informações sobre a vida da comunidade, foi de observar seu cotidiano: as tarefas, as brincadeiras e a ida dos moradores do Riacho à cidade, onde seguíamos seu percurso pelas ruas para observar sua interação com os citadinos. Nestas ocasiões, presenciamos as brigas, os ciúmes, o trabalho na cerâmica, na roça, os serviços de casa, o futebol e os comportamentos dos citadinos diante dos negros do Riacho. Quando não estávamos em suas companhias, nestes momentos, buscamos, os sítios vizinhos ao Riacho, para obter mais informações a respeito das suas vidas, especificamente com três pessoas. Em primeiro lugar, na casa de uma professora que ensina aos alunos do Riacho; em segundo lugar, numa casa onde os moradores do Riacho fazem suas compras, semanalmente; e, nos finais de ano, vão para a festa de Nossa Senhora das Graças. Ambas as casas, situar- se no sítio Serrote do Melo. A outra pessoa a visitar foi o ancião Severino Bezerra de Medeiros, no sítio Pedra D’água, tido por todos das localidades adjacentes, como o maior detentor de conhecimento sobre o passado, em razão da sua idade de oitenta e cinco anos e da sua respeitável memória. Com o fim da coleta de dados na comunidade dos Negros do Riacho, veio à etapa de coleta de dados nas Queimadas. Como estratégia de pesquisa, antes de penetrar no seu território, visitou-se o sítio Totoró, próximo as Queimadas, com a intenção de entrevistar Chico Tomaz, por ser um grande conhecedor da história oral e por ser amigo dos queimadenses. Comprovada a memória de Chico Tomaz para relatar a história oral do Totoró e um pouco das Queimadas, buscou-se no dia seguinte, dirigia-se para a casa dos membros da comunidade. Após quatro dias, de idas e retornos, a estas casas deixou-se a comunidade com quatro entrevistas gravadas. Das entrevistas, optou-se por privilegiar o relato de Benedito Dionísio da Silva, por entender que ele domina a memória e a história do lugar, em detrimento dos demais relatos gravados na comunidade. A complementar os relatos orais dos queimadenses, no intuito construir uma visão explicativa para demonstrar a possibilidade do vínculo de parentesco entre está e os Negros do Riacho, tomou-se o inventário de Adriana de Holanda e Vasconcelos, como documento etnográfico. Este está presente no livro “Velhos Inventários do Seridó”, de Olavo de Medeiros Filho (1983). A terminar a segunda etapa da coleta dos dados nas Queimadas, viria a terceira e última, os trinta dias de trabalho de campo no perímetro urbano de Currais Novos, com seus 35, 529 habitantes (IBGE, 2000). Por ser uma cidade pequena, o contato entre as pessoas dá-se face a face, ou seja, predominam os contatos primários, assim todos os currais-novenses sabem pouco ou muito, a respeito da vida de cada um. Uns sabem mais do que os outros. Estes pouquíssimos, independentes da idade, parecem guardar informações preciosas sobre toda a vida da cidade. Para descobrir estes ilustres informantes nos preparamos para descobrir os circuitos, onde a cidade melhor se desnuda, por concentrar categorias de pessoas que a representa. Esses circuitos tinham seus espaços um pouco obscuros, porém, os eventos que estavam acontecendo na cidade (Festa de Nossa Senhora de Sant`Ana, Vaquejada, eleições para prefeito em 2002), auxilia-nos por demais a perceber esses espaços, neles, a estratificação social e as matizes de cor. Daí aos circuitos da feira; das praças Desembargador Tomaz Salustino e Tetê Salustino; da rodoviária; das igrejas de Sant`Ana e Imaculada Conceição; das bibliotecas, das sorveterias, das lanchonetes e os quiosques. Nestes circuitos ou palcos, encenava-se atos que comporia o drama do preconceito racial na cidade. A plateia restringia-se unicamente ao pesquisador e a outros anônimos que às vezes contam o desfecho desse drama se interrogados, contam a partir do seu próprio ângulo de visão. Assim, muitas vezes sentados numa praça ou numa sorveteria, puxava-se assunto para ouvir esses anônimos que, em alguns casos, transformam-se em ilustres ao comentar sobre os Negros do Riacho ou sobre as famílias estabelecidas. A importância de saber a opinião destes currais-novenses brancos e não-brancos, sobre os Negros do Riacho através de conversas descontraídas, e depois transformadas em quarenta anotações num caderno de campo, encontra-se no fato de buscar distinguir, se suas representações preconceituosas em relação aos negros do Riacho são as mesmas das famílias estabelecidas. O