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ABDOME AGUDO Definição: dor abdominal súbita e progressiva que necessita de investigação diagnóstica rápida e intervenção terapêutica precoce. Classificação: 1. Inflamatório; 2. Perfurativo; 3. Obstrutivo; 4. Hemorrágico; 5. Vascular. Triagem: solicitar RX de abdome agudo (inclui RX abdome ortostático + decúbito e RX de tórax), hemograma, urina I, eletrólitos, beta-HCG. Abdome agudo inflamatório - Apendicite: dor periumbilical que irradia para o ponto de McBurney! Epidemiologia: mais prevalente entre a 2ª e a 3ª décadas de vida. Proporção de 3 homens para cada 2 mulheres. Etiopatogenia: A apendicite resulta de um processo mecânico de obstrução da luz do apêndice. Esse processo é facilitado pela conformação do apêndice que possui um pequeno diâmetro com comprimento longo. São inúmeros os agentes que podem obstruir a luz do apêndice, sendo o coprólito e a hiperplasia linfóide os mais comuns. A oclusão da luz do apêndice ocasiona um aumento da secreção de muco pela mucosa apendicular distal com aumento da pressão intraluminal, que pode alcançar até 65 mmHg. Prossegue com dificuldade de retorno venoso, estase, edema e diapedese. A distensão do apêndice estimula terminações simpáticas, produzindo dor abdominal difusa, geralmente periumbilical. Com a progressão do edema e o aumento da pressão intraluminal, começa a ocorrer isquemia da mucosa e surgimento de ulcerações levando à quebra da barreira mucosa e à invasão da parede do apêndice pela flora intestinal. O processo infeccioso pode atingir a serosa e, por contiguidade, o peritônio parietal, ocasionando dor no quadrante inferior direito. A persistência da obstrução leva à necrose do apêndice e à sua perfuração. O processo inflamatório, caso não ocorra involução, pode resultar na formação de um “plastrão” pelo omento, alças intestinais, anexos e o cólon como mecanismo de defesa, ou evoluir com perfuração com contaminação da cavidade peritoneal, podendo progredir para uma peritonite generalizada. Sinais semiológicos: Blumberg (descompressão brusca dolorosa no ponto de McBurney), Lapinski (eleva-se o membro inferior direito com palpação simultânea da fossa ilíaca direita - positivo se palpação dolorosa durante a movimentação), Lennander (elevação de 1ºC da temperatura retal com relação à axilar), punho percussão dolorosa do calcâneo e Rovsing (palpação da fossa ilíaca esquerda que resulta em dor na fossa ilíaca direita). Sinais radiológicos: sinal do alvo (fecalito ao Rx de abdome), borramento do músculo Psoas (presença de gás sobre o M. Psoas ao Rx de abdome), alça parética em fossa ilíaca direita (também chamada de alça sentinela ou íleo sentinela), posição antálgica (coluna lombossacral desviada para a direita porque evita distensão muscular e, consequentemente, dor) e nível hidroaéreo. → Radiografia simples de abdome em incidência anteroposterior realizada em decúbito dorsal apresenta dilatação de alça intestinal ilíaca (setas vermelhas) associada à imagem de acúmulo fecal no ceco, caracterizada por hipotransparência entremeada por múltiplos pequenos focos de imagens hipertransparentes (círculo vermelho). Nota-se, também, borramento da margem do músculo psoas (linha pontilhada vermelha) e aumento da densidade de partes moles no quadrante inferior direito. Exames laboratoriais: O leucograma pode mostrar leucocitose com desvio à esquerda. Leucocitose acima de 18.000/campo deve levar à suspeita de complicações como a perfuração ou a formação de abscesso. Outros exames, como o de urina rotina e gram de gota, podem ser úteis para descartar infecção urinária, embora piúria e hematúria possam estar presentes na apendicite pélvica pela contiguidade com o ureter e a bexiga. Escore de Alvarado: • Pontuações > 7 têm indicação para tratamento cirúrgico! Classificação: Diagnóstico: é clínico! Exames de imagem são utilizados para concluir o diagnóstico de acordo com a rotina de cada serviço. Padrão ouro para diagnóstico: exame físico e, em uma questão que não cite exame físico, tomografia computadorizada! Tratamento: cirúrgico! Laparoscopia ou laparotomia por incisão cirúrgica de McBurney. → Embora a implantação do apêndice seja num ponto constante, a sua localização pode variar de acordo com o posicionamento de sua extremidade, podendo ser retrocecal, pélvico, subcecal, na goteira parietocólica, em posição póstero-ileal. Outras localizações infrequentes como a sub-hepática ou retroperitoneal podem simular patologias da vesícula biliar ou do rim. Classificação laparoscópica de apendicite: - Colecistite: dor abdominal com relação alimentar. Presença do sinal de Murphy (interrupção da inspiração à compressão do ponto cístico. Diagnóstico: realizado por meio de USG abdominal (maior sensibilidade para avaliação de vias biliares). Tratamento: cirúrgico! Remoção da vesícula por laparoscopia ou laparotomia por meio da incisão de Kocher. As vias biliares sempre devem ser avaliadas antes da operação: 1 - Solicitar GGT, fosfatase alcalina, amilase, lipase e bilirrubinas; Se valores normais, operar. 2 - Se item 1 alterado, solicitar colangiorressonância; Se não forem encontradas alterações, operar. 