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DIREITO CIVIL II NEGÓCIOS JURÍDICOS AULA 9 PROFA. TANIA AFONSO 12/9/18 Fraude contra credores e simulação. Plano de ensino (CONTEÚDO PROGRAMÁTICO) 1. Apresentação da matéria, do programa e da bibliografia. Atos jurídicos, fatos jurídicos e seus reflexos sociais. Fatos naturais (Fatos jurídicos "strictu sensu") e Fatos humanos (Atos jurídicos "lato sensu") 2. Negócio jurídico. Conceito, classificação e interpretação (Elemento Volitivo) 3. Teoria da Existência, validade e eficácia do negócio jurídico. 4. Elementos dos negócios jurídicos. Classificação. Elementos essenciais naturais: Vícios redibitórios e evicção. 5. Elementos dos negócios jurídicos. Classificação. Elementos acidentais: Condição, termo e encargo. 6. Aquisição, defesa e extinção. Teorias sobre a autonomia privada. 7. Defeitos dos negócios jurídicos (vícios do negócio): erro ou ignorância, dolo, coação; 8. Estado de perigo e lesão de direito. 9. Fraude contra credores e simulação. 10. Invalidade e ineficácia dos negócios jurídicos 11. Atos ilícitos. Teoria geral. Responsabilidade Civil. Abuso de direito. 12. Atos lesivos não considerados ilícitos: Legítima defesa, exercício regular de direito e estado de necessidade. 13. Tempo no direito: Prescrição 14. Tempo no direito: Decadência 15. Provas no direito civil: Noções gerais. Espécies. ÚLTIMO EXAME DA OAB (5/8/2018) 35ª Questão: A cidade de Asa Branca foi atingida por uma tempestade de grandes proporções. As ruas ficaram alagadas e a população sofreu com a inundação de suas casas e seus locais de trabalho. Antônio, que tinha uma pequena barcaça, aproveitou a ocasião para realizar o transporte dos moradores pelo triplo do preço que normalmente seria cobrado, tendo em vista a premente necessidade dos moradores de recorrer a esse tipo de transporte. Nesse caso, em relação ao citado negócio jurídico, ocorreu a) estado de perigo. b) dolo. c) lesão. d) erro. OAB 2017 (NOVEMBRO) • Eduardo comprometeu-se a transferir para Daniela um imóvel que possui no litoral, mas uma cláusula especial no contrato previa que a transferência somente ocorreria caso a cidade em que o imóvel se localiza viesse a sediar, nos próximos dez anos, um campeonato mundial de surfe. Depois de realizado o negócio, todavia, o advento de nova legislação ambiental impôs regras impeditivas para a realização do campeonato naquele local. Sobre a incidência de tais regras, assinale a afirmativa correta. • a) Daniela tem direito adquirido à aquisição do imóvel, pois a cláusula especial configura um termo. • b) Prevista uma condição na cláusula especial, Daniela tem direito adquirido à aquisição do imóvel. • c) Há mera expectativa de direito à aquisição do imóvel por parte de Daniela, pois a cláusula especial tem natureza jurídica de termo. • d) Daniela tem somente expectativa de direito à aquisição do imóvel, uma vez que há uma condição na cláusula especial. OAB 2016 • Durante uma viagem aérea, Eliseu foi acometido de um mal súbito, que demandava atendimento imediato. O piloto dirigiu o avião para o aeroporto mais próximo, mas a aterrissagem não ocorreria a tempo de salvar Eliseu. Um passageiro ofereceu seus conhecimentos médicos para atender Eliseu, mas demandou pagamento bastante superior ao valor de mercado, sob a alegação de que se encontrava de férias. Os termos do passageiro foram prontamente aceitos por Eliseu. Recuperado do mal que o atingiu, para evitar a cobrança dos valores avençados, Eliseu pode pretender a anulação do acordo firmado com o outro passageiro, alegando • a) erro. • b) dolo. • c) coação. • d) estado de perigo. • OAB 2017 • Juliana, por meio de contrato de compra e venda, adquiriu de Ricardo, profissional liberal, um carro seminovo (30.000km) da marca Y pelo preço de R$ 24.000,00. Ficou acertado que Ricardo faria a revisão de 30.000km no veículo antes de entregá-lo para Juliana no dia 23 de janeiro de 2017. Ricardo, porém, não realizou a revisão e omitiu tal fato de Juliana, pois acreditava que não haveria qualquer problema, já que, aparentemente, o carro funcionava bem. No dia 23 de fevereiro de 2017, Juliana sofreu acidente em razão de defeito no freio do carro, com a perda total do veículo. A perícia demostrou que a causa do acidente foi falha na conservação do bem, tendo em vista que as pastilhas do freio não tinham sido trocadas na revisão de 30.000km, o que era essencial para a manutenção do carro. • Considerando os fatos, assinale a afirmativa correta. • a) Ricardo não tem nenhuma responsabilidade pelo dano sofrido