registro das conversas, nos mais diferentes espaços da cidade, não teve a meta de servir de amostra, mas de apoio para o que se observou em campo. A título de comparação, estas conversas foram o áudio que faltou nas observações das cenas de preconceitos em relação aos negros do Riacho e citadinos. As famílias aqui denominadas estabelecidas são as famílias Gavião, Bezerra e Salustino (Gomes de Melo), tidas como ‘‘as primeiras’’,as que mais contribuíram para a região de fazendas de gado fosse transformada na cidade de Currais Novos. Com estas famílias foram realizadas entrevistas em especial com dois membros de cada uma delas, para obter os mecanismos do preconceito racial. É possível captar a ótica do pensamento destas famílias, através de entrevistas, porque segundo Paul Thompson (1993), a família é um sistema estruturado ‘‘de relações interpessoais mantido à base de certos pressupostos (geralmente não declarados)’’ (Idem, 1993, p.13), mas que costuma designar um dos seus membros com autoridade capaz de revela o passado familiar. Assim, aos entrevistados fizeram-se perguntas sobre a gênese e a importância de suas famílias para a cidade. A partir desta ótica indicada por Thompson (1993), usou-se como critério para captar o passado destas famílias, que elas indicassem um dos seus membros, como capaz de melhor relatar o seu passado. Como complemento a assegurar a observação desses entrevistados escolheu-se um outro membro de cada família, independente da indicação. Desta vez prevaleceu como critério para escolher estes sujeitos, o contato com eles, a partir do qual avaliamos o nível de informações que eles detinham sobre o passado de suas respectivas famílias. Todos esses entrevistados tiveram seus nomes omitidos. Sua identificação dá-se apenas pelas indicações dos sobrenomes familiares, Galvão, Bezerra e Gomes. Em relação à família Gomes, ressalva-se que ela é tratada sem distinção da Salustino, por ser uma única família. Isto porque, o nome Salustino, passou ser empregado comosobrenome a partir, que o Capitão José Salustino Gomes de Melo, registrou dois dos seus filhos (o Desembargador Tomaz Salustino Gomes de Melo e José Salustino Gomes de Melo), com o seu segundo sobrenome, Salustino. Fora as famílias estabelecidas, renovamos novamente diálogo com pessoas da Igreja da Imaculada Conceição, através dos seus principais membros: padre, diácono e ministra local da “Ordem Terceira de São Francisco de Assis”, e outros dessa Ordem, que participaram de forma efetiva do trabalho de “humanização” da comunidade dos Negros do Riacho, no início dos anos noventa. Por já ter existido contato com estes, nas outras duas estadas em Currais Novos, em 1996 e 1997, o ambiente de familiaridade proporcionou realizar entrevistas informais, buscando sempre retirar desses diálogos, à impressão que tais membros tinham da comunidade dos Negros do Riacho, às vezes da comunidade das Queimadas. Ao realizar esta operação para coletar os dados, através de entrevistas e observação participante a fim de descobrir as nuanças do preconceito racial neste estudo, seguindo a orientação de Thales de Azevedo (1996), onde ele explica que o preconceito racial só “pode ser analisado através da formação da situação racial pelos membros do grupo ou por meio do exame da interação simbólica” (Idem, 1996, p.149). Para uma análise mais objetiva, Azevedo (1996), julga necessário combinar o ato de ouvir dos envolvidos, com a observação dos seus comportamentos, verificando se estes condizem com suas falas. Complementando esta técnica de coleta de dados efetivada a partir da orientação em Azevedo, observamos e acrescentamos a de Bastide & Fernandes (1971), quando eles afirmam que as fontes primárias (documentos, relatórios oficiais, livros de viajantes, coleções de jornais) e as fontes secundárias, principalmente de interpretação histórica, são primordiais para analisar os sintomas do preconceito racial. Introdução A educação é a prática social que acontece nas diferentes instâncias das sociedades, seu objetivo é proporcionar aos seres humanos uma participação nas invenções da civilização enquanto resultado do seu trabalho, bem como, na sua construção e desenvolvimento. Isto porque não existe educação, a não ser vinculada às relações sociais que juntam os homens entre si de modo garantir a sua sobrevivência. Assim sendo, a ciência da educação constitui uma tarefa da pedagogia para conhecer e explicitar as diversas configurações