Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Poluição Atmosférica Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.a Dr.a Simone Miraglia Revisão Técnica: Prof.ª Me. Nilza Maria Coradi de Araújo Revisão Textual: Prof.a Esp. Kelciane da Rocha Campos Efeitos Globais da Poluição Atmosférica • Chuva Ácida • Redução da Camada de Ozônio e Efeito Estufa • Diminuição da Camada de Ozônio • Efeito Estufa e Aquecimento Global • Protocolo de Kyoto · O aluno deve ser capaz de conceituar os efeitos globais da poluição atmosférica, caracterizar os movimentos para conter as mudanças climáticas e os principais acordos internacionais relativos à poluição do ar. OBJETIVO DE APRENDIZADO Efeitos Globais da Poluição Atmosférica Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Efeitos Globais da Poluição Atmosférica Contextualização Você já pensou por que o interior do carro com os vidros fechados se aquece tão rapidamente? Um dos assuntos mais discutidos atualmente é o aquecimento global e as mudanças climáticas. Modelos matemáticos climáticos projetam que as temperaturas globais de superfície provavelmente aumentarão no intervalo entre 1,1 e 6,4°C, e o nível médio das águas do mar subirá entre 9 a 88 cm entre 1990 e 2100 (IPCC, 2007). Essas mudanças trarão impactos sociais, econômicos e à saúde do meio ambiente como um todo. No entanto, você já pensou se não existisse o efeito estufa? Devido ao efeito estufa, a superfície terrestre recebe quase o dobro de energia da atmosfera em comparação com a energia recebida do Sol, resultando em um aquecimento da superfície terrestre em torno de 30°C. Isso permite a vida na Terra. Se, por um lado, o efeito estufa pode provocar o aumento preocupante da temperatura na Terra, por outro lado, trata-se de um fenômeno natural e essencial à vida, como a conhecemos. Além do homem, há diversas ações da natureza que exacerbam o efeito estufa, como erupções vulcânicas, que liberam diversos gases relacionados ao efeito estufa. Como então denominar esse efeito, tão essencial à vida, mas também capaz de modificá-la totalmente, como fazer para equilibrar o aquecimento global e a vida na Terra? Será que todos os seres serão prejudicados pelo aumento dos gases do efeito estufa? Reflita criticamente sobre essas colocações antes de iniciar a unidade. IPCC. Intergovernmental Panel on Climate Change. eds. 2007. Climate change 2007: The physical science basis. Contribution of working group I to the fourth assessment report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge: Cambridge Univ. Press. 996p. In SILVA, R. W. C.; PAULA, B. L. de. 2009. Causa do aquecimento global: antropogênica versus natural. Terræ Didatica, 5(1):42-49. https://goo.gl/QxKfQs Ex pl or 8 9 Chuva Ácida O que é Chuva Ácida? O pH da água pura em condições normais é neutro (7,0), mas quando o dióxido de carbono (CO2) presente na atmosfera se dissolve na água, ocorre a formação do ácido carbônico (H2CO3) e, portanto, o pH da água em equilíbrio com o CO2 atmosférico é de 5,6 (ácido). Veja a figura ao lado, que mostra a formação e dissociação do H2CO3 em íon H + e íon bicarbonato (HCO3 -): A água da chuva, em contato com o CO2, já possui caráter ácido, no entanto só dizemos que a chuva tem um excesso de acidez quando seu pH for menor que 5,6. O aumento da acidez na chuva ocorre principalmente quando há um aumento na concentração de óxidos de enxofre e nitrogênio na atmosfera. Esses óxidos e o óxido de carbono são chamados de óxidos ácidos, porque em contato com a água (nesse caso água da chuva) formam ácidos. H2O CO2 CO2 CO2 CO2 CO2 CO2 CO2 CO2 H2CO3 H2CO3 H+ HCO3 - Figura 1 Fonte: Adaptado de Istock/getty images O que é pH MANUAL DA QUÍMICA. Conceito de PH. https://goo.gl/VbpwLF Óxidos ácidos BRASIL ESCOLA. Óxidos ácidos. https://goo.gl/R18JRR Ex pl or Como é Formada a Chuva Ácida? O nitrogênio gasoso (N2) e o oxigênio molecular (O2) da atmosfera podem reagir, formando o monóxido de nitrogênio (NO). No entanto, essa reação não é espontânea nas condições ambientes e demanda uma grande quantidade de energia para ocorrer. Em situações em que há altas temperaturas - por exemplo, dentro do motor do automóvel ou em fornos industriais, há o fornecimento da energia necessária para que ocorra a formação do monóxido de nitrogênio (NO) de forma eficiente. N2 (g) + O2(g) → 2 NO(g) (em altas temperaturas) O oxigênio presente na atmosfera é capaz de oxidar o monóxido de nitrogênio, produzindo o dióxido de nitrogênio (NO2), que apresenta uma coloração amarronzada. Em cidades urbanizadas e com grande tráfego de veículos, como 9 UNIDADE Efeitos Globais da Poluição Atmosférica a cidade de São Paulo, o céu pode apresentar um tom amarronzado devido à formação do NO2, agravado pela grande emissão de material particulado (incluindo a fuligem), que também escurece a atmosfera. O dióxido de nitrogênio pode sofrer novas reações e formar o ácido nítrico (HNO3), que contribui para aumentar a acidez da água da chuva. Os automóveis antigos são uma das maiores fontes de gases NO. Um carro produzido em 1995 produz até 10 vezes mais NO que um carro produzido hoje. Atualmente, os carros modernos são obrigados por lei a possuir um conversor catalítico (catalisador), que reduz muito a formação desse gás. O catalisador converte grande parte dos gases prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, como NO e CO, em gases inertes, como N2 e CO2. Devemos lembrar que o CO2 é um gás que não prejudica diretamente a saúde humana, mas colabora para aumentar o efeito estufa. As reações abaixo representam as reações que ocorrem no interior do catalisador. 