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TCC Bruna Cipolatti Lopes

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO - IE
 CURSO DE PEDAGOGIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
A MÚSICA NA ESCOLA: POSSIBILIDADES DA CONSTRUÇÃO DE UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA COM AS CRIANÇAS
Bruna Cipolatti Lopes
Orientadora: Profª. Drª. Luciana Netto Dolci 
Resumo: Este trabalho tem o objetivo de analisar e de compreender como a música auxilia na aprendizagem das crianças, bem como averiguar como é utilizada a música na Educação Infantil e nos Anos Iniciais, a fim de perceber o foco dado para desenvolver o aprendizado das crianças. Assim, abordo a temática sobre a música na educação especificamente em seis turmas, quatro na Educação Infantil e duas no primeiro ano do Ensino Fundamental em uma escola privada deste município. O método de coleta de dados consistiu em dois momentos. O primeiro diz respeito a entrevista com seis professoras da escola e o segundo momento refere-se as observações realizadas na sala de aula do primeiro ano do Ensino Fundamental Anos Iniciais, em que fui a professora estagiária. Este momento complementou a coleta de dados, a fim de perceber, por meio das falas e das ações dos alunos, se a música influencia no processo de aprendizagem deles. A análise dos dados escolhida foi o método de Análise de Conteúdo (BARDIN, 2000; FRANCO, 2007). Os resultados obtidos são relevantes, pois a música pode atuar de maneira significativa na aprendizagem das crianças investigadas, promovendo o desenvolvimento da criatividade, da autodisciplina, despertando as emoções, assim como a consciência crítica e estética nos alunos. Desse modo, esta pesquisa me auxiliou na minha formação enquanto docente que visa um pensamento estético nas práticas de sala de aula e também para que os professores envolvidos na pesquisa e tantos outros, possam se reavaliar e repensar as suas práticas utilizando a Educação Estética.
Palavras-chave: Música na sala de aula, Educação, Cantigas de Roda, Educação Estética.
Abstract: This work aims to analyze and understand how music helps children learn, as well as to find out how music is used in Early Childhood Education and in the Early Years in order to perceive the focus given to developing children's learning. Thus, I approach the theme about music in education specifically in six classes, four in Early Childhood Education and two in the first year of Elementary School in a private school in this municipality. The method of data collection consisted of two moments. The first one concerns the interview with six teachers of the school and the second one refers to the observations made in the classroom of the first year of elementary school, in which I was the trainee teacher. This moment complemented the data collection, in order to perceive, through the speeches and the actions of the students, if the music influences in the learning process of them. The analysis of the data chosen was the Content Analysis method (BARDIN, 2000; FRANCO, 2007). The results are relevant because music can play a significant role in the learning of the children investigated, promoting the development of creativity, self-discipline, arousing emotions, as well as critical and aesthetic awareness in the students. In this way, this research helped me in my training as a teacher that aims at an aesthetic thinking in classroom practices and also so that teachers involved in research and many others can reevaluate and rethink their practices using Aesthetic Education.
Keywords: Music in the classroom, Education, Wheel songs, Aesthetic Education.
1 INICIANDO AS APRESENTAÇÕES
Este trabalho faz parte da proposta do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande - FURG, e que é uma exigência para a conclusão do mesmo, porém eu vejo a sua importância muito mais do que uma simples escrita de conclusão do curso. Considero um movimento de ir e vir, de contar e recontar, de pensar e repensar sobre a minha experiência como acadêmica do Curso de Pedagogia, valorizando o que ficou de mais significativo na minha constituição docente.
Possuo uma formação anterior a esta, pois a minha primeira opção de curso sempre foi a Pedagogia, mas por preconceito vindo de outras pessoas, que afirmavam que o curso é voltado para a realização de flores e borboletas, acabei me deixando persuadir por este pensamento. Realizei o meu sonho de aprender a língua francesa, me formando nesta universidade no ano de 2010 e me encantei com a Língua Portuguesa o que me fez cursar a pós-graduação, também nesta universidade, concluindo-a no ano de 2012. Entretanto, ao começar a atuar percebi que não me encontrava muito à vontade diante dos alunos e que gostaria de estar no lugar das outras professoras com os menores. Desta forma, busquei reingressar à universidade e concretizar o meu amor e o meu desejo em trabalhar, principalmente, com os Anos Inicias. 
A escolha desta temática surgiu por meio de observações que comecei a realizar a partir dos aprendizados obtidos durante os anos de graduação, visando me afastar da educação tradicional
 e me aprimorar em uma educação que fosse para, além disso, lúdica, divertida, encantadora e rica em aprendizagem como deve ser. Esta escrita vem sendo construída ao longo da minha trajetória de vida, principalmente desde que me tornei docente, ela me fez refletir e trazer à tona sentimentos e percepções que fizeram parte da minha infância e que tornaram as minhas aprendizagens mais significativas. Embora tenha uma conotação formal e embasada teoricamente em autores estudiosos do tema, a tenho como um grande desafio e também como uma possibilidade de escrever sobre as minhas inquietudes e a profissional que desejo encontrar, no meu íntimo, no decorrer da carreira.
Observar a atuação das professoras da instituição em que atuo e em outras escolas que a Pedagogia me possibilitou trazer à tona questionamentos sobre a utilização da música na alfabetização. Penso que a alfabetização não faz parte somente dos Anos Iniciais, ela está presente em toda a vida cotidiana das crianças e muito mais ainda na Educação Infantil. Desta forma, ver a música sendo utilizada com instrumento de ordem ou simplesmente como meio de organizar me despertou o interesse em buscar formas que pudessem modificar esta situação na sala de aula. Afinal a música é dinâmica, podendo através da utilização dela, realizar diversas atividades que proporcionem o aprendizado lúdico e divertido, fugindo dos meios tradicionais muito utilizados ainda atualmente.
2 METODOLOGIA DA PESQUISA: UM DIÁLOGO COM A DOCÊNCIA
Nesta parte de meu trabalho abordarei a metodologia utilizada para que fosse possível a realização deste projeto de música na escola, que foi executado juntamente com o meu estágio, bem como foi o espaço para desenvolver a minha pesquisa acerca do tema: a música no processo de ensino e aprendizagem. Inicialmente, penso ser necessário apresentar a instituição em que realizei o referido projeto, bem como as professoras que fizeram parte me auxiliando no questionário realizado. Trata-se de uma escola particular, no bairro Cidade Nova, na cidade de Rio Grande; foi fundada em 13 de novembro de 2000 por um grupo de professores e funcionários, surgindo a partir do momento que o grupo mantenedor da Escola decidiu fechá-la. Diante dessa possibilidade, o novo grupo uniu-se para que as atividades da Escola não fossem interrompidas. 
Os questionamentos surgiram a partir da observação diária nesta instituição, durante a atuação de algumas professoras nos corredores, no pátio e na sala de aula que pude observar, principalmente uma fala da professora que me marcou muito: “Trabalhar com música só dá bagunça!”. Alguns atos, juntamente com os conteúdos aprendidos durante o curso, começaram a me causar diversas desacomodações que acabaram por me fazer ter interesse em promover um projeto em que fosse possível abolir com os questionamentos, tais como: “Por que os professores não utilizam a música como forma de aprendizado?” e “ A música é capaz de auxiliar na alfabetização?”. Diantedestas perguntas surgiu a questão problema desta pesquisa: Se a música auxilia na aprendizagem significativa das crianças deste estudo? 
Com base nesta questão de pesquisa, tracei como objetivo geral: Compreender como a música auxilia na aprendizagem das crianças. E, ainda, elaborei os seguintes objetivos específicos: (1) Identificar como as professoras desenvolvem a metodologia de trabalhar com a música; (2) Verificar se o trabalho desenvolvido com a música pelas professoras investigadas propicia na aprendizagem significativa com as crianças; (3) Perceber se as professoras utilizam a Educação Estética por meio da música no processo de ensino-aprendizagem e (4) Averiguar e divulgar se a Educação Estética utilizando a música auxilia na aprendizagem significativa.
