Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
--, \,.-, (1_---' ,\.-) \ I J-....... -, [' r, ')SACRA '-I \ '<--I - . ~ ~ 1(, , I '- lll:E P) AlURA I ((g ~ YlAS \ ~E 10/1 I!~- «(~/!O~/ u /~ ,,/ /' »: , /" ./ .,/ GREGORIO DE MATOS ~\ r, '. Gregorio de Matos Guerra nasceu em Salvador (Bahia), a 7 de abril 'fl~1..- \Ide 1633. Filho de portugues e baiana, freqiientou o (:olegio da Compa nhia de Jesus. Seguindo para a Mcrropole, doutora-sc em Dircito (1661) e ingressa na magistratura, carreirn que interrornpe para voltar ao Brasil. Mas em 1680 esti novarnente em Portugal. Nessa altura, ja tcria feito conhecer seu talento de repentista e zombeteiro. No ano seguinte, retor na aBahia, casa-se, passa a advogar e torna habitos menores. Levando vida boernia, e dando vazfio a seu ternperarnento satirico, acaba por accndcr a mal-querenca a seu redor, ate que se ve obrigado a exilar-se em Angola. Regressa em 1695, para 0 Recife, on de falece urn ano depois. Exclus iva mente poeta, Gregorio de Matos apenas tcria publicado em vida urn que outre pocrna. POl' isso.. a totalidade de sua obra se manteve incdita ate os nossos dias, quando Afranio Peixoto a reuniu em 6 volumes, publicados no Rio de Janeiro, pela Academia Brasileira de Letras, entre 1923 e 1933, sob 0 ritulo de Obras. Recenternente, James Amado reeditou 0 esp6lio do poeta em sere volumes (Salvador, Ed. janalna, 1969), utilizando codices cxistentes no Rio de Janeiro. 36 A [esus Cristo NossoSellbor Pequei,\ Senhor ; mas niio porque hei pecado, Da vossa Alta Piedade me despido: Antes, Ruanto mais tenho delinqiiido, Vos tcriho a perdoar mais empenhado. Se bastl avos irar tanto pecado, A abrandar-vos sobeja um so gemido: Que a rncsrna culpa, que vas na ofendido, Vos tern para 0 perdao lisonjeado. Se uma ovelha perdido, e ja cobrada, Gloria tal e prazer tao repentino Vos deu, como afirrnais na Sacra Hist6ria: Eu sou, 'Serihor, ovelha desgarrada; Cobrai-a; e nfio queirais, Pastor Divino, Perder na vossa ovclha a vossa gloria. I I A Jews Cristo crtlcificacio, estanda 0 para morrer poeta Meu Deus, que estais pendente em urn Em cuja Fe protesto de viver; Em cuja Santa Lei hei de morrer , Amoroso; constante, lirrnc e inteiro: madeira, Neste transe, por SCI' 0 derradeiro, Pais vejo a minha vida anoirecer, I~, men Jesus, a horn de sc vcr. A brandura de urn Pai, manse Cordeiro. Mui grande c vosso Amar, e 0 meu delito: Porem, pode tel' firn toda 0 pccar ; Mas naoo vosso Arnor, que c Infinito. Esta raziio me obrlgn a confiar Que pm mais que pcquci, ncste conflito, Espcro em vosso Arnor de me salvar. 37 r /j I I I ~ Buscando a Cristo A vas correndo vou, Braces sagrados, Nessa Cruz sacrossanra descobertos; Que para receber-me estais abertos, E por nfio castigar-me estais cravados. A vas, Divinos olhos, eclipsados, De tanto sangue e higrimas cobertos, Pois para perdoar-rne estais desperros, E por nao ccndenar-rne estais fechados. A vas, pregados Pes, por nao deixar-me , A vas, Sangue vertido para ungir-rne: A vas, Cabeca baixa por charnar-me: A vas, Lado patente, quero unir-me: A vas, Cravos preciosos, quero atar-rnc, Para fiear unido, atado, e firrne. VI Ao mesmo assunto Ofendi-vos, meu Deus, e bem verdade ; Verdade e, meu Senhor, que hei delinqiiido; Delinqi.iido