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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde Departamento de Medicina Veterinária Curso de Medicina Veterinária – Campus Praça da Liberdade Giovanna Oliveira Camargos Moreira Penna ENCEFALOMIELITE PROTOZOÁRIA EQUINA (SARCOCISTOSE) Belo Horizonte – 2020 Giovanna Oliveira Camargos Moreira Penna ENCEFALOMIELITE PROTOZOÁRIA EQUINA (SARCOCISTOSE) Belo Horizonte – 2020 Trabalho apresentado à disciplina de Doenças de Equídeos como parte do processo de avaliação. Orientador: Alvaro Mendes de Resende 1. INTRODUÇÃO A Mieloencefalite Protozoária Equina (EPM), também conhecida como Encefalomielite Protozoária Equina ou ainda Sarcocistose (se causada por Sarcocystis spp.) é uma efemeridade infecciosa, mas não contagiosa, endêmica nas américas, que acomete o sistema nervoso central (SNC) de equinos e asinos, causada principalmente pelo protozoário Sarcocystis neurona (S. neurona), mas pode ser causada também pelo Neospora caninun e o Neospora huguesi, todos pertencentes ao filo Apicomplexa e família Sarcocystidae. Ela é transmitida aos equídeos por via oro fecal de esporocistos oriundos dos dejetos de gambás (Didelphis virginiana e Didelphis albiventris), que são os hospedeiros definitivos. Eles se infectam ao comer a carne dos hospedeiros intermediários contendo cistos. Como possíveis hospedeiros intermediários os guaxinins, tatus, lontra do mar, aves, insetos e os felinos silvestres, que ao ingerirem agua ou alimentos contaminados com oocistos liberados nas fezes de gambás, ocorrerá o desenvolvimento de cistos na musculatura esquelética. Além disso, possuindo como hospedeiros intermediários acidentais os equinos, visto que não transmitem a doença para outros equinos, pois neles não se completa a esquizogonia, o protozoário permanece na forma de merozoítos não infectantes no tecido nervoso. A doença é de suma significância para equídeos, principalmente quando os danos são causados pela formação de cistos na medula espinhal, consequentemente com sinais clínicos neurológicos e prognostico desfavorável. Em suma, o principal fator de risco está associado com ares de ocorrência do hospedeiro definitivo e histórico de estresse. Esta infecção possui sinais clínicos variáveis, que dependem da localização do protozoário no SNC e suas lesões. Alguns sinais clínicos são a incoordenação motora assimétrica, fraqueza muscular, paralisia de nervos cranianos, atrofia muscular focal, diminuição da propriocepção, ataxia dos membros posteriores, paralisia de língua, disfagia, balançar de cabeça, decúbito agudo, pressão da cabeça contra obstáculos, tropeços, arrastar pinças, paresia, espasticidade em um ou dois membros, e paralisia e decúbito quando acomete os neurônios motores inferiores da medula espinhal. Os sinais clínicos podem ocorrer como resultado da ação direta do parasita no tecido nervoso ou aos danos secundários à resposta inflamatória, entretanto, alguns positivos podem não demonstrar sinais. A inflamação induzida pela infecção tem como características não ser supurativa, possuir processo degenerativo de necrose e hemorragias, acumulo de linfócitos, neutrófilos, eosinófilos e células granulosas compostas O diagnóstico da doença é realizado pelo histórico, sinais clínicos, localização da propriedade e exames laboratoriais. É feita a busca de anticorpos contra os a gentes, a partir de um exame minucioso do sistema nervoso, e é confirmado através do teste sorológico Western Blot (WR) do líquor cefalorraquidiano, baseado na detecção de anticorpos específicos de S. neuroma no LCR, possui cerca de 90% de especificidade e sensibilidade. Além do WR podem ser realizados ensaios de Imunoadsorção Enzimática (ELISAs) e Reação de Imuno Fluorescência Indireta (RIFI). Podem ser feitos também: hemograma e bioquímica sérica apenas para descartar outras doenças; Quociente de albumina (QA) que dosa a quantidade de albumina no liquidocefalorraquidiano (LCR), se há presença de QA indica que houve aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica, que indica a presença dos protozoários no SNC; Reação em cadeia da polimerase (PCR) que detecta o DNA do parasita. O tratamento consiste na administração de coccidioestático, anti-inflamatórios, vitaminas e analgésicos. Pode ser feita uma combinação de sulfa + trimetopim na dose de 15 a 20mg/kg administrado via oral TID, com dose de 20mg/kg via oral por 30 dias. Pode-se usar também pirimetamina na dose de 0,25 a 0,5mg/kg BID por via oral durante três dias consecutivos e depois pela mesma via e dose, uma vez ao dia. A doença ainda não possui um tratamento preventivo estabelecido. Entretanto, uma maneira eficaz de prevenção é restringir o acesso do alimento dos equinos pelos gambás. O primeiro caso notificado no Brasil foi relatado por BARROS et al. (1986), em um equino de 10 anos de idade, no sul do país. Além dele, MAIORKA et al., (1999); LUVIZOTTO et al., (2001) e BACCARIN et al., (2001), também relataram casos da doença no Brasil. Futuramente a doença foi relatada também por MASRI et al., (1992), que descreveram a presença de merozoítos de Sarcocystis neurona em cortes histopatológicos do SNC, que provavelmente provocaram sinais de ataxia e incoordenação de membros posteriores no animal vivo. 2. ETIOLOGIA E CICLO DE VIDA A Mieloencefalite protozoário Equina é uma doença infecciosa neurológica não contagiosa endêmica nas Américas, que possui como principal agente causador o Sarcocystis neurona, coccídeo do filo Apicomplexa, família Sarcocystidae. Este protozoário tem como como hospedeiros definitivos gambás (Didelphis virginiana e Didelphis albiventris), que eliminam oocistos contendo esporocistos do agente patológico em suas fezes e urina, infectando a água e alimentos de outros animais que se infectam ao ingerir estes conteúdos contaminados. Os gambás são marsupiais de hábitos noturnos e se alimentam de pequenos vertebrados, frutos e insetos. