Buscar

GREGÓRIO DE MATOS - POEMAS - CORRIGIDOS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

--, \,.-,
(1_---' ,\.-)
\
I 
J-....... -,
 
[' r, ')SACRA '-I \ '<--I - . ~ 
~ 1(, 
, I 
'-
lll:E P) AlURA 
I 
((g
 
~ YlAS \ ~E 10/1 I!~-
«(~/!O~/ 
u 
/~ 
,,/
/'
»: 
, /" 
./ 
.,/ 
GREGORIO DE MATOS 
~\ r, '. Gregorio de Matos Guerra nasceu em Salvador (Bahia), a 7 de abril 
'fl~1..- \Ide 1633. Filho de portugues e baiana, freqiientou o (:olegio da Compa­
nhia de Jesus. Seguindo para a Mcrropole, doutora-sc em Dircito (1661) 
e ingressa na magistratura, carreirn que interrornpe para voltar ao Brasil. 
Mas em 1680 esti novarnente em Portugal. Nessa altura, ja tcria feito 
conhecer seu talento de repentista e zombeteiro. No ano seguinte, retor­
na aBahia, casa-se, passa a advogar e torna habitos menores. Levando vida 
boernia, e dando vazfio a seu ternperarnento satirico, acaba por accndcr 
a mal-querenca a seu redor, ate que se ve obrigado a exilar-se em Angola. 
Regressa em 1695, para 0 Recife, on de falece urn ano depois. Exclus iva­
mente poeta, Gregorio de Matos apenas tcria publicado em vida urn que 
outre pocrna. POl' isso.. a totalidade de sua obra se manteve incdita ate os 
nossos dias, quando Afranio Peixoto a reuniu em 6 volumes, publicados 
no Rio de Janeiro, pela Academia Brasileira de Letras, entre 1923 e 1933, 
sob 0 ritulo de Obras. Recenternente, James Amado reeditou 0 esp6lio do 
poeta em sere volumes (Salvador, Ed. janalna, 1969), utilizando codices 
cxistentes no Rio de Janeiro. 
36
 
A [esus Cristo NossoSellbor 
Pequei,\ Senhor ; mas niio porque hei pecado, 
Da vossa Alta Piedade me despido: 
Antes, Ruanto mais tenho delinqiiido, 
Vos tcriho a perdoar mais empenhado. 
Se bastl avos irar tanto pecado, 
A abrandar-vos sobeja um so gemido: 
Que a rncsrna culpa, que vas na ofendido, 
Vos tern para 0 perdao lisonjeado. 
Se uma ovelha perdido, e ja cobrada, 
Gloria tal e prazer tao repentino 
Vos deu, como afirrnais na Sacra Hist6ria: 
Eu sou, 'Serihor, ovelha desgarrada; 
Cobrai-a; e nfio queirais, Pastor Divino, 
Perder na vossa ovclha a vossa gloria. 
I I 
A Jews Cristo crtlcificacio, estanda 0 
para morrer 
poeta 
Meu Deus, que estais pendente em urn 
Em cuja Fe protesto de viver; 
Em cuja Santa Lei hei de morrer , 
Amoroso; constante, lirrnc e inteiro: 
madeira, 
Neste transe, por SCI' 0 derradeiro, 
Pais vejo a minha vida anoirecer, 
I~, men Jesus, a horn de sc vcr. 
A brandura de urn Pai, manse Cordeiro. 
Mui grande c vosso Amar, e 0 meu delito: 
Porem, pode tel' firn toda 0 pccar ; 
Mas naoo vosso Arnor, que c Infinito. 
Esta raziio me obrlgn a confiar 
Que pm mais que pcquci, ncste conflito, 
Espcro em vosso Arnor de me salvar. 
37 
r
/j 
I I I 
~ Buscando a Cristo 
A vas correndo vou, Braces sagrados,
 
Nessa Cruz sacrossanra descobertos;
 
Que para receber-me estais abertos,
 
E por nfio castigar-me estais cravados.
 
A vas, Divinos olhos, eclipsados,
 
De tanto sangue e higrimas cobertos,
 
Pois para perdoar-rne estais desperros,
 
E por nao ccndenar-rne estais fechados.
 
A vas, pregados Pes, por nao deixar-me ,
 
A vas, Sangue vertido para ungir-rne:
 
A vas, Cabeca baixa por charnar-me:
 
A vas, Lado patente, quero unir-me:
 
A vas, Cravos preciosos, quero atar-rnc,
 
Para fiear unido, atado, e firrne.
 