vos tenho, e ofendido, Ofendido vos tem minha maldade. ' Maldade e~caminhada a urna vaidade; Vaidade, que de redo me h<i vencido; Vencido quero ver-rne , e arrependido; Arrependido em tanta enormidade. Arrependido estou de coracao: De coracao vos busco, dai-me abracos: Abracos, que me rcndarn vossa Luz. Luz, que clara me mostra a salvacao; A salvacio pretendo em tais abracos: Misericordia, meu Senhor, Jesus, jesus! ~ XIX I I ALhando-se um brace perdido do Menino Deus de N. Senbora das Maravilhas, que desacata rdm infieis na S~ da Bahia. o todo !sem a parte niio eicdo; A parte com 0 todo r:ao e parte; 'r" Mas se ia parte 0 Iaz tcdo sem a parte, Nao se diga que e pace sendo todo. I Em todo 0 Sacramento est.i Deus todo, E todo assiste inteiro em S'-lalquer parte, E feito em partes tode, ca.ia parte Em qualquer parte serapre fica tcdo. o brace de Jesus n:io seja parte, Pois que fei to Jesus c.n p rtes todo, o todo fica estando eo S:C~l parte. Nao se sabendo parte deste todo, Urn brace que lhe achararr. sendo parte, Nos disse as partes tocas c~ste todo. URreA 1 A Dona Angela, itrn : das Ires filhas de Vasco de Soma de Pareies, e sua m ulber Dona Vito ria, de tlio rara [orrtosura, que D. [oao de Aiencastro, quando [c: desce governo para Lis boa, leuou COIIS(~O :I!I: retrato Sl:II. Nao vi em minha vida a [ormosura: Ouvia falar neb cada cia: E ouvida, me incitava e me rnovia A querer ver tao bela arquireturu . Ontem a vi, por minha desvenrura, Na car a, no born ar , na galhrdia De urna mulher, que ern A:rjo sc mentia, De urn Sol, que se trajava ern cr iatura. 39 /) c.>: 38 C I A inconstdncin das cousas do Mundo Nasce a Sol; e nao dura mais que urn dia: Depois da luz, se segue a noite escura: Em tristes sombras morre a formosura; Em continuas tristezas a alegria. Porern, se acaba a Sol, por que nascia? Se tao formosa a Iuz e, par que niio dura? Como a beleza assim se transfigura> Como 0 gosto, da pena assim se fia? Mas no Sol, e na luz, falta a firmeza; Na forrnosura, niio se de constfincia: E na alegria, sinta-se tristeza. Corneca 0 mundo, enfirn, pel a ignorfincia; Pais tern qualquer dos bens, par natureza, A firrneza sornente na inconsrftncia, SATfRICA Aos Vidos Eu sou aquele que as passados anos Cantei na minha lira maldizente Torpezas do Brasil, vfcios e enganos. E bern que as descantei bastanternente, Canto segunda vez na mesma lira o mesrno ass unto em plectra diferente. Ja sinto que me inflama e que me inspira Tdlia , que anjo e da minha guards Des que Apolo mandou que me assistira. Arch Baiona, e todo a mundo nrda, Que a quem de profissao Ialta a verdade Nunca a dominga das verdades tarda. Nenhum tempo excetua a cristandade .0...0 pobre pegureiro do Parnaso Para falar ern sua liberdade. A narracao ha de igualar ao case, E se talvez ao acaso nfio iguala, N~o tenho por pocta a que e Pegaso. De que, pode servir cular quem cala? Nunca se ha de falar a que se sente?! Sempre Ise ha de sentir a que se Iala. Qual h~mem pode haver tao paciente, Que, vendo 0 triste estado da Bahia, Nao chire, niio suspire e niio lamente? Isto faz a discrera fantasia: Discorr~ em urn e outro desconcerro, Condenf a roubo, increpa a hipocrisia. o nescio, a ignorante, a inexper to , Que njio e1ege a