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a musica e a geografia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 
INSTITUTO DE GEOGRAFIA 
 
 
 
MOEMA LAVÍNIA PUGA DE GODOY 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AA MMÚÚSSIICCAA,, OO EENNSSIINNOO EE AA GGEEOOGGRRAAFFIIAA 
 
 
 
Monografia de graduação apresentada ao 
Instituto de Geografia da Universidade Federal 
de Uberlândia, como exigência parcial para 
obtenção do título de Bacharel em Geografia. 
 
Orientação: Prof. Dr. Sérgio Luiz Miranda 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Uberlândia-MG 
Julho / 2009 
 
 
 
GODOY, Moema Lavínia Puga de. (1981) 
A MÚSICA, O ENSINO E A GEOGRAFIA. 
Moema Lavínia Puga de Godoy – Uberlândia, 2009. 
44 fls. 
Orientador: Prof. Dr. Sérgio Luiz Miranda 
 
Monografia (Bacharelado) – Universidade Federal de Uberlândia, Curso de Graduação 
em Geografia. 
Inclui Bibliografia 
Música; Ensino; Geografia. 
 
 
 
 
MOEMA LAVÍNIA PUGA DE GODOY 
 
 
 
 
 
A MÚSICA, O ENSINO E A GEOGRAFIA 
 
 
 
Banca Examinadora 
 
 
 
 
 
 
 
 
_________________________________________ 
Prof. Dr. Sérgio Luiz Miranda (Orientador) 
 
 
 
 
 
 
 
 
_________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Vânia Rúbia Farias Vlach 
 
 
 
 
 
 
 
_________________________________________ 
Prof. Ms. Tulio Barbosa 
 
 
 
 I 
Dedico esta monografia a quem a vida toda 
sonhou com ela, não como está, mas com o 
que esta significa; o término do meu curso 
de graduação. Esta dedicatória não poderia 
ser para mais ninguém que não para meus 
amados pais. 
Á vocês mãe e pai, com um enorme carinho e 
sincero agradecimento por toda uma vida de 
amor, companheirismo, respeito e 
dedicação. Amo vocês. 
 
 
 II 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
Agradecer é de certa maneira um exercício complicado, pois uma pessoa se 
forma ao longo de anos de convivência, com ligações fortuitas ou intensas, longas ou 
inesperadamente rápidas. Enfim, a nossa construção pessoal é um grande quebra-
cabeças do qual fazem parte infindas pessoas. Esta monografia, sendo um fragmento da 
minha formação, foi também construída com auxílio direto e indireto de grande parte 
das pessoas que passaram por minha vida. 
Mesmo com tamanha dificuldade, começo agradecendo o meu professor e 
orientador Dr. Sérgio Luiz Miranda pela enorme paciência com meus conflitos acerca 
do tema e metodologia e, também, por me guiar com tamanha competência, 
desempenhando de fato o papel de orientador, desde a etapa da prática na escola até os 
caminhos finais da monografia. 
Agradeço à minha primeira orientadora e professora de todo o curso, Prof.ª Dr.ª 
Vânia Rúbia Farías Vlach, que me guiou nos primeiros passos da escolha do tema e que, 
além disso, me ensinou muito sobre a Geografia, sobre a profissão de Professor e, 
sobretudo, a importância de se construir uma nova Geografia, que envolva todos os 
seres humanos. 
Não poderia deixar de agradecer à minha querida tia/madrinha e grande 
historiadora Prof.ª Dr.ª Vera Lúcia Puga que, além de me influenciar cultural, intelectual 
e afetivamente durante toda a vida, também me ajudou muito na finalização da 
monografia, com dicas e questionamentos, as quais fizeram meu trabalho mais rico e 
consistente. 
À minha querida prima e também grande historiadora Dolores Puga Alves de 
Sousa agradeço pelo carinho e dedicação na finalização da monografia. Foi ela que, 
juntamente com a Talitta Tatiane Martins Freitas, se prontificaram a ajudar com 
correções gramaticais e de formatação. Sem vocês, minhas queridas, meu trabalho 
estaria um tanto fora de eixo. 
 
 III 
Agradeço também a duas pessoas que foram fundamentais na minha formação. 
Duas pessoas que conheci em situações adversas, mas que se tornaram grandes amigos e 
companheiros de inquietude diante do mundo. Meu sincero obrigada aos sociólogos, 
Prof. Cristhian Lima e Prof. Dr. Leonardo Barbosa e Silva, pela oportunidade de ver a 
vida com olhos diferentes. 
Devo agradecimentos eternos às minhas amigas-irmãs que desde minha 
adolescência cercaram-me de muita inquietude, questionamentos, música, poesia, 
tristezas e alegrias. Foi ao lado delas que me tornei cidadã do mundo. Obrigada 
Caruliny, Fernanda, Ingrid, Larissa, Lia, Mariana, Michele, Miramaya e Raquel. 
Agradeço imensamente ao meu companheiro e grande amigo Bernardo, que foi 
quem agüentou todos os meus dias de histeria e, além disso, ouviu meus incontáveis 
questionamentos acerca do meu tema e da monografia. Ao final de tudo, mesmo cheio 
de trabalho, foi ele o responsável pela arte. Obrigada meu amor. 
Por fim, agradeço a todos os professores que passaram pela minha história, 
dentro e fora da Geografia. A todos os amigos e amigas que foram e vieram durante a 
vida e que deixaram um pouco de si em mim. Agradeço à minha enorme e amada 
família: pais, irmãos, tios, tias, madrinhas, padrinho, primos, vovó – que apesar de não 
estar mais aqui foi a mais maravilhosa possível – e vovô, meu amor. Desde pequena, 
vocês me ensinaram sobre respeito, amor, dedicação e companheirismo. Obrigada!
 
 IV 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Resumo................................................................................. V 
 
Introdução............................................................................ 01 
 
 
 
 
Capítulo I 
DO USO DA MÚSICA........................................................... 04 
 
 
 
 
Capítulo II 
DA PRÁTICA COM A MÚSICA NA ESCOLA..................... 10 
 
 
 
 
Capítulo III 
DOS RESULTADOS EM SALA DE AULA........................... 28 
 
 
 
 
Considerações Finais........................................................... 41 
 
 
 
 
Referências Bibliográficas.................................................. 43 
 
 
 
 
Anexos.................................................................................. 46 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 V 
RESUMO 
 
 
 
O trabalho trata da música como instrumento didático no ensino de Geografia, 
trazendo, além da abordagem teórico-conceitual, uma vivência experimental em sala de 
aula abordando o tema globalização durante um estágio em uma escola de ensino 
médio. Essa monografia, enfocando a utilização da música no ensino de Geografia, não 
se opõe à utilização de outras metodologias ou materias de ensino, como o tradicional 
livro didático, e tem como objetivo principal inserir e tratar da música como mais uma 
possibilidade didática para o ensino de conteúdos geográficos do currículo escolar. Os 
resultados desse trabalho apontam possibilidades para a música na aula de Geografia, as 
quais proporcionaram melhor participação e compreensão pelos alunos de um tópico 
dos conteúdos curriculares de Geografia do ensino médio. 
A música aqui nos serve como um espelho da sociedade e de suas relações com 
o meio. Com suas letras, suas construções sonoras, seus instrumentos, a música nos fala, 
muito além da simples distração e diversão, a música pode ensinar, pode levar alunos a 
vivenciar sentimentos e experiências, pode enfim apresentar aos alunos e professores 
uma nova Geografia, capaz de produzir além de conhecimentos puros, uma educação 
plena, completa. 
 
 VI 
Música para ouvir 
 
Música para ouvir no trabalho 
Música para jogar baralho 
Música para arrastar corrente 
Música para subir serpente 
Música para girar bambolê 
Música para querer morrer 
Música para escutar no campo 
Música para baixar o santo 
Música para ouvir 
Música para ouvir 
Música para ouvir 
 
Música para compor o ambiente 
Música para escovar o dente 
Música para fazer chover 
Música para ninar nenê 
Música para tocar novela 
Música de passarela 
Música para vestir veludo 
Música pra surdo-mudo 
 
Música para estar distante 
Música para estourar falante 
Música para tocar no estádio 
Música para escutar rádio 
Música para ouvir no dentista 
Música para dançar na pista 
Música para cantar no chuveiro 
Música para ganhar dinheiro 
 
Música para ouvir 
Música para ouvir 
Música para ouvir 
 
Música pra fazersexo 
Música para fazer sucesso 
Música pra funeral 
Música para pular carnaval 
Música para esquecer de si 
Música pra boi dormir 
Música para tocar na parada 
Música pra dar risada 
 
Música para ouvir 
Música para ouvir 
Música para ouvir 
 
Arnaldo Antunes e Edgar Scandurra (FAIXA 1 - CD) 
 
Introdução 
 1 
INTRODUÇÃO 
 
 
 
O trabalho a seguir trata do tema da música como instrumento didático no 
ensino de Geografia, trazendo uma abordagem teórcio-conceitual e uma vivência 
experimental em sala de aula durante o estágio supervisionado no ensino. Esta vivência 
foi realizada com uma turma de terceiro colegial do ensino público noturno de uma 
escola de Uberlândia – MG, no período de 10/2008 a 12/2008. A metodologia utilizada, 
por opção, está escrita no corpo do trabalho, não sendo, portanto, encontrada em um 
tópico específico. 
Foi difícil definir um tema para minha monografia, tendo em vista as diversas 
áreas e os diferentes temas interessantes, os quais tive contato no decorrer do curso de 
Geografia. Este curso nos permite viajar pelos temas físicos até os antropológicos e por 
melhor que isso seja, na hora de definir um rumo para a pesquisa, a indecisão toma 
conta de nossa cabeça. Ao pensar sobre as mais diferentes possibilidades acabei por 
perceber aquilo que move minha vida, a música. E, desta forma, pensei unir o “útil ao 
agradável”. A música entrou em minha vida via percussão desde 2000. A partir daí 
comecei a dar aulas de musicalização para crianças, além de fazer matérias no curso de 
música, uma inclusive com o nome “musicalização para bebês”. Foi aí que teve início a 
junção das duas vertentes: Geografia e Música. 
Uma grande influência que tive foi de duas oficinas1 de prática e história da 
música nordestina com o extinto grupo cearense SoulZé. Uma dessas oficinas durou 
uma semana e possibilitou a mim um maior contato com os propositores e, depois de 
muitas conversas com o grupo de música, após encontros com minha primeira 
orientadora, tive certeza de que minha pesquisa passaria pelo meio ambiente descrito 
nas composições musicais. Porém, até vincular meio ambiente, música e ensino ainda 
demorou certo tempo. Por diversas vezes me confrontei com este tema, porém existem 
 
