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_________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ ESCOLA POLITÉCNICA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO APOSTILA DE SANEAMENTO AMBIENTAL APLICADO À ARQUITETURA E URBANISMO PROF. DR. ALTAIR ROSA CURITIBA 2018 _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo SUMÁRIO 1 PREFÁCIO ..................................................................................................... 1 2 CONTEXTUALIZAÇÃO E CONCEITOS ........................................................ 2 2.1 MEIO AMBIENTE ........................................................................................... 2 2.2 IMPACTO AMBIENTAL .................................................................................. 4 2.3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ......................................................... 6 2.4 ASPECTOS LEGAIS E INSTITUCIONAIS DO SANEAMENTO AMBIENTAL 7 2.5 CICLO URBANO DA ÁGUA ........................................................................... 8 2.6 DISPONIBILIDADE HÍDRICA ......................................................................... 9 2.6.1 Disponibilidade hídrica global ................................................................... 10 2.6.2 Disponibilidade hídrica brasileira ............................................................. 11 2.7 QUALIDADE DAS ÁGUAS ........................................................................... 12 2.7.1 Poluição e contaminação ........................................................................... 13 2.7.1.1 Poluição e contaminação .............................................................................. 14 2.7.2 Índice de Qualidade da Água (IQA) ........................................................... 15 2.8 SANEAMENTO NO BRASIL ........................................................................ 17 2.8.1 Diagnóstico Nacional ................................................................................. 18 2.8.2 Prognóstico e desafios .............................................................................. 19 2.9 RESÍDUOS SÓLIDOS .................................................................................. 21 2.9.1 Reduzir, reutilizar e reciclar ....................................................................... 21 3 URBANIZAÇÃO E MEIO AMBIENTE .......................................................... 23 3.1 CULTURA E MEIO AMBIENTE .................................................................... 23 3.2 PLANEJAMENTO AMBIENTAL E URBANO ................................................ 24 3.2.1 Aspectos do saneamento no planejamento urbano ................................ 24 4 PROJEÇÕES POPULACIONAIS................................................................. 26 4.1 CASO EXEMPLO ......................................................................................... 31 5 CONCEPÇÕES DE PROJETO .................................................................... 36 5.1 UNIDADE DE PLANEJAMENTO .................................................................. 36 5.1.1 Bacias hidrográficas, mananciais e corpos receptores .......................... 36 6 ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA – ETA ........................................ 38 6.1 TRATAMENTO PRELIMINAR ...................................................................... 38 6.1.1 Gradeamento .............................................................................................. 38 _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 6.1.2 Calha Parshall ............................................................................................. 39 6.1.3 Desarenador ................................................................................................ 40 6.2 COAGULAÇÃO ............................................................................................ 41 6.3 FLOCULAÇÃO E FLOTAÇÃO ...................................................................... 41 6.4 DECANTADORES ........................................................................................ 42 6.5 FILTROS ...................................................................................................... 42 6.6 DESINFECÇÃO ............................................................................................ 43 6.7 RESERVATÓRIOS ....................................................................................... 43 6.8 REDES DE ABASTECIMENTO .................................................................... 44 7 ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES – ETE ............................. 46 7.1 REDES DE COLETA .................................................................................... 48 7.2 SISTEMA INDIVIDUAL ................................................................................. 49 7.2.1 Fossa séptica .............................................................................................. 49 7.2.2 Sumidouro ................................................................................................... 50 7.2.3 Filtro anaeróbio........................................................................................... 50 7.3 SISTEMAS COLETIVOS .............................................................................. 51 7.3.1 Sistemas unitários ...................................................................................... 52 7.3.2 Sistema separador ...................................................................................... 52 7.4 TRATAMENTO PRELIMINAR ...................................................................... 53 7.5 TRATAMENTO PRIMÁRIO .......................................................................... 54 7.6 TRATAMENTO SECUNDÁRIO .................................................................... 54 7.6.1 Reatores anaeróbios .................................................................................. 55 7.7 TRATAMENTO TERCIÁRIO ........................................................................ 56 7.7.1 Lagoas aeradas........................................................................................... 56 7.7.2 Lagoas facultativas .................................................................................... 57 7.7.3 Sistema australiano .................................................................................... 59 7.7.4 Lagoas de maturação ................................................................................. 60 7.7.5 Wetlands ...................................................................................................... 61 8 ATERROS SANITÁRIOS ............................................................................. 63 8.1 ATERRO CONTROLADO, ATERRO SANITÁRIO E LIXÃO ........................ 64 8.2 BIOGÁS ........................................................................................................ 65 8.3 CHORUME ................................................................................................... 66 9 DRENAGEM URBANA ................................................................................ 67 9.1 REDES DE DRENAGEM PLUVIAL .............................................................. 67 _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 9.2 IMPERMEABILIZAÇÃO DO SOLO ............................................................... 70 9.3 DRENAGEM SUSTENTÁVEL ...................................................................... 71 9.4 BIORETENÇÃO............................................................................................ 73 9.5 CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL ................................................................. 73 9.6 MOBILIDADE URBANA ECOLÓGICA ......................................................... 77 10 VEGETAÇÃO ............................................................................................... 78 10.1 MANUTENÇÃO DAS FUNÇÕES ECOSSISTEMICAS ................................. 