born, nern mau reprova, Par tudo passa deslumbrado e incerto, E quando ve ralvez na doce-trova Louvado a bern, e a mal vituperado, A tudo faz focinho, e nada aprova. Diz logo prudentaco e repousado: - Fulano e urn satirico, e urn louco, De lingua mri, de coracao danado. Nescio, se disso entendes nada au pouco, Como mofas com riso e algazarras Musas, que estimo ter, quando as invoco. Se souberas Ialar, tarnbern falaras Tambern satirizaras, se souberas, E se foras poeta, poetizaras. A ignorfincia dos hornens desras eras Sisudos ,faz ser UTIS, outros prudenres, Que a mudez canoniza bestas feras. ILl bons, por niio poder scr insolcntes, Outros ha comedidos de medrosos, Niio mordern outros nao - por nfio ter dentes. Quantos ha que as telhados tern vidrosos, E deixam de atirar sua pedrada, De sua rnesrna telha rcceosos? Urna so natureza nos foidada; Nao criou Deus as naturals diversos: Urn so Adao criou, e esse de nada. 43 '-', --~ 1 42 Todos somos ruins, toJos perversos. So nos distingue 0 vicio e a virrude, De que uns sao cornensais. outros adversos. Quem maior a river, do que eu ter pude, Esse so me censure, esse me note, Calern-se os mais, chitom, e haja saude. I A ciilade da Bahia .* Trisre Bahia!0 quiio dessernelhante ESlaS e estou do nosso antigo esrado, Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado, Rica te vi eu ja, tu a mim abundante. A ti trocou-te a rnaquina mercante, Que em tua larga barra tem entrado, A mim foi-me troeando e tern trocado Tanto negocio e tanto negoeiante. Deste em dar tanto aciicar excelente Pebs drogus imiteis, que abelhuda Simples aceitas do sagaz brichote. Oh, se quiseru Deus, que, de repente, Um dia arnanheceras tao sisuda Que fara de algodao 0 teu capotel I V ~ Aos CqramliT/iS de Bahia Urn c:11~ao de pindoba a meia zorra, Carnisa de urucu; rnantcu de arar a ; Em lugar de cote, arco e raquara ; Penacho de guards, em vcz de gorra. Furado 0 beico, sern terner que morra o pai, que lho envasou cum a titara: Sendo a mae a que a pedra lhe aplicara Por reprirnir-lhe 0 sangue, que nao corra. Alat\'e sem razfio, bruto sern fe; Sern rnais lei que a do gosto ; e quando erra, De Poiai.i tornou-se em Abairc. Nao sci como acabou, nerr: em que guerra: S6 sei que deste Adiio de Massape, Procedem os fidalgos des;a terra. XIV -j( Descreue 0 que era Iz::qile:" tempo a cidade de B,;I!Ji.1 A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer goverr.ar ca:::1>1:1 e vinha: Nao sabern govcrnar sua cczinha, E podem governar 0 rnunco in teiro ' Em cada porta urn frcqi.e r.;e olheiro D::. vida do vizinho e da \':::oha, Pesquisa, escuta, espreits :: esc:~:}ori!1hJ Para 0 levar a pr aca e ao :~::ei:o. . I d . ,\r mu aros esa';er;o:::~acos,,. uiros Tr azidos pelos pes aos horr ens no~res; POS:3 nas palmas rod: :1 ;::cClrcil Estupendas usuras nos ;r.e:~lJos: Todos os que n30 h.:r:l::J, :::u::o ?obres: Iis aqui a cidade cia 5l0;2. x X V I I . A procissao de cinr.: c»: ?eTl;:;7.>;btlco Urn negro magro; em s·~:fcL~ ' " Dous dazorragues,e U~ jU:; Barbado 0 Peres, mars CO_5 Seis criancas com asas. sc::-:: l::.