1 Oficina de percussão e história da música nordestina, ministrada pelo grupo SoulZé de 08 a 10 de 
novembro de 2004 e Oficina Dos Cariris ao Mangue Beat – Música Nordestina: Uma Constante 
Evolução, coordenada por Reneé Muringa e Cezar Xavier de 07 a 12 de agosto de 2006. 
Introdução 
 2 
pouquíssimas coisas escritas sobre o assunto. Assim, foi com extrema dificuldade que 
comecei a pesquisa e com muito temor de errar que eu iniciei minha monografia. 
Bem, tudo foi encaminhando. Nas aulas de Didática Geral, em 2006, fiz um 
seminário que tratava a música como instrumento didático na sala de aula e, para isso, 
usei o material de um pedagogo da USP, Martins Ferreira. Após a definição do meu 
tema acabei por encontrar o livro do pedagogo para comprar. Quando o livro chegou, 
fui olhar o referencial bibliográfico na esperança de encontrar algo que pudesse me 
ajudar mais. Bem, não encontrei diretamente. Sempre os assuntos circundam meu tema, 
mas nunca falam nele/dele diretamente. 
Num ato, digamos desesperado, mandei um e-mail para o autor, Ferreira 
Martins, dizendo a ele sobre meu tema, minha monografia, minhas escolhas, mas não 
achei que ele fosse me responder. Eu estava enganada. Dois dias depois recebi um e-
mail, ao qual fui sedenta. No entanto, nele o autor dizia que estava muito feliz com o 
meu contato, que me parabenizava pelo tema, mas que tinha uma boa e uma má notícia. 
A boa notícia era que eu seria uma das primeiras pessoas a falar sobre esse tema de 
forma direta, mas, que por isso eu não teria muita bibliografia a pesquisar. E, desta 
forma, me senti mais responsável ainda diante da monografia. Então, desde aquele e-
mail ponderei muito sobre o meu tema, porém aceitei o desafio comigo mesma de 
começar a falar sobre a música como recurso didático ao ensino de geografia. 
Assim, defini como objetivo geral deste trabalho a busca de alternativas que 
melhorem a apreensão da disciplina geográfica incorporando a esta, a música, como 
uma importante aliada, levando às salas de aula composições musicais que tenham 
conteúdos de ensino da geografia cantados em seus versos e construções sonoras. É 
óbvio que tenho, ao longo desta monografia, que conhecer e indicar composições 
musicais importantes para o estudo da geografia, além de demonstrar como abordar em 
sala de aula os conteúdos específicos do ensino de geografia através das composições 
musicais selecionadas. Não posso deixar de esclarecer que esta monografia foi 
desenvolvida com base na experiência que tive na disciplina Prática de Ensino em 
Geografia. 
Mesmo com dificuldades em encontrar pesquisadores que se dediquem ao 
estudo da música no ensino de geografia, alguns deles me ajudaram a superar 
Introdução 
 3 
determinados obstáculos, a rever conceitos, a me dedicar com afinco nesta temática 
difícil, mas altamente sedutora para mim. Entre eles, gostaria de citar: Martins Ferreira, 
meu principal referencial e professor do Departamento de Pedagogia da USP; Vânia 
Vlach, professora aposentada do Instituto de Geografia da UFU; Professor Alexander 
Josef Sá Tobias da Costa, do Departamento de Geografia da UFRJ e seu companheiro 
de pesquisa, José Nazareno da Silva, professor do ensino fundamental e médio da rede 
pública e particular no município do Rio de Janeiro. 
Essa monografia foi estruturada em três capítulos, além dessa introdução e das 
considerações finais. No capítulo I, são abordados aspectos que revelam a importância 
da música na nossa vida em geral e como ela pode contribuir para a educação, em 
particular para o ensino de Geografia. No capítulo II, é feito o relato da vivência 
experimental com a música em sala de aula para tratar do tema globalização como 
conteúdo curricular de Geografia no ensino médio, cujos resultados são apresentados e 
discutidos no capítulo III. 
As músicas utilizadas e citadas aqui foram copiadas no formato digital e 
incluídas no CD (Anexo) para que, além de lidas suas letras no corpo deste trabalho, 
possam ser também ouvidas e sentidas pelo leitor ou leitora, o que é essencial em se 
tratando de linguagem musical, o que também se espera demonstrar ao longo desse 
trabalho.
Capítulo I: Do uso da música 
 4 
Capítulo I 
 
 
DO USO DA MÚSICA 
 
 
 
“A música é a ginástica da alma”, afirmou o filósofo Platão. Há séculos se 
entende a importância da música no desenvolvimento cognitivo de um indivíduo. 
Também por se entender isso e por força das circunstâncias, nos anos de ditadura 
militar, se extinguiu a educação musical nas escolas brasileiras tendo, há muito pouco 
tempo, sido retomado este assunto, passando a fazer parte primeiramente da realidade 
das escolas particulares, sobretudo as das elites, e agora se expandindo com a lei que 
torna obrigatório novamente o ensino de música nas escolas.2 Uma grande notícia para 
os professores e amantes da música, conscientes do poder da mesma para uma formação 
integral e sólida da criança e do adolescente. 
Desde a gestação, a criança pode e deve ser alimentada de música, 
musicalidade, pois desde esta etapa se desenvolve a percepção e a formação do ser 
humano como um todo. Por isso cresce cada vez mais o número de aulas de 
musicalização para gestantes, bebês e crianças, para que estes se cerquem das melhores 
condições de desenvolvimento. Em nenhum momento defenderei a “genialização” das 
crianças, ou seja, utilizar todos os recursos possíveis para transformar uma criança 
despretensiosa em gênio. Pelo contrário, existe um completo repúdio por este tipo de 
intervenção, ao menos quando se trata com profissionais sérios, competentes e 
preocupados com o crescimento integralda criança. 
A música aqui é utilizada de forma saudável, lúdica. Simplesmente fazendo 
com que as pessoas, independente da idade, se valham dos seus direitos, pois a música é 
uma construção cultural da sociedade e todos têm o direito de poder conhecê-la e 
entendê-la melhor. 
 
2 Lei nº 11.769 de 18 de agosto de 2008, que torna obrigatório o ensino de música na educação básica 
de escolas particulares e públicas, tendo três anos a partir de 2008 para se adaptarem à nova lei. 
Capítulo I: Do uso da música 
 5 
Mesmo que no Brasil ainda não se dê a devida importância ao ensino de 
música na escola, pesquisas mostram o quanto o aprendizado musical é estimulante no 
que se refere à cognição, concentração, criatividade, criticidade e sensibilidade do 
aluno. Habilidades lógico-matemáticas, por exemplo, foram estudadas pela 
Universidade de Wisconsin, onde os pesquisadores Shaw, Irvine e Rausher, concluíram 
que alunos que receberam aulas de música apresentavam resultados de 15 a 41% 
superiores em testes de proporções e frações do que outras crianças. (NOGUEIRA, 
2004, p. 3). Dito isso, o ensino de forma geral tem muito que aproveitar da música. No 
caso desta monografia incluiremos a música e sua criação na aprendizagem do ensino 
de Geografia. 
Os novos licenciados em Geografia enfrentam um grande desafio: encontrar 
uma didática capaz de acompanhar a nova configuração do mundo e que dê respostas 
satisfatórias aos estudantes. Hoje, de posse da internet, as crianças desde cedo viajam o 
mundo todo num clicar de mouse, deixando o tradicional método de ensino um tanto 
desinteressante. 
Como então fazer com que os alunos, “cabeças frescas”, adolescentes, jovens, 
com ímpeto de mudanças e transgressões das regras, se interessem pelo aprendizado de 
Geografia? Não o aprendizado linear já proposto, carregado de capitais de estados e 
países a serem decorados. Mas a Geografia intrínseca ao cotidiano e à realidade da 
juventude estudantil. Como afinal, acabar com o abismo entre os professores e seus 
alunos? 
Sabe-se que a mídia, em suas diferentes acepções, têm um grau de 
aceitação muito grande no cotidiano das pessoas, especialmente dos 
jovens. Estão presentes nos momentos de lazer, de reflexão e até 
mesmo contribuem para a definição do “estilo de vida” de muitos 
indivíduos, como é o caso dos “cowboys”, “punks”, e especialmente 
dos roqueiros (CORRÊA; OLIVEIRA Apud VLACH; OLIVEIRA; 
SILVA, 2003, p. 405). 
 
Portanto, proponho a introdução da música em sala de aula para que seja o elo 
que aproxima alunos e professores, conteúdos e estudantes. Várias outras formas de 
mídia e meios de comunicação poderiam ser utilizados, juntos ou separados, como 
imagens com música, filmes associados às músicas, pinturas e músicas, entre outras 
inúmeras possibilidades. 
Capítulo I: Do uso da música 
 6 
A linguagem musical está presente em todas as sociedades do globo e, mesmo 
não sendo universal, tal qual muitos pesquisadores como Nogueira (2004, p. 1.) 
insistem em dizer, pode ser uma ferramenta valiosa na busca de novas formas de educar 
com a Geografia.3 
A música é esta ferramenta, esta linguagem, esta expressão artística que fala de 
um tempo, de uma ideologia, de uma paisagem, de uma cultura, um universo. 
A principal vantagem que obtemos ao utilizar a música para nos 
auxiliar no ensino de uma determinada disciplina é a abertura, 
poderíamos dizer assim, de um segundo caminho comunicativo que 
não o verbal – mais comumente utilizado. (FERREIRA, 2007, p. 13.) 
 