2CO(g) + 2NO(g) 2CO2(g) + N2(g) 2CO(g) + O2(g) 2CO2(g) 2NO(g) N2(g) + O2(g) O catalisador tem um papel importantíssimo, mas atua de forma a minimizar apenas as emissões de CO e NO, ou seja, o veículo continua emitindo um grande volume de CO2 para a atmosfera. Defeito no catalisador afeta meio ambiente e seu bolso ECONOMIA. Defeito no catalisador afeta meio ambiente e seu bolso. https://goo.gl/HLwPx9 Como funcionam os catalisadores dos automóveis? SUPER INTERESSANTE. Como funcionam os catalisadores dos automóveis. https://goo.gl/z50frR Ex pl or O dióxido de enxofre(SO2) é o gás responsável pelo maior aumento na acidez da chuva. Esse gás é produzido diretamente como subproduto da queima de combustíveis fósseis, como a gasolina, carvão e óleo diesel. O óleo diesel e o carvão geralmente possuem alto grau de impurezas e contêm grandes quantidades de enxofre em sua composição, sendo responsáveis por uma grande parcela da emissão de SO2 para a atmosfera. Atualmente, no Brasil, a empresa Petrobrás tem investido muito na purificação do diesel a fim de diminuir drasticamente a presença de enxofre no combustível. Óleo diesel BR. Óleo diesel. https://goo.gl/u5WQie Ex pl or 10 11 De forma equivalente a outros óxidos, o SO2 reage com a água, formando o ácido sulfuroso (H2SO3): SO2(g) + H2O(l) → H2SO3(aq) H2SO3(aq) → H + (aq) + HSO3 - (aq) Outro produto da oxidação do dióxido de enxofre na atmosfera é o trióxido de enxofre (SO3), que, por sua vez, em contato com a água da chuva, irá formar o ácido sulfúrico (H2SO4), que é um ácido forte. Veja essa transformação, conforme reações abaixo: SO2(g) + ½ O2(g) → SO3(g) SO3(g) + H2O(l) → H2SO4(aq) Impactos Ambientais da Chuva Ácida A variação de pH de um lago em condições naturais é próxima de 6,5 a 7,0, podendo sustentar uma grande variedade de espécies de peixes, plantas e insetos, além de manter outros animais que vivem no seu entorno e se alimentam no lago. O excesso de acidez na chuva pode provocar a acidificação de lagos, principalmente aqueles de pequeno porte. Se o pH do lago diminuir para em torno de 5,5, já é possível ser prejudicial à sobrevivência de larvas, pequenas algas e insetos, prejudicando também os animais que dependem desses organismos para se alimentar. No caso de o pH da água chegar a níveis ainda mais baixos, como 4,0 a 4,5, já é possível verificar a intoxicação da maioria das espécies de peixes, o que poderá levá-los à morte. Figura 2 – Aquário de peixes e de vida aquática possui um pH ótimo, que permite a sobrevivência das espécies Fonte: iStock/Getty images O solo também pode ser impactado pela chuva ácida, porém alguns tipos de solo são capazes de neutralizar, pelo menos parcialmente, a acidez da chuva devido à presença de calcário e cal (CaCO3 e CaO) natural. Os solos em que esses compostos estão ausentes são mais suscetíveis à acidificação. O processo de lixiviação permite neutralização natural da água de chuva pelo solo, minimiza o impacto da água que atinge os lagos pelas suas encostas. A chuva ácida provoca um maior arraste de metais pesados do solo para lagos e rios, podendo intoxicar a vida aquática. 11 UNIDADE Efeitos Globais da Poluição Atmosférica Interessantemente, estudos recentes também mostram a possibilidade de a chuva ácida alcalinizar rios e lagos. A razão da mudança é o fato de a chuva ácida corroer rochas e pavimentos, ricos em minerais alcalinos, que são levados pela própria chuva aos rios. Entretanto, a modificação do equilíbrio das águas dos rios e lagos, tanto para maior acidez ou maior basicidade, é capaz de causar danos a cultivos de rega, assim como afetar peixes e outras espécies de água doce. Chuva ácida faz com que rios da costa leste dos EUA fiquem alcalinos https://goo.gl/SIsFeoEx pl or Como a acidez da chuva poderia danificar o meio ambiente urbano? O que aconteceria às edificações, pontes e monumentos?Ex pl or Efeitos do SO2 à Saúde Outro fator muito importante sobre a emissão de SO2 é a formação de ácidos no corpo humano, por meio da respiração. No nosso organismo, esse ácido pode provocar problemas como coriza, irritação na garganta e olhos e até afetar a fisiologia do pulmão. No ano de 1952, na cidade de Londres, aproximadamente 4.000 pessoas morreram em poucos dias como consequência da alta emissão de SO2 na atmosfera, proveniente da queima do carvão nas casas e nas indústrias na região. Esse episódio ficou conhecido como “O Grande Nevoeiro”. Normalmente esses gases eram dispersos para camadas mais elevadas na atmosfera, mas na época houve um fenômeno meteorológico, a inversão térmica, que causou um resfriamento súbito da atmosfera impedindo a dispersão dos gases. Figura 3 – O Grande Nevoeiro de Londres, em 1952, chamado também de Big Smoke, que deixou a cidade em uma grande escuridão, em plena luz do dia, devido à grande concentração de partículas e gases poluentes em um dia de inversão térmica, que dificultou a dispersão dos poluentes atmosféricos Fonte: Acervo do Conteudista 12 13 A acidez da água da chuva, além de afetar os seres vivos, também pode dani- ficar a superfície de monumentos históricos, principalmente feitos de mármore (CaCO3), acelerar a corrosão de edifícios e pontes, entre outros, devido à reação com o ácido. Podemos representar esse ácido de forma genérica (H+), por meio das reações abaixo. CaCO3(s) + 2H + (aq) → Ca 2+ (aq) + H2O(l) + CO2(g) H2SO4(aq) → 2H + (aq) + SO4 2- (aq) Redução da Camada de Ozônio e Efeito Estufa O que é a Camada de Ozônio? Na estratosfera, há uma frágil camada de gás chamada de camada de ozônio (O3). Sua importância está no fato de ser o único gás que filtra a radiação ultravioleta do tipo B (UV-B), nociva aos seres vivos, sendo responsável pela absorção de cerca de 90% desse tipo de radiação. Troposfera 10 km 50 km 85 km 690 km 10 000 km Estratosfera Mesosfera Termosfera Exosfera Figura 4 – Camadas da atmosfera terrestre Fonte: Adaptado de Istock/getty images A radiação ultravioleta desencadeia na atmosfera um processo natural que resulta na contínua formação e fragmentação do ozônio, como ilustrado na figura abaixo: 13 UNIDADE Efeitos Globais da Poluição Atmosférica Raios Ultravioleta Ozônio O3 Molécula de Oxigênio Átomo de Oxigênio Ozônio + + Figura 5 – Formação continuada do Ozônio, em presença de raios ultravioletas Fonte: Adaptado de Istock/getty images Diminuição da Camada de Ozônio Há evidências científicas de que substâncias fabricadas pelo homem estão destruindo a camada de ozônio. Foi na década