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Livro- Texto - Unidade II

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REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
Unidade II
3 GOVERNO CONSTITUCIONAL DE GETÚLIO VARGAS – 1934‑1937
O país, a partir de 1934, finalmente viveria a democracia tão aguardada. As leis estavam de volta e, até 
mesmo, os opositores mais ferrenhos não podiam fazer qualquer acusação de que Vargas concentrava 
poder. Mais do que isso, acreditava‑se que a modernização proposta pela ruptura de 1930 seria bastante 
desenvolvida e o progresso tomaria conta das grandes capitais. Os trabalhadores urbanos já eram alvo 
de políticas governamentais e até mesmo a educação pública, conforme o Manifesto dos Pioneiros da 
Educação tanto ambicionava, estava concretizada na Lei Magna.
No entanto, o mundo estava em passos diferentes. A polarização ideológica da Europa pós Primeira 
Guerra Mundial estava, cada vez mais, evidente. A crise de 1929 escancarou os problemas da democracia 
liberal daquele contexto. Seus reflexos não demorariam a serem vistos do outro lado do Atlântico.
De um lado, a esquerda via o exemplo soviético como a demonstração real de outra via capaz de 
acabar com as desigualdades sociais, com o lucro desenfreado da burguesia e também com a penúria 
em que boa parte da população se mantinha.
Figura 21 – Josef Stalin, líder da URSS de 1928‑1956, promoveu um governo totalitário e voltado ao desenvolvimento industrial
Do outro lado, a direita estampava com satisfação a ascensão nazifascista no mundo. Seus modelos 
de nacionalismo exacerbado, de defesa do monopartidarismo pelo uso do militarismo e da violência 
eram admirados. Afinal, trazia ordem e a presença de um Estado forte.
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Figura 22 – O nazismo de Adolf Hitler e seu rápido crescimento econômico passou a ser admirado pelos fascistas em todo o mundo
Logo essa polarização se evidenciou no Brasil. O fascismo deu seus primeiros sinais no país já na década 
de 1920. Vargas recebeu uma comitiva fascista na década de 1930. No ano de 1932, logo após a Revolução 
Constitucionalista, em outubro, foi criada a Ação Integralista Brasileira (AIB) por Plínio Salgado.
Plínio Salgado era um jornalista importante e escritor do modernismo. Foi conhecer a Itália fascista 
e dali, impressionado com tudo que viu e ouviu, passou a ser ferrenho defensor das ideias da extrema 
direita de sua época.
Figura 23 – A figura de Plínio Salgado passou a ser sinônimo da AIB
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Seu partido, rapidamente ganhou força:
Era o primeiro partido político de massas do Brasil, com capacidade de 
inserção nacional, crença corporativa, culto à liderança política e ao 
domínio do Estado,e disposição para fazer ecoar o discurso antissemita uma 
oitava acima do que já era corrente na sociedade brasileira. Os integralistas 
arrebanharam apoio nos setores das classes médias urbanas, sobretudo entre 
funcionários públicos, padres, profissionais liberais, poetas, comerciantes, 
industriais e nas áreas de colonização alemã e italiana. Recebiam assessoria e 
ajuda financeira da embaixada da Itália, dispunham em seus quadros de um 
grupo de intelectuais pronto a reproduzir a ideologia fascista em moldura 
de brasilidade – Plínio Salgado, Miguel Reale, Gustavo Barroso – e contavam 
com uma militância ativa (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 367‑368).
Chegaram a reunir em um único evento, uma marcha em São Paulo, mais de 40 mil pessoas, em 
desfile de estilo militar. Eram os chamados Camisas Verdes – abertamente inspirados nos Camisas 
Negras do fascismo italiano. Seu símbolo era o sigma (Σ), letra grega que significa soma, trazendo a 
ideia de que o movimento aglutinava a todos. O grupo chegou a ter, no seu auge, cerca de 150 mil 
integrantes (talvez até mesmo 200 mil). O lema abarcava o que consideravam central: “Deus, pátria 
e a família”. Eram radicalmente contrários ao liberalismo, ao socialismo ou mesmo ao capitalismo 
financeiro, considerado como elemento dominado pelos judeus. Claro que não faltavam outros 
elementos tão caros aos fascistas italianos: os ataques violentos de rua aos homens de esquerda que 
encontrassem. Cumprimentavam‑se com a palavra anauê (que significa, em tupi, “você é meu irmão”) 
e o esticar do braço direito:
Figura 24
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Figura 25 – As propagandas integralistas incitavam o nacionalismo exacerbado para o país. No primeiro cartaz, são evidentes, mais 
uma vez, a semelhança do cartaz da Revolução paulista de 1932 e a influência da imagem americana do Tio Sam chamando os 
rapazes para a luta, em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial
A sua ideologia ficava evidente no manifesto lançado em 7 de outubro de 1932:
À Nação Brasileira – Ao operariado do país e aos sindicatos de classe – Aos 
homens de cultura e pensamento – À mocidade das escolas e das trincheiras 
– Às classes armadas!
1º Concepção do Homem e do Universo
Deus dirige os destinos dos povos. O Homem deve praticar sobre a terra 
as virtudes que o elevam e o aperfeiçoam. O homem vale pelo trabalho, 
pelo sacrifício em favor da Família, da Pátria e da Sociedade. Vale pelo 
estudo, pela inteligência, pela honestidade, pelo progresso nas ciências, 
nas artes, na capacidade técnica, tendo por fim o bem‑estar da Nação 
e o elevamento moral das pessoas. A riqueza é bem passageiro, que não 
engrandece ninguém, desde que não sejam cumpridos pelos seus detentores 
os deveres que rigorosamente impõe, para com a Sociedade e a Pátria. Todos 
podem e devem viver em harmonia, uns respeitando e estimando os outros, 
cada qual distinguindo‑se nas suas aptidões, pois cada homem tem uma 
vocação própria e é o conjunto dessas vocações que realiza a grandeza da 
Nacionalidade e a felicidade social.
Os homens e as classes, pois, podem e devem viver em harmonia. É possível ao 
mais modesto operário galgar uma elevada posição financeira ou intelectual. 
Cumpre que cada um se eleve segundo sua vocação. Todos os homens são 
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susceptíveis de harmonização social e toda superioridade provém de uma 
só superioridade que existe acima dos homens: a sua comum e sobrenatural 
finalidade. Esse é um pensamento profundamente brasileiro, que vem das 
raízes cristãs da nossa História e está no íntimo de todos os corações.
2º Como entendemos a Nação Brasileira
A Nação Brasileira deve ser organizada, una, indivisível, forte, poderosa, rica, 
próspera e feliz. Para isso precisamos de que todos os brasileiros estejam 
unidos. Mas o Brasil não pode realizar a união intima e perfeita de seus filhos, 
enquanto existirem Estados dentro do Estado, partidos políticos fracionando 
a Nação, classes lutando contra classes, indivíduos isolados, exercendo a 
ação pessoal nas decisões do governo; enfim todo e qualquer processo de 
divisão do povo brasileiro. Por isso, a Nação precisa de organizar‑se em 
classes profissionais. Cada brasileiro se inscreverá na sua classe. Essas classes 
elegem, cada uma de per si, seus representantes nas Câmaras Municipais, 
nos Congressos Provinciais e nos Congressos Gerais. Os eleitos para as 
Câmaras Municipais elegem o seu presidente e o prefeito. Os eleitos para os 
congressos Provinciais elegem o governador da Província. Os eleitos para os 
Congressos Nacionais elegem o Chefe da Nação, perante o qual respondem 
os ministros de sua livre escolha.
3º Princípio da Autoridade
Uma Nação, para progredir em paz, para ver frutificar seus esforços, para 
lograr prestígio no Interior e no Exterior, precisa ter uma perfeita consciência 
do Princípio de Autoridade. Precisamos de Autoridade capaz de tomar 
iniciativas em benefício de todos e de cada um; capazde evitar que os ricos, 
os poderosos, os estrangeiros, os grupos políticos exerçam influência nas 
decisões do governo, prejudicando os interesses fundamentais da Nação. 
Precisamos de hierarquia, de disciplina, sem o que só haverá desordem. Um 
governo que saia da livre vontade de todas as classes é representativo da 
Pátria: como tal deve ser auxiliado, respeitado, estimado e prestigiado. Nele 
deve repousar a confiança do povo. A ele devem ser facultados os meios de 
manter a justiça social, a harmonia de todas as classes, visando sempre os 
superiores interesses da coletividade brasileira. Hierarquia, confiança, ordem, 
paz, respeito, eis o de que precisamos no Brasil.
[...]
10º O Estado Integralista
Pretendemos realizar o Estado Integralista, livre de todo e qualquer princípio 
de divisão: partidos políticos; estadualismos em luta pela hegemonia; lutas de 
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classes; facções locais; caudilhismos; economia desorganizada; antagonismos 
de militares e civis; antagonismos entre milícias estaduais e o Exército; 
entre o governo e o povo; entre o governo e os intelectuais; entre estes e a 
massa popular. Pretendemos fazer funcionar os poderes clássicos (Executivo, 
Legislativo e Judiciário), segundo os impositivos da Nação Organizada, com 
bases nas suas Classes Produtoras, no Município e na Família (BONAVIDES; 
AMARAL, 2002a, p. 482‑489).
São notórios no documento os elementos relativos à ideologia fascista: a relação do lema “Deus, 
pátria e a família” repete‑se ao longo dos pontos em questão; evidencia‑se a força de um “princípio de 
autoridade” que garanta “hierarquia e disciplina” dentro de um “Estado integralista” capaz de angariar 
a “harmonização social” desestruturando qualquer pluralidade política e social, apenas garantindo as 
“classes profissionais”.
Figura 26 – A foto demonstra a passeata integralista. Perceba o uniforme e a ordem estabelecida na manifestação. 