Sendo assim, nesta monografia vejo a música como uma aliada da educação, 
fazendo com que o ensino de Geografia se torne mais rico, mais diversificado, mais 
criativo, muitas vezes possibilitando aos alunos a oportunidade de descobrir e explorar 
universos musicais ainda não explorados, como a música regional ou a música popular 
brasileira, da qual pouco ou nada se ouve no circuito da indústria cultural, músicas que 
cantam além de refrões repetitivos; cantam a política, a cultura, a paisagem, os lugares, 
regiões e assim descrevem a sociedade, o meio em que vivemos e o dos outros. 
[...] o Brasil, sem dúvida uma das grandes usinas sonoras do planeta, é 
um lugar privilegiado não apenas para ouvir música, mas também para 
pensar a música. (NAPOLITANO, 2002, p. 7.) 
 
A música serviria à Geografia tanto com suas letras, quanto com suas 
propriedades e características como ritmo, timbre, intensidade, altura, duração, entre 
outros. (LACERDA, 1966, p.01). O compositor da música também deve fazer parte do 
estudo, sendo inserido em seu contexto social, cultural e regional. O autor diz sobre o 
que quer realçar, fala de tempos, de lugares, de acontecimentos. 
Um bom exemplo de se citar é Dorival Caymmi, com sua composição Peguei 
um Ita no Norte (FAIXA 2 - CD), para trabalhar a questão da migração do norte do 
país para o sudeste, no século XX. Nesta música, o compositor faz alusão clara à 
 
3 Entendendo-se que objetivo principal da música é comunicar, como pode a música ser uma linguagem 
universal? Como pode uma música tribal se comunicar com a maioria das pessoas, totalmente 
cosmopolitas e que não entendem a cultura, os costumes e o cotidiano da tribo de onde provem a música? 
Outro exemplo é a música erudita, que pode ser ouvida por todos, mas não comunica com todos, a não ser 
com as pessoas que têm o “ouvido educado”, como se diz no meio musical, para esse tipo de música. 
Portando, quando se nega a universalidade da música, se nega a possibilidade de comunicação verdadeira 
de qualquer música com quaisquer indivíduos ou sociedades, apesar de todas produzirem música. 
Capítulo I: Do uso da música 
 7 
migração, o que colaboraria em muito para ilustrar este assunto, trazendo-o para uma 
linguagem mais próxima à juventude, permitindo aos jovens pensar no lamento cantado 
na música, lamento este carregado pelo imigrante. 
Peguei um Ita no Norte, e vim pro Rio morar. Adeus, meu pai, minha 
mãe, adeus Belém do Pará [...] O referencial às cidades é explícito, 
mas denota que o migrante ainda é o jovem que abandona o pai e a 
mãe em busca de um progresso na vida, aventurando-se por meio da 
migração. (FERREIRA, 2007, p. 49-50). 
 
A música de Sá e Guarabira Sobradinho (FAIXA 3 - CD) também fala de um 
tema rico para a Geografia; o represamento do Rio São Francisco, que nasce no Sudeste 
e deságua na região Nordeste, com a conseqüente submersão de cidades, casas e muitos 
sonhos. Este trecho da música deixa claro o discurso dos compositores. 
O homem chega, já desfaz a natureza 
Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar 
O São Francisco lá pra cima da Bahia 
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar 
E passo a passo vai cumprindo a profecia 
Do beato que dizia que o sertão ia alagar. (SÁ; GUARABIRA, 1977). 
 
Desta forma, o papel da música no ensino da geografia é elucidar, clarear e 
enfatizar os assuntos relativos à Geografia, aumentando o interesse dos jovens e, 
portanto sua compreensão dos temas. De acordo com Silva, Oliveira e Vlach: 
Aliar essa facilidade de assimilação encontrada nos mais diversos 
gêneros musicais às propostas metodológicas e curriculares da 
Geografia pode gerar bons resultados. Dificilmente se encontrará algo 
mais atrativo, entre crianças e jovens, do que o compartilhar suas 
preferências, sua reprovação ou aprovação às obras musicais, com 
seus colegas e professores (SILVA; OLIVEIRA; VLACH, 2003, p. 
405-406). 
 
O conhecimento, quando é passado com sensações, fica mais interessante e 
mais fácil de ser internalizado e entendido. Assim, quando se quer dizer de crises 
políticas na época da ditadura, é necessário que os estudantes entrem em contado com 
os sentimentos daquela época, que para eles ficou num passado distante. Este é o papel 
da música (ou pelo menos, um deles), a arte que não conhece barreiras temporais e 
espaciais,pode com clareza descrever e fazer os estudantes de hoje sentirem um pouco 
do que era viver na ditadura e assim, o professor pode tornar o trabalho pedagógico 
mais prazeroso e instigante. Um dos incontáveis exemplos de música que retrata a época 
Capítulo I: Do uso da música 
 8 
da ditadura e seus horrores é a música Não Chores Mais (FAIXA 4 - CD) do 
compositor Gilberto Gil, 1970. Esta música “retrata de maneira sutil, prisões e exílios 
dos artistas. Inspira-se no espírito da esperança”. (FREITAS; MOREIRA; PUGA, 2007, 
p. 193-211). 
Não não chores mais 
Não não chores mais 
Não não chores mais 
Não não chores mais 
 
Bem que eu me lembro, da gente sentado ali 
Na grama do aterro sob o sol 
Ob ob servando.. hipócritas 
Desfarçados rodando ao redor 
amigos presos 
amigos sumindo assim 
pra nunca mais 
as recordações, retratam do meu em si 
melhor é deixar pra trás 
e vamo lá vamo lá 
 
Não não chores mais 
Não não chores mais 
Não não chores mais 
Não não chores mais 
Bem que eu me lembro que 
Da gente sentado ali 
Na grama do aterro 
Sob o céu 
Ob ob servando estrelas 
Junto a fogueirinha de papel 
Esquentar o frio 
Requentar o pão 
E come com você 
Os pés de manhã 
Pisam no chão 
Eu sei 
A barra de vive 
Mas se Deus quiser. 
Tudo tudo tudo vai dar pé 
Tudo tudo tudo vai dar pé 
Mas Tudo tudo tudo vai dar pé 
Tudo tudo tudo vai dar pé 
 
Não não chores mais...não chore menina 
Não não chores mais 
Não não chores mais...não chore menina..menina 
Não não chore mais 
Capítulo I: Do uso da música 
 9 
 
Esquentar o frio 
Requentar o pão 
E come com você 
Os pés de manhã 
Pisam no chão 
Eu sei 
A barra de vive 
Mas se Deus quiser... 
Tudo tudo tudo vai dar pé 
Tudo tudo tudo vai dar pé 
Mas Tudo tudo tudo vai dar pé 
Tudo tudo tudo vai dar pé 
 
Não não chores mais...não chore menina 
Não não chores mais 
Não não chores mais...não chore não chore menina 
Não não chore mais. (GILBERTO GIL, 1970). 
 
Na música existe uma imensidão de temas que não podem ser entendidos se 
separados de seu contexto histórico e ideológico, para isto se faz necessário o estudo do 
todo de sua construção, dando à música sentido e riqueza, além de abrir várias 
possibilidades de estudo aliados a ela. 
Os professores da área de Geografia podem usar a música de diversas formas, 
tanto sua letra, quanto seu ritmo, seu compositor, para facilitar a compreensão dos 
alunos em determinados temas abordados. A música terá a função de trazer às aulas de 
Geografia novas possibilidades e sensações, tornando-as mais atraentes e de fácil 
assimilação. É o que se verificou também em uma vivência experimental em sala de 
aula tratando do tema globalização como conteúdo curricular de Geografia no ensino 
médio, da qual se começa a tratar no capítulo seguinte. 
 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 10 
CAPÍTULO II 
 
 
 
