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G3 Processo Civil - sistematizada

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
GRAAL DA PROVA ORAL DO 29º CPR – 10/2018
Organizado por Valdir Monteiro Oliveira Júnior
Sumário
1.JURISDIÇÃO	5
1A. Jurisdição: órgãos, princípios e limites. A jurisdição no Estado de Direito.	5
4C. Meios adequados de resolução de conflitos: negociação, mediação e arbitragem. Convenções processuais.	7
2.PROCESSO	11
3A. Processo: conceito e natureza jurídica. As garantias constitucionais do processo: contraditório, juiz natural, ampla defesa, acesso à justiça.	11
7C. A Instrumentalidade do Processo. O Processo Civil na Dimensão dos Direitos Fundamentais	16
3.AÇÃO	18
2A. Ação: conceito e natureza jurídica. Direito de ação na perspectiva constitucional. Direito à adequada tutela jurisdicional. Legitimidade e interesse processual.	18
13A. O direito fundamental de defesa. Devido processo legal. Cognição judicial. Convicção judicial e fundamentação das decisões	22
4.COMPETÊNCIA	34
18C. Competência interna: classificação, divisão e modificação. Competência internacional.	34
14A. Conexão e Continência. Reunião e Separação de Causas. Agregação de Processos e Atos Conjuntos. Cooperação entre órgãos jurisdicionais nacionais.	37
5.SUJEITOS NO PROCESSO CIVIL	39
4A. Partes. Capacidade. Legitimação. Sucessão. Substituição Processual	39
18A. O Ministério Público no processo civil.	41
10A. Sujeitos auxiliares do processo.	44
6.LITISCONSÓRCIO E INTERVENÇÃO DE TERCEIROS	45
5A. Litisconsórcio. Assistência. Intervenção anômala. Amicus curiae.	45
10A. Intervenção de terceiros.	48
15C. Incidente de Desconsideração de Personalidade Jurídica (IDPJ)	50
7.ATOS E COMUNICAÇÃO PROCESSUAL	52
12A. Atos processuais. Despesas processuais. Honorários. Processo eletrônico.	52
8A. Comunicação processual. Prazos. Teoria das invalidades processuais. Primazia do julgamento de mérito e aproveitamento dos atos processuais.	58
8.FORMAÇAO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO	62
7A. Formação, suspensão e extinção do processo.	62
9.PROCESSO E PROCEDIMENTO	64
1B. Procedimento comum e procedimentos especiais. Adaptação e flexibilidade negocial ou judicial do procedimento.	64
10.PETIÇÃO INICIAL	66
6A. Petição inicial: função e conteúdo. Controle da admissibilidade da demanda.	66
5B. Pedido: conceito e características. Interpretação dos pedidos. Cumulação de pedidos.	72
11.RESPOSTAS DO RÉU	74
9A. Resposta do réu: contestação e reconvenção. Revelia.	75
12.SANEAMENTO	78
18B. Saneamento e organização do processo	78
16B. Julgamento conforme o estado do processo. Decisões parciais de mérito	82
13.PROVA	84
4B. Teoria geral da prova. Ônus da prova e convicção judicial. Distribuição dinâmica ou convencional de ônus da prova. Prova Ilícita.	84
9B. Procedimento probatório. Provas em espécie.	87
14.AUDIÊNCIA	93
2B. Audiência de conciliação e mediação. Audiência de instrução e julgamento.	93
15.SENTENÇA E COISA JULGADA	95
3B. Sentença. Conteúdo e elementos. Interpretação da sentença.	95
16A. Sentenças e tutelas jurisdicionais dos direitos. Espécies. Ações declaratória, constitutiva, condenatória e mandamental.	101
8B. Liquidação de sentença. Cumprimento da sentença e de outros títulos judiciais. Formas de implementação e efetivação das decisões judiciais.	102
11C. Impugnação ao cumprimento de sentença.	105
12C. Cumprimento de sentença que reconhece exigibilidade de obrigação de fazer, não fazer e entregar coisa. Tutela específica dos direitos.	106
10C. Cumprimento de sentença que reconhece exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa.	107
13B. Cumprimento de sentença que reconhece exigibilidade de obrigação de prestar alimentos.	110
20C. Cumprimento de sentença que reconheça obrigação de pagar quantia certa pela Fazenda Pública.	110
19A. Estabilidades processuais: regimes e efeitos. Coisa julgada. Preclusões. Estabilidade da sentença que extingue o processo sem julgamento de mérito e da decisão de saneamento e organização do processo.	112
11A. Coisa julgada sobre questões prejudiciais decididas incidentalmente. Ação declaratória incidental: função e hipóteses de cabimento.	115
16.PROCESSO NOS TRIBUNAIS	116
7B. Precedentes obrigatórios: conceito, funções, efeitos. Mecanismos para controle da aplicação dos precedentes.	116
19C. Julgamento unipessoal dos recursos pelo relator: pressupostos e limites.	118
15A. Incidente de arguição de inconstitucionalidade. Incidente de assunção da competência. Arguição incidental de inconstitucionalidade.	119
18C. Homologação de sentença estrangeira. Carta rogatória. Tratados e convenções para cumprimento de decisões estrangeiras no Brasil.	121
15B. Ação Rescisória. Querela Nullitatis.	123
8C. Reclamação	124
17.RECURSOS	128
10B. Teoria Geral dos Recursos. Duplo Grau de Jurisdição. Efeitos dos Recursos. Pressupostos Recursais.	128
14C. Apelação. Recurso Ordinário Constitucional.	140
20B. Agravo	143
5C. Embargos de declaração. Técnica de extensão do colegiado em caso de divergência.	144
6C. Recurso Extraordinário. Repercussão Geral.	146
8C. Recurso especial.	151
12B. Julgamento de casos repetitivos. Incidente de resolução de demandas repetitivas e recursos especial e extraordinário repetitivos.	152
18.EXECUÇÃO	156
17B. Títulos executivos judiciais e extrajudiciais.	156
11C. Embargos do executado. Responsabilidade patrimonial e atos praticados em fraude.	158
1C. Execução de títulos extrajudiciais: conceito, espécies, pressupostos, partes, competência e procedimento.	161
12C. Execução de títulos extrajudiciais que impõem a entrega de coisa, prestação de fazer ou de não fazer.	164
19.TUTELA DE URGÊNCIA	166
11B. Tutela provisória. Tutela de urgência e tutela de evidência: conceito, espécies, pressupostos.	166
13C. Estabilização da tutela provisória.	167
3B. Tutela inibitória	168
20.PROCEDIMENTOS ESPECIAIS	176
6B. Ação de consignação em pagamento. Ações possessórias. Ação de desapropriação	176
20C. Execução fiscal.	182
14B. Ação discriminatória, de divisão e de demarcação.	185
10A. Embargos de terceiro.	187
13B. Ação de alimentos e convenções internacionais.	187
17A. Aspectos processuais da Lei do CADE. Aspectos processuais do Estatuto de Idoso.	189
2C. Aspectos processuais do Estatuto da Criança e do Adolescente e do Estatuto da Pessoa com Deficiência.	191
3C. Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais	194
15A. Ação monitória.	197
1.PROCESSO COLETIVO	199
17C. Tutela jurisdicional dos direitos e interesses coletivos, difusos e individuais homogêneos. Teoria geral do processo coletivo. Liquidação e cumprimento de ações coletivas.	199
19B. Procedimentos das ações coletivas. Competência para ações coletivas. Coisa julgada e litispendência em ações coletivas. As relações entre os instrumentos de tutela coletiva e os incidentes para resolução de casos repetitivos.	202
16C. Instrumentos e técnicas extraprocessuais de atuação em tutela coletiva: inquérito civil, compromisso de ajustamento de conduta, recomendação e audiência pública.	207
9C. Aplicabilidade do CPC às ações coletivas	212
20A. Tutela específica dos direitos difusos e coletivos. Procedimento da ação civil pública e da ação coletiva para direitos individuais homogêneos	213
1.AÇÕES CONSTITUCIONAIS	217
14B. Mandado de segurança individual e coletivo.	218
6B. Ação popular.	220
2C. Mandado de Injunção. Habeas data.	222
9C. Ação Civil Pública e Ação de Improbidade Administrativa.	225
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
1.JURISDIÇÃO 
1.1 Jurisdição: órgãos, princı́pios e limites. A jurisdição no Estado de Direito. (1.a) 
1.2 Meios adequados de resolução de conflitos: negociação, mediação e arbitragem. Convenções processuais. (4.c) 
1A. Jurisdição: órgãos, princípios e limites. A jurisdição no Estado de Direito.
Sidney Smith
Obra consultada: Curso de Processo Civil, de Marinoni, Arenhart e Mitidiero, volumes 1 e 2.