VI 
Ao mesmo assunto 
Ofendi-vos, meu Deus, e bem verdade ;
 
Verdade e, meu Senhor, que hei delinqiiido;
 
Delinqi.iido vos tenho, e ofendido,
 
Ofendido vos tem minha maldade. '
 
Maldade e~caminhada a urna vaidade;
 
Vaidade, que de redo me h<i vencido;
 
Vencido quero ver-rne , e arrependido;
 
Arrependido em tanta enormidade.
 
Arrependido estou de coracao:
 
De coracao vos busco, dai-me abracos:
 
Abracos, que me rcndarn vossa Luz.
 
Luz, que clara me mostra a salvacao;
 
A salvacio pretendo em tais abracos:
 
Misericordia, meu Senhor, Jesus, jesus!
 
~ XIX 
I 
I 
ALhando-se um brace perdido do Menino Deus 
de N. Senbora das Maravilhas, que desacata­
rdm infieis na S~ da Bahia. 
o todo !sem a parte niio eicdo; 
A parte com 0 todo r:ao e parte; 
'r"	 Mas se ia parte 0 Iaz tcdo sem a parte, 
Nao se diga que e pace sendo todo. 
I 
Em todo 0 Sacramento est.i Deus todo,
 
E todo assiste inteiro em S'-lalquer parte,
 
E feito em partes tode, ca.ia parte
 
Em qualquer parte serapre fica tcdo.
 
o brace de Jesus n:io seja parte, 
Pois que fei to Jesus c.n p rtes todo, 
o todo fica estando eo S:C~l parte. 
Nao se sabendo parte deste todo,
 
Urn brace que lhe achararr. sendo parte,
 
Nos disse as partes tocas c~ste todo.
 
URreA 
1 
A Dona Angela, itrn : das Ires filhas de Vasco 
de Soma de Pareies, e sua m ulber Dona Vito­
ria, de tlio rara [orrtosura, que D. [oao de 
Aiencastro, quando [c: desce governo para Lis­
boa, leuou COIIS(~O :I!I: retrato Sl:II. 
Nao vi em minha vida a [ormosura:
 
Ouvia falar neb cada cia:
 
E ouvida, me incitava e me rnovia
 
A querer ver tao bela arquireturu .
 
Ontem a vi, por minha desvenrura,
 
Na car a, no born ar , na galhrdia
 
De urna mulher, que ern A:rjo sc mentia,
 
De urn Sol, que se trajava ern cr iatura.
 
39 
/) 
c.>: 
38 
C I 
A inconstdncin das cousas do Mundo 
Nasce a Sol; e nao dura mais que urn dia:
 
Depois da luz, se segue a noite escura:
 
Em tristes sombras morre a formosura;
 
Em continuas tristezas a alegria.
 
Porern, se acaba a Sol, por que nascia?
 
Se tao formosa a Iuz e, par que niio dura?
 
Como a beleza assim se transfigura>
 
Como 0 gosto, da pena assim se fia?
 
Mas no Sol, e na luz, falta a firmeza;
 
Na forrnosura, niio se de constfincia:
 
E na alegria, sinta-se tristeza.
 
Corneca 0 mundo, enfirn, pel a ignorfincia; 
Pais tern qualquer dos bens, par natureza, 
A firrneza sornente na inconsrftncia, 
SATfRICA
 
Aos Vidos
 
Eu sou aquele que as passados anos 
Cantei na minha lira maldizente 
Torpezas do Brasil, vfcios e enganos. 
E bern que as descantei bastanternente, 
Canto segunda vez na mesma lira 
o mesrno ass unto em plectra diferente.
 
Ja sinto que me inflama e que me inspira
 
Tdlia , que anjo e da minha guards
 
Des que Apolo mandou que me assistira.
 
Arch Baiona, e todo a mundo nrda,
 
Que a quem de profissao Ialta a verdade
 
Nunca a dominga das verdades tarda.
 
Nenhum tempo excetua a cristandade
 
.0...0 pobre pegureiro do Parnaso
 
Para falar ern sua liberdade.
 
A narracao ha de igualar ao case,
 
E se talvez ao acaso nfio iguala,
 
N~o tenho por pocta a que e Pegaso.
 
