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Roberta Araujo - trabalho 1

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Letras, Filosofia e Ciências Humanas
Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas
Filologia Românica I
Prof. Dr. Luiz Antônio Lindo
O Appendix Probi e a sua importância na identificação do protorromânico como língua-fonte das línguas românicas
São Paulo, 20 de junho de 2016
Introdução
	Trazido à luz no século XIX, o Appendix Probi é um documento do século III d. C (aproximadamente) de grande importância por ser considerado uma fonte do chamado latim vulgar. Trata-se de um apêndice à gramática de Probo que apresenta cinco partes: 1- notas sobre declinação, 2- notas sobre regência de casos, 3- nota sobre ortografia, 4- notas sobre sons homofônicos e 5- enumeração de verbos.
	Neste trabalho, tentaremos descrever a importância do Appendix Probi na identificação do protorromânico como língua-fonte das línguas românicas. Para isso, 
estudaremos o item 3 do Appendix Probi, que aborda os conflitos ortográficos e no qual seu autor identifica as formas de vocábulos existentes, o linguajar da população, comparando-as com as formas validadas pela gramática. Descreveremos brevemente as etapas de transformação do latim ao protorromânico e analisaremos alguns vocábulos desse apêndice e tentaremos mostrar como o protorromânico relaciona-se com as línguas românicas.
1- O Appendix Probi
1.a) O autor e o local onde foi elaborado
	O Appendix Probi é “um anexo a uma obra do gramático Probo”. Entretanto, seu autor é desconhecido (SILVA NETO, 1957, p. 110). Em relação ao local onde foi escrito, Gaston Paris afirma que o documento foi redigido em Cartago. O autor argumenta que poderíamos pensar que o texto foi elaborado em Roma, porque faz referência a uma rua dessa cidade: “Vico capitis Africae non Vico caput Africae”. Nessa rua, havia um paedagogium que poderia ter produzido o anexo e que era responsável pela instrução de jovens escravos destinados ao serviço do palácio imperial. Além disso, a nota “septizonium non septidonium” parece mostrar sua origem romana. Entretanto, o Vico capitis Africae não é o único mencionado: “Vico stabuli proconsulis non vico tabulu proconsulis”, “ Vico castrorum non vico castrae”, “ Vico strobili non vico trobili”. Não há, porém, nenhum procônsul em Roma, como sugere a citação. Por outro lado, o autor do documento, refere-se a três nomes de lugar da mesma região da África: Syrthes, Byzacenus e Capsensis. Para solucionar essa questão, Gaston Paris afirma que o Appendix Probi foi redigido em uma cidade onde um procônsul residia, isto é, Cartago (SILVA NETO, 1946, p.116-120).
b) A sua importância
	O Appendix Probi contém “referências mais ou menos frequentes a erros cometidos pelos indoutos ou ao uso popular e corrente de certas formas rejeitadas pela língua literária”. Esse apêndice “é um trabalho gramatical, contendo uma lista de palavras de 227 formas incorretas e a indicação das formas corretas correspondentes”. É considerado uma “das fontes usuais para o estudo do latim vulgar” (MAURER JUNIOR, 1962, p.16-17) por trazer indícios do emprego do registro popular, sendo que definimos “o “latim vulgar” como o latim popular, falado por todas as classes sociais de Roma”[footnoteRef:1]. Portanto, esse documento é uma “fonte para o conhecimento da história das línguas românicas” (Löfstedt apud SILVA NETO, 1946). Ele pode mostrar tendências linguísticas que se afirmaram nas línguas românicas. [1: Citação de um slide apresentado pelo professor durante as aulas.] 
2- Etapas da metamorfose[footnoteRef:2]	 [2: Neste item, citamos um slide apresentado pelo professor durante as aulas. As citações estão entre aspas.] 
	Neste item, descreveremos brevemente como aconteceu a transformação do latim falado clássico em latim falado tardio 2 ou protorromânico, isto é, mostraremos como as tendências linguísticas se afirmaram no protorromâncio, língua-fonte das línguas românicas. 
São três as etapas da metamorfose. A primeira delas aconteceu entre os séculos II a.C. e III d.C. Durante esse período, falamos de latim falado clássico e latim falado tardio. Nesse estágio, há o “aparecimento duma forma assumida pouco a pouco pelos falantes. A forma marcada, variável livre no início, entra na língua” e não impõe uma regra. O diassistema do latim mantém-se estável.
No segundo estágio, ocorrido entre os séculos IV e VII, ocorre uma gramaticalização da forma nova e “há uma concorrência entre a forma antiga e a nova” (a variável livre). “A forma marcada tende a tornar-se não marcada”, isto é, não causa estranhamento nos falantes, como na fase 1. Há um “polimorfismo intenso”, ou seja, várias formas convivem e o “diassistema torna-se instável”. Trata-se do latim falado tardio 1 e do latim falado tardio 2.
No terceiro estágio, ocorrida entre os séculos VII e IX, a nova forma torna-se a “forma usual do enunciado” e o “diassistema inverte-se”. Nesse período, falamos de latim falado tardio 2 e de protorromânico. Os falantes não entendem mais o latim clássico, a menos que o estudem. 
3- Transformações observadas nos vocábulos do Appendix Probi
	