A presente pesquisa segue uma perspectiva qualitativa, por considerar a mais adequada ao tema investigado, pois a pesquisa conta com discursos e significados produzidos nas relações existentes entre professor e aluno no contexto educativo, considerando a interpretação dos dados e não apenas a quantificação.
Os sujeitos desta pesquisa são seis professoras que responderam ao questionário, sendo quatro da Educação Infantil e duas do primeiro ano dos Anos Iniciais. Cabe ressaltar que além do questionário, a observação e o registro reflexivo do relatório de estágio também compuseram este corpus de coleta de dados. Sendo assim, o método de coleta de dados consiste em dois momentos. O primeiro diz respeito a entrevista com as referidas professoras da escola e o segundo momento refere-se as observações realizadas na sala de aula do primeiro ano do Ensino Fundamental Anos Iniciais, em que fui a professora estagiária. Este momento complementou a coleta de dados, a fim de perceber, por meio das falas e das ações dos alunos, se a música influencia no processo de aprendizagem deles. 
Também é importante dizer que por dificuldade de disponibilidade para nos encontrarmos fora da escola, elas levaram para as suas casas o questionário e tiveram sete dias para entregar as respostas. Elas se chamaram por nomes fictícios escolhidos por elas com as razões que acharam convenientes. Sendo elas: a Magda, que foi a sua primeira professora e escolheu este nome por ter muita admiração e boas recordações. A Vicentina teve este nome escolhido por ser o nome da sua vó, que era uma pessoa da qual se orgulha muito e era muito presente em sua vida. A Maria do Carmo, escolha feita por se tratar da professora que teve na Educação Infantil, ela realizava um trabalho diferenciado, era carinhosa e acabou por se tornar a inspiração para escolher a Pedagogia como profissão. A Terezinha escolheu este nome por ser o da professora do segundo ano da pré-escola do seu filho. Ela que com muita dedicação, respeito, carinho e persistência a conquistou e a inspirou a ingressar no curso de Pedagogia. A Florisbela, escolhido pois acha o nome engraçado. E a Ivone, que seria o seu nome referente ao nome do seu padrinho que era Ivon e gostaria que ela se chamasse assim. 
As perguntas que foram respondidas por elas no questionário foram:
1) Como você utiliza a música na sala de aula?
2) Em quais disciplinas você a utiliza?
3) Quais são os momentos em que a música é utilizada em sala de aula?
4) Que tipo de música escolher para trabalhar?
5) As crianças têm oportunidade de escolher a música a ser trabalhada?
6) Você acha que a música é uma forma de aprendizado?
Desta forma, as respostas obtidas por meio do questionário são analisadas através da análise de conteúdo da Bardin (2000) e Franco (2007) para realizar este procedimento de análise.
um conjunto de técnicas de análise de comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2000, p. 42).
Baseada na perspectiva de Bardin (2000), realizei a análise a partir de uma exploração do material, uma leitura realizada com o intuito de conhecer as respostas apresentadas pelos alunos e destacar os pontos principais a serem abordados mediante à constatação dos resultados encontrados. E ainda embasada nesta concepção de análise, busquei categorizar por afinidade os pontos pertinentes a serem destacados, de modo a contemplar os objetivos propostos por este trabalho.
3 RESULTADOS DA PESQUISA
Apresento os resultados desta pesquisa, primeiramente trago as análises das respostas da entrevista com as professoras. Logo após, exponho as reflexões acerca das observações e das verbalizações realizadas no período do estágio docente. Vale dizer que após serem feitas as análises dos dados coletados surgiram duas categorias de análise: “A música na concepção das professoras: um olhar para a aprendizagem significativa” e “Alfabetizar por meio da Educação Estética: percebendo a utilização da música na turma do primeiro ano B”.
3.1 A MÚSICA NA CONCEPÇÃO DAS PROFESSORAS: UM OLHAR PARA A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
Após observar, interpretar e entender as respostas de cada uma das professoras, foi possível discriminar as respostas e assim começar as análises para posteriormente concluirmos os questionamentos deste trabalho. Na primeira questão, que se refere a utilização da música na sala de aula, percebi, com base nas entrevistas e nas observações diárias, que a maioria delas utiliza a música tanto em cds como na voz dos alunos, sempre buscando tratar de conceitos a serem trabalhados, como também fixar, explorar a concentração, a atenção e a percussão corporal dos alunos. Para Magda, Vicentina, Florisbela e Ivone a música tem por finalidade transformar o ambiente em um espaço lúdico e divertido, como nos fala Magda, “... a fim de tornar o ambiente lúdico e divertido.” Porém para a Maria do Carmo e a Terezinha ela é tratada como uma ferramenta, um material de apoio, pelas palavras de Terezinha, “Utilizo a música como um importante material de apoio, como forma de abordagem aos mais diversos temas.”. 
Com relação a segunda questão, que diz respeito as disciplinas que a música é utilizada, somente a Florisbela não respondeu em todas as disciplinas, pois disse que em algumas vezes consegue utilizar a música para trabalhar conteúdos de Estudos Sociais, conhecimentos gerais e boas maneiras, quando nos diz “No Português, Matemática, Ciências e algumas vezes para Estudos Sociais e conhecimentos em geral, além de boas maneiras”. Enquanto todas as outras professoras dizem utilizá-la em todas as disciplinas e conseguem visualizar a música de uma maneira distinta, trago a fala de uma das professoras, pois como ela diz, a música é um“...modo diferente de ensinar, de socializar e a forma lúdica de aprender algo novo (Maria do Carmo). ” 
Mas o que é lúdico? Existem diversas teorias e pensamentos sobre o conceito, porém eu me apoio no pensamento de Vygotsky (2000) que vê a brincadeira como fundamental para o desenvolvimento das crianças, pois segundo ele o aprendizado acontece por meio da interação com o ambiente e com os outros, desta forma, é importante que existam jogos, brincadeiras e muita imaginação em sala de aula. Visto que o brincar, principalmente utilizando a imaginação, possibilita que se tenha a percepção de determinados conhecimentos e valores, que ao imaginar, representar e seguir regras faz com que se atue, o que o autor chama de zona de desenvolvimento proximal do indivíduo. Percebo, então, a importância de permitir que a criança brinque com a sua imaginação, pois nela é representado e criado comportamentos e hábitos vistos no mundo do adulto, quando nos afirma que “o jogo da criança não é uma recordação simples do vivido, mas sim a transformação criadora das impressões para a formação de uma nova realidade que responda às exigências e inclinações dela mesma” (VYGOTSKY, 2000, p. 82)
Visto isto percebo que é de suma importância a presença do lúdico na sala de aula, pois ele é capaz de desenvolver o aluno socialmente, emocionalmentee intelectualmente. Planejar uma brincadeira, com os objetivos que se deseja alcançar, é a melhor forma de se ter um aprendizado significativo, desenvolvendo a zona de desenvolvimento proximal estaremos promovendo a constituição do aluno.
Na questão número três, que trata em quais os momentos em que a música é utlizada na sala de aula, a Magda, a Vicentina, a Maria do Carmo e a Terezinha dizem utilizá-la em todos os momentos, como para apresentar o que será trabalhado, brincar, relaxar, hora do conto, artes, lanche, fila e projetos, como nos esclarece Vicentina “Pode ser em qualquer momento a qual seja necessário ou apenas para brincar e até mesmo relaxar.”. Já a Florisbela e a Ivone utilizam na apresentação de novos conteúdos e no reforço dos mesmos, porém saliento que a Vicentina, a Terezinha e a Ivone também a utilizam para relaxar e acalmar as crianças.