De que, pode servir cular quem cala? 
Nunca se ha de falar a que se sente?! 
Sempre Ise ha de sentir a que se Iala. 
Qual h~mem pode haver tao paciente, 
Que, vendo 0 triste estado da Bahia, 
Nao chire, niio suspire e niio lamente? 
Isto faz a discrera fantasia: 
Discorr~ em urn e outro desconcerro, 
Condenf a roubo, increpa a hipocrisia. 
o nescio, a ignorante, a inexper to , 
Que njio e1ege a born, nern mau reprova, 
Par tudo passa deslumbrado e incerto, 
E quando ve ralvez na doce-trova 
Louvado a bern, e a mal vituperado, 
A tudo faz focinho, e nada aprova. 
Diz logo prudentaco e repousado: 
- Fulano e urn satirico, e urn louco, 
De lingua mri, de coracao danado. 
Nescio, se disso entendes nada au pouco, 
Como mofas com riso e algazarras 
Musas, que estimo ter, quando as invoco. 
Se souberas Ialar, tarnbern falaras 
Tambern satirizaras, se souberas, 
E se foras poeta, poetizaras. 
A ignorfincia dos hornens desras eras 
Sisudos ,faz ser UTIS, outros prudenres, 
Que a mudez canoniza bestas feras. 
ILl bons, por niio poder scr insolcntes, 
Outros ha comedidos de medrosos, 
Niio mordern outros nao - por nfio ter dentes. 
Quantos ha que as telhados tern vidrosos, 
E deixam de atirar sua pedrada, 
De sua rnesrna telha rcceosos? 
Urna so natureza nos foidada; 
Nao criou Deus as naturals diversos: 
Urn so Adao criou, e esse de nada. 
43 
'-', 
--~ 1 
42 
Todos somos ruins, toJos perversos.
 
So nos distingue 0 vicio e a virrude,
 
De que uns sao cornensais. outros adversos.
 
Quem maior a river, do que eu ter pude,
 
Esse so me censure, esse me note,
 
Calern-se os mais, chitom, e haja saude.
 
I 
A ciilade da Bahia 
.* Trisre Bahia!0 quiio dessernelhante ESlaS e estou do nosso antigo esrado, 
Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado, 
Rica te vi eu ja, tu a mim abundante. 
A ti trocou-te a rnaquina mercante, 
Que em tua larga barra tem entrado, 
A mim foi-me troeando e tern trocado 
Tanto negocio e tanto negoeiante. 
Deste em dar tanto aciicar excelente 
Pebs drogus imiteis, que abelhuda 
Simples aceitas do sagaz brichote. 
Oh, se quiseru Deus, que, de repente, 
Um dia arnanheceras tao sisuda 
Que fara de algodao 0 teu capotel 
I V 
~ Aos CqramliT/iS de Bahia 
Urn c:11~ao de pindoba a meia zorra, 
Carnisa de urucu; rnantcu de arar a ; 
Em lugar de cote, arco e raquara ; 
Penacho de guards, em vcz de gorra. 
Furado 0 beico, sern terner que morra 
o pai, que lho envasou cum a titara: 
Sendo a mae a que a pedra lhe aplicara 
Por reprirnir-lhe 0 sangue, que nao corra. 
Alat\'e sem razfio, bruto sern fe;
 
Sern rnais lei que a do gosto ; e quando erra,
 
De Poiai.i tornou-se em Abairc.
 
Nao sci como acabou, nerr: em que guerra:
 
S6 sei que deste Adiio de Massape,
 
Procedem os fidalgos des;a terra.
 
XIV 
-j( Descreue 0 que era Iz::qile:" tempo a cidade de B,;I!Ji.1 
A cada canto um grande conselheiro,
 
Que nos quer goverr.ar ca:::1>1:1 e vinha:
 
Nao sabern govcrnar sua cczinha,
 
E podem governar 0 rnunco in teiro '
 
Em cada porta urn frcqi.e r.;e olheiro
 
D::. vida do vizinho e da \':::oha,
 
Pesquisa, escuta, espreits :: esc:~:}ori!1hJ
 
Para 0 levar a pr aca e ao :~::ei:o.
 
. I d . ,\r mu aros esa';er;o:::~acos,,. uiros
 
Tr azidos pelos pes aos horr ens no~res;
 
POS:3 nas palmas rod: :1 ;::cClrcil
 
Estupendas usuras nos ;r.e:~lJos:
 
Todos os que n30 h.:r:l::J, :::u::o ?obres:
 
Iis aqui a cidade cia 5l0;2.
 
x X V I I 
. A procissao de cinr.: c»: ?eTl;:;7.>;btlco 
Urn negro magro; em s·~:fcL~ 
' " Dous dazorragues,e U~ jU:; 
Barbado 0 Peres, mars CO_5 
Seis criancas com asas. sc::-:: 
l::.~":: justo ; 
~'~:;~'C~~~S; 
?c::::c:ltc.:s, 
23:5 c·..!s,o. 
De verrnelho 0 mula ,C ITlJ;S :0:: '..! S:0;
 
Tres meninos Iradinhos ince" res:
 
Dez ou doze brichotcs rr u: J;e::es;
 
Vinrc 01.1 trinta carielos 2c c.r.oro c:::.:s:o:
 
Scm debita rcverencia scis _::1do:o:s:
 
Urn pend.io de algodJo tiilto ern t;j:.:co;
 
Em fileir a dez pares de me::Jres:
 
