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Introducao_ao_Estudo_de_Plantas_Medicinais texto base

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MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Atenção à Saúde
Departamento de Atenção Básica
Coordenação Geral de Áreas Técnicas
Núcleo de Práticas Integrativas e Complementares
Secretaria de Gestão de Trabalho e da Educação na 
Saúde
Departamento de Gestão da Educação na Saúde
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
Presidência
Paulo Ernani Gadelha Vieira
Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da 
Saúde
Valcler Rangel Fernandes
Assessoria de Promoção da Saúde
Annibal Coelho de Amorim
Coordenação Geral
Joseane Carvalho Costa
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
Reitoria
Emmanuel Zagury Tourinho
Vice-Reitoria
Gilmar Pereira da Silva
Pró-Reitoria de Extensão
Nelson José de Souza Júnior
Assessoria de Educação a Distância
José Miguel Martins Veloso
Coordenação Administrativa
Ivanete Guedes Pampolha
Este texto-base integra os recursos didáticos elaborados para o Curso de Qualificação em Plantas Medicinais e Fitote-
rápicos na Atenção Básica, concebido, desenvolvido e ofertado pela parceria entre o Ministério da Saúde, a Fundação 
Oswaldo Cruz e a Universidade Federal do Pará.
O curso completo pode ser acessado em: www.avasus.ufrn.br
Coordenação Pedagógica
Marianne Kogut Eliasquevici
Coordenação de Meios e Ambientes de Aprendizagem
Dionne Cavalcante Monteiro
Laboratório de Pesquisa e Experimentação em Multimídia
Maria Ataide Malcher
Editora
Presidência
José Miguel Martins Veloso
Diretoria
Cristina Lúcia Dias Vaz
Conselho Editorial
Ana Lygia Almeida Cunha
Dionne Cavalcante Monteiro
Maria Ataide Malcher
CRÉDITOS DO CURSO 
Coordenação Geral
Daniel Miele Amado - DAB | MS
Joseane Carvalho Costa - VPAAP | 
Fiocruz
José Miguel Martins Veloso - AEDi | 
UFPA
Coordenação Administrativa
Lairton Bueno Martins
Paulo Roberto Sousa Rocha 
Coordenação de Conteúdo
Silvana Cappelleti Nagai
Coordenação Pedagógica
Andrea Cristina Lovato Ribeiro
Nilva Lúcia Rech Stedile
Coordenação Pedagógica em EaD
Maria Ataide Malcher
Marianne Kogut Eliasquevici
Sônia Nazaré Fernandes Resque
Concepção e Avaliação de Recursos 
Multimídia em EaD
Fernanda Chocron Miranda
Suzana Cunha Lopes
Concepção e Comunicação Visual
Rose Pepe
Roberto Eliasquevici
2016 Ministério da Saúde | Fundação Oswaldo Cruz | Universidade Federal do Pará
Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial – Compartilhamen-
to pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra em qualquer suporte ou 
formato, desde que citada a fonte.
A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministé-
rio da Saúde [www.bvsms.saude.gov.br]. Todo o material do curso também está disponível na RetisFito [www.retisfito.
org.br] e no repositório institucional UFPA Multimídia [www.multimidia.ufpa.br].
DISTRIBUIÇÃO DIGITAL 
MINISTÉRIO DA SAÚDE 
Secretaria de Atenção à Saúde
Departamento de Atenção Básica
Coordenação Geral de Áreas Técnicas
Núcleo de Práticas Integrativas e Com-
plementares em Saúde
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Este conteúdo está disponível em: www.
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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e 
Promoção da Saúde
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
Assessoria de Educação a Distância
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CEP: 66075-110 – Belém/PA 
Fone: (91) 3201-8699/3201-8700
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multimidia.ufpa.br
CRÉDITOS DESTE RECURSO DIDÁTICO
Consultoria e Produção de Conteúdo
Antonio Carlos de Carvalho Seixlack
Daniel Miele Amado
Eliana Rodrigues
Glaucia de Azevedo Saad 
José Carlos Tavares Carvalho
Lairton Bueno Martins
Paulo Henrique de Oliveira Léda
Paulo Roberto Sousa Rocha
Silvana Cappelleti Nagai
Revisão de Conteúdo
Andrea Cristina Lovato Ribeiro
Daniel Miele Amado
Joseane Carvalho Costa
Lairton Bueno Martins
Paulo Roberto Sousa Rocha
Silvana Cappelleti Nagai
Consultoria e Revisão em EaD
Felipe Jailson Souza Oliveira Florêncio 
Maria Ataide Malcher
Marianne Kogut Eliasquevici
Sônia Nazaré Fernandes Resque
Suzana Cunha Lopes
Direção de Arte
Acquerello Design 
Ilustração e Grafismos
Andreza Jackson de Vasconcelos
Weverton Raiol Gomes de Souza
Diagramação e Editoração Eletrônica
Andreza Jackson de Vasconcelos
Weverton Raiol Gomes de Souza
Ficha Catalográfica
__________________________________________________________________________________________
 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Núcleo de Práti-
cas Integrativas e Complementares em Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Pro-
moção da Saúde. Universidade Federal do Pará. Assessoria de Educação a Distância.
 Curso de Qualificação em Plantas Medicinais e Fitoterápicos na Atenção Básica – Etapa 1: Introdução ao estudo 
das plantas medicinais e fitoterápicos / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção 
Básica. Fundação Oswaldo Cruz. Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde. Universidade Federal 
do Pará. Assessoria de Educação a Distância – 1. ed. – Belém: [EditAEDi], 2017.
 59 p. : il.
ISBN 978-85-65054-38-6
1. Fitoterapia. 2. Plantas Medicinais. 3. Atenção à Saúde. I. Título. 
CDU 633.88 
__________________________________________________________________________________________
08 1 AS PLANTAS MEDICINAIS E A FITOTERAPIA
16 2 ETNOBOTÂNICA E ETNOFARMACOLOGIA: VALIDAÇÃO DAS PLANTAS MEDICINAIS
29 3 O EMPREGO DAS PLANTAS MEDICINAIS NOS DIVERSOS SISTEMAS MÉDICOS
38 4 IMPLANTAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS (PNPMF) 
1.1 Um pouco de história sobre a Fitoterapia: uso e importância das plantas medicinais através dos tempos | 09
1.2 Um pouco de história da Fitoterapia: a separação da Farmácia e da Medicina | 11
1.3 A Fitoterapia no Brasil | 13
1.4 Definições relacionadas aos fitoterápicos e plantas medicinais: conceitos básicos | 14
2.1 Medicina Tradicional e Medicina Popular | 16
2.2 A Etnobotânica (EB) | 17
2.3 A Etnofarmacologia (EF) | 18
2.4 Etnobotânica e Etnofarmacologia: contribuições para a eficácia e segurança no desenvolvimento de
medicamentos | 22
3.1 Ayurveda | 30
3.2 Medicina Tradicional Chinesa | 32
3.3 Homeopatia | 35
3.4 Antroposofia aplicada à saúde | 36
4.1 Perspectivas da Organização Mundial da Saúde | 38
4.2 O processo de implantação da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos | 42
4.3 A Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e o Programa Nacional de Plantas Medicinais
e Fitoterápicos | 44
50 REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
S U M Á R I O
ETAPA 1 - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS | 06
06
06
ETAPA 1
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE PLANTAS 
MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS
Caro(a) cursista,
 
A utilização das espécies vegetais no tratamento de diversas enfermidades é conhecida desde 
a mais remota Antiguidade. Na origem da história, quando, pouco a pouco, o saber popular se 
desenvolve, a utilização de vegetais, como forma de curar ou evitar doenças, passa a ser obje-
to de interesse. As mais antigas obras sobre Medicina e plantas medicinais surgiram na China 
e no Egito. No livro de Pen T`Sao-Ching (2700 a.C.) e nos Papiros (1500 a.C.), bem como na 
Bíblia escrita pelos Hebreus, encontram-se milhares de citações sobre o emprego de plantas 
medicinais e preparações à base de produtos do reino vegetal. 
Atualmente, o estudo das plantas medicinais e fitoterápicos é objeto de diferentes ciências, e 
a Fitoterapia, inserida como método terapêutico em diversos países, é utilizada pelosprofis-
sionais da área da saúde para a prevenção e tratamento das mais variadas patologias.
Convidamos você, profissional da saúde, a conhecer os conceitos fundamentais para a com-
preensão do vasto escopo dos estudos e usos de plantas medicinais e fitoterápicos, sobretudo 
em nosso país, de abundante riqueza biológica e cultural.
Assim, nesta primeira etapa do Curso, você conhecerá:
Os aspectos introdutórios para a compreensão do estudo de plantas medicinais e fitoterá-
picos. Breve histórico do emprego das plantas medicinais através dos tempos e a sua impor-
tância para a terapêutica moderna, como também os principais conceitos utilizados no estudo 
da Fitoterapia;
A importância dos estudos da Etnobotânica e Etnofarmacologia para o conhecimento e a 
validação das plantas medicinais; 
O emprego das plantas medicinais no cuidado em saúde, com ênfase na Medicina Tradicio-
nal Chinesa, Homeopatia, Antroposofia Aplicada à Saúde e Ayurveda;
Os pressupostos teóricos para a implantação da Política Nacional de Práticas Integrativas 
e Complementares no Brasil, as referências da Organização Mundial da Saúde sobre Medicina 
Tradicional, Complementar e Alternativa e o processo de implantação da Política Nacional de 
Plantas Medicinais e Fitoterápicos em nosso país.
07
07
Os diversos conteúdos desta etapa referem-se a conceitos introdutórios ao estudo das 
plantas medicinais e fitoterápicos, os quais serão detalhados em outras etapas. Além deste 
texto síntese, você pode acessar apresentações em slides, vídeos e infográfico sobre os temas 
aqui desenvolvidos.
Os fundamentos teóricos apresentados nesta etapa são de suma importância para o entendi-
mento da inserção das práticas integrativas e da Fitoterapia como uma possibilidade de cui-
dado aos usuários, famílias e comunidades, de forma mais ampliada e integral dentro da aten-
ção básica do Sistema Único de Saúde. Certamente, isso exige uma mudança de postura na 
sua atuação como profissional e na acepção do cuidado e da assistência no campo da saúde. 
Dialogue com seus colegas no curso e no seu ambiente de trabalho sobre essas práticas que 
propõem a integralidade da atenção à saúde, dentre elas a Fitoterapia. 
Seja bem-vindo/a e bons estudos!
08
08
Você com certeza deve conhecer Hipócrates (460 - 361 a.C.), considerado o pai da Medicina. 
