Buscar

G3 Econômico e Consumidor - sistematizada

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 103 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 103 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 103 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DIREITO ECONÔMICO E DO CONSUMIDOR
GRAAL DA PROVA ORAL DO 29º CPR – 10/2018
Compilado por Valdir Monteiro Oliveira Júnior
Sumário
1.ORDEM ECONÔMICA CONSTITUCIONAL	4
1A. Direito econômico. Conceito. Objeto. Competência legislativa.	4
1B. Ordem Econômica e atividade econômica. Princípios constitucionais.	5
3A. Apropriação privada dos meios de produção.	10
2.ORDEM ECONÔMICA INTERNACIONAL E REGIONAL	11
12A. Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Natureza jurídica. Propósito, princípios e instrumentos	12
12B. Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Solução de controvérsia entre as partes	14
3.INTERVENÇÃO DO ESTADO NO DOMÍNIO ECONÔMICO	16
6C. O Estado como agente normativo e regulador de atividade econômica.	16
4C. Monopólio da União. Justificativa. Hipóteses.	18
3C. Intervenção estatal no domínio econômico. Competência. Justificativa. Modalidades de Intervenção.	20
10A. Concessões de serviços públicos: o equilíbrio econômico-financeiro do contrato, política tarifária, prorrogação de concessões.	22
4A. Empresas estatais: prestadoras de serviços públicos. Regime jurídico.	24
4B. Empresas estatais: exploradoras de atividade econômica. Regime jurídico.	24
1C. Exploração da Atividade Econômica pelo Estado. Regime jurídico.	26
2A. Mercados regulados. Serviços Públicos federais. Papel dos órgãos supervisores e agências reguladoras. Modelo brasileiro de agências reguladoras: principais características. Poder regulatório e fiscalizatório. Defesa do consumidor.	28
2B. Regimes jurídicos e sistemas regulatórios das telecomunicações, gás e petróleo, energia elétrica e transportes públicos federais.	33
4.JAZIDAS, RECURSOS MINEIRAIS E POTENCIAIS DE ENERGIA HIDRÁULICA	35
3B. Jazidas, em lavra ou não. Recursos minerais. Propriedade. Exploração aproveitamento. Autorização e concessão. Limites. Interesse nacional.	36
5.DIREITO CONCORRENCIAL	38
5A. Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC). Lei 12.529/2011.	38
5B. O CADE na defesa da concorrência. Estrutura. Poderes.	40
7C. Condutas anticoncorrenciais: acordos verticais e acordos horizontais.	41
8B. Cartéis. Concorrência Ilícita e Desleal	44
9C. Concentração econômica. Monopólios privados, oligopólios e trustes.	47
6B. Concentração de mercado: fusão, incorporação, integração e outras formas. Limites e requisitos	51
9A. Abuso do poder econômico: aumento arbitrário de preços.	55
8A. Abuso do poder econômico: domínio de mercados e eliminação da concorrência.	56
6A. Abuso do poder econômico: prevenção, procedimentos.	58
7A. Abuso do poder econômico: instrumentos de repressão. Processo e procedimentos administrativos.	59
5C. O papel do Ministério Público na defesa da concorrência e no combate às infrações contra a ordem econômica. O MPF junto ao CADE.	63
8C. Advocacia da Concorrência. Interação entre Agências Reguladoras e Órgãos de Defesa da Concorrência	63
6.REGULAÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO	65
10B. Sistema Financeiro Nacional. Estrutura, funcionamento, órgãos reguladores e entidades supervisoras. Autorregulação e arbitragem.	66
2C. A regulação do mercado de capitais. CVM e Bovespa. Previdência complementar.	69
12C. A regulação do Banco Central.	70
10C. Mercado de capitais. Estrutura, funcionamento. Regulação e autorregulação do mercado de valores mobiliários. Transparência.	72
7. PLANOS DE SAÚDE	74
11C. Planos de saúde. Regulação do setor. Contratos coletivos e individuais.	74
8.PROPRIEDADE INTELECTUAL	78
11B. Propriedade intelectual: direitos e limites. Propriedade industrial e direitos autorais.	78
9.MARCO CIVIL DA INTERNET	81
11A. Marco Civil da Internet. Privacidade de dados VS segurança. Neutralidade de Rede.	81
1.PROTEÇÃO JURÍDICA DO CONSUMIDOR	86
13A. Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC). Princípios e direitos básicos da Lei nº 8.078/1990. O papel do Ministério Público na defesa do consumidor.	86
2.RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO	91
7B. O conceito de fornecedor.	91
13B. O direito do consumidor na prestação de serviços públicos. A proteção à saúde e à segurança do consumidor.	92
3.RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO	96
9B. A responsabilidade solidária dos causadores do dano.	96
13C. A responsabilidade civil pelo fato e pelo vício do produto.	99
4.PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO CDC	101
13C. A decadência e a prescrição aplicadas às relações de consumo.	101
DIREITO ECONÔMICO
1.ORDEM ECONÔMICA CONSTITUCIONAL 
1.1 Direito econômico. Conceito. Objeto. Fundamentos. Competência legislativa. (1.a) 
1.2 Ordem econômica e atividade econômica. Princı́pios constitucionais. (1.b) 
1.3 Apropriação privada dos meios de produção. (3.a) 
1A. Direito econômico. Conceito. Objeto. Competência legislativa.
Laiz Mello
I. Conceito de Direito Econômico 
É o conjunto das normas do sistema do Direito Positivo (ou a própria ciência que se ocupa do seu estudo) que tem por objeto a juridicização da política econômica do Estado. 
A política econômica, sendo um conjunto de medidas que visam o alcance de objetivos econômicos, deve receber um tratamento jurídico para evitar as arbitrariedades do poder econômico (público ou privado). Através do Direito Econômico, fixam-se as formas de comportamento a serem observadas pelos agentes econômicos e pelo Estado. As formas de comportamento estabelecidas pelo Direito Econômico têm em vista a consecução dos objetivos elencados no art. 170 da Constituição.
Conceito restrito: associado à intervenção do Estado no domínio econômico, seja pela sua atuação direta, seja pela regulação do comportamento dos atores privados. Conceito amplo: regulação das relações humanas propriamente econômicas, englobando outros ramos do Direito (Civil, Trabalho, etc.). 
Topologia: Segundo Washington Peluso Albino, o Direito Econômico não se enquadra nem como Direito Público nem como Direito Privado, caracterizando-se como “Direito de Síntese”. Diferencia-se das disciplinas tradicionais, pois, ao relativizar as fronteiras entre o direito público e o privado, propõe-se a atender aos desafios das complexas sociedades contemporâneas, sempre marcadas pela simultaneidade do exame do interesse individual e do interesse coletivo.
Assim, segundo Washington Peluso Albino, o Direito Econômico é conceituado como “o ramo do Direito que tem por objeto a juridicização, ou seja, o tratamento jurídico da política econômica e por sujeito, o agente que dela participe. É o conjunto de normas de conteúdo econômico que assegura a defesa e harmonia dos interesses individuais e coletivos, de acordo com a ideologia adotada na ordem jurídica. Para tanto, utiliza-se do princípio da economicidade.”
Levando-se em conta essa definição, podemos destacar as seguintes características que compõem o conceito de Direito Econômico: 
	1) O Direito Econômico como um ramo autônomo do Direito (apresenta sujeito, objeto e normas próprias, estas de competência concorrente da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal); 
2) O Direito Econômico como um processo de juridicização da política econômica; 
3) Os sujeitos que participam da política econômica (destacam-se como sujeitos do Direito Econômico, denominados de agentes econômicos, o Estado, os indivíduos, as empresas, a coletividade, os órgãos internacionais ou comunitários); 
4) O Direito Econômico como um conjunto de normas de conteúdo econômico; 
5) O Direito Econômico e a defesa e a harmonia dos interesses individuais e coletivos; 
6) O Direito Econômico e a sua relação com a ideologia adotada pela Constituição (na valoração dos fatos econômicos pelo Direito, interessarão os fundamentos e os princípios contidos na Constituição, os quais determinam as opções políticas fundamentais do Estado, especialmente as relativas ao sistema econômico adotado).
II. Objeto do Direito Econômico
O Direito Econômico tem por objeto as normas que disciplinam a intervenção do Estado na economia. Com efeito, o Direito Econômico regula: a) exploração direta da atividade econômica pelo Estado; b) monopólios estatais; c) serviços públicos delegados à iniciativa privada (Direito Regulatório); d) políticas de incentivoà atividade econômica privada; e) defesa da concorrência (Direito Concorrencial); f) planejamento econômico.
III. Autonomia do Direito Econômico e a competência legislativa
Tendo em vista o disposto no inciso I do art. 24 da Constituição, não restam dúvidas de que o Direito Econômico compreende um ramo autônomo do Direito, cabendo à União, aos Estados, aos Municípios e ao Distrito Federal legislar sobre o tema. Cuida-se de competência legislativa concorrente dos entes da Federação. Deve-se ressaltar que a competência exclusiva da União para elaborar e executar os planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social, prevista no inciso IX do art. 21 da Constituição, não se confunde com a competência legislativa deste dispositivo, ou seja, não deve ser exercida de forma concorrente pelos entes da federação. 
1B. Ordem Econômica e atividade econômica. Princípios constitucionais.
André Batista
Legislação básica: Arts. 170 e seguintes da CRFB; Lei 12.529/2011.
MPF - Prova oral – CPR/27:
· Quais os fundamentos da ordem econômica na CF? 