.: \ 44 
Atras um negro, urn cego, lim marneluco: 
Tres lotes de rapazes gritcdorcs: 
t a procissfio de Cinza em Perriambuco. * 
\. Antologia des Poetas Brosileiros da Fa· 
se Colonial, par Sergio Buarque de Ro­
landa, Rio de Janeiro,!. N. 1., 1953, vol. 
I, pp. 64, 65, 66, 67, 69-70, 72-73, 76, 
79,80, 81, 104 e 120-122; Gbras Com­
pletas de Gregorio de Matos, Sao Paulo, 
Cultura, 1943, vol. I, pp. 75-76,76-77 e 
93; vol. II, r- 9.) 
Como se ve, Gregorio de Maras culrivou a poesia sacra, lirlca e sa­
tirica. Tarnbem escreveu poemas graciosos e pornograficos. Essa diversi­
dade de carninhos percorridos pela inspiracio do vate baiano se explica 
acirna de rudo pela riqueza plastica de seu talento literario e, ao Iim, pel a 
estetica barroca, que lhe serviu de pane de fundo. Na verdade, ocorreu 
uma excepcional identificacao entre 0 ternperarnento artistico de Gregorio 
de Matos e a mod a literaria imperante no tempo, a tal ponto que ele se 
lhe tornou urna especie de personificacao ou prototipo. :E: que 0 Barraco, 
diligenciando conciliar os extrernos cons tiruidos pelos valores rnedievais e 
os padr6es renascentistas, apreserita urna mescla de pagiio e de mlstico, 
de materialismo e de espiritualismo, de claro e deescuro, etc. Oal a poe­
sia sacra do Boca de Inferno, como era chamado, ser tao "sincera" quan· 
to os poemas Iiricos ou os satldcos, pois formavam palos que a sensibili­
* Lirica, SOnelO IV; esfera breve == 0 poeta pretende dizer que O. 
Angela reproduz em si ("esfera breve") a belen do Cosmos (Esfera); 
soneto XVIII: fresco Adonis == ar; Adonis, figura mito!ogica de peregri· 
na beleza, era nume da vegeta<;iio; Salirica, "Aos Vkios"; Tdlia = musa 
da comedia e da satira, apaixonada por Apc!o, deus da B"eteZll. da luz, da 
poesia, da musica, dos or:iculos, e que presidia 0 cora das musas; Baio­
na == cidade maritima da Galiza; pegureiro do Parnaso = poeta menor; 
Parruso era a monte .em que ApoJo e as musas se reuniam; Pegaso (Pega. 
so no poema, para rimar com "caso") = c?\'alo alado que. nascido do 
sangue da Medus'a, golpeou a terra com 0 casco fazendo brotar a fonte 
Hipocrene, inspiradora dos poetas; soncra I: maiuina rnercanle = navio 
merc"nte; sonew IV: pindoba ~~ palincira, coquejro; zorra == palavra de 
acepc;iio meio misteriosa; pode significar, mais plauslvdroente, que a mcia 
esta caida; ou, mais complexamente, urn tipo grande de pi30: "Ha a 
piorra, 0 piiio, ~ meia zorra e a zona, que chega ~ pesar meio quilo" (To­
mas de Figueiredo, N6 Cego, p. 152, apl/d Morais, GraNde Diciondrio da 
Lingua Poriliguesa, 12 voIs., Lisboa, Confluencia 11949-1959], vol. 11, p. 
901); IJrlICII = fruto de cuja polpa se pode extrai~ tinta vermelha; cole = 
== espada curta; lilara == vareta; paiaid == paj':; abaile == homem feio, 
repulsivo, medonho; sonclO XXVII: SlI/OU == cerro tecido de Bigodiio; 
ilia ~Jruto do juazeiro; onuslo == sobrecarregado; lijuco == lama. 
4G 
dade do escritor, profundamente afinada com 0 estilo barroco, tencionava 
fundir nurna slntese considerada perfeita, Par isso, as pecas escolhidas 
valem como exernplares acabados de Barroco, quer nos recursos expressi­
vos empregados, quer na substancla poetica implicita. Note-se, a tlrulo 
de arnostra rnals evidente, 0 soneto sacro XIX, todo ele composto de urn 
jogo de antfteses no redor da nO~30 de parte e todo, que fazia as dellcias 
dos barrocos, sobretudo na fac<;ao conccptista, voltada para a expl6ra~ao 
dos infinitos rurnos do pensarnento racional. 0 gosto pelo paradoxo igual­
mente se exibe nas demais cornposicfics da serie, com as variacoes que a 
fantasia do poeta inventava. Rcgistre-se, outrossirn, no sonero lirico XVII, 
o lema do carpe diem, proveniente dos classicos grego-latinos, mas que 
encontrou DQ universe barroco morada ideal, gracas a consciencia aguda 
que tinham do efernero da existencia e ao horror pela morte. Observe-se 
que, em consonancia com 0 principio da irnitacao em yoga no seculo XVII, 
o soneto grcgoriano aproveita urna cornoosicdo de Gongora, inclusive tra­
duzindo-lhe 0 derradeiro verso (Helmut Herzfeld, Estudios sobre el Barroco, 
Madrid, Gredas [1964 J, p. 114 l, e a conhecida Ode XVII de Ronsard 
("Mignonne, allons voir sl la rose" l. Nessa mesrna ordem de imitacfio 
(que nao signifiea copia nem pldgio, mas busca da inspiracao onde estiver, 
sern prejufzo da originalidade ), situa-se 0 poerna satfrico cr, montado sO­
bre a ideia da "firrneza na inconstancia", que e urna das traves mestras 
da poesia carnoniana. Ainda em consequencia do espirito barroco que im­
pregna a poesia de Gregorio de Matos, assinala-se 0 pess.misrno exis­
tencial, vinculado ao trauma do "pecado original", no poema "Aos Vi. 
cios", Excetuando a poesia satlrica, circunstancial e irnediatista per naru­
reza, as outras facetas do estro gregoriano ostentam europeicbde na meta­
foriza<;ao (" rosada Aurora") ou no emprego da mitologia classica ("fresco 
Adonis"), re3Ultante dos proprios postulados barrocos. No entanto, es· 
cusa de muito esfor<;o para se perceber, em qualquer das cor;iigura~6es do 
mundo poetico de Greg6rio de Matos, como decorrencia do ar meio jo­
vial au de intimidade que as perpassa, uma dic<;ao poerica brasileira: B 
austeridade do tema semelha ocultar urn cadter irreverente e pachola, com 
marca registrada inconfundivel. Se nao brasileiro, baiano. De qualquer 
modo, esta-se perante nosso primeiro grande poeta, e dos m:!iores da Li­
teratura Brasileira. 
I 
, .. 
.~ 
seguindo a ruma cia nau, Ao mesmo Desembargador Belchiar.da ~ .BrocMdo 
que abertavai polo vau, 
:.~.n 
,t' ,.J:.~DU ~ocurar-lhe estopar 
por calefetar-lhe a papa,) t Dou pruden nobre hurna afoi 
,antes que saia 0 mingau, to te no vel 
Re den benig e aprazi
Logo pois que a seu canhaodeu fogo, 0 baixel violento ,
 