por Juliana (perda total do carro), tendo em vista que o carro estava aparentemente funcionando bem no momento da tradição. • b) Ricardo deverá ressarcir o valor das pastilhas de freio, nada tendo a ver com o acidente sofrido por Juliana. • c) Ricardo é responsável por todo o dano sofrido por Juliana, com a perda total do carro, tendo em vista que o perecimento do bem foi devido a vício oculto já existente ao tempo da tradição. • d) Ricardo deverá ressarcir o valor da revisão de 30.000km do carro, tendo em vista que ela não foi realizada conforme previsto no contrato. OAB 2017 • 41ª Questão: Em um bazar beneficente, promovido por Júlia, Marta adquiriu um antigo faqueiro, praticamente sem uso. Acreditando que o faqueiro era feito de prata, Marta ofereceu um preço elevado sem nada perguntar sobre o produto. Júlia, acreditando no espírito benevolente de sua vizinha, prontamente aceitou o preço oferecido. Após dois anos de uso constante, Marta percebeu que os talheres começaram a ficar manchados e a se dobrarem com facilidade. Consultando um especialista, ela descobre que o faqueiro era feito de uma liga metálica barata, de vida útil curta, e que, com o uso reiterado, ele se deterioraria. De acordo com o caso narrado, assinale a afirmativa correta. • a) A compra e venda firmada entre Marta e Júlia é nula, por conter vício em seu objeto, um dos elementos essenciais do negócio jurídico. • b) O negócio foi plenamente válido, considerando ter restado comprovado que Júlia não tinha qualquer motivo para suspeitar do engano de Marta. • c) O prazo decadencial a ser observado para que Marta pretenda judicialmente o desfazimento do negócio deve ser contado da data de descoberta do vício. • d) De acordo com a disciplina do Código Civil, Júlia poderá evitar que o negócio seja desfeito se oferecer um abatimento no preço de venda proporcional à baixa qualidade do faqueiro. 20º Exame da Ordem – OAB/RJ – 1ª fase 3 – No que se refere à coação, assinale a alternativa INCORRETA: a) A coação física, violência, vis absoluta, exclui o consentimento. Não há negócio jurídico porque falta o elemento principal – a vontade do agente – que foi privado de manifestá-la, o que acarreta a inexistência do negócio; b) A coação, como vício do consentimento, se aprecia objetivamente, sem consideração à condição das partes; c) O caso do credor que ameaça levar o devedor a juízo, a fim de obrigá-lo ao pagamento da dívida, não constitui coação; d) A ameaça de um mal remoto ou evitável não constitui coação capaz de viciar o negócio. O negócio jurídico depende da regular manifestação de vontade do agente envolvido. Nesse sentido, o art. 138 do Código Civil dispõe que “são anuláveis os negócios jurídicos quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio”. Relativamente aos defeitos dos negócios jurídicos, assinale a alternativa correta. (A) O falso motivo, por sua gravidade, viciará a declaração de vontade em todas as situações e, por consequência, gerará a anulação do negócio jurídico. (B) O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante. (C) O erro é substancial quando concerne à identidade ou à qualidadeessencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, ainda que tenha influído nesta de modo superficial. (D) O erro de cálculo gera a anulação do negócio jurídico, uma vez que restou viciada a declaração de vontade nele baseada. OAB 2011 IV EXAME DE ORDEM UNIFICADO– PROVA PRÁTICO-PROFISSIONAL – DIREITO CIVIL Página 14 QUESTÃO 4 A arquiteta Veronise comprou um espremedor de frutas da marca Bom Suco no dia 5 de janeiro de 2011. Quarenta dias após Veronise iniciar sua utilização, o produto quebrou. Veronise procurou uma autorizada e foi informada de que o aparelho era fabricado na China e não havia peças de reposição no mercado. No mesmo dia, ela ligou para o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) da empresa. A orientação foi completamente diferente: o produto deveria ser levado para o conserto. Passados 30 dias da ocasião em que o espremedor foi encaminhado à autorizada, o fabricante informou que ainda não havia recebido a peça para realizar o conserto, mas que ela chegaria em três dias. Como o problema persistiu, o fabricante determinou que a consumidora recebesse um espremedor novo do mesmo modelo. Diante da situação apresentada, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso. a) O caso narrado caracteriza a ocorrência de qual instituto jurídico, no que se refere ao defeito apresentado pelo espremedor de frutas? (Valor: 0,5) b) Como advogado (a) de Veronise, analise