~":: justo ; ~'~:;~'C~~~S; ?c::::c:ltc.:s, 23:5 c·..!s,o. De verrnelho 0 mula ,C ITlJ;S :0:: '..! S:0; Tres meninos Iradinhos ince" res: Dez ou doze brichotcs rr u: J;e::es; Vinrc 01.1 trinta carielos 2c c.r.oro c:::.:s:o: Scm debita rcverencia scis _::1do:o:s: Urn pend.io de algodJo tiilto ern t;j:.:co; Em fileir a dez pares de me::Jres: .: \ 44 Atras um negro, urn cego, lim marneluco: Tres lotes de rapazes gritcdorcs: t a procissfio de Cinza em Perriambuco. * \. Antologia des Poetas Brosileiros da Fa· se Colonial, par Sergio Buarque de Ro landa, Rio de Janeiro,!. N. 1., 1953, vol. I, pp. 64, 65, 66, 67, 69-70, 72-73, 76, 79,80, 81, 104 e 120-122; Gbras Com pletas de Gregorio de Matos, Sao Paulo, Cultura, 1943, vol. I, pp. 75-76,76-77 e 93; vol. II, r- 9.) Como se ve, Gregorio de Maras culrivou a poesia sacra, lirlca e sa tirica. Tarnbem escreveu poemas graciosos e pornograficos. Essa diversi dade de carninhos percorridos pela inspiracio do vate baiano se explica acirna de rudo pela riqueza plastica de seu talento literario e, ao Iim, pel a estetica barroca, que lhe serviu de pane de fundo. Na verdade, ocorreu uma excepcional identificacao entre 0 ternperarnento artistico de Gregorio de Matos e a mod a literaria imperante no tempo, a tal ponto que ele se lhe tornou urna especie de personificacao ou prototipo. :E: que 0 Barraco, diligenciando conciliar os extrernos cons tiruidos pelos valores rnedievais e os padr6es renascentistas, apreserita urna mescla de pagiio e de mlstico, de materialismo e de espiritualismo, de claro e deescuro, etc. Oal a poe sia sacra do Boca de Inferno, como era chamado, ser tao "sincera" quan· to os poemas Iiricos ou os satldcos, pois formavam palos que a sensibili * Lirica, SOnelO IV; esfera breve == 0 poeta pretende dizer que O. Angela reproduz em si ("esfera breve") a belen do Cosmos (Esfera); soneto XVIII: fresco Adonis == ar; Adonis, figura mito!ogica de peregri· na beleza, era nume da vegeta<;iio; Salirica, "Aos Vkios"; Tdlia = musa da comedia e da satira, apaixonada por Apc!o, deus da B"eteZll. da luz, da poesia, da musica, dos or:iculos, e que presidia 0 cora das musas; Baio na == cidade maritima da Galiza; pegureiro do Parnaso = poeta menor; Parruso era a monte .em que ApoJo e as musas se reuniam; Pegaso (Pega. so no poema, para rimar com "caso") = c?\'alo alado que. nascido do sangue da Medus'a, golpeou a terra com 0 casco fazendo brotar a fonte Hipocrene, inspiradora dos poetas; soncra I: maiuina rnercanle = navio merc"nte; sonew IV: pindoba ~~ palincira, coquejro; zorra == palavra de acepc;iio meio misteriosa; pode significar, mais plauslvdroente, que a mcia esta caida; ou, mais complexamente, urn tipo grande de pi30: "Ha a piorra, 0 piiio, ~ meia zorra e a zona, que chega ~ pesar meio quilo" (To mas de Figueiredo, N6 Cego, p. 152, apl/d Morais, GraNde Diciondrio da Lingua Poriliguesa, 12 voIs., Lisboa, Confluencia 11949-1959], vol. 11, p. 901); IJrlICII = fruto de cuja polpa se pode extrai~ tinta vermelha; cole = == espada curta; lilara == vareta; paiaid == paj':; abaile == homem feio, repulsivo, medonho; sonclO XXVII: SlI/OU == cerro tecido de Bigodiio; ilia ~Jruto do juazeiro; onuslo == sobrecarregado; lijuco == lama. 4G dade do escritor, profundamente afinada com 0 estilo barroco, tencionava fundir nurna slntese considerada perfeita, Par isso, as pecas escolhidas valem como exernplares acabados de Barroco, quer nos recursos expressi vos empregados, quer na substancla poetica implicita. Note-se, a tlrulo de arnostra rnals evidente, 0 soneto sacro XIX, todo ele composto de urn jogo de antfteses no redor da nO~30 de parte e todo, que fazia as dellcias dos barrocos, sobretudo na fac<;ao conccptista, voltada para a expl6ra~ao dos infinitos rurnos do pensarnento racional. 