Na ideologia nacionalista da AIB, a ordem militar era um termo central
 Saiba mais
Apesar da ideologia completamente diferente do mundo contemporâneo, 
com a força da democracia, os ideais do integralismo de Plínio Salgado 
ainda possuem defensores no Brasil.
<http://www.integralismo.org.br/>.
Observe o amplo material disponível nessa associação que rememora 
seu fundador e os projetos nacionalistas.
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É muito comum pensar que Getúlio Vargas sempre apoiou a AIB pela sua evidente simpatia ao 
movimento fascista italiano, inclusive com sua inspiração corporativista. No entanto, é fundamental 
perceber que Vargas era um amante do poder concentrado em torno de si mesmo. Ou seja, não desejava 
compartilhá‑lo com mais ninguém.
Via no integralismo uma forma orgânica de governo com exacerbação dos 
valores da nacionalidade, exaltação da colaboração de classes e crença no 
ideal do corporativismo – pontos que reforçavam suas próprias convicções 
autoritárias. Mas simpatia tinha limites: [...] Vargas não estava disposto a 
confiar num movimento que deixava explícita a intenção de governar o 
país, no seu lugar, o mais rapidamente possível. [...] Sabia que era impossível 
ignorar o movimento. Pragmático, ele pretendia usar a máquina fascista de 
acordo com suas próprias conveniências e fazer do integralismo um aliado 
tático contra as novas forças que se organizavam na oposição (SCHWARCZ; 
STARLING, 2015, p. 368).
O outro lado ideológico, a esquerda, também se organizou por aqui. O Partido Comunista do Brasil 
(PCB), fundado em 1922, estava operando na ilegalidade, mas, como vimos, agora tinha a participação 
do mais importante tenente, Luís Carlos Prestes.
Logo, em março de 1935, seguindo a orientação geral do Partido Comunista, em suas linhas da 
Internacional Comunista, formava‑se no Brasil a Aliança Nacional Libertadora (ANL).
A formação da ANL se ajustou à nova orientação dada ao PCB que vinha 
da Internacional Comunista (I.C.), organização que em Moscou determinava 
a linha do movimento comunista. Depois de sustentar uma orientação de 
combate aos socialistas, chamados de social‑fascistas, contribuindo com isto 
para a vitória do nazismo na Alemanha, a Internacional Comunista começara 
a mudar de orientação em meados de 1934. A nova linha se tornou vitoriosa 
no VII Congresso da organização, iniciado em Moscou em fins de julho de 
1935. O congresso considerou que a crise mundial abalara o capitalismo 
em seus fundamentos, mas permitiria, ao mesmo tempo, a consolidação 
do fascismo. Para defender a União Soviética diante da ameaça fascista, 
justificava‑se a formação de frentes populares, em cada país capitalista. A 
ANL seria o exemplo de uma frente popular adaptada às características do 
chamado mundo semicolonial, reunindo vários setores sociais dispostos a 
enfrentar o fascismo e o imperialismo (FAUSTO, 2004, p. 359‑360).
Eram exatamente esses os pontos centrais do manifesto da ANL em 1935:
O Brasil cada vez mais se vê escravizado aos magnatas estrangeiros. Cada 
vez mais a independência nacional é reduzida a uma simples ficção legal. 
Cada vez mais o nosso país e o nosso povo são explorados, até os últimos 
limites, pela voracidade insaciável do imperialismo.
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Os juros pagos pelo Brasil a seus credores já se elevam a mais do dobro 
da importância que ele recebera como empréstimo. Os lucros fabulosos 
das companhias imperialistas já ultrapassam, de muito, o capital por elas 
invertido. E, entretanto, continua o país com uma fabulosa “dívida” externa; 
continuam os capitalistas estrangeiros a dominar nossas fontes de energia 
e nossos meios de comunicação _ – numa palavra – todas as partes 
fundamentais e básicas da economia moderna.
O imperialismo, procurando obter mão de obra por preço vil, protegeu, como 
ainda hoje protege, os latifundistas, o feudalismo.
[...]
O imperialismo, dominando o país, explorou‑o, para seu único proveito: 
reduziu‑o a um simples fornecedor de matérias primas, deixando 
inexploradas as nossas minas de ferro, níquel etc. as nossas maiores fontes 
de riqueza. O imperialismo impediu, como ainda impede, o desenvolvimento 
da metalurgia, da indústria pesada, de tudo, enfim, que possa fazer 
concorrência à sua própria produção.
O imperialismo reduz o povo brasileiro à ignorância e a miséria.
O analfabetismo atinge a 75% da nossa população.
[...]
Em suma, é completa a escravização nacional. É o Brasil reduzido a verdadeira 
máquina de lucros dos capitais estrangeiros.
Entretanto, neste momento, a Nação já se começa a erguer em defesa de 
seus direitos e da sua independência, da sua liberdade. E a Aliança Nacional 
Libertadora surge, justamente, como o coordenador deste gigantesco e 
invencível movimento.
[...]
A Aliança Nacional Libertadora tem um programa claro e definido. Ela quer 
o cancelamento das dívidas imperialistas; a nacionalização das empresas 
imperialistas; a liberdade em toda a sua plenitude; o direito do povo 
manifestar‑se livremente; a entrega dos latifúndios ao povo laborioso que 
os cultive; a libertação de todas as camadas camponesas da exploração 
dos tributos feudais pagos pelo aforamento, pelo arrendamento da terra 
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etc.; a anulação total das dívidas agrícolas; a defesa da pequena e média 
propriedade contra a agiotagem, contra qualquer execução hipotecária.
[...]
Queremos uma Pátria livre! Queremos o Brasil emancipado da escravidão 
imperialista! Queremos a libertação social e nacional do povo brasileiro!
Rio de Janeiro, Março de 1935
Comissão Provisória de Organização (BONAVIDES; AMARAL, 2002b, p. 90‑93).
É evidente, portanto, o programa anti‑imperialista, dentro deum histórico colonial do país, se 
materializando no fim do pagamento da dívida externa e na necessidade da promoção industrial, 
de nacionalização das empresas estrangeiras e de ajuda ao desenvolvimento dos pequenos e médios 
produtores. Há de se destacar ainda que o movimento ganhou forte apoio dos tenentes de 1920. Uma 
ação fundamental, nesse sentido, foi a introdução de Luís Carlos Prestes como presidente do grupo:
Prestes era a liderança política de maior prestígio no país, um herói 
popular e personagem de inegável carisma. Tinha charme, suas maneiras 
eram suaves, a voz firme dominava qualquer interlocutor e o brilho dos 
olhos convencia pela sinceridade – era, igualmente, um homem duro, 
vaidoso e intolerante, mas isso os brasileiros não sabiam. Seja como for, 
naquele momento seu nome era imbatível. Na avaliação dos comunistas, 
tratava‑se de uma jogada decisiva para viabilizar sua própria adesão à ANL 
(SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 369).
Figura 27 – A figura de Luís Carlos Prestes tornou‑se um ícone fundamental da esquerda no Brasil
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Logo a ANL contava com um grupo próximo a 100 mil pessoas. A agitação era intensa. A polarização, 
cada vez mais, evidente. E Vargas, no meio desse processo, aguardava as próximas cenas. A democratização 
trouxe consigo os polos ideológicos do outro lado do Atlântico rapidamente para os auspícios de boa 
parte da população.
No dia 5 de julho de 1935, aniversário do movimento tenentista de 1922 e 1924, Prestes fez um 
forte discurso:
A todo povo do Brasil!
Aos aliancistas de todo o Brasil!
5 de julho de 1922 e 5 de julho de 1924. Troam os canhões de Copacabana. 
Tombam os heróis companheiros de Siqueira Campos! Levantam‑se, com 
Joaquim Távora, os soldados de São Paulo e, durante 20 dias é a cidade 
operária barbaramente bombardeada pelos generais a serviço de Bernardes! 
Depois a retirada. A luta heroica nos sertões do Paraná! Os levantes do Rio 
Grande do Sul! A marcha da coluna pelo interior de todo o país, despertando 
a população dos mais ínvios sertões, para a luta contra os tiranos, que vão 
vendendo o Brasil ao capital estrangeiro.
Quanta energia! Quanta bravura!
As lutas continuam – São 13 anos de lutas cruentas, de combates sucessivos 
e vitórias seguidas das mais negras traições, ilusões que se desfazem, como 
bolhas de sabão, ao sopro da realidade!
Mas as lutas continuam, porque a vitória ainda não foi alcançada e o lutador 
heroico é incapaz de ficar a meio do caminho, porque o objetivo a atingir é 
a libertação nacional do Brasil, a sua unificação nacional e o seu progresso 
e o bem‑estar e a liberdade de seu povo e o lutador persistente e heroico é 
esse mesmo povo, que do Amazonas ao Rio Grande do Sul, que do litoral às 
fronteiras da Bolívia, está unificado mais pelo sofrimento, pela miséria e pela 
humilhação em que vegeta do que por uma unidade nacional impossível nas 
condições semicoloniais e semifeudais de hoje!
[...]
A Aliança Nacional Libertadora é hoje constituída pela massa de milhões 
que continua as lutas de ontem! A Aliança Nacional Libertadora é hoje 
a continuadora dos combates que, pela libertação do Brasil, do jugo 
imperialista, iniciaram Siqueira Campos, Joaquim Távora, Portela, Benévolo, 
Cleto Campello, Janson de Mello, Djalma Dutra, e milhares de soldados 
operários e camponeses em todo o Brasil.
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Somos herdeiros das melhores tradições revolucionárias de nosso povo e é, 
recordando a memória de nossos heróis, que marchamos para a luta e para 
a vitória!
[...]
O programa da Aliança Liberal – “A revolução brasileira não pode ser feita 
com o programa anódino da Aliança Liberal”, dizia eu em maio de 1930, 
chamando a atenção dos companheiros da coluna para a luta contra o 
imperialismo e o feudalismo, sem a destruição dos quais tudo mais seria 
superficial, irrisório e mentiroso.