a conduta do fornecedor, indicando se procedeu de maneira correta ao deixar de realizar o reparo por falta de peça e determinar a substituição do produto por um novo espremedor de frutas. (Valor: 0,75) GABARITO OFICIAL – Civil – Questão 4 No primeiro tópico, o examinando deve informar a ocorrência de vício do produto, instituto caracterizado por ser VR. Deve explicitar que o defeito só seria “de conhecimento” após uso. No segundo tópico, o candidato deve explicitar que há, por parte do fabricante, obrigatoriedade de manter peças de reposição no mercado mas no caso em tela, como se passaram mais de 30 dias que o produto foi para conserto, cabe ao consumidor decidir se quer a troca do produto, abatimento no preço ou devolução do dinheiro, razão pela qual se pode afirmar que procedeu equivocadamente o fornecedor ao determinar, sem previamente consultar a consumidora, a substituição do produto. OAB 126 – 2ª FASE • Jacobino, acossado por seu credor Girondino, que ameaçava de mal maior a sua família caso não pagasse suas dívidas, viu-se obrigado a vender a este a casa onde residiam. Com o fruto da venda, pagou as dívidas, mas devido à pressão exercida pelo credor a transação deu-se por preço equivalente à metade do valor justo para o imóvel. Jacobino pode exercer algum direito perante Girondino, para recuperar a casa ou o valor pago? Com qual fundamento? GABARITO OFICIAL DA OAB/SP • O contrato de compra e venda pode ser anulado por lesão (Código Civil, art. 157), em razão da desproporção entre as prestações e do estado de premente necessidade que levou Jacobino a vender o imóvel. Eventualmente, poderá Jacobino receber a complementação do valor justo (CC, art. 157, §2o). SIMULAÇÃO • A simulação é um vício do negócio jurídico consistente em um desacordo entre a vontade declarada e o que é desejado com o intuito de enganar terceiros. Conforme ensina Flávio Tartuce, “há uma discrepância entre a vontade e a declaração; entre a essência e a aparência”. Simulação • Simulação, como conceito jurídico, corresponde ao ato, ou negócio jurídico, que oculta a real intenção do agente. Ao contrário do que dispunha o Código Civil de 1916, a simulação agora é causa de nulidade do ato e não mais de anulabilidade. A razão dessa alteração reside no fato de que na simulação, não há vício da vontade. Há, sim, uma aparência de legalidade, mas o interior do ato esconde a intenção de burla à lei. • A simulação tecnicamente, não figura dentre os vícios negociais presentes no Código Civil. • O que é uma pessoa simulada? Não é uma pessoa “dissimulada”, como recorrentemente dito; o termo correto é “simulada”. • É uma pessoa falsa, que aparenta algo que não é. • É idêntico o raciocínio do vício negocial da simulação: um ato falso é praticado. • DISSIMULADO – esconde o que é • SIMULADO – aparenta algo que não é Veremos simulação devidamente elencada no Código Civil, mas no Art. 167 temos o seguinte: Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. Caso para análise Por entender que havia irregularidades em um contrato de compra e venda, o juiz Llewellyn Davies A. Medina, de Belo Horizonte, determinou o cancelamento da escritura, bem como uma retificação no documento com a inclusão do nome de uma empresária que impetrou a ação. Falência de sociedade, duas simulações de venda de imóvel e empréstimo fraudulento foram algumas das irregularidades observadas pelo juiz. A decisão foi publicada no dia 17 de maio de 2014. A empresária entrou com uma ação ordinária com pedido de anulação de uma escritura pública em 2008 como resposta a uma ação de rescisão contratual que pedia o fim de um comodato e solicitava que ela devolvesse o apartamento onde residia com a filha, recém nascida. A ação de rescisão contratual havia sido proposta por um casal que alegava ter comprado o apartamento do antigo sócio da empresária, com a condição de assumir as providências para que a empresária desocupasse o imóvel. O casal alegou ainda que comprou o imóvel como forma de receber uma dívida, uma vez que o valor do débito seria descontado do valor negociado pelo imóvel. Pedia ainda, naquele processo, em caráter liminar, que a Justiça determinasse a imissão de posse e consequente desocupação do imóvel pela empresária. Porém, em audiência de justificação determinada pelo juiz naquele processo foi verificado que as provas produzidas eram conflitantes, o que levou o juiz a não conceder a liminar. O juiz Llewellyn Davies observou que havia contradições nos depoimentos dos compradores e do ex-sócio, nos documentos apresentados, nos