largando velas ao vente
 Oni singular ra inflexf 
foi pedir absolvicao: cO TO vel 
porem eu digo, que TJa"0 Magnifi precla incornpara 
pecou ela desta vez , 
pois com soltar de cones 
o preso, que se valeu Do rnun grave ju inimita 
do Sagrado , mereceu do is vel 
a festa que se lhe fez. Admira goza aplauso incn 
As Fragatas da companha 
botando as barbas de molho, Po a trabalho tan e t terri 
porque esta lhe dera de olho, is to ao vel 
lhe fizeram festa estranha: Da pron execu9 sernpre incansa 
deram-lhe trela tarnanha, 
que cuido, porque 0 020 Vi, 
que a pobre partiu dali Voss fa senhor sej not6r 
tao corrida, e envergonhada, a rna a ia 
que foi de voga arrancada rl L no eli on de nunc chega 0 d 
a dar fundo em Parati. .. 
, Ond do Ere s6 se tern mernorEse passou mais avante , . 
e b0 61 iaja pede chegar aEuropa, 
Para qu gar tal tanta energporque foi com vento em papa, .'
 
e escoou-se co'a vazante:
 
mas se algum born estudante
 
Po de tad est terr e gentil gl6rna art e d.a disenteria 
is a a a iapOT desgraca, ou porrniseria 
Da rna remot sej urn alegrIIreprovou desta poesia 
a forma, por cortesia
 
prove ao menos a materia.
 
II - ,.: 
-,:-:-::~:::'. 
(61) Na cdi~ JA vern estropiados os versos 3 e 4 deste poema. Par isso, preferimos a edi,.ao de 
J MW, onde ainda consta a infOIDl~ aeguinte: '"Erebo - mitolopa,1JOtIle W trens -infernais. 
'onde nunca chega 0 dia', Entenda-se: ja-qae tr:nho pIbo e b:Dta eDetPa-D3 ptil-p6ria desta 
terra, que sejlUI1"taDbem Ilqria da temI·ma!.s remota fl5to e, o En;bo):--:-se"'a~ de jogo 
que acompmha 'O'.poeta apa!ecc em 'tennos -de TlIdx:iniO na poesia refigIOsa eu:m1mm<li de CJ(­
p1o~ de 'IODOridadeI em poe1D3S c:iramsta:ndais,Dnte'eao_~'«l'~-pormelo da 
distribui~-~,do poema que f~lnetnsit'e.1 om ~oOaW:r'ma:is inteoao d.a 
parte do Ieltar•• ., " , -, . ','" ~,," , ,'." - .'=" ..... r-s-" .. 
r: 
C 
50 
.-----··--·--.....----.:....-..--.-.. ----£ ... .:...........~~ii-,....::.:!:,.:~.:~,.:..:.e".~....r...'.~;..--~~:_...;.._t~t..~.:.c~~::,;;~_0.i.:.*.. :._;:' --;~~ ,;a. :r:=ai ..', ." ~p~_
 