que a educação se manifesta, enquanto prática social, bem como, a contribuição que ela pode dar, visando definir rumos para a sociedade. Surge a Didática enquanto ciência, que tem como objeto de estudo o ensino e a aprendizagem. O foco da Didática incide no estudo do conhecimento, dos processos de ensino e aprendizagem, na investigação de possibilidades, de estruturação e funcionamento das diferentes dimensões dos conhecimentos, com objetivo de criar probabilidades de ensinar e aprender. A pesquisa Didática deve adaptar os método e as técnicas de maneira a obter o máximo resultado com o mínimo de esforço (princípio comeniano da Didática Magna requisitos objetivos da matéria de ensino e da sua lógica interna que as capacidades subjetivas do aluno e da sua psicologia (LAENG, 1973 p. 128) Resumindo Análise da existência de coesão entre teoria e prática, deve se considerar o exercício profissional, enquanto prática social, moldada à constituição da mesma. Dessa maneira, a construção de novos conhecimentos, implica em uma ação consciente sobre a realidade, atendendo às finalidades pré-determinadas e considerando a realidade (existente). Procura-se assim conhecer a realidade nas suas determinações, para identificar as possibilidades do novo, resultante do confronto entre o ideal (a realidade que se quer) e o real (o existente). As ideias expostas acima são consideradas essenciais para o entendimento do objeto de estudo da Didática e foram apresentadas por Selma Garrido, na sua obra: O Estágio na Formação de Professores: Unidade Teoria e Prática? Compreender o objeto de estudo da didática, envolve a interiorização de quaisquer propostas didáticas, implicitamente ou explicitamente partem de duas concepções básicas. Por um lado, uma concepção de ensino e aprendizagem que relacione e articule as dimensões: humana técnica e político-social e por outro lado, uma concepção que valorize as diferentes maneiras de ensinar que integram o saber, o fazer e o ser; a racionalidade e a sensibilidade; a teoria e o tecnológico de que resultam em novos modos de pensar e de aprender. O desafio da didática na atualidade é superar a uma dimensão técnica, propondo alterações na maneira de agir e pensar do docente. Para Paulo Freire, ensinar é uma forma de intervenção na sociedade, indo mesmo além da simples transmissão de conteúdos, que se limita a reproduzir a ideologia dominante. O autor refere ainda que, o professor deverá perceber que sua prática não é neutra, por um lado, não pode deixar de se capacitar para ensinar corretamente e adequadamente os conteúdos da área de conhecimento em que trabalha, mas por outro lado, não pode reduzir a sua prática docente ao puro ensino desses conteúdos. (FREIRE, 1997). Esse desafio obriga a escola e o professor a uma permanente busca do sentido e significado para a prática educativa, numa dinâmica em que assumem em conjunto que estão aprendendo e ensinando enquanto professores, na busca permanente de novos saberes. (ALVES; DIMENSTEIN, 2003). O professor deve-se constituir enquanto mediador de um processo em que ele e os demais aprendem em conjunto. Nesse contexto tanto o professor, quanto o estudante necessitam recorrer a métodos e técnicas, em virtude do processo de construção do seu próprio saber e exigir análise, síntese, interpretação de dados, fatos e situações, isso para além da experiência de vida. Objeto de estudo A didática aborda o desenho da arte do ensino, provendo as bases para que os professores possam trabalhar as situações de aprendizados em sala de aula. Mas esta ideia se sintetiza os métodos e técnicas de ensino, limitando o verdadeiro significado da ciência e não a explicando por completo. A pesquisa realizada por Bernardete Angelina Gatti (2010) apresenta quatro grupos de concepções associadas aos estudos em educação, enquanto campo da investigação que tem por objeto ações educacionais, considerando essas ações no campo da sua localização nas realidades sociais e escolares. Essas concepções têm reflexos diretos nas pesquisas desenvolvidas e nas formas de conceber a educação. http://books.google.com/books?id=8m6RXzWakwcC&printsec=frontcover&dq=Paulo+Freire&hl=pt-PT&ei=RFp3TrrvBYPMgQeqiPDkDA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CEEQ6AEwAg#v=onepage&q&f=false A primeira concepção está associada a uma perspectiva técnico-instrumental, em que a educação é encarada como conjunto de métodos, técnicas e procedimentos para o