Para Hipócrates, dois axiomas são fundamentais na arte de curar. O primeiro especificava: 
natura medicatrix interpres et menister (o organismo cura a doença, o médico não é mais do 
que o seu intérprete, auxiliando-o). O segundo refere-se à aplicação dos medicamentos e 
era expresso por duas leis: similia similibus curantur (semelhante cura semelhante) e contraria 
contrarius curantur (contrário leva a cura). Dessas duas leis nasceram dois sistemas terapêuti-
cos: Homeopatia e Alopatia.
A Homeopatia é um sistema de tratamento de doenças por meio de medicamentos capazes 
de produzir, em indivíduos sadios, sintomas semelhantes aos da doença que está sendo trata-
da. Já a Alopatia é um sistema de tratamento que combate as doenças por meios contrários a 
elas, procurando combater as causas.
Os medicamentos empregados nesses dois sistemas recebem, respectivamente, o nome de 
homeopáticos e alopáticos.
Observe o Quadro 01 que sistematiza a relação entre sistema, terapia e medicamento.
Você encontrará 
outra versão deste 
quadro também 
no texto-base da 
Etapa 4. Sistema
Quadro 01 Os sistemas de tratamento e medicamentos correspondentes
Homeopatia
Alopatia Inorgânica
Alopatia 
Quimioterapia 
Orgânica
Terapia
Homeoterapia
Quimioterapia
Quimioterapia
Homeoterápico
Quimioterápico
Quimioterápico
Vegetal, animal 
e mineral
Inorgânica natural 
e sintética
Orgânica sintética 
e natural
Alopatia Opoterapia Opoterapia Opoterápico Animais e derivados deles obtidos
Alopatia Fitoterapia Fitoterapia Fitoterápico
Vegetais, drogas 
e preparados 
deles obtidos
Medicamento Matéria-prima
Axioma: são verdades inquestionáveis universalmente válidas, muitas vezes utilizadas 
como princípios na construção de uma teoria ou como base para uma argumentação. A pa-
lavra axioma deriva da grega axios, cujo significado é digno ou válido. Em muitos contextos, 
axioma é sinônimo de postulado, lei ou princípio. 
1 AS PLANTAS MEDICINAIS E A FITOTERAPIA
09
09
Como você pode perceber na classificação apresentada, a Fitoterapia é um sistema de trata-
mento alopata que utiliza plantas medicinais, drogas vegetais e preparados delas obtidos, 
para o tratamento de enfermidades. Cada um desses termos será melhor explicado adiante.
Como já citado, a utilização das espécies vegetais no tratamento de diversas enfermidades é 
conhecida desde a mais remota Antiguidade. Veja a seguir um pouco da história do uso das 
plantas medicinais no tratamento das enfermidades.
1.1 Um pouco de história sobre a Fitoterapia: uso e importância 
das plantas medicinais através dos tempos
Desde sempre os homens consideraram a doença como fatalidade contra a qual procuraram 
lutar com remédios cujos poderes misteriosos, à medida que a civilização evoluía, deram ori-
gem a interpretações variadas, de natureza material ou inspiradas na magia.
O uso das plantas no tratamento de diversas enfermidades é conhecido desde a mais remota 
Antiguidade, mesmo antes de se conhecerem suas causas. Investigações científicas demons-
tram que, entre os anos de 5000 e 2800 a.C., o homem já amansava e domesticava animais, 
cultivava cereais e utilizava algumas plantas medicinais. Por instinto, observando pássaros e 
outros animais (também instintivamente, o animal irracional toma precaução contra a doença 
e, quando doente, recorre às plantas curativas) selecionou e usou, nele mesmo, vegetal com 
finalidade terapêutica. O homem, dotado de inteligência, desde cedo notou esse gesto dos 
animais e, orientado por observações próprias, verificou que nas ervas há poder curativo. 
Na Mesopotâmia, de cerca de 3000 a.C. até cerca de 2400 a.C., em tábuas que datam da épo-
ca suméria e chegaram até nós, encontram-se diversas receitas e referências a vários medi-
camentos que os médicos da época dispunham (utilizados de várias maneiras, como infusões 
em que se lhes juntava vinho, unguentos, clisteres, cataplasmas e fumigações): plantas como 
helébaro, meimendro, mandrágora, papoula, cânhamo, canela, assa-fétida, mirra, timo, sal-
gueiro, figo, tâmara, leite, peles de serpentes, carapaças de tartarugas, cloreto de sódio e sa-
litre entre cerca de 250 plantas medicinais, 120 substâncias minerais e 180 de origem animal. 
Nesta época, a sensibilidade e o pensamento estavam profundamente imbuídos de animismo 
em que o homem estava, todo ele, a serviço dos deuses e a doença era sinônimo de pecado. O 
fato de estar doente era explicado como castigo das divindades e só a penitência podia curar, 
isto é, purificar, aqueles a quem a doença atingia.
Na China, na época de ShenNung (por volta de 2000 a.C.) já se investigava o valor medicinal 
de centenas de ervas. Entre as 365 drogas mais usadas estavam: podofilo, ruibarbo, ginseng, 
estramônio, cinamono e efedra.
No Egito, alguns papiros oferecem grande quantidade de ensinamentos sobre o conhecimen-
to empírico e os conhecimentos práticos dos cirurgiões da época. Mas, no célebre papiro de 
Ebers (1500 a.C.), uma coleção de 800 fórmulas, encontram-se as indicações sobre 700 drogas 
10
10
locais e exóticas (papoula, ginseng, rícino, romã, mandrágora, mirra, incenso, aipo, coentro, 
azeite, entre outras) usadas no tratamento de doenças internas, de afecções oculares, gine-
cológicas e dermatológicas.
As drogas eram piladas, cozidas na cerveja, no vinho ou no leite. Encontramos também nu-
merosos produtos de origem animal, mas, pelo contrário, raras eram as substâncias minerais 
(sulfato de antimônio, acetato de cobre, carbonato de sódio) usadas no tratamento das doen-
ças dos olhos (flagelo das populações egípcias).
Já na época dos grandes filósofos gregos, Hipócrates (460 - 361 a.C.) e seus discípulos ensina-
vam que a doençanão é um fatal desígnio dos deuses e pode ser identificada pela arte médica 
e tratada com remédios naturais. Não se contentavam em observar a natureza, mas procu-
ravam explicações para as coisas e buscavam as causas dos fenômenos fazendo com que a 
Medicina se desligasse, pouco a pouco, das representações mágicas.
Teofrasto (370 - 286 a.C.), chamado “o pai da botânica” poderia mais apropriadamente ser 
“o pai da Farmacognosia”, filósofo e cientista, sucessor de Aristóteles (384 - 322 a.C.) na di-
reção da escola de Atenas, realizou importantes trabalhos botânicos sobre as drogas da épo-
ca. Determinou peculiaridades e qualidades médicas das ervas, observando, apuradamente, 
aspectos farmacêuticos e farmacológicos da mirra, do incenso, da cássia, do mentrasto, da 
beladona, do timo, etc. Seus trabalhos, independente de considerações metafísicas, até hoje 
influenciam na atividade farmacêutica.
 Farmacognosia: o termo Farmacognosia refere-se ao estudo de matérias-primas e substân-
cias de origem biológica, obtidas a partir de vegetais e animais com finalidade terapêutica.
A descoberta de novos medicamentos e o estudo da sua utilização judiciosa ganhou formidá-
vel impulso com Mitrídades VI, rei do Ponto (132 - 63 a.C.). Talvez tenha sido o primeiro toxico-
logista que além de determinar como o produto matava também determinava seus antídotos. 
Com auxílio de seu médico particular, confeccionou um antídoto - o mitrídato – composto de 
54 substâncias e que seria eficaz contra os mais variados venenos. Mais tarde, essa fórmula é 
levada para Roma e um dos médicos de Nero, Andrômaco, melhora sua fórmula e composi-
ção, que foi utilizada até o final do século XVII.
No século I, Dioscórido, famoso médico de Roma, descreveu perto de 500 plantas medicinais, 
bem como substâncias medicamentosas de origem animal ou mineral, no seu tratado da ma-
téria médica. A sua obra é a fonte mais importante de ensinamentos de que dispomos sobre 
os vegetais utilizados na Antiguidade. Dioscórido viajou, no rasto dos exércitos romanos, na 
Espanha, na África do Sul e na Síria. Era um verdadeiro naturalista e um observador rigoroso 
e, como tal, estudou os fundamentos científicos das tradições.
No ano 79 d.C. morreu Plínio, o Velho, autor de uma espécie de enciclopédia da ciência do seu 
tempo, a qual encerra numerosos ensinamentos sobre plantas medicinais e remédios.
11
11
A Galeno (130 - 201 d.C.) cabe um lugar de importância excepcional, em virtude da sua influên-
cia que chegou para muito além do tempo em que viveu. Iniciou sua carreira como médico em 
uma escola de gladiadores e, mais tarde, percorreu a Ásia Menor, a Alexandria e fixou-se em 
Roma. Tinha muito apreço pelas qualidades das plantas medicinais e, com elas, enriqueceu o 
arsenal terapêutico da época.
Para Galeno, a doença é resultado de uma perturbação que afeta o funcionamento dos diver-
sos componentes do corpo - as doenças provêm do desequilíbrio dos seus elementos líquidos, 
isto é, os humores: sangue, linfa, bile e atrabile. Esses humores eram associados aos quatro 
elementos da natureza: fogo, terra, água e ar. Os diversos medicamentos eram utilizados em 
função do temperamento dos doentes que, assim, teriam necessidade de substâncias quentes 
ou frias. 
Ao lado de Galeno, a mais importante figura de médico da Antiguidade, devemos citar o ro-
mano Celso, cujos trabalhos e obras praticamente assentaram as raízes da Homeopatia e 
exerceram influências sensíveis por inúmeros anos.
Já na Idade Média, os medicamentos eram muito rudimentares e quase sempre de origem 
vegetal. Na sua preparação utilizava-se toda a planta ou partes dela, como as folhas, raízes 
ou sementes. É frequente faltarem indicações concretas acerca dos pesos ou quantidades 
utilizados, ou que se limite a indicações como “um punhado, um raminho, ou um pequeno 
copo”. Havia muitos medicamentos que eram preparados por cozimento ou por maceração.
Também na Idade Média, havia numerosos mosteiros, sobretudo os dos monges beneditinos, 
que tiveram o mérito de trazer da Itália e difundir por toda a Europa a horticultura romana, que 
tinham, junto aos edifícios destinados a receber doentes, um jardim no qual eram cultivadas 
plantas medicinais. A concepção da Medicina na época estava muito ligada à caridade cristã.