de 70 que cientistas britânicos detectaram pela primeira vez a existência de um buraco na camada de ozônio sobre a Antártida. Desde então, têm se acumulado registros de que a camada está se tornando mais fina em várias partes do mundo, especialmente nas regiões próximas do Polo Sul e, recentemente, do Polo Norte. As substâncias destruidoras da camada de ozônio (SDOs) são substâncias químicas capazes de reagir com o ozônio na estratosfera, que possuem em sua composição cloro, flúor ou hidrocarbonetos à base de bromo. Manual de ajuda para o controle das substâncias que destroem a camada de ozônio – SDOs BRASIL. IBAMA, MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. https://goo.gl/Jovwna Ex pl or Essas substâncias também têm potencial de contribuir para o aquecimento do planeta, conhecido como efeito estufa. A lista negra dos produtos danosos à camada de ozônio inclui os óxidos nítricos e nitrosos provenientes da emissão de exaustores dos veículos e o CO2 produzido pela queima de combustíveis fósseis, como o carvão e o petróleo. Contudo, as substâncias que apresentam maior potencial de degradação da camada de ozônio são aquelas pertencentes aos gases clorofluorcarbonos (CFCs). Ação dos CFCs na Camada de Ozônio Os CFCs são componentes utilizados como propelentes em aerossóis, como isolantes em equipamentos de refrigeração e para produzir materiais plásticos. Quando emitidos podem chegar à estratosfera, onde são atingidos por radiação ultravioleta e consequentemente são desintegrados, liberando átomos de cloro. Por 14 15 meio de um processo catalítico, o cloro reage com o ozônio, convertendo-o em oxigênio (O2). Essa reação ocorre milhares de vezes sucessivamente e é caracterizada como uma reação em cadeia, em que uma única molécula de CFC pode destruir 100 mil moléculas de ozônio. As moléculas de oxigênio que não possuem capacidade de proteção, como as moléculas de ozônio na estratosfera, acabam por deixar os seres vivos mais expostos às radiações ultravioletas devido à redução da camadaprotetora de ozônio. O O2 não possui a mesma função protetora que o ozônio na estratosfera, diminuindo a camada de filtro aos seres vivos. Para agravar ainda mais a situação, os CFCs são bastante inertes, o que significa que o tempo de permanência médio deles na atmosfera é grande, variando de 75 até 380 anos. A figura abaixo apresenta o ciclo de reações envolvidas na destruição da camada de ozônio pelos CFCs: Figura 6 – Ciclo de reações envolvendo a quebra do CFC por luz ultravioleta e a reação do átomo de cloro com o ozônio estratosférico Fonte: Acervo do Conteudista A saúde dos seres humanos é atingida pelo aumento dos raios ultravioletas, tendo efeitos, como, por exemplo, aumento do câncer de pele e diminuição da eficiência do sistema imunológico. No entanto, a radiação ultravioleta não é nociva somente aos seres humanos. Todos as formas de vida, inclusive plantas, podem ser debilitadas. Acredita-se que níveis mais altos da radiação são capazes de diminuir a produção agrícola, o que reduziria a oferta de alimentos. A vida marinha também está seriamente ameaçada, especialmente o plâncton (plantas e animais microscópicos) que vive na superfície do mar. Por fazerem parte da base da cadeia alimentar marinha, a alteração na população desses organismos pode afetar todo o ecossistema envolvido. Além disso, o plâncton é responsável pela absorção de mais de 50% das emissões de dióxido de carbono (CO2) do planeta. 15 UNIDADE Efeitos Globais da Poluição Atmosférica O Chamado “Buraco” na Camada de Ozônio Existem vários fatores climáticos que fazem da estratosfera sobre a Antártida uma região especialmente suscetível à destruição do ozônio. Toda primavera, no Hemisfério Sul, aparece um buraco na camada de ozônio sobre o continente. Cientistas observaram que o buraco vem crescendo e que seus efeitos têm se tornado mais evidentes. Regiões próximas ao continente antártico têm apresentado uma ocorrência anormal de pessoas com alergias e problemas de pele e visão. Apesar de os efeitos da degradação da camada de ozônio serem mais proeminentes no Hemisfério Norte, os Estados Unidos, a maior parte da Europa, o norte da China e o Japão já perderam 6% da proteção de ozônio. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) estima que cada 1% de perda da camada de ozônio cause 50 mil novos casos de câncer de pele e 100 mil novos casos de cegueira, causados por catarata, em todo o mundo. Ao nível do solo, na troposfera, o ozônio perde a sua função de protetor e se transforma em um gás poluente, responsável pelo aumento da temperatura da superfície, junto com o monóxido de carbono (CO), o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso. Destruição do Ozônio Em 1928, quando se desenvolveram os CFCs, o pesquisador Thomas Midgley acreditava que tais substâncias seriam inofensivas na atmosfera terrestre por serem quimicamente inertes, além das vantagens de serem fáceis de estocar, de produção barata, estáveis e bastante versáteis. Em 1974, Molina e Rowland propuseram que o ozônio estratosférico estava sendo destruído em escala maior do que ocorria naturalmente e que a diminuição da concentração do ozônio era devida à presença de substâncias químicas halogenadas contendo átomos de cloro (Cl), flúor (F) ou bromo (Br), emitidas pela atividade humana. Os gases que continham esses átomos na sua composição contendo esses átomos permanecem na atmosfera por vários anos e, ao atingirem a estratosfera, sofrem a ação da radiação ultravioleta, liberando radicais livres que destroem de forma catalítica as moléculas de ozônio. A diminuição da concentração de ozônio persiste devido à contínua emissão de substâncias halogenadas e sua longa vida na atmosfera, a exemplo dos clorofluorcarbonos (CFCs), que podem permanecer ativos de 80 a 100 anos. Buraco da Camada de Ozônio O “buraco da camada de ozônio” é o fenômeno de queda acentuada na concentração do ozônio sobre a região da Antártica, conforme figura abaixo. 