DA PRÁTICA COM A MÚSICA NA ESCOLA 
 
 
O desafio, na época, era fazer a junção entre o estágio de Prática de Ensino de 
Geografia na Licenciatura e a monografia de conclusão do Bacharelado. Fui então a 
uma escola pública e tirando os vários problemas estruturais da escola, me deparei, por 
sorte, com uma professora disposta às novas experiências didáticas. Acabei realizando 
este trabalho, em mais de uma sala, apesar de a pesquisa estar focada para uma turma 
específica. Por razões éticas, achamos por bem não revelar os nomes da escola, da 
professora e de seus alunos aqui citados, preservando as identidades dos sujeitos, já que 
não solicitamos autorização dos mesmos para identificá-los aqui. 
O tema da aula que caberia a mim foi escolhido pela professora de geografia da 
escola, de acordo com seu programa de ensino para a disciplina. Foi indicado então o 
tema globalização. Porém a professora não queria que eu tratasse de nada específico, 
como os blocos econômicos, por exemplo. O enfoque do tema seria o que é 
globalização e o que esta implica em nossa vida de forma direta e indireta. A partir daí 
comecei a pensar como poderia mostrar aos alunos, com a música como elemento 
didático, o que era a globalização. 
A música foi colocada como principal instrumento didático pelo fato de ser 
uma fonte rica de informações e que se aproxima da linguagem dos jovens inseridos no 
mundo moderno e por que não, globalizado. 
A abordagem do tema foi feita em três etapas: A primeira seria uma introdução 
ao conceito de globalização. Esta etapa foi de descobrimento do termo, seu significado e 
sua relação com a geografia. Falamos ainda sobre a relação do espaço-tempo na 
globalização. 
Na segunda etapa do plano foi tratada a relação entre globalização e política. 
Nesta fase foram discutidos temas como: o Estado Nação, seu conceito, o papel que 
cumpre e qual a sua realidade dentro de um mundo globalizado. Sobre a realidade do 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 11 
Estado Nação no mundo contemporâneo existem muitas opiniões divergentes e por isso 
promovi discussões em torno deste tema para que, no final, os alunos tivessem condição 
de fazer uma reflexão que os levasse a uma conclusão própria, individual. 
Para tanto passei por temas como o estado do bem estar social, o liberalismo 
político e econômico, leis de mercado, sindicatos e por fim desigualdade de poder, este 
último voltado principalmente para os EUA e Japão. A terceira e última parte do plano 
didático tratou da ideologia da globalização e para desenvolver este tema passei pelo 
conceito de ideologia. 
Após a abordagem de tantos aspectos relacionados ao tema principal, 
investiguei, com a participação dos estudantes, qual a ideologia em torno da 
globalização e como esta atinge a cada um de nós. Foi discutida também a dialética do 
mundo único, global, versus fronteiras, levantando a questão dos preconceitos, 
xenofobia, etnocentrismo, entre outros. 
A cada etapa do plano de aula eram dadas em média duas horas – aula e ao 
final de cada uma das partes acima descritas era apresentada uma música que tratava do 
tema explicado. As aulas foram expostas da seguinte maneira: a princípio era feita uma 
explanação geral sobre o assunto a ser tratado e como seria a ordem de discussão destes. 
Depois de explicada cada pequena parte do todo, enfim era a hora da música. Os alunos, 
antes de ouvirem a música, recebiam sua letra, para que todas as palavras pudessem ser 
entendidas sem equívoco e também as questões pertinentes a cada composição, que 
dirigiriam o entendimento das questões políticas, sociais e culturais das respectivas 
letras. Assim eram apresentadas as composições aos estudantes. 
Um aparelho de som pequeno, da própria escola, foi o nosso equipamento, o 
que prejudicou um pouco o trabalho, pois a potência baixa dificultava o entendimento 
dos alunos, dentro de uma sala cheia, com barulhos internos e externos. Mesmo com 
todos os contras, as músicas foram apresentadas. 
Depois da primeira audição era proposto um debate livre sobre a música, sem 
focar no direcionamento dado previamente, mas sempre voltado para o tema. Nesta hora 
o objetivo era observar o que eles tinham entendido da música e se tinham conseguido 
cruzar as informações desta com o assunto tratado na aula. Ainda era falado sobre a 
composição musical, arranjo, instrumentos e sensações causadas pelas músicas. 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 12 
Após a análise primeira, passamos a nos ater às questões e solicitações 
entregues juntamente com as letras das músicas. Neste momento era a hora de 
questionar, avaliar e aprofundar a pesquisa das músicas com os temas. As discussões 
começavam por mim, muitas vezes com as próprias questões antes colocadas, mas se 
estendiam pela sala no decorrer da aula. Depois do debate as músicas eram ouvidas de 
novo, desta vez, mais carregadas de significados. 
Com a terceira e última música passada; Disneylândia (TITÃS; ARNALDO 
ANTUNES, 1993), foi um pouco diferente, pois já havia observado que precisava de 
algumasmodificações no plano de aula que até então estava seguindo. Duas questões 
(Anexo III) foram propostas como direcionamento do estudo, assim como nas outras 
músicas, porém o debate foi encerrado com a entrega destas duas referidas questões por 
escrito. Uma maneira de obter dos alunos os resultados do debate de uma forma mais 
contundente e eficaz para o meu trabalho. 
Depois de passado todo o processo com as três músicas, pela terceira vez a 
turma ouviu as três composições, desta vez com o objetivo de estabelecer uma relação 
entre estas. Passadas na mesma seqüência de outrora, o momento era de rever o que 
tinha sido deixado para trás e de estabelecer relações entre as partes para que enfim se 
formasse um todo do conteúdo. 
Ao final das duas primeiras etapas do plano foi dada uma avaliação escrita e 
mais uma após a parte final do trabalho. Porém, a principal forma de avaliação da 
compreensão dos alunos sobre os conteúdos tratados foi através das suas falas nas 
discussões durante as aulas. 
Dito isso, partiremos agora para o detalhamento de cada etapa especificamente. 
Para a introdução à globalização, na primeira parte do plano foi utilizada a música 
Parabolicamará (FAIXA 5 - CD) do compositor Gilberto Gil. Este momento foi de 
muita importância, pois as fases decorrentes só fariam sentido se este primeiro contexto 
tivesse sido bem entendido. E, para a apresentação da música foram dadas algumas 
questões previamente (dispostas abaixo), com o intuito de que os alunos pudessem se 
guiar de forma mais eficaz em relação à composição. Porém, as questões podem não ser 
necessárias em uma turma que já tenha uma relação mais íntima com este processo 
didático – ou seja, entender a Geografia ligada à música –, pois isto poderá ser uma 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 13 
forma de instigar os alunos intelectualmente. Em relação à primeira música as questões 
propostas foram: 
• Em que sentido o autor diz mundo? 
• E a terra, qual o sentido dela? 
• Parabolicamará é referência a quê? 
• Quais frases da música te remetem ao desenvolvimento tecnológico? 
• A música mostra para você a mudança da percepção do espaço tempo? Em quais 
frases isso fica claro? 
• O que a música diz do tema globalização para você? 
Na seqüência, foi feita uma explanação acerca do compositor, que participou 
da Tropicália (1967 – 1968), um movimento de vanguarda de influência modernista 
antropofágica, designação dada pelos próprios participantes, que também incluíam 
Caetano Veloso, Gal Costa, Tom Zé, o grupo Mutantes, entre outros. A Tropicália 
representa uma grande inovação da música brasileira quanto ao uso da eletrificação e 
sincretismo. 
Os tropicalistas deram um histórico passo à frente no meio 
musical brasileiro. A música brasileira pós- Bossa Nova e a 
definição da “qualidade musical” no país estavam cada vez mais 
dominadas pelas posições tradicionais e nacionalistas de 
movimentos lidados à esquerda. Contra essas tendências, o 
grupo baiano e seus colaboradores procuram universalizar a 
linguagem da MPB, incorporando elementos da cultura jovem 
mundial, como o rock, a psicodelia e a guitarra elétrica. Ao 
mesmo tempo, sintonizaram a eletricidade com as informações 
da vanguarda erudita por meio dos inovadores arranjos de 
maestros [...]. (OLIVEIRA, 2009) 
 
Gilberto Gil é um nome dos mais importantes no cenário da música brasileira 
contemporânea. Foi um dos exilados nos anos da ditadura militar e teve participação 
fundamental na consolidação da Música Popular Brasileira, “MPB”. Um músico que já 
tinha falado da ditadura, da repressão da expressão política e criativa e já tinha, com 
seus colegas, revolucionado a música brasileira. Recentemente, na década de 1990, fala 
de sua percepção do mundo dentro da globalização. Sua visão na música carrega muita 
ideologia, e por isso não tece críticas diretas à globalização, faz apenas uma 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 14 
constatação, uma reflexão acerca das mudanças do mundo diante da tecnologia, da 
globalização, enfim, da noção de tempo e espaço. 
Parabolicamará traz como principal tema a televisão, que foi uma aliada 
indispensável ao desenvolvimento da globalização e sua fluidez. O compositor perplexo 
fala da grandiosidade, do deslumbre e estranhamento do que esta tela colorida pode 
trazer para dentro de casa, como esta pode tornar o mundo pequeno, dando notícias do 
globo em um caixa, trazendo lugares antes impensáveis para dentro do nosso cotidiano. 
De fato esta música transcende a abordagem do tema no ensino médio e nos faz pensar 
em trazê-la inclusive para o curso superior de Geografia, como uma forma de analisar o 
espaço e o tempo, como podem ter várias dimensões e significações, dependendo do 
referencial de quem os vê. Enfim, um recurso riquíssimo para nós geógrafos. 
Dentro da estrutura da música na versão com a qual trabalhamos em aula,3 já 
percebemos efeitos da globalização, com a miscelânea de instrumentos e ritmos. O 
compositor mistura o baixo acústico, instrumento na maioria das vezes utilizado em 
músicas eruditas, com o berimbau, um instrumento produzido artesanalmente e que vem 
da cultura escrava, mais o violão, a bateria, instrumento símbolo do “rock and roll” e, 
portanto, símbolo da globalização, da mistura, das trocas culturais e mercantis, dos 
fluxos. 
O ritmo da música também é uma mistura de tendências, como capoeira, 
reagge, e ritmos nordestinos, referências fortes do trabalho do Gilberto Gil. É, durante 
toda a música, um som suave, “suingado”,4 leve, sem a presença de peso, porém todo 
tempo firme e bem marcado. A melodia da voz é bem ondulante, segue também o 
padrão dos instrumentos, buscando dar ao conjunto uma harmonização redonda, sem 
rupturas bruscas ou rigidez seca. 
Destes aspectos das características da música vê-se que esta não é tensa, não 
está comprometida com confrontos diretos com o tema, apesar de sutilmente falar da 
dialética da globalização, dos tempos modernos, da tecnologia. Abaixo a letra da música 
Parabolicamará – FAIXA 5 – CD (GILBERTO GIL, 1991). 
 
3 Gilberto Gil Unplugged, gravado pela emissora MTV. 
4 “Suingado” é a música que tem batidas latinas e africanas, carregada de sons no contratempo, o que 
chamam no mundo da música de ritmo quebrado, ritmos “bons de dançar” de se mexer. 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 15 
Antes mundo era pequeno 
Porque Terra era grande 
Hoje mundo é muito grande 
Porque Terra é pequena 
Do tamanho da antena 
Parabolicamará 
 
Ê volta do mundo, camará 
Ê, ê, mundo dá volta, camará 
 
Antes longe era distante 
Perto só quando dava 
Quando muito ali defronte 
E o horizonte acabava 
Hoje lá trás dos montes 
den’de casa camará 
 
Ê volta do mundo, camará 
Ê, ê, mundo dá volta, camará 
 
De jangada leva uma eternidade 
De saveiro leva uma encarnação 
 
Pela onda luminosa 
Leva o tempo de um raio 
Tempo que levava Rosa 
Pra aprumar o balaio 
Quando sentia 
Que o balaio ía escorregar 
 
Ê volta do mundo, camará 
Ê, ê, mundo dá volta, camará 
 
Esse tempo nunca passa 
Não é de ontem nem de hoje 
Mora no som da cabaça 
Nem tá preso nem foge 
No instante que tange o berimbau 
Meu camará 
 
Ê volta do mundo, camará 
Ê, ê, mundo dá volta, camará 
 
De jangada leva uma eternidade 
De saveiro leva uma encarnação 
De avião o tempo de uma saudade 
 
Esse tempo não tem rédea 
Vem nas asas do vento 
O momento da tragédia 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 16 
Chico Ferreira e Bento 
Só souberam na hora do destino 
Apresentar 
 
Ê volta do mundo, camará 
Ê, ê, mundo dá volta, camará. (GILBERTO GIL, 1991). 
 