Na época denominada Renascença, a ciência, a Medicina Popular e as superstições estavam, 
ainda, intimamente ligadas para libertar o espírito humano. Várias plantas medicinais eram 
utilizadas nos exorcismos que se praticavam para repelir os espíritos da doença. Eram con-
sideradas ervas mágicas, entre outras, a mandrágora, o visgo do castanheiro, o meimendro, 
a arruda e o alho. Acreditava-se que homens e animais podiam ser protegidos das doenças 
mediante coroas feitas com ervas bentas.
1.2 Um pouco de história da Fitoterapia: a separação da 
Farmácia e da Medicina
O pensamento científico dos religiosos sofreu grande impulso com a influência do papa 
Silvestre II que, ficando impressionado pelo avanço dos árabes em todos os domínios da 
ciência, introduziu-os no ocidente. No século VII, os árabes dominavam grande parte do 
Conheça mais 
sobre esses fun-
damentos que até 
hoje orientam a 
Ayurveda no item 
3 deste texto-base 
e na apresentação 
de slides sobre o 
emprego das plan-
tas medicinais no 
cuidado em saúde, 
também nesta 
Etapa 1.
12
12
mundo civilizado e eram muito receptivos aos contributos de ordem cultural que lhes advi-
nham dos povos que tinham vencido. Mandavam buscar médicos e fundaram hospitais e bi-
bliotecas. Muitas drogas novas (ruibarbo, cânfora, sene, sândalo, noz moscada, tamarindo, 
cravo da Índia e o âmbar) foram importadas enriquecendo o arsenal terapêutico existente.
A farmácia - a botica - é uma das criações dos árabes e acredita-se que a primeira de todas 
existiu em Bagdá. Entre os farmacêuticos, Avicena (980 - 1037 d.C) era o mais conhecido e 
famoso. Influenciado pela obra de Galeno, produziu o seu Cânone da Medicina: cinco volumes 
sobre a Medicina grega e romana.
Em 1231, o Imperador Frederico II promulgou, para o reino da Sicília, um decreto que ordenava 
uma estrita separação entre os médicos e os farmacêuticos. Em Salermo, os candidatos à pro-
fissão médica tinham de se submeter a um exame prévio. Os aprovados praticavam durante 
um ano, ainda, sob a orientação de um médico experiente.
O decreto de Frederico II serviu de modelo a todas as leis ulteriores sobre o exercício da Medi-
cina e, da mesma maneira, foi seguido para elaboração do texto do juramento dos boticários.
Veja, no Quadro 02, como se iniciaram os registros das preparações com plantas medicinais 
com formulários e compêndios na transição da Idade Média para a Idade Moderna. Foi nessa 
época que surgiu a designação de farmacopeia, de autoria de Jacques Dubois, professor de 
medicina em Paris, que deu o título de Pharmakopoe ao livro que publicou, em Lion, em 1548.
Após a “descoberta” das Américas, começou a afluir à Europa uma quantidade de plantas até 
então desconhecidas: bálsamo do Perú, elemi, ipeca, salsaparrilha, coca, hamamelis, tabaco, 
Formulários e compêndios
Quadro 02 Registros das preparações com plantas medicinais
New Krauterbuch (Novo Herbário) Leonardo Fuchs
Autores Local Ano
Alemanha 1450
Dispensarium ad aromatarios Saladino de Ascoli Itália 1450
Nuovo Receptaria (uma parte deste 
livro era dedicado às maneiras de 
preparar e conservar medicamentos)
Nicolau Prévost Lyon 1490
FlorençaNuovo Receptaria Ludovico Toscanelli 1499
Pharmacorum conficendorumratio 
(Formulário oficial da cidade de 
Nuremberg)
Valério Cordus Alemanha 1546
Fonte: Mez-Mangold (1971); Gottlieb e Kaplan (1983).
13
13
guaiaco, sassafrás, condurango, quina, cápsico e a baunilha. A madeira do guaiaco, também 
conhecida como “pau santo”, fez sensação, pois se admitia que era remédio eficaz contra a 
sífilis que se espalhava em termos de constituir uma grave epidemia.
 
As teorias fundadas no príncípio da similitude – similia similibus curantur – desenvolvidaspelo 
médico Samuel Hahnemann, a qual denominou de Homeopatia, por oposição à Alopatia que 
prescrevia medicamentos segundo o princípio das ações contraditórias: contraria contrarius, 
consagrou a investigação científica sobre a natureza das várias drogas. 
Dessa forma, nos princípios do século XIX, verifica-se uma separação, cada vez mais nítida, 
entre o empirismo e o pensamento científico. A Botânica, a Zoologia, a Química e a Física tor-
nam-se cada vez mais ligadas à Medicina e à Farmácia.
1.3 A Fitoterapia no Brasil
Segundo Bruning e colaboradores (2012), no Brasil, nos séculos da colonização, a utilização 
de plantas medicinais para o tratamento dos agravos da saúde era patrimônio somente dos 
índios e dos detentores do conhecimento tradicional. Os medicamentos de origem sintética 
eram importados, principalmente da Europa, e muito tempo foi necessário para que as plantas 
medicinais usadas no Brasil pelos colonizadores fossem conhecidas no mundo.
No Brasil, um verdadeiro império vegetal, onde existem cerca de 120.000 espécies de plantas 
superiores (CARVALHO, 2004), vários vegetais tiveram importante papel como remédio para 
males ou como veneno e contra veneno, utilizados pelos indígenas em suas guerras e caçadas 
há muito tempo.
Até meados do século XIX, a Fitoterapia foi essencial ao arsenal farmacêutico no Brasil e em 
outras partes do mundo. Desde então, com a evolução dos processos de isolamento de produ-
tos naturais e a síntese de novas moléculas com base nesses produtos, ela foi cedendo lugar a 
produtos biológicos de origem animal e a preparados feitos com moléculas puras de elemen-
tos ativos, isolados de plantas medicinais dotadas de ação farmacológica mais específica.
Assim, as plantas medicinais perderam a importância e passaram a ser utilizadas somente 
como terapia alternativa e tradicional, quer no Brasil quer em outros países em desenvolvi-
mento no ocidente. Isto porque, apesar do avanço da produção de medicamentos sintéticos, 
cerca de 70-80% da população não têm acesso à assistência farmacêutica, exigindo a busca de 
outras soluções para o tratamento de enfermidades.
Apesar da introdução dos medicamentos genéricos, essa situação tende a agravar-se ainda 
mais em relação a novos medicamentos, visto que a maioria dos cientistas e tecnólogos do 
mundo vive na Europa, nos Estados Unidos e na Rússia. Portanto, não é tão estranho que ape-
nas 1% da pesquisa efetuada nos países desenvolvidos tenha algum significado para o mundo 
em desenvolvimento.
Conheça mais 
sobre esses funda-
mentos da Home-
opatia no item 3 
deste texto-base 
e na apresentação 
de slides sobre o 
emprego das plan-
tas medicinais no 
cuidado em saúde, 
também nesta 
Etapa 1.
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É necessário ressaltar que a adoção da Fitoterapia não implica, necessariamente, no abando-
no de outras práticas de cuidado. Pelo contrário, as plantas medicinais, os produtos biológicos 
e os produtos sintéticos podem ser utilizados de forma complementar. No estágio atual da 
Farmacoterapia, não cabe substituir, pelas plantas medicinais, os medicamentos eficientes de 
que se dispõe para o tratamento de muitas doenças. Mas deve-se reconhecer que, em número 
nada desprezível de casos, a Fitoterapia tem vantagens inegáveis e, em outros casos, pode 
ser uma terapia alternativa e/ou complementar. Além disso, um dos aspectos particularmente 
interessante da pesquisa, no campo da Farmacologia e da química das plantas medicinais, 
é o lapso relativamente curto que separa a pesquisa de base da sua aplicação prática, 
o que economiza custos.
Atenção!
Na pesquisa, no desenvolvimento, na produção, no controle, na dispensação e na prescrição 
destes novos medicamentos essenciais, a Fitoterapia, como uma importante terapia com-
plementar, deve ter como objetivos:
1) Formular programas novos e arrojados;
2) Inserir neste estudo o seu significado ecológico e interdisciplinar;
3) Formar profissionais capazes de desenvolver atividades baseadas nestes conceitos.
1.4 Definições relacionadas aos fitoterápicos e plantas 
medicinais: conceitos básicos
Para o avanço no estudo da Fitoterapia, é muito importante que você tenha clareza de alguns 
termos amplamente utilizados na área. O primeiro deles é planta medicinal, que é a planta 
selecionada e utilizada popularmente como remédio no tratamento de doenças. Segundo a 
Organização Mundial da Saúde (WHO, 1978) é toda e qualquer planta que quando aplicada 
sob determinada forma e por alguma via ao homem é capaz de provocar um efeito farmaco-
lógico. 
Algumas plantas medicinais podem dar origem a medicamentos fitoterápicos, ou seja, 
medicamentos obtidos com emprego exclusivo de matérias-primas ativas vegetais. Não se 
considera medicamento fitoterápico aquele que inclui na sua composição substâncias ativas 
isoladas, sintéticas ou naturais, nem as associações dessas com extratos vegetais (BRASIL, 
2014).
Por matéria-prima vegetal entende-se a planta medicinal, a droga vegetal ou o derivado 
vegetal. A droga vegetal é planta medicinal, ou suas partes, que contenham as substâncias 
responsáveis pela ação terapêutica, após processos de coleta/colheita, estabilização, quan-
do aplicável, e secagem, podendo estar na forma íntegra, rasurada, triturada ou pulverizada 
(BRASIL, 2014). O preparado fitoterápico intermediário, por sua vez, é o produto vegetal tri-
turado, pulverizado, rasurado, extrato, tintura, óleo fixo ou volátil, cera, suco, etc. e obtido de 
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plantas frescas e de drogas vegetais, através de operações - extração, purificação, fraciona-
mento e concentração utilizado na preparação do produto fitoterápico (CARVALHO, 2004).
Um princípio ativo natural (P.A.N.), isolado de uma parte de uma planta medicinal, tam-
bém pode ser considerado um fármaco, denominação empregada a uma substância química, 
droga, insumo farmacêutico ou matéria-prima utilizada para modificar ou explorar sistemas 
fisiológicos dos estados patológicos em benefício da pessoa à qual se administra (FARMA-
COPEIA, 2000). Nesse caso de fármacos de origem vegetal, pode-se também usar o termo 
fitofármaco.