Neste item, mostraremos algumas transformações que podemos observar nos vocábulos do Appendix Probi a partir das correções indicadas por seu autor.
a) Troca das vogais e, i, u por i, u
Na linha 2, temos tolonium non toloneum. A forma padrão era telonium; ocorreu a assimilação e - ó > o - ó. Segundo Silva Neto (1946, p. 133-140), na linguagem corrente houve uma tendência para o fechamento dos hiatos, propiciando uma série de ultracorreções. Podemos encontrar outros exemplos no Appendix Probi: vinia, osteum, cavia, brattia, cochlia, cocliare, paliarium, lancia, solia, calcius, aleum, lileum,linia, baltius, fasiolus, lintium, laneo, dolium. Segundo o autor, “na linguagem falada de nossos dias manifesta-se o mesmo fenômeno”, como em: apear que pode soar apiar e toalha, tualha.
b) Queda da vogal postônica
Podemos encontrar no Appendix Probi diversos exemplos de queda da vogal postônica: speclum, masclus, veclus, tabla, facla, capiclum, stablum, nepticla, anucla, tribla, virdis, baplo. De acordo com Silva Neto (1946, p.140 e 142), “a causa desse fato deve encontrar-se na preponderância, cada vez maior, do elemento intensivo do acento latino” e esse fenômeno constitui uma “tendência geral - repete-se hoje nos dialetos.”
c) Mudança de tl em cl
Para Silva Neto (1946, p. 142), essa mudança é “uma velha tendência da língua”. No Appendix Probi, encontramos os seguintes exemplos: vetulus non veclus, vitulus non viclus, capitulus non capiclus. Podemos observar também que esse processo apontado pelo anexo aconteceu com outros vocábulos, como em: rotula > *rocla > rolha (SILVA NETO, 1946, p. 143).
 d) Queda do v intervocálico
Temos como exemplos os seguintes vocábulos: museum, flaus, failla, paor, aus, rius.
 e) Passagem do sistema vocálico latino para o românico
Na linha 20 do Appendix Probi temos: columna non colomna. As cinco vogais latinas distinguiam-se pela oposição de quantidade e de timbre. As vogais longas eram fechadas e as breves, abertas (exceto a vogal a, sempre aberta). A noção de quantidade desapareceu no século III d.C. (SILVA NETO, 1946, p. 154). Na passagem do sistema vocálico latino para o românico, temos:
i) o i longo permanece i; 
ii) o i breve e o e longo transformam-se em e (timbre fechado);
iii) o e breve permanece e (timbre aberto);
iv) o a permanece a;
v) o o breve transforma-se em o (timbre aberto);
vi) o o longo e o u breve transformam-se em o (timbre fechado), como em colomna;
vii) o u longo permanece u.
4- O Appendix Probi, o protorromânico e as línguas românicas
	Podemos observar que o Appendix Probi é uma importante fonte do latim vulgar, pois apresenta as formas correntes e populares desconsideradas pela gramática normativa, isto é, as formas reprovadas pela linguagem literária. Vimos que, no período em que esse documento foi redigido, aproximadamente no século III d.C. diversas formas de um vocábulo conviviam - as que eram julgadas corretas e as populares. Duranteesse período, apesar da existência de variáveis livres, formas novas e marcadas, o diassistema do latim mantinha-se estável.
Observamos que, muitas vezes, os “erros” apontados pelo autor do apêndice podem indicar tendências que se afirmaram no protorromânico e, posteriormente, nas línguas românicas, confirmando a existência das etapas da metamorfose, isto é, provavelmente em uma segunda etapa houve a gramaticalização das formas novas, as variáveis livres, gerando uma instabilidade no diassistema do latim e, em uma terceira etapa essas formas novas tornam-se usuais, invertendo o diassistema. Neste trabalho, verificamos algumas transformações ocorridas que estavam indicadas no Appendix Probi: troca das vogais e, i, u por i, u, a queda da vogal postônica, a mudança de tl em cl, a queda do v (do latim) intervocálico e a passagem do sistema vocálico latino para o românico.
Considerações finais
	Neste trabalho, procuramos mostrar a importância do Appendix Probi, fonte do latim vulgar, como documento que apresenta elementos que nos permitem identificar o protorromânico como língua-fonte das línguas românicas. Para isso, descrevemos brevemente as etapas da metamorfose e algumas transformações que podem ser observadas por meio dos conflitos ortográficos presentes no apêndice. Vimos que alguns desses “erros” apontados por seu autor constituíram tendências que se afirmaram no protorromânico e, mais tarde, nas línguas românicas, como a troca das vogais e, i, u por i, u, a queda da vogal postônica, a mudança de tl em cl, a queda do v (do latim) intervocálico e a passagem do sistema vocálico latino para o românico.
Referências bibliográficas
MAURER JUNIOR, Theodoro Henrique. O problema do latim vulgar. Livraria Acadêmica. Rio de Janeiro. 1962.
SILVA NETO, Serafim. Fontes do latim vulgar. O Appendix Probi. Imprensa Nacional. Rio de Janeiro. 1946.
SILVA NETO, Serafim. História do latim vulgar. Livraria Acadêmica. Rio de Janeiro. 1957.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
 
Faculdade de Letras, Filosofia e Ciências Humanas
 
Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas
 
 
 
Filologia Românica I
 
Prof. Dr. Luiz 
Antônio
 
Lindo
 
 
 
 
 
 
 
O Appendix Probi e a sua importância na identificação do protorromânico
 
como 
língua
-
fonte das línguas românicas
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo, 20 de junho de 2016
 
 
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
Faculdade de Letras, Filosofia e Ciências Humanas 
Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas 
 
 
Filologia Românica I 
Prof. Dr. Luiz Antônio Lindo 
 
 
 
 
 
 
O Appendix Probi e a sua importância na identificação do protorromânico como 
língua-fonte das línguas românicas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo, 20 de junho de 2016

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