Ordem Econômica: Acepções: 1ª) Como realidade fática econômica; 2ª) como conjunto de normas e leis, de qualquer natureza (jurídicas, econômicas, morais, etc.), que regem o comportamento dos atores econômicos; 3ª) Como ordenação jurídica da economia, definindo o modo de produção e o modo de repartição do produto da atividade econômica. A expressão “ordem econômica” no art. 170 da CF designa o mundo do ser e define como este deve ser moldado, de acordo com os fundamentos e princípios nele elencados, visando alcançar o fim da norma (aspecto funcional).
Atividade econômica: Nota-se, de partida, que “a atividade econômica é o habitat da iniciativa privada” (Excerto do voto do Min. AYRES BRITTO na ADI 1923, pendente de julgamento, ver Inf. 622 - Transcrições), de modo que seu exercício pelo Estado deve ocorrer de forma pontual, seja através do monopólio (art. 177 da CR), seja quando tal intervenção afigurar-se “necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei” (art. 173, caput, da CR).
O art. 170, parágrafo único da CF/88 preconiza que: “ É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei”. Trata de norma de eficácia contida, pois seu alcance pode ser restringido. A regra é a liberdade de exercício da atividade econômica, admitindo-se, contudo, a atuação estatal no sentido de regular a atividade econômica em prol de interesses da coletividade. 
Temas relevantes:
-O STF entendeu que nem todos os ofícios ou profissões podem ser condicionados ao cumprimento de condições legais para o seu exercício. A regra é a liberdade(RE 414.426/SC).
-Obs: Súmula Vinculante 49: “Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área”.
-STF: não é dado à Fazenda Pública obstaculizar a atividade empresarial com a imposição de penalidades no intuito de receber imposto atrasado (RE 496.893/RN).
-Ainda na análise do art. 170, parágrafo único da CF/88, o STF já entendeu pela constitucionalidade das normas de comércio exterior que proíbem a importação de pneumáticos usados, o que não significa afronta ao princípio do livre exercício da atividade econômica (ADPF 101/DF).
-STF: “A fixação de horário de funcionamento para o comércio dentro da área municipal pode ser feita por lei loca, visando o interesse do consumidor e evitando a dominação do mercado por oligopólio” (RE 189.170/SP).
-ADI 2359: EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N. 5.652, DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS POR MEIO DE VASILHAMES, RECIPIENTES OU EMBALAGENS REUTILIZÁVEIS. GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO ENGARRAFADO [GLP]. DIRETRIZES RELATIVAS À REQUALIFICAÇÃO DOS BOTIJÕES. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DO DISPOSTO NOS ARTIGOS 5º, INCISO XXIX, E 22, INCISO I, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. INOCORRÊNCIA. O ESTADO-MEMBRO DETÉM COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PARA DISPOR A RESPEITO DAS MATÉRIAS DE PRODUÇÃO E CONSUMO [ARTIGO 24, INCISO V, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL]. DEFESA DO CONSUMIDOR [ARTIGO 170, V, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL]. 1. Não procede a alegação de violação à proteção às marcas e criações industriais. A lei impugnada não dispõe a respeito dessa matéria. 2. O texto normativo questionado contém diretrizes relativamente ao consumo de produtos acondicionados em recipientes reutilizáveis --- matéria em relação à qual o Estado-membro detém competência legislativa [artigo 24, inciso V, da Constituição do Brasil]. 3. Quanto ao gás liquefeito de petróleo [GLP], a lei impugnada determina que o titular da marca estampada em vasilhame, embalagem ou recipiente reutilizável não obstrua a livre circulação do continente [artigo 1º, caput]. Estabelece que a empresa que reutilizar o vasilhame efetue sua devida identificação através de marca, logotipo, caractere ou símbolo, de forma a esclarecer o consumidor [artigo 2º]. 4. A compra de gás da distribuidora ou de seu revendedor é operada concomitantemente à realização de uma troca, operada entre o consumidor e o vendedor de gás. Trocam-se botijões, independentemente de qual seja a marca neles forjada. Dinamismo do mercado do abastecimento de gás liquefeito de petróleo. 5. A lei hostilizada limita-se a promover a defesa do consumidor, dando concreção ao disposto no artigo 170, V, da Constituição do Brasil. O texto normativo estadual dispõe sobre matéria da competência concorrente entre a União, os Estados-membros e o Distrito Federal. 6. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada improcedente.
ADI 4949: Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 4.663/2005 DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. AUTORIZAÇÃO PARA A COMERCIALIZAÇÃO, EM FARMÁCIAS E DROGARIAS, DE PRODUTOS DE CONSUMO COMUM E ROTINEIRO (ARTIGOS DE CONVENIÊNCIA). LEI FEDERAL 5.991/1973. USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA LEGISLAR, POR MEIO DE NORMAS GERAIS, SOBRE PROTEÇÃO E DEFESA À SAÚDE. OFENSA AO DIREITO À SAÚDE. INOCORRÊNCIA. POSICIONAMENTO ALCANÇADO PELO PLENÁRIO DESTA CORTE, À UNANIMIDADE, NO JULGAMENTO DA ADI 4.954/AC, REL. MIN. MARCO AURÉLIO. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. I – A aferição de compatibilidade da norma estadual ora impugnada com os dispositivos constitucionais invocados – principalmente aqueles relativos às regras de repartição da competência legislativa entre os entes federados – não prescinde, em absoluto, do prévio cotejo entre o ato local contestado e a legislação federal mencionada. Ação direta conhecida. II – O Plenário, ao apreciar legislação acriana em tudo semelhante ao diploma objeto desta ação direta, assentou à unanimidade que a disciplina nela disposta – autorização para a comercialização de determinados produtos lícitos de consumo comum e rotineiro em farmácias e drogarias – não guarda relação com a temática da proteção e defesa da saúde (art. 24, XII, da CF), visto que somente aborda, supletivamente, o comércio local. III – A Lei Federal 5.991/1973 não veda expressamente a comercialização de artigos de conveniência em drogarias e farmácias, e a exclusividade, por ela fixada, para a venda de medicamentos nesses estabelecimentos não autoriza interpretação que obste o comércio de qualquer outro tipo de produto. Atuação legítima da iniciativa legislativa estadual no campo suplementar. IV – É completamente destituída de embasamento a suposta correlação lógica, suscitada na inicial, entre a venda de produtos de conveniência em farmácias e drogarias e o estímulo à automedicação. V – Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido se julga improcedente.
Princípios Gerais da Atividade Econômica
Inicialmente, importa notar que existem no art. 170, da CRFB/88, certos valores que tutelam a ordem econômica brasileira, os quais não se confundem com os princípios posteriormente elencados. São eles: a) valorização do trabalho humano; b) livre-iniciativa; c) existência digna e; d) justiça social.
 A CFRB/88 arrolaos princípios da ordem econômica nos incisos do art. 170. Segundo José Afonso da Silva, alguns desses princípios se revelam mais tipicamente como objetivos da ordem econômica, como seria o caso da redução das ordens regionais e sociais e a busca do pleno emprego. Mas todos podem ser considerados princípios na medida em que constituem preceitos condicionadores da atividade econômica. Vejamos o conteúdo de tais princípios.
1.4.1 Princípios explícitos
A. Princípio constitucional econômico da soberania nacional
A soberania nacional significa supremacia no plano interno e independência no plano internacional. Por sua vez, a soberania econômica significa que as decisões relativas à política econômica a serem adotadas pelo País devem levá-lo a estabelecer uma posição de independência em relação aos demais países, importando na possibilidade de autodeterminação de sua política econômica.
Conforme explica Eugênio Rosa de Araújo, a soberania nacional é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil e do estado Democrático de Direito (art. 1º, I), sendo que o que se trata no inciso I do art. 170 da Constituição é a soberania nacional econômica, visando estabelecer, no plano externo, a independência, a coordenação e a não-submissão em relação à economia e tecnologia estrangeiras. Registre-se, outrossim, que a soberania política (art. 1, I, CR 1988) não sobrevive sem a soberania econômica, havendo entre ambas uma relação de complementação. De sorte que a soberania política é assegurada na medida em que o Estado goza e desfruta da soberania econômica.
Esse princípio está fortemente corroído em sua conceituação tradicional pelo avanço da ordem jurídica internacional e da globalização. A ação dos Estados é movida pela incessante busca de níveis de competitividade internacional. Porém, em atendimento a esse princípio, a colaboração internacional não pode chegar ao ponto de subtrair do país as possibilidades de autodeterminação.
B. Princípio da Propriedade Privada
Segundo ensina Eugênio Rosa de Araújo, propriedade e direito de propriedade não se confundem, sendo a propriedade um fato econômico, enquanto que este é, sob o aspecto subjetivo, o poder do proprietário sobre a coisa, o qual é um dos direitos fundamentais da pessoa humana (art. 5, XXII, CFRB/88). Esse princípio assegura aos agentes econômicos direito à propriedade dos fatores de produção e circulação de bens em seus respectivos ciclos econômicos.
C. Princípio da função social da propriedade
Introduzido no ordenamento jurídico brasileiro, pela primeira vez, com a CF/34, que assegurou o direito de propriedade com a ressalva de que não poderia ser exercido contra o interesse social ou coletivo.
 A partir de então, com exceção da CR/1937, o valor função social da propriedade incorporou-se de vez à nossa experiência constitucional, figurando em pelo menos quatro dispositivos da CF/88 (art. 5º, XXIII; art. 170, III; art. 182, §2º e no caput d art. 186), a evidenciar a preocupação em construir um Estado de Direito verdadeiramente democrático, no qual possuem a mesma dignidade constitucional tanto os valores sociais do trabalho quanto os da livre iniciativa.
O princípio da função social da propriedade não é derrogatório da propriedade privada, mas sim parte integrante desta. O conteúdo da função social assume papel promocional. A disciplina das formas de propriedade e suas interpretações devem garantir e promover os valores sobre os quais se funda o ordenamento.