Jurisdição: Se a jurisdição é manifestação do poder do Estado, é evidente que ela terá diferentes objetivos, conforme seja o tipo de Estado e sua finalidade essencial.1 A jurisdição, em outras palavras, encarnará fins sociais, políticos e propriamente jurídicos, conforme a essência do Estado cujo poderdeva manifestar. Se o Estado brasileiro está obrigado, segundo a própria Constituição Federal, a construir uma sociedade livre, justa e solidária, a erradicar a pobreza e a marginalização e a reduzir as desigualdades sociais e regionais e ainda a promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3.º da CF), os fins da jurisdição devem refletir essas ideias. Assim, a jurisdição, ao aplicar uma norma ou fazê-la produzir efeitos concretos, afirma a norma de direito material, a qual deve traduzir – pois deve estar de acordo com os fins do Estado – as normas constitucionais que revelam suas preocupações básicas. Ademais, como o Estado brasileiro tem como regime político a democracia representativa, com temperos de princípios e institutos de participação direta dos cidadãos no poder de decisão do governo2 (democracia participativa – por exemplo, o referendo, art. 14, da CF), e existem mecanismos que viabilizam essa participação direta por meio do processo jurisdicional, é necessário incentivar o seu uso. A participação do cidadão via ação popular (art. 5.º, LXXIII, da CF, e lei 4.717/1965), por meio da qual é possível apontar desvio na gestão do bem comum, assim como a participação através dos legitimados à ação de inconstitucionalidade (art. 103, da CF) e às ações coletivas (art. 82, do CDC) e ainda mediante a participação em determinados processos judiciais como amicus curiae (art. 138), configuram participação no processo decisório do Estado. Nesse sentido, vê-se que a participação popular não fica limitada ao momento em que, nas chamadas “eleições”, escolhe-se um representante para governar (democracia representativa). A participação, além de poder ocorrer através das referidas ações no processo decisório governamental, pode dar-se na administração da justiça, com a presença de, por exemplo, juízes leigos nos Juizados Especiais Cíveis. A presença de leigos na administração da justiça, com efeito, representa participação direta no Estado. Órgãos: O certo é que o Estado para exercer a função jurisdicional precisa de vários juízes, juízos e tribunais, principalmente em um país com a dimensão territorial do Brasil, pelo que, para que a “justiça” possa ser ordenada e efetivamente exercida, é necessário que os vários casos conflitivos concretos sejam classificados e agrupados de acordo com pontos que têm em comum, que os processos que a eles servem de instrumento têm em comum ou que as pessoas que neles estão envolvidas possuem em comum, organizando-se a função jurisdicional na medida dos casos que forem agrupados. Fala-se, assim, nas justiças trabalhista (arts. 111 a 116), eleitoral (arts. 118 a 121), militar (arts. 122 a 124), e nas justiças federal (arts. 106 a 110) e estadual (arts. 125 e 126). O que não é da competência das justiças especializadas trabalhista, eleitoral e militar é da competência, por exclusão, da justiça comum. Dentro da chamada justiça comum, também por critério de exclusão, o que não for da competência da justiça federal (arts. 108 e 109) é da competência da justiça estadual. A Constituição Federal, após tratar das justiças especializadas trabalhista (arts. 111 a 116), eleitoral (arts. 118 a 121), militar (arts. 122 a 124) e da justiça federal comum (arts. 106 a 110), afirma em seu art. 125, caput, que “os Estados organizarão sua Justiça”, observados os princípios estabelecidos por ela própria, isto é, pela Constituição Federal. As denominadas “justiças”, de acordo com a Constituição Federal, as Constituições dos Estados e as leis de organização judiciária, possuem vários órgãos jurisdicionais. A Constituição Federal também define o Supremo Tribunal Federal (arts. 101 a 103) e o Superior Tribunal de Justiça (arts. 104 e 105). A competência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça está disciplinada, respectivamente, nos arts. 102 e 105 da CF. No que diz respeito à competência originária desses tribunais, é oportuno observar que a Constituição, ao atribuir-lhes competência originária, subtrai certas causas de todas as “justiças”: é por isso que essas duas Cortes Supremas são considerados órgãos de superposição, uma vez que não pertencem a nenhuma das “justiças”. De lado as hipóteses de competência originária desses tribunais (arts. 102, I, e 105, I, da CF), é importante chamar a atenção para os casos em que tais órgãos julgam mediante recurso. Afirma o art. 102, II, da CF, que compete ao Supremo Tribunal Federal “julgar, em recurso ordinário: a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão; b) o crime político”. O mesmo artigo, em seu inciso III, diz ser da competência do Supremo Tribunal Federal “julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: a)contrariar dispositivo desta Constituição; b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição; d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal”. Por sua vez, estabelece o art. 105, II e III, da mesma Constituição, que “compete ao Superior Tribunal de Justiça (...) julgar, em recurso ordinário: a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória; b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão; c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País”, bem como “julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal”. Como se vê, o Supremo Tribunal Federal pode julgar, mediante recurso extraordinário, em face de decisão de qualquer “justiça”. Por sua vez, o Superior Tribunal de Justiça, não considerada sua competência para julgar, em recurso ordinário, as causas em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional e, de outro, pessoa domiciliada ou residente no País (art. 105, II, c, da CF), apenas pode julgar, mediante recurso especial, as causas decididas pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. Limites: Por razões de efetividade da decisão, o direito nacional discrimina as causas que podem ser julgadas no território brasileiro, tendo em vista a possibilidade de dar concreta e real efetivação à decisão tomada. Nesse sentido, e seguindo a prática adotada por outros países, o Código de Processo Civil enumera as causas que serão julgadas pelo Poder Judiciário brasileiro, seja exclusivamente (art. 23), em que a soberania nacional só admite a decisão tomada pela jurisdição nacional, seja concorrentemente (arts. 21 e 22), casos em que a jurisdição nacional concorre com outras, salvo expressa exclusão negocial da jurisdição brasileira em negócios transnacionais (art. 25). Portanto, há causas que podem ser submetidas à jurisdição nacional ou a outra qualquer. Todavia, outras demandas somente serão validamente decididas, na ótica do direito brasileiro, se julgadas por autoridade nacional. Da jurisdição nacional concorrente tratam os arts. 21 e 22, estabelecendo que podem ser conhecidas pela jurisdição nacional as causas em que: “I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II – no Brasil tiverde ser cumprida a obrigação; III – o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil” (art. 21) e ainda as causas “I – de alimentos, quando: a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil; b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos; II – decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil; III – em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional” (art. 22). No caso de jurisdição nacional concorrente, a decisão proferida em outro país pode ter validade e eficácia no território nacional, desde que seja devidamente homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, alínea i, da CF). A mera propositura de demanda perante tribunal estrangeiro a respeito de causa que poderia, por jurisdição concorrente, ser conhecida pela jurisdição brasileira, contudo, não induz litispendência, nem impede que a autoridade brasileira conheça da mesma causa e das que lhe forem conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil (art. 24). Simetricamente, a pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira, quando essa for exigida para produção de efeitos da decisão no Brasil (art. 24, parágrafo único). Refere o Código, ainda, que é possível excluir a jurisdição nacional nos casos em que, em “contrato internacional”, houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro devidamente arguido na contestação (art. 25). Obviamente, a cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro só é eficaz em se tratando de jurisdição concorrente, sendo ineficaz nos casos em que o direito brasileiro só reconhece à jurisdição brasileira o poder de julgar (jurisdição exclusiva, art. 23). Também parece claro que a alusão a contrato internacional, na verdade, tem por objetivo permitir a exclusão da jurisdição nacional nos casos em que há cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro previsto em contratos transnacionais, isto é, contratos que envolvem pessoas ou sociedades situadas em diferentes jurisdições. É nesse sentido que deve ser lida a alusão à internacionalidade. A jurisdição no Estado de Direito: Ainda são sustentadas, depois de aproximadamente cem anos, as teorias de que a jurisdição tem a função de atuar a vontade concreta da lei – atribuída a Chiovenda – e de que o juiz cria a norma individual para o caso concreto, relacionada com a tese da “justa composição da lide” – formulada por Carnelutti. E isso após a própria concepção de direito ter sido completamente transformada. A lei, que na época do Estado legislativo valia em razão da autoridade que a proclamava, independentemente da sua correlação com os princípios de justiça, não existe mais. A lei, como é sabido, perdeu o seu posto de supremacia e hoje é subordinada à Constituição. Agora é amarrada substancialmente aos direitos positivados na Constituição e, por isso, já constitui slogan dizer que as leis devem estar em conformidade com os direitos fundamentais, contrariando o que antes acontecia, quando os direitos fundamentais dependiam da lei. A assunção do Estado constitucional deu novo conteúdo ao princípio da legalidade. Em primeiro lugar, esse evidenciou a necessidade de o direito ser trabalhado como um problema que demanda para a sua solução um empreendimento de colaboração entre o legislador, o juiz e a doutrina. Em segundo lugar, esse princípio incorporou o qualificativo “substancial” para evidenciar que exige a conformação da lei com a Constituição e, especialmente, com os direitos fundamentais. Não se pense, porém, que o princípio da legalidade simplesmente sofreu um desenvolvimento, trocando-se a lei pelas normas constitucionais, ou expressa apenas uma mera “continuação” do princípio da legalidade formal, característico do Estado legislativo. Na verdade, o princípio da legalidade substancial significa uma “transformação” que afeta as próprias concepções de direito e de jurisdição e, assim, representa uma quebra de paradigma. Se as teorias da jurisdição constituem espelhos dos valores e das ideias das épocas e, assim, não podem ser ditas equivocadas – uma vez que isso seria um erro derivado de uma falsa compreensão de história –, certamente devem ser deixadas de lado quando não mais revelam a função exercida pelo juiz. Isso significa que as teorias de Chiovenda e Carnelutti, se não podem ser contestadas em sua lógica, certamente não têm – nem poderiam ter – mais relação alguma com a realidade do Estado contemporâneo. Por isso, são importantes apenas quando se faz uma abordagem crítica do direito atual, considerando-se a sua relação com os valores e concepções do instante em que foram construídas. Assim, antes de constituírem teorias capazes de dar lugar à compreensão do processo civil no Estado Constitucional, pertencem apenas à história da cultura jurídica processual civil. A transformação da concepção de direito fez surgir um positivismo crítico, que passou a desenvolver teorias destinadas a dar ao juiz a real possibilidade de afirmar o conteúdo da lei comprometido com a Constituição mediante adequada interpretação e idônea aplicação da ordem jurídica. Nessa linha podem ser mencionadas a teoria das normas, inclusive no que tange ao próprio conceito de norma e à incorporação da teorização dos princípios e dos postulados normativos em seu âmbito, as teorias dos direitos fundamentais, a técnica da interpretação de acordo, as novas técnicas de controle da constitucionalidade – que conferem ao juiz uma função em grande medida “produtiva”, e não mais apenas de declaração de inconstitucionalidade – e a própria possibilidade de controle da inconstitucionalidade por omissão no caso concreto. Ora, é pouco mais do que evidente que isso tudo fez surgir outro modelo de jurisdição, sendo apenas necessário, agora, que o direito processual civil se dê conta disso e proponha um conceito de jurisdição que seja capaz de abarcar a nova realidade que se criou.