contratos e comprovantes bancários Ficou comprovado, segundo o magistrado, que a empresária simulou a venda de seu apartamento ao ex-sócio, por sugestão dele, a fim de utilizar o dinheiro do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) da esposa dele, liberado pela Caixa Econômica Federal, para saldar as dívidas da sociedade, causadas, como demonstrou a empresária, pela má gestão de seu ex-sócio. A empresária disse que devolveu os valores através de depósitos nas contas utilizadas pelos sócios. Ela revelou ainda que a escritura do imóvel deveria ter sido novamente registrada em seu nome pelo ex-sócio, mas ao invés disso, de posse do documento, mesmo tendo recebido todo o dinheiro emprestado pela esposa de volta, ele simulou a venda do apartamento para o outro casal • O primeiro negócio analisado pelo juiz foi a venda do apartamento para o ex-sócio da empresária. Llewellyn Davies entendeu que os documentos anexados ao processo comprovaram que a venda do apartamento ocorreu como narrada pela empresária. Também que os valores que foram recebidos, oriundos do FGTS da esposa do sócio, retornaram para as contas que eram administradas por ele, fato que demonstra que não houve pagamento do respectivo preço pela suposta compra e venda. Comprovada a simulação, o juiz declarou a nulidade do negócio jurídico Atento ao diposto no artigo 167 do Código Civil, que ressalvaos direitos dos terceiros de boa-fé, o juiz passou a analisar o direito do outro casal que afirmava ter adquirido o imóvel do ex-sócio. Mas o magistrado considerou os depoimentos do casal e do ex-sócio da empresária divergentes, inclusive quanto ao valor da venda do apartamento. Além disso, Llewellyn Davies A. Medina classificou como muito estranha a conduta do casal, que deveria pagar aproximadamente R$ 50 mil, sem sequer comparecer ao imóvel para avaliá-lo. Assim, ele reconheceu a simulação em relação a essa segunda venda do apartamento e a nulidade dos negócios, julgando improcedente a ação que era movida contra a empresária. Não há que se falar em rescisão do contrato de comodato que, na verdade, nunca ocorreu, concluiu ele. Na simulação, o negócio que se apresenta à vista de todos não é o realmente desejado pelas partes, mas é aquele que confere aparência legal ao que a verdadeira manifestação volitiva persegue. Destaque- se ainda que essa disparidade entre o querido e o apresentado não é ocasional, mas proposital. A característica mais relevante do negócio simulado é a divergência intencional entre a vontade e a declaração. Não há que se falar aqui em vício da vontade, pois essa se manifesta de forma desembaraçada. A simulação é um vício social, na medida em que as partes, agindo em conluio, criam a imagem de um negócio diferente do pretendido •Diante da análise dos artigos 167 e 48, parágrafo único, ambos do Código Civil, pode-se dizer que o ato simulado é nulo ou anulável? • O ato simulado é nulo (art. 167 , CC) e não anulável como disposto no art. 48 , parágrafo único do mesmo instituto. Por isso os doutrinadores defendem que esse artigo foi equivocado, sendo necessário, com urgência, uma modificação legislativa para adaptá-lo melhor ao sistema codificado. Neste sentido, o prof. Pablo Stolze defende que, enquanto não concretizada tal alteração, deve-se entender que se trata de um prazo especial para a pratica de atos jurídicos não negociais. O que diz o artigo para vicios simulados? É nulo o negócio, ou seja, invalidade absoluta. É o único vício negocial que gerará nulidade. Todos os demais vícios negociais gerarão somente a anulabilidade. Haverá simulação dos negócios jurídicos quando: •I: aparentar conferir: isso é exatamente a característica de alguém simulado; •II: firma-se um contrato, e depois se vê que uma cláusula não corresponde à realidade; •III: é a coisa que mais acontece. “Bota a data de ontem!” Isso é simulação, porque não é verdade. Se alguém prova que aquele negócio não foi assinado na data, haverá simulação • Nesse sentido, na caracterização da simulação, destaca-se a • (i) intencionalidade na divergência entre vontade e declaração, • (ii) acordo simulatório entre os que declaram vontade, (iii) o intuito de enganar terceiros • Há intencionalidade na divergência entre vontade e declaração. O emitente sabe que a declaração é errada, mas ainda assim procede com essa falsa representação da realidade. O intuito de enganar não pode ser equiparado com o de prejudicar terceiros. Não há, na simulação, vinculação necessária de prejuízo a alguém. No entanto, quando essa vontade de