Além desses termos, ainda é comum a referência aos princípios ativos, as substâncias ou 
grupo delas, quimicamente caracterizadas, cuja ação farmacológica é conhecida e respon-
sável, total ou parcialmente, pelos efeitos terapêuticos do produto fitoterápico (CARVALHO, 
2004). Considera-se ainda como produto natural qualquer substância produzida pelo vegetal 
durante o seu metabolismo secundário, por exemplo: lignina, hemicelulose, ácidos graxos e 
lipídeos, aminoácidos e proteínas, cumarinas, lignanas, naftoquinonas, antraquinonas, cana-
binóides, flavonóides, terpenóides, esteróides, alcalóides, pigmentos, etc.
16
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2 ETNOBOTÂNICA E ETNOFARMACOLOGIA: 
VALIDAÇÃO DAS PLANTAS MEDICINAIS
2.1 Medicina Tradicional e Medicina Popular
Como você pode perceber até aqui, o uso de plantas medicinais e fitoterápicos não é uma prá-
tica nova, tampouco localizada em um único espaço geográfico. Agora, nosso percurso segui-
rá pela compreensão da importância de se conhecer a diversidade desses usos em diferentes 
culturas e grupos humanos, que se baseiam em outras formas de conceber a saúde e a vida 
como um todo. De uma forma geral, esses conhecimentos de cura e cuidado são encontrados 
na prática da Medicina Tradicional e da Medicina Popular.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2015), a Medicina Tradicional é a 
soma de todos os conhecimentos, habilidades e práticas baseadas em teorias, crenças e ex-
periências indígenas de diferentes culturas, sejam ou não explicáveis pela ciência, usadas na 
manutenção da saúde, bem como na prevenção, diagnóstico, tratamento ou melhoria das 
doenças físicas e mentais. Ela está associada e estabelecida dentro de grupos étnicos defini-
dos, tais como: Medicina Tradicional Chinesa, Tibetana, a Ayurveda, hindu e grande parte das 
medicinas indígenas no Brasil. 
No país é comum a prática da Medicina Popular, que é resultado da mistura de influências 
culturaisdiversas. Além disso, ela se caracteriza por ser dinâmica, já que está em constante 
mudança e incorporação de usos. As medicinas praticadas por caboclos, caiçaras, raizeiros e 
afrodescendentes são exemplos de Medicina Popular.
Veja como as 
plantas medicinais 
são empregadas no 
cuidado em saúde 
em uma apresenta-
ção de slides desta 
Etapa 1. 
Para compreender as diferentes práticas de Medicina Tradicional e Medicina Popular, assim 
como o potencial do Brasil, no desenvolvimento de medicamentos, existem a Etnobotânica 
(EB) e a Etnofarmacologia (EF).
Amplie seus estudos
No documentário “Afro-brasileiros: Contextos rituais de cura - A medicina popular do Brasil”, 
você poderá conhecer mais sobre a formação da Medicina Popular no Brasil.
Parte 1 https://www.facebook.com/CentroDeEstudosEtnobotanicosEEtnofarmacologicosCee/videos/439159059468196/
Parte 2 https://www.facebook.com/CentroDeEstudosEtnobotanicosEEtnofarmacologicosCee/videos/439135066137262/
Parte 3 https://www.facebook.com/CentroDeEstudosEtnobotanicosEEtnofarmacologicosCee/videos/439114349472667/
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[...] o campo de estudo que analisa o resultado da manipulação de plantas ou partes ve-
getais por culturas tradicionais [...], assim como, o contexto cultural em que cada planta 
é utilizada (BALICK & COX, 1999, p. 3, tradução nossa).
Ciência que estuda a relação entre humanos e plantas em toda sua complexidade, e é 
baseada geralmente na observação detalhada e estudo do uso que uma sociedade faz 
das plantas, incluindo as crenças e práticas culturais associadas com este uso. Foca não 
somente as plantas medicinais, mas também outros produtos derivados da natureza, 
como: alimentos, plantas utilizadas em rituais, corantes, fibras, venenos, fertilizantes, 
materiais de construção para casas, barcos, ornamentos, óleos, etc. (HEINRICH et al., 
2004, p.48, tradução nossa).
Os estudos etnobotânicos podem ter várias aplicações, entre elas:
Basear estudos em diferentes domínios das ciências;
Prover subsídios para a conservação da flora;
Contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico baseado na diversidade e po-
tencialidade vegetal (Ex.: descoberta de novas drogas e/ou produção de fitoterápicos e fito-
cosméticos);
Fornecer dados para pesquisas técnicas que agreguem valor aos produtos oriundos do ex-
trativismo;
Contribuir para o desenvolvimento planejado da comunidade, grupo ou região de onde os 
dados foram coletados;
Apoiar atividades que os grupos detentores dos saberes queiram desenvolver;
Orientar processos de domesticação de plantas nativas (técnicas de conservação in situ, 
ex-situ e in vitro).
2.2 A Etnobotânica (EB)
O termo “etnobotânica” foi utilizado pela primeira vez em 1896 por um botânico americano, 
William Harshberger, quando descreveu alimentos, vestuários, utensílios domésticos e instru-
mentos agrícolas dos índios Pueblo do Colorado (Hazzard Collection – Feira Mundial de 1893). 
Na ocasião, o estudioso adotou o termo para designar o estudo da relação entre os humanos 
e as plantas utilizadas por eles.
Veja ainda outras definições para o termo:
18
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2.3 A Etnofarmacologia (EF)
Originalmente, a Etnofarmacologia (EF) era definida como uma ciência que procurava en-
tender, a partir de trabalhos de campo, o universo dos recursos naturais (plantas, animais) 
utilizados como drogas sob a ótica de grupos humanos. Para Schultes (1988, p.402, tradução 
nossa), “[...] a Etnofarmacologia, subárea da Etnobotânica, é uma disciplina recente no meio 
acadêmico, e refere-se ao uso médico ou pseudomédico de plantas e animais pelas socieda-
des pré-letradas [...]”.
A Etnofarmacologia, assim como a Etnobotânica, é uma ciência que exige a interdisciplina-
ridade, pois para sua análise e compreensão são tratados aspectos da Botânica, Antropologia, 
Arqueologia, Fitoquímica, Farmacologia, Medicina, História, Religião, Geografia e diversas 
outras ciências e artes pertinentes (SCHULTES; REIS, 1995). 
No entanto, alguns pesquisadores, ao longo do tempo, definiram a Etnofarmacologia no con-
texto dos estudos farmacológicos e fitoquímicos e não no do trabalho de campo. Ou seja, 
as plantas ou animais indicados durante os trabalhos de campo entre índios, por exemplo, 
Amplie seus estudos
Este artigo traz reflexões sobre as contribuições das disciplinas Etnobotânica e Etnofarma-
cologia como guias para a descoberta de novos medicamentos, bem como críticas quanto 
às qualidades dessas pesquisas, que podem afetar a sua aplicação nessa missão.
As pesquisas etno dirigidas na descoberta de novos fármacos de interesse médico e far-
macêutico: fragilidades e perspectivas
Autores: Ulysses Paulino de Albuquerque e Natália Hanazaki
Publicado em: Revista Brasileira de Farmacognosia
Ano: 2006
Acesse em: http://www.scielo.br/pdf/rbfar/v16s0/a15v16s0.pdf
Amplie seus estudos
Se você quer conhecer mais sobre a relação das diversas sociedades, ao longo do tempo, 
e as plantas utilizadas em contextos rituais e de cura, consulte o livro e os documentários 
abaixo:
Plants of the Gods: Their Sacred, Healing, and Hallucinogenic Powers
Autores: Richard Evans Schultes; Albert Hofmann e Cristian Ratsch 
Editora: Healing Arts Press.
Ano: 2001
Documentário “Drogas taboo”
https://www.youtube.com/watch?v=ihX9NwOp0ss
Documentário “Ayahuasca taboo”
https://www.youtube.com/watch?v=ZPKFASyjpOU
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deveriam ser investigadas por essas ciências, a fim de comprovar ou não o seu uso, que de-
nominavam e alguns ainda denominam, ‘empírico’. Uma dessas definições é a de Holmstedt 
e Bruhn: “A Etnofarmacologia tem sido definida como a exploração científica interdisciplinar 
de agentes biologicamente ativos, tradicionalmente empregados, observados por homens” 
(HOLMSTEDT; BRUHN, 1983, p. 252, tradução nossa).
Ou seja, a EF deixa de ser uma ciência descritiva e passa a ser avaliativa e toma para si a fun-
ção de validar ou não o conhecimento tradicional/popular. Porém, não era essa a ideia original 
dessa disciplina, que se propunha a descrever a Medicina das outras culturas. Os usos das 
plantas e animais, bem como de seus efeitos eram vistos no contexto de determinado grupo 
humano, não importando se a Medicina oficial poderia valer-se dele ou não, em seu benefício. 
A trajetória histórica das definições da EF nos faz pensar que a EF só é ciência se testada e 
aprovada pela ciência acadêmica, não enxergando, nem reconhecendo o conhecimento das 
outras culturas, como uma ciência em si. 
A EF possui diversas abordagens, podendo ser desenvolvida entre culturas que ocupam tan-
to o ambiente urbano quanto o rural. Estudos realizados nesse último geralmente são mais 
promissores em função do isolamento geográfico em relação à Medicina oficial a que está 
submetido, tornando a Medicina local a única opção terapêutica, em muitos casos. 
Atente para as abordagens da EF que podem ser destacadas:
Estudos que resgatam os saberes locais; 
Estudos que relacionam os deslocamentos humanos ao conhecimento popular e/ou 
tradicional;
Estudos que resgatam plantas (e outros recursos) que apresentam restrições de uso, tra-
zendo elementos para a avaliação de riscos no consumo desses medicamentos;
Estudos que comparam os conhecimentos entre diferentes culturas (ainda que ocupem o 
mesmo bioma);
Estudos que partem dos relatos em literatura antiga para resgatar o conhecimento dos 
recursos medicinais feitos em séculos anteriores e comparar aos usos atuais.
Reflita!
Os usos medicinais de plantas só podem ser considerados científicos se validados pela ciên-
cia acadêmica? 
Você acha que os povos tradicionais exercitam um “tipo de ciência” no desenvolvimento de 
novos medicamentos?
Alguns índios do Brasil utilizam embiras (entrecascas de árvores) amarradas no ventre das 
mulheres para determinar o sexo de seus filhos, na época da sua concepção. Você acredita 
que seja possível replicar testes de Farmacologia pré-clínica (em ratos, camundongos, coe-
lhos, cães) que comprovem ou não este uso tradicional?
Será que a “nossa” Farmacologia não é limitada para algunsusos tradicionais da natureza?