O princípio econômico da função social da propriedade constitui o fundamento constitucional da função social da empresa e da função social do contrato. Busca-se, por meio da função social, conciliar o benefício individual com o coletivo.
Assim, a função social da propriedade implica em uma limitação ao direito de propriedade, visando coibir abusos e evitando o seu exercício em detrimento do bem-estar da sociedade, de sorte que a propriedade, para bem cumprir seu papel econômico-social, deve compatibilizar os interesses do proprietário, da sociedade e do Estado, afastando seu uso egoístico e o uso abusivo do domínio. A propriedade é, portanto, um meio para a consecução de um fim comum: a busca do bem-estar social. 
A propriedade privada cumpre a sua função social quando, além de oportunizar a realização da dignidade da pessoa, contribuir para o desenvolvimento nacional e para a diminuição da pobreza e das desigualdades sociais.
D. Princípio da livre concorrência
Este princípio está intrinsecamente associado ao princípio da livre iniciativa.
Teve como marco jurídico e histórico o Decreto de Allarde (França -1791), Competition Act (Canadá – 1889) e Sherman Act (EUA – 1890).
Gilmar Mendes, Inocêncio M. Coelho e Paulo Gustavo G. branco, citando Miguel Reale, afirmam que a livre iniciativa é a projeção da liberdade individual no plano da produção, circulação e distribuição de riquezas, assegurando não apenas a livre escolha das profissões e das atividades econômicas, mas também a autonomia na eleição dos processos ou meios de produção. Abrange a liberdade de fins e meios. Já o conceito de livre concorrência tem caráter instrumental, significando que a fixação dos preços das mercadorias e serviços não deve resultar de atos cogentes da atividade administrativa.
Consiste, conforme Leonardo Vizeu Figueiredo, em proteção conferida pelo Estado ao devido processo competitivo, a fim de garantir que toda e qualquer pessoa que esteja em condições possa livremente entrar, permanecer e sair do ciclo econômico. Para Miguel Reale, a livre concorrência significa a possibilidade de os dirigentes econômicos poderem atuar sem embaraços juridicamente justificáveis, visando à produção, à circulação e ao consumo de bens e serviços.
 A CFRB/88 adota o modelo liberal do processo econômico, que só admite a intervenção do Estado para coibir abusos e preservar a livre concorrência de quaisquer interferências, quer do próprio Estado, quer do embate das forças competitivas privadas que podem levar à formação dos monopólios e ao abuso do poder econômico visando ao aumento arbitrário dos lucros.
O princípio da livre concorrência visa, portanto, garantir aos agentes econômicos a oportunidade de competirem no mercado de forma justa. A idéia de conquista de mercado e de lucratividade deverá estar ancorada em motivos jurídico-econômicos lícitos (inovação, oportunidade, eficiência etc.) e não serem decorrentes de hipóteses de abuso do poder econômico. Nesse quadro, assume o Estado a tarefa de estabelecer um conjunto de regras com vistas a garantir a competição entre as empresas, evitando as práticas abusivas.
Importante observar também o enunciado n. 419 da súmula do STF: os municípios têm competência para regular o horário do comércio local, desde que não infrinjam leis estaduais ou federais válidas.
Como se vê, o próprio Estado pode adotar práticas que resultam em limitação à concorrência, mas nem por isso, encontram-se à margem do controle do Poder Judiciário. Ressalte-se que o controle da concorrência atualmente empregado tem distinção com relação ao liberalismo clássico, na medida em que aquele é qualificado pela influência social enquanto este era marcado pelo simples aspecto econômico.
 Sobre o tema da livre iniciativa, ainda importa notar os importantes julgados do STF:
Tributário. Norma local que condiciona a concessão de regime especial de tributação à apresentação de CND. Meio indireto de cobrança de tributo. Ofensa ao princípio da livre atividade econômica.” (AI 798.210-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 8-5-2012, Segunda Turma, DJE de 24-5-2012.)
É INCONSTITUCIONAL a lei que exija que a empresa em débito com a Fazenda Pública tenha que oferecer uma garantia (ex: fiança) para que possa emitir notas fiscais. Tal previsão configura “sanção política” (cobrança do tributo por vias oblíquas), o que viola as garantias do livre exercício do trabalho, ofício ou profissão (art. 5º, XIII), da atividade econômica (art. 170, parágrafo único) e do devido processo legal (art. 5º, LIV). STF. Plenário. RE 565048/RS, Rel. Min. MarcoAurélio, julgado em 29/5/2014.
E. Princípio da defesa do consumidor
Segundo ensina Leonardo Vizeu Figueiredo, o princípio da defesa do consumidor é corolário do princípio da livre concorrência, sendo ambos princípios de integração e de defesa do mercado, uma vez que este se compõe de fornecedores e consumidores.
Há, pois, que se buscar equilíbrio entre as empresas que atuam no mercado e entre essas e os consumidores. A livre concorrência constitui relevante princípio da atividade econômica, propiciando a competição entre os agentes econômicos, sendo certo que essa competição tende a gerar inegáveis benefícios aos consumidores.
F. Princípio da defesa do meio ambiente
Esse princípio diz respeito à utilização racional dos bens e fatores de produção naturais, escassos no meio em que habitamos, o que exige a conjugação equilibrada entre os fatores de produção e o meio ambiente, que é o que se tem designado por desenvolvimento sustentável. Ou seja, a exploração econômica há de ser realizada dentro dos limites de capacidade dos ecossistemas, resguardando a possibilidade de renovação dos recursos renováveis e explorando de forma não predatória os não renováveis.
G. Redução das desigualdades regionais e sociais
Segundo ensina Leonardo Vizeu Figueiredo, esse princípio fundamenta-se no conceito de justiça distributiva, visto sob uma perspectiva macro, no qual o desenvolvimento da Nação deve ser compartilhado por todos, adotando-se políticas efetivas de repartição de rendas e receitas, com o fito de favorecer regiões e classes econômicas menos favorecidas. Busca, assim, promover uma maior isonomia – no plano material – entre as diversas regiões do País.
A redução das desigualdades regionais e sociais constitui objetivo fundamental da república e deve ser perseguido pela política econômica adotada. Compete à União elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social (art. 21, IX, CFRB/88) e a lei de diretrizes e bases deve incorporar e compatibilizar os planos nacionais e regionais (art. 174, §1º).
Dentre os mecanismos previstos na CFRB/88 para a redução das desigualdades regionais estão os incentivos tributários e orçamentários (art. 43 e 165, §1º). Os direitos sociais previstos no art. 6º da CF constituem parâmetros para a aferição da desigualdade no país.
H. Princípio da busca do pleno emprego
A busca pelo pleno emprego busca propiciar trabalho para aqueles que estejam em condições de exercer uma atividade produtiva, trata-se de princípio diretivo da atividade econômica que se opõe às políticas recessivas.
Para Eros Roberto Grau, esse princípio consubstancia uma garantia para o trabalhador, na medida em que está coligado ao valor da valorização do trabalho humano e reflete efeitos em relação ao direito social do trabalho.
Neste sentido, Eugênio Rosa de Araújo salienta que este princípio tem caráter de norma programática, contendo, no mínimo, eficácia negativa, no sentido de impedir a adoção de políticas econômicas e salariais recessivas e geradoras de desemprego e subemprego ou que desestimulem a ocorrência de quaisquer ocupações lícitas, bem como impõem ao setor privado o respeito aos direitos sociais e trabalhistas (arts. 6º e 7º, CFRB/88).
I. Princípio do tratamento favorecidos para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no país
Cuida-se de princípio constitucional impositivo de caráter conformador. O art. 179 determina que todos os entes da Federação dispensarão as M.E.s e E.P.P.s tratamento jurídico diferenciado. Às M.E.s haverá de se outorgar um tratamento mais favorecido do que às E.P.P.s e à essas, um tratamento mais favorecido do que às empresas em geral.
1.4.2 Princípios implícitos
A. Princípio da subsidiariedade: O Poder Público atua subsidiariamente à iniciativa privada na ordem econômica. A intervenção direta somente se dará em casos expressamente previstos no texto constitucional, ocorrendo por absorção, quando o regime for de monopólio ou por participação, em casos de imperativo para segurança nacional ou relevante interesse público. Sobre o tema, recentemente o STF decidiu que intervenção no domínio econômico (instituição de plano econômico), em que pese ser ato lícito, pode ensejar a responsabilidade civil do Estado – caso Varig (RE 571969/DF – info 738, STF).
B. Princípio da liberdade econômica A liberdade de iniciativa no campo econômico compreende a liberdade de trabalho e de empreender. Pressupõe o direito de propriedade e a liberdade de contratar. Decorre da livre iniciativa, prevista como fundamento da República (art. 1º, IV, CF). O direito ao livre exercício da atividade econômica é conseqüência do princípio da livre iniciativa. Limites: o Estado poderá, nos termos da lei, disciplinar o exercício desse direito. Citamos algumas formas de limitação: a) autorização para o exercício de determinadas atividades; b) intervenção direta na atividade econômica, nas hipóteses de relevante interesse coletivo ou em razão da segurança nacional; c) punição de atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular e reprimindo o abuso do poder econômico que visem à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros. Tais limitações têm por fim garantir a realização da justiça social e do bem-estar coletivo.
C. Princípio da igualdade econômica: É outra vertente da livre-iniciativa, sendo instituto garantidor da liberdade de concorrência.
D. Princípio do desenvolvimento econômico: Objetiva reduzir as desigualdades regionais e sociais, visando uma igualdade real.