implicar prejuízo a outrem existe, diz-se que a simulação é maliciosa. Fácil, diante do exposto, é perceber que a declaração que não visa ao mal alheio reputa-se como inocente. No que se refere a essa distinção entre inocente e maliciosa, erige-se uma celeuma doutrinária. No Código anterior, o art. 103 determinava que somente a simulação maliciosa viciava o negócio. Tal regra não foi repetida pelo atual Código, o que levou grande parte dos autores, na esteira da corrente jurisprudencial já majoritária, a acreditar que a simulação inocente ensejaria a nulidade do negócio da mesma forma que a maliciosa • A simulação pode assumir a forma de simulação relativa e simulação absoluta. Há simulação absoluta quando a declaração falaciosa se faz objetivando a não produção de nenhum resultado. O interesse real dos agentes é não praticar ato algum. Na realidade, não há que falar em ato ou negócio encoberto, pois nenhum ato existe. • Na simulação relativa há de fato um negócio pretendido pelas partes, mas a intenção delas é que esse negócio permaneça dissimulado (daí também ser chamada dissimulação). O negócio aparente tem por escopo encobrir outro de natureza diversa • Se esse ato não prejudicar terceiros e não atentar contra a lei, o ato que o dissimula pode ser afastado, assumindo a vontade perante todos a sua face real. Esse é o sentido da lei, manifestado pelo art. 167 do Código Civil: • Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. Apesar de inválido o negócio simulado (nulo), subsistirá o dissimulado se suas forma e substância. forem válidas. Em relação à simulação relativa, a construção doutrinária enfoca ainda 3 formas pelas quais ela pode se manifestar: (i) Sobre a natureza do negócio – ex. simulação de doação, quando na realidade procede-se com compra e venda. O objetivo é fugir da excessiva tributação que marca a alienação de imóveis. (ii) Sobre o conteúdo do negócio – ex. numa alienação, o valor definido no instrumento contratual é inferior o valor efetivo da transação; (iii) Sobre a pessoa que participa do negócio – trata-se de uma verdadeira construção ficcional, onde outra pessoa é envolvida na transação a fim de mascarar o conhecimento daqueles que realmente atuam no ato. É o caso dos chamados “laranjas” ou “testas de ferro”. • O art. 168 destaca os legitimados, que podem ser quaisquer interessados, bem como o Ministério Público, nos casos em que seja chamado a intervir. 24º Exame da Ordem – OAB/RJ – 1ª fase 40 – Sobre simulação no novo Código Civil, é correto afirmar que: a) Não se trata de hipótese de anulação, como no Código anterior, mas sim de nulidade do negócio jurídico; b) Decorre da prática de atos legais, mas com a finalidade de prejudicar terceiros, ou, ao menos, frustrar a aplicação de determinada regra jurídica; c) Foi excluída do novo Código Civil, não sendo causa de inexistência, nem nulidade e, tampouco, de anulação do negócio jurídico; d) É o artifício ou expediente astucioso, empregado para induzir alguém à prática de um ato jurídico, que o prejudica. • 22º Exame da Ordem – OAB/RJ – 1ª fase • 3 – Em relação à simulação é CORRETO afirmar: • a) tal como na coação, uma das partes é forçada, mediante grave ameaça, a praticar o ato ou celebrar o negócio; • b) na simulação relativa o negócio dissimulado não subsiste, mesmo que seja válido na substância e na forma; • c) nunca é acordada com a outra parte ou com as pessoas a quem ela se destina; • d) é uma declaração falsa, enganosa, da vontade, visando aparentar negócio diverso do efetivamente desejado. 20º Exame da Ordem – OAB/RJ – 1ª fase 3 – No que se refere à coação, assinale a alternativa INCORRETA: a) A coação física, violência, vis absoluta, exclui o consentimento. Não há negócio jurídico porque falta o elemento principal – a vontade do agente – que foi privado de manifestá-la, o que acarreta a inexistência do negócio; b) A coação, como vício do consentimento, se aprecia objetivamente, sem consideração à condição das partes; c) O caso do credor que ameaça levar o devedor a juízo, a fim de obrigá-lo ao pagamento da dívida, não constitui coação; d) A ameaça de um mal remoto ou evitável não constitui coação capaz de viciar o negócio. 