16 17 A escala de cores indica o nível de concentração de ozônio, a cor azul tendendo para o violeta indica a baixa concentração de ozônio. O processo de diminuição da concentração de ozônio vem sendo acompanhado desde o início da década de 1980, em vários pontos do mundo, inclusive no Brasil. Figura 7 – Concentração de ozônio na camada de ozônio, sobre a Antártica Fonte: NASA. Setembro de 1980 (esquerda), Setembro de 2013 (direita) Evolução do “buraco” da camada de ozônio https://goo.gl/G9988jEx pl or “Camada de Ozônio está ‘se recompondo’ na Antártida, dizem Cientistas Apesar das frequentes más notícias sobre o aquecimento global, pesquisadores afirmam ter encontrado evidências de que a camada de ozônio na Antártida está começando a se recuperar. Os cientistas disseram que, em setembro de 2015, o buraco na camada estava 4 milhões de quilômetros quadrados menor do que no ano de 2000 - uma redução de tamanho semelhante ao do território da Índia. Os ganhos foram atribuídos à eliminação progressiva de longo prazo dos produtos químicos que destroem a camada de ozônio - e a consequência disso é que se aumenta a chance de câncer de pele, catarata e outras doenças em humanos, animais e plantas. A produção natural e a destruição do ozônio na estratosfera se equilibram ao longo do tempo, o que significa que historicamente existe um nível constante para proteger a Terra, bloqueando a radiação ultravioleta prejudicial do sol. 17 UNIDADE Efeitos Globais da Poluição Atmosférica Desodorantes e Ar-Condicionado A primeira vez que cientistas notaram uma dramática diminuição da camada de ozônio foi em meados dos anos 1980 - quando britânicos identificaram um buraco de 10 quilômetros. Em 1986, a pesquisadora Susan Solomon mostrou que o ozônio estava sendo destruído pela presença de moléculas contendo cloro e bromo que vinham de clorofluorcarbonetos (CFCs). Esses gases eram encontrados em tudo, de sprays para cabelos e desodorantes até geladeiras e aparelhos de ar-condicionado. Os motivos pelos quais a diminuição estava em curso na Antártida eram o frio extremo e as grandes quantidades de luz. Isso ajudava a produzir o que foi chamado de “nuvens polares da estratosfera”. Nessas nuvens, acontecia a reação química do cloro que destrói o ozônio. Graças à proibição do uso de CFCs no Protocolo de Montreal, em 1987, a situação na Antártida tem melhorado lentamente. Diversos estudos vêm mostrando a diminuição da influência dos CFCs. Além disso, de acordo com os autores, esse novo estudo mostra “os primeiros sinais de recuperação” e dá indícios de que a camada de ozônio está crescendo novamente. Solomon e outros colegas, incluindo pesquisadores da Universidade de Leeds, no Reino Unido, fizeram medições detalhadas da quantidade de ozônio na estratosfera entre 2000 e 2015. Usando informações de balões meteorológicos, satélites e simulações de modelo, eles conseguiram mostrar que o buraco da camada de ozônio diminuiu cerca de 4 milhões de quilômetros quadrados nesse período. Segundo eles, mais da metade dessa redução aconteceu por causa da diminuição do cloro na atmosfera. Normalmente, as medidas da camada de ozônio são tiradas em outubro, quando o buraco costuma ser maior. Mas a equipe de pesquisadores acreditava que teria uma melhor ideia do cenário investigando a situação em setembro, quando as temperaturas ainda estão baixas, mas outros fatores influenciadores da quantidade de ozônio prevalecem - e o clima se torna algo menos determinante. “Ainda que tenhamos diminuído a produção de CFCs em todos os países, incluindo Índia e China, até o ano 2000, ainda há muito cloro presente na atmosfera”, observou Solomon em entrevista à BBC. “O cloro pode durar cerca de 50 ou 100 anos na atmosfera. (Sua quantidade) está decaindo lentamente, e o ozônio começará a se recompor. Não esperamos a recuperação completa antes de 2050 ou 2060, mas vimos que, em setembro, o buraco da camada de ozônio já não era tão grande quanto costumavaser.” 18 19 Uma descoberta que deixou os cientistas intrigados aparece em estudo de outubro de 2015, mostrando o maior buraco da camada de ozônio já visto na Antártida. Os pesquisadores acreditam que um elemento-chave que contribuiu para isso foi a atividade vulcânica. “Depois de uma erupção, o enxofre vulcânico forma pequenas partículas, que são o início das nuvens polares estratosféricas”, explicou Solomon. “Surgem mais dessas nuvens quando há uma erupção vulcânica grande recente, e isso gera mais perda de ozônio.” “Essa é a primeira prova convincente de que a recuperação do buraco da camada de ozônio na Antártida começou”, disse Markus Rex, do Instituto Alfred Wegener para Pesquisa Marinha e Polar na Alemanha. “O estado da camada de ozônio ainda é muito ruim, mas acho muito importante saber que o Protocolo de Montreal está realmente funcionando e tem um efeito direto no tamanho do buraco. Esse é um grande passo para nós.” Visões Diferentes Alguns pesquisadores, no entanto, não estão convencidos de que essa diminuição do buraco da camada de ozônio mostrada no estudo tenha a ver com a redução da quantidade de cloro na estratosfera. “As informações claramente mostram variações consideráveis ano a ano, que são muito maiores do que as tendências apontadas no estudo”, disse Paul Newman, cientista da Nasa, a agência espacial americana. “Se o estudo (de Solomon e seus colegas) tivesse incluído o ano passado que teve um buraco na camada de ozônio muito mais significativo, a tendência geral teria sido muito menor.” Sem considerar essas questões, os cientistas envolvidos no estudo acreditam que a descoberta sobre o ozônio é um grande exemplo de como agir diante de problemas ambientais. “É algo marcante. Foi uma era em que a cooperação internacional funcionou bem em algumas questões. Eu fui inspirada pela forma como países desenvolvidos e subdesenvolvidos conseguiram se unir para lidar com essa questão da camada de ozônio”, afirmou Solomon.” Camada de ozônio está ‘se recompondo’ na Antártida, dizem cientistas McGrath, M. BBC. 2016. https://goo.gl/zavJC0 Ex pl or 19 UNIDADE Efeitos Globais da Poluição