4C. Meios adequados de resolução de conflitos: negociação, mediação e arbitragem. Convenções processuais.
Atualizado por Marília Siqueira.
Ao lado da justiça estatal clássica, adjudicada pelo juiz, de porta única, surgem novas formas de acesso, novos meios de solução adequada de conflitos: a justiça se torna uma justiça multiportas. Noticia-se que a experiência da multi-door Corthouse foi sugerida em 1976 por Frank Sander. Negociação, mediação e arbitragem são equivalentes jurisdicionais: métodos de solução de conflitos não jurisdicionais. Não se fala mais em “meis alternativos”, mas em “meios adequados”, tanto que houve alteração no edital. Pela ótica do CPC/15, não há superioridade da justiça estatal em relação aos demais meios de solução de controvérsias, deve-se dar preferência ao que for mais adequado às peculiaridades do litígio; ou seja, não há uma preferência abstrata de qualquer deles, por isso, não se fala em alternatividade, mas, sim, em adequação. Os meios em análise foram pensados no contexto da “terceira onda” de renovação do processo civil (acesso à Justiça), a partir das preocupações com a morosidade e burocracia judiciais, o que levava (e leva) a uma litigiosidade contida. Segundo DIDIER e ZANETI, estes meios também são aplicáveis à tutela coletiva de direitos, embora tenham surgido no âmbito da tutela dos direitos individuais.
Nesse contexto, duas resoluções merecem destaque: 1) Resolução n. 125/2010 do CNJ, por meio da qual foi instituída no Brasil uma política pública de tratamento adequado dos conflitos jurídicos, estimulando a solução por autocomposição; e 2) a Resolução n. 118/2014 do CNMP, que instituiu a política nacional de incentivo à autocomposição no âmbito do Ministério Público (ver art, 1º, p único). Soma-se a elas o fato de que o sistema processual brasileiro foi estruturado, com o CPC/15, no sentido de estimular a autocomposição, com destaque para o art. 3º, §§ 2º e 3º, CPC/15, estabelecendoo estímulo à autocomposição entre as normas fundamentais. 
1) Negociação - processo bilateral de resolução de impasses ou de controvérsias, no qual existe o objetivo de alcançar um acordo conjunto, através de concessões mútuas. Envolve a comunicação, o processo de tomada de decisão (sob pressão) e a resolução extrajudicial de uma controvérsia. (PINHO, p.363). A negociação está na base dos meios não jurisdicionais de resolução de controvérsias e contempla dois métodos básicos: o competitivo ou distributivo (um dos interlocutores objetiva maximizar vitórias sobre o outro) e o colaborativo ou integrativo (há preocupação de atender aos interesses de ambos). Resolução 118/2014: art. 8º. A negociação é recomendada para as controvérsias ou conflitos em que o Ministério Público possa atuar como parte na defesa de direitos e interesses da sociedade, em razão de sua condição de representante adequado e legitimado coletivo universal (art. 129, III, da CR/1988); Parágrafo único. A negociação é recomendada, ainda, para a solução de problemas referentes à formulação de convênios, redes de trabalho e parcerias entre entes públicos e privados, bem como entre os próprios membros do Ministério Público.
2) Mediação – Considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia (art. 1º, parágrafo único, Lei 13.140/15). O mediador é um profissional qualificado que tenta fazer com que os próprios litigantes descubram as causas do problema e tentem removê-las; é um facilitador do diálogo ente as partes. Na mediação não há heterocomposição, diferente do que ocorre na arbitragem. As próprias partes decidem. 
A mediação pode ocorrer extrajudicialmente ou judicialmente, quando já existente o processo jurisdicional. Neste último caso, o mediador é auxiliar da justiça. Ela pode ocorrer perante câmaras públicas institucionais, vinculadas a determinado tribunal ou entes como a Defensoria Pública, serventias extrajudiciais, OAB, por exemplo, ou em ambientes privados, como câmaras privadas ou mesmo em câmaras administrativas, vinculadas à administração pública (arts 42 e 43, Lei 13.140/15 e 167, 174, 175, CPC/15). Ademais, os tribunais deverão criar centro de solução de conflitos, os quais serão preferencialmente responsáveis pela realização das sessões e audiências de conciliação e mediação, que ficarão a cargo de mediadores e conciliadores (a realização no próprio juízo em que tramita o processo em excepcional). As partes podem escolher, de comum acordo, o mediador ou a câmara privada de conciliação e de mediação (art. 168, CPC/15).
Esta técnica é mais recomendada nos casos em que exista uma relação anterior e permanente entre os interessados, como nos casos de conflitos societários e familiares (art. 165, §3º, CPC/15). Resolução 118/2014: “Art. 9º A mediação é recomendada para solucionar controvérsias ou conflitos que envolvam relações jurídicas nas quais é importante a direta e voluntária ação de ambas as partes divergentes. Parágrafo único. Recomenda-se que a mediação comunitária e a escolar que envolvam a atuação do Ministério Público sejam regidas pela máxima informalidade possível”.
A mediação é informada pelos seguintes princípios: (i) independência: o mediador tem o dever de atuar com liberdade, sem sofrer qualquer pressão interna ou externa; (ii) imparcialidade: o mediador não pode ter qualquer interesse no conflito, é reflexo do princípio da impessoalidade, próprio da administração pública; (iii) autorregramento da vontade: corolário da liberdade, é pressuposto e razão de ser da mediação, assim, o mediador está proibido de constranger os interessados à autocomposição; (iv) confidencialidade: estende-se a todas as informações produzidas ao longo do procedimento, cujo teor não pode ser usado para outra finalidade diversa daquela expressamente prevista e deliberada pelas partes, assim, o mediador tem dever de sigilo profissional e não poderá divulgar ou depor acerca de fatos ou elementos oriundos da conciliação ou da mediação; (v) oralidade; (vi) informalidade: o mediado deve se comunicar em linguagem simples e acessível; (vii) decisão informada: é imprescindível que as partes sejam bem informadas, tendo correta compreensão do problema e das consequências do acordo, de modo a garantir uma participação substancialmente qualificada (art. 166, CPC/15); (viii) isonomia entre as partes; (ix) busca do consenso; e (x) boa-fé (art. 2º, Lei 13.140/15).
No direito comparado, destaca-se a Argentina, onde a mediação possui papel relevante, sendo obrigatória a sua realização, antes de ingresso com a demanda judicial, desde 1995.
Arbitragem - técnica de solução de conflitos realizada por meio da intervenção de uma ou mais pessoas que recebem seus poderes de uma convenção privada (convenção de arbitragem), decidindo sem intervenção estatal, porém com imparcialidade, sendo a decisão destinada a assumir a mesma eficácia da sentença judicial. Aplica-se a conflitos que envolvam direitos patrimoniais disponíveis. Trata-se de um meio heterocompositivo de solução de controvérsias, diferenciando-se da conciliação e mediação em razão da imposição da solução arbitral perante as partes. (CARMONA, p.43). A Lei 9307/96 dispõe sobre a arbitragem.
Jurisdição arbitral - A natureza jurídica da arbitragem é de jurisdição[footnoteRef:1], embora haja divergência na doutrina a esse respeito (a exemplo de Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero que sustentam que arbitragem não é jurisdição). O árbitro exerce jurisdição porque aplica o direito ao caso concreto e coloca fim à lide que existia entre as partes, na medida em que a decisão arbitral fica imutável pela coisa julgada, após o decurso do prazo de 90 dias para invalidação. Além disso, a lei denomina a decisão arbitral de sentença e lhe confere eficácia de título executivo judicial (art. 515, VII CPC/15 e art. 31, Lei 9307/96). [1: Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil, v1, 2016, p. 489.] 
A arbitragem, conforme já decidido pelo STF, não ofende os princípios da inafastabilidade do controle jurisdicional (seria inconstitucional se fosse compulsória) nem do juiz natural (está presente no juízo arbitral o requisito da pré-constituição na forma da lei, além disso, a lei garante um juiz imparcial). Em verdade, está-se no campo da autonomia de vontade das partes que, livremente, decidem submeter o litígio à apreciação de um árbitro, renunciando à jurisdição estatal. 
Estão excluídos do juízo arbitral os direitos indisponíveis. Também não se admite arbitragem nas matérias submetidas aos procedimentos de jurisdição voluntária (dada a existência de interesse público e indisponibilidade dos direitos) e nas matérias que, em juízo, reclamam a intervenção do MP no processo. De outro lado, passou-se a admitir, expressamente, a arbitragrem no âmbito da administração pública direta e indireta (art. 1º, §1, Lei 9.307/96).