Por que utilizar a música como forma de aprendizado? Porque com base na Lei nº 11.769, de 18 de agosto de 2008, é obrigatório o ensino de Música na Educação Básica. Afinal a música nos proporciona aprimorar a audição, a apreciação, a criação, e execução e a interpretação, conforme o que diz Bellochio, sobre a importância da música na sala de aula:
A Educação Musical compreende o processo de ensino e de aprendizagem escolar que potencializam o desenvolvimento de competências musicais, a partir de experiências musicais de natureza diversificada. Trata-se da relação que o indivíduo estabelece com os eventos sonoros do seu cotidiano, e também com sons de diferentes culturas, principalmente em relação ao seu próprio tempo histórico, seu cotidiano, permitindo entender que existe(m) ―música(s)‖. Dessa forma, o ensino de Música na escola deve expressar seu caráter social, de modo dialético, amplo e localizado. A Educação Musical implica o desenvolvimento musical como instrumento de intermediação social que possibilita ao sujeito o desenvolvimento das habilidades de ouvir, apreciar, compor, executar, falar sobre música(s) (BELLOCHIO, 2000, p.38).
Vejo a música como sendo capaz de influenciar na emoção das pessoas e, assim, ajuda a desenvolver a percepção, a experimentação, a sensibilização, a emoção, a criação, a recriação e a reflexão sobre os acontecimentos cotidianos. É através da sua escuta que pode tocar sentimentalmente quem a compreende e assim ela nos possibilita que exista uma comunicação usando a expressão corporal, facial e outras. Conforme nos afirma Snyders (1994):
Sabemos da alegria que os jovens encontram em comunicar-se com “outros” jovens, com “outras” pessoas, graças a suas músicas, através de suas músicas: escapando às barreiras das linguagens, vive a diversidade, acolhem a diversidade, levam em conta as diferenças – e isto lhes parece com frequência ser o valor essencial, seu valor essencial: na escuta e nas atividades musicais, eles conseguem dividir, o que é a forma mais satisfatória de respeitar, cada um pode ter a sua parte da música, e é talvez nela que estejamos mais inteiros (SNYDERS, 1994 p. 92).
Entendo também que a música é capaz de expor o que as pessoas estão sentindo, pensando, fazendo e almejando, pois ela está diretamente vinculada as memórias, seja dos momentos vividos, dos vistos e dos imaginados. Desta forma, ela faz com que o sujeito ao ouvi-la realize um diálogo interno sendo capaz de complementar o pedagógico na escola. Pois segundo Snyders (1994, p. 96) ela faz com que os alunos adquiram para suas vidas a cultura de onde vivem e ainda transmite a sua cultura para outras músicas e se sensibilizem ao adquirir o que está sendo escutado.
Percebo que a sociedade vem evoluindo muito o pensamento quanto a sua diversidade, e isto faz com que a escola acompanhe o processo juntamente. Nesse sentido, ter um espaço escolar que seja descontraído e que possibilite a expressão, a comunicação, o interesse e o conhecimento é o mais adequado para o momento da aprendizagem. A música é capaz de proporcionar todos os aspectos desejados para o ambiente educativo, pois ela faz com que aconteçam interações entre o grupo. Ela ainda desenvolve os alunos na percepção auditiva, na imaginação, na coordenação motora, na memorização, na socialização, na expressividade, na percepção espacial, sendo capaz de realizar a emancipação dos sujeitos, pois com a sua ludicidade trabalha muitas áreas de desenvolvimento. Em concordância com Stabile (1988, p. 122),
A expressão musical desempenha importante papel na vida recreativa de toda criança, ao mesmo tempo em que desenvolve sua criatividade, promove a autodisciplina e desperta a consciência rítmica e estética.
Na pergunta número quatro, que questiona o tipo de música que são escolhidas para trabalhar na sala de aula, todas trabalham com a música voltada para a faixa etária dos seus alunos, sendo elas reproduzidas na mídia e cuja a letra tem a intencionalidade de doutrinar através da repetição, sempre as adaptando para os temas a serem trabalhados e que promovam a memorização e a assimilação dos conteúdos. A Vicentina foi a única a mencionar que às vezes utiliza outras músicas a fim de perceber as reações dos seus alunos, “Geralmente é a música infantil, mas gosto de mostrar outras e verificar as reações.” 
Pensando neste viés da utilização da música vejo que é necessário que os professores percebam que a música exerce um papel social na nossa sociedade, e que ela pode e deve auxiliar o aluno no desenvolvimento da linguagem formal e informal, tanto na oral como na escrita. Assim, vejo a necessidade de práticas pedagógicas que oportunizem momentos de prazer e aprendizado.
Qualquer proposta de ensino que considere essa diversidade precisa abrir espaço para o aluno trazer música para a sala de aula, acolhendo-a, contextualizando-a e oferecendo acesso a obras que possam ser significativas para o seu desenvolvimento pessoal em atividades de apreciação e produção (PCN, ARTE, 2011 p.75).
Já na questão número cinco, que interroga se as crianças podem escolher a música a ser trabalhada em sala de aula, a Magda, a Vicentina, a Maria do Carmo e a Terezinha possibilitam em momentos exclusivos que eles escolham as músicas, como na “Roda Musical”, na hora do lanche e na fila como descreve a Magda, “No final da aula fazemos uma “Roda Musical”, que é um momento livre de trabalhar a musicalidade, pois as crianças escolhem diferentes músicas para dançarmos e cantarmos.”. Mas a Florisbela e a Ivone não possibilitam a escolha, pois dizem que eles preferem as músicas da mídia que não são adequadas para as suas faixas etárias e que fugiriam ao tema trabalhado no dia a dia deles em sala de aula, conforme a fala de Floribela, “Nem sempre, pois as músicas são voltadas para o dia a dia deles em sala de aula e muitas vezes eles preferem as músicas da mídia que não são adequadas para sua faixa etária.” . 
Concordo em partes com as professoras, acho importante haver uma seleção de músicas, pois vejo a necessidade de apresentar outras culturas, sendo um professor mediador de trocas e diversidades de gêneros musicais. Afinal a mídia atual não tem limitações e divulga diversos tipos de trabalhos que podem ser favoráveis ou desfavoráveis no ponto a ser trabalhado. No entanto, quando a música é bem trabalhada ela desenvolve o raciocínio, a criatividade e tantos outros aspectos necessários para a emancipação dos sujeitos, então, devemos sim pensar a música que irá se trabalhar, podendo ser músicas da mídia ou músicas de acordo com a faixa etária dos alunos.
E, por fim, na questão número seis, que se refere se as professoras acham que a música é uma forma de aprendizado, todas acreditam na importância da música como forma de aprendizado, uma vez que elas dizem ser mais divertida e encantadora, que possibilita explorar e desenvolver a coordenação, a lateralidade, o equilíbrio, a linguagem, os valores, a memorização, o imaginário e o conhecimento do próprio corpo. Elas dizem que a música é uma forma ampla de aprendizado e que é “... dinâmica por si só! ”, como diz a Vicentina.
O que concordo plenamente, pois vejo a música eacrescento também a dança, podendo atuar no corpo e despertar sentimentos, emoções, fazendo com que os alunos sintam prazer em aprender e compreender o que está sendo ensinado. A presença da música na sala de aula faz com que diminua a sensação de monotonia e aumente a excitação dos alunos em aprender , despertando o interesse. Afinal a música é arte, e a arte propricia a criação e a recriação, diversificando a rotina da classe, podendo conter dança, teatro, brincadeiras, movimento, entre outros.
A arte aumenta a eficiência do homem – e daí reformadores como Frourier terem atribuído grande valor à música e as outras formas de arte que o trabalhador goze durante o trabalho, sentindo-se mais feliz com a vida que vive e com o trabalho que executa (FREYRE, 1980, p. 17). 