E. Princípio da democracia econômica: Pode ser interpretado tanto para os agentes econômicos, quanto voltado para os trabalhadores e consumidores. Informa que as politicas públicas devem ampliar a oferta de oportunidades de iniciativa e emprego, com chances iguais para todos. Outrossim, garante a participação ativa de todos os segmentos sociais na propositura das políticas públicas de planejamento econômico da Nação.
F. Princípio da boa-fé econômica: Consiste na aplicação do princípio da transparência e da publicidade nas relações de trocas comerciais dentro do ciclo econômico de cada mercado. É instituto garantidor da simetria informativa.
3A. Apropriação privada dos meios de produção.
Laiz Mello
	
I. Principais conceitos. 
	(1) meios de produção: o conjunto formado pelos "meios de trabalho" e "objetos de trabalho", além da maneira como a sociedade se organiza economicamente. Os meios de trabalho incluem os "instrumentos de produção" (máquinas, ferramentas), as instalações (edifícios, armazéns, etc.), as fontes de energia utilizadas na produção (elétrica, hidráulica, nuclear, eólica etc.) e os meios de transporte. Os "objetos de trabalho" são os elementos sobre os quais ocorre o trabalho humano (matérias-primas minerais, vegetais e animais, o solo etc.). A titularidade dos meios de produção é o traço essencial da distinção entre o sistema econômico capitalista e o socialista. 
	(2) capitalismo: é o sistema econômico no qual as relações de produção estão assentadas na propriedade privada dos bens em geral e tem por pressuposto a liberdade de iniciativa e de concorrência. Para André Ramos Tavares, "o sistema capitalista aponta para a chamada economia de mercado, na medida em que são as próprias condições deste mercado que determinam o funcionamento e equacionamento da economia (liberdade)”. Daí a ideia da "mão invisível" (termo introduzido por Adam Smith em “A Riqueza das Nações”) a regular e equilibrar as relações econômicas entre oferta e procura. Hoje é muito difícil vislumbrar-se sistemas exclusivamente de mercado. 
	(3) socialismo: enquanto sistema de organização econômica do Estado, opõe-se frontalmente ao liberalismo. Contudo, isso não significa que a supressão da livre iniciativa e da apropriação privada dos meios de produção leve, por si só, ao socialismo. A mera supressão da propriedade privada dos meios de produção, que não seja em proveitodos próprios trabalhadores, poderá gerar uma sociedade pós-capitalista, não socialista, consubstancia em um modo de produção diverso, denominado por José Afonso da Silva como estatismo ou modo de produção estatista, no qual os meios de produção são dominados pelo Estado. Não raro o estatismo é burocrático e gerador de uma nova classe dominante, como ocorreu no Estado produzido pela Revolução Russa. 
	
II. Modelo da CF/88. 
	Adotou o sistema de produção capitalista, fundado na livre iniciativa e na apropriação privada dos meios de produção. Conforme José Afonso da Silva, “a CF agasalha, basicamente, uma opção capitalista, na medida em que assenta a ordem econômica na livre iniciativa e nos princípios da propriedade privada e da livre concorrência (art. 170, caput, e inc. II e IV). O princípio da propriedade privada envolve: a propriedade privada dos meios de produção; o fato de admitir investimentos de capital estrangeiro, ainda que sujeitos à disciplina da lei. Reconhecer o poder econômico como elemento atuante no mercado (pois só se condena o abuso desse poder) e a excepcionalidade da exploração direta da atividade econômica pelo Estado (art. 173), bem mostra que a CF é capitalista”. 
	Ressalte-se que não foi adotado o capitalismo puro, pois a CF vigente tenta torná-lo um capitalismo social, preocupando-se com a DPH. De fato, a CF tenta “humanizar” o capitalismo, afirmando, no art. 170, que a ordem econômica brasileira fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, devendo observar os princípios da função social da propriedade, da defesa do consumidor, defesa do meio ambiente, redução das desigualdades sociais e regionais, além da busca do pleno emprego. Segundo José Afonso, “um regime de justiça social” será aquele em que cada um deve dispor dos meios materiais para viver confortavelmente segundo as exigências de sua natureza física, espiritual e política, não tolerando as profundas desigualdades, a pobreza absoluta e miséria. Em resumo, não obstante o sistema econômico brasileiro seja capitalista, impõe aos detentores dos meios de produção deveres positivos e negativos, para evitar a exploração dos trabalhadores e consumidores, o uso desregrado dos recursos naturais, o abuso do poder econômico e a redução das desigualdades sociais e regionais, com o objetivo de garantir a todos acesso a recursos e meios que lhes garantam um mínimo para existir dignamente. 
	A CF definiu a propriedade privada e a sua função social como princípios da ordem econômica (art. 170, II e III). Não obstante, em seu art. 5º, XXII e XXIII, além de vários outros dispositivos constitucionais relacionados, tem-se o reconhecimento da propriedade também como direito individual. José Afonso da Silva, ao tratar do regime jurídico da propriedade privada, ressalta que “os juristas brasileiros, privatistas ou publicistas, concebem o regime jurídico da propriedade privada como subordinado ao Direito Civil, considerado direito real fundamental”; que concebem eles a função social da propriedade como meras limitações de polícia. Ensina, todavia, que “o princípio da função social da propriedade se manifesta na própria configuração estrutural do direito de propriedade, pondo-se concretamente como elemento qualificante na predeterminação dos modos de aquisição, gozo e utilização dos bens”. Conforme sua lição, as normas constitucionais relativas à propriedade denotam que esta não pode mais ser considerada como um direito individual nem como instituição de direito privado, e conclui: “por isso, deveria ser prevista apenas como uma instituição da ordem econômica, como instituição de relações econômicas, como nas Constituições da Itália (art. 42) e de Portugal (art. 62)”.
	Assim, deve-se ter em mente que “a propriedade privada vertida sob a ótica de principio da ordem econômica é aquela que se insere no processo produtivo, envolvendo basicamente a propriedade – dita dinâmica – dos bens de consumo e dos bens de produção” (Vidal Serrano Nunes Júnior e Luiz Alberto David de Araújo). 
	Os bens podem ser classificados em bens de consumo e bens de produção. Quanto aos bens de consumo (aqueles que são consumidos no mercado para satisfazer as necessidades humanas), José Afonso da Silva ensina que estes “são imprescindíveis à própria existência digna das pessoas, e não constituem nunca instrumentos de opressão, pois satisfazem necessidades diretamente”. Quanto aos bens de produção (aqueles que irão gerar outros bens ou rendas), preceitua Eros Grau que é a partir destes “que se realiza a função social da propriedade. Por isso se expressa, em regra, já que os bens de produção são postos em dinamismo, no capitalismo, em regime de empresa, como função social da empresa” (GRAU, p. 216.). 
	Em linhas gerais, significa dizer que é constitucionalmente garantida a propriedade privada dos bens de produção, uma vez que o Brasil adota um sistema de produção capitalista, contudo, seu uso está condicionado à consecução de um fim, qual seja “assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social” (art.170 da CF/88). Eros Grau também alerta que o princípio da função social da propriedade impõe ao proprietário, ou quem detenha o controle da empresa, o “dever de exercê-lo em benefício de outrem, e não apenas de não o exercer em prejuízo de outrem”. Assim, esse princípio impõe um comportamento positivo, consistente em uma prestação de fazer, e não meramente um não fazer, aos detentores do poder que deflui da propriedade, integrando, o conceito jurídico positivo da propriedade (GRAU, p. 245).
2.ORDEM ECONÔMICA INTERNACIONAL E REGIONAL 
2.1 Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Natureza jurı́dica. Propósito, Princı́pios e instrumentos. (12.a) 
2.2 Solução de controvérsias entre Estados-Partes. (12.b) 
12A. Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Natureza jurídica. Propósito, princípios e instrumentos
Sadi Machado 6/9/18
Noções Gerais: o Tratado de Assunção para a Constituição do Mercado Comum do Sul – MERCOSUL foi firmado em 26 de março de 1991, entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, que se caracteriza pelo regionalismo aberto, incremento do comércio intrazona e estímulo às trocas com terceiros países. Em 2006, a Venezuela foi o primeiro Estado latinoamericano a aderir ao tratado constitutivo (desde agosto de 2017, encontra-se suspensa, por ruptura da ordem democrática (art. 5º do Protocolo de Ushuaia). Em 2015, a Bolívia assinou protocolo de adesão, que se encontra em vias de incorporação pelos congressos dos demais Estados. São Estados Associados: Chile, Colômbia, Equadro, Guiana, Peru e Suriname. No Brasil, o art. 4º, parágrafo único, da CRFB/88 prevê: “A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações”. Atualmente, o Brasil também é membro da UNASUL.
Natureza jurídica: o MERCOSUL é pessoa jurídica de Direito Internacional (art. 3º do Protocolo de Ouro Preto, de 1991). Na prática, o MERCOSUL funciona como uma organização intergovernamental, sendo que o sistema de tomada de decisões requer o regime de aprovação consensual. As normas do MERCOSUL devem ser incorporadas aos ordenamentos jurídicos de cada Estado-Parte e somente entrarão em vigor aos Estados-Partes 30 dias depois da comunicação da Secretaria Administrativa. Dessa forma, os Estados-partes resguardam suas soberanias nacionais, priorizando o interesse interno do país acima da visão regional, apesar de verificarem as vantagens da cooperação. A estrutura institucional do MERCOSUL compreende:
1) Conselho do Mercado Comum (CMC), órgão superior do MERCOSUL;
2) Grupo Mercado Comum (GMC), que é o órgão executivo do MERCOSUL;
3) Comissão de Comércio do MERCOSUL (CCM), órgão auxiliar do GMC;
4) Parlamento do MERCOSUL, que foi criado em 2005 como órgão de representação dos povos do MERCOSUL, integrado por 139 parlamentares, sendo 37 brasileiros (adiou-separa 2020 o prao para que os Estados estabeleçam eleições diretas dos parlamentares);
5) Foro Consultivo Econômico-Social (FCES), que possui natureza consultiva, manifestando-se por meio de Recomendações ao Grupo Mercado Comum; e
6) Secretaria Administrativa do MERCOSUL (SAM), órgão de apoio operacional do MERCOSUL, com sede permanente na cidade de Montevidéu.