3 - Se item 2 alterado, solicitar CPRE (colangiopancreatografia retrógrada). - Pancreatite aguda: dor abdominal em faixa associada a náuseas e vômitos. Quadro clínico: inclui distensão abdominal, dor à palpação, sinal de Cullen e Grey-Turner. Etiologias: biliar, alcoólica, hipertrigliceridemia, medicamentosa, etc. Exames diagnósticos: Solicitar amilase e lipase (amilase se altera primeiro). Se não houver melhora dos níveis enzimáticos dentro de 48h, solicitar TC de abdome. Tratamento: jejum até que o pâncreas desinflame (paciente manifesta apetite, ocorre geralmente dentro de 48 horas), hidratação, antieméticos e analgésico. Se pancreatite grave, associar ATB. - Diverticulite Quadro clínico: dor em fossa ilíaca esquerda + febre. Exames laboratoriais: leucocitose ao hemograma. Diagnóstico: colonoscopia, TC de abdome ou enema opaco (pouco recomendado). Classificação de Hinchey: ● Hinchey 1: abcesso pericólico; ● Hinchey 2: abcesso pélvico → realizar punção; ● Hinchey 3: peritonite purulenta → realizar laparotomia exploradora; ● Hinchey 4: peritonite fecal → realizar laparotomia exploradora. Tratamento cirúrgico: realizar cirurgia de Hartmann (cirurgia mais segura para diverticulite) - retossigmoidectomia + colostomia Abdome agudo perfurativo - Úlcera perfurada Quadro clínico: dor abdominal, sinal de Jobert, abdome em tábua, sinais de peritonite. Fatores de risco: USO DE AINE, tabagismo, etilismo, H. pylori,gastrite prévia. Diagnóstico: RX de abdome que evidencia cúpula diafragmática (pneumoperitônio). Tratamento: laparotomia exploradora, biópsia da úlcera, ulcerorrafia e limpeza da cavidade. Abdome agudo obstrutivo Quadro clínico: dor abdominal em cólica, náuseas, vômitos, parada de eliminação de gases e fezes, distensão abdominal. - Obstrução alta (esôfago, estômago, duodeno e jejuno): vômitos precoces, frequentes e intensos, com pouca distensão abdominal; - Obstrução baixa (íleo, cólon e reto): distensão mais acentuada, vômitos tardios que se apresentam, no início, compostos por secreção gástrica e/ou biliar e posteriormente fecalóides (vômitos fecalóides não são exclusivos de obstruções baixas, mas se relacionam com maior frequência a estas). Também costuma estar presente a diarréia paradoxal. Etiologias: principal causa de abdome agudo obstrutivo são as bridas. - Íleo mecânico: obstrução, torção, invaginação (intussuscepção), encarceramento, volvo, diverticulite; - Íleo funcional: desequilíbrio hidroeletrolítico (hiponatremia e hipocalemia), desequilíbrio acidobásico (acidose metabólica); - Íleo pós-operatório: fisiológico por 3-5 dias. Após o 5º dia, considerar causas patológicas. - Íleo misto: junção de etiologias. • Hérnia encarcerada: saída da cavidade abdominal, pode evoluir para estrangulada; • Hérnia estrangulada: apresenta comprometimento vascular destacado pela presença de alterações inflamatórias (sinais cardinais inflamatórios). • Íleo biliar: cálculos da vesícula biliar formam uma fístula da vesícula com o intestino - raro com evolução ao longo de anos → “Síndrome de Mirizzi” Investigação diagnóstica: RX em 3 posições. - Válvula ileocecal competente: perda de haustrações intestinais, distensão do cólon (+ SNG sem resíduos). - Válvula ileocecal incompetente: nível hidroaéreo, empilhamento de moedas, aumento de 2 a 3 cm do delgado (+ SNG com secreção fétida/fecalóide e gases). Outros sinais de obstrução: - Ausência de ar no reto; - Sinal da dupla bolha: atresia de duodeno ou pâncreas anular; - Sinal do “U” invertido ou do grão de café: volvo de sigmóide. - Edema de alças intestinais (também observado na TC de abdome). • Hérnia interna do delgado: SNG com quilo ou secreção pancreática; • Pneumoperitônio é mais comum do lado esquerdo, porque o baço é mais móvel do que o fígado. Se bilateral, é indicativo de perfuração de longa data ou de grande calibre. Tratamento: “Compensar e descomprimir!” → jejum, hidratação (compensar perdas em vômitos e diarréia além do jejum, ou seja, hiper hidratar), monitorar, correção de distúrbios hidroeletrolíticos, sonda nasogástrica de grosso calibre (avaliar débito e aspecto), sonda vesical de demora (avaliar hidratação - 0,5 a 1 ml/Kg/h de diurese). Antieméticos de horário (de preferência plasil, pois é antiemético e pró cinético; evitar buscopan que é anticolinérgico, bem como opióides para analgesia). Abdome agudo hemorrágico Etiologias: trauma, gravidez ectópica, aneurisma roto (história prévia de HAS + tabagismo). Quadro clínico: dor abdominal difusa associada a sinais de choque. Conduta e manejo: - Paciente hemodinamicamente instável = cirurgia; - Paciente hemodinamicamente estável = avaliação diagnóstica. Abdome agudo vascular - Isquemia mesentérica: dor abdominal importante com dissociação do exame físico (geralmente leva a atraso diagnóstico). Diagnóstico: realizado com base em antecedentes (tabagismo, DM, idosos, cardiopatas, história de amputação) + gasometria arterial + dosagens elevadas de CK, desidrogenase lática (LDH) e lactato. Principal vaso acometido = A. mesentérica superior. Tratamento: é cirúrgico! Realizar laparotomia exploradora e adicionar soro quente por 30 min, visando causar vasodilatação e deslocamento do trombo para porções mais distais, de modo a realizar a retirada de uma porção menor do intestino. Se com a vasodilatação não houver desobstrução, é equivalente a óbito do paciente.
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