ensino, portanto na didática, existem ordenações de organização e gestão. A segunda concepção está associada à perspectiva lógico-cognitiva, tendo como foco as teorizações sobre questões associadas ao ensino das disciplinas. A proposição é de que se diferencie pesquisa de ensino, não devendo a pesquisa conduzir diretamente a recomendações de ações na escola, pelo menos, não antes de se ter racionalmente estabelecido parâmetros epistemológicos seguros para conteúdos em suas especificidades disciplinares. A terceira concepção coloca-se do ponto de vista do sujeito que aprende, investigando os processos de apropriação dos saberes e se apoia basicamente na proposta Epistemologia Genética ou Teoria Psicogenética propostas por Jean Piaget, ou na referência sociointeracionista, sociocultural ou sócio- histórica abordada por Lev Vygotsky.Nesses subsídios não estão presente uma preocupação explícita com as bases epistemológicas que sustentam os conteúdos do ensino. O foco são os processos de aprendizagem das crianças ou jovens, gerando o que se poderia caracterizar como uma abordagem cognitivista, em que os sujeitos aprendentes são o foco, não o que há para aprender ou o que se considera desejável que aprenda em determinada sociedade por razões históricas. Não há um olhar sobre o valor dos conteúdos, dos saberes em situações sociais determinadas. Apenas o processo do aprender é considerado. A quarta concepção parte do pensar as ações educativas, criando conceitos fecundos na relação teoria-prática e produzindo conjuntos instrumentais ancorados em uma reflexão sobre suas utilizações e suas finalidades, em contextos complexamente considerados. Esta posição expressa a ideia de que o conhecimento em educação nasce da prática e com a prática deve a ela retornar. Sem o retorno à prática e sem a passagem pela axiologia, o conhecimento se arrisca a ser apenas um “simulacro.” Nesta vertente a pesquisa é concebida, sobretudo como pesquisa-ação, em variadas possibilidades, procurando assegurar uma inter-relação entre a pesquisa formal e os procedimentos da investigação na ação, porém, criando teorizações e fundamentando-as. Mobilizam-se certos conhecimentos que ajudam a compreender situações e criar novos modos de ação. Funda-se sobre a análise do estatuto sócio-histórico o saber a ser ensinado e dos objetivos do próprio ensino, considerando critérios de pertinência e não critérios de legitimidade. METODOLOGIAS DE ENSINO A Metodologia A Metodologia constitui o estudo dos métodos, é o conjunto das ações de investigação das diversas ciências, quanto aos seus fundamentos e validade, diferenciando-se das técnicas que são aplicações exclusivas dos métodos. A Didática enquanto ciência existe uma conexão entre os métodos próprios da ciência que dão suporte ao objeto de ensino e os métodos de ensino. Portanto, a metodologia pode ser compreendida no âmbito geral considerando os diversos métodos: métodos tradicionais, métodos ativos, métodos da descoberta e método de solução de problemas. As metodologias específicas são aquelas que tratam dos procedimentos de ensino e estudo das disciplinas do currículo escolar, como exemplo: Matemática, História, Português e outras que estão à disposição do professor. Nesse caso cabe ao professor definir os critérios para selecionar os métodos e técnicas de ensino, antes de elaborar sua proposta didática pedagógica com intenção de possibilitar ao estudante a construção do conhecimento. Alguns critérios são considerados básicos, tais como: ajuste dos objetivos definidos ao processo de ensino e aprendizagem; a natureza do conteúdo a ser ensinado; a natureza da aprendizagem que se procura que o educando se solidifique; considerando as características apresentadas pelos estudantes: idade, desenvolvimento mental, interesse, expectativas de aprendizagem; condições físicas disponíveis e o tempo atribuído. As técnicas e outros elementos de ensino são recursos e complementos da metodologia que promovem a ação e reflexão sobre a sua neutralidade. Os métodos e técnicas de ensino não são neutros, em virtude de serem suportados por referenciais teóricos implícitos, que determinam a prática docente e a intenção dos docentes ao escolherem os métodos que serão empregados na sua atuação docente. Conhecendo as Metodologias de Ensino O processo de ensino se caracteriza pela combinação de atividades do professor e dos estudantes. O direcionamento a esse processo está associado com o