[...]
O integralismo – Mesmo entre os fascistas tal estado de coisas se verifica. 
Apesar de toda a demagogia sobre a unificação nacional, o integralismo 
é bem uma fotografia da podridão, da decomposição, da divisão dos 
interesses revolucionários entre as cliques das classes dominantes de um 
ou de outro Estado. E por isso a tragédia do Sr. Plínio Salgado, obrigado 
a dizer hoje aqui uma coisa, amanhã ali ao contrário. Daí o engraçado 
do disse que não disse dos chefes integralistas. É que todos os partidos 
das classes dominantes do Brasil refletem, queiram ou não queiram, a 
divisão regional que tem suas origens no feudalismo e se agrava com a 
penetração imperialista. Essa desagregação, por sua vez, acelera a venda 
do país ao imperialismo que penetra por todas as brechas e por todos 
os lados, porque o bando que está no poder, para não perdê‑lo, precisa 
satisfazer às menores exigências de qualquer de suas facções. O governo 
de Vargas tem por isso satisfeito os interesses, os mais contraditórios, de 
todos os magnatas estrangeiros e de seus lacaios nacionais. Despedaçando 
o Brasil, sufocando na miséria o povo.
[...]
Um apelo – População trabalhadora de todo o país! Em guarda, na defesa 
de seus interesses! Venha ocupar o seu posto com os libertadores do Brasil!
Soldado do Brasil! Atenção! Os tiranos querem jogar‑te contra os teus 
irmãos. Em luta pela liberdade do Brasil!
Soldado do Rio Grande do Sul, heroico herdeiro das melhores tradições 
revolucionárias da terra gaúcha! Prepara‑te! Organiza‑te! Porque só assim 
poderás voltar contra os tiranos que te oprimem às armas com que eles 
querem eternizar a vergonha dos dias de hoje!
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Democratas honestos de todo o Brasil! Heroico povo de Minas Gerais, terra 
tradicional das grandes lutas pela democracia! Só com a Aliança Nacional 
Libertadora poderás continuar as lutas iniciadas pelos seus antepassados! 
Nortistas e nordestinos! Reserva formidável das grandes energias nacionais! 
Organiza‑te para a defesa de um Brasil que te pertence!
Camponês de todo o Brasil, lutador do sertão do Nordeste! O governo 
popular revolucionário te garantirá a posse das terras e dos açudes que 
tomares! Prepara‑te para defendê‑la!
Brasileiros! Todos vós que estais unidos pela ideia, pelo sofrimento 
e pela humilhação de todo Brasil! Organizai o vosso ódio contra os 
dominadores transformando‑o na força irresistível e invencível da 
Revolução brasileira! Vós que nada tendes para perder, e a riqueza 
imensa de todo Brasil a ganhar! Arrancai o Brasil da guerra do 
imperialismo e dos seus lacaios! Todos à luta para a libertação nacional 
do Brasil! Abaixo o fascismo! Abaixo o governo odioso de Vargas! Por 
um governo popular nacional revolucionário. Todo o poder à Aliança 
Nacional Libertadora.
Luís Carlos Prestes (BONAVIDES; AMARAL, 2002b, p. 102‑111).
 Observação
É extremamente interessante perceber aqui a apropriação da história 
que Luís Carlos Prestes faz de si mesmo e do movimento da ANL. Por 
meio da análise evidente de sua importância para a esquerda e com seu 
histórico no tenentismo, lança um forte apelo relacionado à Coluna Prestes 
e à incompletude da Revolução de 1930, que, inclusive, demonstra o seu 
manifesto de maio, contra o integralismo símbolo da “podridão” e da 
“decomposição” e relacionado às disputas regionais e ao imperialismo.
Nesse mesmo sentido, Prestes tenta conciliar o inconciliável 
“despedaçando o Brasil, sufocando na miséria o povo”. Por fim, reunindo os 
regionalismos, em busca da riqueza para os brasileiros, defende o “governo 
popular nacional revolucionário” e alude diretamente às teses de Abril de 
Lênin em 1917: “todo o poder à Aliança Nacional Libertadora”.
As palavras de Prestes rapidamente chegaram aos ouvidos de Getúlio Vargas – a relação direta com 
o socialismo soviético ficava evidente nas palavras finais“todo o poder à Aliança Nacional Libertadora”.
Miguel Costa, outro importante tenente, critica a ação de Prestes: “Você 
[...] pouco ou mal informado [...] lançou seu manifesto dando a palavra de 
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ordem ‘todo o poder à ANL’”. [...] Tal ordem só deveria ter sido dada quando o 
governo já se encontrasse na impossibilidade material de reagir (SCHWARCZ; 
STARLING, 2015, p. 370).
Na verdade, Prestes estava amparado diretamente pelo movimento de Moscou. Havia chegado ao 
Brasil na clandestinidade, em 1935, junto com Olga Benário, com quem veio a se casar.
Figura 28 – Olga Benário, 1908‑1942 – judia e militante comunista, teve um filho com 
Luís Carlos Prestes e se tornou símbolo da opressão que Vargas promoveria no Estado Novo
No entanto, Vargas já havia sido alertado acerca da presença dos comunistas no país:
O embaixador inglês no Brasil, Sir William Seeds, de viagem marcada para 
o retorno a Londres, foi despedir‑se de Getúlio no Palácio Guanabara e 
aproveitou para levar informações ultraconfidenciais ao governo. O setor 
de inteligência do serviço secreto britânico, mais conhecido como Military 
Intelligence, Section 6 (MI6), possuía indícios seguros de uma conflagração 
comunista a ponto de arrebentar no Brasil.
Um espião do MI6, na verdade um agente duplo cooptado pelo Reino Unido e 
infiltrado nos quadros do inimigo, dera ciência do plano aos seus superiores, 
alertando‑os para o estado avançado da operação. Um grupo de terroristas 
enviados pelo Komintern já se encontrava em território brasileiro, treinando 
pessoal e articulando o golpe subversivo. Um verdadeiro “comitê russo” 
estaria agindo no Rio de Janeiro, em estreita articulação com o clandestino 
Partido Comunista do Brasil (PCB), informou o embaixador a Getúlio (NETO, 
2013, p. 226).
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O presidente não perdeu tempo e logo reagiu. Em menos de uma semana após o discurso de Prestes, 
Getúlio, utilizando a Lei de Segurança Nacional, fechou a ANL por seis meses e iniciou a caçada para a 
prisão dos líderes. Afinal, agora não restava mais motivos para permitir as práticas da ANL, evidentemente 
associada ao comunismo, segundo os partidários do governo.
Em poucos meses, os comunistas partiram para a tentativa de tomada de poder. O projeto central 
era promover ações simultâneas no litoral para, progressivamente, dominarem o interior. Surgiu assim, 
a intentona comunista.
O movimento começou no dia 23 de novembro de 1935 quando cerca de 3 mil homens, entre 
soldados e trabalhadores conseguiram conquistar a cidade de Natal com relativa facilidade. Em seu 
manifesto diziam:
É a vitória do socialismo sobre a decantada Liberal‑Democracia dos políticos 
profissionais: é a vitória da Aliança Nacional Libertadora; é a vitória de Carlos 
Prestes; é a vitória do direito do mais fraco, que nunca terá direito! Direito ao 
que é seu, usurpado pelo mais forte; direito ao Pão com suficiência: direito 
às Terras; direito à Liberdade.
[...] Povo! Conquistastes com sangue um direito: Rio Grande do Norte, sois 
o marco iniciante, a fé, o orgulho de uma geração redimida (BONAVIDES; 
AMARAL, 2002b, p. 112‑113).
Conseguiram manter o controle da cidade por quatro dias. Instalava‑se o primeiro governo socialista 
do hemisfério Sul. Já no dia 24 de novembro, a ofensiva surgiu no Recife. Ali a luta foi contínua. 
Rapidamente, Vargas respondeu, no dia 25 de novembro, com a implantação de um Estado de Sítio. 
No dia 27, o movimento rebelde foi vencido no Nordeste, mas, nesse mesmo dia, liderados por Prestes, 
passaram também a atacar o Rio de Janeiro. Tentavam um ataque rápido que compreendia a tomada 
de aviões para acelerar a ação e a prisão do presidente. Nada deu certo. Em algumas horas, suas tropas 
estavam cercadas. O alarde comunista fez com que o presidente obtivesse apoio enorme do Congresso. 
Em dezembro, foi aprovada a implantação de um estado de guerra, que foi perdurando até a metade de 
1937, pois era concedido por 30 dias, e depois foi garantida sua prorrogação por mais 90 dias.
A partir daqui, ficava evidente uma verdadeira histeria anticomunismo. 
Afinal, se estavam prontos para promover ataques, seria possível que outros 
ainda estivessem em planejamento. O governo chamou o movimento de 
“intentona comunista” desmerecendo a ação e garantindo que usaria 
todos os meios necessários para extirpar quaisquer elementos contrários 
à ordem democrática. Mas nunca perdeu de vista que a ameaça poderia 
ser utilizada para objetivos maiores. No dia 31 de dezembro de 1935, no 
seu pronunciamento de ano novo, Vargas disse no rádio: “O comunismo 
constitui‑se o inimigo mais perigoso da civilização cristã” (SCHWARCZ; 
STARLING, 2015, p. 373).
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Não demorou muito para que os líderes dos movimentos comunistas fossem presos. Prestes e Olga 
foram encontrados e levados à prisão em 1936. Para alguns, o país poderia seguir seu curso democrático, 
mas para Vargas, não.
Foi uma época de terror. Seu governo manda prender milhares de pessoas, 
jornalistas, sindicalistas e professores, como o socialista Rodolfo Coutinho, 
presidente do Sindicato dos Professores. O jornal The New York Times 
informa que o regime tem 7 mil presos políticos no país; o L´Humanité fala 
em 17 mil. Dentre eles, Graciliano Ramos, que começa seu calvário de um 
presídio a outro, com cabeça raspada e uniforme de prisioneiro. As prisões 
ficam famosas, como a de Ilha Grande (Rio de Janeiro), a Maria Zélia (São 
Paulo), e a da ilha de Fernando de Noronha (então Território), além do navio 
Pedro I (LOPEZ; MOTA, 2015, p. 653).