Princípios fundamentais da arbitragem: a) autonomia da vontade (ou autorregramento da vontade). Partes podem instituir o juízo arbitral, o número de árbitros, o procedimento, aplicação de direito ou de equidade, etc. (desde que não haja ofensa à ordem pública e aos bons costumes); b) eleição da lei aplicável (nacional ou estrangeira); c) eleição da lex mercatória, jurisdição de equidade, e princípios gerais de direito que poderão ser aplicados; d) devido processo legal; e) efeito vinculante da cláusula arbitral (partes ficam submetidas à sentença arbitral, qualquer que seja o resultado); f) inevitabilidade dos efeitos da sentença arbitral, que faz coisa julgada material e constitui título executivo judicial; g) autonomia entre a cláusula arbitral e o contrato (invalidade do contrato não contamina a cláusula compromissória); h) competência-competência Kompetenz- kompetenz, segundo a qual cabe ao árbitro decidir sobre a existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem; é o juízo arbitral que decidesobre sua própria competência. Sobre o tema, o STJ decidiu que, nos casos em que prima facie é identificado um compromisso arbitral “patológico” (claramente ilegal), o Judiciário pode declarar a nulidade dessa cláusula, independentemente do estado em que se encontre o procedimento arbitral (REsp 1.602.076/SP).
Forma de constituição. A arbitragem, no Brasil, pode ser constituída por meio de um negócio jurídico denominado convenção de arbitragem que, conforme disposto no art. 3º, Lei 9.307/96, compreende tanto a cláusula compromissória quanto o compromisso arbitral.
Cláusula compromissória (pactum de compromittendo) – negócio jurídico celebrado como pacto adjeto dentro de outro contrato, entre pessoas capazes, tendo por objeto direito disponível, por meio do qual as partes se comprometem a, no futuro, instituir a arbitragem (obrigação de fazer) como meio para resolver as divergências referentes àquele contrato principal no qual a cláusula compromissória foi inserida. Não se relaciona a um conflito concreto, determina-se que, se o litígio vier a ocorrer, ele será solucionado por arbitragem. A cláusula é chamada cheia quando já contém todos os elementos para a instalação da arbitragem. Quando a cláusula é vazia, a lacuna deve ser preenchida pelas partes (se isto não ocorrer, frustra-se a arbitragem e as partes deverão socorrer-se do Judiciário). Em contrato de adesão, conforme art. 4º, §2º, a cláusula compromissória só terá eficácia se for de iniciativa do aderente ou se houver sua concordância por escrito em documento anexo ou em negrito, com assinatura/visto especialmente para essa cláusula (STJ: essas exigências se aplicam ao contrato de franquia, quando de adesão). Em contrato de consumo, é nula cláusula que imponha arbitragem compulsoriamente. Se uma das partes desrespeita a cláusula, o réu pode alegar a existência da convenção em preliminar ou reconvir pedindo a condenação na obrigação de fazer (instituir a arbitragem).
Compromisso arbitral – acordo de vontades pelo qual as partes decidem que determinado conflito já existente deverá ser resolvido por juízo arbitral. Pode ser que seja precedido de uma cláusula compromissória (que precisa do compromisso arbitral para ser efetivada).
Observações: 1) O juízo arbitral somente pode ser instituído por pessoas capazes de contratar; 2) somente se as partes conferirem poderes expressos para o árbitro decidir por equidade é que este poderá assim agir; 3) o árbitro deve ser pessoa natural e capaz, tendo status de juiz de fato e direito, além de ser equiparado a servidores públicos para efeitos penais; 4) somente o judiciário pode executar a sentença arbitral, pois, diversamente do juiz estatal que possui iurisdictio e imperium, o juiz arbitral somente possui iurisdictio; 5) não há possibilidade de provimento de urgência (cautelar ou satisfativo); 6) a sentença arbitral é insuscetível de revisão pelo judiciário, mas pode ser invalidada (o controle judicial é restrito à validade, arts. 32 e 33, caput, Lei 9307/96), ou seja, não pode haver revisão de mérito, não se analisa error in judicando, somente error in procedendo; 7) Não há necessidade de homologação da sentença arbitral pelo Judiciário (art. 31, Lei 9307/96).
Sentença arbitral: deve preencher os requisitos do art. 26 (relatório, fundamentos, dispositivo, data e lugar). É necessária a fundamentação, ainda que o árbitro seja leigo e que a jurisdição arbitral seja de equidade. Os árbitros poderão proferir sentenças parciais (incluído pela Lei 13.129/15).  Se, no decurso da arbitragem, as partes chegarem a acordo quanto ao litígio, o juízo arbitral poderá, a pedido das partes, declarar tal fato mediante sentença arbitral, que conterá os requisitos do art. 26.
Anulabilidade da sentença. Hipóteses: a) se for nulo o compromisso; b) se emanou de quem não podia ser árbitro; c) se não contiver os requisitos do art. 26; d) se proferida fora dos limites da convenção; e) se comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção passiva; g) se proferida fora do prazo; h) se desrespeitados os princípios do art. 21 (respeito ao procedimento, contraditório, igualdade das partes, imparcialidade do árbitro e de seu livre convencimento).
Sentença arbitral estrangeira: Para ser reconhecida e executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira deve ser homologada pelo STJ. Quando, no país estrangeiro, se exigir a homologação judicial da sentença arbitral, essa decisão homologatória é que fica sujeita à homologação pelo STJ. 
Processo judicial: o juiz não pode conhecer de ofício a convenção de arbitragem; a não alegação pelo réu implica renúncia ao juízo estatal e aceitação da jurisdição estatal. Cabe agravo de instrumento da decisão que rejeita a alegação da convenção de arbitragem.
Convenções processuais: são espécies de negócios jurídicos processuais bilaterais/plurilaterais, caracterizadas pela convergência de vontades das partes. Antonio do Passo Cabral apresenta a seguinte definição “convenção (ou acordo) processual é o negócio jurídico plurilateral, pelo qual as partes, antes ou durante o processo e sem a necessidade de intermediação de um outro sujeito, determinam a criação, modificação e extinção de situações jurídicas processuais, ou alteram o procedimento” (2016, p. 68).De acordo com Fredie Didier Jr, “negócio processual é fato jurídico voluntário, em cujo suporte fático se reconhece ao sujeito o poder de regular, dentro dos limites fixados no próprio ordenamento jurídico, certas situações jurídicas processuais ou alterar o procedimento” (2016, p. 380). O edital fala em convenções processuais, mas isso não exclui a possibilidade de negócios processuais unilaterais.
O CPC/15 adotou a diretriz de valorização da participação das partes na condução do processo, promovendo, além do estímulo à autocomposição como visto acima, a sua atuação na conformação do procedimento e das situações jurídicas processuais, por meio da ampliação dos negócios processuais típicos e da previsão de uma cláusula geral de negociação processual atípica (art. 190, CPC/15). Perceba-se, portanto, que há negócios processuais típicos, isto é, aqueles expressamente previstos no CPC, como a cláusula de eleição de foro (art. 63, CPC/15), saneamento consensual (art. 357, §2ª, CPC/15), convenção para escolha do perito (art. 471, CPC/15), convenção sobre ônus da prova (art. 373, §§ 3º e 4º, CPC/15), calendário processual (art. 191, CPC/15) etc., cujos parâmetros e objeto já estão previamente delineados, e negócios processuais atípicos, decorrentes do permissivo contido no art. 190, CPC/15, a exemplo da legitimidade extraordinária negociada, as convenções para ampliação/redução de prazos, etc. A inovação quanto aos negócios processuais típicos foi a ampliação das espécies, já quanto aos atípicos, foi a própria previsão expressa de sua admissibilidade. Na vigência do CPC/73, o negócio jurídico processual era figura controversa, havia quem os admitisse, com Araken de Assis, Fredie Didier Jr, reconhecendo, notadamente, os negócios típicos, como a convenção sobre ônus da prova, mas também quem afirmasse a inexistência dessa figura, como o Prof Cândido Rangel Dinamarco. Hoje, esta discussão não tem mais lugar.
Especificamente quanto à cláusula geral de negociação processual prevista no art. 190, CPC/15, deve-se pontuar que o legislador ampliou o espaço de atuação das partes, mas o fez fixando alguns parâmetros, que podem ser extraídos do referido dispositivo legal: 1) Objeto: as partes podem negociar não só sobre o procedimento, como alteração ou supressão de atos, reestruturando o procedimento, mas, também, sobre situações jurídicas processuais, ônus, poderes, deveres e faculdades processuais, a exemplo da legitimidade extraordinária negociada defendida por Fredie Didier Jr; 2) as convenções processuais podem ser celebradas antes ou durante o processo, não sendo o momento ou local os critérios definidores da sua qualidade “processual”; 3) a causa deve versar sobre direitos que admitam autocomposição (ou seja, o âmbito de incidência é maiordo que a arbitragem, que se restringe aos direitos patrimoniais disponíveis), desse modo, a indisponibilidade do direito material não impede, por si só, a celebração de negócio jurídico processual; 4) partes plenamente capazes (a doutrina diverge acerca da possibilidade de representação/assistência); 5) não é possível a inserção abusiva em contrato de adesão; 6) não pode haver manifesta situação de vulnerabilidade de uma das partes.