planejamento pelo professor no desenvolvimento das aulas envolvendo: a definição dos objetivos, a seleção dos conteúdos e os métodos do ensino. (LIBÂNEO, 1994). Os métodos de ensino se constituem enquanto sequência de operações, com vistas a um determinado resultado que se espera. São fundados na relação entre os objetivos e os conteúdos, e determinam a forma como devem alcançar, por intermédio do processo de ensino e os objetivos definidos pelo professor. A seleção dos métodos e técnicas utilizados no processo ensino-aprendizagem não é neutra, obrigando à opção por pressupostos teóricos implícitos. O método expressa também uma visão global da relação do processo educativo com a sociedade, atendendo aos seus desígnios sociais e pedagógicos, assim como as expectativas de formação dos estudantes perante as exigências e desafios que a realidade social levanta. (LIBÂNEO, 1994). Os métodos de ensino são as ações do professor por intermédio das suas atividades com os estudantes, procurando atingir os objetivos do trabalho docente, considerando um conteúdo específico. Existem variadas maneiras de classificar os métodos de ensino e por sua vez, cada método tem técnicas que lhes são mais ajustadas. No sentido de procurar uma correlação entre algumas técnicas e métodos de ensino, apresenta-se uma sistematização da classificação dos métodos adaptada de Carvalho (1973). Como se pode verificar nas próximas unidades de estudo. Métodos Individualizados de Ensino Dentre os métodos estudados, temos os Individualizados de Ensino neles podemos destacar: AULA EXPOSITIVA: Consiste na apresentação oral de um tema logicamente estruturado. Com a utilização desse método, temos a exposição dogmática, aberta ou dialogada dos conteúdos. A mensagem a ser transmitida não pode ser considerada devendo ser repetida por ocasião das provas de verificação. Por ser dialógica, a mensagem do professor é simples pretexto para desencadear a participação, podendo haver contestação, pesquisa e discussão. ESTUDO DIRIGIDO: A proposta é fazer com que os estudantes estudem a partir de um roteiro elaborado pelo professor, o qual estabelece a profundidade do estudo. Nesse método, há leitura de textos e manipulação de matérias ou construção e observação de objetos, fatos ou fenômenos na busca de conclusões. CENTRO DE INTERESSE: Concepção também fundada na Biologia percebe a educação como manutenção e conservação da vida. Seguida por alguns princípios como autoeducação; uma escola para a vida e pela vida; orientações de classes homogêneas de acordo com o ritmo de aprendizagem dos estudantes; redução do número de alunos por classe; consideração aos interesses naturais das crianças e às condições locais; centros de interesse. Métodos Socializados de Ensino USO DE JOGOS: Atividade física ou mental, organizada por um sistema de regras, é natural do ser humano inserindo-se na ludicidade humana e estimulando-a. Regida pelos princípios de mobilização dos esquemas mentais de forma a acionar as funções psiconeuróticas e as operações mentais estimulando o pensamento, além de integrar as dimensões afetivas, motoras e cognitivas da personalidade, correspondendo a um impulso natural do estudante, seja ele criança ou adulto, pois o ser humano apresenta uma tendência lúdica. Absorve o jogador de forma intensa e total, criando um clima de entusiasmo. DRAMATIZAÇÃO (Role-playing): Representação pelos estudantes de um fato ou fenômeno, de forma espontânea ou planejada. Este princípio leva o estudante a concretizar uma situação-problema, contribuindo para aumentar o nível de motivação, ajuda a desenvolver a capacidade dos estudantes de colocarem imaginariamente um papel que não é o próprio. TRABALHO EM GRUPO: Oportunidade para o diálogo, a troca de ideias e informações. É regido pelos princípios de facilitação da construção do conhecimento, possibilitando a prática da cooperação para conseguir um bem em comum. Além de favorecer a formação de certos hábitos e atitudes de convívio social, coopera com a união de esforços para que o objetivo comum possa ser atingido, planeja em conjunto as etapas de um trabalho dividindo tarefas e atribuições, tendo em vista a participação de todos,expondo suas ideias e opiniões sucintas, de forma a serem compreendidas, aceitando e fazendo críticas construtivas e, sobretudo ouvindo com atenção os colegas, esperando a vez de falar, respeitando a opinião alheia e por último, aceitar a decisão quando ficar