Será que a “nossa” Farmacologia possui todas as ferramentas necessárias para validar os 
usos tradicionais de plantas medicinais?
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Os estudos etnofarmacológicos podem ter várias aplicações. O CEE (2015) aponta algumas:
Valorizar a diversidade cultural; 
Resgatar e valorizar o conhecimento tradicional a respeito da utilização medicinal dos 
recursos naturais; 
Compreender sobre as dinâmicas do conhecimento tradicional; 
Contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico de medicamentos; 
Fornecer informações sobre reações adversas de plantas a partir de observações das medi-
cinas tradicionais e/ou populares; 
Subsidiar a validação do uso popular/tradicional de plantas medicinais, por meio de estu-
dos de Farmacologia pré-clínica, clínica e Fitoquímica. 
A partir de Schultes e Reis (1995), ainda é possível destacar como aplicações da 
Etnofarmacologia: 
Contribuir para o desenvolvimento de medicamentos;
Promover novas práticas agrícolas – agroecossistemas, modelos para planos de manejo e 
modelos para conservação da biodiversidade;
Reforçar a ideia de que as plantas medicinais são apenas uma parte dos estudos 
etnobotânicos.
Os estudos de EF se utilizam de métodos e técnicas da Antropologia (Etnografia) e da Biologia 
(Botânica e Zoologia). A Etnografia é utilizada a fim de se registrar a complexidade das medi-
cinas locais, conforme mencionado acima, que inclui os usos medicinais das plantas e animais 
na maior parte dos casos (mas também de fungos, minerais, algas entre outras substâncias). 
De maneira complementar, os métodos da Botânica e da Zoologia são utilizados para a coleta 
dos recursos (plantas e animais) mencionados nas receitas. Da mesma forma que nos estudos 
etnobotânicos, os métodos e análises dos dados aqui podem ocorrer numa abordagem quali-
tativa ou quantitativa, ou ainda envolvendo ambas abordagens. 
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Apresentaremos dois exemplos de sucesso de desenvolvimento de medicamento a partir de 
estudos etnobotânicos/etnofarmacológicos. O primeiro é um caso internacional da planta ka-
va-kava (nome científico: Piper methysticum G. Forst.), utilizada há mais de três mil anos nas 
Ilhas Polinésias durante rituais de celebração. Seus rizomas são pilados em tachos de madeira, 
aos quais se adiciona saliva, que age durante três dias, produzindo um fermentado. Essa bebi-
da é oferecida durante os mencionados rituais, a fim de promover um efeito entactógeno. A 
partir de estudos de Química e Farmacologia, observou-se o efeito ansiolítico desta planta, ou 
seja, ela era capaz de diminuir quadros de ansiedade. A partir desses estudos, foi desenvolvido 
um fitoterápico com os extratos da planta, utilizado pela psiquiatria.
O segundo exemplo é um caso nacional: a planta erva-baleeira (Cordia verbenacea DC.), utili-
zada por caiçaras da mata Atlântica nos casos de inflamação, sobretudo aquela causada por 
coceiras decorrentes de picadas de borrachudos. As folhas dessa planta são colocadas em 
uma garrafa com álcool e deixada em maceração por três dias, ao final dos quais pode-se fric-
cionar o preparado nas partes do corpo inflamadas. O estudo químico e farmacológico dessa 
planta levou ao desenvolvimento de um fitoterápico brasileiro.
 
Esses estudos, ao identificarem os modos de uso das plantas em diferentes culturas, ofere-
cem subsídios para a ciência farmacológica no desenvolvimento de novos medicamentos, 
tanto do ponto de vista de esclarecer esses usos, como apontar suas possíveis propriedades 
toxicológicas.
Amplie seus estudos
Esse capítulo de livro oferece um panorama geral sobre as pesquisas etnobotânicas e etno-
farmacológicas e sua contribuição como guias para estudos de Farmacologia e Fitoquímica, 
no desenvolvimento de novos medicamentos. Além disso, fornece métodos, técnicas e mo-
delos de fichas de entrevistas sobre como realizar estudos de etnofarmacologia e Etnobotâ-
nica voltados para essa finalidade.
Estratégias Utilizadas para a Seleção de Plantas com Potencial Bioativo com Ênfase nos 
Métodos de Etnobotânica e Etnofarmacologia. 
Autores: Eliana Rodrigues e Rafaela Denise Otsuka
Publicado em: Protocolos em psicofarmacologia comportamental: um guia para a pesquisa 
de drogas com ação sobre o SNC, com ênfase nas plantas medicinais (Carlini, E. A.; Mendes, 
F. R. - Org.)
Ano: 2011
Acesse em: http://www.aedi.ufpa.br/images/texto-base-1_capituloetnofarmacologia.pdf
Efeito entactógeno: é um termo médico que significa aumento do desejo de se comunicar 
com outras pessoas.
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2.4 Etnobotânica e Etnofarmacologia: contribuições para a 
eficácia e segurança no desenvolvimento de medicamentos
Os grupos humanos atribuem funções às plantas após a utilização das ferramentas científicas 
que dispõem para melhor conhecê-la. Sejam elas medicinais e/ou venenosas tiveram que pas-
sar por experimentações, quase sempre que utilizam membros da própria comunidade como 
verdadeiras “cobaias humanas”. Nas comunidades que vivem nas matas, os humanos fizeram 
durante muito tempo e ainda fazem a vez das “cobaias animais”, sobretudo naquelas onde 
inexiste atendimento da Medicina convencional e onde a terapêutica local tem que suprir as 
demandas das doenças do cotidiano e daquelas ainda desconhecidas.
Perceba que, da mesma forma que na ciência acadêmica, essas experimentações são reali-
zadas por indivíduos específicos daquelas comunidades e que seguem alguns critérios para a 
seleção de novas plantas/animais/fungos/minerais a serem testados como potenciais agentes 
terapêuticos. 
Durante a investigação de novos medicamentos, a ciência acadêmica utiliza quatro principais 
critérios para a seleção das plantas a serem estudadas. São eles:
Coletas Randômicas (ou ao acaso): baseiam-se na obtenção de amostras de todas as plan-
tas encontradas em uma determinada área de estudo estabelecida, priorizando aquelas em 
frutificação e floração. Deste modo, a escolha da planta é realizada sem um critério específico, 
dando-se preferência, no entanto, a lugares com alto grau de biodiversidade e endemismo;
Coletas Guiadas pela Quimiotaxonomia: essa abordagem pode apontar um maior índice 
de acerto em relação à primeira, pois indica quais plantas ou suas partes apresentam maior 
probabilidade em conter os metabólitos secundários a serem estudados, que muitas vezes 
estão restritos a uma família taxonômica ou até mesmo a gêneros;
Coletas Guiadas pela Zoofarmacognosia: baseia-se na observação de animais que bus-
cam solucionar problemas de saúde por meio de plantas ou outros animais;
Coletas Baseadas no Conhecimento Tradicional: essa abordagem é realizada pela EB e 
EF, “[...] ciências que procuram entender o universo das plantas e/ou outros recursos naturais, 
respectivamente – utilizados como drogas sob a ótica de grupos humanos [...]” (SCHULTES, 
1962, p.402, tradução nossa).
Biodiversidade: de acordo com a Convenção sobre Diversidade Biológica de 1992, (BRASIL, 
2000) a biodiversidade é “a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compre-
endendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquá-
ticos e os complexos ecológicos de que fazem parte”.
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Conforme Spjut e Perdue (1976),dentre esses critérios apresentados, a coleta com base no 
conhecimento tradicional é a mais adequada para seleção de potenciais farmacológicos por 
apresentar alta porcentagem de acerto nos testes de investigação de respostas positivas. Os 
autores analisaram drogas anticâncer e relataram que foram descobertas duas vezes mais 
plantas para essa doença partindo-se das pesquisas etnofarmacológicas do que das recolhi-
das ao acaso, por exemplo. Ainda, segundo Balick (1990), 6% das amostras colhidas ao acaso 
e enviadas ao Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos da América eram bioativas, 
enquanto as coletas direcionadas por pesquisas etnofarmacológicas indicaram 25% de plan-
tas bioativas. É por esse motivo que esse é o critério utilizado por 80% dos laboratórios farma-
cêuticos (KATE; LAIRD, 1999).Observe o Quadro 03 que apresenta um comparativo entre o uso de coletas randômicas e da 
Etnofarmacologia para a identificação de plantas para diferentes atividades biológicas.
As coletas são os primeiros passos do processo de desenvolvimento de fitoterápicos. A partir 
das plantas indicadas durante levantamentos etnobotânicos e etnofarmacológicos, são re-
alizados estudos farmacológicos e fitoquímicos, que darão origem a novos medicamentos, 
conforme processo ilustrado na Figura 01.
Figura 01 Processo de desenvolvimento de novos medicamentos
Endemismo: comum à botânica, biologia e à zoologia, o conceito de endemismo se refere 
basicamente a grupos taxonômicos que se desenvolveram numa região restrita. O endemis-
mo pode ser causado por quaisquer barreiras físicas, climáticas e biológicas que delimitem 
com eficácia a distribuição de uma espécie ou provoquem a sua separação do grupo original. 
Uma espécie é endêmica, portanto, quando é restrita a uma determinada área geográfica.
Zoofarmacognosia: ramo da ciência que se ocupa do estudo das plantas que são utilizadas 
por animais no tratamento de suas enfermidades.
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Atividades biológicas
Quadro 03 Os sistemas de tratamento e medicamentos correspondentes
Antineoplásica
Coletas randômicas
6% 25%
Etnofarmacologia
Elisabetsky & 
Shanley, 1994
Anti-hipertensiva 31% 44% Adsersen & Adsersen, 1997
Anti-helmíntica 9,8% 29,3% Bourdy et al., 2008
Ictiotóxica 9,6% 38,6% Bourdy et al., 2008
Tóxicos/Venenos 10,5% 52,2% Bourdy et al., 2008
Referências
Anti-HIV 8,5% 71,4% Slish et al., 1999
Antimicrobiana 22% 37% Boily & van Puyvelde, 1986
Antiplasmódica 0,7% 18% Carvalho & Krettli, 1991
Inibição da 
acetil-colinesterase 8% 42,3% Oliveira et al., 2011
Fonte: OLIVEIRA et al. (2011, p. 801, tradução nossa).