Atmosférica Efeito Estufa e Aquecimento Global O efeito estufa é um fenômeno natural que proporciona condições para a existência de vida humana na Terra. Parte da energia solar que chega ao planeta é refletida diretamente de volta ao espaço, ao atingir o topo da atmosfera terrestre, enquanto outra parte é absorvida pelos oceanos e pela superfície terrestre, promovendo o seu aquecimento. Uma parcela da energia que é irradiada de volta ao espaço é bloqueada pela presença de gases de efeito estufa que, apesar de bloquearem parte da energia vinda do sol (emitida em comprimentos de onda menores), são opacos à radiação terrestre, emitida em maiores comprimentos de onda. Essa diferença nos comprimentos de onda se deve às diferenças nas temperaturas do sol e da superfície da Terra. É a presença desses gases na atmosfera o que torna a Terra um planeta com capacidade de abrigar vida, pois, caso não existissem naturalmente, a temperatura média do planeta seria muito baixa, da ordem de 18°C negativos. A troca de energia entre a superfície e a atmosfera mantém as atuais condições, que proporcionam uma temperatura média global, próxima à superfície, de 14°C. Quando existe um balanço entre a energia solar incidente e a energia refletida na forma de calor pela superfície terrestre, o clima se mantém praticamente constante. Contudo, o balanço de energia pode ser alterado de diversas formas: a) mudança na quantidade de energia que atinge a superfície terrestre; b) mudança na órbita da Terra ou do próprio sol; c) mudança na quantidade de energia que chega à superfície terrestre e é refletida de volta ao espaço, devida à presença de nuvens ou de aerossóis, que são partículas resultantes de queimadas, por exemplo; d) alteração na quantidade de energia de maiores comprimentos de onda refletida de volta ao espaço, devida a mudanças na concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. As emissões antrópicas de gases de efeito estufa têm aumentado de modo insustentável, levando à alteração das concentrações desses gases na atmosfera. As emissões de gases de efeito estufa estão presentes em praticamente todas as atividades humanas e setores da economia: na agricultura, por meio da preparação da terra para plantio e aplicação de fertilizantes; na pecuária, por meio do tratamento de dejetos animais e pela fermentação entérica do gado; no transporte, pelo queima de combustíveis fósseis, como gasolina e gás natural; no tratamento dos resíduos sólidos, pela forma como o lixo é tratado e disposto; nas florestas, pelo desmatamento e degradação de florestas; e nas indústrias, pelos processos de produção, como cimento, alumínio, ferro e aço, por exemplo. Observe o esquema abaixo a respeito do efeito estufa. 20 21 Atmosfera Superfície Aproximadamente metade da energia solar absorvida na super�cie evapora água, adicionando o gás estufa mais importante à atmosfera. Quando esta água condensa na atmosfera, ela libera a energia que alimenta tempestades e produz chuvas e neves Apenas uma pequena porção da energia térmica emitida pela super�cie passa através da atmosfera direto para o espaço. A maioria é absorvida por moléculas de gás estufa e contribuem para a energia irradiada voltar a aquecer a super�cie e baixar a atmosfera, aumentando as concentrações de gases estufa que aumentam o aquecimento da super�cie e diminuem a perda de energia para o espaço A super�cie resfria irradiando energia térmica para cima. Quanto mais quente a super�cie, maior a quantidade de energia térmica que é irradiado para cima Aproximadamente 30% da energia solar que chega é re�etida pela super�cie e pela atmosfera. N2O CH4 O3 CO2 H2O Figura 8 – Esquema do efeito estufa na Terra Gases de Efeito Estufa Há quatro principais gases de efeito estufa (GEE), além de duas famílias de gases, regulados pelo Protocolo de Kyoto: • o dióxido de carbono (CO2): é o principal GEE e também o mais abundante resultado da emissão de inúmeras atividades humanas, como, por exemplo, por meio do uso de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural) e também com a mudança no uso da terra. A quantidade de dióxido de carbono na atmosfera aumentou 35% desde a era industrial, e esse aumento deve-se a atividades antrópicas, principalmente pela queima de combustíveis fósseis e remoção de florestas. O CO2 é utilizado como referência para classificar o poder de aquecimento global dos demais gases de efeito estufa; • o gás metano (CH4): é produzido pela decomposição da matéria orgânica, sendo encontrado geralmente em aterros sanitários, lixões e reservatórios de hidrelétricas (em maior ou menor grau, dependendo do uso da terra anterior à construção do reservatório) e também pela criação de gado e cultivo de arroz. Com poder de aquecimento global 21 vezes maior que o dióxido de carbono; • o óxido nitroso (N2O), cujas emissões são provenientes, entre outros, do tratamento de dejetos animais, do uso de fertilizantes, da queima de combustíveis fósseis e de alguns processos industriais, possui um poder de aquecimento global 310 vezes maior que o CO2; 21 UNIDADE Efeitos Globais da Poluição Atmosférica • o hexafluoreto de enxofre (SF6): é utilizado principalmente como isolante térmico e condutor de calor. É o gás com o maior poder de aquecimento, é 23.900 vezes mais ativo no efeito estufa do que o CO2; • o hidrofluorcarbonos (HFCs): utilizados como substitutos dos clorofluor- carbonos (CFCs) em aerossóis e refrigeradores; não agridem a camada de ozônio, mas têm, em geral, alto potencial de aquecimento global (variando entre 140 e 11.700); • os perfluorcarbonos (PFCs): são utilizados como gases refrigerantes, solventes, propulsores, espuma e aerossóis e têm potencial de aquecimento global variando de 6.500 a 9.200. Os hidrofluorcarbonos e os perfluorcarbonospertencem à família dos halocar- bonos, todos eles produzidos, principalmente, por atividades antrópicas. Aquecimento Global Ainda que o clima tenha apresentado mudanças ao longo da história da Terra, em todas as escalas de tempo, é possível perceber que a mudança atual apresenta alguns aspectos distintos. Por exemplo, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera observada em 2005 excedeu, e muito, a variação natural dos últimos 650 mil anos, atingindo o valor recorde de 379 partes por milhão em volume (ppmv) - isto é, um aumento de quase 100 ppmv desde a era pré-industrial. Na figura 9, encontra-se um gráfico com as medições de CO2 do Observatório de Mauna Loa no Havaí. 