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CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 1 AULA 13 -‐ 07/10/2019 INICIO DA UNIDADE II VÍCIOS DO CONSENTIMENTO: • Erro • Dolo • Coação Negócio jurídico é uma manifestação de vontade. A vontade tem que ser livre e desembaraçada. Quando há um vício existe possibilidade de invalidade do negócio. Se a vontade é viciada o negócio pode ser invalidado, seja hipóteses de anulabilidade, seja hipóteses de nulidade. O vicio é de natureza subjetiva. Ø ERRO: O erro é uma falsa representação da realidade, que faz com que o declarante emita sua vontade de maneira diversa do que manifestaria se porventura melhor conhecesse a realidade. EX: Empresto meu livro a Dalila e ela não devolve. Dalila confundiu um empréstimo com uma doação. EX 2: Compro um candelabro de cobre achando que é de prata maciça. O erro brota espontaneamente. No dolo existe uma estratégia para coagir alguém. No casso do erro o declarante se equivoca por um desconhecimento da realidade. O Código equipara o erro a ignorância. Para um erro anular um negocio, ele tem que ser a causa determinante. Mas existem erros acidentais também. Há uma gradação. A dificuldade prática é identificar o que é um erro de maior ou menor gravidade. Do ponto de vista prático são poucas as ações envolvendo erro. São muito raras. Além disso, erro e dolo se misturam muito. E o juiz dificilmente anula um negócio sem concordância das duas partes. REQUISITO SUBSTANCIAL E ESCUSÁVEL: O Código não fala diretamente da escusabilidade. O erro tem que ser escusável. Escusa significa desculpa. O erro tem que ser justificável. Não se admite um erro grosseiro. Um erro grosseiro não anula um negócio jurídico. EX: Rodrigo trabalha com imóveis há 30 anos. Ele compra um terreno de Nilva e percebe que aquele terreno tem restrições que não permitem que ele construa uma casa, que era seu objetivo. Por causa disso Rodrigo quer anular o negócio e para isso invoca o erro. Nilva apenas ofereceu o terreno a venda e ele comprou. Agora ele quer anular o negócio. Esse erro seria escusável? Justificável? O erro não seria justificável. Alguns autores falam ainda que o erro tem que palpável, tem que causar algum prejuízo. O código diz que o erro tem que ser substancial. Art. 139/CC: O erro é substancial quando: I -‐ interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II -‐ concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 2 III -‐ sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. Na Alemanha e na Itália, um erro relacionado a natureza do negócio, por exemplo, é razão de nulidade. Aqui no Brasil nós equiparamos todos os tipos de erro. EX: O sujeito foi salvo de um afogamento e fez uma doação ao seu salvador, mas erra o destinatário. Do Casamento Art. 1.557/CC: Considera-‐se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: I -‐ o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado; II -‐ a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal; III -‐ a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) (Revogado) IV -‐ a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado. (Vide Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) (Revogado) III -‐ a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) IV -‐ (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) No direito de família, o Código não usa a expressão erro substancial. Usa a expressão erro essencial, mas é a mesma coisa. É a aplicação da teoria do erro no direito de família. Até 1977 no Brasil não havia divorcio. O máximo que a pessoa conseguia era o desquite e não podia casar de novo. Só haviam 5 países do mundo que não permitiam o divórcio e o Brasil era um deles. Implantaram o divórcio no Brasil, mas só podia se divorciar uma vez. É uma lei muito mal feita, porque uma pessoa pode casar a segunda vez com uma pessoa que nunca se divorciou. Depois da Constituição de 1988 temos uma das legislações mais flexíveis em termos de divórcio. Divórcio à brasileira: as pessoas tentavam anular o casamento ao invés de se divorciar, mesmo não sendo caso de anulação. RECOGNOSCIBILIDADE: Recognoscibilidade é perceber o erro. O artigo 138 tem duas interpretações possíveis. Uns entendem que quem deveria perceber oerro é quem emite a vontade. A outra corrente entende que a pessoa que deveria ter percebido o erro é o receptor da vontade. Nesse caso tem que demonstrar que o receptor percebeu ou poderia ter percebido o erro. Art. 138: São anuláveis os negócios jurídicos quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial, que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal em face das circunstancias do negócio. Essa delimitação do erro no CC tem gerado muito polêmica. Se inspirou no Código italiano. O problema é quando fala que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal (cidadão mediano). Mas quem tem que perceber? É quem emite a vontade ou a outra parte? CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 3 Uma corrente entende que diz respeito ao declarante. O declarante elaborou e não percebeu seu próprio erro. A percepção há de partir de quem emite a vontade. Nesse caso basta o declarante demonstrar o erro. Segundo a outra corrente, inspirada no direito italiano, a percepção tem que ser do outro contratante. O negócio só seria anulável se o outro contratante percebesse ou devesse perceber o erro. Esse critério valoriza a confiança. Nesse caso, a parte tem que provar que o declarante sabia ou devesse saber do erro. Mas ai aproxima demais o erro do dolo. Seria quase um dolo omissivo. Há uma divergência doutrinaria muito grande acerca de a quem se destina esse dispositivo. A jurisprudência, de uma forma geral, nas hipóteses de erro nunca é indiferente à