0 gosto pelo paradoxo igual mente se exibe nas demais cornposicfics da serie, com as variacoes que a fantasia do poeta inventava. Rcgistre-se, outrossirn, no sonero lirico XVII, o lema do carpe diem, proveniente dos classicos grego-latinos, mas que encontrou DQ universe barroco morada ideal, gracas a consciencia aguda que tinham do efernero da existencia e ao horror pela morte. Observe-se que, em consonancia com 0 principio da irnitacao em yoga no seculo XVII, o soneto grcgoriano aproveita urna cornoosicdo de Gongora, inclusive tra duzindo-lhe 0 derradeiro verso (Helmut Herzfeld, Estudios sobre el Barroco, Madrid, Gredas [1964 J, p. 114 l, e a conhecida Ode XVII de Ronsard ("Mignonne, allons voir sl la rose" l. Nessa mesrna ordem de imitacfio (que nao signifiea copia nem pldgio, mas busca da inspiracao onde estiver, sern prejufzo da originalidade ), situa-se 0 poerna satfrico cr, montado sO bre a ideia da "firrneza na inconstancia", que e urna das traves mestras da poesia carnoniana. Ainda em consequencia do espirito barroco que im pregna a poesia de Gregorio de Matos, assinala-se 0 pess.misrno exis tencial, vinculado ao trauma do "pecado original", no poema "Aos Vi. cios", Excetuando a poesia satlrica, circunstancial e irnediatista per naru reza, as outras facetas do estro gregoriano ostentam europeicbde na meta foriza<;ao (" rosada Aurora") ou no emprego da mitologia classica ("fresco Adonis"), re3Ultante dos proprios postulados barrocos. No entanto, es· cusa de muito esfor<;o para se perceber, em qualquer das cor;iigura~6es do mundo poetico de Greg6rio de Matos, como decorrencia do ar meio jo vial au de intimidade que as perpassa, uma dic<;ao poerica brasileira: B austeridade do tema semelha ocultar urn cadter irreverente e pachola, com marca registrada inconfundivel. Se nao brasileiro, baiano. De qualquer modo, esta-se perante nosso primeiro grande poeta, e dos m:!iores da Li teratura Brasileira. I , .. .~ seguindo a ruma cia nau, Ao mesmo Desembargador Belchiar.da ~ .BrocMdo que abertavai polo vau, :.~.n ,t' ,.J:.~DU ~ocurar-lhe estopar por calefetar-lhe a papa,) t Dou pruden nobre hurna afoi ,antes que saia 0 mingau, to te no vel Re den benig e aprazi Logo pois que a seu canhaodeu fogo, 0 baixel violento , largando velas ao vente Oni singular ra inflexf foi pedir absolvicao: cO TO vel porem eu digo, que TJa"0 Magnifi precla incornpara pecou ela desta vez , pois com soltar de cones o preso, que se valeu Do rnun grave ju inimita do Sagrado , mereceu do is vel a festa que se lhe fez. Admira goza aplauso incn As Fragatas da companha botando as barbas de molho, Po a trabalho tan e t terri porque esta lhe dera de olho, is to ao vel lhe fizeram festa estranha: Da pron execu9 sernpre incansa deram-lhe trela tarnanha, que cuido, porque 0 020 Vi, que a pobre partiu dali Voss fa senhor sej not6r tao corrida, e envergonhada, a rna a ia que foi