No meio de toda essa efervescência do ano de 1935, em agosto, houve a campanha estudantil 
pela meia entrada que começou a ganhar força e se espalhar pelo país quando, inesperadamente, os 
acontecimentos políticos interromperam tudo. De qualquer forma, conseguiram obter certo abatimento 
em determinados espetáculos, como cinema e teatro, mas seus ideais foram mantidos fortes e acabaram 
por ser o núcleo da União Nacional dos Estudantes (UNE), que se formaria em 1938.
Alguma tentativa de desenvolvimento econômico e social ainda foi vista nos primeiros anos do 
governo constitucional. Em especial destaque, havia uma força cultural impressionante.
De início, podemos dar relevo à criação do dia do professor, em 15 de outubro de 1933. Tudo 
começou com a Associação dos Professores Católicos do Distrito Federal (APC‑DF), que escolheu esse 
dia devido à criação, no Primeiro Reinado, em 1827, das escolas de primeiras letras, e o dia foi ganhando 
em importância paulatinamente.
Nesse período, estabelecem‑se grandes obras historiográficas que, até hoje, balizam grande parte 
da constituição do modelo de interpretação da História. Como analisam Adriana Lopez e Carlos 
Guilherme Mota:
Os anos 1930 foram marcados por um clima de grande efervescência 
cultural. Vivia‑se como que um redescobrimento do Brasil, como se constata 
em (quando menos) duas análises inovadoras que surgem nesse momento, 
com os livros‑fundadores Casa‑grande & Senzala, de Gilberto Freyre, e 
Evolução Política do Brasil, de Caio Prado Jr. Essas obras inauguram as duas 
principais matrizes do pensamento brasileiro contemporâneo: a culturalista 
liberal moderna e a marxista não dogmática (LOPEZ; MOTA, 2015, p. 645).
Em 1936, surgiram os trabalhos de Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, de Gilberto Freyre, 
Sobrados & Mocambos, e de Monteiro Lobato, O Escândalo do Petróleo, na defesa da exploração dos 
recursos naturais do país.
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Unidade II
 Observação
Para se compreender a obra de um historiador e, sobretudo, suas 
interpretações,é interessante analisar também seu contexto de produção, 
ou seja, quais perguntas estavam sendo feitas para o passado ou, se assim 
for preferível, quais hipóteses e problemas eram os mais fortes a serem 
descortinados.
A história, como ciência humana, dialoga diretamente com o passado 
e o seu presente de produção. Afinal, ninguém que a produza está imune 
às demandas de sua época. Acreditar em uma pretensa neutralidade 
de produção não passa de uma doença infantil na historiografia, já 
bastante superada.
Podemos citar também as obras de Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade ou mesmo de 
Villa‑Lobos. Outro destaque ainda foi a criação, em 5 de janeiro de 1934, da Universidade de São Paulo. 
Esse foi o projeto central do interventor Paulo de Salles Oliveira, apoiado pelo jornalista Júlio de Mesquita 
Filho e contando com o apoio do empresariado – o marco inicial foi a união da Faculdade de Filosofia, 
Ciências e Letras (FFCL) com a Escola Politécnica, a Escola Superior de Agricultura, a Faculdade de Medicina, 
a Faculdade de Direito, a Faculdade de Farmácia e Odontologia, a Escola de Medicina Veterinária, a Escola 
de Belas Artes, o Instituto de Ciências Econômicas e Comerciais e o Instituto de Educação. Somava‑se 
ainda uma série de centros de pesquisa como o Instituto Butantã e o Instituto Astronômico e Geográfico.
Para fortalecer a Universidade, uma série de professores estrangeiros vieram trabalhar por aqui. 
Em especial, deve‑se destacar Claude Lévi‑Strauss, Roger Bastide e Fernand Braudel – esse último, de 
importantíssima obra para o desenvolvimento da historiografia com a Escola dos Annales.
Apesar do grande avanço cultural, a política continuou extremamente forte nos anos derradeiros da 
democracia proposta por 1934. As eleições de 3 de janeiro de 1938 aproximavam‑se e os candidatos à 
presidência estavam definidos. Armando de Sales Oliveira, governador de São Paulo, era o candidato da ala 
do constitucionalismo liberal. José Américo de Almeida, antigo tenente, era considerado o candidato do 
governo, apesar de Getúlio jamais ter declarado efetivamente apoio. Plínio Salgado apresentou‑se como 
candidato da AIB e utilizava a propaganda eleitoral para enaltecer seus valores patrióticos e cristãos.
Em 30 de setembro de 1937, a histeria anticomunista voltou a ganhar contornos bastante fortes. 
Surgia nos jornais um Plano Cohen:
O movimento revolucionário, em hipótese alguma, poderá repetir os erros 
de 1935, no sentido de que, o mesmo, em lugar de ser começado ou tentado 
com a quartelada, tendo em vista arrastar as massas para as ruas em 
atitude de adesão, pelo contrário, o movimento de quartéis e tropas será o 
coroamento dos movimentos das massas.
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Estas, agitadas tecnicamente por vários modos estudados abundantemente 
do capítulo anterior, e que resumiremos adiante, criarão o clima político 
necessário e suficiente para o pronunciamento militar, levando o ambiente 
político a um ponto de fusão tal que determine influências revolucionárias 
de tamanha amplitude no âmbito social, que, não se torne possível ser 
solucionado sem o apelo às armas, visto como será impossível às Forças 
Armadas permanecerem estanques e fechadas em si mesmas.
Além disso, é necessário criar nos meios revolucionários os reflexos 
necessários para a violência útil e completa, em oposição à violência inútil 
e insuficiente. Em princípio é preciso muito cuidado para se estudar o que 
seja uma violência inútil, pelo fato de que muitas vezes as violências inúteis 
da primeira hora criam o tônus psíquico necessário para executar as grandes 
violência inúteis, sofrendo solução de continuidade, em lugar de excitar as 
massas, a fatiguem, quebrando‑lhes as resistências e fazendo‑as cair em 
si. Nesse caso, as violências inúteis a serem praticadas por indivíduos e 
não por massas criam graves inconvenientes de fatalmente fazê‑los cair 
em si antes do tempo. Entretanto, é necessário considerar ainda que certos 
atos praticados por determinados indivíduos os agrilhoam à revolução pela 
necessidade que ele terá da vitória da mesma, a fim de escapar incólume. 
Se, na Revolução de 1935, nossos camaradas não cometeram o erro das 
violências inúteis, cometeram o erro das violências inúteis, cometeram, 
e em grande escala, o das violências insuficientes. A violência deve ser 
planificada, deixando de lado qualquer sentimentalismo não só favorável, 
aparentemente, ao ideal revolucionário, como também à piedade comum; 
isso significa que certos indivíduos, por exemplo, devem ser eliminados só 
pelo fato de serem contrários à nossa revolução.
[...]
Nessas condições, o que é necessário, ao fim de evitar as violências inúteis, 
incompletas e insuficientes, é um estudo meticuloso de todas as que devem 
ser realizadas, sua planificação no tempo e no espaço, com os mínimos 
detalhes, a fim de afastar ao máximo as possibilidades de fracasso, e o seu 
cumprimento estreito e exato por parte dos órgãos executores, os quais, 
por um princípio de economia de forças, ficam proibidos de executar as 
não planificadas, salvo os casos imprevistos que as coloquem na posição de 
objetivos intermediários.
[...]
Especialmente no que se refere às Forças Armadas (quartéis ou navios), 
é necessário, no plano de ação, descer ao detalhe mínimo; cada oficial 
suspeito à revolução deverá ter um homem encarregado de sua eliminação, 
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eliminação essa que será feita sob pena de morte do encarregado, na hora 
aprazada (BONAVIDES; AMARAL, 2002b, p. 199‑213).
Depois desse início, demonstrando um grande cuidado na elaboração, nos mínimos detalhes do 
plano e, inclusive, remetendo às ações que faltaram para a Intentona de 1935, com especial cuidado 
com os militares, já que são eles que detêm o monopólio do uso da força no país, o texto prossegue 
analisando as ações contra os integralistas:
O trabalho contra o integralismo nas classes militares deve ser feito nos 
dois sentidos hierárquicos: de cima para baixo – procurando convencer 
os chefes do Exército do perigo imenso que será para o Brasil em geral, 
e especialmente para as classes armadas, o triunfo do integralismo, 
visto como, naturalmente, por uma necessidade de segurança política, o 
integralismo terá de modificar profundamente os quadros do Exército e da 
Marinha, afastando deles os honrados militares que não comungavam com 
suas ideias e substituindo‑os pelos oficiais que eles estão formando nas suas 
fileiras, da milícia integralista, trazendo assim o desprestígio do Exército e a 
confusão no seio das classes armadas. [...] De baixo para cima – por todos os 
meios possíveis de doutrinação e propaganda em prol da democracia.
Quanto ao clero, meio onde o integralismo vem fazendo um progresso 
formidável, é absolutamente necessário, no atual momento político, de 
plena campanha eleitoral, canalizar a sua parte ainda não contaminada com 
o referido movimento. A técnica a ser utilizada repousa sobre as seguintes 
bases essenciais e que necessitam ser observadas com o máximo cuidado, 
sob pena de só produzir maus resultados:
a) Procurar identificar o mais possível o movimento integralista com o 
nazismo – atualmente o maior perseguidor da Igreja Católica, propugnado 
por um fatalmente futuro inimigo desta igreja. Chamar a atenção do clero e 
dos católicos para o fato específico de que Plínio Salgado, que não é católico, 
mas fala em cristianismo com muita insistência, é que não pode tolerar a 
Igreja Católica devido a seu caráter internacionalista, e que necessita de 
uma religião para poder explorar a boa‑fé do povo, fatalmente, seguirá as 
pegadas de Hitler.
b) Interessar as forças maçônicas na mesma campanha (BONAVIDES; 
AMARAL, 2002b, p. 199‑213).