21. (OAB ES CESPE/UnB 2004) No tocante aos defeitos do ato e do negócio jurídico, assinale a opção correta. A) Para caracterização do vício da simulação, com a consequente nulidade do negócio jurídico, é necessário que, na conduta do agente, ocorra a intenção de lesar terceiro. B) Constatada a ocorrência de vício da simulação no negócio jurídico, admite-se a subsistência do atodissimulado se este for válido na forma e na substância. Assim, na simulação, sobrevive o negócio jurídico dissimulado, que consistia na verdadeira intenção das partes, e aniquila-se o negócio jurídico simulado, que se apresenta no mundo real, mas veicula vontade enganosa. C) O negócio jurídico é anulável, se atingido por erro de direito que recaia sobre norma cogente, bem como sobre norma dispositiva, ambas sujeitas ao livre acordo das partes, mesmo se tal transação fosse considerada legal por uma das partes. D) O pagamento de dívida vencida efetuado pelo devedor insolvente a um de seus credores quirografários presume-se em fraude ao concurso de credores, o que obriga o beneficiado a devolver o que recebeu em proveito do acervo do devedor. Aula do dia 19/9/11 fraude contra credores Profa Tânia A respeito do negócio jurídico é INCORRETO afirmar que a) os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. b) a validade do negócio jurídico requer agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei. c) o silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, ainda que seja necessária a declaração de vontade expressa. d) os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar da sua celebração. e) nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que no sentido literal da linguagem • A respeito dos defeitos e da invalidade do negócio jurídico, assinale a opção correta. • a) São anuláveis os negócios jurídicos por vício de erro. • b) São nulos os negócios jurídicos por vício de dolo. • c) O negócio jurídico resultante do vício de coação não é passível de confirmação, por ser nulo de pleno direito. • d) Configura-se o vício de lesão quando alguém, premido pela necessidade de salvar a si mesmo, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação onerosa. • Num negócio jurídico, houve erro de cálculo do valor das prestações mensais do preço estabelecido para a transação. Nesse caso, o erro de cálculo • a) implica a inexistência do negócio jurídico. • b) apenas autoriza a retificação da declaração de vontade. • c) acarreta a nulidade do negócio jurídico. • d) possibilita a anulação do negócio jurídico. • e) só possibilita a anulação do negócio jurídico se o seu objeto for bem imóvel. • José recebeu quantias em dinheiro de Paulo, Pedro e Antonio, que assinaram escrituras de doação em seu favor, com fundado temor de dano imediato decorrente de ameaças por este formuladas. José ameaçou Paulo de agressão física; intimidou Pedro, ameaçando agredir seu neto; e disse a Antonio que, se não o fizesse, atearia fogo em sua fazenda. Nesse caso, pode(m) ser anulada(s) por coação a(s) doação(ões) feita(s) por a) Pedro e Antonio, apenas. b) Paulo, apenas. c) Paulo e Pedro, apenas. d) Paulo e Antonio, apenas. e) Paulo, Pedro e Antonio. • São requisitos do instituto da lesão, EXCETO • a) onerosidade excessiva para um dos contratantes. • b) desproporcionalidade das prestações. • c) imprevisibilidade do fator de desestabilização do contrato. • d) inexperiência de um dos contratantes. • e) imperativo em contratar de uma das partes. Marcelo, filho de Joana e Lauro, após realizar uma ressonância magnética, teve diagnóstico de câncer de pulmão. Com isso, Lauro, no dia seguinte, vendeu seu apartamento pela metade do preço de mercado, a fim de levar seu filho para fazer tratamento em renomado hospital nos Estados Unidos da América. Lá chegando, foram informados de que o diagnóstico fora equivocado. Ao retornar ao Brasil, Lauro procurou um advogado que lhe informou acerca da possibilidade de ser anulado o negócio jurídico relativo à venda do imóvel. Nessa situação hipotética, a anulação da venda do imóvel se justifica por motivo de a) erro. b) estado de perigo. c) lesão. d) onerosidade excessiva. e) estado de necessidade. FRAUDE CONTRA CREDORES CASO GERADOR Imaginem que Estevam solicita a Sônia um empréstimo. Ela, que o conhece bem, prontamente concede R$ 2.000,00, e nem se dá ao trabalho de perguntar para que Estevam queria o dinheiro. Depois de dois meses Sônia vê que Estevam está dirigindo o carro do ano, passeando de lancha, jogando golfe e se alimentando em caros restaurantes. Ele é um homem de negócios (que Sônia imaginava estar passando por uma má fase), portanto também costuma contrair outros empréstimos. Seus credores cobram e ele, de pronto, paga suas dívidas, inclusive algumas maiores que os dois mil reais. Mas “se esquece” de Sônia. Está evidente que Estevam tem condições de pagar o empréstimo, ainda que com os juros, e não o fez. Está configurada