1960 1970 1980 1990 2000 310 320 330 340 350 360 370 380 390 Ciclo Anual Jan Abr Jul Out Jan Dióxido de Carbono Atmosférico Medido em Mauna Loa, Havaí Co nc en tra çã o d e D ióx id o d e C ar bo no (p pm v) Figura 9 – Variação na concentração de CO2 na atmosfera medida no Observatório de Mauna Loa no Havaí localizado a 3.500 m de altitude Outro aspecto distinto da mudança atual do clima é a sua origem: ao passo que as mudanças do clima no passado decorreram de fenômenos naturais, a maior parte da atual mudança do clima, particularmente nos últimos 50 anos, é atribuída às atividades humanas. 22 23 A principal evidência dessa mudança atual do clima é o aquecimento global, que foi detectado no aumento da temperatura média global do ar e dos oceanos, no derretimento generalizado da neve e do gelo, e na elevação do nível do mar, não podendo mais ser negada. (a) Temperatura média global (b) Média global do nível do mar (c) Cobertura de neve do Hemisfério Norte 14,5 14,0 13,5 40 36 32 0,5 0,0 -0,5 50 0 -50 -100 -150 4 0 -4 1850 1900 1950 2000 Figura 10 – Mudanças observadas na (a) temperatura média global da superfície, (b) média global da elevação do nível do mar a partir de dados de marégrafo (azul) e satélite (vermelho) e (c) cobertura de neve do Hemisfério Norte para março-abril Com base no levantamento de dados de 2,5 anos por meio de satélites com sensores gravimétricos, cientistas detectaram que as geleiras da Groenlândia, a segunda maior fonte de água doce do planeta, estão derretendo aproximadamente de 1,8 mm por ano. Está três vezes mais rápido do que foi observado nos últimos 5 anos. As projeções de aquecimento médio global indicam que até o ano de 2100 grande parte do gelo da Groenlândia terá derretido, resultando em uma elevação do nível do mar, possivelmente, de 3 a 4 metros. Desde sua origem, há aproximadamente 4,5 bilhões de anos, o planeta Terra está em constante desenvolvimento, tendo passado por inúmeras alterações climáticas. Algumas dessas mudanças foram tão drásticas que foram responsáveis pela extinção de diversos organismos vivos que não foram capazes de se adaptar, como mostram os abundantes registros fósseis. Atualmente, as temperaturas médias globais de superfície são as maiores dos últimos cinco séculos, pelo menos. A temperatura média global de superfície aumentou cerca de 0,74°C nos últimos 100 anos. É esperado, caso não se atue 23 UNIDADE Efeitos Globais da Poluição Atmosférica nesse aquecimento de forma significativa, ainda neste século, um clima bastante incomum, podendo apresentar, por exemplo, um acréscimo médio da temperatura global de 2°C a 5,8°C, segundo o 4° Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2007. Por Que a Preocupação com o Efeito Estufa? Se o aquecimento da Terra pelos gases estufa é um processo natural que permite que o nosso clima seja mais ameno, então por que nos preocupar com o efeito estufa? O grande problema é que o efeito estufa está aumentando muito rapidamente neste último século, pois está havendo uma alta emissão de gases como gás carbônico, metano e óxido nitroso para a atmosfera. As principais fontes de emissão de CO2 são a queima de combustíveis fósseis (carvão, gasolina, diesel) e as queimadas das florestas. Nesses últimos 140 anos, a temperatura do nosso planeta aumentou em média 0,76°C. Pode parecer pouco, mas esse aumento já foi suficiente para abalar o clima do planeta. Pesquisadores do Reino Unido observaram que o aumento da temperatura naquele país fez com que a atividade microbiana do solo aumentasse, resultando no aumento da emissão de CO2 que estava retido no solo. O chamado IPCC, Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernamental Panel on Climate Change), conta com a participação de cerca de 2500 cientistas e técnicos que têm como objetivo avaliar e relatar as variações climáticas e impactos ambientais de forma objetiva e compreensível. As avaliações do IPCC são utilizadas mundialmente por líderes políticos e cientistas. As projeções do órgão dependem das ações tomadas pelos indivíduos e por cada país para minimizar as emissões de gás carbônico. Portanto, as projeções são variáveis, e o aumento de temperatura para o final do século XXI pode ser em média de 1,8 (na melhor das hipóteses) a 4,0°C (no pior cenário). Estima-se que o nível do mar pode subir de 18 a 59 cm. Além do aumento da temperatura global, também foi registrado que o nível do mar subiu em média 17 cm no século XX, levando a grandes inundações em todo o mundo. Uma população inteira de uma Ilha do Pacífico teve que ser evacuada, fazendo com que seus habitantes perdessem seus lares e suas identidades culturais. Como o CO2 pode ser Naturalmente Retirado da Atmosfera? Os oceanos são responsáveis pela absorção da maior parte do gás carbônico da atmosfera por dois motivos: um porque o gás se dissolve na água (lembre- se que 2/3 do planeta é coberto por água) e outro porque as pequenas algas marinhas consomem CO2 durante o processo de fotossíntese. Os oceanos podem ser considerados como o grande “consumidor” do CO2 atmosférico. Porém, o dióxido de carbono é melhor dissolvido em água em temperaturas mais baixas. Se a temperatura das águas dos oceanos aumentarem, como consequência do efeito estufa, sua capacidade de absorver o CO2 da atmosfera irá diminuir. 