As aulas referentes ao primeiro tópico foram tranqüilas, apesar de que na hora 
de apresentar a música os alunos não terem gostado, dizendo que o Gilberto Gil era 
muito velho e que não tinham a menor vontade de ouvir suas músicas. Rebati dizendo oquão atual ele e suas músicas são. Pedi então que eles primeiro ouvissem e depois 
dissessem o que acharam. Será que realmente estava ultrapassado? Depois de ouvir e 
discutir a música eles se retrataram e disseram que “até gostaram da música”. 
Senti dificuldade de inserir a música num primeiro momento; os alunos 
contestaram, bateram o pé e disseram que não queriam ouvir “música de velho”. Mas a 
situação foi contornada e os adolescentes acabaram aceitando ouvir e interpretar a 
música. 
Em relação à discussão, achei essa primeira parte a mais difícil. Os alunos 
ainda estavam se acostumando comigo, não tinham perdido a timidez e percebi um 
medo enorme de falar o que pensavam e, portanto, serem ridicularizados. Tive que ir 
lentamente, primeiro falando eu, dizendo das minhas observações e reflexões acerca do 
tema e música. Devagar fui levantando algumas questões e eles, um tanto desconfiados, 
começaram a falar. 
No final consegui até relatos de vida, da avó, da mãe, as quais serviram de 
referência dos alunos quando tratamos das mudanças que o mundo sofreu com a 
globalização. Os relatos diziam de como os familiares se espantavam com toda a 
tecnologia do mundo contemporâneo e como sentiam dificuldade de se inserir, já que 
tinham passado a vida toda “na roça” sem sequer um telefone. 
Esses depoimentos são interessantes, pois, se os alunos fizeram este paralelo, 
significa que entenderam o que eu propunha na aula através da música. Neste momento 
se verificou que grande parte dos alunos vinham de famílias ligadas ao campo, os quais, 
por isso, se deslumbravam e contraditoriamente se assustavam com a velocidade das 
informações e tecnologias da contemporaneidade. 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 17 
Na segunda fase do trabalho, a discussão sobre globalização e política foi mais 
forte, mais pesada. A princípio me parecia que os alunos nunca tinham ouvido falar de 
Estado Nação, ou sequer tinham pensado a respeito destes termos separados, o que 
remediei, porém com bastante dificuldade devido à falta de interesse dos alunos. 
O início desta segunda etapa foi a mais complexa para mim, que tentava 
trabalhar um assunto difícil e denso, porém, quando o assunto ultrapassava as questões 
históricas e conceituais, os alunos se entregavam à temática, participando, de forma 
surpreendente, nas aulas. Não houve aluno que tenha passado ileso desta etapa, mesmo 
os mais desinteressados uma hora olhavam e se indignavam ou davam sua opinião sobre 
o assunto, afinal, impossível se manter, mesmo para os adolescentes mais 
indisciplinados, imparciais ou sem atitude diante deste tema. 
As aulas desta etapa tinham como objetivo final discutir a relação, hoje, do 
Estado com sua Nação, se este ainda tem poder ou se com a globalização e as 
organizações supranacionais o Estado já não tem muita influência, já não tem mais 
poder individual e autônomo com sua nação, seu país. 
De fato, as organizações supranacionais tomaram um tanto do poder autônomo 
dos governos nacionais, porém falar do seu fim, em minha opinião, é negar toda a 
realidade que nos cerca, dentro e fora do nosso país. 
 Foi nesta linha que conduzi as aulas deste tópico, querendo mostrar aos alunos 
como os neoliberais, apesar do discurso, tomam conta de seus países com “mãos de 
ferro”, deixando o neoliberalismo para os países que são manipulados, como o Brasil. 
Para elucidar esta questão fiz uso da música Ninguém regula América (FAIXA 6 - 
CD) do grupo musical Rappa, composição de Marcelo Yuca. Seguindo a mesma 
didática empregada com a música anterior, dirigi a atenção dos alunos para as questões 
que teriam que ser observadas nessa segunda música: 
• Sobre o nome, de que América o compositor fala? 
• O que o compositor que dizer com o nome e o refrão da música? 
• Qual avaliação você faz da letra, quanto aos seguintes pontos: 
1. Protocolo de kioto 
2. Armas exportadas 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 18 
3. A relação entre o que estamos estudando e estas frases: 
a) “forçando a porta da Colômbia com uma hipocrisia que vicia o intelecto de 
Brasília e outras capitais”. 
b) “o W. Bush de plantão limite que engatilha um novo míssil sobre o céu de 
Wall Street arriscando a todos com o medo de perder mais uma guerra”. 
Em seguida, passamos para a música Ninguém Regula a América – FAIXA 6 
– CD (MARCELO YUCA, 2001) 
Ninguém regula a América 
nobody fucks with América 
Satélites de cima 
vigiando todos os atos de rebeldia 
MST observado pela CIA 
um avião cara-de-pau 
preso na China 
painel de controle 
cidades sem culpa 
na sensação do protocolo de Kioto 
carbonizado em plena chuva 
de armas exportadas 
sangrando no dólar 
o dólar dos outros 
coagulado e globalizado 
nas veias abertas 
de outra dívida externa 
Satellites from above 
controling all the rebel act 
nosy plane cought in China 
pushing doors in Colômbia 
carbonized under the rain 
globalized bleeding the dollar 
under the Wall Street sky 
risking everybody’s lives 
Forçando a porta da Colômbia 
com uma hipocrisia que vicia 
o intelecto de Brasília 
e outras capitais 
estreladas deixando a bandeira 
de fardas 
que segue na arrogância 
independente de quem for 
O W. Bush de plantão 
que engatilha um novo missel sem limites 
sobre o céu de Wall Street 
arriscando a todos 
com o medo de perder 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 19 
mais uma guerra 
ninguém regula a América 
nobody fucks with América. (MARCELO YUCA, 2001). 
 
“O Rappa” é um grupo de músicos jovens que mistura principalmente rock 
com hip-hop, reagge e samba. Esta banda teve início em 1993 e suas músicas são, em 
sua maioria, de apelo social, falando das mazelas da sociedade, da política e da vida de 
forma geral. São músicas sempre muito densas e não foi diferente com esta que estamos 
tratando, Ninguém regula a América. A versão que tomamos como referência e que 
foi a mais divulgada está no CD Instinto Coletivo e foi gravada com uma parceria do 
grupo com o Sepultura, uma banda de rock pesado, que apesar de ser brasileiro canta 
suas músicas em inglês, até pela intimidade do rock com a língua. 
Esta música acabou se transformando em uma das músicas mais “pesadas” do 
grupo O Rappa, pois, por influência do Sepultura, um grupo de death metal,6 acabou 
virando um “rock” com marcações fortes e insistentes. Este rock se caracteriza por 
harmonias e melodias7 pesadas, todo o tempo carregadas de notas e acordes; muitos 
dissonantes.8 A bateria desempenha um dos papeis mais importantes carregando nas 
batidas, se tornando instrumento de destaque durante toda a execução musical. 
Dito da estrutura da composição musical, fundamental na mensagem da poesia 
da música, a letra é um relato da realidade dos Estados Unidos e sua autoridade 
arrogante sobre todo o mundo, o que confronta com a idéia de que talvez o Estado esteja 
enfraquecido com a globalização e suas organizações Supra-Nacionais. Isso pode até 
fazer sentido dentro de países como o nosso, ou todos os países pobres que são o tempo 
todo, subjugados pelos países dominantes. Mas com os Estados Unidos da América 
ninguém mexe, ninguém manda, ninguém consegue subjugá-lo ou “regulá-lo”. 
 
6 Death metal surge nos anos 1980 com uma vertente do heave metal e se difunde em vários países ao 
mesmo tempo, sinal da globalização. O Brasil e EUA são uns dos berços deste estilo de música, que 
tratam temas mais “pesados”, mais agressivos que seus antecessores. Suas letras falam de morte, 
fragilidades humanas, entre outros. 
 
7 “Harmonia é a ciência que estuda os acordes e a maneira de concatená-los”. A harmonia da música é o 
encadeamento dos acordes dentro da mesma. “Melodia é a sucessão de sons de alturas e valores 
diferentes, que obedece a um sentido lógico musical”. “Acorde é uma cominação simultânea de três ou 
mais sons diferentes”. (LACERDA, 1966, p. 79.) 
 
8 Acordes dissonantessão acordes “cujas notas não se fundem, produzindo uma sensação de movimento”. 
(LACERDA, 1966, p. 100.) Causam uma sensação de “estranheza”, de desconforto, quando tocados. 
 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 20 
Exatamente é esta a mensagem que a música passa; que os EUA não se cansam 
de invadir o espaço dos outros com um discurso repetitivo do liberalismo econômico, 
mas ao mesmo tempo quando assunto é o próprio país a prática fica longe do discurso 
ideológico elaborado para os outros. 
Além da questão do Estado a música fala das negociações globais com o 
protocolo de Kioto9 que não foi assinado pelo Governo Bush e a exportação de armas 
que financiam as guerras civis no oriente. 
No final da música ainda tem uma denúncia de que o ex-presidente Bush seria 
capaz de arriscar a vida dos cidadãos de seu próprio país para não perder mais uma 
guerra. A música foi feita antes, mas veio a calhar com a acusação de que o governo 
norte americano tivesse armado o famoso atentado e 11 de setembro.10 
Enfim, esta música está cheia de mensagens diretas e nas entrelinhas e pode ser 
usada com profundidade nas questões geopolíticas, o que, em parte, foi feito em sala de 
aula. 
A primeira reação dos alunos à música foi de irritação, o que estava dentro do 
previsto, por causa do intenso “rock”. Mas passada a primeira reação, à medida que a 
letra foi sendo desenrolada os alunos foram se interessando e achando todas aquelas 
revelações inquietantes, o que definitivamente, me empolgou, pois era essa sensação 
que eu queria que a música deixasse. Enfim, a música cumpriu esse papel também. 
Além do mais, percebi que grande parte dos alunos não dava crédito para a banda “O 
Rappa”. Em meio a jovens que tem predileção por funk, axé, pagode e sertanejo, foi de 
grande importância, como educadora, apresentar-lhes um grupo que fala em suas 
músicas de conteúdos sociais, muito além da simples diversão. 
Com a finalização de duas partes do tema, apliquei em sala uma avaliação 
escrita, com questões (Anexo II) que se referiam aos temas já discutidos em aula. 
 