outra parte. Tem se inclinado a adotar uma posição próxima ao direito italiano. Tem que demonstrar que a parte tinha condição de perceber o erro. INTERESSE NEGATIVO: EX: Rodrigo no era corretor. Comprou o terreno e pretende anular o negócio com Nilva. Nesse caso a outra parte, que não tem nada a ver com o erro, é surpreendida. Essa parte ficaria no prejuízo? Interesse negativos: a parte que não deu causa do erro tem que ser ressarcida de todos os prejuízos que experimentou. O Código Civil brasileiro perdeu a chance de prever esse dispositivo, mas é possível reivindica-‐lo através de outros dispositivos do CC (reparação do dano, por exemplo). POSSIBILIDADE DE CONVALESCIMENTO DO ERRO: Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-‐la na conformidade da vontade real do manifestante. EX: Uma pessoa comprou um terreno em um loteamento. Lote 42, loteamento A. A pessoa comprou achando que era o loteamento B, mas na verdade é o loteamento A. São dois espaços diferentes no mesmo empreendimento. A pessoa acionou o alienante afirmando que elaborou em erro. Imaginou que estava comprando em uma área, mas na verdade era outra. O vendedor então disse que ia entregar o terreno no local que a pessoa desejava inicialmente. O que aconteceu aqui foi o princípio da conservação dos negócios jurídicos. Nesse caso o juiz não anularia o negócio porque a outra parte aceitou a postulação formulada. Conservou-‐se o negócio. AULA 14 – 16/10/2019 Ø DOLO Dolo civil é o expediente astucioso empregado para induzir alguém a manifestar sua vontade. Induzir alguém a prática de um ato que o prejudica e beneficia o autor do dolo ou um terceiro. No dolo, diferentemente do erro, o engano é provocado. Também há uma falsa representação da realidade, mas enquanto no erro a própria pessoa se engana, no dolo a pessoa é enganada. O erro brota espontaneamente. No dolo a pessoa é induzida. HIPÓTESES DE DOLO: No Direito brasileiro, o legislador não se encarregou de estabelecer as espécies de dolo. Só diz o seguinte: CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 4 1. Dolo principal e dolo acidental: Dolo principal é aquele que é determinante. Quando ele é a causa da manifestação de vontade. Nesse caso o negócio é anulável. Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa. Dolo acidental é quando o negócio seria realizado de qualquer maneira, apenas talvez em outras bases. Quando se trata de dolo acidental não se invalida o negócio. O negócio é preservado, mas pode ser objeto de uma ação por perdas e danos. EX: Comprei um posto de gasolina achando que o lucro seria de 150 mil por mês, mas na verdade o lucro está sendo 75 mil por mês. Esse fator não teria me impedido de fechar o negócio. Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo. 2. Dolus bônus e dolus malus: Dolos bônus são artifícios que se usam costumeiramente. São aceitáveis. É o exagero que muitas vezes o vendedor utiliza. É uma certa tolerância nas práticas comerciais (mas lógico que também deve estar de acordo com o Código de Defesa do Consumidor). EX: Essa é a melhor pizza do mundo. Dolus malus é o dolo vício, que contamina o negócio. É o engano provocado. 3. Dolo positivo e dolo negativo: O dolo é positivo ou comissivo quando resulta de manobras ativas do agente. É negativo ou omissivo quando há um silêncio intencional. Art. 147. Nos negóciosjurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-‐se que sem ela o negócio não se teria celebrado. EX: uma pessoa que tem uma doença grave e não informa isso no momento que contrai um seguro de saúde. 4. Dolo de terceiro: Terceiro é uma pessoa que não participou da relação negocial. Tem uma relação com as partes, mas é alheio a relação contratual. OBS: Não confundir terceiro com representante! Dolo praticado por terceiro invalida o negócio? Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou. Se a parte beneficiada sabia ou deveria saber pelas circunstâncias, ela é cúmplice. Nesse caso cabe anulação do negócio e a parte beneficiada e o terceiro respondem juntos. Se não demonstrar que a parte beneficiada sabia ou deveria saber, não invalida o negócio. Apenas o terceiro responde por perdas e danos. O negócio se mantém. CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 5 DOLO DO REPRESENTANTE O representante é como se fosse a pessoa que está representando. Hoje em dia é possível até casar por procuração. O representante não é um terceiro. Existem dois tipos de representação: • Representação legal: quando a lei diz. EX: Os pais são tutores do menor. • Representação convencional: a pessoa elege alguém como seu representante através de um instrumento, no geral uma procuração. A representação é uma convenção. O que o representante fizer repercute no patrimônio da pessoa que está representando. E se o representante agir dolosamente? O representante sempre vai responder, sempre. Essa é a regra geral. O representante sempre responde pelas condutas que praticou e responderá por perdas e danos. Mas e o representado? O legislador já trata de modo diferente. Se for representação legal, o representado só responde até o proveito que obteve naquele negócio. Se representação convencional há uma solidariedade entre ambos, representante e representado. É mais uma questão do enriquecimento sem causa. EX: Um tutor agiu dolosamente. Agir dolosamente privilegiou seu pupilo e prejudicou a outra parte. Quem responde por perdas e danos é apenas o tutor. Mas o benefício que o tutelado recebeu terá que repor. O beneficiário reporá o proveito para evitar o enriquecimento sem causa. O representante responde por perdas e danos. A lógica é que na representação legal não há escolha. Na representação convencional, a pessoa escolhe seu representante. Se ele agiu