24 25 As florestas também têm um papel muito importante na captação do CO2, principalmente quando estão crescendo, pois estas também transformam o CO2 atmosférico em matéria orgânica sólida por meio da fotossíntese. Entretanto, durante a queima de florestas, o gás carbônico armazenado durante anos e anos na estrutura das plantas é emitido de volta para a atmosfera. Importante! AQUECIMENTO GLOBAL: UMA VISÃO CRÍTICA Para cada ponto há um contraponto. Visto isso, alguns autores criticam que a temperatura da Terra esteja aumentando, quando se analisa um período de tempo maior. O pesquisador Luiz Carlos Baldicero Molion escreveu um artigo discutindo que “(...) existem evidências que o clima, entre cerca de 800 a 1200 DC, era mais quente do que o de hoje. Naquela época, os Nórdicos (Vikings) colonizaram as regiões do Norte do Canadá e uma ilha que foi chamada de Groelândia (Terra Verde) e que hoje é coberta de gelo (!?). Entre 1350 e 1850, o clima se resfriou, chegando a temperaturas de até cerca de 2°C inferiores às de hoje, particularmente na Europa Ocidental. Esse período é descrito na Literatura como “Pequena Era Glacial”. Após 1850, o clima começou a se aquecer lentamente e as temperaturas se elevaram. Portanto, não há dúvidas de que ocorreu um aquecimento global nos últimos 150 anos. A questão que se coloca é se o aquecimento observado é natural ou antropogênico?” Adicionalmente, o autor discute um aspecto muito importante sobre os períodos de tempo pesquisados: “[...] as séries de 150 anos são curtas para capturar a variabilidade de prazo mais longo do clima. O período do fi nal do Século XIX até as primeiras décadas do Século XX foi o fi nal da “Pequena Era Glacial”, um período frio, bem documentado, que perdurou por cinco séculos. E esse período coincide com a época em que os termômetros começaram a ser instalados mundialmente. Portanto,o início das séries instrumentais de 150 anos, utilizadas no Relatório do IPCC, ocorreu num período relativamente mais frio que o atual e leva, aparentemente, à conclusão errônea de que as temperaturas atuais sejam muito altas ou “anormais” para o Planeta.”, analisa o pesquisador. Leia o estudo completo no link abaixo. Referência: MOLION, Luiz Carlos Baldicero. Aquecimento global: uma visão crítica. Revista Brasileira de Climatologia, 3.4 (2008): 7-24. https://goo.gl/slPKsh Trocando ideias... Reflita a respeito dos diferentes pontos de vista que esse tema abrange atual- mente. Pesquise, leia diferentes opiniões e exerça sua reflexão crítica. Rio-92 e Rio+20 A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cnumad), realizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro, marcou a forma como a humanidade encara sua relação com o planeta. Foi naquele momento que a comunidade política internacional admitiu claramente que era preciso conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a utilização dos recursos da natureza. 25 UNIDADE Efeitos Globais da Poluição Atmosférica Na reunião — que ficou conhecida como Rio-92, Eco-92 ou Cúpula da Terra —, que aconteceu 20 anos depois da primeira conferência do tipo em Estocolmo, Suécia, os países reconheceram o conceito de desenvolvimento sustentável e começaram a moldar ações com o objetivo de proteger o meio ambiente. Desde então, estão sendo discutidas propostas para que o progresso se dê em harmonia com a natureza, garantindo a qualidade de vida tanto para a geração atual quanto para as futuras no planeta. Após 20 anos dessa reunião, aconteceu a Rio+20, realizada de 13 a 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro, que marcou os vinte anos de realização da Cnumad (Rio-92) e contribuiu para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas. Protocolo de Kyoto A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC), adotada durante a Conferência Rio-92, foi um passo importante dado pela comunidade internacional para atingir o objetivo de alcançar a estabilização das concentrações de GEEs na atmosfera em nível que impeça uma interferência antrópica perigosa no sistema climático. Ainda que essa convenção não tenha determinado como atingir esse objetivo, ela estabeleceu mecanismos que possibilitem negociações em torno dos instrumentos necessários para que ele seja alcançado. Em dezembro de 1997, foi adotado o Protocolo de Kyoto, que tem como objetivo estabelecer metas de redução de emissão de gases de efeito estufa e mecanismos adicionais de implementação para que essas metas sejam atingidas. O Protocolo de Kyoto é um acordo internacional assinado por 141 países, que visa à redução das emissões de gás carbônico para a atmosfera. As metas de redução são diferenciadas entre as Partes, em consonância com o “princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas”. Um dos mecanismos propostos é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), o único que permite a participação de países em desenvolvimento em cooperação com países desenvolvidos. O objetivo final da redução das emissões pode ser atingido, assim, por meio da implementação de atividades de projetos nos países em desenvolvimento que resultem na redução das emissões de GEEs ou no aumento da remoção de CO2, mediante investimentos em tecnologias mais eficientes, substituição de fontes de energia fósseis por renováveis, racionalização do uso da energia, florestamento e reflorestamento, entre outros. Assim, o Protocolo de Kyoto surge como uma grande oportunidade, não somente visando a ações efetivas globais em prol do meio ambiente, mas também como um meio para que os países em desenvolvimento busquem o desenvolvimento sustentável, estimulando a produção de energia limpa para a redução das emissões de GEEs e, com base na cooperação internacional com países desenvolvidos, beneficiem-se com a transferência de tecnologia e com o comércio de carbono. O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo pode ser muito 26 27 interessante para o Brasil, já que aproveita um grande potencial brasileiro para a produção de energia limpa e possibilita que o país desempenhe papel importante no contexto ambiental internacional. O protocolo de Kyoto, que entrou em vigor em fevereiro de 2005, diz que os países desenvolvidos se comprometeriam a reduzir até 2012 a emissão de gases de efeito estufa em pelo menos 5%, de acordo com os níveis de 1990. Em outras