Após analisar as respostas e observá-las na rotina diária, percebi que para muitas a música é uma ferramenta que domestica os corpos, pois é utilizada como meio de ordem, principalmente quando se trata da fila e da hora do lanche. Sendo muito mais utilizada com este intuito do que como forma artística capaz de desenvolver a exploração dos corpos, a socialização e o lúdico, pois é na maioria das vezes utilizada de acordo com o tema que está sendo trabalhado. Incomodou-me muito o fato de que ela é uma ferramenta para a maioria delas, deixando de ser explorada devidamente e sendo vista somente por esse viés, isto faz eu pensar que talvez a Educação Estética não faça parte do conhecimento das professoras ou não esteja no planejamento das mesmas. Mas ainda no caso da maioria delas vejo que a música é mais bem explorada e trabalhada, contribuindo para o aprendizado dos alunos através da ludicidade e da criatividade que ela nos permite trabalhar. 
Gostei muito de vê-las utilizando a música como forma de relaxamento e exercício de concentração, acredito que estes também são exercícios possíveis e estimulantes da utilização da música. E percebi que o uso da música nos Anos Inicias é diferente da Educação Infantil, pois nos Anos Iniciais a música é mais vista e utilizada ainda como meio de assimilação, compreensão e memorização dos conteúdos que estão sendo aprendidos. Por um lado, entendo esta abordagem, pois se trata do primeiro ano da alfabetização propriamente dita, mas acredito também que eles ainda necessitam da brincadeira e do lúdico para aprender. Desta forma, posso concluir que a utilização da música pelas professoras em questão deve ser melhor avaliada para que se obtenha os resultados esperados devido a amplitude de conhecimentos que a música pode nos oferecer no ensino.
3.2 ALFABETIZAR POR MEIO DA EDUCAÇÃO ESTÉTICA: PERCEBENDO A UTILIZAÇÃO DA MÚSICA NA TURMA DO PRIMEIRO ANO B
Nesta parte do trabalho analisarei qualitativamente as respostas dos alunos às atividade que propus na referida turma, articulando a teoria que fundamenta os estudos e resultados voltados a este olhar estético sobre a prática da música realizada durante o período de estágio obrigatório em sala de aula. Apresentarei as minhas interpretações no que diz respeito aos sentimentos e as percepções manifestadas pelas crianças, buscando compreender e elucidar os pontos mais significativos do trabalho com a música em sala de aula.
Mas como devem ser os momentos na sala de aula? O que fazer para que eles sejam significativos e produtivos? Como deve ser a alfabetização? Como deve atuar o professor? Como fugir de uma educação tradicional sem causar estranheza e choque para os colegas da escola, para os pais e para a comunidade? Com estes questionamentos fui atrás das repostas, e, antes de elucidar as análises, trago as teorias em que apoio este trabalho, bem como as concepções pedagógicas que me motivam a ser uma professora que porporciona um espaço significativo para os alunos. Sendo assim, inicio com base em Brandão (2003), pois acredito que um espaço onde haja aprendizagens significativas, que valorizem o cotidiano e os conhecimentos prévios de quem participa da aprendizagem, deve ser valorizado e enriquecedor, principalmente na alfabetização. E como explica Brandão (2003), 
alfabetizar é criar as condições de um aprendizado que eleve o educando a um círculo mais amplo de comunicações. Alfabetizar não é ensinar a ler e escrever. Alfabetizar é permitir que as pessoas ampliem seus campos de diálogo com outras pessoas dos seus círculos de vida através, também, do aprender a ler e escrever. A aquisição qualificada de habilidades funcionais de acesso e usa da palavra escrita é importante nesse processo de descobertas, mas não é a única aprendizagem essencial na alfabetização. (BRANDÃO, 2003, p. 219).
Cabe ao professor possibilitar essa educação mais humana em sua prática pedagógica, construindo junto com os educandos um espaço de aprendizagem satisfatória, no qual o professor lança desafios, aprende e ensina. Sendo um lugar que permita a prática da autonomia e a livre expressão de todos os sujeitos, que possibilite a aprendizagem por meio de brincadeiras, de ludicidade, estimulando a criatividade e a criticidade nos educandos. Um espaço que seja organizado responsavelmente para que a aprendizagem se dê como processo de construção de saberes e identidades. Horn (2004) esclarece que é preciso pensar para além do ambiente, 
portanto, não basta a criança estar em um espaço organizado de modo a desafiar suas competências; é preciso que ela interaja com esse espaço para vive-lo intencionalmente. Isso quer dizer que essas vivências, na realidade, estruturam-se em uma rede de relações e expressam-se em papeis que as crianças desempenham em um contexto no qual os moveis, os materiais, os rituais de rotina, a professora e a vida das crianças fora da escola interferem nessas vivências. (HORN,2004.p.15)
Para tanto é necessário que o educador tenha sua concepção de educação clara, que possa através dos planejamentos e práticas realizar aquilo que acredita, tendo o seu planejamento composto de ações que reconheçam e valorizem a cultura dos educandos, mas que também proporcione momentos de descoberta, de conhecer o novo, de aprofundar conhecimentos e saberes. Como Granado (2004) explica,
a definição de uma metodologia de trabalho como jogos na sala de aula somente começa a ser possível de se discutir com os avanços no campo da Psicologia, em que o indivíduo passa a ser dinamizador do seu próprio processo de aprendizagem e não mais um mero assimilador de conhecimentos transmitidos. Os educadores necessitam conhecer determinados componentes internos dos seus alunos para orientar a aprendizagem deles, de maneira significativa. (GRANADO, 2004, p. 10).
O professor como mediador é outro aspecto importante e fundamental de se buscar com o auxílio de Freire (2000), pois o educador em seu discurso carrega significados essenciais que servem de referencial para os seus educandos, sendo assim, um pilar importantíssimo na construção do processo de aprendizagem. Porém, devemos nos perceber como seres inacabados e que se encontram em constante desenvolvimento, por isso o diálogo e o compartilhar o conhecimento devem acontecer constantemente para que o crescimento e o amadurecimento do homem existam, demonstrando a necessidade de sermos educados. Freire (2000) deseja que sejamos educadores que emancipem os educandos, que tenhamos paixão, sonhos, opiniões e que busquemos o belo, e a beleza que está dentro de cada um de nós, nas relações, nas etnias, na igualdade e na gentileza, valorizando a vida, a natureza e a beleza. Vale dizer que Freire nos alerta para educar esteticamente os sujeitos a fim de que se dê uma educação mais equilibrada.
Quando vivemos a autenticidade exigida pela prática de ensinar-aprender participamos de uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética, em que a boniteza deve achar-se de mãos dadas com a decência e a serenidade. (FREIRE, 2006, p. 24.)
Paulo Freire (2006) acredita em uma educação ética e estética, que busca uma mudança por completo no sujeito, desta forma, nos considerarmos como inacabados é ser consciente, corajosoe ousado, pois os valores éticos e estéticos são indissociáveis e estão diretamente relacionados com o mundo e o que o cerca. Ser crítico e autêntico, buscando participar e transformar o meio em que estamos inseridos é ter uma visão completa do que é belo, do que é estético, de autonomia, de liberdade e do que devemos buscar como educadores, formadores de sujeitos, uma educação voltada para o desenvolvimento integral do educando.
