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UNIVERSIDADE PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS
CAMPUS ARARAQUARA
PETERSON DA SILVA
A Representação Social da figura do “Malandro” no contexto brasileiro.
Trabalho final elaborado para a disciplina Sociologia das Imagens, ministrada pela Prof. Dr. José Reis dos Santos Filho.
 
ARARAQUARA,
Agosto – 2016
Introdução: 
O trabalho que será aqui apresentado tem por intuito desdobrar algumas questões que se reverberaram na formação cultural brasileira e se manifestaram enquanto chave explicativa para a compreensão de mentalidades e de identidades assumidas/projetadas no contexto do século XIX. 
No entanto, mais que um estudo de processos de estruturas que tocam também no plano da identidade, temos como horizonte a perspectiva de análise da sociologia da imagem para pensar a representação social personificada na figura do malandro, assim como fora realizada pelo professor José Reis dos Santos Filho[footnoteRef:1] quando analisara a representação social da “Ninfeta”. [1: A EXISTÊNCIA SÓCIO-IMAGINÁRIA DA NINFETA COMO MEDIAÇÃO DO AGIR-VIOLÊNCIA. Trabalho apresentado originalmente no Simpósio Paraná-São Paulo sobre Sexualidade, em mesa redonda sobre Sexualidade, Adolescência e Situações de Risco, organizada no dia 08 de abril de 2005, nas dependências da UNIP – Universidade Paulista, Campus de Araraquara. ] 
	 Neste sentido, a retratação que se faz da figura imagética do malandro aparece como uma projeção elucidativa que denota como os indivíduos vivem de modo oscilante entre hemisférios de ordenação societária: ordem e desordem. Assim sendo, para concatenar estes dois conceitos na sua forma alusiva, evocaremos as ideias contidas no artigo de Antonio Candido – A dialética da malandragem (1970) – para compreendermos a maneira em que estas ideias são desencadeadas em convergência com a representação do malandro. 
	