9 O Protocolo de Kioto é um acordo internacional que tem como principal objetivo a redução da emissão 
de gases derivados do carbono que potencializam o efeito estufa, contribuindo para o aquecimento global. 
Este protocolo não foi assinado pelos Estados Unidas da América justificado pelo fato de este país, 
governado na época por W. Bush, questionar a teoria de o aquecimento global ter suas raízes de fato em 
ações humanas, além de alegar que a assinatura deste protocolo acabaria por enfraquecer a economia 
estadunidense. 
 
10 Documentário Farenheit 911 de Michael Moore. 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 21 
Questão 01: “Toda a história pré-capitalista da humanidade se desenrola no 
contexto de quadras espaciais restritas. Isso significa que inexiste, até o advento 
do capitalismo, uma história universal. São modos de produção inscritos em 
quadros particulares, em histórias ímpares e autônomas. Os contatos entre as 
civilizações são inexistentes, tênues ou esporádicos”. (MORAES; COSTA Apud 
SENE, 2003, p. 130) 
Com base nesta frase e seus conhecimentos fale o que você entende sobre a 
globalização e seus desdobramentos na sociedade. 
 
Questão 02: “Um aspecto central da globalização, que é detectado por vários 
pesquisadores que crêem em sua existência é a aceleração em todos os setores da 
vida. Essa aceleração, especialmente dos fluxos, tem provocado mudanças 
econômicas, sociais, culturais, políticas e espaciais, mudando mesmo a percepção 
das pessoas e das empresas em relação ao espaço geográfico local e mundial. Isto 
não seria possível sem os enormes avanços dos sistemas técnicos, como 
conseqüência da revolução técnico-científica ou informacional”. (SENE, 2003, p. 
39.) 
Diante desta frase e pelo seu conhecimento diga qual a relação, em todos os 
setores da vida, que estabelecemos hoje com o espaço e o tempo. E qual a 
influência da globalização? 
 
Questão 03: “É verdade que esse fenômeno tem enfraquecido os Estados 
Nacionais, mas daí a pregar sua total imobilidade, ou, pior, proclamar o seu fim, 
já é exagero. Sem contar que o enfraquecimento dos Estados, além de desigual, é 
relativo. Como conseqüência da globalização os Estados Unidos estão, na 
verdade, se fortalecendo frente aos outro Estados Nacionais” (SENE, 2003, p. 62) 
Comente esta frase lembrando-se do que foi falado dos Estados Nação. 
 
Questão 04: Qual a sua avaliação sobre a globalização e seus desdobramentos? 
Lembrando-se das questões culturais, políticas, sociais, além de econômicas. 
 
Deixei que utilizassem as anotações que cada um tinha feito em seus cadernos, 
as letras das músicas, além de um texto11 que entreguei no momento da avaliação. Este 
texto tratava de tudo que tínhamos debatido até então. (Anexo I) 
Fiz questões pertinentes, porém um tanto audaciosas quanto as que os alunos 
estavam acostumados. Isto foi me dito pela professora e pelos próprios alunos. Mais 
tarde constatei o fato pelas inúmeras dúvidas que surgiram em torno das questões e 
pelas respostas escritas que obtive por parte dos alunos. Considero essa avaliação dentro 
da parte prática da minha pesquisa como um equívoco, pois não soube neste momento 
me adaptar à realidade da escola e, muito menos dos estudantes. 
 
11 Este texto foi escrito por mim resumindo as principais idéias sobre globalização para facilitar o 
entendimento de conceito tão complexo. 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 22 
Encontrei muitos problemas com a escrita, por parte dos alunos, além de 
questões básicas de interpretação. Enfim, eu estava dando aula para jovens do terceiro 
colegial, com mais ou menos entre 16 a 19 anos, porém eles não conseguiam muito bem 
interpretar, ler e entender. Estavam acostumados com questões avaliativas de completar 
frases, como as que se dá para estudantes de quarta série do ensino fundamental. Erro 
estrutural da escola, da sociedade e que acabou refletindo na minha pesquisa. 
Afora este erro de planejamento, li as respostas das avaliações e mais uma vez, 
lá na frente do processo, retomei as questões que a meu ver ficaram sem muito 
entendimento. Depois disso, fiz uma segunda avaliação buscando traçar um paralelo 
entre todas as músicas. Estes dados serão abordados mais à frente. 
Cumprida a etapa mais difícil do trabalho, iniciei a última fase, em que 
trabalhei a ideologia do mundo globalizado. A primeira abordagem, nesta parte do 
trabalho, foi o conceito de ideologia e, antes mesmo que eu pudesse citar, um aluno se 
lembrou da música ideologia do Cazuza. Apesar de não ter trabalhado esta música, 
cantarolei sua letra em sala para que o conceito de ideologia ficasse claro. Não achei 
prudente usar mais uma música devido ao pouco tempo que teria com eles em sala de 
aula, portanto, decidi ficar com três músicas e não quatro. 
Ainda que não trabalhasse com esta música da mesma forma que utilizei as 
outras três, fiz menção à mesma, por isso considero importante colocar aqui sua letra 
como registro que comprove como esta música pode colaborar no entendimento do que 
é ideologia. A seguir, então, Ideologia – FAIXA 7 – CD (Cazuza, 1988) 
Meu partido 
É um coração partido 
E as ilusões estão todas perdidas 
Os meus sonhos foram todos vendidos 
Tão barato que eu nem acredito 
Eu nem acredito 
Que aquele garoto que ia mudar o mundo 
(Mudar o mundo) 
Freqüenta agora as festas do “Grand Monde” 
 
Meus heróis morreram de overdose 
Meus inimigos estão no poder 
Ideologia 
Eu quero uma pra viver 
Ideologia 
Eu quero uma pra viver 
 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 23 
O meu prazer 
Agora é risco de vida 
Meu sex and drugs não tem nenhum rock ‘n’ roll 
Eu vou pagar a conta do analista 
Pra nunca mais ter que saber quem sou eu 
Pois aquele garotoque ia mudar o mundo 
(Mudar o mundo) 
Agora assiste a tudo em cima do muro 
Meus heróis morreram de overdose 
Meus inimigos estão no poder 
Ideologia 
Eu quero uma pra viver 
Ideologia 
Eu quero uma pra viver. (CAZUZA, 1988). 
 
Depois de falar sobre o tema e ampliarmos o olhar da ideologia em torno da 
globalização apresentei a eles a música Disneylândia (FAIXA 8 - CD) da banda Titãs, 
grupo primordialmente de rock and roll, que, como O Rappa, tem letras profundas e 
cheias de questionamentos sociais e políticos, principalmente as músicas mais antigas 
da banda. Este grupo, especificamente, tem ainda hoje um diálogo grande com os 
jovens, apesar de terem surgido no final da década de 1970, início dos anos 1980, no 
fim da ditadura militar brasileira. 
A composição musical é tipicamente “roqueira”, com a guitarra “gritando” e 
mostrando sua presença durante toda música, bateria bem marcada e cheia de 
“viradas”12, ou seja, toques de bateria, na maioria das vezes feitas de improvisação, que 
vão além da rotina das notas da música, porém sem sair da marcação do tempo. 
Disneylândia tem uma característica estrutural interessante e faz muita referência ao 
assunto da letra. A harmonia musical forma ciclos fechados que dão a impressão de algo 
redondo que vai e vem do início ao fim, ou seja, a composição da música é, desde o 
começo até próximo do final, a mesma, formando este ciclo repetitivo ao qual me referi 
antes, o que na música é chamado de forma. Esta composição teria, na linguagem 
musical, a mesma forma do começo até quase seu fim. 
Durante a execução musical cíclica a letra fala dos fluxos da globalização; 
pessoas, mercadorias, animais, entre outras, como mostra a letra de Disneylândia -
FAIXA 8 – CD (TITÃS; ARNALDO ANTUNES, 1993). 
 
12 Virada: Variação de notas distribuídas nos tambores/ peças da bateria 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 24 
Filho de imigrantes russos casado na Argentina com uma pintora 
judia, casou-se pela segunda vez com uma princesa africana no 
México. 
Música hindú contrabandiada por ciganos poloneses faz sucesso 
no interior da Bolívia. 
Zebras africanas e cangurus australianos no zoológico de 
Londres. 
Múmias egípcias e artefatos íncas no museu de Nova York. 
Lanternas japonesas e chicletes americanos nos bazares 
coreanos de São Paulo. 
Imagens de um vulcão nas Filipinas passam na rede de televisão 
em Moçambique 
Armênios naturalizados no Chile procuram familiares na 
Etiópia, 
Casas pré-fabricadas canadenses feitas com madeira 
colombiana, Multinacionais japonesas instalam empresas em 
Hong-Kong e produzem com matéria prima brasileira para 
competir no mercado americano. 
Literatura grega adaptada para crianças chinesas da comunidade 
européia. 
Relógios suiços falsificados no Paraguay vendidos por camelôs 
no bairro mexicano de Los Angeles. 
Turista francesa fotografada semi-nua com o namorado árabe na 
baixada fluminense. 
Filmes italianos dublados em inglês com legendas em espanhol 
nos cinemas da Turquia. 
Pilhas americanas alimentam eletrodomésticos ingleses na Nova 
Guiné. 
Gasolina árabe alimenta automóveis americanos na África do 
Sul. 
Pizza italiana alimenta italianos na Itália. 
Crianças iraquianas fugidas da guerra não obtém visto no 
consulado americano do Egito para entrarem na Disneylândia. 
(TITÃS; ARNALDO ANTUNES, 1993). 
 