a fraude contra credor? Credores são todos aqueles que têm direitos. O Código Civil deve proteger esses direitos, sob pena de se voltar ao estado de natureza: se não há garantias, as pessoas buscarão o cumprimento das obrigações "no porrete." A fraude contra credores é, então, a tentativa ou a prática de lesar os credores. O raciocínio é bem fácil: tenho um credor, e logicamente tenho conhecimento da dívida, e, antes ou durante o processo de cobrança, começo a dilapidar meu patrimônio, na tentativa de reduzir a minha insolvência. O que é isso? Entenda, didaticamente, como falência da pessoa natural. Não se esqueça que, tecnicamente, esse termo não existe. Significa que ela deve mais na praça do que tem a receber. Também, por óbvio, não configura insolvência caso o patrimônio possa suportar a dívida, como possuir R$ 1 milhão e dever apenas R$ 100 mil. PRIMEIROS PASSOS • A garantia dos credores para a satisfação de seus créditos reside no patrimônio do devedor. Enquanto o devedor, no curso de sua vida jurídica, pratica atos que não colocam em choque a garantia de seus credores, está ele plenamente livre para agir dentro da capacidade que o Direito lhe concede. • No momento em que as dívidas do devedor superam seus créditos, mas não só isso, no momento em que sua capacidade de produzir bens e aumentar seu patrimônio mostra-se insuficiente para garantir suas dívidas, seus atos de alienação tornam-se suspeitos e podem ser anulados, configurando a fraude contra credores • Se o devedor desfalca seu patrimônio de forma maliciosa, a ponto de não garantir mais o pagamento de todas as suas dívidas, tornando-se assim insolvente, com o seu passivo superando o ativo, configura-se a fraude contra credores. • Desta feita, fraude contra credores é, portanto, todo o ato suscetível de diminuir ou onerar seu patrimônio, reduzindo ou eliminando a garantia que este apresenta para pagamento de suas dívidas, praticado por devedor insolvente, ou por ele reduzido à insolvência Requisitos da fraude contra credores • São três os requisitos para a tipificação da fraude contra credores: • 1) a anterioridade do crédito, • II) o consilium fraudis e • III)o eventus damni (alguns doutrinadores entendem que são somente os dois últimos). I) A anterioridade do crédito em face da prática • Prática fraudulenta está expressamente prevista no art. 158, § 2o. • Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. • § 2º Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles. • É facilmente perceptível a razão dessa exigência. Quem contrata com alguém já insolvente não encontra patrimônio garantidor. Os credores posteriores não encontram a garantia almejada pela lei. Sua obrigação é certificar-se da situação patrimonial do devedor. • Assim, não podem os credores posteriores insolvência do devedor, pleitear a anulação de negóciosjurídicos realizados pelo devedor, se ao tempo da realização do negócio jurídico não eram dele credores II) O eventus damni (resultado do dano) necessita estar presente para ocorrer a fraude tratada. Aqui não há divergência. Sem o prejuízo, não existe legítimo interesse para propositura da ação pauliana. O dano, portanto, constitui elemento da fraude contra credores. O Eventus Damni, portanto, é o elemento objetivo da fraude, pois fraude é todo ato prejudicial ao credor, por tornar insolvente o devedor, ou por ter sido praticado em estado de insolvência. Esse elemento exige a prática concreta do ato, a existência do defeito fático, da presença de elemento inadequado na prática do III - O terceiro requisito é elemento subjetivo, ou seja, o consilium fraudis (conluio fraudulento), • que é a má-fé do devedor, a consciência de prejudicar terceiros. • Apesar do Código Civil entender que para existir a fraude não precisa necessariamente que o adquirente saiba da insolvência do devedor, leciona o ordenamento jurídico que o negócio jurídico somente poderá ser anulado quando o adquirente tiver agido de má-fé juntamente com o devedor, no sentido de que sabia da insolvência dele e ajudou dilapidar seu patrimônio, pois ao contrário disso, preservam-se os direitos do adquirente de boa-fé. Assim a fraude constitui-se, independentemente do conhecimento ou não do vício. Basta o estado de insolvência do devedor para que o ato seja tido como fraudulento, pouco importando que o devedor ou o terceiro conhecesse o estado de insolvência. A fraude, portanto, somente é possível de ser anulada quando comprovado que o adquirente sabia ou tinha como saber que o outro contratante era insolvente. O ordenamento