de voga arrancada rl L no eli on de nunc chega 0 d a dar fundo em Parati. .. , Ond do Ere s6 se tern mernorEse passou mais avante , . e b0 61 iaja pede chegar aEuropa, Para qu gar tal tanta energporque foi com vento em papa, .' e escoou-se co'a vazante: mas se algum born estudante Po de tad est terr e gentil gl6rna art e d.a disenteria is a a a iapOT desgraca, ou porrniseria Da rna remot sej urn alegrIIreprovou desta poesia a forma, por cortesia prove ao menos a materia. II - ,.: -,:-:-::~:::'. (61) Na cdi~ JA vern estropiados os versos 3 e 4 deste poema. Par isso, preferimos a edi,.ao de J MW, onde ainda consta a infOIDl~ aeguinte: '"Erebo - mitolopa,1JOtIle W trens -infernais. 'onde nunca chega 0 dia', Entenda-se: ja-qae tr:nho pIbo e b:Dta eDetPa-D3 ptil-p6ria desta terra, que sejlUI1"taDbem Ilqria da temI·ma!.s remota fl5to e, o En;bo):--:-se"'a~ de jogo que acompmha 'O'.poeta apa!ecc em 'tennos -de TlIdx:iniO na poesia refigIOsa eu:m1mm<li de CJ( p1o~ de 'IODOridadeI em poe1D3S c:iramsta:ndais,Dnte'eao_~'«l'~-pormelo da distribui~-~,do poema que f~lnetnsit'e.1 om ~oOaW:r'ma:is inteoao d.a parte do Ieltar•• ., " , -, . ','" ~,," , ,'." - .'=" ..... r-s-" .. r: C 50 .-----··--·--.....----.:....-..--.-.. ----£ ... .:...........~~ii-,....::.:!:,.:~.:~,.:..:.e".~....r...'.~;..--~~:_...;.._t~t..~.:.c~~::,;;~_0.i.:.*.. :._;:' --;~~ ,;a. :r:=ai ..', ." ~p~_ ·il :;j t ;.::: ~1 '.'~";, ~f !"." ".... ~, ~ ~j "'-i A \IARL-\ DE POVOS, SU.-\. FUTUR..-\. ESPOS.-\ ~r; :.q CO:-'10 A PALAVRA NISE t .-\l'\.-\GR..-\.\L\ DE l~£S, -'1 PARECE CO\IPETIREM AS OBRAS DESTE ),"0:'-1£ Discreta e formosissima .\iJria, A EST.~ D.\MA, QUE NO\IEIA 0 POET.-\. J\ESTA cn'jllar.to est am os ve ndo J qualquer hera. :~ EXCELENTE DEFE\l~.:\.O em tuas faces a rosad a Aurora, em reus ol hos e boca, 0 Sol c 0 ciia: DE AMOR, E FOR\10SUR.-\. ti ~~ ~. ~5 enCjll3.[][o com gentil dcsconesia, ,~,~ ro:~ oar, que fresco Adonis te narnor a, Aquel e nfio sci que, Sl:e, Ines, te ass ist c -:;: J te espalha a rica tranSJ brilhadora, no gen til corpo, e n:lsTaciosa Iacc, quando vern passear-te pe!a fria: .' .' :~ nao sei donde t e JlJSC~, 0:1 n:10 te nn sce, n.io set onde cons is: e, ou n.io cons.st e. gOZ,l, gCla cla fIor d a rnocidade, ~.: 10 que 0 :~~.1~):) uat a a toda a ligti~ez,l. 5 =,,'ao sei 0 quando ou como artier me vis ;c, .< e irripr ime en toda a flor sua pisJcJa. por que Fcn ix de 2:C1'J~ rae e rer n izassc: -,' • C1,1 " ~ n,10 sei como renascc ou n i o re n.isce. ' ! 'j- ; ,11.[1 - / 6 11:10 a';;l::lr,!es. que ~ rrnllUrJ idJ.ce, nao sei como persis.e cu n i o persisre.~~.; J Vi I ,v 1 d,,- 'I~IJ re corn erte essa flor, essa bcl cz.i, . \ .,l' . Ii L - , A' r l' (,). I em terra. ern cinza, em po, em sorribr a . em n:,,;:;. S2.0 sei como me va i, ou C0:710 ando. . 'lC¥i: i~IJ)V" '.:.0:: 10 n io sei 0 que me dci, 011 F'or q'.1t p:trtC,.. ~i 'I (J l)LI.\, 11 u;J ! J t1 nfio sei se vcu viver.do. ou acaba ndo. .:to ; ~, tl " I, LL ) 'r':////JiJ./PlC t-.)~!.r/IJ.~<{J C I;' .•~: ---5"!.-\; J IU cl,O- ~ 'j.t' :::~ ~ Como logo meu mal hei de coruarte , -~ :(fC f '0 t, " /JJ{.f' h llij--' h' (r}! 'fr~ ;.. j.; .U; iii r:-,.~.: se, de quanto a rninh., alrnz es,a pcnJndo,..f;) ; ~ t.r~!l'v.. ------ eu mesrno, que 0 pac:'~s'), nio sei p:Ht::::: ~ :~~'. ~~ d,O ,I}- :-S" b:ITI o'i'~e ~~o seja rjgor~same~'c. 