Para as comunidades que possuem o referido conhecimento tradicional e que vivem “nas” 
e “das” matas, os critérios utilizados para a descoberta de novos remédios, baseiam-se em 
quatro raciocínios: 
De modo similar às coletas randômicas, utilizam a tentativa e erro como uma das estraté-
gias de busca de novas drogas. Mais adiante você entenderá que essa estratégia não é absolu-
tamente ao acaso, pois parece seguir algumas “pistas sensoriais”;
A exemplo da coleta guiada pela zoofarmacognosia, observam os comportamentos de ani-
mais após o consumo de uma determinada planta, se ficam mais agitados ou mais sonolentos, 
por exemplo. Essas observações servem de pistas a serem seguidas quando decidem experi-
mentar o uso humano da planta.
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Os outros dois critérios diferem daqueles utilizados pela ciência acadêmica, assim:
Os estímulos sensoriais (obtidos ainda na infância, enquanto brincam na mata com flores, 
folhas e bichos - dissecando-os, cheirando-os e amassando-os, na pretensão de entenderem 
como funcionam) somados à curiosidade desses povos, iniciam a elaboração de correlações 
entre particularidades (morfológicas e organolépticas) de uma planta/animal e seus usos po-
tenciais. Quando necessitam de um novo remédio, é como se consultassem seu “banco de 
memórias sensoriais” para correlacionarem a necessidade à determinada particularidade de 
uma planta. As curiosidades e observações natas, somadas à disponibilidade de uma rica fon-
te de plantas e animais, acabam possibilitando a geração de novas receitas de remédios a 
serem testadas no momento em que se mostrarem necessárias; portanto ao testarem uma 
planta “ao acaso” utilizam essas “informações sensoriais”. Esse raciocínio é universal e segue 
o princípio da Doutrina das Assinaturas preconizada por Paracelso (1493 - 1541), na qual se 
admite que seja possível reconhecer, pela aparência externa, as peculiaridades e virtudes de 
cada erva por sua “assinatura” (figura, forma, cor);
A intuição, definida aqui como uma forma de aquisição de conhecimento por meio do in-
consciente (palpites, sonhos, insights) é de extrema importância na seleção de novos recursos 
a serem testados.
Todo esse processo é complexo e dinâmico, estando em contínua transformação, portanto, 
não é constituído apenas pelo conhecimento dos antepassados.
Nessa dinâmica, quando se determina ou mesmo se suspeita que certa planta tenha um efeito 
que possa colocar em risco a vida dos moradores de certo local, por ser venenosa/tóxica, esse 
conhecimento é disseminado entre todos os indivíduos da comunidade. Por este motivo, os 
conhecimentos sobre as plantas que servem como abortivas, contraceptivas, venenos para 
animais, venenos para humanos, que são contraindicadas a gestantes, crianças ou idosos, não 
estão restritos aos especialistas em cura (xamãs, curadores, benzedeiros, parteiras). Esses co-
nhecimentos são obtidos, aprimorados e repassados pelos praticantes de cura aos nativos de 
suas comunidades, a fim de evitar efeitos danosos no uso de certas plantas.
Curiosidades
Você sabia que as propriedades estimulantes do café foram “descobertas” pelos humanos 
a partir da observação de seu consumo por cabras, uma vez que as cabras saltitavam após 
comer as sementes dessa planta?
Os índios Krahô, por exemplo, usam um cigarro a partir das folhas de uma planta que pro-
duz efeito relaxante e hipnótico (favorece o sono). Eles “descobriram” esse uso medicinal 
da planta pela observação de que, quando o veado a consumia, ficava mais fácil caçá-lo, 
pois ele ficava mais “lento”. Por esse motivo, os índios “batizaram a planta” com o nome 
caprankohiréhô – a tradução da língua timbira é: “planta vértebra de tartaruga”. O nome 
popular da planta remete ao seu uso medicinal! “Uma planta que te deixa tão lento quanto 
uma tartaruga”. Por isso é tão importante saber a língua local quando se pretende realizar 
estudos de EB ou EF. 
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É possível traçar um paralelo entre essa prática, realizada pelo “curador local”, e o propósito 
da Farmacovigilância, que é coletar, analisar e informar sobre reações adversas a medica-
mentos, esboçando um encontro entre esta e a Etnofarmacologia. Dessa forma, o registro de 
informações sobre plantas com restrições de uso citadas durante levantamentos etnofarma-
cológicos deveriam merecer atenção especial e abastecer bancos de dados auxiliares à Far-
macovigilância de fitoterápicos.
Plantas com restrições de uso são observadas entre diversas culturas. Um tipo de restrição é 
quando uma via de administração da planta deve ser evitada por causar intoxicação, enquanto 
por outra via, a mesma planta pode ser um medicamento. A planta Clitoria simplicifolia Benth. 
(Fabaceae), por exemplo, é utilizada para tratar dor nas pernas, portanto, seu tubérculo deve 
ser ralado e passado no local da dor. Porém, conforme explicam alguns índios, se este líquido 
for ingerido pode levar ao óbito.
Outra observação feita por quilombolas do Pantanal é sobre à reação adversa causada pela 
planta erva-molar-macho - Rudgea viburnoide Benth. (Rubiaceae). Explicam que a planta serve 
para insônia, porém a planta diminui a pressão e a libido sexual. Outra planta ainda utilizada 
no combate à diarreia, deve ser evitada por idosos - a Psittacanthus robustu Mart. (Lorantha-
ceae) - uma vez que se trata de um “remédio muito forte”, conforme relatam alguns índios. 
Também comunidades ribeirinhas da Amazônia, indígenas e quilombolas são unânimes em 
contra indicar “plantas que amargam” às gestantes. Explicam que elas podem causar aborto 
e, portanto, devem ser evitadas quando a mulher estiver grávida. Outras ainda, que agem 
como contraceptivos, também devem ser evitadas por gestantes, uma vez que podem trazer 
algum risco ao feto.
Diante desses conhecimentos, nas últimas décadas tem-se discutido a necessidade de se es-
tender as preocupações da Farmacovigilância também aos produtos de origem vegetal, já 
que são igualmente detentores de riscos à saúde, no entanto essa prática ainda é incipiente no 
Brasil. Apesar disso, não faltam casos de efeitos tóxicos e reações adversas provocadas tanto 
por plantas medicinais quanto por fitoterápicos.
A seguir, veremos três casos, retirados dos Boletins de Psicofarmacovigilância(PSIFAVI), 
demonstrando que medicamentos à base de plantas podem causar reações adversas, tanto 
quanto os sintéticos. 
Reflita!
Retomamos o questionamento: Será que os povos tradicionais exercitam um “tipo de ciên-
cia” no desenvolvimento de novos medicamentos? Será que é possível identificarmos outros 
tipos de ciência?
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Caso 1: 
Planta: Atropa belladona L.
Em 2003, uma paciente de 35 anos, de São Paulo, utilizou via retal, uma pomada para tratar 
uma crise de hemorróida às 23 horas de uma noite em que estava passando férias em Ilhabela.
Essa pomada não tinha aplicadores com doses definidas, do tipo supositório, apenas aplica-
dores descartáveis. Naquela noite, a paciente que estava com um grande incômodo, aplicou 
grande quantidade do fitoterápico. 
Quando acordou de madrugada, estava com muita taquicardia, tontura, confusão mental, 
visão turva e boca seca. Teve que ser atendida em pronto socorro da região e estes sintomas 
duraram cerca de 24 horas após a administração da pomada.
Esses efeitos vão de encontro com a ação anticolinérgica, já bem descrita para o alcalóide 
atropina, encontrado na planta Atropa belladona L. presente no fitoterápico.
Nesse caso, não se pode definir se trata-se de uma reação adversa ou de uma intoxicação, 
uma vez que não existia uma dose definida na bula do fitoterápico e nem na sua forma farma-
cêutica.
Caso 2:
Planta: Hypericum perforatum L.
Em 2000, uma paciente de 42 anos da cidade de Umuarama, com transtorno bipolar de hu-
mor, grávida e pesando 62 quilos, apresentou quadro maníaco e teve que ser internada, após 
utilizar diariamente 600 mg de um fitoterápico à base da planta Hypericum perforatum L., du-
rante 1 semana.
A literatura científica relata vários estudos mostrando a relação entre o uso dessa planta e 
casos de mania.
Caso 3:
Planta: Ginkgo biloba L.
Uma paciente de 49 anos, com depressão havia 3 meses, estava em tratamento com o medi-
camento sintético Citalopram®. Quando foi introduzida a dose de 80 mg/dia do fitoterápico à 
base de Ginkgo biloba L., a paciente apresentou edema de membros inferiores após 2 dias do 
início do tratamento com o fitoterápico. Depois disso, o psiquiatra suspendeu o medicamento 
e as reações desapareceram completamente. Uma semana mais tarde, o psiquiatra reintrodu-
ziu o mesmo fitoterápico e a paciente apresentou, além do edema mencionado anteriormen-
te, muita coceira pelo corpo. Este é um caso raro onde se pode estabelecer a causa e efeito: 
fitoterápico e reação adversa.
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Portanto, a EB e EF têm a tarefa de resgatar e registrar não apenas os aspectos curativos 
(relativos à eficácia) das plantas, ou seja, como determinada comunidade utiliza as plantas 
para a sua cura, mas também a parte utilizada, modo de preparo, via de administração, dose 
e duração de uso. Ainda pode e deve dedicar-se à observação de dados relacionados aos ris-
cos (segurança) das plantas, comumente apresentados pelos praticantes de cura, durante en-
trevistas: noções de toxicidade, contraindicações, doses diferenciadas, partes da planta que 
podem ser tóxicas, via de administração não recomendada e interações entre as plantas; uma 
vez que, conhecer essas peculiaridades é tão ou mais importante do que conhecer suas pro-
priedades curativas (RODRIGUES; BARNES, 2013). 
A suspeita de que certas espécies vegetais possam ser tóxicas ou produzir reações adversas, 
baseando-se no registro detalhado dos seus usos durante levantamentos de EB e EF, pode 
ser um instrumento auxiliar à Farmacovigilância de fitoterápicos, na medida em que amplia o 
conhecimento sobre “o lado ruim” dos recursos vegetais da flora brasileira.
Outro importante conhecimento para você que está se aproximando do estudo de plantas 
medicinais e fitoterápicos é o emprego das plantas medicinais no cuidado em saúde em dife-
rentes abordagens tradicionais, como acompanhará a seguir. 
 
Você, como profissional da saúde, deve ficar atento ao correto uso das plantas medicinais e 
dos fitoterápicos. 
É importante que 
você se aproprie 
dos conteúdos 
abordados nas 
Etapas 4 e 5. 
Amplie seus estudos
Esse artigo oferece diversos exemplos de como os estudos de Etnofarmacologia e de Etno-
botânica, se realizados com métodos adequados, podem contribuir para o conhecimento 
sobre a segurança de futuros medicamentos; além da eficácia, o que já ocorre corriqueira-
mente nesses estudos.