79 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 80 _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 1 1 PREFÁCIO Esta apostila reúne os temas abordados na disciplina “Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo” da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Os textos apresentados possuem embasamento científico e foram selecionados de diversas fontes bibliográficas (livros, artigos, documentos, sites oficiais, etc.). O conhecimento a respeito destes temas não se encerra no conteúdo da apostila, cabendo aos discentes acompanhar as aulas, realizar as atividades propostas em sala e buscar outras fontes que complementem sua formação. Destaca-se que este material representa um esforço docente para que os alunos possam aprofundar seus estudos e complementar sua formação, visando o melhor aproveitamento do tempo regular da disciplina “Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo”, tendo seu uso restrito a mesma. _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 2 2 CONTEXTUALIZAÇÃO E CONCEITOS O espaço ocupado por localidades urbanas está aumentando mais rapidamente que a própria população urbana. Entre 2000 e 2030, o crescimento esperado da população urbana mundial é de 72%, enquanto as áreas construídas das cidades com 100 mil habitantes ou mais devem aumentar 175%. Até 2030, as cidades do mundo em desenvolvimento responderão por 80% da população urbana (UNFPA 2007). O atual crescimento urbano quando não planejado pode representar ameaças à saúde, principalmente nas periferias dos centros urbanos, onde a população pobre ocupa locais altamente vulneráveis a desastres ambientais. A falta de planejamento territorial dificulta o acesso aos serviços, expondo esta camada da população a diversos riscos ambientais (LIMA et al. 2010). Com o aumento da população vivendo nas cidades, a demanda de provisão dos serviços de saneamento básico também aumenta. Conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2008), 83,9% dos domicílios brasileiros localizados em centros urbanos têm acesso à rede de abastecimento de água. Apenas 52,5% dos domicílios são atendidos por coleta de esgoto, 20,7% utilizam fossa séptica e 26,8% não apresentam coleta de esgoto/fossa séptica. A região norte foi a que apresentou os menores índices para o acesso ao abastecimento de água que foi de 58,3% e de 9,5% de acesso a rede coletora de esgoto. É nítido que há desigualdades sociais entre as regiões do país. Segundo a OPAS (2007), saneamento básico é o conjunto de ações que se executam no âmbito do ecossistema humano para o melhoramento dos serviços de abastecimento de água, coleta de esgoto, o manejo dos resíduos sólidos, a higiene domiciliar e o uso industrial da água, em um contexto político, legal e institucional no que participam diversos atores do âmbito nacional, regional e local. 2.1 MEIO AMBIENTE No sistema jurídico brasileiro foi a Lei n° 6938/81, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), que definiu o conceito de meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e infraestrutura de ordem física, química e biológica, que _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 3 permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981, p.01). Além do conceito apresentado pela PNMA, apenas a ISO 14001:2004 ousou fazer uma definição sobre meio ambiente: “circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo-se ar, água, solo, recursos naturais, flora fauna, seres humanos e suas inter-relações” (BRASIL, 2004, p. 01). A terminologia que tem sido adotada no Brasil é a da PNMA, que contempla todo o conjunto de bens, naturais ou não, produzidos pelo homem e que o afetam de algum modo em sua existência. O conceito de meio ambiente não serve apenas para designar um objeto específico, mas, de fato, uma relação de interdependência que deriva, necessariamente, do homem, por estar com ele relacionada. Silva (2000) conceitua o meio ambiente como a "interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas". O termo meio ambiente também é constantemente utilizado nos meios de comunicação, discursos políticos, livros didáticos e outros, apresentando grande diversidade conceitual, possibilitando diferentes interpretações, às vezes influenciadas pela vivência de cada um e até por informações da mídia (REIGOTA, 1991 apud MAROTI; SANTOS, 2004). O ambiente como natureza é aquele percebido de forma original e “puro”, do qual os seres humanos estão dissociados e no qual devem aprender a relacionar-se. As palavras chave e imagens que vêm à mente são “meio naturais”, “árvores”, “plantas”, “animais”, “cachoeiras”, etc. A natureza é como uma catedral, um monumento, que devemos admirar e respeitar. Segundo Sauvé (1996) nesta percepção o problema identificado para a Educação Ambiental (EA) é a dissociação do ser humano da natureza. Para este propósito, a EA deve promover estratégias de imersão na natureza, renovando, deste modo, os laços com a mesma, desenvolvendo um sentimento de pertencimento, de admiração e de respeito pelo meio natural. As saídas de interpretação são estratégias de EA, que permitem a imersão do ser humano no meio natural. Já o ambiente percebido como recurso é aquele que precisa ser gerenciado/administrado. Nesta ótica, os recursos naturais (água, ar, solo, fauna, bosque, enfim, o patrimônio natural), limitados e degradados, são percebidos como nossa herança coletiva biofísica, que sustenta a qualidade de nossas vidas. Neste caso, a EA deve ajudar o ser humano a aprender a manejar/gerenciar o meio ambiente (recursos) para alcançar o desenvolvimento sustentável. Entre as estratégias de ensino-aprendizado adotadas nessa _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 4 visão, estão as campanhas de economia de energia, recuperação e reciclagem e as auditorias ambientais do meio de vida (SAUVÉ, 1996). 2.2 IMPACTO AMBIENTAL A definição de impacto ambiental é feita por vários autores e dentre eles, Plantenberg (2002) busca a terminologia na origem e significado da palavra, ressaltando que impacto vem do latim impactu e significa choque ou colisão (CUNHA e SUARTE, 2011). O conceito de impacto ambiental pode ser buscado na terminologia da palavra, a qual se origina do latim: impactu e significa choque ou colisão de substâncias nos três estados físicos da matéria (sólido, líquido e gasoso) de radiações ou formas variadas de energia, vindas de obras ou atividades realizadas com danosas alterações do ambiente natural, artificial, cultural ou social. Estas mudanças podem ser provocadas por diversas formas de energia ou matéria resultante de atividades antrópicas que afetam direta ou indiretamente a saúde, segurança da população, atividades econômicas e sociais, a biota e a disposição dos recursos do ambiente (PLANTENBERG, 2002; CUSTÓDIO, 1995; SPADOTTO 2002). Na visão de Sanchez (1999) impacto ambiental é decorrente de ações que provocam eliminação de um elemento do meio ambiente ou ainda a introdução da quantidade de fatores maior que a capacidade de suporte. Há na literatura visões diferenciadas de impacto ambiental, bem como opinião de que o homem pode viver em harmonia com o meio ambiente. Assim, Barbosa (2006) ressalta que os impactos ambientais podem ser de forma positiva ou negativa, causando degradações significativas do ambiente ou degradações bem menores não tão significativas, não deixando é claro, de ser impacto ambiental. É notável que o homem usa os recursos da natureza para a manutenção da própria vida (sobrevivência) e como consequência disso promove o desarranjo ambiental. No entanto algumas atividades podem ser satisfatórias, as quais o homem adapta o meio ambiente para atender seus interesses sem causar danos significativamente negativos, e se ainda assim haver algum dano que este seja compensado. Os principais aspectos do impacto ambiental são a magnitude e a importância, pois ressaltam a significância do impacto ambiental. A magnitude é a medida de alteração de uma característica do ambiente, de modo amplo é a grandeza do impacto. A importância é _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 5 o grau de significância de impacto em relação aos fatores ambientais ou quando comparados a outros impactos (SPADOTTO, 2002). De acordo com Kurtz (2002), para verificar a magnitude e importância de um impacto são avaliados vários critérios: a) Magnitude – extensão: tamanho da ação ambiental do empreendimento; b) Periodicidade: tempo que dura a ação; Intensidade: grau (baixo, médio ou alto) da ação impactante; c) Importância – magnitude: que envolve todos os critérios descritos acima; d) Ação: quantidade de efeitos que a ação causa; e) Ignição: tempo que demora a sentir o efeito da ação (imediato médio ou mediato); f) Criticidade: nível de relação entre causa X efeito da ação. O impacto ambiental também pode ser classificado de forma qualitativa e quantitativa. Para Spadotto (2002) qualitativamente são levados em consideração seis critérios: (1) Valor, que se refere a impacto positivo quando causa benefício de um fator ambiental ou negativo quando provoca algum dano em um fator do ambiental; (2) Ordem, onde o impacto é direto, primário ou de primeira ordem, exprimindo simplesmente a relação de causa e efeito, impacto indireto, secundário ou de ordem enésimo sendo resultado de uma reação secundária em relação à ação feita ou quando ocorrem às reações em cadeia; (3) Espaço, verifica se o impacto é local, quando a ação acomete as imediações ou o próprio sítio. Regional, quando o impacto se propaga para além das imediações do sítio. Global, onde o impacto se propaga tão imensamente que afeta um componente do ambiente em nível nacional ou internacional; (4) Tempo, impacto de curto prazo, quando este surge imediatamente após a ação; Médio prazo, quando o impacto surge a um prazo médio que deve ser definido e; Longo prazo, quando surge em longo prazo que, da mesma forma, deve ser definido; (5) Dinâmica, quando o impacto é de caráter temporário, ou seja, é definido em curto prazo ou ao tempo determinado, após o término de realização da ação. Cíclico, o impacto ocorre em ciclos que podem ser constantes ou não ao longo do tempo. Permanente, uma vez realizada a ação os impactos se manifestam por tempo indeterminado; (6) Plástica, a qual os impactos são reversíveis, quando a ação é cessada e o fator do ambiente afetado volta as suas condições originais. Impactos irreversíveis _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 6 quando a ação é cessada, o fator ambiental afetado não retoma as suas condições originais. Spadotto (2002) destaca ainda que quantitativamente o que se tem em vista é a magnitude do impacto gerado por uma ação, sendo objetivo ressaltar o grau de alteração dos fatores ambientais em aspectos quantitativos. Por fim, consideram-se impactos ambientais de acordo com a Resolução CONAMA nº 001/1986 em seu artigo 1º, qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: (1) a saúde, a segurança e o bem-estar da população; (2) as atividades sociais e econômicas; (3) a biota; (4) as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; (5) a qualidade dos recursos ambientais. 