'i:'C:~J 2c~~~ic.l de;Si:;i~,J~i~:,c ';' ." ,vJJ . f./(i. lneOn,CStd l , ! CiL:C 0 _poeD usou nessc 5v~e_o Cc ~,CJ .~rt,moo, ... r'.,,-- ; tJ ~ :Ll~ 0 nca. co:n CO~"ln'l~"O ce dois sone:os ce GO"3sr2: I1c,:,c, ~c:mC', ~ \ , . }t;4I ( I (jJ- s.lss'a;a ~[a~;o C ~)hcn[ras par eo.rr:p"",r (00. t u G::-;!lv . se~cC) qL:O . \ J{ .~' \1 co pruneiro Gre6'0r;o t rad uz i u as o uas pr.~CJ~:~S !~~:~I.':l..~. ~ GO ~,'J cs ""'~I,yJ;;'fI (lois t cr ce tcs. corn h'lbilissimo ,lisfar,-e, 0 "isla,," o'r-, 'Ci1 '!'.le e,; lres W· ~, ",t;,o:os \'e"o' ca ~,' qU3cra sao e~,\erI0S de (;.'~:'·.;Cio: e. ,;ie, CQ'; lor rJ.:; . 1).fJ cetos escJ.rr,o;e:iGos., S.omcnle 0 lllt:mo.\·cr~o.e Ije;;~:l!JO: 'C:l l~e.~\3. C:l II t!J.fJ\ -[lO, burno. e11.1"o]\o. cn ,ombr:l, en n:llb" (Spino]_ \ I(y\Ov t d~ ::lGe~Le:::.H que 0 \er~o "l1l1s(re ,. he-rruosis~:G.:a ~!a:1:l" \J.iTlb.~.n , {\j 11.10 e de G0n~Or.1. r;~J.S de GJ:-cilJ...So. co:no 3ccnlua Pec:0 ~-{c;';-;i:t;el " ererl::l . .:'\05 SGnews n.5.·:) 52.·:. r;1l'".1.S 3S imil3~6<.--s que G6n;v;-] fJ.!' Llc: "i:' autores itali3ncs. CO;"';";o T3S.;0. CrC"~tj:-io seguin :l Corre!lu::. ..ts~~ sonc-~o e umJ. par;Hr3.sc CJ.r::::::.::..::'"e~c.a C~ 11:":l tc:-c~:o c~~:;.t":i.i.:1n.). fresco .1d6,,;;: c ° :lL sintt.sc aU21Id,\'t'1 des mJlcs de CC;7:r:-): "n:.;e ellS :--.j que n·.1l·;'::l mc= lem p65to I L~m nao sci q lI'~' Cjue' n:::ls--:c f"":l:J s~i onc:c, / ',·Cr:1 :1Io .s.~ia ~0!1t:[O r(:r..c~c urn (:0'5 S:-:lll.Je') lU~~Jrcs·ccm'.lf1s da pO(."'Sl::l U;'li\"cr~.l!, ("l tcra:.t do '·cJ...-pe dicl:l~. (0'"0, c d6i n20 sci par qu~" (Spi,u). I ., 1-i nao sci parl~J n::!cJ. ~ci . I,1,~ I ~s ?ei2,cles tu(-.~Y'~ 3'J ch, S i IV i'\ 'R.A-rrvJ$'f ~1; i• ~, \ ) i~ 1 , :\ \~, i . ~·1 ~ ."..,..._...... .-.. -.-.-..--....;.-,--.._._.-.~ .. _~·'T_ http:he-rruosis~:G.:a ERGUIAM‐SE TREZ MULHERES A HUM MESMO TEMPO PARA CHEGAR AO CONFFISSIONARIO EM NOYTE DE NATAL E A MAIS CORPULENTA DELLAS SOLTOU HUM TRAQUE COM A FADIGA DE CHEGAR PRIMEYRO. Quem viu cousa como aquela, que aconteceu na Igreja o dia, que ela festeja a Deus nascido por ela? quem inda não sabe dela, aplique o sentido ao canto da minha Musa, e enquanto ela cantando Iho diz, vá perfumando o nariz por se livrar do quebranto. Estavam três naus em carga, e entre si com grã porfia de qual primeiro entraria a fazer sua descarga: então a da popa larga, vendo que há, quem se Ihe atreva, nada sofre, nom releva, sendo a principal da tropa com meio conhão de popa atirou peça de leva. Peça de leva atirou com tal ronco, e tais ruídos, que atordoou os ouvidos da gente, que ali se achou: e posto que disparou lá por baixo de socapa, de excomunhão não escapa por disparar em sagrado, que é pecado reservado na bula da ceia ao Papa. Tal estrago a peça fez pelos narizes vizinhos, que mais de trinta focinhos se torceram esta vez: sentindo a maldita rês que tão fedorenta está, disse uma negra "cá cá; p'o diabo: e que má casta de pólvora ali se gasta" respondeu outra "má má." Quando ouviram o sinal as outras duas naus ambas, foram chorar suas lambas, dando fundo cada qual: certo não fizeram mal em não querer provocá‐la porque assim Ihes escala o nariz a artilharia com pólvora, que