É muito interessante perceber que o plano envolveria conduzir as Forças Armadas e a Igreja contrao Integralismo. No primeiro caso, em defesa da segurança nacional e da democracia. Já no segundo 
grupo, pela associação com a perseguição promovida pelos nazistas e pelo uso da maçonaria. Assim, 
meticulosamente, o plano estava elaborado para ações bastante plausíveis e bem perceptíveis do mundo 
da década de 1930 e suas raízes históricas de conflitos.
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A seguir, detalha ainda como conduzir as manifestações da massa e como promover um amplo 
processo de greve com viés político, até classificar as forças armadas e terminar com a garantia de 
reféns para o sucesso do plano:
No plano de violências, deverão figurar, como já foi dito atrás, os homens 
a serem eliminados e o pessoal encarregado dessa missão. Todavia, tão 
importantes quanto esses serão os reféns, que, em caso de fracasso parcial, 
servirão para colocar em xeque as autoridades. Serão reféns: os ministros de 
Estado, o residente do Supremo Tribunal, e os presidentes da Câmara e Senado, 
bem como, nas demais cidades, duas ou três autoridades ou pessoas gradas.
[...]
Os comitês centrais farão seus planos detalhados de ação divididos em 
muitos documentos, com todos os nomes de pessoas convencionadas 
a fim de evitar a ação da polícia caso a mesma venha a se apoderar dos 
documentos. Os planos deverão ser submetidos ao schert até o dia 28 de 
outubro de 1937. Os planos provindos dos Estados deverão ser entregues 
pessoalmente a Bangu e Barreto (BONAVIDES;. AMARAL, 2002b, p. 199‑213).
Como se percebe, a ação afetaria diretamente os poderes Legislativo e Judiciário. E estava prestes 
a ocorrer – faltaria um mês para o final de sua elaboração por estes “comitês” para, a seguir, em bem 
pouco tempo, ser executado.
Portanto, o temor foi imediato e se espalhou com velocidade incrível. A rememoração de 1935 foi 
rápida e produziu o efeito desejado. Atualmente, sabe‑se que o plano Cohen (típico sobrenome judeu 
do período) foi completamente forjado. Foi produzido pelo capitão Olympio Mourão Filho (o mesmo que 
conduziu o golpe militar de 31 de março de 1964), que era, na época, chefe do serviço secreto da AIB, 
sob os auspícios diretos das mais altas patentes do exército no país
Vargas desejava impedir as eleições de 1938 e se garantir no poder. Tinha apoio dos generais Góes 
Monteiro e Eurico Gaspar Dutra, pois o corpo militar estava temeroso de que o governo constitucional 
fosse incapaz de impedir a real ameaça comunista. Esse apoio ficou evidente na solicitação ao 
presidente da decretação de uma “comoção intestina grave” pelos ministros militares, ainda no dia 
29 de setembro de 1937:
“O comunismo está condenado a manter‑se em atitude de permanente 
violência”, afirmou Vossa Excelência nos primeiros minutos de 1936.
Sangravam ainda, como continuam sangrando, as feridas abertas pelo rude 
golpe que feriu a nação em novembro de 1935.
Displicência ou desleixo, ignorância ou incredulidade, o comunismo medrou 
nas diversas camadas da sociedade brasileira, para explodir violentamente, 
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apanhando de surpresa exatamente aqueles que mais precavidos se deveriam 
manter.
[...]
Impõe‑se, contra a ação nefasta eminente, a ação honesta e salvadora das 
instituições nacionais.
[...]
Assim, é preciso agir, e agir imediatamente, sem parar ante as mais 
respeitáveis considerações.
Acima de tudo está a salvação da Pátria.
[...]
Excelentíssimo senhor presidente da República, a confiança com que vossa 
excelência nos honra, o orgulho que temos de dirigir as tropas que são a 
garantia da autoridade do chefe da nação brasileira, tropas que obedecem 
ao superior comando de vossa excelência, e obrigam‑nos, escudada na 
força das razões expendidas, a volta imediata ao estado de guerra, o estado 
de guerra que em mão de vossa excelência e sob a guarda de seus fiéis 
colaboradores foi tão benigno como o mais edificante estado de paz de que 
tem gozado o Brasil.
Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1937 (BONAVIDES; AMARAL, 2002b, p. 
215‑220).
O documento revela que todas as condições necessárias estavam nas mãos de Getúlio Vargas. A 
democracia estava longe de ser vista. O presidente precisava apenas executar o sistema constitucional 
da Lei de Segurança Nacional, afinal, a polarização ideológica do mundo refletia em boas condições para 
a perpetuação do líder populista no país.
E foi isso que ocorreu. No dia 10 de novembro de 1937, Vargas publicou uma nova constituição e 
fechou o Senado e a Câmara dos Deputados. Era o Estado Novo que surgia.
4 A ESTRUTURAÇÃO DO ESTADO NOVO
Quando Vargas decidiu manter o poder em suas mãos aproveitando‑se da histeria anticomunismo, 
habilmente, estruturou sua ação. Garantiu o total apoio do Exército, a partir dos grandes generais 
de então, além de promover o continuísmo dos ideais que ainda falavam da Revolução de 1930 – 
mesmo que agora a democracia não pudesse mais continuar frente à ameaça interna tão grave. 
Vargas justificava:
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A contingência de tal ordem chegamos, infelizmente, como resultante de 
acontecimentos conhecidos, estranhos à ação governamental, que não os 
provocou nem dispunha de meios adequados para evitá‑los ou remover‑lhes 
as funestas consequências.
Oriundo de um movimento revolucionário de amplitude nacional e mantido 
pelo poder constituinte da nação, o governo continuou, no período legal, a 
tarefa encetada de restauração econômica e financeira e, fiel às convenções 
do regime, procurou criar, pelo alheamento às competições partidárias, 
uma atmosfera de serenidade e confiança, propícia ao desenvolvimento das 
instituições democráticas.
[...]
Os preparativos eleitorais foram substituídos, em alguns estados, pelos 
preparativos militares, agravando os prejuízos que já vinha sofrendo a 
nação, em consequência da incerteza e instabilidade criadas pela agitação 
facciosa. O caudilhismo regional, dissimulado sob aparência de organização 
partidária, armava‑se para impor à nação as suas decisões, constituindo‑se, 
assim, em ameaça ostensiva à unidade nacional.
[...]
Quando as competições políticas ameaçam degenerar em guerra civil, é 
sinal de que o regime constitucional perdeu o seu valor prático, subsistindo, 
apenas, como abstração. A tanto havia chegado o país. A complicada 
máquina de que dispunha para governar‑se não funcionava. Não existiam 
órgãos apropriados através dos quais pudesse exprimir os pronunciamentos 
da sua inteligência e os decretos da sua vontade.
Restauremos a nação na sua autoridade e liberdade de ação: na sua 
autoridade, dando‑lhe os instrumentos de poder real e efetivo com que 
possa sobrepor‑se às influências desagregadoras, internas ou externas; na 
sua liberdade, abrindo o plenário do julgamento nacional sobre os meios e 
os fins do governo e deixando‑a construir livremente a sua história e o seu 
destino (BONAVIDES; AMARAL, 2002b, p. 264‑272).
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Figura 29 – O cartaz estampa a criação do Estado Novo. Fica evidente a relação direta do poder de Vargas, mas ainda com uma 
ideia democrática, já que Vargas segura a nova Constituição. No entanto, a Carta Magna de 1937 era extremamente autoritária e 
concentrava o poder completamente na figura do presidente
Praticamente não ocorreu qualquer protesto. Muitos congressistas enviaram mensagens de 
agradecimento ao presidente por não eximir‑se de sua responsabilidade nesse momento sombrio e 
temeroso do país. O coronel Eduardo Gomes foi o militar de destaque em oposição. Dos civis, os paulistas 
Júlio de Mesquita Neto e o governador Armando de Sales Oliveira também foram contrários à ação de 
10 de novembro. O sucesso do golpe estava diretamenteassociado às variações políticas expressas ao 
longo do tumultuado (e curto) período democrático da década de 1930 no Brasil.
No fim das contas, o golpe de 1937 foi possível porque a classe média, esse 
pequeno, mas importante grupo social, capaz de assegurar o equilíbrio de 
qualquer sistema de eleições livres restrito a eleitores alfabetizados, estava 
confusa e dividida. Alguns eleitores de classe média continuavam leais a 
seu tradicional constitucionalismo liberal, e depositaram suas esperanças 
em Armando de Salles Oliveira na campanha de 1937. Outros, perdida a 
confiança em seu liberalismo original, voltaram‑se para o radicalismo de 
esquerda ou de direita. Ao fazer isso, admitiram na prática que a fórmula 
liberal já não se aplicava ao Brasil e que estavam, portanto, preparados, 
ainda que inconscientemente, a aceitar, quase sem protesto, o tipo especial 
de autoritarismo que Vargas impôs, de súbito, em novembro de 1937. O 
golpe de novembro de 1937 fechou o sistema político. E todas as questões 
de força eleitoral nas eleições marcadas para janeiro de 1938 se tornaram 
acadêmicas (SKIDMORE, 2010, p. 62).
A Constituição de 1937 recebeu o apelido de “A Polaca”. Era inspirada no autoritarismo da Carta 
Magna da Polônia. No entanto, o nome foi dado pela oposição também porque “era então um termo 
depreciativo aplicado às prostitutas provenientes da Europa do leste” (FAUSTO, 2013, p. 101).