palavras, cada país avaliaria o quanto emitia de gases de efeito estufa no ano de 1990 e deveria passar a emitir 5% a menos, dentro do prazo estipulado. Os Estados Unidos, que são os maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo (respondendo por 36 % do total mundial) não ratificaram (não transformaram em lei) o acordo. Juntos, EUA, Rússia, Alemanha, Grã Bretanha e Japão respondem por 70% das emissões acumuladas de gases de efeito estufa. É importante enfatizar que esse protocolo foi apenas o início de um esforço mundial para minimizar as emissões de gases de efeito estufa. Hoje se falam em acordos mundiais ‘pós Kyoto”, pois já há muitas evidências sobre a necessidade de se diminuir drasticamente tais emissões. Em 2015 foi firmado o Acordo de Paris. O documento foi previamente aprovado, em 2015, por 197 países que participaram da Conferência do Clima de Paris (COP 21). O compromisso dos países signatários é manter o aumento da temperatura média global em menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais, e fazer um esforço para ir além: limitar essa elevação da temperatura a 1,5°C. Cada um dos países que participaram da COP 21 precisa transformar o pacto firmado no encontro em lei nacional dentro dos seus territórios. Esse processo é chamado de ratificação. Na prática, para alcançar esses objetivos, os governos definiram os próprios compromissos de redução de emissões de poluentes, chamados de Contribuições Nacionalmente Determinadas (iNDC, na sigla em inglês). Com a ratificação em 2016, o Brasil assumiu como objetivo cortar as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025, com o indicativo de redução de 43% até 2030 – ambos em comparação aos níveis de 2005. Você sabe o que é crédito de carbono? Assista ao vídeo disponível no link abaixo: TV BRASIL. CHERUBINI, LUCIANO. Crédito de carbono no mundo. https://youtu.be/9IcdOdArTn4 TV CULTURA DIGITAL. Especialistas avaliam o Protocolo de Kyoto que será substituído por novo tratado na Cop-15. https://youtu.be/JYcy-Y65GQA Ex pl or Delegados de quase 200 países reunidos em Doha, no Catar, concordaram em estender o Protocolo de Kyoto até 2020, evitando um grande retrocesso na luta contra as mudanças climáticas. 27 UNIDADE Efeitos Globais da Poluição Atmosférica Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Entrevista com Luiz Carlos Molion https://youtu.be/TQsdKqXbthw Camada de Ozônio se recupera, mas Permanece Ameaçada https://youtu.be/qRVlx1OK6tw Crédito de Carbono no Mundo https://youtu.be/9IcdOdArTn4 Entra em Vigor o Protocolo de Kyoto https://youtu.be/S8MMJjDqYk4 Especialistas avaliam o Protocolo de Kyoto que será Substituído por Novo Tratado na Cop-15 https://youtu.be/JYcy-Y65GQA Debate sobre Aquecimento Global com o Climatologista Carlos Nobre https://youtu.be/CcHZD8YY3cs Leitura Revista Gestão & Sustentabilidade Ambiental Eibel, Eliana; PINHEIRO, Rosa Beatriz Madruga. Crédito de carbono. 4.2 (2015): 588-601. https://goo.gl/AP5GPN Protocolo de Quioto MMA, Ministério do Meio Ambiente. https://goo.gl/tn4Rja Guia para Iniciantes MCTI MCTI, Ministério da Ciência, tecnologia e Inovação. https://goo.gl/nifGf7 Revista Brasileira de Climatologia MOLION, Luiz Carlos Baldicero. Aquecimento global: uma visão crítica. 3.4 (2008): 7-24. https://goo.gl/ezZcKA Efeito Estufa SANTOS, Alcir dos et al. https://goo.gl/WYLY15 Terræ Didatica SILVA, R. W. C.; PAULA, B. L. de. 2009. Causa do aquecimento global: antropogênica versus natural.5(1):42-49. https://goo.gl/p0jV3t 28 29 Referências CHEN J. L.; Wilson C.R.; Tapley ,B. D. Satellite gravity measurements confirm accelerated melting of Greenland ice sheet. Science, 313(5795):1958- 1960. 2006. IPCC 2007. In: Silva, R. W. C.; PAULA, B. L. De. 2009. Causa do aquecimento global: antropogênica versus natural. Terræ Didatica, 5(1):42-49. Disponível em: <http://www.ige.unicamp.br/terraedidatica/v5/v5_a4.html>. Acesso em: 21 nov. 2016. LOPES, Ignez Vidigal (Coord.). O mecanismo de desenvolvimento limpo: guia de orientação. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 2002. MMA, Ministério do Meio Ambiente. Substâncias destruidoras da camada de ozônio. 2016. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/clima/protecao-da- camada-de-ozonio/substancias-destruidoras-da-camada-de-ozonio>. Acesso em: 8 out. 2016. MMA, Ministério do Meio Ambiente. Efeito estufa e aquecimento global. 2016. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/comunicacao/item/195-efeito-estufa- e-aquecimento-global> Acesso em: 20 out. 2016. MOREIRA, Helena Margarido; GIOMETTI, Analúcia Bueno dos Reis. Protocolo de Quioto e as possibilidades de inserção do Brasil no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo por meio de projetos em energia limpa. Contexto internacional, p. 9-47, 2008. OVERPECK J. T.; Otto-Bliesner, B. L.; Miller, G. H.; Muhs, D. R.; Alley, R. B.; Kiehl, J. T. Paleoclimatic evidence for future ice-sheet instability and rapid sea-level rise. Science, 311(5768):1747-1750. 2006. PETIT, J. R. et al. Climate and atmospheric history of the past 420,000 years from the Vostok ice core, Antarctica. Nature, 399:429-436. 1999. SILVA, R. W. C.; PAULA, B. L. de. Causa do aquecimento global: antropogênica versus natural. Terræ Didatica, 5(1):42-9. 2009. Disponível em: <http://www. ige.unicamp.br/terraedidatica/v5/v5_a4.html>. Acesso em: 21 nov. 2016. USP, Universidade de São Paulo. Poluição atmosférica e chuva ácida. 2006. Disponível em: <http://www.usp.br/qambiental/chuva_acidafront.html>. Acesso em: 9 out. 2016. USP, Universidade de São Paulo. 2006. Efeito estufa. Disponível em <http:// www.usp.br/qambiental/tefeitoestufa.htm>. Acesso em: 20 out. 2016. VIDAL, J. W. B. A posição do Brasil frente ao novo ambiente mundial. Revista Eco 21, ano XIII, n. 75, fev. 2003. Disponível em: <http://www.ambientebrasil. com.br>. Acesso em: 27 abr. 2005. WWF. O que é a camada de ozônio? 2016. Disponível em: <http://www.wwf. org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/camada_ozonio/>. Acesso em: 9 out. 2016. 29
Compartilhar