2. A representação social do “Malandro”.
 
De partida, se faz necessário dizer que as ideias de Antonio Candido em tal artigo tomam como alento a clássica obra de Manuel Antonio Almeida – Memórias de um Sargento de Milícias –, a qual é remetida ao contexto da primeira metade do século XIX no Brasil. Amiúde, podemos dizer que a preocupação de Antonio Candido está ligada ao princípio moral que segmenta as Memórias e tem no seu alcance o contraste com a ficção brasileira daquele contexto. 
	Na ótica de Antonio Candido (1970), as Memórias apresentam dois hemisférios atuantes como forças de atração, a saber, o hemisfério positivo, ou da ordem – representado em sua forma máxima na figura do major Vidigal – e o hemisfério negativo, ou da desordem. Os polos, considerados isoladamente, aparecem de forma nítida e clara, contudo, não se antagonizam nem tampouco se excluem. Notadamente, a relação entre ambos se faz por estreitar-se a partir da dinâmica da vida social, de modo que ordem e desordem se comunicam e estabelecem relações de modo dialético. Em alguma medida, esta constante confusão e oscilação entre as esferas da ordem e da desordem são características que perpassam todos os personagens da história, sobretudo na representação do personagem principal da obra, Leonardo filho, que não possui um lugar fixo e em toda sua vida oscila entre os supracitados hemisférios. 
	Desta maneira, podemos dizer que todos personagens podem estar – e geralmente de fato estão – oscilando entre as esferas da ordem e da desordem, mesmo que imperceptivelmente, pois estas características demonstram uma sociedade mais flexível e se apresentam como um traço cultural de condicionamento de mentalidades e comportamentos. 
	Em alguma medida, as formas de sociabilidade expressas nas Memórias têm sido comparadas pelo universo acadêmico em chave explicativa com as dinâmicas das relações sociais de origem anglo-saxãs[footnoteRef:2]. Via de regra, os estudos demonstram que as importações de ideias exógenas, ao esbarrarem na realidade, tomaram forma própria, orientando assim ideologias ortodoxas que não apresentam aceitabilidade suficiente por se demonstrarem incompatíveis com a realidade ibero-americana[footnoteRef:3]. Como afirma Morse (MORSE, 1988), a racionalidade ocidental e rígida verificada em países de origem anglo-saxã decorreu de uma junção de elementos de origem econômica, política, científica, teológica e filosófica. Neste aspecto, a tradição ibérica, tendo apresentado antecedentes distintos e evidenciando um caminho distinto percorrido legou formas e aspectos culturais peculiares à sociedade brasileira, em que estes elementos formativos teriam estabelecidos um horizonte de sociabilidades distintas do ocidente europeu. A Ibéria transplantou sua cultura às Américas mas houve sempre uma resistência de modo que esta as absorveu e desenvolveu-as segundo dinâmicas próprias, gerando como resultado reminiscências culturais formativas e mentalidades assimiladas a partir de um modo típico de aceitação. [2: Se faz importante elucidar que não temos a pretensão de fazer um desdobramento originário de tais origens. O que nos interessa aqui, é apenas colocar este aspecto de modo contrastante para fundamentar nossa argumentação a partir das relações sociais já descritas no que tange a Brasil e a figura social que exerce o “malandro”] [3: Para o aprofundamento das influências e do legado das ideias ibéricas no Brasil, ver Richard Morse (1988).] 
 Dentre os elementos destacados como chave explicativa de nossa cultura, o culto à personalidade teria se desenvolvido na forma de uma autonomia ou independência da pessoa aos demais indivíduos. Em concordância com a obra de Buarque de Holanda, nas Memórias há um personalismo que permeia os personagens e se explicita em seu grau máximo nos representantes da ordem e da autoridade, não havendo assim a figura social de indivíduos na sociedade retratada nas Memórias nem tampouco cidadãos. As relações se estabeleciam segundo o sentido das propriedades de prestígio de cada um, não segundo critérios universais de tratamento – o que suscita, em que alguma proporção, o personalismo engendrado na esfera jurídica.
	Colocado nesta dimensão, a ordem não é apenas identificada, mas também personalizada na figura de Vidigal – agente público e chefe de uma estrutura militar cuja a responsabilidade é determinar a ordem numa sociedade que insiste em negá-la diariamente como forma de sua superação. Deste modo, portanto, a reverberação do personalismo remonta à formação do povo português fazendo com que se permitisse a permeabilidade na estrutura social e que possibilitava a movimentação de indivíduos. 
Diante à perspectiva acima, podemos colocar enquanto evidencia o papel que irá cumprir o Estado dentro deste escopo de relações, no qual não é a única fonte de determinação normativa de como deveria se estabelecer as relações sociais. Por este viés, o Estado não é uma extensão do círculo familiar – instituição esta que pode outrora ser concebida como uma simples legatária do próprio Estado –, mas que se funda apenas a partir da transgressão de círculo de alianças, de relações de parentesco e de familiaridade. 
	Neste sentido, o indivíduo criado a partir da organização patriarcal, segundo o autor, dificilmente consegue estabelecer uma diferenciação exata entre o público e o privado que nem sequer existiam solidamente naquela sociedade e que desenvolveu tipos de mentalidade que insistiram em permanecer e se reproduzir de forma consciente ou não.
Os tipos de sociabilidade explicitados a partir da junção de elementos culturais postos em contato com a organização ordenada que se esforça por se consolidar, mas que acaba sempre por ser subvertida e superada, promovem uma configuração social que impele os indivíduos aos dois hemisférios que perpassam a obra de Manuel Antonio de Almeida, isto é, a ordem e a desordem. Na figura máxima de Leonardo, os membros de tal realidade social permanecem em sua oscilação entre os polos positivo e negativo. Assim, é no contexto deste desencadeamento de situações que podemos destacar que a história deLeonardo filho oscila entre o universo da desordem – caracterizada por uma série de condutas transgressivas –, e pelo universo da ordem societária que tenta se estabelecer, pela qual nosso personagem tenta se integrar.
Podemos tomar como exemplo a representação do personagem major Vidigal e como se manifestam suas condutas, isto é, condutas estas que transitam pela ordem e desordem; é neste personagem que as relações de pessoalidade e impessoalidade melhor se explicitam. Deste modo, Antonio Candido (1970) acentua:
“(...)Ordem e desordem se articulam portanto solidamente; o mundo hierarquizado na aparência se revela essencialmente subvertido, quando os extremos se tocam e a habilidade geral dos personagens é justificada pelo escorregão que traz o major das alturas sancionadas da lei para complacências duvidosas com as camadas que ele reprime sem parar”.[footnoteRef:4] [4: CANDIDO, A. "Dialética da Malandragem (caracterização das Memórias de um sargento de milícias)" In: Revista do Instituto de estudos brasileiros, nº 8, São Paulo, USP, 1970 p. 79] 
De certo modo, a novelística de Manuel Almeida nos mostra toda uma dinâmica das formas espontâneas de vida social que nos é peculiar e que se articula com a própria formação societária e de identidade do Brasil; o entendimento de todas estas questões no plano da cultura, e que decorre no plano da moralidade, do ethos e da própria política, nos remete também a uma formação histórica. Assim sendo, a título apenas de uma breve pontuação tomada como exemplo, podemos pensar à maneira que este processo se deu no Brasil e nos Estados Unidos como relação de contraste[footnoteRef:5]. [5: Não temos por objetivo comparar na sua origem tal contraste. Esta pontuação nos serve apenas a título de didática para melhor aprofundar a questão no Brasil.] 
Seguindo a linha de raciocínio de nossa argumentação até aqui, também cabe fazer uma breve análise – além da dialética ordem/desordem – a dialética que se desdobra da que explanamos até então: a dialética da pessoalidade/impessoalidade.
Se a “dialética da malandragem”, a partir do que vimos em Antonio Candido (1970) está intrinsecamente relacionada a uma “dialética de ordem/desordem”, podemos de saída presumir uma segunda dialética que também convergirá na compreensão da anterior. Esta segunda, podemos dizer, nos termos de DaMatta (1997), concatenada na dimensão de indivíduo e pessoa, pelo qual representa, é também detentora de dois polos: o de impessoalidade, e o de pessoalidade (que também oscila de um polo a outro).
Para DaMatta (1997), existem sistemas que, a partir de suas ideias construídas socialmente, privilegiam a representação do sujeito personificado enquanto indivíduo, e outros que o valorizam enquanto pessoa. Neste sentido, a concepção moderna de indivíduo no Brasil pode ser caracterizada como uma imposição num rígido sistema de relações pessoais. Ora, se retomarmos o romance de Manuel Almeida, a problemática se assenta justamente nesta questão. À época contextualizada na obra, a grande angústia era de como introduzir leis universais numa sociedade – recém-formada – cuja lógica está alicerçada em paradigmas da pessoalidade. O exemplo máximo desta relação é o próprio major Vidigal; sendo um representante da lei (portanto estando no polo da ordem, onde o que se sobrepõem deveria ser a impessoalidade), este se deixa influenciar pela lógica do favor, acatando assim o pedido de uma mulher pela qual a relação se fundamenta na pessoalidade. Nestes termos, DaMatta nos elucida:
“(...)Num polo temos a sociedade dos “donos do poder”, para usarmos a expressão de Faoro (1975); noutro, o projeto da nação burguesa e capitalista. A oposição fundamental é a de indivíduo e pessoa, como aliás, já havia colocado Alceu Amoroso Lima no seu A realidade Americana (1955). Nos Estados Unidos, a realidade é, para Amoroso Lima, formada de indivíduos, ao passo que no Brasil a unidade social é a pessoa. Nem cá nem lá desapareceram o indivíduo ou a pessoa. Apenas se balanceou o sistema de modo diverso”.[footnoteRef:6] [6: DAMATTA, R. Cap. IV: Sabe com que está falando? In: Carnavais Malandros e Heróis – Para uma Sociologia do Dilema Brasileiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.p.231-2.] 
A grande problemática que aqui ganha forma é a dificuldade, justamente, de se operar a categoria de indivíduo, pois no caso brasileiro, esta conceituação está na construção dos seus próprios valores referenciais, isto é:
“(...)Individualizar significa, antes de tudo, desvincular-se dos segmentos tradicionais como a casa, a família, o eixo das relações pessoais como meios de ligação com a totalidade. Trata-se de buscar uma ligação direta com o Estado, por meio de associações voluntárias como o sindicato, o partido político e os órgãos de representação de classe. Mas para tanto é preciso abrir mão dos direitos substantivamente dados pelo sangue, pela filiação, pelo casamento, pela amizade e pelo compadrio”.[footnoteRef:7] [7: Ibdem, p. 231-2] 
3. Considerações Finais:
Por fim, dando encerramento a nossa análise, nosso principal objetivo, seguindo a perspectiva do estudo do professor José Reis dos Santos Filho a respeito da representação social da “Ninfeta”, seguiu na tentativa de desdobrar uma breve explanação da representatividade social que tem a figura do “Malandro” na sociedade brasileira – sobretudo no contexto do século XIX.
Nesse sentido, a dialética da malandragem pressupõe a dialética de indivíduo e pessoa que se reverbera na relação de ordem/desordem, tendo como fator elucidativo a transição e oscilação do brasileiro de um polo a outro; e o personalismo, que se desdobra numa forma de sociabilidade que tem por base a desigualdade entre individuos, fundamentado num culto à propriedades singulares (isto é, culto à persona).
Assim sendo, nosso foco foi apontar a representação do malandro dentro de um escopo de desencadeamento das relações de sociabilidade no âmbito da cultura e da política, apontando a figura ilustrativa do “malandro” a partir das relações de sociabilidade na perspectiva da pessoalidade. 
A tentativa de estudar a figura do “malandro” enquanto uma representação social parte da ideia e da compreensão das relações sociais do culto à personalidade e a transição recorrente desta personagem pelo que o próprio Antonio Candido (1970) nos indica como dialética de ordem e desordem, podendo gerar uma segunda dialética – ilustrada por Roberto DaMatta (1997), na qual podemos contrastar com a primeira – que também nos propicia pensar esta figura social imagética do malandro: a dialética da pessoalidade e impessoalidade.
	
	 
	
Bibliografia:
ALMEIDA, M. A. Memórias de um sargento de milícias. São Paulo: O Estado de S. Paulo: Click, 1997.
 CANDIDO, A. "Dialética da Malandragem (caracterização das Memórias de um sargento de milícias)" In: Revista do Instituto de estudos brasileiros, nº 8, São Paulo, USP, 1970, p. 67-89.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: INL/José Olympio Editora, 1971. Edição original: 1936.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & Senzala: formação da família brasileira sob regime de economia patriarcal. São Paulo/ Rio de Janeiro: Record, 2000.
MORSE, Richard McGee. O espelho de próspero: cultura e ideias nas Américas. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
WERNECK VIANNA, L. Cap. 1: Caminhos e descaminhos da revolução passiva à brasileira. In: A revolução passiva - Iberismo e americanismo no Brasil. Rio de Janeiro: IUPERJ: Revan, 1997.
 DAMATTA, R. Você sabe com quem está falando? In: Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Rocco 1997.

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