Propósitos: a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos, mediante a eliminação de barreiras tarifárias e não tarifárias à circulação desses fatores produtivos; o estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC) e a adoção de uma Política Comercial Comum em relação a terceiros Estados ou agrupamentos de Estados; a coordenação de políticas macroecônomicas e setoriais entre os Estados e o compromisso de harmonização das legislações em determinadas áreas. Assim, o MERCOSUL visa ser um Mercado Comum, mas atualmente se pode dizer que é uma zona de livre comércio e uma união aduaneira em fase de consolidação, com matizes de Mercado Comum.
Princípios: a) gradualidade na integração; b) flexibilidade da política de comércio exterior; c) equilíbrio entre os setores produtivos, por meio de cláusulas de salvaguarda e reciprocidade e solidariedade derivada da comunhão de interesses originada de um tratado de integração; d) reciprocidade, solidariedade derivada da comunhão de interesses originada de um tratado de integração.
Instrumentos: os principais protocolos adicionais ao Tratado de Assunção são o Protocolo de Brasília (17.12.91), dispondo sobre o mecanismo de Solução de Controvérsias; Protocolo de Ouro Preto (17.12.94), sobre a estrutura institucional do MERCOSUL; Protocolo de Olivos (18/02/2002), alterando o mecanismo de Solução de Controvérsias; e o Protocolo de Ushuaia (24/07/1998), reafirmando o compromisso democrático entre os Estados assinados.
Solução de Controvérsias: baseia-se no Protocolo de Olivos para a Solução de Controvérsias no MERCOSUL (PO), de 18/02/2002 (Decreto 4.982/04), que tem as seguintes vantagens em relação ao sistema anterior do Protocolo de Brasília: 1) Competência: eleição de foro, introduzida pelo Protocolo de Olivos. Nas controvérsias que possam ser simultaneamente submetidas à apreciação da Organização Mundial do Comércio (OMC) e do Protocolo de Olivos, os Estados-Partes do MERCOSUL, de comum acordo, poderão optar por qualquer deles, mas após a escolha o foro torna-se obrigatório, não havendo possibilidade de retratação. A opção do foro ficará a critério do Conselho Mercado Comum (CMC); 2) Negociação Direta: O Protocolo de Olivos estabelece que os Estados-Partes, obrigatoriamente, procurarão resolver uma controvérsia mediante prévias negociações diretas (art. 4º), no prazo máximo de quinze (15) dias, salvo acordo entre as partes. Iniciada a controvérsia, os Estados-Partes devem informar ao Grupo Mercado Comum, por meio da Secretaria Administrativa do MERCOSUL, as negociações realizadas e os resultados obtidos; 3) Intervenção do Grupo Mercado Comum: Intervenção opcional do GMC, que é procedimento facultativo, dependendo de acordo entre as partes, visa agilizar os procedimentos de solução dos litígios. Nessa segunda fase, encontram-se as primeiras alterações feitas pelo Protocolo de Olivos. Se houver preferência pela assistência do GMC, a lide será discutida pelas partes com o auxílio de especialistas, sendo as custas repartidas pelas partes envolvidas em igual proporção. (art. 6º, 2, I e II). Se já tiver sido iniciado o Procedimento Arbitral, este só será interrompido se houver acordo entre o terceiro e o Estado que o solicitou. Serão emanados pelo GMC dois tipos de decisão:1-) as coercitivas, e 2-) as consultivas (recomendações, etc.). As decisões são tomadas em um período máximo de 30 dias (art. 9º); 4) Procedimento Arbitral: Neste último estágio surgem as reais modificações no sistema antigo. Diferença, esta, pois o MERCOSUL estará recebendo não apenas um grau de solução de controvérsias, como ocorria com o Tribunal Arbitral, mas sim, uma instância de recursos, qual seja o Tribunal Permanente de Recursos, sendo este localizado em Assunção, capital paraguaia. A primeira instância, que continuará ocorrendo no Tribunal ad hoc, será acionada por requisição junto à Secretaria Administrativa do MERCOSUL, que notificará todas as partes envolvidas. O Tribunal ad hoc poderá se reunir em qualquer cidade membro do MERCOSUL. O número de árbitros continuará o mesmo: serão indicados três árbitros escolhidos de uma lista prévia Para a defesa de seus interesses, os Estados envolvidos designarão seus representantes e assessores no próprio Tribunal ad hoc. Do Pedido: o pedido que for feito na Inicial apresentada no Tribunal Arbitral não poderá ser expandido posteriormente. Também será informado na Inicial, como preliminar, as instâncias anteriores que foram acionadas (Negociação simples ou Negociação conjugada com decisão do GMC).
Tribunal Permanente de Revisão (TPR): o TPR foi instalado em 13/08/2004, em Assunção, Paraguai, é responsável pelas decisões proferidas no sistema do Mercosul. Possui três funções principais: i) instância recursal, pois não elimina a figura dos tribunais arbitrais ad hoc, mas apenas lhes agrega o órgão jurisdicional de recursos; ii) órgão de instância única, pois os tribunais arbitrais ad hoc serão suprimidos apenas nos casos em que as partes, voluntariamente, decidam se submeter, em única instância, ao TPR, casos em que os laudos do TPR serão obrigatórios para os Estados- Partes na controvérsia; e iii) a função consultiva, pois o Protocolo de Olivos estabelece a possibilidade de o TPR funcionar como uma jurisdição consultiva. O PO estabelece que os Estados-Partes procurarão resolver uma controvérsia mediante prévias negociações diretas (art. 4º), no prazo máximo de quinze (15) dias, salvo acordo entre as partes. Iniciada a controvérsia, os Estados-Partes devem informar ao GMC, por meio da Secretaria Administrativa do Mercosul, as negociações realizadas e os resultados obtidos. Frustradas as negociações diretas, qualquer dos Estados-Partes poderá deflagrar diretamente o procedimento arbitral, perante o TPR.
Inconstitucionalidade de lei estadual que trate sobre revalidação de títulos obtidos em instituições de ensino dos países do MERCOSUL
É inconstitucional lei estadual que veda ao Poder Público estadual exigir a revalidação de títulos obtidos em instituições de ensino superior dos países membros do Mercado Comum do Sul — MERCOSUL. A lei estadual que trata sobre revalidação de títulos obtidos em instituições de ensino superior dos países membros do MERCOSUL afronta o pacto federativo (art. 60, §4º, I, da CF/88) na medida em que usurpa a competência da União para dispor sobre diretrizes e bases da educação nacional (art. 22, XXIV). STF. Plenário. ADI 5341 MC— Referendo/AC, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 10/3/2016 (Info 817). STF. Plenário. ADI 4720/RR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 30/06/2017.
Vedação à importação de pneus usados
2. Argüição de descumprimento dos preceitos fundamentais constitucionalmente estabelecidos: decisões judiciais nacionais permitindo a importação de pneus usados de Países que não compõem o Mercosul: objeto de contencioso na Organização Mundial do Comércio – OMC, a partir de 20.6.2005, pela Solicitação de Consulta da União Europeia ao Brasil. (…) 7. Autorização para importação de remoldados provenientes de Estados integrantes do Mercosul limitados ao produto final, pneu, e não às carcaças: determinação do Tribunal ad hoc, à qual teve de se submeter o Brasil em decorrência dos acordos firmados pelo bloco econômico: ausência de tratamento discriminatório nas relações comerciais firmadas pelo Brasil. (ADPF 101/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 11.3.2009. (ADPF-101)).
12B. Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Solução de controvérsia entre as partes
Carime Medrado Ribeiro
Até o advento do Protocolo de Olivos em 2002 (promulgado no Brasil pelo Decreto 4.982/04), a solução de controvérsias no âmbito do MERCOSUL tinha por fundamento o Protocolo de Brasília (1991). OProtocolo de Olivos revogou integralmente o Protocolo de Brasília e, desde então, as controvérsias que surjam entre os Estados Partes serão submetidas aos procedimentos estabelecidos no Protocolo de Olivos. No âmbito do MERCOSUL, há duas espécies de solução de controvérsias: a primeira diz respeito à interpretação, aplicação ou não-cumprimento das fontes jurídicas do MERCOSUL (Direito Público) e a segunda está relacionada ao conflito surgido entre interesses privados, que tenham por objeto a violação de algum dispositivo normativo do bloco (Direito Privado). 
I. Competência
O Protocolo de Olivos introduziu a eleição de foro: controvérsias compreendidas no âmbito de aplicação do Protocolo de Olivos, que possam também ser submetidas ao sistema de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio (OMC) ou de outros esquemas preferenciais de comércio de que sejam parte individualmente os Estados Partes do MERCOSUL, poderão submeter-se a um ou outro foro, à escolha da parte demandante. As partes na controvérsia poderão, de comum acordo, definir o foro. Mas, uma vez escolhida, a opção do foro torna-se obrigatória, sem possibilidade de retratação. Assim, iniciado o procedimento, nenhuma das partes poderá recorrer a mecanismos de solução de controvérsias estabelecidos nos outros foros com relação ao mesmo objeto. O Conselho do Mercado Comum regulamentará os aspectos relativos à opção de foro.