·il 
:;j 
t ;.::: 
~1 '.'~";, ~f !"."
 
".... ~,
 
~ 
~j 
"'-i 
A \IARL-\ DE POVOS, SU.-\. FUTUR..-\. ESPOS.-\ ~r; 
:.q CO:-'10 A PALAVRA NISE t .-\l'\.-\GR..-\.\L\ DE l~£S, 
-'1 PARECE CO\IPETIREM AS OBRAS DESTE ),"0:'-1£ 
Discreta e formosissima .\iJria, A EST.~ D.\MA, QUE NO\IEIA 0 POET.-\. J\ESTA 
cn'jllar.to est am os ve ndo J qualquer hera. :~ EXCELENTE DEFE\l~.:\.O 
em tuas faces a rosad a Aurora,
 
em reus ol hos e boca, 0 Sol c 0 ciia: DE AMOR, E FOR\10SUR.-\.
ti
 
~~ 
~. ~5 enCjll3.[][o com gentil dcsconesia, 
,~,~ 
ro:~ 
oar, que fresco Adonis te narnor a, Aquel e nfio sci que, Sl:e, Ines, te ass ist c 
-:;: J 
te espalha a rica tranSJ brilhadora, no gen til corpo, e n:lsTaciosa Iacc, 
quando vern passear-te pe!a fria: .'
.' 
:~ nao sei donde t e JlJSC~, 0:1 n:10 te nn sce, 
n.io set onde cons is: e, ou n.io cons.st e. 
gOZ,l, gCla cla fIor d a rnocidade, ~.: 
10 que 0 :~~.1~):) uat a a toda a ligti~ez,l. 5 =,,'ao sei 0 quando ou como artier me vis ;c,
 
.< e irripr ime en toda a flor sua pisJcJa. por que Fcn ix de 2:C1'J~ rae e rer n izassc:
 
-,' 
• C1,1 
" 
~ n,10 sei como renascc ou n i o re n.isce.
 
' ! 'j- ; ,11.[1 - / 6 11:10 a';;l::lr,!es. que ~ rrnllUrJ idJ.ce, nao sei como persis.e cu n i o persisre.~~.; 
J Vi I ,v 1 d,,- 'I~IJ re corn erte essa flor, essa bcl cz.i, . \ .,l' . Ii L - , 
A' r l' (,). I em terra. ern cinza, em po, em sorribr a . em n:,,;:;. S2.0 sei como me va i, ou C0:710 ando. . 'lC¥i: i~IJ)V" 
'.:.0:: 10 n io sei 0 que me dci, 011 F'or q'.1t p:trtC,.. ~i 'I (J l)LI.\, 11 u;J ! J t1 nfio sei se vcu viver.do. ou acaba ndo.
 
.:to ; ~, tl " I, LL ) 'r':////JiJ./PlC t-.)~!.r/IJ.~<{J C I;' .•~:
 
---5"!.-\; J IU cl,O- ~ 'j.t' :::~ ~ Como logo meu mal hei de coruarte ,
-~ :(fC f '0 t, " /JJ{.f' h llij--' h' (r}! 'fr~ ;.. j.; .U; iii 
r:-,.~.: se, de quanto a rninh., alrnz es,a pcnJndo,..f;) ; ~ t.r~!l'v.. ------ ­
eu mesrno, que 0 pac:'~s'), nio sei p:Ht::::: ~ :~~'. ~~ d,O ,I}- :-S" b:ITI o'i'~e ~~o seja rjgor~same~'c. 'i:'C:~J 2c~~~ic.l de;Si:;i~,J~i~:,c ';' 
." ,vJJ . f./(i. lneOn,CStd l , ! CiL:C 0 _poeD usou nessc 5v~e_o Cc ~,CJ .~rt,moo, ... r'.,,-- ­
; tJ ~ :Ll~ 0 nca. co:n CO~"ln'l~"O ce dois sone:os ce GO"3sr2: I1c,:,c, ~c:mC',
 