Como se percebe, a maior dificuldade, no âmbito dos negócios processuais atípicos, é a definição dos seus limites objetivos, não havendo parâmetros específicos, justamente pela opção legislativa de uso de clásula geral para redação do dispositivo. Fica a cargo a doutrina e jurisprudência o estabelecimento de tais limites diante do caso concreto. Fredie Didier Jr e Antonio do Passo Cabral, além de outros autores, apresentaram parâmetros gerais para verificação da licitude do objeto, no entanto, esta é uma questão ainda em aberto na doutrina.
Outro ponto polêmico, em construção na doutrina, é o papel do juiz nas convenções processuais, o que envolve duas questões: (i) qual o papel do juiz no controle do negócio e seu grau de ingerência, sobretudo, para inadmitir o negócio; e (Ii) a possibilidade ou não de o juiz ser parte da convenção. Quanto ao primeiro ponto, deve-se observar que coube ao juiz o controle de validade das convenções, não devendo analisar o acerto ou desacerto do objeto ou sua conveniência para as partes. Como pontua Antonio do Passo Cabral, sendo válido o acordo, o juiz deve dar cumprimento, pois, sendo normal jurídica válida, o juiz está a ela vinculado.Quando ao segundo ponto, há divergência na doutrina, não sendo possível, ainda, afirmar uma posição majoritária, a título de exemplo, Fredie Didier Jr entende que o juiz pode ser parte do negócio, ao passo que Antonio Cabral entende o contrário, que juiz não pode ser parte do negócio.
Em razão do disposto no art. 200, CPC/15, em regra, para a produção de efeitos, não é necessária a homologação da convenção pelo juiz; para que seja necessária, deve haver previsão legal expressa nesse sentido, como ocorre no saneamento consensual (art. 357, §2º, CPC/15). Assim, por não haver tal previsão no art. 190, os negócios processuais atípicos, não precisam de homologação pelo juiz, produzindo seus efeitos imediatamente. Quanto aos negócios típicos, deve-se verificar em cada um deles se há ou não a previsão.
2.PROCESSO 
2.1 Processo: conceito e natureza jurı́dica. As garantias constitucionais do processo: contraditório, juiz natural, ampla defesa, ampla defesa, acesso à justiça. (3.a) 
2.2 A instrumentalidade do processo. O processo civil na dimensão dos direitos fundamentais. (7.c) 
3A. Processo: conceito e natureza jurídica. As garantias constitucionais do processo: contraditório, juiz natural, ampla defesa, acesso à justiça. 
Mariana Barreto
Obras Consultadas: Marinoni, Arenhart e Mitidiero. NCPC Comentado (2017). 
Marinoni, Arenhart e Mitidiero. Novo curso de Processo Civil. Vol. 1. 
Legislação: CF; CPC/15.
 
PROCESSO: CONCEITO. 
Processo é o instrumento por meio do qual o Estado exerce a jurisdição, sendo o meio pelo qual se provoca a jurisdição e serve para realização do direito material. O CPC/15 fundamenta-se em normas fundamentais, essenciais para a exata compreensão do novo modelo de processo civil brasileiro.
As normas fundamentais elencadas pelo legislador infraconstitucional constituem as linhas mestras do Código: são os eixos normativos a partir dos quais o processo civil deve ser interpretado, aplicado e estruturado. As normas fundamentais do processo civil estão obviamente na CF/88 e podem ser integralmente reconduzidas ao direito fundamental ao processo justo (art. 5º, LIV, CF). O Código não reproduz a título de normas fundamentais todos os direitos fundamentais processuais que compõem o direito ao processo justo. Isso não quer dizer que esses direitos fundamentais tenham perdido esse status normativo: o direito ao juiz natural, o direito à defesa e o direito à prova, por exemplo, permanecem como normas fundamentais do processo civil brasileiro, nada obstante a ausência de reprodução no Código. 
PROCESSO: NATUREZA JURÍDICA. 
Diversas teorias já foram elaboradas com o intuito de identificar a natureza jurídica do processo. Dentre elas, destacam-se: a) Processo = contrato – o principal fundamento dessa teoria tinha como ponto de partida, em geral, o direito romano e, em especial, a litiscontestatio, que representava a concordância das partes em sofrer os efeitos da demanda; b) processo = quase-contrato – de autoria do francês Arnault de Guényvau, objetivava determinar a natureza jurídica de direito privado ao processo e, não se aceitando tratar-se de um contrato, nem de um ilícito, a única saída viável seria tratar-se de um quase contrato; c) processo = procedimento (rito judicial de aplicação do direito material que se tornou litigioso), na fase em que o processo civil ainda não era autônomo – hoje entende-se que procedimento é a exteriorização do processo, seu aspecto visível, considerando-se que a noção de processo é teleológica, voltada para a finalidade de exercício da função jurisdicional no caso concreto; d) processo = situação jurídica (Goldschmidt): teoria que confere bases para o reconhecimento posterior do caráter publicista ao processo. Preconizava que diferentemente do direito material, no processo predomina o estado de incerteza, de insegurança de direitos e obrigações entre aqueles que se encontram em conflito; o processo seria caracterizado como um sistema de possibilidades e de ônus, ou seja, a sucessão de diferentes situações jurídicas, capazes de gerar para os sujeitos deveres, poderes, ônus, faculdades e sujeições, com base em uma concepção teleológica do processo; e) processo = relação jurídica processual (Oscar Von Bülow): teoria que retirou o processo do âmbito privatista, finalmente alçando-o ao âmbito publicista, em que até hoje se encontra. Criou a nítida distinção entre relação jurídica processual e relação jurídica material, sendo esta o objeto de discussão no processo, enquanto a relação de direito processual é a estrutura por meio da qual essa discussão ocorrerá. A relação jurídica pode se apresentar: (i) linear (que se desenvolve entre autor e réu); (ii) angular (entre autor-juiz e juiz-réu); (iii) triangular (abarcando: autor-juiz; juiz-réu e autor-réu). Essa última é a teoria predominante na doutrina brasileira, que preconiza que o processo é o procedimento que, adequado à tutela dos direitos, confere legitimidade democrática ao exercício do poder jurisdicional.” É frequente a utilização de processo e de relação jurídica processual como sinônimos. Há, contudo, outros autores que veem o processo como uma entidade complexa: Dinamarco: processo = procedimento + relação jurídica processual (isto é, processo = relação entre os atos do processo + relação entre os sujeitos do processo); e Fazzalari: processo = procedimento + contraditório. 
Importante ressaltar que o princípio fundamental do Devido Processo Legal foi concebido na CF/88 como cláusula geral, aberta, o que possibilita ao magistrado, no Estado Constitucional, realizar o seu papel de maneira criativa, limitado pela persuasão racional ou livre convencimento motivado. Ademais, frise-se a aproximação do nosso antigo modelo de Civil Law à Common Law inglesa, através dos institutos dos precedentes judiciais, mormente as Súmulas Vinculantes introduzidas na CF/88, o que possibilita, na visão de Didier, uma mistura de sistemas que pode ser caracterizado como Brazilian Law. 
AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO: CONTRADITORIO, JUIZ NATURAL, AMPLA DEFESA, ACESSO À JUSTIÇA. 
A necessidade de que fique evidente a harmonia da lei ordinária em relação à CF/88 fez com que se incluíssem no Código, expressamente, princípios constitucionais, na sua versão processual. Trata-se de uma forma de tornar o processo mais eficiente e efetivo, o que significa, indubitavelmente, aproximá-lo da CF, que preconiza que o processo deveassegurar o cumprimento da lei material.
Compromissos fundamentais: A maior visibilidade outorgada a determinados direitos fundamentais processuais no NCPC em detrimento de outros por força da previsão como normas fundamentais do processo civil decorre da circunstância desses constituírem compromissos fundamentais do legislador: respeitar a liberdade e a igualdade de todos perante a ordem jurídica (arts. 1º, 2º, 3º e 8º, CPC), prestar tutela tempestiva aos direitos (arts. 4º e 12, CPC) e administrar a justiça civil a partir de uma ideologia democrática (o que leva a um novo equacionamento das relações entre o juiz e as partes a colaboração, do contraditório e da fundamentação, arts. 5º, 6°, 7º, 9º, 10 e 11 CPC). Quando estiver em causa, o significado do direito fundamental tal como reproduzido ou densificado pelo CPC, caberá recurso especial para o STJ. Quando, porém, estiver em causa eventual questionamento sobre injusta proteção ao direito fundamental processual pelo Código (por ausência de proteção, proteção insuficiente ou retrocesso de proteção), caberá recurso extraordinário para o STF.
Conteúdo do direito ao processo justo: Trata-se de termo indeterminado. É uma cláusula geral - a norma prevê um termo indeterminado no seu suporte fático e não comina consequências jurídicas à sua violação. No entanto, é possível identificar o seu núcleo duro, sem o qual seguramente não se está diante de um processo justo. Em primeiro lugar, do ponto de vista da divisão do trabalho processual, o processo justo é pautado pela colaboração do juiz para com as partes (art. 6º, CPC). O juiz é paritário no diálogo e assimétrico apenas no momento da imposição de suas decisões. Em segundo lugar, constitui processo capaz de prestar tutela jurisdicional adequada e efetiva (art. 5º, XXXV, CF, e 3º, CPC), em que as partes participam em pé de igualdade e com paridade de armas (art. 5º, I, CF, e 7º, CPC), em contraditório (art. 5º, LV, CF, e 7º, 9º e 10, CPC), com ampla defesa (art. 5º, LV, CF), com direito à prova (art. 5º, LVI, a contrariosensu, CF, e 369, CPC), perante juiz natural (arts. 5º, XXVII e LIII, CF), em que todos os seus pronunciamentos são previsíveis, confiáveis e motivados (arts. 93, IX, CF, e 11 e 489, §1º, CPC), em procedimento público (arts. 5º, LX, e 93, IX, CF, e 11 e 189, CPC), com duração razoável (arts. 5º, LXXVIII, CF, e 4º, CPC) e em, em sendo o caso, com direito à assistência jurídica integral (art. 5º, LXXIV, CF, e 98 a 102, CPC) e com formação de coisa julgada (art. 5º, XXXVI, CF, e 502, CPC). 