II. Negociação direta
As negociações diretas são o primeiro passo da solução de controvérsias. Elas não têm caráter jurisdicional, sendo possível, inclusive, uma decisão política. São feitas por iniciativa dos litigantes, duram até 15 dias, salvo acordo entre as partes. Iniciada a controvérsia, os Estados Partes devem informar ao Grupo Mercado Comum, por meio da Secretaria Administrativa do MERCOSUL, as negociações realizadas e os resultados obtidos. 
III. Intervenção do Grupo Mercado Comum (GMC)
Trata-se de procedimento opcional que depende de acordo entre as partes e tem por objetivo agilizar a solução do litígio. Nesse caso, o GMC avaliará a situação, dando oportunidade às partes na controvérsia para que exponham suas respectivas posições, requerendo, quando considere necessário, o assessoramento de especialistas. Os gastos serão custeados em montantes iguais pelos Estados partes na controvérsia ou na proporção que determine o GMC. A controvérsia também poderá ser levada à consideração do GMC se Estado não parte na controvérsia solicitar, justificadamente. Nesse caso, o procedimento arbitral iniciado pelo Estado Parte demandante não será interrompido, salvo acordo entre os Estados partes na controvérsia. Quando a controvérsia for submetida ao GMC pelos Estados partes na controvérsia, este formulará recomendações que, se possível, deverão ser expressas e detalhadas, visando à solução da divergência. Se a controvérsia for levada à consideração do GMC a pedido de um Estado que dela não é parte, o GMC poderá formular comentários ou recomendações a respeito. A intervenção do GMC não poderá estender-se por um prazo superior a 30 dias.
IV. Procedimento arbitral (tribunal ad hoc e tribunal permanente de recursos - TPR)
Principais modificações em relação ao sistema do Protocolo de Brasília. Além dos tribunais ad hoc, foi criado o Tribunal Permanente de Recursos, com sede em Assunção. O tribunal ad hoc (primeira instância) será acionado por requisição junto à Secretaria Administrativa, que notificará todas as partes envolvidas, podendo se reunir em qualquer cidade membro do MERCOSUL. O tribunal ad hoc é convocado diante do fracasso das negociações diretas, não havendo necessidade de um acordo especial para sua instalação. Composto por 3 árbitros (cada Estado-parte litigante designa um e o terceiro deve ser não nacional), tem a presidência decidida em comum acordo (sempre haverá uma lista com nomes de 10 desses árbitros na Secretaria Administrativa). O pedido constante da inicial apresentada ao tribunal arbitral não poderá ser expandido posteriormente. Como preliminar da inicial, constará informações sobre as instâncias anteriores que foram acionadas (Negociação simples ou Negociação conjugada com decisão do GMC). A decisão do tribunal ad hoc será fundamentada em Direito do Mercosul e o laudo deve ser apresentado em 60 dias, prorrogáveis por mais 30 dias. Os laudos dos Tribunais Ad Hoc emitidos com base no princípio da equidade (ex aequo et bono) não serão suscetíveis de recurso de revisão.
O Tribunal Permanente de Revisão é um órgão jurisdicional composto por 5 árbitros, com competência para analisar os recursos das decisões do tribunal ad hoc e para decidir questões que não foram decididas nas relações diplomáticas, pois as partes podem submeter desde logo a controvérsia ao tribunal permanente de revisão. O recurso a ser apreciado pelo tribunal permanente deve ser interposto no prazo de 15 dias, o laudo deve ser apresentado em 30 dias e julgamento do tribunal é dotado de definitividade. Existe também um recurso para esclarecimento, que terá efeito suspensivo e prazo para interposição de 15 dias, devendo ser julgado em 15 dias. O tribunal poderá confirmar, modificar ou revogar completamente o laudo arbitral inicial e sua decisão terá caráter de definitividade (fará coisa Julgada material), sem possibilidade de recurso. 
 Opiniões consultivas. São manifestações fundamentadas do TPR, sem caráter vinculante, em relação a questionamentos jurídicos formulados acerca da interpretação e aplicação das normas do MERCOSUL. 
 Os laudos arbitrais. São adotados em consenso dos árbitros, sem fundamentação dos votos dissidentes. Transitado em julgado, o laudo terá força de coisa julgada material, sendo obrigatório para as partes (cumprimento em até 30 dias), sob pena da efetiva sanção comercial. É cabível, no prazo de 15 dias, Recurso de Esclarecimento contra os laudos apresentados pelo tribunal ad hoc e pelo TPR, se eles estiverem redigidos de forma confusa. Caso o Estado beneficiado pelo laudo entenda que as medidas adotadas não dão cumprimento a ele, terá um prazo de 30 dias para levar a situação à consideração do Tribunal Arbitral Ad Hoc ou do TPR, conforme o caso.
V. Solução de conflitos privados
Demanda de um particular (pessoa física ou jurídica) contra um Estado parte do Mercosul: o particular deverá apresentar uma reclamação junto à Seção Nacional do Grupo Mercado Comum do Estado-parte onde tenha sua residência habitual ou a sede de seus negócios. Caberá à Seção Nacional fazer o exame da reclamação e as primeiras negociações. O Estado também pode reclamar em nome do particular, não havendo qualquer impedimento nesse sentido. Se falharem as negociações diretas, em 15 dias, a causa será elevada ao GMC, que fará o juízo de admissibilidade da reclamação. Aceita a causa, especialistas serão convocados para ouvir as partes e elaborar parecer. Do parecer favorável, cabe acesso ao Tribunal ad hoc por parte do indivíduo, contudo, representado pelo Estado do qual é membro. Nada obsta que, durante o trâmite da causa, haja acordo entre as partes, o qual, se comunicado à Secretaria Administrativa do MERCOSUL, dará por encerrado o conflito.
O Protocolo de Las Leñas é um Acordo de Cooperação e Assistência Jurisdicional em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa (Decreto 6.891/2009), que tem por objetivo facilitar a execução de sentenças e laudos por cargas rogatórias ou por via diplomática, dando eficácia extraterritorial a essas decisões (arts. 19 e 20).
3.INTERVENÇÃO DO ESTADO NO DOMÍNIO ECONÔMICO 
3.1 O Estado como agente normativo e regulador de atividade econômica.(6.c) 
3.2 Monopólio da União. Justificativa. Hipóteses. (4.c) 
3.3 Intervenção estatal no domı́nio econômico. Competência. Justificativa. Modalidades de intervenção. (3.c) 
3.4 Concessões de serviços públicos: o equilı́brio econômico-financeiro do contrato, polı́tica tarifária, prorrogação de concessões. (10.a) 
3.5 Empresas estatais prestadoras de serviços públicos: regime jurı́dico. (4.a.) 
3.6 Empresas estatais exploradorasde atividade econômica: regime jurı́dico. (4.b) 
3.7 Exploração da atividade econômica pelo Estado. Regime jurı́dico.(1.c) 
3.8 Mercados regulados. Serviços públicos federais. Papel dos órgãos supervisores e agências reguladoras. Modelo brasileiro de agências reguladoras: principais caracterı́sticas. Poder regulatório e fiscalizatório. Defesa do consumidor. (2.a) 
3.9 Regimes jurı́dicos e sistemas regulatórios das telecomunicações, gás e petróleo, energia elétrica e transportes públicos federais. (2.b)
6C. O Estado como agente normativo e regulador de atividade econômica.
Isadora Carvalho
O Estado como agente normativo e regulador de atividade econômica: Diz o art. 174 da CF: “Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado”. Insere-se no âmbito da competência concorrente, a teor do art. 24, que reza competir à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar sobre direito econômico. 
Fundamento Jurídico da Regulação: está exatamente na procedimentalização da atividade econômica, ou seja, na busca de um objetivo predeterminado e pré-jurídico para a garantia efetiva da correção e da lealdade da integração dos vários agentes econômicos no mercado e de sua igualdade material em termos concorrenciais. Preocupação com a justiça social STF, RE 632644 AgR/DF, Relator Luiz Fux.
Fiscalização: segundo Eros Grau: Fiscalizar, no contexto do art. 174, significa prover a eficácia das normas produzidas e medidas encetadas pelo Estado no sentido de regular a atividade econômica. Com a redução da participação direta do Estado como agente econômico, torna-se mais relevante para assegurar os princípios básicos da ordem econômica, os direitos dos destinatários da atuação dos produtores de bens e de serviços e também os direitos difusos e coletivos. É evidente que a função de fiscalizar se insere no que Grau denominou de intervenção diretiva. 
Incentivo: o implemento de determinada atividade econômica pelo Estado. Esta continua sendo exercida pela iniciativa privada, mas benefícios ou vantagens concedidos pelo Estado incidem na autonomia dos particulares, guiando-a ao interesse público. Corresponde à ideia do Estado promotor da economia. É basicamente a ideia de fomento. A própria Constituição já enumera algumas dessas atividades específicas que devem ser estimuladas, tais como o cooperativismo e o associativismo. O estímulo, aqui, é o realizado sem coação; conforme classificação de Eros Roberto Grau, situa-se na intervenção por indução. 