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Seu preâmbulo justifica a mudança rápida da formação política do país:
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL,
ATENDENDO às legitimas aspirações do povo brasileiro à paz política e 
social, profundamente perturbada por conhecidos fatores de desordem, 
resultantes da crescente a gravação dos dissídios partidários, que, uma, 
notória propaganda demagógica procura desnaturar em luta de classes, e da 
extremação, de conflitos ideológicos, tendentes, pelo seu desenvolvimento 
natural, resolver‑se em termos de violência, colocando a Nação sob a funesta 
iminência da guerra civil;
ATENDENDO ao estado de apreensão criado no País pela infiltração 
comunista, que se torna dia a dia mais extensa e mais profunda, exigindo 
remédios, de caráter radical e permanente;
ATENDENDO a que, sob as instituições anteriores, não dispunha, o Estado 
de meios normais de preservação e de defesa da paz, da segurança e do 
bem‑estar do povo;
Sem o apoio das forças armadas e cedendo às inspirações da opinião 
nacional, umas e outras justificadamente apreensivas diante dos perigos 
que ameaçam a nossa unidade e da rapidez com que se vem processando a 
decomposição das nossas instituições civis e políticas;
Resolve assegurar à Nação a sua unidade, o respeito à sua honra e à sua 
independência, e ao povo brasileiro, sob um regime de paz política e 
social, as condições necessárias à sua segurança, ao seu bem‑estar e à sua 
prosperidade, decretando a seguinte Constituição, que se cumprirá desde 
hoje em todo o País (BRASIL, 1937).
A seguir garantia‑se, sobretudo, o poder completamente voltado à Presidência da República:
Art. 73. o Presidente da República, autoridade suprema do Estado, coordena 
a atividade dos órgãos representativos, de grau superior, dirige a política 
interna e externa, promove ou orienta a política legislativa de interesse 
nacional, e superintende a administração do País.
Art. 74. Compete privativamente ao Presidente da República:
a) sancionar, promulgar e fazer publicar as leis e expedir decretos e 
regulamentos para a sua execução;
b) expedir decretos‑leis, nos termos dos arts. 12 e 13;
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c) manter relações com os Estados estrangeiros;
d) celebrar convenções e tratados internacionais ad referendum do 
Poder Legislativo;
e) exercer a chefia suprema das forças armadas da União, administradas por 
intermédio dos órgãos do alto comando;
f) decretar a mobilização das forças armadas;
g) declarar a guerra, depois de autorizado pelo Poder Legislativo, e, 
independentemente de autorização, em caso de invasão ou agressão estrangeira;
h) fazer a paz ad referendum do Poder Legislativo;
i) permitir, após autorização do Poder Legislativo, a passagem de forças 
estrangeiras pelo território nacional;
j) intervir nos Estados e neles executar a intervenção, nos termos constitucionais;
k) decretar o estado de emergência e o estado de guerra nos termos do 
art. 166;
l) prover os cargos federais, salvo as exceções previstas na Constituição e 
nas leis;
m) autorizar brasileiros a aceitar pensão, emprego ou comissão de 
governo estrangeiro;
n) determinar que entrem provisoriamente em execução, antes de aprovados 
pelo Parlamento, os tratados ou convenções internacionais, se a isto o 
aconselharem os interesses do País.
[...]
Art. 75. São prerrogativas do Presidente da República:
a) indicar um dos candidatos à Presidência da República;
b) dissolver a Câmara dos Deputados no caso do parágrafo único cio 
art. 167;
c) nomear os Ministros de Estado;
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d) designar os membros do Conselho Federal reservados à sua escolha;
e) adiar, prorrogar e convocar o Parlamento;
f) exercer o direito de graça (BRASIL, 1937).
Ficava evidente a força do poder do Executivo – o presidente poderia, e assim o fez, governar o 
país em estado de emergência (o que já foi declarado na própria Constituição, no artigo 186) e sem a 
formação do Poder Legislativo. Seus decretos‑lei perpetuavam sua autoridade, inclusive tendo poder 
para aposentar funcionários civis ou militares. Outro ponto importante foi o direito de instituir os 
interventores federais nos estados. Assim, além da autoridade federal, Vargas poderia garantir suas 
decisões em cada um dos estados do país.
A Constituição de 1937 ainda mantinha, dentro das linhas gerais do populismo de Vargas, as leis 
trabalhistas e a nacionalização dos recursos. No entanto, ficavam proibidas as greves e era instituída a 
pena de morte para aqueles que viessem a tentar subverter a ordem. A ideologia da nova Carta Magna 
foi formulada por Francisco de Campos e misturava o tradicional centralismo de Vargas com o fascismo 
e o nacionalismo. Claro que, ao mesmo tempo, havia algumas interseções liberais, para manter certa 
valorização dos ideais democráticos.
Figura 30 – A charge faz uma crítica aos interesses das elites relacionados ao apoio ao fascismo, como modelo a ser implantado no 
país em virtude da sua forte aceitação na Europa pós‑Primeira Guerra
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Diferente de 1930, Vargas procurou garantir interventores que comtemplassem valores regionais e 
não abrissem espaço para disputas. Assim:
A escolha dos interventores obedeceu a diferentes critérios. Parentes de 
Getúlio (seu genro Amaral Peixoto, no Estado do Rio), militares (o antigo 
tenente Cordeiro de Farias, no Rio Grande do Sul) receberam a designação. 
De um modo geral, porém, nos maiores estados algum setor da oligarquia 
regional foi contemplado. Em Minas Gerais, Benedito Valadares permaneceu 
no poder; Agamenon Magalhães foi durante certo tempo interventor em seu 
estado (Pernambuco) e, em São Paulo, o estilo surpreendente dos primeiros 
anos da década de 1930 também não se repetiu. Os três interventores entre 
1937 e 1945 provieram da elite regional, e dois deles tinham sido membros 
do PRP (FAUSTO, 2004, p. 366).
Uma das grandes preocupações do governo foi, justamente, de levar a cabo a força da união nacional 
contra qualquer tipo de dissidência regional. Emblemática, nesse sentido, foi a cerimônia de queima de 
bandeiras promovida ainda em novembro de 1937. Prevista para ocorrer no dia 19, ficou para o dia 27 
em virtude das fortes chuvassobre o Rio de Janeiro. Vinte e duas jovens levaram as bandeiras regionais 
para a chama e, em um forte discurso de defesa nacional, unitarista, o ministro da Justiça, Francisco 
Campos, se levantou:
Não há lugar para outro pensamento no Brasil, nem espaço para outra 
bandeira que não seja esta hasteada hoje por entre as bênçãos da Igreja e a 
continência das espadas, a veneração do povo e os cânticos da juventude.
[...]
Honrai a vossa bandeira, juventude do Brasil. A vocação da juventude deve 
ser a vocação do soldado. Que cada um, na sua escola, seja um soldado 
possuído do seu dever, obediente à disciplina, sóbrio e vigilante, duro para 
consigo mesmo. Isto é o que o Brasil pedia – e é isto o que o Brasil conquistou 
(LIRA NETO, 2013, p. 314).
 Lembrete
Há de se destacar que a concepção de Vargas, ao chegar ao poder, 
mudou muito. É bastante provável que ele foi arquitetando suas ações ao 
longo do tempo. Em 1930, quando chegou ao Rio de Janeiro, fez questão 
de demonstrar, com seu traje e cavalo, a força do Rio Grande do Sul e o 
desejo de que o poder federal contemplasse os valores federalistas em busca 
de interesses plurais aos da elite cafeicultora. Com o passar do tempo, no 
entanto, passou a desejar muito mais a unidade nacional, contra qualquer 
regionalismo, que, inclusive, foi o símbolo da oposição paulista pelo país. 
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Assim, a cerimônia da queima de bandeiras foi o marco extremamente 
preciso dessa nova visão de Getúlio em torno de seu poder e força na 
ditadura do Estado Novo.
Estruturando, no plano ideológico, a força unitária da Nação, restava ainda angariar meios para 
que a população fizesse parte desse sistema – o alvo maior dessa participação seria um plebiscito para 
garantir a aceitação da Constituição, mas nunca foi posto em prática e nem sequer comentado. A 
roupagem da nova Carta Magna até vestia valores democráticos, porém foram ficando distantes com o 
passar do tempo.
No nível político mais elevado, Vargas contou com os membros mais próximos dele para compor 
seus ministérios. Assim, o apoio de Dutra ao golpe de 1937 o manteve como ministro da Guerra até o fim 
do Estado Novo. Francisco Campos, o ideólogo do Regime, era o ministro da Justiça. Oswaldo Aranha, 
bastante ligado aos EUA, foi mantido no cardo de ministro das Relações Exteriores. No Ministério da 
Educação e Saúde, Gustavo Capanema continuou no cargo e promoveu uma série de ações culturais e 
nacionalistas. E o caso mais interessante ficou por conta do Ministério da Fazenda, nas mãos de Arthur 
de Sousa Costa, desde 1934.
[...] de origem humildade, sem formação universitária, Sousa Costa chegou 
ao ministério passando pelo Banco do Brasil. Visou sempre o equilíbrio das 
contas públicas, fato que não o impediu de conceder generosos créditos aos 
industriais. Ao mesmo tempo, vários órgãos técnicos foram criados como 
canal de aproximação entre o governo e os interesses privados (FAUSTO, 
2013, p. 101).
Quem acreditava que teria participação no novo governo de Vargas eram os integralistas, 
inclusive, pelo apoio de Plínio Salgado a Vargas e à força de um Estado ditatorial. No entanto, 
Getúlio não estava interessado em dividir seu poder com ninguém. E, com isso, em 2 de dezembro 
de 1937, pelo Decreto‑lei nº 37, foram suprimidos todos os partidos políticos, inclusive, qualquer 
tipo de “milícia cívica” para garantir a “paz social”, pois “os partidos até então existentes não 
possuíam conteúdo programático nacional ou esposavam ideologias e doutrinas contrárias aos 
postulados do novo regime” e ainda era “vedado o uso de uniformes, estandartes, distintivos e 
outros símbolos dos partidos políticos e organizações auxiliares”. Boa parte dos integralistas viu 
nessa decisão um ataque direto ao seu grupo.