A aferição da justiça do processo mediante a verificação pontual de cada um de seus elementos é método recorrente na jurisprudência. Trata-se de meio objetivo de controle de justiça processual. A violação do direito ao processo justo pode ser direta ou indireta. O cabimento de RE fundado na violação do direito ao processo justo (art. 5º, LIV, CF) só se configura quando há ofensa direta. Quando o exame da violação do direito ao processo justo depende da simples interpretação da legislação infraconstitucional que o concretiza, há apenas ofensa indireta. Isso não quer dizer, contudo, que o Supremo não possa controlar mediante RE a suficiência ou a excessividade da proteção despendida pelo legislador infraconstitucional na densificação do principio do direito ao processo justo. Nesse caso não há simples interpretação de normas infraconstitucionais. Há controle de adequada densificação do direito ao processo justo. Quando a parte afirma a existência de proteção insuficiente ou excessiva da legislação diante da Constituição, afirma a existência de ofensa direta à normatividade do direito ao processo justo, desencadeando a possibilidade de controle de constitucionalidade da legislação infraconstitucional, o que autoriza a interposição e o conhecimento de RE. O mesmo quando se afirma a violação do direito ao processo justo pela ausência de norma infraconstitucional que o concretize. Nesse caso há igualmente ofensa direta e cabe RE.
O direito ao processo justo goza de eficácia vertical, horizontal e vertical com repercussão lateral. O mesmo se diga de seus elementos estruturantes. Ele obriga o Estado Constitucional a adotar condutas concretizadoras da protetividade que dele emana (eficácia vertical), o que pode ocasionar repercussão lateral sobre a esfera jurídica dos particulares (eficácia vertical com repercussão lateral). Ainda, obriga os particulares, em seus processos privados tendentes a restrições e extinções de direitos, a observá-lo (eficácia horizontal). O direito ao processo justo é multifuncional. Ele tem função integrativa interpretativa, bloqueadora e otimizadora. Como princípio, exige a realização de um estado ideal de proteção aos direitos, determinando a criação dos elementos necessários à promoção do ideal de protetividade, a interpretação das normas que já preveem elementos necessários à promoção do estado ideal de tutelabilidade, o bloqueio à eficácia de normas contrárias ou incompatíveis com a promoção do estado de proteção e a otimização do alcance do ideal de protetividade dos direitos no Estado Constitucional. A atuação do legislador infraconstitucional é a concretização do direito ao processo justo. Há aí dupla presunção: subjetiva, de que o legislador realizou sua função dando adequada resposta à norma constitucional (favor legislatoris), e objetiva, de que a lei realiza de forma justa o direito fundamental ao processo justo favor legis). O direito ao processo justo é o fundamento da unidade na conformação do processo no Estado Constitucional. Impõe-se não só uma leitura a partir da Constituição da legislação infraconstitucional, mas também de um diálogo das fontes para melhor interpretação da legislação processual e para otimização de soluções conforme ao direito fundamental ao processo justo.
CONTRADITÓRIO: 
A realização plena do contraditório que faz surgir cognição exauriente.
Paridade de tratamento e efetivo contraditório: O direito à igualdade processual - formal e material - é o suporte do direito à paridade de annas no processo civil (Waffengleichheit, parità delle armi, égalité des armes). O processo só pode ser considerado justo se as partes dispõem das mesmas oportunidades e dos mesmos meios para dele participar. Vale dizer: se dispõem das mesmas armas, se dispõem de paridade de tratamento. Trata-se de exigência que obviamente se projeta sobre o legislador e sobre o juiz: há dever de estruturação e condução do processo de acordo com o direito à igualdade e à paridade de tratamento. Como facilmente se percebe, a igualdade - e a paridade de tratamento e de armas nela implicada-constitui pressuposto para efetiva participação das partes no processo e, portanto, é requisito básico para plena realização do direito ao contraditório (art. 7.0, in fine, CPC).
A dignidade da pessoa humana veda a transformação das partes em objeto da atividade jurisdicional. E por essa razão que a dignidade da pessoa humana tem estreita ligação com o direito de participação das partes na construção dos provimentos jurisdicionais, isto é, na previsão do direito ao contraditório como direito de influência (arts. 9 e 10, CPC) e o dever de fundamentação como dever de debate (arts. 11 e 489, §§ 1.0 e 2. 0, CPC). O juiz ao aplicar o ordenamento jurídico e ao conduzir o processo deve resguardar promover a dignidade da pessoa humana, o que significa encarar o processo como um meio para tutela dos direitos, respeitar a liberdade das partes nos seus espaços de autodeterminação e adotar o contraditório como método de trabalho.
O erro de forma do processo só não possibilita o aproveitamento dos atos praticados se dele resultar violação do direito fundamental a ampla defesa e do direito fundamental ao contraditório (art. 5.º, LV, CF). Trata-se de evidente concretização da economia processual e da regra instrumentalidade das formas processuais para o STJ.
JUIZ NATURAL: 
O direito fundamental ao juiz natural implica juiz imparcial e investido de competência absoluta (art. S.º, XXXVII e LIII, CF), daí a razão pelaqual não há processo justo diante de juiz absolutamente incompetente (art. 5. º, LIV, CF). A competência absoluta é um requisito de validade do processo, razão pela qual decisão proferida por órgão jurisdicional absolutamente incompetente é passível de ação rescisória (art. 966, II, CPC). Ressalte que atos concertados implicam o prévio ajuste, entre juízes, para a pratica de atos que interessem a vários processos. Podem consistir em qualquer ato, não estando habilitado aqueles indicados nos incisos Ia VII, do art. 69, § 2.0, CPC. Não se pode, porém, delegar atividades que possuam caráter decisório, sob pena de violação do princípio do juiz natural (art. 5.0, XXXVII e LIII, CF).
A Constituição não determina o juiz natural recursal. O CPC, no entanto, define o juiz natural recursal como sendo o órgão colegiado do tribunal a que compete o conhecimento do recurso. Nesse sentido, o relator, alçando mão do art. 932, CPC, apenas representa o órgão fracionário - a possibilidade de decisão monocrática representa simples delegação de poder do colegiado ao relator. O relator tem o dever de julgar o recurso monocraticamente, preenchidos os requisitos inerentes à espécie, porque aí estará prestigiando a autoridade do precedente (arts. 926 e 927, CPC) e patrocinando sensível economia processual. Pode o relator julgar monocraticamente qualquer espécie recursal a partir do art. 932, CPC, podendo inclusive invocá-lo para decidir a remessa necessária (Súmula 253, STJ: "o art. 557 do CPC, que autoriza o relator a decidir o recurso, alcança o reexame necessário") e para, em sendo o caso, decidir questões concernentes a processos de competência originária. O relator deve exercer seus poderes de ofício, independentemente de requerimento de quaisquer das partes.
AMPLA DEFESA:
A palavra “ampla” qualifica a defesa garantida pela CF/88. É o conteúdo de defesa necessário para que o réu possa se opor ao pedido de tutela jurisdicional do direito e à utilização de meio executivo inadequado ou excessivamente gravoso. A intenção da norma é evitar que a lei ou o juiz limitem a defesa, restringindo a possibilidade de o réu alegar, provar etc. Mas isso é verdade no sentido de que a defesa não pode ser limitada irracionalmente. Há situações em que a limitação da defesa é necessária para permitir a efetividade da tutela do direito. Assim, por exemplo, diante da necessidade de tutela antecipada fundada na urgência, é possível postecipar a realização da defesa para momento posterior ao da produção de efeitos sobre a esfera jurídica do réu (assim, o art. 9.º, parágrafo único, II, autoriza nesses casos a realização do direito ao contraditório de forma diferida ou postecipada). Por outro lado, quando, no procedimento da ação expropriatória (art. 20 do Dec. -lei 3.365/1941), afirma -se que a contestação só poderá versar sobre vício do processo judicial ou impugnação do preço oferecido pelo bem objeto da desapropriação, isto é, justificado pela necessidade de se dar tutela ao direito de desapropriar do Poder Público. Porém, se tal limitação é legítima para viabilizar a desapropriação, é evidente que qualquer outra questão que poderia impedir a tutela do direito deve poder ser apresentada pelo réu em ação autônoma, proposta em face do autor da ação de desapropriação (o contraditório sobre a questão cuja cognição é vedada realiza -se de forma eventual). Importa evitar que a restrição da defesa redunde em “prejuízo definitivo”, retirando do réu a oportunidade de exercer a defesa em fase posterior à decisão proferida no curso do processo ou mesmo através do exercício de ação autônoma.