Planejamento: é um processo técnico instrumental para manter ou transformar uma realidade existente com objetivos previamente determinados. Caracteriza-se, portanto, pela previsão de comportamentos econômicos e sociais futuros, pela formulação explícita de objetivos e pela definição de meios de ação. É de sua essência a visão prospectiva da atuação do Estado, que só é normativamente possível em uma constituição do tipo dirigente, que procura associar o recorte categorial de tipos de normas constitucionais a uma teoria das tarefas do Estado na formulação de uma ordem futura. Ao revés, a constituição liberal, estatutária, é imanada por uma visão retrospectiva, garantidora de um status quo existente. O §1º do art. 174 dispõe: “A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, o qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais de desenvolvimento”. Planejamento a que respeita o §1º é o planejamento do desenvolvimento nacional – não o planejamento da economia ou planejamento da atividade econômica. Não obstante, da função de planejar também cuidam outros preceitos no texto constitucional: art. 21, IX e XVIII; 30, VIII; 43, §1º, II; 48, IV; 49, IX; 58, §2º, VII; 74, I; 84, XI;165, §4º; 166, 1º, II. Para Eros Roberto Grau, planejamento não é modalidade de intervenção, mas simplesmente um método mercê de cuja adoção ela se torna sistematizadamente racional. É forma de ação racional caracterizada pela previsão de comportamentos econômicos e sociais futuros, pela formulação explícita de objetivos e pela definição de meios de ação coordenadamente dispostos. Diversamente de Eros Grau, para Washington Peluso Albino de Souza, planejamento é uma técnica de intervenção do Estado no domínio econômico. Mas, não é essencial ao procedimento intervencionista, pois podem ser praticados atos de intervenção, independentemente de planejamento. Este autor ainda estabelece a diferença entre planejamento e plano; o primeiro prende-se à ideia de racionalizar o emprego de meios disponíveis para deles retirar os efeitos mais favoráveis. Plano é o documento, a peça técnica decorrente da “ação de planejar”, quando se adota a orientação político-econômica de intervenção pelo Planejamento. Essa distinção está plasmada na Constituição em diversas passagens, quando se estatui que o planejamento incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais (art. 174, § 1º), que é função da lei dispor sobre planos e programas nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento (art. 49, IV) e que estes devem ser elaborados em consonância com o plano plurianual (arts. 49, III, e 165, § 4º).
Intervenção Indireta do Estado na Ordem Econômica: essa é a regra (e não a intervenção direta). Hipóteses: quando ocorrem falhas de mercado, situação de anormalidade, de efeito danoso (potencial ou efetivo) ao caráter competitivo em determinado setor. Ex: Deficiência na concorrência (concentração); deficiência na distribuição de bens essenciais coletivos; externalidades (ex. Poluição); assimetria informativa; poderio e desequilíbrio de mercado.
Formas de regulação: Autorregulação ou Regulação Privada (obs: Via de regra, não há intervenção estatal em mercados capazes de se autorregularem); Heterorregulaçao ou Regulação Pública (quando há necessidade de o Estado intervir, o que não necessariamente se dará por meio de agência reguladora, podendo ser por qualquer órgão integrante da Administração Pública); Função fiscalizatória. 
De acordo com a classificação doutrinária elaborada por Eros Grau, a intervenção do Estado na economia pode ser:
	DIRETA (Estado atua como agente econômico)
	
	INDIRETA (Estado limita-se a condicionar o exercício da exploração da atividade econômica, sem assumir posição de agente econômico - agente normativo e regulador da atividade econômica)
	ABSORÇÃO: Estado toma todo um setor econômico para si, explorando em prol da coletividade (art. 177, CF). Ex: monopólio do petróleo. ATENÇÃO! Correios: serviço público de prestação exclusiva e obrigatória (não se fala em monopólio, e sim em privilégio)
	PARTICIPAÇÃO: atuação ao lado da iniciativa privada, em regime de concorrência (art.
173). Ex: Banco do Brasil – atividade eminentemente privada.
	DIREÇÃO: Estado exerce pressão sobre a economia, estabelecendo normas gerais (lei em sentido estrito ou atos normativos), mecanismos e comandos compulsórios para os sujeitos da atividade econômica em sentido estrito – inclusive pelas próprias empresas estatais que a exploram. Exemplos: normas que estipulem controle de preços (como a Lei nº 8039/90 – vide item ‘a’ supra), normas sobre funcionamento do Sistema Financeiro Nacional (Lei nº 4595/64 e Resoluções do CMN), normas que estipulem condutas proibidas.
	INDUÇÃO: corresponde à utilização pelo Estado de normas para induzir certos comportamentos econômicos, estimulando (normas premiais) ou desestimulando certas condutas, conforme a política econômica assim o exige. Ex. subsídio, crédito favorecido, os benefícios fiscais, os tributos extrafiscais, etc.
Resumo do 25CPR: é interessante ter uma visão geral acerca das formas de posicionamento econômico do Estado. No Estado Liberal, o Estado apenas garante o direito dos agentes econômicos de exercerem a livre iniciativa. Não há atuação direta do Estado na economia. No Estado intervencionista Econômico (modelo influenciadopelo Keynesianismo), o Estado também atua com o fito de garantir o exercício da livre iniciativa dos agentes, mas já coíbe atos abusivos de poder econômico. No Estado Intervencionista Social (Welfare State), a intervenção do Estado na atividade econômica tem por fim garantir que sejam efetivadas políticas de caráter assistencialista, para promover aos hipossuficientes as necessidades básicas. O Estado Intervencionista Socialista é a forma máxima de intervenção do Estado. Adota-se uma política econômica planificada. O poder público assume o centro do direcionamento econômico, com a apropriação coletiva dos bens de produção. No Estado regulador, o ente estatal prioritariamente garante e regula a atividade econômica, que volta a se basear na livre-iniciativa de mercado, bem como na desestatização das atividades econômicas e na redução sistemática de encargos sociais, com o fito de se garantir equilíbrio nas contas públicas, contudo, não desvia o poder público da contextualização social, garantindo-se, ainda, que este possa focar esforços nos serviços públicos essenciais.
 
4C. Monopólio da União. Justificativa. Hipóteses.
André Batista
Fonte: Resumos TRF1 e TRF5; Direito Econômico Esquematizado, Fabiano Del Masso, 2015. 
Sinopse de Direito Econômico da Editora Juspodivm.
Monopólio: O conceito de monopólio é eminentemente econômico, traduzindo-se no poder de atuar em um mercado como único agente econômico, isto é, significa uma estrutura de mercado em que um (monopólio) ou alguns produtores (oligopólio) exerce (m) o controle de preços e suprimentos, não sendo possível, por força de obstáculos naturais ou artificiais, a entrada de novos concorrentes. No campo do serviço público não se fala em monopólio, mas em privilégio. Enquanto monopólio designa a exploração exclusiva de uma atividade econômica por um único agente, no serviço público fala-se em privilégio na prestação do serviço.
Podemos classificar o monopólio conforme os seguintes critérios: 
a) Monopólio natural: é aquele decorrente da impossibilidade física/fática do exercício da mesma atividade econômica por parte de mais de um agente, uma vez que a maximização de resultados e a plena eficiência alocativa de recursos somente serão alcançadas quando a exploração se der em regime de exclusividade. O monopólio natural pode decorrer (i) do direito à exploração patenteada e exclusiva de determinado fator de produção, (ii) da maior eficiência competitiva de determinado agente em face de seus demais competidores. Observe que o monopólio natural não é defeso pela Constituição, sendo inclusive permitido pelo legislador infraconstitucional, já que não resulta e nem provém de práticas abusivas do mercado. 
b) Monopólio convencional: é o decorrente de práticas abusivas de agentes econômicos, bem como de acordos e contratos estabelecidos por dois ou mais agentes, com o fito de eliminar os demais competidores, colocando aquela atividade sob exploração exclusiva por parte de um único agente (monopólio) ou de alguns poucos agentes predeterminados (oligopólio). O monopólio convencional é defeso pelo estado, já que nossa ordem econômica estabelece como princípio a defesa da concorrência (art. 173, §4º, da CRFB e arts 20 e 21 da Lei 8.884/94). 
c) Monopólio legal: é a exclusividade de exploração de atividade econômica estabelecida pelo Poder Público para si ou para terceiros, por meio da edição de atos normativos. Portanto, há monopólio legal quando o Poder Público subtrai dos particulares certas atividades econômicas, com o fim de mantê-las sob o controle a exploração do Estado, por razões de ordem pública (absorção). Nossa ordem constitucional estabelece ser defeso ao Estado afastar a iniciativa dos particulares de qualquer atividade econômica, salvo nos casos excepcionais previstos no próprio texto constitucional. A Constituição, igualmente por razões principiológicas, veda que o Estado crie monopólio para terceiros – não é defeso, porém, ao Estado a outorga de privilégios a particulares, como forma de fomento da atividade econômica, desde que seja feito de forma isonômica.
# Monopsônio: ocorre quando um único empregador domina toda a demanda relevante por mão de obra em determinado local (um único contratante de mão de obra).
Monopólio na Constituição de 1988: As hipóteses de monopólio estatal encontram-se taxativamente previstas no art. 177 da CRFB, não cabendo ao legislador ordinário ampliá-la, uma vez que a Ordem Econômica brasileira fundamenta-se na livre iniciativa, tendo como princípio regedor a liberdade de concorrência. Assim, segundo a doutrina majoritária, somente ao poder constituinte derivado reformador cabe a ampliação dos casos de monopólio estatal. 
Justificativa: o Estado resguarda algumas atividades econômicas que são por ele exclusivamente realizadas. A justificativa para a retirada dessas atividades do domínio econômico é a segurança nacional e o interesse coletivo. O monopólio estatal é aplicado apenas nas áreas de petróleo, gás natural/minérios e minerais nucleares. 
Hipóteses: Art. 177 da CF/88.
Atualmente, a CRFB limitou taxativamente as hipóteses de intervenção econômica do Estado por absorção, tendo sido flexibilizado por força da EC nº 09/95, uma vez que permitiu a contratação por parte da União de empresas estatais ou privadas para as atividades relacionadas ao abastecimento de petróleo. 
A contratação com empresas estatais ou privadas está disciplinada na Lei n. 9.478/1997, que em seu capítulo V cuida da exploração e da produção de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos que serão exercidas mediante contratos de concessão, precedidos de licitação. Nos termos da Lei mencionada os contratos de concessão deverão prever duas fases, uma de exploração e outra de produção. Deve-se observar também que é possível a transferência do contrato de concessão.