2.3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Conforme Barbosa (2008), o termo “desenvolvimento sustentável” surgiu por meio dos estudos realizados pela Organização das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, como uma resposta para a humanidade perante a crise social e ambiental pela qual o mundo passava a partir da segunda metade do século XX. Na Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD), também conhecida como Comissão de Brundtland, presidida pela norueguesa Gro Haalen Brundtland, no processo preparatório a Conferência das Nações Unidas – também chamada de “Rio 92” foi desenvolvido um relatório que ficou conhecido como “Nosso Futuro Comum”. Tal relatório contém informações colhidas pela comissão ao longo de três anos de pesquisa e análise, destacando-se as questões sociais, principalmente no que se refere ao uso da terra, sua ocupação, suprimento de água, abrigo e serviços sociais, educativos e sanitários, além de administração do crescimento urbano. Neste relatório está exposta uma das definições mais difundidas do conceito: “o desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”. O Relatório Brundland considera que a pobreza generalizada não é mais inevitável e que o desenvolvimento de uma cidade deve privilegiar o atendimento das necessidades básicas de todos e oferecer oportunidades de melhoria de qualidade de vida para a _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 7 população. Um dos principais conceitos debatidos pelo relatório foi o de “equidade” como condição para que haja a participação efetiva da sociedade na tomada de decisões, através de processos democráticos, para o desenvolvimento urbano (BARBOSA, 2008). O conceito de desenvolvimento sustentável foi firmado na Agenda 21, documento desenvolvido na Conferência “Rio 92”, e incorporado em outras agendas mundiais de desenvolvimento e de direitos humanos. Hofer (2009) destaca que a Rio 92 estabelece uma série de iniciativas para promover a aceitação da ideia de desenvolvimento sustentável. Na percepção de Ríos-Osório et al. (2013), na Rio 92 houve um esforço para reconhecer e compartilhar as responsabilidades, com o intuito de alterar as tendências dos impactos negativos sobre os recursos naturais. As conferências realizadas em 2002 (Rio +10) e 2012 (Rio +20) centraram-se em reforçar as discussões e os compromissos assumidos frente à questão da sustentabilidade pelos setores privado e público; e o direcionamento voltava-se à pobreza, à justiça social e ao crescimento e desenvolvimento econômico. Nas palavras de Barter e Russell (2012), a definição de desenvolvimento sustentável não se refere a salvar a natureza, mas à internalização de estratégias, agregando, assim, novos recursos para permitir o crescimento econômico e a prosperidade compartilhada por todos. O desenvolvimento sustentável pode ser conceituado como uma estratégia utilizada em longo prazo para melhorar a qualidade de vida (bem-estar) da sociedade. Essa estratégia deve integrar aspectos ambientais, sociais e econômicos, em especial considerando as limitações ambientais, devido ao acesso aos recursos naturais de forma contínua e perpétua (FEIL e SCHREIBER, 2017). O conceito de estratégias, ou seja, o ato de gerenciar é elaborado com base nos resultados das avaliações da sustentabilidade, e tem como foco os aspectos negativos, recuperando ou normalizando até o ponto em que o processo evolutivo do sistema ocorra normalmente. 2.4 ASPECTOS LEGAIS E INSTITUCIONAIS DO SANEAMENTO AMBIENTAL A Lei nº 11445 de 2007 tem como conceito de saneamento básico o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos e drenagem de águas pluviais. Esta lei _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 8 definiu ao governo federal, coordenados pelo Ministério das Cidades a responsabilidade pela elaboração do Plano Nacional de Saneamento Básico (Ministério do Meio Ambiente). O decreto número 7217/2010 determina que a partir do ano de 2018 os municípios só receberão os recursos da União, voltados a obras de saneamento básico, caso tenham elaborado o Plano Municipal de Saneamento Básico. Esse decreto tem o objetivo de viabilizar os recursos por meio de diretrizes, metas e cronogramas para os investimentos. O Plano Municipal também deve interagir com outros planos setoriais existentes no município. 2.5 CICLO URBANO DA ÁGUA O ciclo urbano da água é usualmente abordado numa perspectiva da ligação do ciclo natural da água com uma componente que está relacionada com o nosso consumo (Figura 1). Tem-se a referida captação, tratamento, distribuição e depois a utilização. Após a utilização o tratamento para devolução ao meio natural. A água pode ser captada à superfície ou no subsolo (lençóis de água), através de furos ou poços. A captação pode incluir a atividade de elevação, que consiste em levar, através de processos de bombeamento, a água de pontos baixos para os altos. Depois de captada, a água segue para a Estação de Tratamento de Água (ETA), onde é feita a correção das caraterísticas físicas, químicas e bacteriológicas tornando-a adequada para consumo. A água tratada é depois transportada da zona de captação e tratamento (produção) para as zonas de consumo, ficando armazenada em reservatórios que asseguram a continuidade do abastecimento. Por vezes, quando no processo de encaminhamento da água até ao reservatório, é necessário levar a água de pontos baixos para os altos, recorre-se à atividade de elevação, através de processos de bombeamento. Em cada zona de consumo, é feita a distribuição de água até às torneiras dos consumidores através de uma rede complexa, garantindo que a água é distribuída em quantidade e com a pressão e qualidade adequadas. As águas residuais, resultantes da utilização da água pelas populações e atividades produtivas, são recolhidas e encaminhadas para as Estações de Tratamento de Esgoto. De acordo com as exigências e usos dos meios receptores, as águas residuais são sujeitas a diferentes tipos de tratamento – primário, secundário e terciário. Em situações particulares, _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 9 de maior exigência, as águas residuais são adicionalmente desinfetadas. Depois de tratada, parte desta água é reutilizada para regas e lavagens e a restante é devolvida à natureza em condições ambientalmente seguras, permitindo assegurar a reposição de água nos meios hídricos sem comprometer a saúde pública e os ecossistemas, protegendo a natureza e a biodiversidade. Em termos urbanos e no interior das habitações existem diversas necessidades de qualidade de água, por exemplo, para a rega ou lavagem de vias não é necessário atender padrões de potabilidade de água. Em um território é possível encontrar muitas fontes de água com qualidades diversas, mas genericamente pode-se considerar três principais tipos: água existente em aquífero (subterrâneo ou superficial) com potencial para se tornar potável (em qualidade e quantidade), água de aquífero sem potencial para se tornar água potável, por questões de qualidade e/ou quantidade e a água da chuva. Figura 1 – Ciclo urbano da água Fonte: Engenharia e Construção, 2018. 2.6 DISPONIBILIDADE HÍDRICA Segundo Rebouças (2002), "água" é o elemento natural desvinculado de qualquer utilização e "recurso hídrico" corresponde a parte da água passível de utilização, portanto, dotada de valor econômico. Sendo assim, nem toda a água da Terra é, necessariamente, _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 10 um recurso hídrico, na medida em que seu uso ou utilização nem sempre tem viabilidade econômica (BRANCO, 2006). Conforme Branco, 2006, as águas da Terra encontram-se em permanente movimento, constituindo o chamado ciclo hidrológico. Duas variáveis regionais caracterizam a gênese das águas: as precipitações e a evapotranspiração. Além destas variáveis, utiliza-se do escoamento superficial e da infiltração para o chamado balanço hídrico. Contudo, a disponibilidade hídrica é avaliada a partir das descargas líquidas médias observadas nos cursos de água da bacia hidrográfica em estudo. Em seguida faz-se uma comparação dos volumes de água disponíveis com a demanda atual e projetada. 