A citação é uma densificação do direito fundamental à ampla defesa (art. 5º, LV, CF) e visa a outorgar ao demandado ciência efetiva dos termos em que proposta a ação, a integrá-lo como parte no processo e possibilitar a sua adequada reação em juízo. Constitui um dos elementos centrais de nosso processo justo. No que se refere à citação por edital, à vista do direito fundamental à ampla defesa (art. 5.0, LV, CF), este deve indicar a finalidade para a qual é citado o demandado e sucinta descrição da causa de pedir e do pedido, conforme já decidiu o STJ. Fora daí pode ser decretada a sua invalidade. A ampla defesa (art. 5, LV, CF) também é exercida pelo demandado por meio da contestação. A contestação é o meio de defesa por excelência do réu. No direito brasileiro, a contestação tem três características básicas: é total (arts. 336 e 342, CPC), formal (art. 337, CPC) e especificada (art. 341, CPC). Não há dever de contestar. Contestar é um direito e é um ônus do réu.
ACESSO À JUSTIÇA:
O direito de ação como direito de acesso à justiça: O direito de ação, no Estado liberal, era indiferente às necessidades sociais, as quais são à base da conformação atual do acesso à justiça. Na época dos Estados liberais burgueses, por direito de ação entendia-se apenas o direito formal de propor uma ação. Estaria em juízo quem pudesse suportar os custos de uma demanda. Porém, quando as liberdades públicas passaram a ser vistas como privilégios de alguns (burgueses), o Estado deu uma nova roupagem e dimensão aos antigos direitos e instituiu direitos pensados como fundamentais para uma organização justa e igualitária da sociedade, agregando ao direito de ação outros conteúdos. As Constituições do século XX procuraram integrar as liberdades clássicas, inclusive as de natureza processual, com os direitos sociais, inclusive o direito de ação, que passou a ser focalizado como “direito de acesso à justiça”, tornando -se objeto da preocupação dos mais modernos sistemas jurídicos do século passado.
O problema da “efetividade” do direito de ação tornou-se mais nítido quando da consagração constitucional dos chamados “novos direitos”. Como adverte Boaventura de Souza Santos, os novos direitos sociais e econômicos, caso ficassem destituídos de mecanismos que fizessem impor o seu respeito, assumiriam a configuração de meras declarações políticas. Logo percebeu-se que a administração da justiça civil e os processos judiciais não mais poderiam ficar reduzidos a uma dimensão meramente técnica e socialmente neutra, devendo investigar-se as funções sociais por eles desempenhadas e, em especial, o modo como as opções técnicas veiculavam opções a favor ou contra interesses sociais divergentes ou mesmo antagônicos. Percebeu-se que o exercício da ação poderia ser comprometido por obstáculos sociais e econômicos, e que os direitos voltados a garantir uma nova forma de sociedade, identificados nas Constituições modernas, apenas poderiam ser concretizados se garantido um real acesso à justiça. Assim, o direito de ação passou a ser pensado sob o slogan de “direito de acesso à justiça”, perdendo a característica de instituto indiferente à realidade social. O acesso à justiça foi o tema-ponte que fez a ligação do processo civil – antes compreendido exclusivamente na sua dimensão técnica – com a “justiça social”. A realização do direito de acesso à justiça é indispensável à própria configuração de Estado, uma vez que não há como pensar em proibição da tutela privada e, assim, em Estado, sem se viabilizar a todos a possibilidade de efetivo acesso ao Poder Judiciário. Por outro lado, para se garantir a participação dos cidadãos na sociedade, e dessa forma a igualdade, é imprescindível que o exercício da ação não seja obstaculizado, até porque ter direitos e não poder tutelá-los certamente é o mesmo do que não os ter.
Merecem cuidado as normas que obstaculizam ou dificultam o acesso à justiça, as normas que são insuficientes para permitir a efetividade da tutela jurisdicional e, ainda, a falta de norma processual que impede a adequada tutela do direito. Todas as regras processuais relacionadas com o direito de ação devem ser compreendidas à luz do direito fundamental de ação, devendo-se ter em consideração a imprescindibilidade de se outorgar plena oportunidade de acesso à justiça, mas também as necessidades de direito material e a espécie de tutela do direito material objetivada pela ação. Além de contornar osobstáculos de natureza social ao acesso à justiça, é preciso oportunizar uma adequada participação em juízo e instituir as técnicas processuais capazes de permitir a adequada, efetiva e tempestiva tutela do direito material. O art. 319, §3º, CPC preconiza que não dispondo o autor de informações que permitam a citação do réu, tem o juiz o dever de auxiliá-lo na obtenção dessas informações (art. 319, § 1.0, CPC), inclusive a fim de não tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça (art. 319, §3.0, CPC). Trata-se de regra inerente à colaboração judicial no processo civil.
O acesso à justiça também se refere ao direito de defesa do réu. O direito de acesso à jurisdição – tanto do autor quanto do réu – é um direito à utilização de uma prestação estatal imprescindível para a efetiva participação do cidadão na vida social e assim não pode ser visto como um direito formal e abstrato – ou como um simples direito de propor a ação e de apresentar defesa–, indiferente aos obstáculos sociais que possam inviabilizar o seu efetivo exercício. O acesso à justiça, portanto, propõe a problematização do direito de ir a juízo – seja para pedir a tutela do direito, seja para se defender – a partir da ideia de que obstáculos econômicos e sociais não podem impedir o acesso à jurisdição, já que isso negaria o direito de usufruir de uma prestação social indispensável para o cidadão viver harmonicamente na sociedade. O direito à assistência judiciária gratuita, isto é, o direito a advogado, o direito à isenção de custas e despesas processuais, assim como o direito à produção de provas de forma gratuita, importa não apenas ao autor, mas também ao réu. Tais garantias objetivam dar às partes a possibilidade de efetivamente participarem do processo. O exercício do poder jurisdicional somente é legítimo quando os interessados no ato de positivação do poder (na decisão) podem efetiva e adequadamente participar do processo, controlando a racionalidade do exercício do poder estatal. Um processo que não garante a todos, independentemente das suas posições financeiras, o acesso à justiça possui um déficit de legitimidade. No CPC, há regra que instrumentaliza este direito: A contestação é apresentada ao juiz da causa (art. 217, CPC). Mas, havendo alegação de incompetência relativa ou absoluta a fim de facilitar o acesso à justiça do réu, a contestação poderá ser protocolada no foro do seu domicílio (art. 340, CPC). É uma inovação do NCPC, inspirada na então exceção de incompetência fundada na alegação de nulidade de cláusula de eleição de foro, que poderia ser oposta no juízo do foro do réu. Nesse caso, a contestação será submetida à livre distribuição ou, se o réu houver sido citado por meio de carta precatória, juntada aos autos dessa carta, com remessa para o juízo da causa (art. 340, § 1.0, CPC). Seguindo-se a regra de que o juiz da causa é o primeiro juiz da sua própria competência (Kompetenz-Kompetenz), dele é a decisão. Reconhecida a competência do foro indicado pelo réu, o juízo para o qual fora distribuída a contestação ou a carta precatória será considerado prevento (art. 340, §2.0, CPC).
Outra regra do CPC que concretiza o acesso à justiça: Não ocorre o efeito material da revelia nas hipóteses do art. 345, CPC. Além desses casos, uma análise sociológica do perfil do demandado pode conduzir à conclusão que, em nome da igualdade substancial entre os litigantes (arts. 5.0, I, CF, e 7, CPC), cuja observância deve o juiz patrocinar (art. 139, I, CPC), tem o juiz de elidir o efeito material da revelia e considerar fictamente contestadas as alegações fáticas do autor em determinadas situações. Levando em consideração o grau de esclarecimento do demandado, a extensão do território nacional e a sua eventual dificuldade de acesso à Justiça, pode o juiz excepcionalmente deixar de aplicar o efeito material da revelia. Naturalmente, a decisão tem de ser fundamentada. O livro do Arenhart trata ainda de outras situações acerca do acesso à justiça: a) Pessoa com Deficiência e Acesso à Justiça: De acordo com o art. 6 da Lei 13.146/2015, a deficiência não afeta a plena capacidade civil. Apenas haverá incapacidade - no plano do direito material e no plano do direito processual - se houver avaliação biopsicossocial idônea que aponte nesse sentido (art. 2, §1º, Lei 13.146/2015). Fora daí há capacidade; b) Revisão do valor da multa por embargos protelatórios: Excepcionalmente, o STJ admite a revisão do valor da multa fixada, em atenção à garantia de acesso à justiça, "(...) uma vez que sua preservação inviabiliza o direito de recorrer, o qual se encontra condicionado ao depósito da multa" (STJ, 2016); c) Ponderação: As limitações à concessão de tutela provisória contra a Fazenda Pública sujeitam-se a juízo de ponderação no caso concreto. Afinal, diante de efetiva urgência na medida antecipatória ou cautelar, não se justifica a vedação apriorística e absoluta à outorga da proteção liminar, sob pena de se violar a garantia de acesso à Justiça {art. 5.0, XXXV, CF) e da duração razoável do processo (art. 5.0, LXXVIII, CF).
7C. A Instrumentalidade do Processo. O Processo Civil na Dimensão dos Direitos Fundamentais[footnoteRef:2] [2: Este ponto é de fundamental importância para a concepção do Processo Civil a partir da Constituição Federal de 1988. É importante ressaltar que devemos guiar nossos estudos de processo civil a partir das novas concepções do direito e da jurisdição que influenciarão na compreensão do processo como instrumento a serviço do direito material. Houve uma profunda mudança de paradigma no direito processual que deixou de ter o processo como foco e passou a dar prioridade a efetividade da tutela em busca da juris-satisfação. Toda a nova ordem processual concebida pelo Novo CPC impõe a observância desta premissa.] 