Pensar em alfabetização me remetia ao tradicional, ou seja, ao sistema alfabético, ao copiar e ler, saber o que são desenhos, letras e números, porém atualmente vejo como muito além do que os seus significantes e significados. Com base em Emília Ferreiro (1986), percebo este processo como uma construção de conhecimento a partir dos já adquiridos pelos alunos, indo além das representações e sendo um movimento dialético, que acabaram por me influenciar e me fizeram repensar as práticas alfabetizadoras. Uma alfabetização construtivista foi o que me encorajou a modificar minhas vivências, mesmo que muitas vezes não sejam muito bem vistas por professores tradicionais e pelo pais que também tiveram um ensino tradicional, mas pensar no aluno como um construtor do conhecimento sendo o que move a educação atual. O que é comprovado nos Referenciais Curriculares Nacionais para Educação Infantil e nos Parâmetros Curriculares Nacionais, tendo às ideias da autora:
Os resultados dessas investigações também permitiram compreender que a alfabetização não é um processo baseado em perceber e memorizar, e, para aprender a ler e escrever, o aluno precisa construir um conhecimento de natureza conceitual: ele precisa compreender não só o que a escrita representa, mas também de que forma ela representa graficamente a linguagem. (BRASIL, 1997, p. 21).
Com esta pesquisa e com o desenvolvimento do projeto de música durante o meu estágio docente percebi que a alfabetização está diretamente relacionada ao contexto do aluno, desta forma novamente ressalto o fato de acreditar na necessidade de buscarmos uma aproximação da alfabetização com a Educação Estética. Pois fazer o sujeito se perceber, perceber o seu mundo e o lugar que ele ocupa, irá ajudá-lo a compreender este processo tão importante e significativo para a sua inserção no mundo da escrita. É válido dizer que foi com as suas descobertas na Psicogênese da Língua Escrita que Ferreiro (1985), rompeu com as práticas tradicionais de alfabetização e fez com que se questionasse sobre os métodos e as cartilhas utilizadas para o processo. Mostrando que a criança passa por quatro etapas diferentes para completar o ciclo de alfabetização, são as fases: Pré-silábica: a criança ainda não relaciona as letras com os sons que utiliza na fala; Silábica: a criança interpreta a letra da sua maneira e os valores para cada sílaba e letra são do seu modo; Silábico-alfabética: já reconhece os valores das letras e sílabas, porém ainda não sabe como ordená-las; e a alfabética: que é quando a criança já domina as letras e as sílabas conseguindo realizar leituras.
Desta forma, pensar que a alfabetização acontece somente na escola é errôneo, pois vivemos em um meio social letrado, onde lemos diversas placas, letreiros e todas as informações que nos rodeiam, e fazem com que sejamos leitores mesmo antes de conhecermos as representações das letras. Mas afinal o que significa ler, ter o ato de leitura? No dicionário Online Michaelis (2016) leitura apresenta diversos significados, porém considero os mais relevantes para o momento o que diz: “1. Ato ou efeito de ler.”; o que representa o pensamento da maioria de nós sobre o tema. “3. Por Ext. processo cognitivo de compreender uma mensagem linguística.”. E o “2. Processo de construção de sentido por meio da interação dinâmica entre o conhecimento do leitor, a informação sugerida pelo texto e o contexto em que se dá a leitura.”; porém considero este o mais significativo e esclarecedor por tratar-se do significado amplo e completo da palavra. Sob este aspecto, após as análises realizadas, posso dizer que é válido realizar a leitura por meio de diversas linguagens, não sendo necessariamente sobre as letras, pode ser também sobre imagens, sons e sentidos, ou seja, tudo aquilo que nos permite ter uma opinião e perceber do que se trata. Sendo assim, concordo que a leitura deve ser vista pelos professores do mesmo modo que Freire (1982) a percebe:
A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura critica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. (FREIRE, 1982, p. 11-12)
Entender como acontece esse processo de aquisição da língua por Ferreiro se torna esclarecedor pois, segundo ela, a língua escrita “pode ser considerada uma representação da linguagem ou como um código de transcrição gráfica das unidades sonoras.” (FERREIRO, 2011, p. 14). O que demonstra a necessidade de mudarmos o nosso conceito sobre alfabetização, pois se trata de dois elementos indispensáveis para que se realize: a língua escrita e o sujeito que deseja conhecer. Deste modo, o processo de alfabetização deve possibilitar que os alunos tenham situações de práticas sociais de leitura e de escrita, já que “o desenvolvimento da alfabetização ocorre, sem dúvida, em um ambiente social. Mas as práticas sociais assim como as informações sociais, não são recebidas passivamente pelas crianças.” (FERREIRO, 1996, p. 24) Até mesmo porque as crianças encontram-se em um processo contínuo de aprendizagem estando no momento correto para se apropriar e se fixar dos conhecimentos mais difíceis, ainda assim:
há crianças que chegam à escola sabendo que a escrita serve para escrever coisas inteligentes, divertidas ou importantes. Essas são as que terminam de alfabetizar-se na escola, mas começaram a alfabetizar muito antes, através da possibilidade de entrar em contato, de interagir com a língua escrita. Há outras crianças que necessitam da escola para apropria-se da escrita. (FERREIRO, 1999, p.23)
Continuo esta análise, dialogando com algumas reflexões acerca deste tema, assim posso afirmar que a língua escrita só passará a ter função para a criança quando ela compreender como se escreve e para que se escreve, dentro da significação que possui para ela, sentindo-se pertencente a linguagem escrita. Desta forma, promover que ela produza e represente as suas produções fará com que solucione o funcionamento da escrita e vá aprimorando o seu desenvolvimento até se tornar significativa para a criança. Assim, utilizar o questionamento para entender e compreender as concepções do aluno sobre a escrita ajudará a tornar mais significativo este processo. É importante ressaltar que para Ferreiro (2011) não existe uma prática dita como a correta, que o caminho para uma alfabetização significativa é o questionamento “através de que tipo de prática a criança é introduzida na linguagem escrita, e como se apresenta esse objeto no contexto escolar” (FERREIRO, 2011, p. 30). E afirma que “nenhuma prática pedagógica é neutra. Todas estão apoiadas em certo modo de conceber o processo de aprendizagem e o objeto dessa aprendizagem” (FERREIRO, 2011, p. 61) assim o professor deve estar aberto a receber e perceber outros pontos de vistas, sendo um mediador no espaço educativo.
A escrita é uma invenção histórica “de construção de um sistema de representação, não um processo de codificação” (FERREIRO, 2011, p. 16), desta forma, é que a criança reinventa e percebe diferentemente esse sistema por diversas vezes. Assim, elas constroem hipóteses diferentes para interpretarem os seus conhecimentos do sistema de escrita, evoluindo a cada representação. Desta forma, posso dizer que o modo construtivista mostra que ela irá começar a demonstrar diferenças conceituais que passarão pelo momento cultural, situações educativas e pelas línguas que ela conhecer durante este processo. Com as observações realizadasna turma investigada pude perceber que é necessário ter conhecimento das distinções entre o “desenhar” e o “escrever”, pois de acordo com Ferreiro (2011) o primeiro está relacionado ao ícone, as formas que reproduzem os objetos; e o segundo não, pois as formas não representaram os objetos. Assim, com a evolução do processo a criança perceberá e mostrará a diferença existente entre o seu desenho de objetos e o desenho de suas letras. Possibilitar que ela vivencie o que produziu e se sinta produtora daquela linguagem, ajudará a construir e a evoluir o seu processo de aquisição de língua escrita.
Recorro que uma alfabetização significativa e produtiva, a meu ver, é aquela que faz com que as crianças comecem a perceber do todo, do maior, para chegarmos as partes menores e consideradas as mais significativas. Mas ao compreender o todo, a criança já está percebendo o funcionamento das menores partes, e desta forma possibilitar um ensino que estimule e possibilite estas vivências, fará com que o seu processo de formação seja contemplado totalmente. Fazer com que os alunos se sintam pertencentes ao meio em que está inserido e atuante nele, ajudará a fazer com que a educação alcance o patamar esperado de formar um sujeito que busque se tornar o mais completo possível em todos os sentidos. Considero importante também o ambiente em que a criança estará inserida, pois como afirma Ferreiro (2011), para o ambiente ser alfabetizador ele deve apresentar materiais que ajudem na aquisição do conhecimento, como canto de leitura, alfabeto ilustrado, sequência numérica, calendário, painéis, lista de palavras, produções dos alunos e muito material que os auxiliem usualmente, como os livros, as revistas, os folhetos, os catálagos, as propagandas, enfim tudo que pode contribuir para o desenvolvimento da criança em todos os gêneros textuais. 