Plantas com restrições de uso indicadas por três grupos humanos do Brasil (caboclo, 
indígena e quilombola)
Autora: Eliana Rodrigues
Ano: 2005
Publicado em: Jornal Brasileiro de Fitomedicina
Acesse em: http://www.aedi.ufpa.br/images/texto-base-1_capituloplantascomrestricoes.pdf
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3 O EMPREGO DAS PLANTAS MEDICINAIS 
NOS DIVERSOS SISTEMAS MÉDICOS
O uso de plantas é intrínseco à história dos homens. Desde sempre, elas foram utilizadas 
como alimentos, na confecção de utensílios, vestuário, moradia e como recurso terapêutico. 
Foram e são utilizadas ainda hoje em rituais mágicos, religiosos e também com fins lúdicos.
Culturas diferentes produzem representações do corpo humano, da saúde e do adoecimento 
com lógicas próprias e isso inclui os métodos diagnósticos e as práticas curativas. Frequente-
mente essas representações estão inseridas em uma visão filosófica da natureza e seus fenô-
menos, em que o ser humano aparece integrado à natureza.
Segundo Luz (2007, p. 13) “esses sistemas podem ser chamados de racionalidade médica 
quando trazem em si seis dimensões teórico/práticas complexamente estruturadas em ter-
mo de sentidos e significados, comparáveis termo a termo, ou globalmente. Tais dimensões 
são respectivamente: uma morfologia humana (entre nós ocidentais, concebida e definida 
como anatomia), uma dinâmica vital (entre nós conceituada como fisiologia), uma doutrina 
médica, que define e conceitua o que é doença, um sistema de diagnóstico, um sistema de 
intervenções terapêuticas e finalmente, uma cosmologia (ou, mais refinadamente, uma cos-
movisão ou cosmogonia)”. Entre essas racionalidades estão a Medicina Científica Ocidental, a 
Homeopatia, a Medicina Tradicional Chinesa, a Ayurveda e a Antroposofia.
Os gregos na Antiguidade, por exemplo, imaginaram o universo formado por quatro elemen-
tos: água, terra, fogo e ar, dotados de quatro qualidades correspondentes: frio, úmido, quen-
te e seco. Como vimos anteriormente, Hipócrates (século III a.C.) foi responsável por sistema-
tizar conceitos que se desenvolviam na Medicina grega, não mais atribuindo o aparecimento 
das doenças aos castigos dos deuses e falando em quatro humores, que seriam substâncias 
existentes no organismo e necessárias à manutenção da vida e da saúde. Esses humores se-
riam a fleuma, o sangue, a bile negra e a bile amarela e deveriam estar em equilíbrio no orga-
nismo para que houvesse saúde. 
 
A eles correspondiam quatro temperamentos, a saber: 
Fleumático (frio e úmido); 
Melancólico (frio e seco); 
Sanguíneo (quente e úmido); 
Colérico (quente e seco). 
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Dizia-se que em cada indivíduo quase sempre predominava um humor, que influenciaria sua 
personalidade. Quando esses humores estavam em desequilíbrio abriam-se brechas para 
a instalação das doenças, que eram predominantemente tratadas com plantas, muitas das 
quais são ainda hoje utilizadas. Por exemplo: o sene, o dente de leão e o tomilho. Esses con-
ceitos foram revistos e ampliados por Galeno, no século II d.C. e permearam a Medicina no 
ocidente por muitos séculos.
É interessante que você observe que na Filosofia Chinesa e Indiana também se fala de ele-
mentos da natureza e se enfatiza a relação entre o macrocosmo e o microcosmo. Nesse texto, 
você terá uma breve exposição de alguns desses sistemas, que visam mostrar que o uso de 
plantas pode seguir diferentes estratégias na busca pela saúde e harmonia. 
3.1 Ayurveda
A palavra indiana Ayurveda de ayur - vida - e veda - conhecimento - pode ser traduzida como 
o “conhecimento de como viver bem”, baseado em uma série de práticas para a manutenção 
da saúde e do bemestar. Há registros de textos ayurvédicos datados de 2500 a.C. Nesse siste-
ma, considera-se que enfermidades são desequilíbrios e, para manter e retornar ao equilíbrio, 
deve-se utilizar plantas medicinais, dietas, meditação, ioga, massagem, aromaterapia, trata-
mentos com pedras e metais.
A Ayurveda diz que tudo no universo é formado por cinco elementos: terra, água, fogo, ar e 
éter ou vazio. Na correspondência entre macro e microcosmo:
A terra corresponderia às partes sólidas do corpo; 
A água aos líquidos corporais;
O fogo ao calor animal;
O vento ao sopro vital;
O éter ao vazio da cavidade das vísceras.
São descritas três forças primordiais: Prana – o sopro da vida –, Agni– o espírito da luz – e 
Soma – a manifestação da harmonia e do amor. Os elementos se unem dois a dois, ativados 
pelo fogo digestivo, o Adni, para formar os três Doshas, que podem ser vistos como humores 
biológicos. São eles: Vata – formado pelos elementos éter e ar; Pitta – formado pelo elemento 
fogo e água; e Kapha – formado por água e terra, conforme a Figura 02. Considera-se que 
esses humores estão presentes nos seres e que a combinação entre eles determina as carac-
terísticas individuais.
Em uma apresen-
tação de slides 
desta Etapa 1, você 
encontrará os prin-
cipais conceitos 
do emprego das 
plantas medicinais 
no cuidade em 
saúde.
31
31
Figura 02 Relação entre elementos para a formação dos Doshas
Vata é como o vento: seco, leve, sutil e agitado. Vata movimenta o corpo e a mente e todos 
os outros doshas. As pessoas do tipo Vata costumam ter a pele fria e seca principalmente nas 
extremidades. Sentem muito frio, suam pouco, são ativas e dispersas. Vata em desarmonia 
leva a emagrecimento, astenia, aversão ao frio, tremores, constipação, alterações no sistema 
nervoso como ansiedade e depressão, tonteira, colite, gases e reumatismo. Para tratar esses 
desequilíbrios utilizam-se plantas tais como a angélica chinesa, a camomila, o jasmim, a mir-
ra, a rosa e a baunilha. Os alimentos devem ser bem cozidos e está indicado o uso de azeite e 
ghee (manteiga clarificada). 
Pitta é semelhante ao fogo: quente e leve. Pitta tem como característica a transformação. 
Regula o metabolismo e a temperatura do corpo. A pele tende a ser quente, suam muito e 
sentem muito calor. As pessoas tendem a ser impulsivas, intensas e apaixonadas. Pitta em 
desarmonia leva a olhos e pele amarelados, fome em excesso, sede aumentada, febre, sen-
sação de calor corporal, inflamações, infecções, azia e queimações. São utilizadas plantas re-
frescantes como coentro, bardana, aspargo e louro. Maçã e mel também são sugeridos.
Kafha é como a água ou lama: úmido, frio, pesado. É o dosha relacionado à estabilidade, 
lubrificando e dando base ao corpo. As pessoas com predomínio desse dosha tendem a ser 
calmas, românticas e choram facilmente. Kapha em desarmonia leva à fraqueza do sistema 
digestivo, palidez, calafrios, tosse com formação de mucosidades nos pulmões, sonolência, 
obesidade, hipoatividade das funções orgânicas, retenção de líquidos e edemas. Para tratar 
problemas de saúde relacionados ao desequilíbrio desse dosha são preconizadas plantas que 
aquecem, como a pimenta e a canela; amargas, como a babosa e a cúrcuma; e estimulantes 
que ajudam a melhorar os processos mentais, como noz-de-cola, gugulu e mirra. Sugere-se 
também a ingestão de alimentos quentes, leves e secos com sabores picantes, amargos e 
adstringentes e que se evite bebidas geladas.
Na Ayurveda, o diagnóstico de uma enfermidade é feito pensando-se na natureza da doen-
ça e na natureza da pessoa acometida pelo problema. O uso de plantas nesse sistema leva 
em consideração as características da planta tais como seu sabor, sua “potência de calor” 
(quente, fria, amornante, refrescante) e também suas ações farmacológicas. As plantas 
podem ser prescritas em infusões, em cápsulas, na alimentação e também junto com 
óleos para massagem.
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3.2 Medicina Tradicional Chinesa
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) se baseia na filosofia do Tao. O Tao é o princípio cósmi-
co que atua por trás de todas as coisas visíveis. Esse princípio se divide em Yin e Yang, duas 
forças opostas e distintas, mas com características complementares. Elas refletem os ciclos 
da natureza e suas contínuas mutações. Nada é totalmente Yin ou Yang e existe entre esses 
princípios uma relação de oposição, complementaridade, interdependência e transformação.
Consideramos Yang o Movimento, a Expiração, o Calor, o Dia e o Exterior; consideramos Yin a 
Quietude, a Inalação, o Frio, a Noite e o Interior. Um exemplo bastante utilizado para exempli-
ficar essa relação é o do ciclo diurno. O sol nasce no horizonte e vai subindo; ao meio-dia atin-
ge o ponto mais alto no céu e a partir daí começa a descer trazendo a tarde em direção à noite. 
Quando vem a noite, necessariamente começa a se engendrar o dia, chega a madrugada e 
o sol nasce de novo. Isso quer dizer, ao chegar ao auge de uma polaridade, inevitavelmente, 
haverá uma mudança. 
As partes do corpo consideradas mais Yin são o ventre e os membros inferiores, e entre os 
constituintes do organismo, o sangue e os líquidos corporais. São consideradas mais Yang o 
dorso, a parte superior, e o Chi.
Chi ou Qi (pronuncia-se “Tchi”) é um conceito fundamental da MTC e pode ser traduzido como 
energia ou força vital. É formado a partir de diversas energias recebidas pelo indivíduo: 
A energia ancestral herdada dos pais no momento da concepção; 
A energia adquirida proveniente dos alimentos e do ar através da respiração;
A energia defensiva produzida pelo organismo e que circula superficialmente.
O Chi permeia o corpo e circula em vias preferenciais, que são chamados de meridianos. Quan-
do ele se movimenta harmoniosamente temos saúde e quando há bloqueios ou deficiência 
podem aparecer incômodos e doenças.