dolosamente, você escolheu mal e vai pagar por esse erro. Por isso responde solidariamente com ele. A parte prejudicada pode acionar o representante ou o representado ou pode acionar ambos. Art. 149/CPC: O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos. DOLO DE AMBAS AS PARTES As duas partes agem dolosamente. Art. 150/CPC: Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-‐lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. Se ficar demonstrado que ambas as partes agiram dolosamente, o juiz vai extinguir o processo e o negócio permanece. E se de um lado for dolo acidental e de outro for dolo principal? Há uma certa divergência, mas a maior parte da doutrina entende que não imporá a natureza do dolo. CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 6 AULA 15 – 21/10/2019 CAPTAÇÃO DOLOSA – TESTAMENTOS EX: uma senhora octogenária, sem herdeiros necessários e dona de um apartamento avaliado em 3 milhões no RJ tem um relacionamento com um homem de 40 anos. No seu testamento ela deixou tudo para esse homem. Todo o amor que o homem mostrou por ela era fingido. Cabe a anulação desse testamento? AO direito não se preocupa com a parte de fingir o amor. Isso está fora do campo da discussão jurídica, mesmo que fique demonstrado que o afeto era fingido. É irrelevante. O que caracteriza a captação dolosa são manobras, são ardis, artifícios. A família só conseguirá anular o testamento se demonstrar que o homem criou um cordão sanitário em torno dessa senhora, semeou intrigas entre ela e seus familiares, conseguiu afastá-‐la de toda família. Por isso os herdeiros conseguiram a anulação. EX 2: Um senhor solteiro era dono de alguns imóveis. Uma senhora cuidava dele. Ele não tinha descendentes, mas tinha alguns sobrinhos. No testamento ele deixou tudo para a senhora. Os sobrinhos entraram com uma ação para anular o testamento, alegando uma captação dolosa. Mas nesse caso não conseguiram êxito na demanda, porque não conseguiram demonstrar nenhuma manobra por parte da mulher. A captação dolosa tem que se manifestar em condutas, em ardis, em estratagemas. É isso que caracteriza o dolo. Ø COAÇÃO É o mais grave dos vícios do consentimento.Negócio jurídico é um ato da vontade ao qual o direito empresta efeitos. Mas se essa vontade não for livre, espontânea, se houver um engano, espontâneo ou provocado, a hipótese é de anulabilidade. Se o engano é espontâneo estamos diante do erro. Se o engano é provocado estamos diante do dolo. Na coação a vontade é imposta. É a pressão física ou moral a induzir alguém a prática de um ato. A coação atinge fundamentalmente a liberdade. O dolo alcança a inteligência, de ser enganado, iludido. Na coação só a liberdade de escolha é cerceada. VIS ABSOLUTA E VIS COMPULSIVA Vis absoluta é a coação física. Vis compulsiva é a coação moral. Coação é um vício da vontade, no caso da vis compulsiva. Na vis absoluta não há sequer vontade. Estamos tratando aqui da coação moral, da vis compulsiva. Paciente, coacto, coagido: quem sofre a coação. Coador: aquele que coage. Na vis compulsiva há um processo de escolha. Você escolhe entre o mal que lhe é endereçado ou a prática do negócio jurídico. Faz um processo de escolha. Enquanto houver esse processo de escolha, nós estamos diante de uma coação moral. Se não há um processo de escolha, se a pessoa for um mero instrumento, é coação física. CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 7 EX: CLT. O pagamento de salário deverá ser efetuado com recibo assinado pelo empregado. Em se tratando de analfabetos pode usar a impressão digital. No caso da impressão digital ela pode ser obtida por meio de coação física, sem processo de escolha. Se a pessoa está sendo espancada para fazer isso, por exemplo. Muitos autores entendem que essa é uma hipótese de inexistência do negócio jurídico. Não há vontade como pressuposto. O empregador vai apresentar os recibos. Eles existem e estão todos assinados com a digital. EX 2: Se alguém coloca um revolver na cabeça de outra pessoa, é vis absoluta ou vis compulsiva? Há uma escolha? Alguns doutrinadores, impressionados pela gravidade da situação, consideram que é um exemplo de coação absoluta. Mas há autores (a maioria) que dizem que há um processo de escolha, há uma deliberação. Se é vis absoluta é hipótese de inexistência, porque não há sequer vontade. Não se fala em prescrição. Art. 151/CC: A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. O Código não define coação. Fala em temor de dano iminente, ou seja, não pode ser um dano remoto (“se você não fizer isso daqui a 5 anos colocarei fogo na sua casa”). O dano tem que ser considerável. Se a ameaça for relacionada a pessoa não pertencente a família do paciente, o juiz pode considerar se houve coação de acordo com as circunstâncias. O Código abre essa parte para considerar as pessoas não pertencentes à família. AMEAÇA – CRITÉRIOS AFERIDORES O critério que deve ser apreciado na coação é um critério concreto. Art. 152/CC: No apreciar a coação, ter-‐se-‐ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela. EX: Uma orquestra queria um aumento. Faltando 30 minutos para uma apresentação de gala, a orquestra se reúne e decreta uma greve. O diretor da orquestra acaba assinando o documento par aumentar o salário. Depois buscou a anulação do negócio. Muitas vezes o coator dirige a ameaça contra si mesmo para atingir o paciente. EX: Filho ameaça se matar se o pai não praticasse determinado negócio jurídico. Ele dirigia a meação contra si, mas na verdade quem estava sendo ameaçado era o pai. Existem situações em que a ilicitude está no fim visado. EX: Rodrigo tem uma empresa. Ele fraga seu empregado furtando um objeto da empresa. Rodrigo então diz ao empregado que vai despedi-‐lo, mas