2.6.1 Disponibilidade hídrica global Atualmente, segundo o World Water Development Report (WWDR), 40% da população mundial vive em países em situação de estresse hídrico (UNESCO, 2015). Cinco das dez bacias hidrográficas mais densamente povoadas do planeta, como as dos rios Yang-Tsé, na China, e Ganges, na Índia, já são exploradas acima dos níveis considerados sustentáveis. A África apresenta cerca de 9% dos recursos de água doce de todo o mundo e 11% da população mundial (WORLD BANK, 2007). Nos últimos 30 anos, 57 milhões de pessoas foram afetadas pela seca na Etiópia. Na Índia, mais de 70% das chuvas ocorrem em apenas três meses do ano, o que faz com que haja escassez de água durante boa parte do ano na agricultura não irrigada (JACOBI e GRANDRISOLI, 2017). O Banco Mundial estima que a degradação da qualidade da água nos países do Oriente Médio e do Norte da África custa entre 0,5% e 2,5% de seus PIBs anuais (WORLD BANK, 2007). Estimativas indicam que cerca de 30% da captação mundial de água é perdida em vazamentos (KINGDOM et al., 2006; DANILENKO et al., 2014). Mesmo em países desenvolvidos, a perda em sistemas de abastecimento de água pode ser superior a 30%, com cidades como Londres alcançando 25% (THAMES LONDON, 2014), e a Noruega, 32% (STATISTICS NORWAY, 2015). De acordo com o WWDR de 2015, menos da metade da população mundial tem acesso à água potável. A irrigação corresponde a 73% do consumo de água, sendo que _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 11 21% vão para a indústria e apenas 6% destinam-se ao consumo doméstico. Um bilhão e 200 milhões de pessoas não têm acesso a água tratada. Um bilhão e 800 milhões de pessoas não contam com serviços adequados de saneamento básico. Diante desses dados, tem-se a triste constatação de que dez milhões de pessoas morrem anualmente em decorrência de doenças intestinais transmitidas pela água. O Fórum Econômico Mundial listou a escassez de água como um dos três riscos sistêmicos globais mais preocupantes. A avaliação está baseada em uma ampla pesquisa global sobre a percepção de risco entre representantes de empresas, do mundo acadêmico, da sociedade civil, de governos e de organizações internacionais. Melhorias na eficiência do uso da água podem desacelerar o aumento de sua demanda, mas particularmente na agricultura irrigada elas provavelmente serão contrabalançadas por um aumento da produção (JACOBI e GRANDRISOLI, 2017). Em muitos países pobres ou em desenvolvimento, a situação é mais dramática. Falta acesso a água potável e saneamento para a maioria da população. Em países africanos, uma pessoa, para conseguir água de mínima qualidade, pode gastar duas horas por dia (JACOBI e GRANDRISOLI, 2017). Sendo assim, encontra-se mais suscetível a doenças, como a diarreia, uma vez que as pessoas que vivem nessas condições têm maiores probabilidades de exclusão social. 2.6.2 Disponibilidade hídrica brasileira O Brasil é dividido em doze regiões hidrográficas que representam uma ou mais bacias hidrográficas, que são utilizadas para analisar a conjuntura dos seus recursos hídricos. Cabe destacar que os limites dessas regiões não coincidem com os limites geopolíticos dos Estados (JACOBI e GRANDRISOLI, 2017). A vazão média anual dos rios em território brasileiro é de cerca de 180 mil m³/s, o que reflete a importância de sua disponibilidade hídrica regional e mundial. Dessa forma, o Brasil é classificado com possuidor de uma alta disponibilidade (vazão média por habitante), com cerca de 33 mil m³/habitante/ano. Porém essa distribuição não é uniforme, apresentando uma grande variação entre regiões e épocas do ano (ANA, 2010). A Região Hidrográfica Amazônica, por exemplo, detém 74% dos recursos hídricos superficiais e é habitada por menos de 5% da população brasileira. A distribuição regional _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 12 dos recursos hídricos é de 68,5% para a região Norte, 15,7% para o Centro-Oeste, 12,5% para as regiões Sul e Sudeste, que apresentam o maior consumo de água, e 3,3% para o Nordeste. Esta região, além da carência de recursos hídricos, tem sua situação agravada por um regime pluviométrico irregular, altas taxas de evaporação e baixa permeabilidade do terreno cristalino (ANA, 2010). Na Tabela 1, encontra-se o percentual da concentração dos recursos hídricos do Brasil conforme cada região. Tabela 1 - Recursos Hídricos no Brasil por região Região Densidade demográfica (hab/km²) Concentração dos recursos hídricos do país Norte 4,12 68,5% Nordeste 34,15 3,3% Centro-Oeste 8,75 15,7% Sudeste 86,92 6% Sul 48,58 6,5% Fonte: Adaptado de ANA, 2010. Conforme a Agência Nacional de Águas (ANA), o uso mais intenso de água, no Brasil, está relacionado à irrigação para produção de alimentos (cerca de 70% do consumo de água é destinado a essa finalidade). Quanto a esse aspecto, o abastecimento urbano representa 11%; a dessedentação animal, 11%; o uso industrial, 7%; e o abastecimento rural, 2%. A demanda de água corresponde à vazão de retirada, ou seja, à água captada. 2.7 QUALIDADE DAS ÁGUAS Segundo Von Sperling (1996), a qualidade da água resulta de fenômenos naturais e das interferências do homem. Assim, pode-se afirmar que a qualidade da água de uma determinada região está relacionada com as condições naturais e também ao uso e ocupação do solo de uma bacia hidrográfica (BH). Para avaliar a qualidade das águas superficiais, os padrões utilizados para a comparação dos resultados constam na Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº357/2005 que trata da classificação dos corpos d’água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, baseado no uso predominante atual e pretendido, sendo divididas em cinco classes (Especial, 1, 2, 3 e 4) de acordo com sua qualidade. A Agência Nacional de Águas (ANA) monitora a qualidade das águas superficiais e subterrâneas do país, com base nos dados fornecidos pelos órgãos estaduais gestores de _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 13 recursos hídricos. Além disso, por intermédio desse acompanhamento, a ANA consegue fazer uma gestão mais eficiente, essencial para conceder outorgas de direito de uso da água e realizar estudos e planos, entre outras atividades. Os processos ecológicos em uma paisagem influenciam a qualidade da água e a forma como ela se movimenta através do sistema, assim como a formação do solo, a erosão, o transporte e a deposição de sedimentos – todos os fatores que podem ter grande influência na hidrologia. A infraestrutura urbana verde pode produzir resultados positivos em termos de disponibilidade e qualidade da água, bem como de redução de inundações e secas (WWDR 2018). No contexto da água e do saneamento, wetlands construídos para o tratamento de águas residuais podem ser uma solução baseada na natureza com custo- efetivo que fornece efluentes de qualidade adequada para vários usos que não sejam o consumo humano, incluindo a irrigação, oferecendo benefícios adicionais, como a produção de energia. 2.7.1 Poluição e contaminação A poluição, o crescimento populacional e as mudanças no clima estão entre os principais fatores que mais agravam a crise hídrica. Por dia, duas toneladas de lixo (industrial, químico, agrícola e de origem humana) são despejadas nas reservas de água limpa do planeta. A situação afeta, sobretudo, os países em desenvolvimento, onde cerca de 50% da população está exposta a fontes de água poluídas, como mostra a Figura 2. Desde a década de 1990, a poluição hídrica piorou em quase todos os rios da América Latina, da África e da Ásia. Estima-se que a deterioração da qualidade da água irá se ampliar ainda mais durante as próximas décadas, o que aumentará as ameaças à saúde humana, ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável. Em âmbito mundial, o maior desafio no que diz respeito à qualidade da água é a carga de nutrientes a qual, dependendo da região, é frequentemente associada à carga de agentes patogênicos. Centenas de produtos químicos também causam impactos na qualidade da água. Prevê-se que o aumento de exposição a substâncias poluentes será maior em países de renda baixa e médio-baixa, principalmente devido ao crescimento populacional e econômico, e à ausência de sistemas de gestão das águas residuais (WWDR 2018). _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 14 O grau de poluição da água pela agricultura é significativo e a perspectiva é preocupante, em virtude do aumento da agricultura intensiva, que só poderá ser reduzida mediante a combinação de instrumentos, incluindo uma regulamentação mais rigorosa e aplicada e subsídios bem definidos (UNESCO, 2015). Por outro lado, para enfrentar essa expansão da produção agrícola, as fontes hídricas são insustentáveis, devido ao seu uso ineficiente, que provoca o esgotamento de aquíferos e a redução do fluxo dos rios, além de degradar habitats naturais e causar a salinização de 20% da área total irrigada. Figura 2 - Poluição por resíduos sólidos sob palafitas no Rio Tefé, na cidade de Tefé (AM) Fonte: Edson Grandisoli, 2017. Em 18 de janeiro de 2000, foi aprovado pelo Plenário da Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 1.617/99, que cria a Agência Nacional de Águas – ANA, como parte da regulamentação necessária para promover o desenvolvimento do Sistema Nacional de Recursos Hídricos. A ANA é uma autarquia sob regime especial, com autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente. Essa Agência tem o papel de programar a Política Nacional de Recursos Hídricos, além de disciplinar o seu uso, controlando a poluição e o desperdício, para garantir a disponibilidade de água para as gerações futuras. 