resolvido que prevalecerá a opinião da maioria. ESTUDOS DE CASO: Apresentação de uma situação real aos estudantes dentro do assunto estudado, para que analisem e, se for necessário, proponham alternativas de solução. Facilita a construção do conhecimento, permite a troca de ideias e informações de seus princípios. ESTUDO DO MEIO: Técnica que permite o estudo de forma direta, o meio natural e social que circunda e do qual participa. Seus princípios são o de facilitar a construção do conhecimento e permitir a troca de ideias e informações, criando condições para que o aluno entre em contato com a realidade circundante, promovendo o estudo dos seus vários aspectos de forma direta, objetiva e ordenada. Ainda, propicia a aquisição de conhecimentos geográficos, históricos e econômicos, sociais, políticos, científicos, artísticos, etc. De forma direta por meio da experiência vivida, desenvolve assim, habilidades de entrevistar, coletar dados, analisar, sintetizar e tirar conclusões. Métodos Socioindividualizados de ensino MÉTODO DA DESCOBERTA: Proposição aos estudantes de uma situação de experiência e observação, para que eles formulem por si próprios conceitos e princípios, utilizando o raciocínio indutivo. Seus princípios consistem no uso de procedimentos indutivos, participação ativa e vê o erro como fonte de aprendizagem. MÉTODO DA SOLUÇÃO DE PROBLEMAS: Apresentação do estudante, a uma situação problemática, para que ele proponha uma situação satisfatória, utilizando os conhecimentos que já dispõe ou buscando novas informações por meio da pesquisa. Estimular a participação do educando na construção do conhecimento, desenvolvendo raciocínio, favorecendo a aquisição de conhecimentos e a transferência de aprendizagens desenvolvendo a prática pela iniciativa de busca. MÉTODO DE PROJETOS: O ensino realiza-se por meio de amplas unidades de trabalho, estas com uma finalização em vista e supõe a atividade proposta do estudante. Desenvolve o raciocínio aplicado à vida real, buscando soluções de um problema a integração do pensamento, sentimento e ação dos educandos a partir da realidade, a globalização do ensino. Unidades didáticas: Organização e desenvolvimento do ensino por meio de unidades amplas, significativas e globalizadas de conhecimentos. Promoção e aquisição de conhecimentos de forma globalizada, estruturada e ordenada, permitindo o estudante construir o saber como um todo orgânico, estimulando o pensamento lógico e a atividade reflexiva do educando. PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO Introdução O planejamento envolve a análise de uma realidade, a reflexão sobre as condições nela existentes e a previsão de processos de intervenção, visando superar as dificuldades ou atingir os objetivos ambicionados. O plano tem a conotação de produto do planejamento. Na educação, pode-se falar que o planejamento é um processo de racionalização, organização e coordenação de ações, que permitam a concretização de objetivos que envolvam e articulem a atividade escolar e a problematização do contexto social. O plano de ensino é um guia organizado em unidades didáticas para um período de tempo e utilizado para o registro de decisões: o que se pensa fazer? Como se vai fazer? Quando? Com o quê? Com quem se vai fazer? (LIBÂNEO, 1994). O planejamento pedagógico ocorre na escola, é uma ação de responsabilidade do professor que inclui a previsão das atividades didáticas, além de planejar as ações docentes, também é um momento de pesquisa e organização dos aspectos que serão avaliados no decorrer da ação docente. Portanto, o planejamento pedagógico na escola prevê o processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, em articulação à atividade docente e o contexto social.Vale advertir, que tudo que ocorre no cenário escolar está recheado de influencias econômicas, políticas e culturais, isto quer dizer que os elementos que constituem a escola são influenciados diretamente pela sociedade. Assim, o planejamento não se trata apenas de preencher formulários para o acompanhamento do coordenador pedagógico da escola. O planejamento escolar tem a função de explicitar princípios, diretrizes e procedimentos que assegurem a conexão entre as atividades da escola e as exigências da sociedade atual que exige participação democrática. O plano é a formalização sistematizada e justificada de um conjunto de decisões tomadas, relativas à ação, envolvendo desse modo, uma discussão prévia