É preciso também saber registrar momentos significativos da turma, para que se possa avaliar o que está sendo trabalhado. O registro serve também como narrativa da construção de saberes do próprio sujeito que está em processo de aprendizagem, conhecer através dele mesmo como as atividades e experiências estão sendo interiorizadas. A avaliação também merece ser vista de outra maneira, não podemos mais admitir avaliações baseadas em números e provas que só mostram que os alunos não “aprenderam” da maneira que gostaríamos, ou não sabem reproduzir como foram treinados. A avaliação é contínua e diária, precisamos acompanhar a aprendizagem, os avanços e retrocessos diariamente, para que então possamos rever o modo que o processo de aprendizagem está se dando.
Então, dando continuidade a presente análise e após explicar a teoria que me apoiei para desenvolver o estágio supervisionado, assim como poder coletar os dados para desenvolver esta pesquisa, posso afirmar que ao compreender como deveria ser o processo de alfabetização e como fazer ele se tornar significativo, fiz uma análise e percebi as preferências musicais dos alunos, vi que a maioria era voltada para atuais na mídia, desta forma, escolhi trabalhar com uma cultura um pouco apagada, a música popular brasileira, MPB. Assim, foi escolhido dois DVDs, “Chico e Vinícius para Crianças”(2013) e “Casa de Brinquedo de Toquinho”(2011), em ambos as músicas são de autoria de Chico Buarque, Vinícius de Moraes e Toquinho, interpretadas por diversos cantores e grupos atuais, como Fagner, Alceu Valença, Os Saltimbancos e muitos outros. Fazendo com que eles acabem tendo uma ampliação cultural e uma nova visão sobre música, pois como já falei, ela deve perpassar diversas áreas de desenvolvimento da criança, a fim de aprofundar e aumentar os seus conhecimentos.
E devo admitir que esta minha escolha das músicas me causou uma certa desconfiança, pois não tinha certeza se daria certo e se os alunos iriam ter o gosto da mesma forma que possuem pelas expostas na mídia. Desta forma, escolhi para começar a trabalhar a música “O vento (O Ar)” do DVD “Chico e Vinícius para Crianças”, pois considerei como uma das mais engraçadas e divertidas, que poderia atrair com mais facilidade, deixando-os com o ambiente aberto para receber as outras que viriam. E foi exatamente o que aconteceu, pois a música além de ser alegre, divertida e dançante, ainda contava com a palavra e o som relacionado ao “pum”, causando muitos risos e brincadeiras. E ao mesmo tempo ela me propiciou trabalhar a leitura, a interpretação, a exploração corporal, a família da letra “v”, questões de hábitos de higiene, respeito ao próximo, o vento e as paisagens. Ou seja, não utilizei a música como forma de doutrina e nem a fiz pertencer a sala como um anexo, ela estava sendo utilizada no todo, explorando tudo o que ela me permitia e mais o que surgia durante as conversas. 
 Neste ponto posso considerar que os estudos feitos por Dolci (2014, p 29), apoiada nas palavras de Karl Marx (2010, p. 109) sobre o ensino da Educação Estética como sendo o ponto principal a “emancipação completa de todas as qualidades e sentidos humanos” completa a minha percepção sobre a aprendizagem dos alunos durante a utilização desta música. Pois percebi que ouve um grande desenvolvimento e entrosamento dos alunos com os sons, as imagens e a sensibilidade de cada um, demonstrando haver prazer nas atividades desenvolvidas, e significação ao que estava sendo produzido por eles. Segundo Pablo René Estévez, a Estética projeta-se “através de sua própria essência como um momento integrador da esfera psicológico-emocional” (ESTÉVEZ, 2003, p. 75), o que nos comprova a necessidade de ensinar não somente os conteúdos programáticos, mas de proporcionar relações e acontecimentos novos que abranjam todas as esferas da formação integral da personalidade humana (DOLCI, 2014). No meu ponto de vista a Estética vai muito além da elegância do senso comum, está diretamente ligada a formação dos atributos básicos do ser humano, indo além da racionalidade. Ao trabalhar na formação dos sujeitos iremos promover a liberdade, intelectual, sensorial, afetiva e emocional; buscando que cada um possa interagir e explorar todas as áreas de desenvolvimento. Assim devemos buscar o desenvolvimento do sujeito por completo, pois assim estamos também trabalhando com as relações entre os sujeitos e entre suas criações, sendo elas de fundamental importância para o convívio e para que desenvolvam as relações entre os pares. 
Percebi a significância da utilização desta música abrangindo as diversas áreas do saber, quando ao produzir um cata-vento para perceber o vento, foi prazeroso e enriquecedor para eles. Os olhos brilhando com os seus cata-ventos girando, assim como o cabelo voando e todos os outros meios de percepção, tornaram o ambiente e os conteúdos significativos causando uma aprendizagem e uma apropriação daquele conhecimento para a sua vida. Não foi nada decorado, ou simplesmente jogado em uma folha de caderno, foi um momento vivido, no movimento, no sentimento, no raciocínio e na percepção, que causaram uma melhor condição de aprendizado. O que fez com que a música estivesse presente causando uma emancipação dos sujeitos, indo ao encontro da teoria e me fazendo perceber que estava conseguindo trabalhar com ela na formação ampla dos meus alunos.
Outra atividade que trago para compor esta análise e que considerei muito produtiva e prazerosa foi quando trabalhei com a música “Aquarela” de Toquinho, pois se trata da imaginação e da criatividade que normalmente temos quando criança, onde cada momento simples pode virar uma grande aventura imaginária. Porém não foi muito o que percebi, tive a nítida impressão de que os eletrônicos e a modernidade estão atrapalhando no desenvolvimento imaginário infantil, uma vez que se tem tudo pronto, a criança não precisa produzir nada e, desta forma, acaba por não desenvolver a imaginação. Antigamente fazíamos utensílios da casa com caixas, pedras, pauzinhos ou o que estivesse a nossa disposição, mas atualmente compramos tudo pronto, até brincadeiras de super heróis que fazíamos as nossas fantasias não se fazmais. Visto tudo isso, fizemos uma atividade de imaginação, colocamos colchonetes na sala e todos se deitaram e de forma confortável, coloquei uma música com sons da natureza e fomos realizando um passeio imaginário pela mata. Comecei fazendo com que eles se imaginasse como passáros, com penas coloridas e compridas, asas longas e bico pequeno, sobrevoando a mata, vendo e passando por diversos lugares, fazendo movimentos bruscos e de círculos, sentindo os odores da natureza, sentindo as sensações que ela nos permite e assim fomos bincando.
É válido dizer que para minha surpresa havia programado apenas dez minutos de atividade, mas a interação e a participação da maioria foi tão boa que acabamos excedendo o tempo e brincamos por vinte e cinco minutos. E a nossa conversa após o momento foi muito produtiva, pois eles demonstraram realmente terem se imaginado como pássaros, e disseram sentir cheiro de terra molhada e os respingos de água da cachoeira. E desta forma mostrei para eles que eles devem brincar assim, que se imaginar e se inventar não é feio nem errado, auxilia no desenvolvimento da criança. A alegria e a satisfação de saberem que conseguiram participar da brincadeira foi muito proveitoso e envaidecedor, pois mais uma vez consegui fazer o uso da música no sentido amplo, abordando diversas áreas e atividades e tocando cada um dos alunos. De acordo com Vygotsky (2000, p.132), 
Uma criança não se comporta de for​ma puramente simbólica no brinquedo; ao invés disso, ela quer e reali​za seus desejos, permitindo que as categorias básicas da realidade pas​sem através de sua experiência. A criança, ao querer, realiza seus desejos. Ao pensar, ela age. As ações internas e externas são inse​paráveis: a imaginação, a interpretação e a vontade são processos inter​nos, conduzidos pela ação externa. 