2.7.1.1 Poluição e contaminação Entende-se por poluição qualquer alteração nos aspectos do sistema original, no caso da água pode-se considerar poluição a mudança de coloração, turbidez, sabor, temperatura, pH, entre outros. A poluição pode ocorrer de forma pontual ou difusa. As cargas pontuais são introduzidas através de lançamentos individualizados, como o que _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 15 ocorre no lançamento de esgotos sanitários ou de efluentes industriais. Cargas pontuais são facilmente identificadas e, portanto, seu controle é mais eficiente e mais rápido. A poluição difusa ocorre por cargas difusas, que são assim chamadas por não terem um ponto de lançamento específico ou por não advirem de um ponto preciso de geração, tornando-se assim de difícil controle e identificação. Exemplos de cargas difusas: a infiltração de agrotóxicos no solo provenientes de campos agrícolas, o aporte de nutrientes em córregos e rios através da drenagem urbana. A contaminação é tida como o comprometimento das características da água ao ponto de poder causar prejuízo ao ambiente, bem como à fauna ou as pessoas em contato. Neste contexto, tem-se como exemplo a água de um rio, que pode estar poluída por sólidos em suspensão (suja, barrenta) e pode não estar contaminada. Para ser considerada contaminada deve conter microrganismos patogênicos, como bactérias, ou ainda algum contaminante químico como o mercúrio, mesmo que sua aparência seja própria para consumo. Com isto evidencia-se a necessidade de controle da qualidade de corpos hídricos utilizados para abastecimento. 2.7.2 Índice de Qualidade da Água (IQA) Conforme a ANA, o Índice de Qualidade das Águas (IQA) é o principal indicador qualitativo usado no país. Foi desenvolvido para avaliar a qualidade da água para o abastecimento público, após o tratamento convencional. A interpretação dos resultados da avaliação do IQA deve levar em consideração este uso da água. Por exemplo, um valor baixo de IQA indica a má qualidade da água para abastecimento, mas essa mesma água pode ser utilizada em usos menos exigentes, como a navegação ou geração de energia. Os principais indicadores de qualidade da água são separados sob os aspectos físicos, químicos e biológicos. A sua criação baseou-se em uma pesquisa de opinião feita entre 142 especialistas, os quais indicaram os parâmetros que deveriam ser medidos, bem como sua importância relativa. Dos trinta e cinco parâmetros indicados inicialmente, acabaram sendo selecionados apenas nove. Para esses nove, cada profissional elaborou uma curva de variação de qualidade, que fornece uma “nota” entre zero e cem, dependendo da concentração ou do valor do parâmetro ou variável pesquisada. O IQA é calculado com _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 16 base nos seguintes parâmetros: temperatura da água, pH, oxigênio dissolvido, resíduo total, demanda bioquímica de oxigênio, coliformes termotolerantes, nitrogênio total, fósforo total e turbidez. Trata-se de uma espécie de nota atribuída à qualidade da água, podendo variar entre zero e cem. De acordo com a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, o IQA é determinado (modificado pela CETESB) pelo produto ponderado das qualidades estabelecidas para cada parâmetro, conforme a expressão: Onde: IQA = índice de qualidade da água qi = qualidade do i-ésimo parâmetro (obtido nas curvas) wi = peso relativo do i-ésimo parâmetro n = 9 Os resultados são divulgados por meio de publicações em forma de Relatórios Técnicos, editados periodicamente pelo Instituto das Águas do Paraná. Na Tabela 2, encontram-se os parâmetros e os pesos relativos ao IQA conforme estabelecido pela CETESB. Tabela 2 – Parâmetros e pesos relativos ao IQA Parâmetros Pesos relativos 1. Oxigênio Dissolvido 0,17 2. Coliformes Fecais 0,15 3. pH 0,12 4. Demanda Bioquímica de Oxigênio 0,10 5. Fosfato Total 0,10 6. Temperatura 0,10 7. Nitrogênio Total 0,10 8. Turbidez 0,08 9. Sólidos Totais 0,08 Fonte: CETESB, 1997. Depois de realizado o cálculo é feita a classificação da qualidade da água, segundo o IQA, utilizando os critérios conforme a Tabela 3 abaixo. _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 17 Tabela 2 - Classificação da qualidade das águas Valor Qualificação Cor 80-100 Ótima 52-79 Boa 37-51 Aceitável 20-36 Ruim 0-19 Péssima Fonte: CETESB, 1997. 2.8 SANEAMENTO NO BRASIL Saneamento é o conjunto de medidas que visa preservar ou modificar as condições do meio ambiente com a finalidade de prevenir doenças e promover a saúde, melhorar a qualidade de vida da população e a produtividade do indivíduo e facilitar a atividade econômica. No Brasil, o saneamento básico é um direito assegurado pela Constituição e definido pela Lei nº 11.445/2007 como o conjunto dos serviços, infraestrutura e instalações operacionais de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana, drenagem urbana, manejos de resíduos sólidos e de águas pluviais. Embora atualmente se use no Brasil o conceito de Saneamento Ambiental como sendo os quatro serviços citados, o mais comum é que o saneamento seja visto como sendo os serviços de acesso à água potável, à coleta e ao tratamento dos esgotos (TRATA BRASIL, 2018). Ter saneamento básico é um fator essencial para um país poder ser chamado de país desenvolvido. Os serviços de água tratada, coleta e tratamento dos esgotos levam à melhoria da qualidade de vidas das pessoas, sobretudo na saúde infantil com redução da mortalidade infantil, melhorias na educação, na expansão do turismo, na valorização dos imóveis, na renda do trabalhador, na despoluição dos rios e preservação dos recursos hídricos, entre outros. Em 2013, segundo o Ministério da Saúde (DATASUS), foram notificadas mais de 340 mil internações por infecções gastrintestinais no país. Em vinte anos (2015 a 2035), considerando o avanço gradativo do saneamento, o valor presente da economia com saúde, seja pelos afastamentos do trabalho, seja pelas despesas com internação no SUS, deve alcançar R$ 7,239 bilhões no país. http://www.tratabrasil.org.br/lei-do-saneamento _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 18 2.8.1 Diagnóstico Nacional No século passado, desde a década de 1950 até o seu final, o investimento em saneamento básico no Brasil ocorreu pontualmente em alguns períodos específicos, com um destaque para as décadas de 1970 e 1980, quando existia um “predomínio da visão de que avanços nas áreas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário nos países em desenvolvimento resultariam na redução das taxas de mortalidade” (SOARES, BERNARDES e CORDEIRO NETTO, 2002). Nesse período, foi consolidado o Plano Nacional de Saneamento (Planasa), que deu ênfase ao incremento dos índices de atendimento por sistemas de abastecimento de água, mas que, em contrapartida, não contribuiu para diminuir o déficit de coleta e tratamento de esgoto, o que é ainda verificado atualmente. Até 2006, apenas 15% do esgoto sanitário gerado nas regiões urbanas dos municípios do Brasil era tratado (SNIS, 2007). Atualmente, o setor tem recebido maior atenção governamental e existe uma quantidade significativa de recursos a serem investidos. No entanto, esses investimentos devem, além de gerar os benefícios já esperados quanto à melhoria da qualidade da água e dos índices de saúde pública, atender aos padrões mínimos de qualidade, sendo definidos pela legislação específica do setor, com a finalidade de garantir a sustentabilidade dos mesmos. Nestes últimos anos, as principais normas que regulam o setor de saneamento estão representadas pela Lei nº 11.445/2007, que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico, e pela Lei 9.433/1997, referente à Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH). Verificam-se nestas leis algumas exigências para garantir a sustentabilidade dos investimentos em saneamento, porém, para Souza, Freitas e Moraes (2007), ainda existe uma predominância de conceitos preventivistas e omissões discursivas, além de visões ambíguas dentro de uma mesma legislação. Soma-se a isso o fato de que ainda não estão definidas, de maneira clara, as atribuições de cada esfera governamental no que se refere ao saneamento básico. Devido a essa indefinição, União, Estados, Distrito Federal e Municípios poderiam criar ações redundantes em alguns casos ou se tornar negligentes em outros, deixando a responsabilidade para um dos demais agentes envolvidos. Nesse cenário, a aplicação dos recursos poderia ainda ser realizada sem a adoção de uma visão mais global, que contemple as relações entre esses agentes, prejudicando o planejamento e a eficácia dos recursos aplicados. _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 19 O Instituto Trata Brasil, em parceria com a GO Associados, divulgou o novo Ranking do Saneamento Básico – 100 Maiores Cidades do Brasil que aborda os indicadores de água e esgotos com base nos dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), divulgado anualmente pelo Ministério das Cidades, e que reúne informações fornecidas pelas empresas prestadoras dos serviços nessas cidades. Os dados consultados foram de 2016, os últimos publicados pelo Ministério das Cidades. Além disso, dos indicadores tradicionais, o relatório abordou perdas de água e investimentos das 100 maiores cidades do país. Na nova edição, três novos municípios foram incluídos nas amostras devido aos índices do IBGE em relação à população, tais como: Palmas (TO), Taboão da Serra (SP) e Camaçari (BA). Deixaram de integrar o Ranking os municípios de Foz do Iguaçu (PR), Juazeiro do Norte (CE) e Volta Redonda (RJ). Em 2016, os indicadores mostravam que 35 milhões de brasileiros ainda não eram abastecidos com água potável, mais de 100 milhões não tinha coleta de esgotos e somente 45% dos esgotos gerados no país eram tratados. Ao transpor esta realidade para as 100 maiores cidades do Brasil, onde mais de 40% da população vive, constatou-se que 93,62% da população tinha abastecimento de água, 72,14% coleta de esgotos e 54,33% dos esgotos gerados eram tratados, conforme o último ranking divulgado em abril de 2018. 