~ \ , . }t;4I ( I (jJ- s.lss'a;a ~[a~;o C ~)hcn[ras par eo.rr:p"",r (00. t u G::-;!lv . se~cC) qL:O
 
. \ J{ .~' \1 co pruneiro Gre6'0r;o t rad uz i u as o uas pr.~CJ~:~S !~~:~I.':l..~. ~ GO ~,'J cs
""'~I,yJ;;'fI (lois t cr ce tcs. corn h'lbilissimo ,lisfar,-e, 0 "isla,," o'r-, 'Ci1 '!'.le e,; lres
 
W· ~, ",t;,o:os \'e"o' ca ~,' qU3cra sao e~,\erI0S de (;.'~:'·.;Cio: e. ,;ie, CQ'; lor
 
rJ.:; . 1).fJ cetos escJ.rr,o;e:iGos., S.omcnle 0 lllt:mo.\·cr~o.e Ije;;~:l!JO: 'C:l l~e.~\3. C:l
 
II t!J.fJ\ -[lO, burno. e11.1"o]\o. cn ,ombr:l, en n:llb" (Spino]_ 
\ I(y\Ov t d~ ::lGe~Le:::.H que 0 \er~o "l1l1s(re ,. he-rruosis~:G.:a ~!a:1:l" \J.iTlb.~.n
 
, {\j 11.10 e de G0n~Or.1. r;~J.S de GJ:-cilJ...So. co:no 3ccnlua Pec:0 ~-{c;';-;i:t;el
 
" ererl::l . .:'\05 SGnews n.5.·:) 52.·:. r;1l'".1.S 3S imil3~6<.--s que G6n;v;-] fJ.!' Llc:
"i:' autores itali3ncs. CO;"';";o T3S.;0. CrC"~tj:-io seguin :l Corre!lu::. ..ts~~ sonc-~o e umJ. par;Hr3.sc CJ.r::::::.::..::'"e~c.a C~ 11:":l tc:-c~:o c~~:;.t":i.i.:1n.). 
fresco .1d6,,;;: c ° :lL sintt.sc aU21Id,\'t'1 des mJlcs de CC;7:r:-): "n:.;e ellS :--.j que n·.1l·;'::l mc= 
lem p65to I L~m nao sci q lI'~' Cjue' n:::ls--:c f"":l:J s~i onc:c, / ',·Cr:1 :1Io .s.~ia ~0!1t:[O r(:r..c~c urn (:0'5 S:-:lll.Je') lU~~Jrcs·ccm'.lf1s da pO(."'Sl::l U;'li\"cr~.l!, ("l 
tcra:.t do '·cJ...-pe dicl:l~. (0'"0, c d6i n20 sci par qu~" (Spi,u). I 
., 1-i nao sci parl~J n::!cJ. ~ci . I,1,~ 
I 
~s ?ei2,cles tu(-.~Y'~ 
3'J 
ch, S i IV i'\ 'R.A-rrvJ$'f 
~1; i• 
~, \ 
) i~ 
1 , 
:\ \~, i 
. ~·1 ~ ."..,..._...... .-.. -.-.-..--....;.-,--.._._.-.~ .. _~·'T_­
http:he-rruosis~:G.:a
ERGUIAM‐SE TREZ MULHERES A HUM MESMO TEMPO PARA CHEGAR AO 
CONFFISSIONARIO EM NOYTE DE NATAL E A MAIS CORPULENTA DELLAS 
SOLTOU HUM TRAQUE COM A FADIGA DE CHEGAR PRIMEYRO. 
 
 
Quem viu cousa como aquela, 
que aconteceu na Igreja 
o dia, que ela festeja 
a Deus nascido por ela? 
quem inda não sabe dela, 
aplique o sentido ao canto 
da minha Musa, e enquanto 
ela cantando Iho diz, 
vá perfumando o nariz 
por se livrar do quebranto. 
 
Estavam três naus em carga, 
e entre si com grã porfia 
de qual primeiro entraria 
a fazer sua descarga: 
então a da popa larga, 
vendo que há, quem se Ihe atreva, 
nada sofre, nom releva, 
sendo a principal da tropa 
com meio conhão de popa 
atirou peça de leva. 
 
Peça de leva atirou 
com tal ronco, e tais ruídos, 
que atordoou os ouvidos 
da gente, que ali se achou: 
e posto que disparou 
lá por baixo de socapa, 
de excomunhão não escapa 
por disparar em sagrado, 
que é pecado reservado 
na bula da ceia ao Papa. 
 
Tal estrago a peça fez 
pelos narizes vizinhos, 
que mais de trinta focinhos 
se torceram esta vez: 
sentindo a maldita rês 
que tão fedorenta está, 
disse uma negra "cá cá; 
p'o diabo: e que má casta 
de pólvora ali se gasta" 
respondeu outra "má má." 
 