Sidney Smith
Obras consultadas:DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil: Introdução ao Direito Processual, Parte geral e processo de conhecimento. V. 1. 17. ed. Salvador: Jus Podivm, 2015; MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil: Teoria Geral do Processo. v. 1. 8. ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014; DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 12. ed. São Paulo: Malheiros editores, 2005; Resumo do 28 CPR; MARINONI, Luiz Guilherme. Novo curso de processo civil, 2017.
Legislação básica: Código de Processo Civil, artigo 1º. Constituição Federal artigo 5º.
1) A INSTRUMENTALIDADE DO PROCESSO: “Se o direito processual é cientificamente autônomo e o processo possui natureza instrumental, isto está muito longe de significar que ele possa ser neutro em relação ao direito material e à realidade da vida. Aliás, justamente por ser instrumento é que o processo deve estar atento às necessidades dos direitos. […] Não há dúvida de que o processo não se confunde com o direito material e nesse sentido pode ser visto como um instrumento. Mas, para tutelar adequadamente as diferentes posições sociais e as diversas situações de direito substancial, o processo não pode desconsiderar o que se passa nos planos da realidade social e do direito material”. (Marinoni e Arenhart). O processo serve à situação jurídica posta (direito material) e deve ser compreendido e estruturado para servir de instrumento de tutela. É o direito material que indica quais seriam as possíveis soluções para a causa, enquanto que o direito processual se preocupa com o modo de implementação dessas soluções. Sob outro prisma, a instrumentalidade tem como corolário a necessidade de se outorgar preferência à efetiva solução do conflito ao invés de se oferecer uma resposta meramente processual ou formal ao litígio. 
Relação circular entre direito material e processo: Existem dois planos distintos: direito processual e direito material. Mas há um nexo de finalidade que une estes planos, capaz de unir o instrumento (direito processual) ao objeto (direito material). Há, portanto, uma relação de complementariedade, pois não há hierarquia entre direito processual e direito material. 
Instrumentalismo:É a abordagem metodológica do processo capaz de estabelecer uma ponte entre o direito material e o processual. O operador jurídico deve saber que as regras processuais precisam ser aplicadas e interpretadas de acordo com a sua função: dar efetividade às normas materiais. Para Marinoni, “não há como conceber a jurisdição em uma dimensão que ignore a sua dinâmica processual, pois o resultado da sua tarefa é indissociavelmente ligado ao ‘meio instrumental’ (técnica processual, estrutura fática, comportamento dos auxiliares judiciários e do juiz) com o qual trabalha”. 
Teoria da Instrumentalidade e seus Escopos: Trata-se de uma visão teleológica de processo, inaugurada no Brasil por Cândido Rangel Dinamarco, na qual o processo se prestaria a fins úteis. Seria o processo instrumento de concretização de uma “justiça social”, servindo à realização de fins sociais, econômicos, políticos e culturais, os chamados escopos metajurídicos. Revela, assim, um grau de utilidade conferido à existência do processo, que passa a ser visto como um instrumento de justiça. As normas processuais não terão utilidade se não proporcionarem a obtenção do direito material. Por meio do processo, a jurisdição, possui um escopo jurídico, social e político: Escopo jurídico - atuação da vontade concreta do direito; Escopo social - capacidade de educar e pacificar com justiça (pacificação social); Espoco político - atuação da jurisdição como poder estatal. 
Crítica ao escopo da pacificação social: Marinoni, Arenhart e Mitidiero ponderam que “a ideia do fim de pacificação social da jurisdição está relacionada com três questões: (i) a existência do juiz dá aos litigantes a consciência de que os seus conflitos têm uma forma de resolução instituída e estatal, o que elimina as tentativas de soluções privadas arbitrárias e violentas; (ii) a jurisdição acomoda as disputas, evitando a potencialização e o agravamento das discussões; (iii) ainda que um dos litigantes não se conforme com a decisão, ele sabe que, diante da impossibilidade de levar novamente ao juiz a situação conflitiva já solucionada, nada mais lhe resta fazer e que, portanto, seria improdutivo e ilógico continuar alimentando a sua posição. Acontece que essas três características, que serviriam para identificar um fim de pacificação social na jurisdição, são completamente neutras e indiferentes à substância da função ou da decisão jurisdicional. E definir jurisdição sem saber como a pacificação é alcançada pode conduzir à admissão de que qualquer poder instituído, mesmo que atuando de forma ilegítima e de modo contrário aos princípios materiais de justiça, exerce jurisdição. […] a pacificação social é uma mera consequência da existência de um poder de resolução dos conflitos que se sobreponha sobre os seus subordinados e não um resultado particular e próprio do Estado constitucional. Por isso, no atual estágio dos nossos estudos, parece não ser adequado concluir que a jurisdição se caracteriza pelo fim da pacificação social. É preciso, antes de tudo, analisar de que forma esse fim é obtido, ou melhor, verificar a legitimidade do poder de resolução dos conflitos e das decisões destinadas a regulá -los. Sem isso estaríamos aceitando que todo poder direcionado à pacificação social é um poder jurisdicional e, assim, para dizer o mínimo, igualizando a jurisdição do Estado legislativo com a jurisdição do Estado Constitucional”. 
2) O PROCESSO CIVIL NA DIMENSÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS: O reconhecimento da força normativa da Constituição no desenvolvimento e aplicação das normas processuais proporcionam o reconhecimento do devido processo legal como direito fundamental. Os principais documentos responsáveis por esse desenvolvimento também são: Constituições ocidentais após a 2ª Guerra Mundial; Tratados internacionais de Direitos Humanos; Convenção Europeia de Direitos do Homem (Art. 6º trata do direito ao julgamento público, equitativo e em prazo razoável por um tribunal independente e imparcial); Pacto de São José da Costa Rica (Art. 8º estabelece garantias judiciais como o direito de ser ouvido por um tribunal competente, independente e imparcial, direito à indenização por erro judiciário e direito ao sistema recursal). 
O devido processo legal como direito fundamental abrange também outras garantias constitucionais como o contraditório, o juiz natural, a duração razoável, a proibição de prova ilícita e outros princípios processuais constitucionais destacados do artigo 5º e reproduzidos no Novo Código de Processo Civil. 
Princípios processuais: O juiz decide a lide conforme o Direito, que é composto de um conjunto de espécies normativas: regras e princípios. Como espécie normativa, o princípio é norma que estabelece um fim a ser atingido (DIDIER). Possuem eficácia direta ou indireta, conforme o modo que o princípio atua sobre outras normas: Eficácia direta – O princípio é eficaz e não depende de outras normas jurídicas. Atua sem a necessidade de intermediação e exerce função integrativa, pois agrega elementos não previstos. Exemplo: um procedimento previsto em uma regra em que não exista a previsão de manifestação da outra parte. Mas o princípio do devido processo legal garantirá o exercício do direito de defesa. Eficácia indireta – Dependem de outras normas para a sua concretização, pois servirão para delimitar o exercício do poder jurisdicional na construção da solução do caso. As normas podem conter subprincípios ou regras que servirão como ponte ou exercerão função definitória em relação aos princípios, porque delimitam com precisão o comando normativo. Os princípios processuais podem ser subprincípios (menos amplos) que auxiliam a aplicação de sobreprincípios (mais amplos). Exemplo: o princípio da boa-fé processual é um subprincípio do devido processo legal, este, por sua vez, pode ser um subprincípio da Dignidade da Pessoa Humana. Didier explica que classificar um princípio como sub ou sobre é apenas uma técnica para demonstrar como um princípio se relaciona com outro. 
Processo e Direitos Fundamentais: Segundo Marinoni, para se compreender o que o juiz faz quando decide é necessário entender a concepção de direito do Estado Contemporâneo e a função dos direitos fundamentais materiais. A adequada prestação jurisdicional depende da universalidade do acesso à justiça, do plano normativo processual, da estrutura processual da administração da justiça e do comportamento do juiz. Portanto, é fundamental pensar na relação entre o modo de ser da jurisdição, concebendo a existência de um direito fundamental processual do particular e a sua relação com a efetividade da prestação da tutela jurisdicional pelo Estado. A teoria dos Direitos Fundamentais constitui o marco teórico essencial para a compreensão do Constitucionalismo Contemporâneo. Esses direitos possuem uma dupla dimensão (DIDIER): Dimensão subjetiva –Direitos fundamentais como situação jurídica ativa. São direitos subjetivos que atribuem posições jurídicas de vantagem aos seus titulares; (direitos com d minúsculo); Dimensão objetiva–Direitos fundamentais como norma jurídica. São valores básicos consagrados que devem presidir e interpretação e aplicação de todo o ordenamento jurídico por todos os seus atores.(Direitos com D maiúsculo). O processo deve estar adequado à tutela efetiva dos direitos fundamentais (dimensão subjetiva) e estar estruturado de acordo com os direitos fundamentais (dimensão objetiva). A aplicabilidade imediata dessas normas gera obrigações para: O Legislador – porque precisa criar normas adequadas à tutela das situações jurídicas ativas. O Magistrado – porque precisa realizar o controle difuso de constitucionalidade das normas processuais no caso concreto e de modo incidental (princípio da adequação judicial das normas processuais). Além disso, também deverá o magistrado: a) Dar eficácia máxima a normas protetoras de direitos fundamentais; b) Aplicar a máxima da proporcionalidade para afastar qualquer regra que se coloque como obstáculo irrazoável ou desproporcional para a efetivação de direitos

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