2.8.2 Prognóstico e desafios A necessidade da melhoria da qualidade de vida e ambiental vivenciada no mundo atualmente, aliada às condições insatisfatórias de saúde ambiental e à importância de diversos recursos naturais para a manutenção da vida, resulta na preocupação municipal em adotar uma política de saneamento básico adequada, considerando os princípios da universalidade, equidade, desenvolvimento sustentável, dentre outros. A falta de planejamento municipal, resultando em ações fragmentadas, conduz para um desenvolvimento desequilibrado, com desperdício de recursos, e ineficiente. A ausência de análises integradas conciliando aspectos sociais, econômicos e ambientais, pode acarretar sérios problemas ao meio ambiente, como a poluição/contaminação dos recursos hídricos, influenciando diretamente na saúde pública. Em contraposição, ações adequadas na área de saneamento resultam em redução de gastos com a saúde da população. _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 20 O Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB) é essencial para um município que busca o desenvolvimento sustentável. O conhecimento da situação atual das necessidades e déficits, municipais ou regionais, referentes ao saneamento básico, possibilita que o planejamento seja eficaz para a resolução das carências diagnosticadas. Portanto, com essas preocupações e com o planejamento, o município poderá chegar a um elevado nível de desenvolvimento. O Plano Municipal de Saneamento Básico visa estabelecer um planejamento das ações de saneamento no município atendendo a princípio a Política Nacional de Saneamento Básico e à Política Estadual de Recursos Hídricos, bem como outras legislações vigentes no âmbito do saneamento, visando salubridade ambiental, proteção aos recursos hídricos, promoção à saúde pública. O objetivo geral dos Planos Municipais de Saneamento Básico é estabelecer um planejamento das ações de saneamento em seus 4 eixos: abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de águas pluviais e limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos. Este planejamento deve atender aos princípios da Política Nacional de Saneamento Básico, através de uma gestão participativa, envolvendo a sociedade no processo de planejamento, considerando a melhoria da salubridade ambiental, a proteção dos recursos hídricos, universalização dos serviços, desenvolvimento progressivo e promoção da saúde pública. O PMSB compreende as seguintes fases: plano de trabalho, de mobilização e comunicação social; diagnóstico da situação do saneamento no município e seus impactos na qualidade de vida da população; desenvolvimento do Sistema de Informações Geográficas (SIG); definição de objetivos, metas e alternativas para universalização e desenvolvimento dos serviços; estabelecimento de programas, projetos e ações necessárias para atingir os objetivos e as metas; planejamento de ações para emergências e contingências; desenvolvimento de mecanismos e procedimentos para a avaliação sistemática das ações programadas e institucionalização do plano; criação do modelo de gestão, com a estrutura para a regulação dos serviços de saneamento no município. Por meio dos índices de atendimento da população quanto ao saneamento básico, destaca-se que em relação ao atendimento à população de baixa renda, o índice ainda é mais inadequado, e alcançar uma cobertura mais ampla desse benefício é um grande desafio. _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 21 2.9 RESÍDUOS SÓLIDOS Com base na NBR 10.004 (ABNT 2004) resíduos sólidos são resíduos nos estados sólidos e semissólidos, que resultam de atividades da comunidade de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistema de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face de melhor tecnologia disponível. De acordo com a NBR 10.004, os resíduos são classificados em duas classes: classe I – Perigosos e classe II - Não perigosos. Ainda dentro da classe dos Não Perigosos, são divididas em outras duas categorias, classe II A - Não inertes e classe II B – Inertes. Para ser classificado como perigoso, o resíduo precisa apresenta alguma das seguintes categorias: a) Inflamabilidade; b) Corrosividade; c) Reatividade; d) Toxidade; e) Patogenicidade. Caso o resíduo não apresente nenhuma dessas características, porém apresenta biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água, é considerado não inerte (Classe II A). Não apresentando nenhuma característica dos aspectos anteriores, é considerado inerte. 2.9.1 Reduzir, reutilizar e reciclar A Agenda 21 apresentou o princípio dos 3Rs: redução (do uso de matérias-primas e energia), reutilização direta dos produtos e reciclagem de materiais. A ordem se baseia no _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 22 que causa menor impacto, sendo a redução menor causadora de impacto do que reciclar, visto que este, implica em gasto de energia. A redução é a primeira etapa do princípio dos 3R´s (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), e consiste em ações que visem à diminuição da geração de resíduos, seja por meio da minimização na fonte ou por meio da redução do desperdício. A reutilização é a segunda etapa que pode ser implantada através de ações que possibilitem sua utilização para várias finalidades, otimizar o máximo seu uso antes de descarte final, ou, ainda seu reenvio ao processo produtivo, visando a sua recolocação para o mesmo fim ou recolocação no mercado. Reciclagem é um conjunto de técnicas que tem por finalidade aproveitar os resíduos, e reutilizá-los no ciclo de produção de que saíram. Materiais que se tornariam lixo, ou estão no lixo, são separados, coletados e processados para serem usados como matéria-prima na manufatura de novos produtos. Reciclar é usar um material para fazer outro (ECO- UNIFESP, 2018). _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 23 3 URBANIZAÇÃO E MEIO AMBIENTE O ambiente urbano é formado pelo sistema natural, composto pelo meio físico e biológico (solo, vegetação, animais, etc.) e pelo sistema antrópico, constituído pelo homem e suas atividades. O homem tem no ambiente urbano a habilidade de coordenar suas ações, usufruindo do meio ambiente como fonte de matéria prima e de energia necessárias para sua sobrevivência, ou como receptor de seus produtos e resíduos gerados (MOTA, 1999). A deterioração do meio urbano é um dos principais temas a serem abordados nas cidades, já que os resultados atingem diretamente a população, mesmo que de formas diferentes, levando em conta as diferenças socioeconômicas da população. Nesta perspectiva, os impactos causados pela urbanização são mais intensos nas áreas mais desprovidas de infraestrutura e de serviços urbanos (CAU/BR, 2015). 3.1 CULTURA E MEIO AMBIENTE A relação entre o ambiente e os seres que cercam um povo são fundamentais na formação de sua cultura. O entendimento de cultura se relaciona com as diferentes maneiras como os homens compreendem, representam e se relacionam com os vários elementos presentes ao seu entorno. É perceptível a relação entre as características naturais dos indivíduos e sua interação com os elementos de sua existência (BOMFIM, 2007). Segundo Bomfim (2007), o conceito de meio ambiente não está relacionado somente ao meio físico e biológico, ele também está interligado com as relações econômicas, sociais e culturais. Sendo assim, o meio ambiente deve ser entendido como a relação de componentes físicos e humanos das várias paisagens que compõem o meio em que estão inseridos. O meio ambiente, atualmente, baseia-se em um conceito muito aberto, que agrega a noção do patrimônio ambiental nacional tanto o meio ambiente natural quanto o meio ambiente cultural. O meio ambiente natural é aquele composto por elementos que são arranjados em um grupo biológico de três reinos: animal, vegetal e mineral. Meio ambiente _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 24 cultural é conceituado como o que tem interação entre o ambiente natural e os espaços ocupados ou edificados pelo homem. Os problemas referentes às questões ambientais também estão ligados a existência da sociedade e sua cultura. Como os recursos naturais são essenciais para a existência e qualidade de vida da população é necessário adotar medidas que utilizem de maneira consciente dos recursos vindos do meio ambiente (CÂMARA, 2015). 