Os fluxos da globalização são simplesmente descritos no decorrer da música 
sem qualquer interrupção ou crítica. A melodia que acompanha esta forma da harmonia 
musical, através do canto, tem uma estrutura quase falada e ininterrupta, como se o 
cantor não pudesse respirar, parecendo querer reproduzir notícias de jornal, como se 
jogadas umas sobre as outras de forma desenfreada. Esta música causa de certa forma 
um incômodo devido à sua estrutura e este é o objetivo, ou melhor, este era o “meu” 
objetivo e foi exatamente esta reação que os alunos tiveram à ela. Uma inquietude 
tomou conta da sala, parecia que eles também prenderam a respiração, tudo parece ter 
ficado suspenso com a música. 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 25 
Esta característica da música é típica de um dos compositores, Arnaldo 
Antunes, ex-Titãs. Ele costuma construir suas músicas de forma a entrelaçar arranjo 
musical e letra. Por exemplo, tem uma música do compositor que fala do vento e, então, 
toda ela tem uivos de ventos e sua voz quando canta a palavra, faz sons que lembram o 
vento. 
Mas voltando à música Disneylândia, essa característica de jornal flui até 
quase o final da música, quando o arranjo é quebrado para que seja dita as cinco últimas 
palavras da música “... Egito para entrarem na Disneylândia”. 
Esta é a parte mais cruel e dura da música, é onde, de fato, os compositores 
queriam chegar e para que isto acontecesse, eles construíram uma música linear, mas 
que seria bruscamente quebrada no final, pela batida firme da bateria, para que aquela 
frase ficasse em destaque das outras, dizendo que apesar de todos aqueles fluxos, trocas 
e convivências internacionais, ainda assim, crianças excluídas dentro de seus próprios 
países, mais uma vez seriam “personas non gratas” na “Disneylândia”. Ou seja, ainda 
existe exclusão, pré-conceito e, portanto estamos longe de uma realidade tal como 
apresenta o discurso ideológico da globalização. 
Esta música é a desconstrução da ideologia global de que somos um só mundo, 
um só povo, que podemos ir sem barreiras ou fronteiras para qualquer lugar do planeta. 
Esta ideologia não corresponde à realidade. As fronteiras estão cada vez maiores e mais 
rígidas, não se aceita o diferente, as “minorias” (que geralmente são maioria), o que não 
é de sua própria cultura. Portanto esse discurso da globalização é demagogia e a 
intenção com esta música foi mostrar o quão frágil é o discurso do mundo sem fronteira, 
falácia muito usada pelo marketing de empresas globalizadas. Tomo como exemplo a 
propaganda da Tim, operadora de telefonia, que tem como slogan “Tim, viver sem 
fronteiras”. 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 26 
 
Fonte: http://info.abril.com.br/aberto/infonews/fotos/tim_campanha_090309-20090309153538.jpg 
 
 
 
Fonte: http://www.lupaonline.com.br/blog/wp-content/uploads/2009/04/picture-7.gif 
 
Ainda existem várias empresas que se valem desse discurso do mundo sem 
fronteiras e que podem ser utilizados como referência juntamente com as músicas. Aqui 
ficará registrado mais uma imagem de propaganda, que foi utilizada em sala de aula, no 
trabalho, com uma das músicas. Essa propaganda trata especificamente do mundo se 
tornando pequeno diante das modificações tecnológicas. Neste caso em específico a 
publicidade é da Cargo Varig. 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 27 
 
Fonte: Revista Ícaro Brasil, apud SENE, 2003, anexo fig.4 
 
Nesta parte do trabalho houve bastante participação dos alunos. Em relação à 
música não houve oposição, em parte porque o grupo Titãs é ainda hoje bastante 
influente entre os jovens, apesar de que a composição proposta nunca tinha sido ouvida 
antes por estes estudantes. 
Não tive problemas em explicar a eles sobre exclusão. Os próprios estudantes 
já se sentiam excluídos em muitas situações e entenderam prontamente o que era a 
ideologia em torno do mundo global. Identificaram-se com o tema já que também 
sentiam que não podiam fazer parte deste mundo, que este não pertencia a eles, pois são 
adolescentes pobres que estudam à noite por terem que trabalhar durante o dia para 
ajudar com as contas da casa. Portanto, esse discurso que afirma que o planeta ficou 
pequeno e o mundo maior, sem fronteiras, não condizia com a realidade destes alunos, 
não dizia nada a eles, não fazia parte de seus cotidianos. 
Depois de terminada esta última parte do trabalho, mais uma vez foi feita a 
audição de todas as músicas e após estas execuçõesmais um debate, desta vez 
construindo uma relação entre as músicas e os temas tratados. A participação da classe 
toda foi produtiva e eficiente. Percebi que desta vez vários alunos anotavam o que ia 
Capítulo II: Da prática com a música na escola 
 
 28 
sendo dito por mim e pelos colegas durante o debate, o que não havia se observado até 
então. Ao final, mais uma avaliação (Anexo IV) escrita foi aplicada com apoio das 
anotações nos cadernos e as letras das músicas. 
Questão 01: 
 
Para você qual a relação que existe entre a música Disneylândia dos Titãs e 
Parabolicamará do Gilberto Gil? E em que elas se diferenciam? 
 
Questão 02: 
 
Agora construa a relação da música Disneylândia dos Titãs com a música 
Ninguém Regula a América do Marcelo Yuca (Rappa). 
 
Questão 03: 
 
“O que você achou da utilização de músicas na sala de aula, como um recurso 
didático? Comente”. 
 
Apesar da dificuldade que os alunos com os quais trabalhei tinham de 
estabelecer ligações entre os assuntos, achei a última prova mais proveitosa do que a 
primeira. Pude perceber com isso que os assuntos reforçados mais uma vez fizeram 
muita diferença no aproveitamento das aulas como um todo. Notei, ao final do trabalho, 
que mesmo com todas as dificuldades minhas como o planejamento da aula e com a 
falta de experiência em sala, e as dificuldades deles, alunos, em relação ao aprendizado 
e à escrita, ainda assim o trabalho teve saldo muito positivo, pois com as músicas como 
instrumento didático consegui chamar a atenção dos alunos e então, passar todo o 
conteúdo proposto. 
Capítulo III: Dos resultados em sala de aula 
 29 
CAPÍTULO III 
 
 
 
DOS RESULTADOS EM SALA DE AULA 
 
 
 
Em primeiro lugar falarei da música Parabolicamará de Gilberto Gil, a 
primeira música a ser apresentada aos alunos. As questões propostas, para esta música, 
foram anteriormente colocadas como forma de direcionar o trabalho para que no final 
obtivéssemos melhores resultados. Foram elas: 
1. Em que sentido o autor diz mundo? 
2. E a terra, qual o sentido dela, dentro da música? 
3. Parabolicamará faz referência a que? 
4. Quais frases da música te remetem ao desenvolvimento tecnológico? 
5. A música mostra pra você a mudança da percepção do espaço tempo? Em 
quais frases isso fica claro? 
6. O que a música diz do tema globalização para você? 
 