que ele deve declarar que recebeu todas as verbas rescisórias, mesmo sem ter recebido, sob pena de ser denunciado a polícia. Rodrigo coagiu Rodrigo a assinar um recibo sem ter recebido o valor. O Código observa também o fim visado, que deve ser lícito. O meio empregado para obter a manifestação vontade. CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 8 COAÇÃO EXERCIDA POR TERCEIROS A coação, para viciar um negócio, tem que ser a causa determinante da manifestação de vontade. Se você ia praticar o negócio independente da coação, mas talvez em outras bases, pode ser consideração uma coação acidental ou incidental (mas o Código não fala sobre isso). Nesse caso cabe perdas e danos. É o mesmo critério para dolo de terceiros. Só anula o negócio quando a outra parte sabia ou deveria saber. Art. 154/CC: Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos. É uma hipótese de solidariedade, porque a pessoa está sendo cúmplice. Se sabe ou deveria saber da coação feita por terceiro, a conduta é ilícita,por isso respondem solidariamente. Mas se não sabia da conduta do terceiro o negócio subsiste (princípio da conservação do negócio jurídico). Art. 155/CC: Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto. Se a coação for exercida por terceiro e a parte beneficiária não sabia ou não tinha condição de saber, mantem-‐se o negócio. Mas a coação não fica impune, porque o terceiro que exerceu a coação responderá por perdas e danos. Somente o terceiro. É o mesmo tratamento do dolo. EXCLUDENTES: TEMOR REVERENCIAL E EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial. O exercício regular de um direito exclui a coação. EX: Maria tem um título de crédito. Ela diz que se Dalila não pagar, ela vai executá-‐la (no sentido judicial). Dalila paga mas depois se arrepende e quer anular o negócio. Coação é uma hipótese de anulação. Mas Dalila não vai ter êxito nessa demanda, porque o que Maria fez foi exercício regular do seu direito enquanto credora. Mas se Maria chega para Dalila e diz que vai executá-‐la se não casar com ela. Nesse caso é uma hipótese de coação. O exercício do direito não foi regular. O que caracteriza a coação aqui é a ilicitude do fim. Temor reverencial vem de reverencia, respeito. É o receio de não desgostar o superior hierárquico, algum sacerdote, por exemplo. EX: Cleiton para não desagradar seu patrão, alugou um imóvel para outro funcionário. Depois alega ter sido coagido. Não é coação. Quando o Código diz “simples temos reverencial” ele faz uma qualificação. Se não for simples, se for um grave temor reverencial, pode ser considerado coação. Por conta desse dispositivo alguns casamentos foram anulados. Existem casos de mulheres que foram coagidas a casar, sob ameaça de ter que ir para um convento, ser deserdada, etc. Nesse caso o casamento é anulável. CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 9 COAÇÃO E CASAMENTO A coação é uma hipóteses de anulabilidade do negócio jurídico. Tem 4 anos para propor a ação anulatória. Esse prazo é contado a partir do momento que cessa a coação. Art. 178/CC: É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-‐se a anulação do negócio jurídico, contado: I -‐ no caso de coação, do dia em que ela cessar; Enquanto a coação tiver existindo, os mesmos motivos que a levaram a celebrar o negócio vão impedir de propor a demanda. No caso do casamento o legislador mudou o entendimento. O legislador pesou 2 interesses: a instituição casamento e sua preservação e a coação do outro lado. Art. 1.558/CC: É anulável o casamento em virtude de coação, quando o consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares. O prazo é contado a partir da celebração. Nesse caso desfaz o casamento na origem, a pessoa volta a ser solteira. Anula o casamento. COAÇÃO E TESTAMENTO Art. 1.909/CC: São anuláveis as disposições testamentárias inquinadas de erro, dolo ou coação. Alguém pode testar coagido. O testamento é um negócio que pode ser revogado a qualquer tempo. Existe, é válido, mas sua eficácia depende da morte do testador. A análise da coação deve ser feita a luz dessa circunstância. EX: No livro Primo Basílio, a empregada descobre que a patroa está tendo um caso e resolve chantageá-‐la. A patroa teve que fazer um testamento deixando parte da sua herança para a empregada. Mas o marido descobriu a traição e perdoou a mulher. Se essa patroa não revogou o testamento, não cabe a anulação, porque como o testamento é um ato revogável, não havia mais coação. Entende-‐se que a pessoa desejou manter o testamento, por isso não anula. Se uma pessoa faz um testamento, ela pode revogar a qualquer momento. Enquanto estiver vivo pode fazer e refazer o testamento. Se a pessoa morreu e a coação ainda estava acontecendo os herdeiros podem pedir a anulação. CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 10 AULA 16 – 23/10/2019 VÍCIOS ESPECIAIS ESTADO DE PERIGO (ELEMENTOS CONFIGURADORES) Art. 156/CC: Configura-‐se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-‐se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. É preciso que a outra parte tenha conhecimento que você está incorrendo em perigo. Assumir uma obrigação excessivamente onerosa é um conceito jurídico indeterminado. Também é uma hipótese de anulabilidade do negócio jurídico. EX: Uma criança está presa em um prédio em chamas. A mãe afirma “todo meu patrimônio se você salvar essa criança”. EX 2: Numa cidade do interior existem 5 cirurgiões. A média que se cobra para um procedimento cirúrgico é 10 mil reais. Num determinado momento todos os cirurgiões viajam, apenas um permanece na cidade. Ele cobra 50mil reais por uma cirurgia de emergência. É um abuso. Tem como provar a onerosidade excessiva. O cirurgião se aproveitou das