3.2 PLANEJAMENTO AMBIENTAL E URBANO Segundo Mota (1999), a transformação de um ambiente rural em um ambiente urbano resulta em grandes alterações ambientais. Um planejamento urbano que pondere as questões ambientais pode minimizar os impactos, adequando os procedimentos de urbanização às características do meio ambiente existente. No passado, o planejamento urbano das cidades realizou-se atendendo os aspectos sociais, culturais e econômicos, e considerava que o ambiente físico é que deveria se ajustar as atividades do homem. Acreditava-se que os recursos naturais eram ilimitados, desde que atendessem as necessidades dos moradores da cidade. Esse tipo de pensamento causou a degradação dos recursos naturais, refletindo negativamente na qualidade de vida do homem (MOTA, 1999). De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o planejamento das cidades é um benefício constitucional da gestão municipal correspondente pela delimitação da zona urbana, rural e outros territórios, onde são direcionados os instrumentos de planejamento ambiental. Todos os planos ligados a qualidade de vida no processo de urbanização constituem instrumentos de planejamento ambiental. Esses instrumentos são fundamentais pois são compostos por ações preventivas que permitam minimizar os impactos negativos dos investimentos públicos-privados sobre os recursos naturais que compõem as cidades. 3.2.1 Aspectos do saneamento no planejamento urbano O saneamento ambiental é o grupo de práticas que promovem a qualidade e melhoria do meio ambiente, contribuindo para a saúde individual, saúde pública e o bem- _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 25 estar da população. As questões de saneamento básico são muito importantes no desenvolvimento urbano, assim, é essencial incluir essas ações no planejamento territorial das cidades (ENGRÁCIA, 1964). O saneamento é também um fator de infraestrutura: melhorar o acesso ao saneamento significa melhorar a infraestrutura do município. A insuficiência do saneamento aparece em escalas municipais e comprometem diretamente a saúde da população. A infraestrutura básica não acompanha o crescimento excessivo da população, gerando ambientes insalubres e exclusão social. Por esse motivo, o saneamento é um dos pontos mais vulneráveis da crise ambiental, interferindo diretamente no espaço da cidade e na dinâmica territorial. O uso do solo tem sido indispensável para o planejamento metropolitano, deve ser levada em consideração sua interação com o sistema de abastecimento de água, coleta e disposição de esgoto, drenagem, transporte, coleta e disposição de resíduos, poluição do ar, do solo e da água, etc. (MOTA, 1999). _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 26 4 PROJEÇÕES POPULACIONAIS1 Os principais métodos utilizados para as projeções populacionais são (FAIR et al, 1968; CETESB, 1978; BARNES et al, 1981; QASIM, 1985; METCALF & EDDY, 1991): a) Crescimento aritmético; b) Crescimento geométrico; c) Regressão multiplicativa; d) Taxa decrescente de crescimento; e) Curva logística; f) Comparação gráfica entre cidades similares; g) Método da razão e correlação; h) Previsão com base nos empregos. Os Quadros 1 e 2 listam as principais características dos diversos métodos. Todos os métodos apresentados no Quadro 1 podem ser resolvidos também através da análise estatística da regressão (linear ou não linear). Estes métodos são encontrados em um grande número de programas de computador comercialmente disponíveis. Sempre que possível, deve-se adotar a análise da regressão, que permite a incorporação de uma maior série histórica, ao invés de apenas 2 ou 3 pontos, como nos métodos algébricos apresentados no Quadro 1. Os resultados da projeção populacional devem ser coerentes com a densidade populacional da área em questão. Valores típicos de densidades populacionais estão apresentados no Quadro 3. Já o Quadro 4 apresenta valores típicos de densidades populacionais de saturação, em regiões metropolitanas altamente ocupadas. _______________ 1 Texto retirado de VON SPERLING, M. Princípios do tratamento biológico de águas residuárias. Vol. 1. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental - UFMG. 3a ed, 2005. _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 27 Quadro 1 – Projeção populacional (métodos com base em fórmulas matemáticas) Método Descrição Forma da curva Taxa de crescimento Fórmula da projeção Coeficientes (se não for efetuada análise da regressão) Projeção aritmética Crescimento populacional segundo uma taxa constante. Método utilizado para estimativas de menor prazo. O ajuste da curva pode ser também feito por análise da regressão. aK dt dP )t.(tKPP 0a0t 02 02 a tt PP K Projeção geométrica Crescimento populacional função da população existente a cada instante. Utilizado para estimativas de menor prazo. O ajuste da curva pode ser também feito por análise da regressão. .PK dt dP g )t.(tK 0t 0g.ePP ou )t(t 0t 0i).(1PP 02 02 g tt lnPlnP K ou 1ei g K Regressão multiplicativa Ajuste da progressão populacional por regressão linear (transformação logarítmica da equação) ou regressão não linear. - s 00t )tr.(tPP r, s - análise da regressão ou transformação logarítmica Taxa decrescente de crescimento Premissa de que, à medida em que a cidade cresce, a taxa de crescimento torna-se menor. A população tende assintoticamente a um valor de saturação. Os parâmetros podem ser também estimados por regressão não linear. P).(PK dt dP sd ]e-[1 . . )P-(P+P=P )t-.(tK- 0s0t 0d 2 120 20 2 1210 s P.PP )P.(PP.P.P2.P P 0 tt )]P)/(PPln[(P K 2 0s2s d _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 28 Crescimento logístico O crescimento populacional segue uma relação matemática, que estabelece uma curva em forma de S. A população tende assintoticamente a um valor de saturação. Os parâmetros podem ser também estimados por regressão não linear. Condições necessárias: P0<P1<P2 e P0.P2<P12. O ponto de inflexão na curva ocorre no tempo [to-ln(c)/K1] e com Pt=Ps/2. P P)(P .P.K dt dP s l )t.(tK s t 0lc.e1 P P 2 120 20 2 1210 s P.PP )P.(PP.P.P2.P P 00s )/PP(Pc ] )P-.(PP )P-.(PP .ln[ t-t 1 =K 0s1 1s0 12 l Fonte: adaptado parcialmente de Qasim (1985) a) dP/dt = taxa de crescimento da população em função do tempo b) Po, P1, P2 = populações nos anos t0, t1 , t2 (as fórmulas para taxa decrescente e crescimento logístico exigem valores equidistantes, caso não sejam baseadas na análise da regressão) (hab) c) Pt = população estimada no ano t (hab) ; Ps = população de saturação (hab) d) Ka, Kg, Kd, Kl, i, c, r, s = coeficientes (a obtenção dos coeficientes pela análise da regressão é preferível, já que se pode utilizar toda a série de dados existentes, e não apenas P0, P1 e P2). Quadro 2 – Projeções populacionais com base em métodos de quantificação indireta Método Descrição Comparação gráfica O método envolve a projeção gráfica dos dados passados da população em estudo. Os dados populacionais de outras cidades similares, porém maiores, são plotados de tal maneira que as curvas sejam coincidentes no valor atual da população da cidade em estudo. Estas curvas são utilizadas como referências na projeção futura da cidade em estudo. Razão e correlação Assume-se que a população da cidade em estudo possui a mesma tendência da região (região física ou política) na qual se encontra. Com base nos registros censitários a razão "população da cidade/população da região"é calculada, e projetada para os anos futuros. A população da cidade é obtida a partir da projeção populacional da região (efetuada em nível de planejamento por algum outro órgão) e da razão projetada. _________________________________ Saneamento Ambiental Aplicado à Arquitetura e Urbanismo 29 Previsão de empregos e serviços de utilidades A população é estimada utilizando-se a previsão de empregos (efetuada por algum outro órgão). Com base nos dados passados da população e pessoas empregadas, calcula-se a relação "emprego/população", a qual é projetada para os anos futuros. A população da cidade é obtida a partir da projeção do número de empregos da cidade. O procedimento é similar ao método da razão. Pode-se adotar a mesma metodologia a partir da previsão de serviços de utilidade, como eletricidade, água, telefone etc. As companhias de serviços de utilidade normalmente efetuam estudos e projeções da expansão de seus serviços com relativa confiabilidade. Fonte: Qasim (1985) Nota: a projeção futura das relações pode ser feita com base na análise da regressão 30 Quadro 3 – Densidades populacionais típicas em função do uso do solo Uso do solo Densidade populacional (hab/ha) (hab/km2) Áreas residenciais Residências unifamiliares; lotes grandes 12 – 36 1.200 – 3.600 Residências unifamiliares; lotes pequenos 36 – 90 3.600 – 9.000 Residências multifamiliares; lotes pequenos 90 – 250 9.000 – 25.000 Apartamentos 250 – 2.500 25.000 – 250.000 Äreas comerciais 36 – 75 3.600 – 7.500 Áreas industriais 12 – 36 1.200 – 3.600 Total (excluindo-se parques e outros equipamentos de grande porte) 25 – 125 2.500 – 12.500 Fonte: adaptado de Fair, Geyer e Okun (1973) e Qasim (1985) (valores arredondados) Quadro 4 – Densidades demográficas e extensões médias de arruamentos por ha, em condições de saturação, em regiões metropolitanas altamente ocupadas (dados médios da Região Metropolitana de São Paulo) Uso do solo Densidade populacional de saturação (hab/ha) Extensão média de arruamentos (m/ha) Bairros residenciais de luxo, com lote padrão de 800 m2 100 150 Bairros residenciais médios, com lote padrão de 450 m2 120 180 Bairros residenciais populares, com lote padrão de 250 m2 150 200 Bairros mistos residencial-comercial da zona central, com predominância de prédios de 3 e 4 pavimentos 300 150 Bairros residenciais da zona central, com predominância de edifícios de apartamentos com 10 e 12 pavimentos 450 150 Bairros mistos residencial-comercial –industrial da zona urbana, com predominância de comércio e indústrias artesanais e leves 600 150 Bairros comerciais da zona