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Figura 03 Forças Yin e Yang movimentando os cinco elementos da natureza
Essas duas forças darão origem aos cinco elementos (ou cinco movimentos) que simboli-
zam as transformações na natureza. Esses elementos são a madeira, o fogo, a terra, o metal 
e a água, que se inter-relacionam permanentemente em processos de geração, dominância 
e contra dominância, influenciando o fluxo de energia no corpo humano. Eles estão 
relacionados a estações do ano, sabores, emoções e partes do corpo, como você pode ver no 
Quadro 04 a seguir: 
Quadro 04 Relação dos elementos da natureza com os diferentes aspectos da vida humana e do 
meio ambiente
Cinco 
Elementos Órgãos
Madeira
Fogo
Terra
Metal
Água
Fígado
Coração
Pulmão
Rim
Vesícula
Biliar
Intestino
Delgado
Estômago
Intestino
Grosso
Bexiga
Olhos
Língua
Boca
Nariz
Ouvidos
Vísceras Órgãos Tecidos Emoção Som Direção Estação Clima Cor Gosto
Tendão
Vascular
Músculo
Pele/
Pelos
Osso
Raiva
Alegria
Pensamento
Medo
Preocupação
Grito
Riso
Canto
Choro
Gemido
Leste
Sul
Centro
Oeste
Norte
Primavera
Verão
Início e fim 
do verão
Outono
Inverno
Vento
Calor
Úmido
Seco
Frio
Verde
Vermelho
Amarelo
Branco
Preto
Azedo
Amargo
Doce
Salgado
Apimentado
Baço/
Pâncreas
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34
Conheça essas 
propriedades na 
apresentação de 
slides sobre o em-
prego de plantas 
medicinais no 
cuidado em saúde 
da Etapa 1.
A partir desse mapa, a Fitoterapia chinesa visa reestabelecer a saúde tonificando, sedando 
e desestagnando o fluxo de energia. Trabalha com combinações de plantas e suas fórmulas 
costumam ter numerosos componentes. Deve-se ter em mente que a farmacopeia chinesa é 
composta também de substâncias minerais e animais como, por exemplo, a concha de ostras, 
rica em cálcio. Para prescrever é necessário um bom diagnóstico feito através de interrogató-
rio, inspeção e semiologia do pulso e da língua. 
Por exemplo, se temos como diagnóstico pela MTC uma deficiência de sangue, o princípio 
de tratamento será tonificar o sangue. Uma das plantas indicada para isso é a Angelica 
sinensis L., uma planta doce e amornante. Se tivermos uma deficiência de Chi,devemos 
tonificá-lo e podemos usar o Panax ginseng C.A.Meyer, também com característica doce 
e levemente amargo. 
Dessa maneira, as propriedades organolépticas (características que podem ser percebidas pe-
los sentidos humanos)das plantas que serão indicadas têm muita importância. 
Como já visto, isso também se dá na Ayurveda. Por exemplo:
O sabor ácido harmoniza e movimenta, e para esse caso podemos sugerir a laranja-da-
terra (Citrus aurantium L.);
O sabor amargo é dito reagrupante e uma espécie que pode ser usada é o boldo (Coleus 
barbatus Benth.);
O sabor doce é tônico e suavizante, e um excelente exemplo é o alcaçuz (Glycyrrhiza 
glabra);
As plantas picantes são consideradas dispersantes e entre essas temos as pimentas 
(Capsicum longum A. DC.) e o alecrim (Rosmarinus officinalis L.); 
O sabor salgado é tido como tônico e os exemplos são as algas (Fucus vesiculosus L.) 
e a cavalinha (Equisetum arvensis L.);
São frias a hortelã (Mentha sp. L.) e o dente-de-leão (Taraxacum officinale Weber.);
São quentes o gengibre (Zingiber officinale Roscoe.) e a canela (Cinamommum cassia L.);
São amornantes o alho (Allium fistulosum L.) e a camomila (Matricaria chamomilla L.);
É refrescante a Salvia officinalis L., Mentha sp. L.;
São neutras a Ginkgo biloba L. e a Glycyrrhiza glabra. 
Perceba que a Medicina Tradicional Chinesa e a Ayurveda foram elaboradas e construídas ao 
longo de séculos por meio do conhecimento tradicional próprio de cada região. É interessante 
notar que, mesmo com grandes descobertas científicas na Medicina e na Química, sua aplica-
ção ainda tem lugar de destaque no tratamento de muitas patologias.
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3.3 Homeopatia
A Homeopatia foi elaborada no fim do século XVIII por Sammuel Hahneman, um médico ale-
mão. Hahneman estava insatisfeito com a medicina, pois observava que muitos dos trata-
mentos preconizados naquela época não só não melhoravam ou curavam a doença, como 
ainda, frequentemente, pioravam o doente e até mesmo levavam à morte. 
Pensando em um dos aforismos de Hipócrates - primo non nocere - ou seja, “em primeiro lu-
gar não prejudicar”, decidiu abandonar a prática clínica. Como era erudito e conhecia muitas 
línguas, começou a trabalhar traduzindo livros médicos e científicos. Em um desses trabalhos 
deparou-se com a descrição da quina (Cinchona officinalis), planta originária do Peru usada 
para tratamento de febres e malária, que, segundo relatos, agia produzindo um efeito contrá-
rio à febre. Hahneman, sem estar doente, experimentou o medicamento e observou o surgi-
mento de sintomas semelhantes aos da crise de malária. Ao parar de tomar o medicamento, 
os sintomas cessaram. A partir daí, iniciou uma pesquisa da ação dos medicamentos em indi-
víduos sãos, observando os sintomas físicos, emocionais e sutis que apareciam. 
Em 1796 publicou o “Ensaio sobre um novo princípio para descobrir as virtudes curativas das 
substâncias medicamentosas, seguido de alguns comentários a respeito dos princípios acei-
tos na época atual”. Algum tempo depois, passou a diluir e fazer sucussões nas substâncias 
visando potencializar a ação do medicamento e diminuir sua toxicidade. O medicamento as-
sim preparado foi usado para tratar doenças com sintomas semelhantes ao provocado pelo 
uso da substância que produz o sintoma no homem saudável. 
Segundo Hahneman, todo medicamento causa certa alteração no organismo por sua ação 
primária; a essa ação, o organismo reage com sua força de conservação, o que ele denomina 
de “ação secundária ou reação vital”.
Dessa forma os aforismos básicos da Homeopatia são:
Lei dos semelhantes (similia similibus curantur);
Experimentação na pessoa sadia;
Doses infinitesimais.
Na preparação dos medicamentos homeopáticos são usadas muitas plantas e também ani-
mais, venenos e minerais. O café (Coffea arabica L.), por exemplo, planta com atividade 
excitante no sistema nervoso quando dinamizada, é usado no tratamento de alguns tipos de 
insônia. A Arnica montana L. é usada para tratar dores causadas por traumas e pelo pós
-operatório; quando usada sem passar pela preparação homeopática, em doses excessivas, 
pode causar sangramentos. Algumas substâncias tóxicas, ao passarem pelo processo de 
preparo homeopático, podem ser utilizadas sem problemas, como por exemplo, a Atropa 
beladona L. ou o Mercúrio.
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3.4 Antroposofia aplicada à saúde
A Antroposofia, do grego Anthropos – homem – e Sofia – sabedoria – surgiu na Europa no 
início do século XX a partir de fundamentos desenvolvidos por Rudolf Steiner. É uma doutrina 
filosófica definida como ciência espiritual, que no ser humano leva em conta os aspectos físi-
co, etérico, anímico e espiritual e como essas forças atuam entre si. 
Para a Antroposofia, a substância física é uma condensação da substância espiritual não física 
e, portanto, um estado do ser espiritual. Pode ser aplicada aos campos da educação (peda-
gogia Waldorf), arquitetura, arte, agricultura (agricultura biodinâmica) e terapêutica. Com a 
participação da Dra. Ita Wegman esses conceitos foram aplicados à Medicina.
 
Na observação antroposófica, o ser humano é um organismo trimembrado, ou seja, possui 
cabeça, tronco e membros. Na cabeça encontra-se o sistema neurosensorial, relacionado ao 
pensar. No tórax, temos o coração e pulmões, órgãos responsáveis pelo sistema rítmico, re-
lacionado ao sentir. No abdome e nos membros, temos o sistema metabólico relacionado ao 
querer e agir.
 
O ser humano tem também quatro elementos constituintes, chama-se quadrimembração, e 
são eles: O Corpo físico ou Corpo denso, a estrutura sólida do organismo; o Corpo etéreo ou 
Corpo vital, que dá a vida e está presente em todos os organismos vivos; o Corpo astral ou 
Corpo anímico, relacionado ao sistema nervoso e à vida psíquica; e o Espírito ou Organização 
do Eu, relacionado com a capacidade de andar ereto, falar e pensar.
Os medicamentos antroposóficos são obtidos dos reinos mineral, vegetal e animal. Parte-se 
do princípio de que todos os processos que acontecem no organismo humano encontram na 
natureza um processo semelhante, e que cabe ao medicamento estimular as forças curativas 
do próprio organismo. 
 
A planta é vista como um ser polar, entre a flor e a raiz, entre o céu e a terra. Muitos dos me-
dicamentos antroposóficos são, assim como os homeopáticos, dinamizados, isto é, diluídos e 
agitados ritmicamente. Além desses, são utilizadas tinturas de plantas, extratos secos e plan-
tas para infusões.
A qualidade da substância a partir da qual será preparado o medicamento antroposófico é 
fundamental. No caso das plantas, o cuidado se inicia desde o plantio em cultivo biodinâmico 
ou orgânico. Visando ativar certos tipos de forças, em alguns casos, as plantas serão aduba-
das com um sal metálico e depois transformadas em adubos de novas semeaduras, processo 
repetido por três anos para aproximar esse metal da esfera orgânica e melhorar sua absorção 
e atuação terapêutica. Esses remédios são chamados de metais vegetabilizados. Temos como 
exemplo o dente-de-leão cultivado em presença de estanho (Taraxacum officinale Weber.) e a 
urtiga cultivada em presença de ferro (Urtica ferro culta L. ou Urtiga dioica L.). 
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Os conhecimentos vistos até aqui não estariam completos e nem poderiam ser apropriados 
pelo sistema público de saúde no Brasil sem o processo de implantação de uma política nacio-
nal para o uso de plantas medicinais e fitoterápicos que os regulamentasse. No tópico seguin-
te, você verá como se deu esse processo.
Quanto às afinidades das partes das plantas e os sistemas, é dito que: na raiz das plantas, 
acontece o processo de absorção de água e minerais. De maneira similar, na cabeça huma-
na absorvemos o mundo através dos sentidos. A partir desse raciocínio, algumas raízes são 
utilizadas no tratamento de questões ligadas ao polo neurosensorial, por exemplo, a raiz da 
valeriana (Valeriana officinalis L.) como sedativa e indutora do sono. 
Nas flores e frutos,

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