circunstâncias, sabia que os outros médicos não estavam na cidade. O direito italiano tem uma regra que diz que anular esse negócio causaria um enriquecimento sem causa, porque querendo ou não, o profissional atuou. Então fala-‐se em redução equitativa do valor. No direito brasileiro não temos uma regra nesse sentido. Parte da doutrina faz uma critica a falta desse dispositivo no Direito brasileiro. Outros autores falam que a perda seria uma punição pelo abuso, por isso não caberia essa redução equitativa do valor. As discussões que se fazem hoje acerca do estado de perigo envolvem em sua maioria internações hospitalares. EX: Uma pessoa chega na emergência do hospital para ser internada. O hospital pode exigir cheque? Pode exigir uma calção? Art. 135-‐A/CP: Exigir cheque-‐caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-‐hospitalar emergencial. A hipótese é de estado de perigo nas emergências hospitalares. Quem vai para uma emergência, em geral, está em estado de perigo. O problema todo é a obrigação excessivamente onerosa. Os tribunais tem decidido essa questão de uma maneira muito restritiva. A onerosidade excessiva é diferente do preço do serviço ser caro per si. Tem que levar em conta o contexto, não apenas a condição econômica da parte. Elementos objetivos do estado de perigo: ameaça de grave dano, atualidade do dano, e onerosidade excessiva da obrigação. Elementos subjetivos do estado de perigo: crença do declarante de que se encontra em perigo (o perigo pode até ser ilusório, mas basta o declarante estar convencido de que se encontra em estado de perigo) e o conhecimento do perigo pela outra parte. Há uma espécie de dolo de aproveitamento. CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 11 LESÃO Prejuízo que uma parte experimenta em razão da manifesta desproporção das prestações. Na lesão existe o dolo de aproveitamento. A outra parte tem que ter conhecimento que você estava enfrentando uma necessidade. Lesão é a desproporção exagerada. O prejuízo que uma das partes experimenta em razão da excessiva desproporção entre as prestações acordadas. Art. 157/CC: Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. § 1º Aprecia-‐se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. § 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. Premente necessidade e inexperiência contratual. A pessoa pode ser um físico nuclear, mas não entende nada daquele contrato. Mas aqui segue a regra de conservação do negócio jurídico. EVOLUÇÃO HISTÓRICA Lesão enorme: se obtivesse uma vantagem superior a 50 o negócio poderia ser invalidado. Na Idade Média concebeu-‐se a ideia da lesão enormíssima, se a diferença fosse de 2/3. Alguns países tarifam, tabelam. O direito brasileiro aboliu a lesão no Código anterior. Ela existia nas ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas. Veio o Código de 16 com uma visão liberal individualista e aboliu a lesão. O novo Código Civil trouxe de volta a lesão. Mas antes do CC, o CDC já trazia a lesão. A lesão e o estado de perigo estão muito próximos. Mas no estado de perigo há um aproveitamento. A pessoa tem conhecimento. EX: O filho de uma pessoa foi sequestrado. Essa pense vende um carro a um preço vil, mas a outra parte não sabia da situação. Não dá para enquadrar como estado de perigo, mas da para enquadrar como lesão. LESÃO E IMPREVISÃO Existe no CDC a lesão consumerista. Essa é uma lesão especial. ;É uma causa de anulabilidade do negócio. Art. 6º/CDC: São direitos básicos do consumidor: V -‐ a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosa. Há uma diferença entre lesão e imprevisão. Na lesão o negócio já nasce viciado pela desproporção. Na imprevisão não. O negócio nasce equilibrado e fato superveniente provoca o desequilíbrio. A imprevisão não é hipótese de anulação do negócio. É hipótese de revisão contratual. CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 12 Art. 478/CC: Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. Art. 39/CDC: É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: V -‐ exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; Art. 51/CDC: São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: IV -‐ estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor emdesvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-‐fé ou a equidade; EX: sistema de barracão. É uma hipótese de lesão. Nas fazendas muito afastadas, um produto é vendido muito mais caro do que vale no mercado. Os produtos custam 3x, 4x mais. As cadernetas das vendas é até um meio de prova que se utiliza para demonstrar a redução à condição análoga à escravidão. É a prisão por dívida. AULA 17 – 04/11/2019 FRAUDE CONTRA CREDORES Última hipótese de anulabilidade. No nosso sistema creditício, a garantia do credor é o patrimônio do devedor. Ë um campo que diz respeito a alienação fraudulenta de bens. Se a garantia do credor é o patrimônio do devedor, e este dilapida seu patrimônio, põe em risco a satisfação do crédito. Art. 158/CC: Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. § 1º Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente. § 2º Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles. A forma como o ordenamento jurídico trata a fraude vai depender se a hipótese é de transmissão gratuita ou de transmissão onerosa. Fraude contra credores: o devedor insolvente ou na iminência de se tornar insolvente pratica atos de disposição patrimonial. Isso é o que caracteriza a fraude contra credores, a insolvência (circunstância do passivo superar o ativo). ELEMENTOS GERAIS Se tem um ato de transmissão gratuita, é uma hipótese de anulabilidade. O Direito entende que é uma hipótese de conluio, uma tentativa de enganar os credores. As circunstâncias objetivamente