central com predominância de edifícios de escritórios 1000 200 Fonte: Além Sobrinho e Tsutiya (1999) Ao se fazer as projeções populacionais, deve-se ter em mente que os estudos de projeção populacional são normalmente bastante complexos. Devem ser analisadas todas as variáveis (infelizmente nem sempre quantificáveis) que possam interagir na localidade específica em análise. Ainda assim podem ocorrer eventos inesperados que mudem totalmente a trajetória prevista para o crescimento populacional. Isto ressalta a necessidade do estabelecimento de um valor realístico para o horizonte de projeto, assim como da implantação da estação em etapas. As sofisticações matemáticas associadas às determinações dos parâmetros de algumas equações de projeção populacional perdem o sentido se não forem embasadas por informações paralelas, na maioria das vezes não quantificáveis, como aspectos sociais, econômicos, geográficos, históricos etc. 31 O bom senso do analista é de grande importância na escolha do método de projeção a ser adotado e na interpretação dos resultados. Ainda que a escolha possa se dar tendo por base o melhor ajuste aos dados censitários disponíveis, a extrapolação da curva exige percepção e cautela. Os últimos dados censitários no Brasil têm indicado uma tendência geral (naturalmente que com exceções localizadas) de redução nas taxas anuais de crescimento populacional. É interessante considerar a inclusão de uma margem de segurança na estimativa, no sentido de que as populações reais futuras não venham, a menos de forte causa imprevisível, facilmente ultrapassar a população de projeto estimada, induzindo a precoces sobrecargas no sistema implantado. A seguir apresenta-se um exemplo para melhor compreensão: 4.1 CASO EXEMPLO Com base nos dados censitários apresentados a seguir, fazer a projeção populacional, utilizando-se os métodos baseados em fórmulas matemáticas (Quadro 1). Dados: Ano População (hab.) 1980 10.585 1990 23.150 2000 40.000 Solução: a) Nomenclatura dos anos e populações De acordo com o Quadro 1, tem-se a seguinte nomenclatura: t0 = 1980 P0 = 10.585 hab t1 = 1990 P1 = 23.150 hab t2 = 2000 P2 = 40.000 hab b) Projeção aritmética 8,1470 19802000 1058540000 tt PP K 02 02 a 32 1980)-(t x 1470,8 10585 )t.(tKPP 0a0t Para se calcular a população do ano 2005, por exemplo, deve-se substituir t por 2005 na equação acima. Para o ano 2010, t = 2010, e assim por diante. c) Projeção geométrica 0665,0 19802000 10585ln40000ln tt lnPlnP K 02 02 g 1980)(t x 0,6665)t.(tK 0t 10585.e.ePP 0g d) Taxa decrescente de crescimento 66709 231504000010585 )4000010585(231504000023150105852 P.PP )P.(PP.P.P2.P P 2 2 2 120 20 2 1210 s x xxxx A população de saturação é, portanto, 66.709 hab. 0371,0 19802000 )]1058566709/()4000066709ln[( tt )]P)/(PPln[(P K 02 0s2s d ) e-(1 x 10585)-(6670910585]e-[1 . )P-(P+P=P 1980)-(t-0,0371x )t-.(t-K 0s0t 0d e) Crescimento logístico 66709 231504000010585 )4000010585(231504000023150105852 P.PP )P.(PP.P.P2.P P 2 2 2 120 20 2 1210 s x xxxx 3022,5 10585 )1058566709( P )P(P c 0 0s 1036,0 )1058566709(23150 )2315066709(10585 ln. 1990-2000 1 ] )P-.(PP )P-.(PP .ln[ t-t 1 =K 0s1 1s0 12 l x x 33 1980)(t x 0,1036)t.(tK s t 5,3022.e1 66709 c.e1 P P 0l O ponto de inflexão na curva ocorre no seguinte ano e com a seguinte população: 1996 0,1036 ln(5,3022) 1980 K ln(c) tinflexão Tempo 1 0 hab 33354 2 66709 2 Ps inflexão População Antes do ponto de inflexão (ano de 1996), o crescimento populacional apresenta uma taxa crescente e, após este, uma taxa decrescente. f) Resultados na forma de tabela e gráfico Nomenclatura Ano População medida (censo) População estimada Aritmética Geométrica Decrescente Logística P0 1980 10585 10585 10585 10585 10585 P1 1990 23150 25293 20577 27992 23150 P2 2000 40000 40000 40000 40000 40000 - 2005 - 47354 55770 44525 47725 - 2010 - 54708 77758 48284 53930 - 2015 - 62061 108414 51405 58457 - 2020 - 69415 151157 53998 61534 34 Projeção populacional (dados medidos e estimados). Pelo gráfico e pela tabela, observam-se os seguintes pontos, específicos para este conjunto de dados: a) Os dados observados (populações dos anos 1980 a 2000) apresentam uma tendência crescente de crescimento. Visualmente, observa-se que o modelo da taxa decrescente não se ajusta bem a esta taxa crescente; b) A projeção geométrica conduz a valores estimados futuros bastante elevados (que poderão vir a ser ou não verdadeiros, mas que se afastam bastante das demais projeções); c) Os métodos logísticos e de taxa decrescente tendem à população de saturação (66.709 hab., indicada no gráfico); d) Em todos os métodos, os valores calculados da população nos anos P0 e P2 são iguais aos valores medidos; e) A projeção populacional propriamente dita é apenas a partir do ano 2000. Os anos com dados censitários são plotados no gráfico, para permitir uma visualização do ajuste de cada curva aos dados observados (1980, 1990 e 2000); f) A curva de melhor ajuste aos dados observados pode ser selecionada por meio de métodos estatísticos, que deem uma indicação do erro (normalmente expresso na forma da soma dos quadrados dos erros), onde o erro é a diferença entre o dado estimado e o dado observado. PROJEÇÃO POPULACIONAL 0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 80000 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 ANO P O P U L A Ç Ã O (h a b ) CENSO LOGIST ARITM GEOM DECRESC saturação 35 Quadro 5 – Projeção populacional. Métodos com base em fórmulas matemáticas Método Descrição Forma da curva Taxa de crescimento Fórmula da projeção Coeficientes (se não for efetuada análise da regressão) Projeção aritmética Crescimento populacional segundo uma taxa constante. Método utilizado para estimativas de menor prazo. O ajuste da curva pode ser também feito por análise da regressão. aK dt dP )t.(tKPP 0a0t 02 02 a tt PP K Projeção geométrica Crescimento populacional função da população existente a cada instante. Utilizado para estimativas de menor prazo. O ajuste da curva pode ser também feito por análise da regressão. .PK dt dP g )t.(tK 0t 0g.ePP ou )t(t 0t 0i).(1PP 02 02 g tt lnPlnP K ou 1ei g K Regressão multiplicativa Ajuste da progressão populacional por regressão linear (transformação logarítmica da equação) ou regressão não linear. - s 00t )tr.(tPP r, s - análise da regressão ou transformação logarítmica Taxa decrescente de crescimento Premissa de que, à medida em que a cidade cresce, a taxa de crescimento torna-se menor. A população tende assintoticamente a um valor de saturação. Os parâmetros podem ser também estimados por regressão não linear. P).(PK dt dP sd ]e-[1 . . )P-(P+P=P )t-.(tK- 0s0t 0d 2 120 20 2 1210 s P.PP )P.(PP.P.P2.P P 0 tt )]P)/(PPln[(P K 2 0s2s d Crescimento logístico O crescimento populacional segue uma relação matemática, que estabelece uma curva em forma de S. A população tende assintoticamente a um valor de saturação. Os parâmetros podem ser também estimados por regressão não linear. Condições necessárias: P0<P1<P2 e P0.P2<P12. O ponto de inflexão na curva ocorre no tempo [to- ln(c)/K1] e com Pt=Ps/2. P P)(P .P.K dt dP s l )t.(tK s t 0lc.e1 P P 2 120 20 2 1210 s P.PP )P.(PP.P.P2.P P 00s )/PP(Pc ] )P-.(PP )P-.(PP .ln[ t-t 1 =K 0s1 1s0 12 l Fonte: Von Sperling, 1996 36 5 CONCEPÇÕES DE PROJETO 5.1 UNIDADE DE PLANEJAMENTO De acordo com a ANA (Agência Nacional das Águas), Unidades de Planejamento Hídrico são subdivisões de bacias hidrográficas, caracterizada por conformidade de fatores geomorfológicos, hidrográficos e hidrológicos que concedem a organização do planejamento e aproveitamento dos recursos hídricos. A bacia hidrográfica como unidade de planejamento constitui um sistema natural bem delimitado geograficamente, onde os fenômenos e interações podem ser integrados, sendo assim bacias hidrográficas são consideradas como unidades geográficas. Uma unidade espacial é de fácil reconhecimento e caracterização, levando em consideração que todas as áreas de terra sempre integram uma bacia hidrográfica (CARVALHO E MIRANDA, 2009). 5.1.1 Bacias hidrográficas, mananciais e corpos receptores A bacia hidrográfica é uma área de captação natural de água de precipitação convergindo o escoamento para um único ponto de saída. A bacia hidrográfica é composta por um conjunto de superfícies vertentes e de uma rede de drenagem formada por cursos de água que confluem até resultar em um leito único no seu exutório. A bacia hidrográfica pode ser considerada um ente sistêmico. É onde se realizam os balanços de entrada proveniente da chuva e saída de água através do exutório, permitindo que sejam delineadas bacias e sub-bacias, cuja interconexão se dá pelos sistemas hídricos (PORTO e PORTO, 2008). De acordo com Tsutiya (2006), manancial é o corpo de água superficial ou subterrâneo, de onde é retirada a água para o abastecimento. Deve fornecer vazão suficiente para atender a demanda de água no período de projeto, e a qualidade dessa água deve ser adequada sob o ponto de vista sanitário. 37 De acordo com o CONAMA Resolução 357, de 17 de março de 2005, o conceito de corpos receptores são corpos hídricos superficiais que recebem o lançamento de um efluente. 38 6 ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA – ETA Conforme Tsutiya (2006) estações de tratamento de água e efluentes são o conjunto de unidades destinado a tratar a água
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