Quando ouviram o sinal 
as outras duas naus ambas, 
foram chorar suas lambas, 
dando fundo cada qual: 
certo não fizeram mal 
em não querer provocá‐la 
porque assim Ihes escala 
o nariz a artilharia 
com pólvora, que seria 
se lhe atirasse com bala? 
 
Alguns, creio, admiraram 
da pólvora a fortaleza, 
por rebentar nesta empresa 
pela culatra o canhão 
mas a minha admiração 
está, no que o povo diz 
 por áí, que essa infeliz, 
 e traidora artilharia 
 fazendo aos pés pontaria, 
 fez o emprego no nariz. 
 
 Mas que muito que assim seja, 
 se este canhão português 
 faz andar tudo ao revés, 
 quando sem pejo despeja: 
 já se sabe ser a igreja 
 asilo a todo o culpado; 
 mas quando foi disparado 
 o canhão aos combatentes, 
 nem ainda aos inocentes 
 narizes valeu sagrado. 
 
 Mas se perguntasse alguém 
 com desdém, e desafogo 
 como a peça tomou fogo,sendo, que ouvido não tem: 
 eu respondendo mui bem 
 dissera que por estar 
 a peça tão par a par 
 do crisol generativo 
 se comunicou ativo 
 o fogo no abalroar. 
 
 Mas não o quero dizer, 
 porque não mande, que o prove 
 algum, que isto me reprove, 
 querendo‐o melhor saber: 
 e assim já boto a correr 
 seguindo a ruína da nau, 
 que aberta vai pelo vau, 
 e vou procurar‐lhe estopa 
 por calefetar‐lhe a popa, 
 antes que saia o mingau. 
 
 Logo pois que o seu canhão 
 deu fogo, o baixel violento, 
 largando velas ao vento 
 foi pedir absolvição: 
 porém eu digo, que não 
 pecou ela desta vez, 
 pois com soltar de cortês 
 o preso, que se valeu 
 do Sagrado, mereceu 
 a festa que se Ihe fez. 
 
 As Fragatas da companha 
 botando as barbas de molho, 
 porque esta Ihe dera de olho, 
 Ihe fizeram festa estranha: 
 deram‐lhe trela tamanha, 
 que cuido, porque o não vi, 
 que a pobre partiu dali 
 tão corrida, e envergonhada, 
 que foi de voga arrancada 
 a dar fundo em Parati. 
 
 E se passou mais avante, 
 já pôde chegar à Europa, 
 porque foi com vento em popa, 
 e escoou‐se co'a vazante: 
 mas se algum bom estudante 
 na arte da disentéria 
por desgraça, ou por miséria 
reprovou desta poesia 
a forma, por cortesia 
prove ao menos a matéria. 
 
Triste Bahia 
Caetano Veloso 
Composição: Caetano Veloso/Gregório de Mattos 
Triste Bahia, oh, quão dessemelhante… 
Estás e estou do nosso antigo estado 
Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado 
Rico te vejo eu, já tu a mim abundante 
Triste Bahia, oh, quão dessemelhante 
A ti tocou‐te a máquina mercante 
Quem tua larga barra tem entrado 
A mim vem me trocando e tem trocado 
Tanto negócio e tanto negociante 
 
Triste, oh, quão dessemelhante, triste 
Pastinha já foi à África 
Pastinha já foi à África 
Pra mostrar capoeira do Brasil 
Eu já vivo tão cansado 
De viver aqui na Terra 
 
Minha mãe, eu vou pra lua 
Eu mais a minha mulher 
Vamos fazer um ranchinho 
Tudo feito de sapê, minha mãe eu vou pra lua 
E seja o que Deus quiser 
 
Triste, oh, quão dessemelhante 
ê, ô, galo canta 
O galo cantou, camará 
ê, cocorocô, ê cocorocô, camará 
ê, vamo‐nos embora, ê vamo‐nos embora camará 
ê, pelo mundo afora, ê pelo mundo afora camará 
ê, triste Bahia, ê, triste Bahia, camará 
Bandeira branca enfiada em pau forte… 
 
Afoxé leî, leî, leô… 
Bandeira branca, bandeira branca enfiada em pau forte… 
O vapor da cachoeira não navega mais no mar… 
Triste Recôncavo, oh, quão dessemelhante 
Maria pegue o mato é hora… 
Arriba a saia e vamo‐nos embora… 
Pé dentro, pé fora, quem tiver pé pequeno vai embora… 
 
Oh, virgem mãe puríssima… 
Bandeira branca enfiada em pau forte… 
Trago no peito a estrela do norte 
Bandeira branca enfiada em pau forte… 
Bandeira…  
 
	Poemas de Gregório de Matos
	Gregório de Matos 2

Continue navegando