postas demonstram estar fraudando o interesse dos credores, independente da terceira pessoa saber ou não. Se o negócio for anulado, a pessoa que recebeu é apenas privada de um benefício. Ela não desembolsou nada por aquele bem. CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 13 Se é um ato de transmissão gratuita, por si só já se presume o vício. Se for um ato de transmissão onerosa já muda de figura. Envolve interesses do adquirente de boa fé. Tem que proteger os interesses legítimos dos credores, mas também tem que proteger os legítimos interesses do terceiro de boa fé, que não pode ser prejudicado. Para demonstrar uma fraude teria que provar um conluio, uma intenção. Art. 159/CC: Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante. ATOS DE TRANSMISSÃO GRATUITA Remição: resgate. Remissão: perdão. Nos atos de transmissão onerosa é preciso demonstrar a má conduta da outra parte. É um ônus de quem propôs a ação pauliana do credor. O que se pretende com essa ação é invalidar o negócio jurídico. Credor quirografário: são credores sem garantia. Um cheque, uma promissória, são apenas pedaços de papel. É um titulo executivo extrajudicial, mas é apenas um pedaço de papel. A garantia que tem é o patrimônio geral do devedor. Não é uma garantia real. Não é uma hipoteca, não é um penhor. Pode anular o ato de transmissão de bens e essa anulação pode ser feita pelos credores quirografários. Quem tem legitimidade para propor a ação anulatória é o credor quirografário, o credor sem garantia. Porque se for um credor com garantia real, o bem já está ali afetado à satisfação daquela dívida. Se o imóvel está agravado com a hipoteca pode vender tranquilamente. Não precisa de autorização do credor. A pessoa que vai comprar já compra sabendo que o imóvel está hipotecado. Quem compra não assume a dívida. No dia que vencer a dívida o banco vende o imóvel, não importa quem comprou. Em regra, o credor com garantia real não tem legitimidade para propor uma ação pauliana. Se o devedor está dilapidando seu patrimônio, e colocando em risco a satisfação do crédito dos demais quirografários, então esse credor tem interesse em evitar essas transferências onerosas ou gratuitas. Mas um credor com garantia real não, porque a garantia já o imuniza, já o protege. Há uma exceção. .Ela surgiu por causa do entendimento da jurisprudência. Não havia no Código de 73. EX: Uma fazenda de cacau vale 300 mil reais. O banco emprestou 100 mil reais. Mas uma praga atingiu a fazenda e o imóvel que valia 300 mil reais agora vale 50 mil reais. O banco tem um crédito de 100 mil. Apenas uma parte está coberta. A garantia só cobre a metade da dívida acordada. Então o banco, nesse particular, está se equiparando a um credor quirografário. Está na mesma condição do credor quirografário. Se a garantia se torna insuficiente, o credor real se equipara ao credor quirografário. O credor quirografário é o último a receber. O que sobrar, se sobrar alguma coisa, é que vai para esse credor. CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 14 ATOS DE TRANSMISSÃO ONEROSA No caso da transmissão gratuita, objetivamente a fraude se materializa. Presume-‐se que houve a fraude. Não precisa provar. Pelo simples fato do devedor está insolventee transmitir gratuitamente já é uma hipótese de invalidação. Mas se é uma transmissão onerosa é diferente, porque quem comprou pagou. Quem comprou desembolsou. Então se for anular o negócio corre o risco de prejudicar quem comprou, que vai perder o bem e vai perder o dinheiro. Então só pode invalidar se demonstrar que o comprador sabia da situação do devedor insolvente. Art. 163/CC: Presumem-‐se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor. EX: Imagine que alguém tem 10 credores quirografários. Deve 100 mil a cada um. Tem um imóvel e decidiu conceder a apenas um dos credores quirografários uma garantia real. Isso na verdade é um privilégio e é preciso respeitar o princípio da igualdade. Art. 165/CC: Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores. Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada. Os outros credores põem propor uma ação não para anular o negócio em si, mas para invalidar a garantia. Se tivesse atribuído essa garantia real desde o momento de início da dívida seria diferente. AÇÃO PAULIANA – LEGITIMADOS Ação pauliana ou ação revocatória. Credor com garantia real não tem legitimidade para propor ação pauliana, salvo de a garantia se depauperar, se garantia se tornar insuficiente. O Código tem uma impropriedade. EX: Gleice está devendo. Ela vende o bem a Caio. Julia é uma credora quirografária e quer anular esse negócio jurídico. Ela está legitimada para propor a ação. Mas contra quem ela vai propor a ação? Art. 161/CC: A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-‐fé. No caso do terceiro de má fé é preciso provar o conluio. O Código tem uma impropriedade quando diz que a ação “poderá” ser intentada. Devia ser “deverá”, porque é uma hipótese de litisconsórcio passivo necessário. A expressão “poderá” traduz uma faculdade, e não é uma faculdade. É uma necessidade. A sentença só pode produzir efeitos em relação as pessoas que participaram do processo judicial. Se a ação for apenas em relação a quem vendeu não tem como atingir quem adquiriu. FRAUDE NÃO ULTIMADA EX: Nilva, devedora insolvente, vendeu um bem a Rodrigo para pagar daqui a 3 meses. Jackson, credor quirografário, propõe a demanda. Rodrigo diz que quer ficar com o bem. Há sempre um esforço na CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 15 busca de manter o negócio jurídico. O mais prudente seria consignar o bem em juízo e chamar Jackson e os demais interessados que porventura existam. Ação de consignação. Art. 160/CC: Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-‐se-‐á depositando-‐o em juízo, com a citação de todos os interessados. Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real. A fraude estava em marcha, mas o credor conseguiu evitar a consumação porque envolveu o juízo. Art. 1.813/CC: Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à herança, poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-‐la em nome do renunciante. § 1º A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias seguintes ao conhecimento do fato. § 2º Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao remanescente, que será devolvido aos demais herdeiros. O ato de transmissão gratuita e o perdão de uma dívida podem ser uma renúncia ao crédito. Em relação a herança o legislador estabeleceu uma regra diferente. EX: Um homem morreu e deixou um patrimônio de 3 milhões de reais, 1 milhão para cada filho. Um dos filhos está devendo 500 mil reais. Se o filho resolver renunciar à herança, essa renúncia também é considerada uma espécie de fraude. Está fraudando os credores. Mas o legislador tratou essa hipótese de uma forma diferenciada. Ninguém é obrigado a aceitar a herança. Os credores podem aceitar a herança em nome do renunciante. O que sobrar será devolvido aos demais herdeiros. Não é nem uma hipótese de anulação. A renuncia simplesmente será ineficaz. FRAUDE CONTRA CREDORES X FRAUDE À EXECUÇÃO Fraude contra credores são providências do devedor para evitar a dilapidação patrimonial, promovidas antes de qualquer medida executada ou desencadeada pelo credor. Se o credor continua fazendo isso mesmo depois de acionado na justiça pode configurar fraude a execução, que é uma situação muito mais grave, que agride inclusive o próprio judiciário. Na fraude contra credores são agredidos interesses privados. Na fraude à execução é agredida a própria autoridade do judiciário. Fraude à execução é um instituto do processo civil. Fraude contra credores se trata de providencias contra o devedor que dilapida seu patrimônio antes do seu credor adotar medidas judiciais. Quando o credor propõe uma demanda em juízo,uma ação de conhecimento, de execução e de cobrança, a ofensa ultrapassa os limites dos interesses privados, particulares. A ofensa é contra a própria dignidade da justiça. Na fraude contra credores é uma hipótese de anulabilidade. Na fraude à execução independe de ação especifica. O juiz declara de ofício. E não é caso de nulidade nem de anulabilidade. O ato não é nulo, é ineficaz. Ineficaz no sentido de inoponível. Art. 792/CPC: A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução: CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 16 I -‐ quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com pretensão reipersecutória, desde que a pendência do processo tenha sido averbada no respectivo registro público, se houver; II -‐ quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do processo de execução, na forma do art. 828 ; III -‐ quando tiver sido averbado, no registro do bem, hipoteca judiciária ou outro ato de constrição judicial originário do processo onde foi arguida a fraude; IV -‐ quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-‐lo à insolvência; V -‐ nos demais casos expressos em lei. § 1º A alienação em fraude à execução é ineficaz em relação ao exequente. § 2º No caso de aquisição de bem não sujeito a registro, o terceiro adquirente tem o ônus de provar que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem. § 3º Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-‐se a partir da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar. § 4º Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser, poderá opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias. AULA 18 – 06/11/2019 INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO Invalidade de um negócio jurídico é uma sanção que a ordem jurídica impõe aos atos que contrariam seus comandos. Essa é a natureza jurídica da invalidade. Esse assunto tem muita divergência terminológica entre os manuais. A invalidade adota graus. Dai a distinção que a própria lei estabelece entra atos nulos e atos anuláveis. Quando se trata do negócio jurídico nulo, tem-‐se em conta o ferimento a interesses de ordem pública, ferimento a interesses sociais mais amplos. Quando se trata de atos anuláveis, a referencia é a violação a interesses privados, particulares. Mas isso também tem muito a ver com os interesses do legislador. EX: A simulação, no Código anterior, era uma hipótese de anulabilidade. No atual Código, foi retirada do rol dos vícios e inserida no capítulo das nulidades. Passou a ser uma causa de nulidade. HIPÓTESES • Nulidade Art. 166/CC: É nulo o negócio jurídico quando: I -‐ celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II -‐ for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III -‐ o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV -‐ não revestir a forma prescrita em lei; V -‐ for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI -‐ tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII -‐ a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-‐lhe a prática, sem cominar sanção. CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 17 Esse artigo se articula com o art. 104. Quando se trata de ato nulo, pressupõe-‐se ato existente. O chamado ato inexistente não existira para o direito. O ato nulo existe contra o direito. Ele ingressa no mundo do direito, porém de forma defeituosa. As hipóteses de invalidade são congêneres. Estão no nascedouro. O negócio já nasce com esse vício. Gênero: invalidade. Espécies: nulidade e anulabilidade. Art. 104/CC: A validade do negócio jurídico requer: I -‐ agente capaz; II -‐ objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III -‐ forma prescrita ou não defesa em lei. Se o negócio contravém esses dispositivos ele é invalido. Pode ser nulo ou anulável. Agente relativamente incapaz: negócio anulável. Agente absolutamente incapaz: negócio nulo. Características: São situações de afronta às normas cogentes, normas de ordem pública. Art. 168/CC: As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir. Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-‐las, ainda que a requerimento das partes. Para anular faz uma ação declaratória de nulidade. Atos nulos, em tese, são imprescritíveis. • Anulabilidade Art. 171/CC: Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I -‐ por incapacidade relativa do agente; II -‐ por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. Características: Como prevalece o interesse privado tem um tratamento diferente. Art. 177/CC: A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que aalegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade. Mesmo que o juiz saiba que aquele contrato foi obtido mediante coação, não pode fazer nada. Houve dolo? O juiz não pode pronunciar de oficio. Cabe a parte propor a ação. O negócio produz efeitos, mas são efeitos provisórios, interinos. Se os interessados não propuserem a demanda, convalesce-‐se a lesão (ferimento ao direito). O Direito tem dificuldade de lidar com atos anuláveis: ou anula ou convalesce. CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 18 Art. 182/CC: Anulado o negócio jurídico, restituir-‐se-‐ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-‐las, serão indenizadas com o equivalente. Para anular faz uma ação anulatória. O ato é anulável, é passível de anulação. Se não propõe a ação no prazo, ele convalesce. Tem prazo decadencial para propositura da ação de 4 anos, contados da celebração do negócio (com exceção da coação, que o prazo só começa a contar quando cessada a coação). A ação pauliana é uma espécie de ação anulatória. Existe uma corrente que entende que em se tratando de negócio nulo, os efeitos da sentença são ex tunc. Se o negócio é anulável, o efeito é ex nunc. Há outra corrente que considera que nas duas situações a hipótese é de retroatividade. Zenon: “O negócio nulo não produz efeitos ordinariamente. A sentença que declara a nulidade opera retroativamente e tem efeitos ex tunc. O anulável produz efeitos normais, condicionados a não existência de uma sentença que decrete e a anulação. Sobrevindo tal sentença, porém, ela atinge na sua própria formação de origem, desconstintuindo-‐o, desfazendo todos os seus efeitos e as consequências por ele geradas, sendo certo que, assim como a sentença de nulidade, o decreto de anulação restaura o estado de origem, operando igualmente ex tunc.” CONFIRMAÇÃO/CONVERSÃO • Conversão: se aplica ao negócio jurídico nulo. Surgiu como algo revolucionário, mas não teve aplicação prática nenhuma. Copiamos do Direito alemão e italiano. Art. 170/CC: Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade. Dos escombros de um negócio jurídico nulo, você promove uma recategorização jurídica e atribui uma outra natureza. EX: Negócio de compra e venda nulo por um vício de forma. Ela pode ser aproveitada como se fosse uma promessa de compra e venda. Isso seria uma conversão. A conversão implica numa mudança da qualificação jurídica. O negócio jurídico nulo não tem confirmação. Não convalesce. • Confirmação: se aplica ao negócio jurídico anulável. AULA 19 – 18/11/2019 SIMULAÇÃO É uma hipótese autônoma de nulidade dos negócios jurídicos. Simular é fingir. Um negócio simulado é um negócio posto somente em aparência. É posto em aparência para enganar terceiros. Há uma intenção de enganar. CIVIL II – PEDRO LINO | 2019.2 | J. X. Esmeraldo 19 Há um concerto entre as partes para enganar terceiros. Art. 167/CC: É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I -‐ aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II -‐ contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III -‐ os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-‐datados. § 2º Ressalvam-‐se os direitos de terceiros de boa-‐fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. Na simulação o que há é mera aparência. EX: Cleiton percebe que vai ter problemas com a justiça e simula uma venda, passando todo o seu patrimônio para Pedro. A diferença entre a simulação e a fraude contra credores é que na fraude contra credores os atos de transmissão são atos reais. Você realmente transmite o bem (doando ou alienando). Para desconstituí-‐la há necessidade de uma ação pauliana ou revocatória. Na simulação não há essa transferência real, é apenas aparência. É uma situação muito mais grave. Por isso que o legislador enquadrou a simulação como uma forma de nulidade e não apenas anulabilidade (o tratamento jurídico é distinto). EX: Um patrão demite um empregado para ele sacar o seguro desemprego, mas o empregado continua trabalhando sem carteira assinada. É uma hipótese de simulação. Está simulando uma dispensa, uma rescisão contratual. Simulação mais comum: EX: O sujeito vende o imóvel por 1 milhão e na escritura está 500 mil. 1. ABSOLUTA Simulação absoluta: o negócio é posto somente em aparência. EX: Cleiton está com medo de alguns processos de cobrança. Transfere seus bens para Rodrigo. Esse negócio é apenas aparência. 2. RELATIVA Existem dois negócios. Sob a aparência de um negócio oculta-‐se outro. É uma mascara. Existe o negócio simulado (aparente) e existe o negócio real. EX: Murilo simulou uma venda para sua amante, mas na verdade fez uma doação. A aparência é de uma venda, mas o negócio dissimulado, que é o real, é a doação. A lei proíbe quem é casado doar bens a parceiros
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