Os integralistas planejaram, a partir daí, um ataque a Vargas. A tomada de poder à força era a única 
alternativa depois da truculência das leis atingi‑los. A elaboração contou com a participação de militares 
descontentes e também de liberais opositores, como Euclides Figueiredo, Aureliano Leite, Castro Júnior 
ou ainda Otávio Mangabeira e Júlio de Mesquita Filho, todos sob a liderança do tenente Severo Fournier. 
Ajudados pelos militares opositores de Vargas, e até por alguns membros da guarda do palácio, cerca de 
30 homens atacaram, à noite, o Palácio do Catete, no dia 10 de maio de 1938. Era o Putsch Integralista. 
As Forças Armadas demoraram a ir ajudar o presidente. O ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra, foi o 
único comandante militar a ir ao local e se deparou com a força de metralhadoras contra a residência 
da Presidência da República. Vargas, por sua vez, com a arma em punho, protegia sua filha Alzira e seu 
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filho Maneco e assim ficaram por mais de três horas. Por fim, os rebeldes iam sendo dominados e, muito 
provavelmente, os que não conseguiram fugir foram fuzilados no dia seguinte nos fundos do jardim do 
palácio. Severo Fournier foi preso o condenado a 10 anos de prisão (e lá morreu de tuberculose). Plínio 
Salgado se refugiou em São Paulo, mas, em 1939, foi convidado a se autoexilar. Foi para Portugal.
A partir daqui fica evidente que o Estado Novo, apesar de sua forte influência, não era fascista, 
como os de modelo europeu. Vargas não se apoiava em nenhum grupo político, não tinha um partido 
de apoio, mas estruturava em torno dele toda a sua força. Na prática:
[...] todo grupo político significativo tinha sido enganado e suprimido. Os 
comunistas e esquerdistas radicais sofreram a mais brutal repressão. Os 
integralistas desapareceram, em parte por causa da repressão, em parte 
porque a lógica de seu autoritarismo foi enfraquecida pela forma mais 
brasileira da ditadura de Vargas.
Os constitucionalistas liberais foram os que mais perderam. Enquanto os 
comunistas podiam alegar que seu sofrimento demonstrava a dialética da 
história, e esperar que a ditadura de Vargas ajudasse a preparar as massas 
para a revolução, os liberais viram seus ideais de eleições livres, liberdades 
civis e justiça imparcial serem repudiados sem que houvesse protestos 
significativos (SKIDMORE, 2010, p. 64).
Para garantir suas determinações e acompanhar de perto as atuações estaduais, Vargas criou o 
Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp), em 30 de julho de 1938. Assim, organizava‑se 
o serviço público, a burocracia estatal, em busca de sua racionalização e controle – um dos seus 
importantes instrumentos foi o uso de concursos para, através do mérito, selecionar os melhores ao 
serviço do país. Além disso, elaborava as planilhas orçamentárias e fiscalizava seus gastos, ainda que, de 
início, o Dasp estivesse bastante atrelado ao Ministério da Fazenda. Seu presidente foi Luís Simões Lopes. 
Estabeleciam‑se as bases da tecnocracia estatal.
Apesar de todos os esforços, nada era mais significativo do que trazer o povo para a aceitação e 
perpetuação do regime. O populismo, faceta central da Era Vargas, precisava demonstrar todos os seus 
aspectos. Assim, foi criado em dezembro de 1939 o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Ligado 
diretamente ao presidente, sob a liderança do jornalista Lourival Fontes, funcionava para garantir apoio 
irrestrito ao Estado Novo através de duas áreas centrais: censura e propaganda oficial. Os seus espaços 
envolviam todos os aspectos culturais do país (rádio, cinema, teatro e imprensa). Procurou explorar, ao 
máximo, todos os valores possíveis para garantir a força do regime. Ou seja, na prática, patrocinava obras 
voltadas à exaltação do Brasil e de suas grandes qualidades. De qualquer forma, não há como negar que os 
novos meios de comunicação acabaram sendo os mais importantes do novo departamento:
Os funcionários do DIP foram especialmente hábeis em aproveitar o 
impacto tecnológico operado pelos novosveículos de comunicação – rádio 
e cinema – e propagandear as ações e iniciativas do governo. O rádio já era, 
na época, um fenômeno de massa: atendia à demanda de entretenimento 
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de uma audiência crescente, estava consolidado como veículo publicitário 
e conseguia fazer brotar o sucesso (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 377).
E foi assim que o programa diário A Hora do Brasil passou a fazer parte da vida dos cidadãos. Às 19 
horas, o presidente Vargas falava diretamente, sem a necessidade de jornalistas. E depois o sistema foi 
ampliando suas funções:
Em 1942, a agência ampliou o foco, e tratou de associar a mensagem 
do governo a uma programação humorística e de musicais. Eficiente, ela 
investiu no formidável sucesso dos “programas de auditório”, idealizados 
para tornar a Rádio Nacional uma espécie de casa de teatro acessível à 
população pobre, e onde torcidas – os fã‑clubes – assistiam aos cantores de 
sucesso (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 377).
Figura 31 – A Era do Rádio no Brasil foi habilmente utilizada pelo DIP para garantir a propaganda do governo e, aos poucos, trazer 
programas de entretenimento para boa parte da população
Outra área cultural importante, apropriada pelo regime, foi a música popular e o próprio carnaval.
Durante o Estado Novo, o samba – embora causasse algumas inquietações 
ao regime devido à sua irreverência, origem boêmia e ao elogio que fazia à 
malandragem com sua suposta vocação para a indisciplina e insubmissão 
– acabou sendo eleito o gênero musical brasileiro por excelência. Mesmo 
assim, se viu às voltas com a censura e o padrão ético buscado pelo 
regime para formar o cidadão trabalhador. Seus compositores tiveram que 
se submeter e fazer adaptações nas letras de suas composições para que 
ficassem conforme as exigências do DIP. [...] As palavras de ordem no samba 
deveriam ser as de moral, trabalho e exaltação da natureza e das tradições 
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cívico‑patrióticas brasileiras. O mesmo se passou com as marchinhas e 
músicas de Carnaval, compostas para aquela que se tornaria a festa mais 
popular do país, oficializada e regulada pelo DIP, através do serviço de 
turismo (DUTRA, 2013, p. 263‑264).
Um dos exemplos mais significativos da ação do DIP em torno da doutrinação do país, afetando 
diretamente a produção cultural, foi a canção “O bonde de São Januário” de Wilson Batista. A letra 
original e a nova versão são muito diferentes, pois o DIP determinou que a letra fosse reescrita, já que 
fazia uma associação negativa à imagem do trabalhador:
O Bonde de São Januário
O bonde de São Januário
Leva mais um sócio otário
Só eu não vou trabalhar
O Bonde de São Januário
Quem trabalha
É quem tem razão
Eu digo
E não tenho medo
De errar Quem trabalha...
O Bonde de São Januário
Leva mais um operário
Sou eu que vou trabalhar
O Bonde de São Januário...
Antigamente eu não tinha juízo
Mas hoje eu penso melhor no futuro
Graças a Deus
Sou feliz, vivo muito bem
A boemia não dá camisa a ninguém
Passe bem!
Fonte: Batista (1940).
O serviço ideológico do DIP cumpria, desse modo, enormes funções caracterizadas pela doutrinação 
em várias áreas culturais, mas também havia uma enorme formação doutrinária para outras áreas, como 
as esportivas. Em torno de um amplo arcabouço de preconceito, o futebol era visto como um espaço 
de dedicação para o homem e como algo longe das “funções naturais” para as mulheres. Como analisa:
À mulher caberia, entre outras obrigações, contribuir de forma decisiva 
com o fortalecimento da nação e o depuramento da raça gerando filhos 
saudáveis, algo que, pensava‑se, só seria alcançado se a mulher preservasse 
sua própria saúde. Se esta condição não excluía a prática de esporte, é certo 
que nem todo esporte a ela se adequava.
O futebol feminino, portanto, só poderia mesmo representar um “desvio de 
conduta” inadmissível aos olhos do Estado Novo e da sociedade brasileira 
do período, pois abria possibilidades outras além daquelas consagradas 
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pelo estereótipo da “rainha do lar”, que incensava a “boa mãe” e a “boa 
esposa” (de preferência seguindo os padrões hollywoodianos de beleza), 
principalmente, restrita ao espaço doméstico. Desvio tão inadmissível que 
a Subdivisão de Medicina Especializada recomendava que se fizesse uma 
“campanha de propaganda mostrando os malefícios causados pelo futebol 
praticado pelas mulheres, a fim de evitar lamentáveis consequências 
enquanto se aguarde medidas tendentes a permitir a interferência dos 
Poderes Públicos em tais questões, medidas estas que muito bem poderiam 
constar na Regulamentação dos Desportos, presentemente em estudos 
(FRANZINI, 2005, p. 321‑322).
E assim, foi criado o Conselho Nacional de Desportos (CND), em abril de 1941, que garantia que
[...] às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com 
as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional 
de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do 
país (FRANZINI, 2005, p. 322).
Evidencia‑se, portanto, que o arcabouço ideológico do Estado Novo permeava a sociedade na mais 
variada gama de valores imprimindo preconceitos que, muitas vezes, se perpetuaram no país. Mais do 
que isso, cristalizou valores considerados até hoje, para boa parcela tradicional da população, “naturais” 
e longe de uma mudança de paradigma.
 Observação
A História é uma fantástica disciplina para demonstrar que existem 
formulações que se perpetuam na sociedade que são pura construção 
ideológica. O futebol ser coisa “para homem” como muitos ainda entendem 
no país, precisa ser colocado sob uma perspectiva histórica produzida a 
partir do Estado Novo.