A postura adotada no início do estágio quando comecei a utilizar a música de uma forma diferente da que eles conheciam, me fez perceber que haviam sempre três alunos que não demonstravam gosto pela participação na parte da dança livre. Eles faziam feições de brabos e ficavam sentados, muitas vezes fiquei do lado, incentivando e tentando fazer com que eles dançassem, porém não obtive muito sucesso. Até que em uma atividade eu escutei um dos meninos falar que: “eu não gosto de dançar porque é coisa de menina” e, então, abri uma roda de conversa sobre a arte de dançar, falando sobre os benefícios para a saúde e para o corpo, sobre o trabalho que ela exerce nos nossos músculos, fizemos alguns movimentos para perceber o músculo que estava sendo movimentado e também sobre dançarinos que conhecemos, criando uma discussão de gênero que não pensei ainda fazer parte da escola. Mesmo com toda a conversa não obtive muito sucesso, pois ainda assim ele ficou resistente a participar e em raros momentos consegui com que ele dançasse.
Em outro dia um aluno disso que: “eu não danço porque tenho vergonha dos colegas que vão ver e podem rir de mim”, então, solicitei que dançassem de olhos fechados, e assim fizeram. Na primeira vez ele ficou desconfiado dos colegas e abria os seus olhos para perceber se estava sendo observado, mas com o passar das aulas ele percebeu que realmente os colegas fechavam os olhos na primeira dança e acabou se soltando. Mas quando eu solicitava que dançassem novamente, porém agora com os olhos abertos, não tive a mesma resposta positiva dele, pois ainda ficava encabulado e não realizava os movimentos livremente, ficava contido e desconfiado. E um terceiro e o mais preocupando ao meu ver, era o único que toda vez que eu colocava música ele tapava os ouvidos e gritava. Embora, já tenham ocorrido, diversas conversas com a responsável pelo aluno e solicitado a necessidade de uma pesquisa médica, em função de outras atitudes dele, nunca obtive laudo nem uma resposta sobre se havia ido consultar um médico. Desta forma, sem saber que tipo de atitude tomar, não quis forçá-lo a participar das atividades que envolvessem a música, vídeo, contação de histórias, teatro e dança. Conforme Dolci (2014, p. 102) apoiada nas palavras de Freire esclarece que “na medida, porém, em que fui me tornando íntimo do meu mundo, em que melhor o percebia e entendia na ‘leitura’ que dele ia fazendo, os temores iam diminuindo” (FREIRE, 2009, p. 15).
Trabalhei também sobre a música que muito escutei durante as observações que me levaram a esta pesquisa, a hora do lanche é a hora sagrada da música “Meu lanchinho”, porém não a utilizei nesta lógica de doutrina, mas sim como um abre alas de um projeto que previa as instruções da música. Após realizar a leitura e a cantoria da música, fizemos uma interpretação dela, questionando o motivo de porque ficar fortinho? Por que crescer? Todos os nossos lanches nos promovem o que a música fala? E através das respostas que obtive começamos a trabalhar o projeto da Semana da Alimentação Saudável, onde vimos alimentos saudáveis, o funcionamento do nosso corpo, do que ele necessita diariamente paras ser saudável e provamos alimentos que, alguns, nunca haviam comido. Durante a semana foi proibido levar refrigerante, doces, chips e bolachas recheadas, aderimos a água diariamente e produzimos em cada dia da semana a nossa merenda, sendo um dia batida de banana, sanduíche natural, salada de frutas, salada de verduras e legumes e, no último dia, cada um deveria levar uma merenda saudável que tivesse gostado mais para o nosso piquenique.
Nunca havia pensado que trabalhar uma música tão tradicional de todas as formas que ela nos permite, poderia modificar e interferir na alimentação deles de forma tão incisiva. E foi o que aconteceu, obtive agradecimentos de algumas mães sobre as mudanças alimentares, como a volta do leite, comer salada de frutas e mostrei a elas que não perdem cinco minutos fazendo um lanche saudável, mas sim ganham em saúde dos filhos. Fiquei muito grata e novamente convencida de que com o trabalho certo da música, podemos alcançar a evolução e a aprimoração dos sujeitos não sendo apenas cantada, mas sim interpretada, produzindo conhecimento, tocando os sentidos e caminhando com o crescimento do aluno. E o que era para ser um semana cansativa de muito trabalho na cozinha, acabou se tornando uma semana de satisfação e muita alegria, visto que para muitos os hábitos não foram somente naquela semana, perduraram pelo resto do ano letivo. Vale dizer que, neste atividade desenvolvida na sala de aula, consegui perceber a presença da Educação Ambiental na minha prática, pois conforme Dolci (2015, p. 72-73), uma:
Educação Ambiental, defendida por Loureiro (2012), que objetiva a formação de sujeitos para a mudança de atitudes, envolvendo práticas educativas que promovam a participação do cidadão em grupos coletivamente organizados, fortalecendo o diálogo, a tomada de decisão, o conhecimento, a transformação social e o direito democrático de participação dos sujeitos individual e coletivamente em espaços públicos. É fundamentada em uma Educação Ambiental que cultiva a práxis (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 1986) num movimento dialético, sob uma perspectiva emancipatória, nas relações teoria-prática e subjetividade-objetividade que constituem a vida social em um determinado processo histórico e que caracteriza e é caracterizado por cada um de nós (LOUREIRO, 2009).
Trabalhar com músicas que falassem e que fossem sobre animais também gerou muitas reflexões boas sobre a utilização da mesma, pois promoveram brincadeiras e jogos de muito aprendizado. Como por exemplo adivinhar o animal que o colega estava imitando, onde deveriam além de dizer qual era, deveriam pensar se era um animal marinho ou terrestre, se eram selvagens ou domésticos, se era coberto por pêlos, penas, carapaça ou escamas, se os filhotes nasciam da barriga da mãe ou de ovos e como se locomoviam, andando, pulando, rastejando, nadando ou voando. E, assim, promovemos com a música e a brincadeira uma aprendizagem significativa e lúdica, que proporcionasse aos sujeitos a percepção do conhecimento internalizado juntamente com a exploração de todasas suas áreas, tornando-os sujeitos emancipados, como prevê a Educação Estética. Finalizamos os nossos aprendizados com uma saída de campo ao Museu Oceanográfico, onde tivemos mais explicações sobre os animais marinhos de uma especialista que nos aguardava e ainda vimos o Leão Marinho, símbolo da nossa cidade, pinguins e um lobo marinho que estavam sendo tratados, além de diversas aves.
Não poderia deixar de mencionar que durante algumas semanas tive ainda o apoio de uma aluno da escola chamado Matheus, que é músico e possui um irmão com graduação em música, desenvolvendo atividades e oficinas relacionadas a instrumentos. Onde ele apresentava os instrumentos e respondia as perguntas, produzia os seus sons e trazia o conhecimento de alguns músicos famosos, de história e da arte. Os alunos gostaram muito das suas atividades, principalmente quando escolhiam a música que seria tocada pelo professor e cantada por eles, sempre animados acompanhando com palmas e dançando. Assim, como nas atividades de percepção de instrumentos, onde o professor colocava o barulho de algum instrumento já apresentado por ele e os alunos deveriam identificar qual era, e eu concluía a atividade produzindo com eles alguns destes instrumentos com material reciclável, como foi o caso da sanfona, do pandeiro e do violão. Produzimos ainda outros instrumentos mas desta vez relacionando com a família alfabética que estávamos vendo, como a vuvuzela, o tambor e o chocalho, todos os instrumentos foram expostos na XII Multifeira da escola.