Some-se a isto o fato de que a EC nº49/06 flexibilizou o monopólio de minérios e minerais nucleares para retirar a exclusividade da União sobre a produção, a comercialização e a utilização de radioisótopos de meia-vida curta, para usos medicinais, agrícolas e industriais, delegando-a ao particular sob regime de permissão. 
Assim, de acordo com o texto constitucional vigente, o monopólio da União incide basicamente sobre três produtos naturais, a saber: (i) petróleo (flexibilizado via EC 09/95); (ii) gás natural e minério (mineral com valor economicamente agregado); e (iii) minerais nucleares (flexibilizado via EC 49/06). 
STF: “O conceito de monopólio pressupõe apenas um agente apto a desenvolver as atividades econômicas a ele correspondentes (...)A existência ou o desenvolvimento de uma atividade econômica sem que a propriedade do bem empregado no processo produtivo ou comercial seja concomitantemente detida pelo agente daquela atividade não ofende a Constituição (...). A propriedade do produto da lavra das jazidas minerais atribuídas ao concessionário pelo preceito do art. 176 da Constituição do Brasil é inerente ao modo de produção capitalista. A propriedade sobre o produto da exploração é plena, desde que exista concessão de lavra regularmente outorgada. Embora o art. 20, IX, da CF/1988 estabeleça que os recursos minerais, inclusive os do subsolo, são bens da União, o art. 176 garante ao concessionário da lavra a propriedade do produto de sua exploração. Tanto as atividades previstas no art. 176 quanto as contratações de empresas estatais ou privadas, nos termos do disposto no § 1º do art. 177 da Constituição, seriam materialmente impossíveis se os concessionários e contratados, respectivamente, não pudessem apropriar-se, direta ou indiretamente, do produto da exploração das jazidas. A EC 9/1995 permite que a União transfira ao seu contratado os riscos e resultados da atividade e a propriedade do produto da exploração de jazidas de petróleo e de gás natural, observadas as normais legais. Os preceitos veiculados pelos § 1º e § 2º do art. 177 da Constituição do Brasil são específicos em relação ao art. 176, de modo que as empresas estatais ou privadas a que serefere o § 1º não podem ser chamadas de ‘concessionárias’. Trata-se de titulares de um tipo de propriedade diverso daquele do qual são titulares os concessionários das jazidas e recursos minerais a que respeita o art. 176 da Constituição do Brasil.” (ADI 3.273 e ADI 3.366, Rel. p/ o ac. Min. Eros Grau, julgamento em 16-3-2005, Plenário, DJ de 2-3-2007.)
O STF, no RE 407.099, tem entendimento de que o art. 173, da CF/88, está cuidando da hipótese em que o Estado esteja na condição de agente empresarial, isto é, esteja explorando, diretamente, atividade econômica em concorrência com a iniciativa privada, assim, os parágrafos do art. 173, aplicam-se com observância do comando constante no caput, exceto se não houver concorrência, ou seja, existir monopólio.
Obs: Teste do Monopolista Hipotético para definir determinado mercado relevante utiliza-se o “Teste do Monopolista Hipotético”, que consiste na busca pelo menor grupo de produtos e pela menor área geográfica necessários para que um suposto monopolista esteja em condições de impor um aumento de preços, mesmo que “pequeno, porém significativo e não transitório”.
Perguntas de Prova Oral:
27º CPR: Quando a CF/88 permite que o Estado atue em regime de monopólio? O que é monopólio natural? 
3C. Intervenção estatal no domínio econômico. Competência. Justificativa. Modalidades de Intervenção.
Paulo Henrique Cardozo, setembro de 2018. 
Fontes: Graal 28º CPR; BENSOUSSAN, Fabio Guimarães; GOUVÊA, Marcus de Freitas. Manual de Direito Econômico. Salvador: JusPodivm, 2016.
Legislação básica: CRFB/88, arts. 170 a 177.
Intervenção estatal no domínio econômico. Justificativa. Modalidades de Intervenção. A atuação estatal no domínio econômico varia de acordo com o momento histórico, sendo às vezes mais, às vezes menos intensa. Lafayete Josué Petter, citando Eros Roberto Grau, distingue a atuação da intervenção do Estado no domínio econômico. Aquela seria mais ampla, compreendendo a atuação do Estado tanto na esfera que lhe pertence (serviços públicos) quanto naquela que pertence aos particulares (atividade econômica). Já a intervenção seria a atuação do Estado apenas na esfera de titularidade do setor privado (atividade econômica). A exploração da atividade econômica é entregue, em princípio, à livre iniciativa (fundamento da ordem econômica, segundo o art. 170, caput, da CRFB/88). Em razão disso, é exercida por agentes privados, sendo o Estado chamado a atuar nos casos de segurança nacional ou interesse coletivo relevante (essas são duas justificativas da intervenção). Esclareça-se que segurança nacional é um conceito político e interesse coletivo é igualmente de difícil determinação.
Para grande parte da doutrina, a Constituição adotou o princípio da subsidiariedade (art. 173). A CRFB/88 traz, nos arts. 175 a 177, casos de segurança nacional ou relevante interesse público que autorizam a intervenção do Estado na economia: prestação de serviços públicos (art. 175); exploração de jazidas, recursos minerais e potenciais de energia hidráulica, bem como a pesquisa e a lavra, mediante autorização ou concessão da União (art. 176); monopólios da União na exploração de petróleo, minérios e minerais nucleares (art. 177); demais casos previstos pela própria Constituição (art. 21, XII), que a rigor são serviços públicos. Assim, embora subsidiária a atuação do Estado brasileiro na economia, ela não é reduzida. Para Emerson Gabardo e José Afonso da Silva, o art. 173 não tem fundamento no princípio da subsidiariedade. Isso porque, havendo situação de segurança nacional ou relevante interesse público, será legítima a participação estatal direta na economia independentemente de cogitar-se de preferência ou suficiência da iniciativa privada. O fundamento, então, estaria no princípio da prevalência do interesse público sobre o privado.
Celso Antônio Bandeira de Mello classifica a forma de intervenção do Estado no domínio econômico em 3 espécies: 1ª) como agente normativo e regulador da atividade econômica – pela disciplina dos comportamentos dos agentes econômicos; 2ª) como fomentador da atividade econômica – por meio de estímulos e benefícios; 3ª) como agente direto no cenário econômico – por meio de pessoas jurídicas criadas para esse fim (empresas públicas, sociedades de economia mista, etc.).
Eros Grau também vislumbra 3 modalidades de intervenção: a) intervenção por indução – o Estado manipula os instrumentos de intervenção na economia em consonância e na conformidade das leis que regem o funcionamento dos mercados; b) intervenção por direção – o Estado atua por meio de mecanismos e normas de comportamento compulsório para os agentes da atividade econômica em sentido estrito; c) intervenção por absorção ou participação – o Estado assume integralmente o controle dos meios de produção em determinado setor da economia; atua em regime de monopólio (absorção) ou em regime de competição com empresas privadas que permaneçam a exercer suas atividades (participação). Para o Estado atuar por participação, fora das hipóteses previstas na Constituição, deve haver o requisito de segurança nacional ou de relevante interesse coletivo (art. 173).
É possível, ainda, diferenciar a intervenção direta do Estado no domínio econômico da indireta.
A) Na intervenção direta, fala-se da atuação do Estado como agente produtor, por meio da Administração Indireta (empresas públicas e sociedades de economia mista). De acordo com os arts. 3º e 4º da Lei n. 13.303/16, empresa pública é a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, com criação autorizada por lei e com patrimônio próprio, cujo capital social é integralmente detido pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios; já sociedade de economia mista é a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, com criação autorizada por lei, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou a entidade da administração indireta. 
Pode o Poder Público adquirir ações negociadas em Bolsa de empresas privadas? Isso as torna sociedades de economia mista? Para Sérgio Ferreira, a participação do Poder Público, mediante aquisição de ações de empresas privada, constitui mera participação acionária, não a transmudando em sociedade de economia mista, tratando-se de nova espécie de atuação empresarial do estado. Para Bandeira de Mello, a aquisição não torna a empresa uma sociedade de economia mista; no entanto, para dar uma solução adequada à realidade criada indevidamente, aplica-se-lhe o mesmo tratamento conferido àquelas sociedades. Já para di Pietro, a sociedade por economia mista pode surgir da subscrição de ações de uma S/A já constituída por capital particular, sendo importante apenas que da lei resulte a clara intenção do Estado de fazer da entidade instrumento de sua atuação.
B) Na intervenção indireta, as empresas privadas ou públicas têm suas atividades fiscalizadas ou incentivadas pelo Poder Público, ou ainda o Estado permanece fora do exercício da atividade econômica propriamente dita, mas edita normas que a regulam. O art. 174 da CRFB/88 dispõe sobre a atuação do Estado como agente normativo e regulador. A regulação, que também se justifica pelo interesse público, consiste, segundo Leonardo Vizeu, no conjunto de atos e medidas estatais que tem por fim garantir a observância dos princípios norteadores da ordem econômica no mercado, bem como a devida e correta prestação de serviços públicos, além do incentivo e fomento para a implementação das políticas públicas respectivas para direcionamento de cada nicho da economia. Destaque-se que, segundo a Constituição, o planejamento é determinante para o setor público e apenas indicativo para o setor privado.
Competência. Na CRFB/88, a competência para legislar sobre direito econômico é concorrente. Assim, a resposta correta parece ser a de que todos os entes federativos possuem competência para intervir no domínio econômico. Deve-se, porém, atentar para o fato

Outros materiais