Até hoje o futebol feminino é incomparavelmente pouco valorizado 
no chamado “país do futebol”. A liga não consegue patrocínios eficientes 
e os resultados obtidos pelas jogadoras são, muito mais, frutos da 
habilidade excepcional de algumas atletas brasileiras, do que da capacidade 
desenvolvida nos treinos etc.
Assim, o professor de História adquire uma função extremamente 
importante: de mostrar os processos históricos que se formam e se 
perpetuam com enorme facilidade, em alguns casos. E, com isso, é 
capaz de problematizar o aluno para o respeito e tolerância nos mais 
variados aspectos.
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Um último exemplo de ação, ainda no campo cultural, foi o continuísmo da política reformista 
da educação, iniciada com Francisco Campos e que, no Estado Novo, se manteve com Gustavo 
Capanema. Em 9 de abril de 1942, foi criada a Lei Orgânica do Ensino Secundário, também 
conhecida como “Reforma Capanema”. Estabelecia‑se o ensino secundário com quatro anos de 
duração, o famoso “ginásio”, e depois um ciclo de três anos com opção de escolha entre o clássico 
e o científico, o também famoso “colegial”.
O caráter elitista do ensino secundário de formação geral foi 
escancaradamente explicitado na lei. Haveria uma adolescência 
(diga‑se da classe burguesa) predestinada à condução da sociedade 
e que teria acesso a um ensino específico, que não se limitasse ao 
simples desenvolvimento dos atributos naturais do ser humano, mas 
que tivesse a força de ir além dos estudos de mera informação literária, 
científica ou filosófica, que fosse capaz de dar aos adolescentes uma 
concepção de homem e do ideal de vida humana, formando assim 
as individualidades dirigentes, esclarecidas de sua missão social e 
patriótica, sendo eles os responsáveis pela divulgação ideológica desses 
princípios ao povo. Dessa forma, a estrutura da sociedade capitalista 
que se consolidava, sob o comandoda ditadura do Estado Novo, 
reproduzia a dicotomia da estrutura de classes também na educação. 
Permitia, em contrapartida, a “ascensão dos menos favorecidos através 
do ensino profissionalizante” (ZOTTI, 2004, p. 108).
Do Manifesto dos Pioneiros, a Reforma trazia o ideal de valorização da ciência. Ao mesmo tempo, 
trazia a obrigatoriedade da educação militar aos homens, a continuidade do ensino religioso como 
facultativo e a obrigatoriedade da educação moral e cívica. Nesse último aspecto, vale destacar o 
quanto o ensino profissional estava relacionado aos valores da pátria e do desenvolvimento propiciado 
por Getúlio Vargas.
Não é à toa, portanto, que Vargas não perdeu de vista sua política trabalhista: “[...] a partir de 1937, 
ganharam maiores proporções as iniciativas materiais do governo em favor das massas, seguidas da 
construção da figura de Vargas como grande protetor dos trabalhadores” (FAUSTO, 2013, p. 102).
A relação do regime do Estado Novo com o fascismo ficou evidente com o retorno da unicidade 
sindical e com a proibição de greves, pois tudo girava em torno da subordinação direta ao Estado. O 
imposto sindical foi estabelecido em 1940. Daí surgiu o famoso peleguismo na política sindical:
A expressão deriva de um de seus significados. “Pelego” é uma cobertura 
de pano ou couro colocada sob a sela de um animal de montaria para 
amortecer o choque produzido pelo movimento do animal no corpo do 
cavaleiro. A ideia de amortecedor se mostrou bastante adequada. “Pelego” 
passou a ser o dirigente sindical que na direção do sindicato atua mais no 
interesse próprio e do Estado do que no interesse dos trabalhadores, agindo 
como amortecedor de atritos. Sua existência foi facilitada na medida em 
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que não precisava atrair ao sindicato uma grande massa de trabalhadores. 
O imposto garantia a sobrevivência da organização, sendo o número de 
sindicalizados, sob esse aspecto, um fator de grande importância secundária 
(FAUSTO, 2004, p. 374).
Foi também assim que Vargas garantiu a formação de um salário mínimo:
O Presidente da República, considerando o que expõe o Ministro do Trabalho, 
Indústria e Comércio em cumprimento ao art. 12 da Lei n° 185, de 14 de 
Janeiro de 1946 e 45 do Decreto‑lei n° 399, de 30 de abril de 1938, e usando 
da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição, resolve:
Art. 1° Fica instituído em todo país, o salário mínimo a que tem direito, pelo 
serviço prestado, todo trabalhador sem distinção de sexo, por dia normal 
de serviço, como capaz de satisfazer, na época atual e nos pontos do país 
determinado na tabela anexa, às suas necessidades normais de alimentação, 
habilitação, vestuário, higiene, e transporte.
O salário mínimo será pago na conformidade da tabela a que se refere o 
artigo anterior e que vigorará pelo os três anos, podendo ser modificado 
ou confirmado por novo triênio e assim, seguidamente, salva a hipótese do 
artigo (BRASIL, 1940).
Há de se destacar que a ideia de um “salário mínimo” não significa, como alguns patrões passaram 
a promover, que aquele deve ser o valor adotado de salário. Na verdade, a ideia seria do mínimo 
necessário para a vida não impedindo a atribuição de salários maiores e, ao mesmo tempo, garantindo 
as necessidades básicas de “alimentação, habilitação, vestuário, higiene e transporte”. No entanto, na 
lógica burguesa, para que oferecer um salário maior se o trabalhador consegue viver com aquele? E não 
é à toa que o valor do salário mínimo foi se perdendo ao longo de nossa história.
Para garantir a força do “pai dos trabalhadores do Brasil”, Vargas, ano a ano, passou a fazer 
célebres discursos na comemoração do dia 1º de maio, no estádio de São Januário – o maior estádio 
do Rio de Janeiro até então, a partir de 1939. No entanto, antes desse ano já realizava inflamados 
discursos, como em 1938:
Operários do Brasil: No momento em que festeja o “Dia do Trabalho”, não 
desejei que esta comemoração se limitasse a palavras, mas que fosse traduzida 
em fatos e atos que constituíssem marcos imperecíveis, assinalando pontos 
luminosos na marcha e na evolução das leis sociais do Brasil.
Nenhum governo, nos dias presentes, pode desempenhar a sua função 
sem satisfazer as justas aspirações das massas trabalhadoras (BONAVIDES; 
AMARAL, 2002b, p. 350).
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Em 1939, já elaborou o seu famoso início:
Trabalhadores do Brasil: ouvi com particular agrado a eloquência e expressiva 
saudação que o ministro do Trabalho, em vosso nome e a vosso pedido, acaba 
de me dirigir. Melhor do que em palavras de agradecimento, testemunho‑vos 
o meu apreço, compartilhando das vossas comemorações do “Dia do Trabalho”, 
assim reafirmando o sentido de cooperação e confiança mútua que temos 
mantido, inalteravelmente, na solução dos problemas sociais.
Desde 1930, conservamos a mesma linha de ação, e, sempre que surgiram 
obstáculos e dificuldades, os trabalhadores manifestaram ao Governo 
Nacional, de inequívoco, a sua confortadora e espontânea solidariedade, 
numa eficiente atitude de repulsa aos surtos de anarquia e aos golpes 
extremistas (BONAVIDES; AMARAL, 2002b, p. 402).
Em 1940, visando a perpetuação de sua imagem e a associação direta aos trabalhadores, dizia:
Trabalhadores do Brasil: Aqui estou, como de outras vezes, para compartilhar 
as vossas comemorações e testemunhar o apreço em que tenho o homem 
de trabalho como colaborador direto da obra de reconstrução política e 
econômica da Pátria.
Não distingo, na valorização do esforço construtivo, o operário fabril do 
técnico de direção, do engenheiro especializado, do médico, do advogado, 
do industrial ou do agricultor. O salário, ou outra forma de remuneração, não 
constitui mais do que um meio próprio a um fim, e esse fim é, objetivamente, 
a criação da riqueza nacional e o surto de maiores possibilidades à nossa 
civilização (BONAVIDES; AMARAL, 2002b, p. 406).
Nota‑se, evidentemente, a exaltação do trabalhismo, que caminhava de mãos dadas com toda a 
propaganda política produzida pelo DIP. Ao mesmo tempo, a busca constante de associar o regime 
de Vargas ao trabalhador resultaria em conquistas e transformações progressivas. Por fim, é possível 
perceber também que a força da relação de cada um dos trabalhadores coopera, diretamente, para a 
“riqueza nacional e o surto de maiores possibilidades”, evidenciando a relação corporativista de que 
todos contribuem para o progresso da pátria.
E toda essa ideologia foi sintetizada em 1943, quando foi estabelecida a Consolidação das Leis 
Trabalhistas (CLT), que sistematizou as relações entre patrões e empregados e se mantém no país, em 
linhas gerais, até hoje.
Inegavelmente, estava completada a obra de controle sobre os trabalhadores e de seu uso político 
para as lideranças populistas. Em boa medida, as ideias de esquerda perderam enorme força. Por parte 
dos patrões, esse controle ideológico era bem visto para garantir a estabilização da mão de obra barata, 
facilitando novos investimentos.
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REPÚBLICA NOVA E REPÚBLICA LIBERAL
No Estado Novo, ficou evidente o projeto econômico de Getúlio para o país. Era nacionalista, já 
que defendia que as riquezas nacionais, traduzidas como os recursos do país, precisam ser exploradas 
pelo Estado. Daqui o segundo sentido de suas ações: a intervenção do Estado na economia, baseada na 
criação de empresas para o setor da indústria pesada. Assim, haveria condições para que, posteriormente, 
fosse possível surgir a produção dos bens de consumos duráveis e não duráveis.
O nacionalismo intervencionista, para o desenvolvimento industrial, foi a principal forma de 
promover o projeto de modernização que Vargas sempre defendeu ao longo de seu governo.
 Observação

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