Na sequência, produzimos também um Portfólio Musical que cada um levou para a sua casa e realizou junto a sua família um pesquisa sobre um instrumento de sua escolha, devendo apontar de qual instrumento se tratava, um pouco de sua história, alguns famosos que o utilizam, o motivo da escolha e se possuíam algum parente ou conhecido que toque algum instrumento e qual. Ele ainda foi feito de forma artesanal, sendo escrito à mão por eles e deveria conter a imagem do instrumento seja por foto, desenho ou impressão. Após convidei as pessoas que eles disseram conhecer para participar de uma tarde musical na escola, onde cada um apresentou o seu instrumento e tocaram um pouco para nós. Foi uma tarde muito divertida e encantadoura, pois eles viram que não eram somente aquelas pessoas que eles viam tocar na televisão que podiam, pois como os convidaram, eles falaram como tinham aprendido a tocar o referido instrumento, alguns aprenderam de ouvido, outros estudaram e outros aprenderam com os pais e avós. Mostrando que a música pode ser produzida por todos, não havendo distinção de classe, gênero nem cor, e que eles também podem produzi-las através do instrumento ou do seu corpo, como as palmas que acompanharam algumas músicas.
Considero que consegui fazer com que a música fosse utilizada no sentido Estético quando obtive por diversas vezes a solicitação de que ela se fizesse presente em momentos que eu não previ. Falas e questionamentos como: “Que horas vamos escutar música?”, “Tia coloca música enquanto fazemos a atividade?”, “Que música iremos escutar hoje?”, “Sempre teremos música na sala né?!” e muitas outras, me tocaram e me fizeram perceber que ela não estava incluída na nossa rotina como um acessório, mas que ela estava fazendo parte da vida deles com gosto e com aprendizados. Vê-los realizando atividades e cantarolando junto, me fez perceber que a música auxilia muito na alfabetização, pois o som está diretamente ligado a escrita e essa associação com a música foi a mais proveitosa que obtive. Sendo assim, a música quando utilizada com a sua linguagem e em seu todo é capaz de promover muita mais do que domesticação e ordem, ela promove aprendizado, relações, sentimentos, conhecimentos e aproxima os sujeitos. 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Primeiramente gostaria deixar claro que esta análise e pesquisa é inicial, e deverá ser mais trabalhada e analisada durante mais algum tempo, ampliando teorias e contribuindo para o auxílio dos professores na utilização da música na sala de aula. Visto que com base na Lei nº 9.394 de 20 de Dezembro de 1996, no seu art. 26 alterado pela Lei nº 12.796, de 2013, com base na Medida Provisória nº 746, de 2016, diz no § 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório da educação infantil e do ensino fundamental, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. Sendo complementado pelo § 6º As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as linguagens que constituirão o componente curricular de que trata o § 2o deste artigo.  
Posso concluir que com base nas entrevistas analisadas e na execução de atividades envolvendo a música na sala de aula, que é sim capaz de produzir e propiciar muito momentos de conhecimento. Afinal, compreendo a utilização da mesma como uma forma de tocar, ensinar, mostrar e desenvolver os pensamentos, as atitudes, os sentimentos, os movimentos e a apreciação do mundo. Mas devo admitir que concordo com Adorno com relação a muitas músicas infantis, tanto as que estão na mídia atual como algumas antigas, que apresentam aquela fixação por doutrinar as crianças, quando ele nos diz que “(...) ao invés de entreter, parece que tal música contribui ainda mais para o emudecimento dos homens, para a morte da linguagem como expressão, para a incapacidade de comunicação” (ADORNO, 2000, p. 67).
Pude constatar com esta pesquisa que a música na sala de aula deve ir além do escutar e executar, ela tem capacidade de formar os sujeitos em todos os seus campos de desenvolvimento, no sentimental, no corporal, na aprendizagem, na Educação Ambiental, nas relações e em muitos outros. Promovendo um amadurecimento dos sujeitos de dentro para fora, sendo capaz de modificar as realidades, as culturas e as inversões de valores.
A educação deve ser ampla, capaz de atingir a todos os indivíduos e suas diferenças, sendo necessário assim que sempre se busque formas de estudos que atendam aos alunos, e também a aqueles que necessitam de um tratamento que seja adaptado as suas necessidades. Devemos desenvolver atividades que contribuam para o desenvolvimento intelectual, bem como formar pensadores críticos, e para tanto, as práticas ligadas à música e a dança são transformadoras no ato de aprender. Pois como estão presentes desde muito pequenas, elas se tornam prazerosas no cotidiano, tanto do aluno como no do professor, muitas vezes aprendendo, cantando e dançando.
A música, juntamente com a dança, atua diretamente no corpo e desperta emoções que equilibram o metabolismo, interfere na receptividade sensorial e minimiza os efeitos de fadiga ou eleva a excitação do aluno. Tendo assim um importante papel na vida de toda criança, pois é capaz de simultaneamente desenvolver a sua criatividade, promover a autodisciplina e despertar à consciência rítmica e estética. Ela cria um espaço favorável para o despertar da imaginação, criando uma educação profunda e total.
Ela é a detentora da cultura, e deve permear todos os meios em que os sujeitos estão inseridos, desta forma estar no ambiente escolar é necessário e importante para o desenvolvimento dos alunos. Mas pude perceber que estar presente somente como meio de ordenação e de domesticação não emancipa os sujeitos como o previsto na Educação Estética. Então vai depender do sujeito o desenvolvimento e o entrosamento entre os sons, imagens e texturas com a sensibilidade de cada um, passando a ter prazer ou não no que é desenvolvido, e a significação só acontecerá se o que for produzido pelo sujeito tiver sentido para si.
Ao trabalhar na formação dos sujeitos, estamos trabalhando com os atributos básicos do ser humano, indo além da racionalidade, ao meu ponto de vista esta é a Estética que devemos utilizar. Não aquela do senso comum, mas a que promove a liberdade, intelectual, sensorial, afetiva e emocional; buscando que cada um possa interagir e explorar todas as áreas de desenvolvimento. Almejando um sujeito com o desenvolvimento completo, pois desta forma estaremostambém trabalhando com as relações entre os sujeitos e entre suas criações, sendo elas de fundamental importância para o convívio e para que desenvolvam as relações entre os pares.
Concluo tendo uma visão favorável da utilização da música na alfabetização com base nas minhas observações durante a efetivação da minha proposta de estágio obrigatório do curso. Consegui com que ela estivesse no ambiente escolar na sua forma mais completa, trabalhando todas as possibilidades que eu percebi e mais as que os alunos me mostraram, demonstrando que é possível sim alfabetizar de forma lúdica por meio da música. Embora tenha buscado trabalhar mais com um repertório escolhido por questões culturais, utilizei também as da mídia atual escolhida pelos alunos, o que também foi produtivo e proveitoso para o nosso aprendizado.
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� Acadêmica do curso de Pedagogia Licenciatura da Universidade Federal do Rio Grande – FURG; email: brunacipolatti@hotmail.com
� Professora do Curso de Pedagogia Licenciatura. Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Doutora do Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande - FURG (2010). Possui Mestrado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2003). E-mail: lndolci@hotmail.com
� Entendo por educação tradicional a que é conceituada por Paulo Freire em sua obra Pedagogia do Oprimido (2000) como educação bancária, em que há a imposição do conhecimento realizado pelo professor sobre o aluno na medida em que o professor faz a exposição de conteúdos e os alunos permanecem em uma atitude passiva de mero recebimento deste conhecimento, ou seja, o professor dispõe do conhecimento sendo possível sua ação de depósito deste conhecimento nos alunos.
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