sobre os fins e objetivos do planejamento. Não se apresenta como um documento rígido e absoluto, variando conforme os diferentes momentos do processo de planejar, envolvendo naturalmente desafios e contradições. Para que se constitua num instrumento eficiente de ação, precisa apresentar diretrizes claras, práticas e objetivas. Desenvolver o currículo e promover a aprendizagem envolve obrigatoriamente o planejamento. Apesar de que, na educação o improviso é importante e necessário, e deve acontecer enquanto uma exceção e não como regra. O planejamento deve constituir preocupação permanente do professor. O docente necessita ver seu objetivo como um momento de chegada e trabalhar as competências em função dele. Só desse modo o professor deixa de ser um simples executor e transforma-se em um profissional capaz de atribuir um sentido ao seu trabalho. A primeira parte de um planejamento envolve o diagnóstico da realidade. Nesse momento, o professor tendo por referência o seu envolvimento com o espaço escolar e comunitário, deve perceber quais são as necessidades dos estudantes, da comunidade e do próprio ambiente escolar. A segunda parte o professor, atendendo ao diagnóstico, define os objetivos para que se alcance a aprendizagem pretendida. Na fase da seleção dos conteúdos o professor deverá relacionar o que ensinar e quando ensinar. Na posse dos conteúdos anteriormente selecionados e considerando os objetivos, o professor deverá apresentar os procedimentos pedagógicos a utilizar. No momento da escolha dos recursos didáticos, o docente seleciona os recursos (vídeo, computador, data show, etc.) que serão utilizados. Ao passo da estruturação do plano de ensino, o professor especifica e prevê a sua operacionalização, apresentando as ações e procedimentos que irá realizar na sala de aula e os materiais que se pretende usar. Na avaliação o professor estabelece as diversas formas como mensurará o aprendizado dos estudantes. Isso pode ocorrer por intermédio de provas escritas e orais ou envolver a experimentação. O feedback ou retroalimentação pode vir dos estudantes, de outros professores, da comunidade ou mesmo ser oriundo da sociedade em geral. Quando o professor realiza uma autoavaliação e percebe que o caminho seguido não alcançou o resultado pretendido, é fundamental que aconteça o replanejamento. Por seu intermédio se reinicia o processo, procurando atender às necessidades de aprendizagem dos estudantes. Tipos de planejamento O planejamento possibilita e permite à escola e ao professor, organizar antecipadamente a ação didática, possibilitando atender mais facilmente aos objetivos desejados, superar as dificuldades, evitar a improvisação, aumentar a economia de tempo e eficiência na ação. No âmbito da educação é possível encontrar vários tipos de planejamento: O planejamento do sistema educacional em nível nacional, estadual ou municipal, vem refletindo a política de educação adotada. Eledeve ser executado por toda a equipe da instituição de ensino, abarcando a tomada de decisões no que diz respeito aos objetivos a serem alcançados e a previsão de ações desenvolvidas pela escola. Está relacionado à previsão por todos aqueles que participam do processo pedagógico da escola. O planejamento curricular integra o desenvolvimento dos conteúdos programáticos previstos nos diversos componentes curriculares a serem desenvolvidos ao longo do curso. Enquanto que o planejamento didático ou de ensino envolve a especificação e a operacionalização do plano curricular e prevê as ações que o professor irá realizar tendo em vista atingir os objetivos educacionais estabelecidos, envolve a organização das atividades dos estudantes e as suas experiências de aprendizagem. Características de um bom plano de ensino Falar de um bom plano de ensino envolve encontrar nele incluídos: os objetivos que se pretende alcançar, os conteúdos selecionados e organizados de forma coerente com as especificidades do curso e as características e expectativas dos estudantes, bem quanto a estreita articulação com as áreas ou disciplinas afins. Contudo é preciso ir mais além e considerar a necessidade do plano: Apresentar os objetivos passíveis de serem executados; Utilizar recursos que favorecem a sua execução; Propor conteúdos que permitam alcançar os objetivos propostos; Atribuir às atividades, tempo que permita o desenvolvimento e aprendizagem dos conteúdos, em seus diversos níveis de complexidade.
Compartilhar