seria se lhe atirasse com bala? Alguns, creio, admiraram da pólvora a fortaleza, por rebentar nesta empresa pela culatra o canhão mas a minha admiração está, no que o povo diz por áí, que essa infeliz, e traidora artilharia fazendo aos pés pontaria, fez o emprego no nariz. Mas que muito que assim seja, se este canhão português faz andar tudo ao revés, quando sem pejo despeja: já se sabe ser a igreja asilo a todo o culpado; mas quando foi disparado o canhão aos combatentes, nem ainda aos inocentes narizes valeu sagrado. Mas se perguntasse alguém com desdém, e desafogo como a peça tomou fogo,sendo, que ouvido não tem: eu respondendo mui bem dissera que por estar a peça tão par a par do crisol generativo se comunicou ativo o fogo no abalroar. Mas não o quero dizer, porque não mande, que o prove algum, que isto me reprove, querendo‐o melhor saber: e assim já boto a correr seguindo a ruína da nau, que aberta vai pelo vau, e vou procurar‐lhe estopa por calefetar‐lhe a popa, antes que saia o mingau. Logo pois que o seu canhão deu fogo, o baixel violento, largando velas ao vento foi pedir absolvição: porém eu digo, que não pecou ela desta vez, pois com soltar de cortês o preso, que se valeu do Sagrado, mereceu a festa que se Ihe fez. As Fragatas da companha botando as barbas de molho, porque esta Ihe dera de olho, Ihe fizeram festa estranha: deram‐lhe trela tamanha, que cuido, porque o não vi, que a pobre partiu dali tão corrida, e envergonhada, que foi de voga arrancada a dar fundo em Parati. E se passou mais avante, já pôde chegar à Europa, porque foi com vento em popa, e escoou‐se co'a vazante: mas se algum bom estudante na arte da disentéria por desgraça, ou por miséria reprovou desta poesia a forma, por cortesia prove ao menos a matéria. Triste Bahia Caetano Veloso Composição: Caetano Veloso/Gregório de Mattos Triste Bahia, oh, quão dessemelhante… Estás e estou do nosso antigo estado Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado Rico te vejo eu, já tu a mim abundante Triste Bahia, oh, quão dessemelhante A ti tocou‐te a máquina mercante Quem tua larga barra tem entrado A mim vem me trocando e tem trocado Tanto negócio e tanto negociante Triste, oh, quão dessemelhante, triste Pastinha já foi à África Pastinha já foi à África Pra mostrar capoeira do Brasil Eu já vivo tão cansado De viver aqui na Terra Minha mãe, eu vou pra lua Eu mais a minha mulher Vamos fazer um ranchinho Tudo feito de sapê, minha mãe eu vou pra lua E seja o que Deus quiser Triste, oh, quão dessemelhante ê, ô, galo canta O galo cantou, camará ê, cocorocô, ê cocorocô, camará ê, vamo‐nos embora, ê vamo‐nos embora camará ê, pelo mundo afora, ê pelo mundo afora camará ê, triste Bahia, ê, triste Bahia, camará Bandeira branca enfiada em pau forte… Afoxé leî, leî, leô… Bandeira branca, bandeira branca enfiada em pau forte… O vapor da cachoeira não navega mais no mar… Triste Recôncavo, oh, quão dessemelhante Maria pegue o mato é hora… Arriba a saia e vamo‐nos embora… Pé dentro, pé fora, quem tiver pé pequeno vai embora… Oh, virgem mãe puríssima… Bandeira branca enfiada em pau forte… Trago no peito a estrela do norte Bandeira branca enfiada em pau forte… Bandeira… Poemas de Gregório de Matos Gregório de Matos 2
Compartilhar