Nesta etapa do trabalho não foram cobradas respostas escritas, esta foram 
debatidas entre os alunos, a professora da turma e eu, estagiária. A primeira questão não 
foi respondida por eles, alunos. Como já me referi anteriormente, este trabalho de 
debate não era proposto com freqüência dentro de sala, portanto os alunos não estavam 
acostumados a emitir suas opiniões e a serem cobrados desta forma. Assim, com a 
primeira música, tive bastante dificuldade de ouvir dos alunos o que tinham entendido 
sobre a composição. A não ser a postura, já antes citada, preconceituosa a respeito do 
compositor Gilberto Gil. 
Diante de um silêncio e de uma imensa apreensão dos alunos e minha também, 
devido à falta de experiência em sala de aula, resolvi soltar a minha voz e começar o 
debate. Assim comecei dizendo que o mundo a que o compositor se referia não era o 
mundo espacial, o planeta, a parte física do mundo. Ali naquela frase, ele (autor) queria 
dizer das possibilidades do mundo, das mentalidades das pessoas que viviam no 
Capítulo III: Dos resultados em sala de aula 
 30 
“antes”, sem ter muitas alternativas de deslocamento, de conhecimento do mundo, das 
notícias do mundo, por isso ele era pequeno, mais restrito ao lugar, à região. Só fazia 
parte deste o próprio pedaço de solo, onde residia uma pessoa. Sair de lá, saber além do 
que acontecia lá era tarefa difícil e demorada. 
Portanto, sem as tecnologias que temos hoje, o mundo era pequeno, pois não se 
sabia muito além de seu próprio território, não se sabia muito além do horizonte, pelas 
dificuldades do transcorrer das informações e das pessoas. “Hoje o mundo é muito 
grande...”. Aqui o autor da música já diz que o mundo é grande por causa das 
tecnologias hoje incorporadas. 
Hoje, saber do mundo, andar no mundo, para o compositor da música é fácil e, 
portanto o mundo ficou pequeno em comparação com o tempo anterior, tempo em que 
as pessoas não contavam com recursos tecnológicos suficientes para levá-las de um 
lugar a outro distante com tanta velocidade, ou até mesmo sem sair de casa. Continuei 
então dizendo que a terra, por sua vez, na música dizia da questão física, porém a 
relação do espaço físico com o referencial que o analisa, ou seja, a terra era grande 
quando o mundo era pequeno, justamente porque não se sabe muito do “lado de lá”, não 
se vai com facilidade a outros lugares, todos os lugares são muito distantes e se demora 
muito para chegar, assim as pessoas tinham a idéia de que a terra era enorme. 
Hoje para o compositor a “Terra é pequena”, porque viajamos por ela 
rapidamente, temos notícias de todas as partes do globo em tempo real. O tempo que se 
gastava antes para chegar à cidade vizinha foi reduzindo drasticamente, e nem se precisa 
ir fisicamente a um lugar, basta ligar a televisão, o rádio, a internet e as notícias chegam 
do outro lado do mundo, ou vêem rapidamente de lá para cá. A partir daí, os alunos 
começaram a se soltar e falar sobre outras questões, até com outras perguntas. 
Sobre a questão três, os alunos conseguiram estabelecer a conexão entre esta e 
as questões anteriores. Vários disseram que Gilberto Gil estava falando da televisão, da 
antena parabólica. “Professora, ele quis dizer que foi a televisão que deixou o mundo 
pequeno, porque a gente viaja com ela”. Esta aluna citou uma propaganda da Rede 
Globo que passava na época. Segundo a aluna a propaganda entrevistava pessoas 
falando o quanto a emissora com suas novelas e programas fazia as pessoas viajarem 
pelo mundo sem sair de casa. Assim, ela concluiu: “então o compositor está dizendo 
Capítulo III: Dos resultados em sala de aula 
 31 
que nós viajamos no mundo por causa da televisão, por isso o mundo hoje cabe na 
televisão e por isso a terra ficou pequena. Viajo em toda ela (a terra) sentada na minha 
sala”. Eu me recordava da propaganda e achei fantástica a relação. Outros alunos 
entraram na discussão a partir daí, se recordando da televisão e concordando com a 
opinião da colega. 
A quarta questão teve participação maciça. Depois de já descontraídos, os 
alunos me disseram várias frases que se referiam ao desenvolvimento tecnológico: “de 
jangada leva uma eternidade, de saveiro leva uma encarnação”; foi a que os alunos mais 
disseram, como já era de se esperar. Também um aluno disse as primeiras frases da 
música: “Antes mundo era pequeno porque Terra era grande. Hoje mundo é muito 
grande porque Terra é pequena [...]”. (GIL, 1991). 
Perguntei por que ele estava dizendo esta frase e ele respondeu que eu tinha 
explicado porque o mundo ficou pequeno por causa da tecnologia, então aquela frase 
falava de desenvolvimento tecnológico. 
A questão cinco falava da percepção do tempo e do espaço. Nesta questão a 
resposta veio rapidamente de um aluno, o mesmo que na questão anterior tinha citado as 
primeiras frases. Ele disse que a música falava dessa mudança porque as pessoas hoje 
diziam que o tempo ficou curto e diziam que o mundo é pequeno. Que ele ouvia o pai 
falar isso. Então eu perguntei, porque o tempo é pequeno? Ele respondeu: “[...] uai, 
porque tem que trabalhar pra comprar a televisão, meu pai fala que trabalha pra comprar 
as coisas lá de casa, televisão, geladeira e o meu computador”. Outra aluna disse que 
não era só porque a gente trabalha muito, ela disse que o tempo mudou porque todas as 
notícias chegam até nós muito rápido, então “a gente acha que o tempo tá menor, mas 
não tá”. 
Perguntei para esta mesma aluna: mas o que a música esta dizendo do espaço 
tempo? Ela respondeu: “que a terra tá pequena porque a gentechega rápido nos lugares, 
porque vamos de avião e não de carroça”. Não quis entrar na questão das contradições 
de quem anda mesmo de avião, deixei então este assunto mais para frente. 
A última questão pedia para os alunos falarem o que a música diz do tema 
globalização para eles. Após a leitura da pergunta e, depois do debate, algumas 
respostas vieram rapidamente. Alguns alunos disseram, com palavras diferentes, que a 
Capítulo III: Dos resultados em sala de aula 
 32 
música fala de desenvolvimento tecnológico, portanto falava de globalização. Outros 
disseram que a música tratava da globalização à medida que falava dos fluxos de 
informações através da televisão e fluxo de pessoas pelo mundo com as novas 
tecnologias de transporte.13 
Sobre a segunda parte da aula, globalização e política, as questões colocadas 
foram acerca da música “ninguém regula a América” do grupo Rappa, também como 
uma forma de direcionar o trabalho, facilitando a compreensão dos alunos sobre o tema 
e a música. Depois da audição as questões deveriam ser respondidas em um debate. 
A primeira questão perguntava o nome da música: Sobre o nome, de que 
América a música fala? Uma questão simples, mas de fundamental importância para o 
entendimento completo da música. Logo as respostas vieram corretas, dizendo que o 
autor falava dos Estados Unidos da América. Completei dizendo do quanto as pessoas 
se valiam deste nome para se referir aos Estados Unidos, em uma demonstração da 
submissão, muitas vezes inconsciente do mundo a este país. Disse do descarte dos 
outros inúmeros países, inclusive o nosso, quando se refere a um único país pelo nome 
América. Esta música faz então uma crítica a esta forma de se referir aos Estados 
Unidos da América. 
A segunda pergunta foi: o que o autor quis dizer com o nome e o refrão da 
música? Esta questão não foi respondida de imediato. Para que os alunos conseguissem 
responder, tive que ir além com o debate para que depois eles conseguissem falar com 
clareza sobre esta questão. 
Depois de o debate ter superado a terceira questão, ficou mais fácil para os 
alunos responderem sobre o nome e o refrão da música. Os alunos conseguiram 
entender e verbalizar com clareza que a música dizia da América: que ninguém regulava 
os Estados Unidos, ninguém conseguia lhes conter, colocar “freios” em suas decisões, 
ou até mesmo interferir antes das decisões tomadas, mesmo que essas fossem de 
interesse mundial. A terceira questão era uma avaliação da letra de acordo com esses 
referenciais: 
1. protocolo de kioto; 
 
13 Todas as falas entre aspas estão da maneira que os alunos disseram; outras citadas por mim foram falas 
dos alunos, porém transcritas por mim em meu diário de campo. 
Capítulo III: Dos resultados em sala de aula 
 33 
2. Armas exportadas; 
3. a relação entre o que estamos estudando e estas frases: 
a) “forçando a porta da Colômbia com uma hipocrisia que vicia o intelecto de 
Brasília e outras capitais”. 
b) “o W. Bush de plantão limite que engatilha um novo míssil sobre o céu de 
Wall Street arriscando a todos com o medo de perder mais uma guerra”. 
 
Diante desta última questão os alunos não responderam nada, como já era 
previsto, perguntaram somente: “o que é protocolo de Kioto?” Sobre o protocolo 
respondi que era um acordo internacional para reduzir a emissão de gás carbônico na 
atmosfera, mas que os EUA não assinaram. Mais uma vez provando que o nome da 
música está de acordo com a realidade. 
Sobre as armas exportadas expliquei que os EUA vendiam armas para o 
oriente, culminando em grandes massacres. Ao invés de usar sua influência para apartar 
as constantes guerras, este país lucra sobre os dolorosos conflitos orientais. 
Diante destas revelações os alunos se indignaram, ficaram curiosos a respeito 
como estas vendas de armas eram feitas, como eles tinham tamanha coragem? Como 
eles não se importavam com tantas mortes? O debate então por um tempo ficou em 
torno destas questões e eu deixei-os a vontade para este momento já que achei muito 
produtivo o estado de indignação dos alunos. Acredito que esse sentimento é o melhor 
incentivo para o aprendizado, para a investigação e pesquisa, pois contrariando o 
positivismo, a ciência a meu ver tem que se envolver de muita paixão, de um sentimento 
forte, de uma fome, uma sede de saber e isto só é possível com uma inquietude anterior. 
Bem, voltando aos resultados, fiquei impressionada com o envolvimento dos 
alunos nesta fase das aulas, pude acompanhar os questionamentos que surgiram através 
desta aula, desta música. 
Sobre o último item da última questão e que passava por duas frases, os alunos 
falaram sobre o poder, a influência dos Estados Unidos sobre os outros países da 
América, principalmente sobre o Brasil. 
Capítulo III: Dos resultados em sala de aula 
 34 
Quanto à última frase, falei das fortes desconfianças de que o W. Bush tenha 
sido responsável pelo ataque dos “11 de Setembro”, apesar de esta música ter sido 
lançada antes. Mas esta faz menção, sobre tudo, à incontestável capacidade do então 
presidente dos Estados Unidos da América arriscar seu próprio povo em prol de uma 
vitória em uma batalha, seja por dinheiro, por terras, por petróleo, por controle 
econômico ou intelectual. 
O próximo passo foi aplicar uma avaliação escrita aos alunos, uma avaliação 
que considerei, como já disse anteriormente, inadequada. Não tive, por falta de 
experiência, o discernimento de aplicar uma prova adequada aos alunos, quis dentro de 
minha própria ideologia fazer uma prova brilhante, porém descobri que uma prova ideal 
inserida dentro de um dado contexto real pode se transformar em uma ferramenta frágil 
de avaliação. Assim foi com esta prova, que para realizá-la os alunos puderam consultar 
as letras das músicas e os cadernos de anotações e o texto que lhes dei no momento da 
prova.14 (Anexo I). 
A primeira questão tratava do conceito de globalização e seus desdobramentos 
na sociedade: Questão 01: “Toda a história pré-capitalista da humanidade se desenrola 
no contexto de quadras espaciais restritas. Isso significa que inexiste, até o advento do 
capitalismo, uma história universal. São modos de produção inscritos em quadros 
particulares, em histórias ímpares e autônomas. Os contatos entre as civilizações são 
inexistentes, tênues ou esporádicos”. (MORAES; COSTA Apud SENE, 1987, p. 82.) 
“Com base nesta frase e seus conhecimentos fale o que você entende sobre a 
globalização e seus desdobramentos na sociedade”. Em relação a estas questões obtive 
respostas como as seguintes: 
O mundo inteiro resumia-se a pequenos povos ocultos dos demais 
existentes no restante do mundo, porém após a idéia da globalização 
entrar em vigor notou-se a união e a aproximação de povos com base 
na tecnologia facilitando assim o contato contínuo com esses outros 
povos, fazendo o mundo parecer pequeno, social, cultural, econômico 
e político. (Aluno 1) 
 
Globalização é uma mundialização do capitalismo, com impacto na 
economia, na política, na cultura e no espaço geográfico, então pode 
se dizer que a globalização seria uma aceleração em todos os setores 
da vida. Uma aceleração na tecnologia onde você pode ter acesso a 
 
14 A partir daqui os textos entre aspas foram escritos pelos alunos, portanto não serão corrigidos 
gramaticalmente. 
Capítulo III: Dos resultados em sala de aula 
 35 
todo o mundo, sem se mover, pede estar em lugares distantes em 
pouco tempo. (Aluno 2) 
 
Globalização é um fenômeno que vem se desenrolando há séculos e , 
afeta a cultura, a política, a sociedade, além das economias. A 
globalização torna os países mais desenvolvidos, devido às inovações 
tecnológicas, gerando sustentabilidade, oportunidades para a 
população. A globalização afeta completamente a vida das pessoas, 
pois devido a ela, passamos a ter influências

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