jurídico presume algumas situações sobre a existência da má-fé por parte do adquirente, como há hipótese do artigo 159 do Código Civil, que leciona que quando a insolvência do alienante for notória, ou ainda, quando houver motivo para ser conhecida do outro contratante ela será presumida. • A notoriedade tratada pelo artigo 159 do CC, diz-se naqueles casos em que o alienante possui vários títulos protestados, quando possui várias execuções ou demandas contra si. • Quando o mesmo artigo fala em “motivos para ser conhecido do contratante”, trata daqueles casos em que o adquirente conhece a má situação financeira do alienante, aquisição do bem por preço vil (preço baixo), parentesco próximo entre as partes, etc • Um outro dado relevante é a vedação à transmissão gratuita de bens, seja a doação ou a remissão de dívidas. Nesse caso, o legislador foi claro ao considerar desnecessária a comprovação de fraude. Como as liberalidades, tal como a doação, são negócios celebrados a título gratuito, sem que importe em contraprestação, a lei as proíbe em resguardo ao interesse dos credores (art. 158 do Código Civil). ação pauliana • A ação pauliana, por sua vez, é titularizada pelo credor lesado, que a ajuíza tutelando direito seu. Objetiva a invalidação do ato jurídico que afetou a garantia que o credor encontra no patrimônio do devedor. Essa ação deve ser movida contra todos os participantes do ato fraudulento, ou seja, todos que integraram o pólo passivo da relação obrigacional. Essa regra deriva do art. 161, que na realidade assumiria redação mais apropriada aludisse à idéia de que todos os envolvidos na construção da fraude figurariam como réus. Em relação aos efeitos da ação pauliana, cumpre destacar que as vantagens oriundas da anulação do ato, nos termos do art. 165, remetem ao acervo de bens sobre o qual ocorrerá o concurso de credores. A anulação beneficiará a todos os credores, sejam quirografários ou os dotados de algum privilégio. A fraude contra credores é apenas uma das espécies de fraude. A sofisticação da mente humana é suficientemente capaz de criar novas situações onde o embuste se revestirá, aparentemente, dos requisitos de validade. Muitas vezes competirá ao juiz ou árbitro, no caso concreto, aferir a intenção dos agentes determinando a anulação do ato. Caso gerador Alfredo e Valdete são casados e dentre os bens do casal encontra-se um apartamento locado no bairro de Laranjeiras. Com a aposentadoria de Alfredo, o casal, nos próximos meses, finalmente colocará em prática o acalentado sonho de se mudarem para a cidade de Natal. Nesse sentido, Alfredo e Valdete resolvem doar o apartamento em questão aos filhos do casal, Lucas e Letícia. A razão de ser dessa transferência foi o fato de os referidos filhos já se encontrarem formados, independentes economicamente, e, portanto, com condições de arcar com despesas próprias da manutenção de um imóvel. Deve-se destacar ainda que, afora o apartamento em questão, Alfredo e Valdete possuem outros imóveis, um residencial e ainda uma sala comercial – a qual, no entanto, encontra-se penhorada. A penhora se deu em virtude do não adimplemento por parte do casal de um empréstimo levantado junto ao Banco Alfa S/A há alguns meses. Confiante de que o valor do imóvel penhorado saldaria suas dívidas, o casal resolveu dar seguimento aos seus intentos. Com o imóvel já doado, Alfredo e Valdete planejavam a vida na nova cidade. Ficaram surpresos, contudo, quando receberam a citação judicial informando do ajuizamento de ação pauliana visando a desconstituição da doação celebrada. O Banco Alfa afirmou que o valor do imóvel penhorado não cobria o valor da dívida e os custos com o trâmite judicial. Destacou a instituição financeira que o valor de mercado do bem sofrera um considerável decréscimo nos últimos meses e dessa forma, uma garantia suplementar seria necessária, daí a necessidade de igualmente penhorar o imóvel do casal. Alfredo e Valdete contestam essas alegações destacando que o valor do imóvel seria sim suficiente para saldar o débito. Ainda que não o fosse, há a impossibilidade de anular o negócio, visto que a intenção dos doadores não foi a de burlar a lei. • Com base no exposto, responda: • a) A ação pauliana foi ajuizada com fundamente em que instituto jurídico? Enumere quais são os elementos desse instituto e quem são os integrantes do pólo passivo da relação processual. • b) As alegações do casal na contestação são procedentes? Justifique. CONTINUA NA PRÓXIMA AULA....
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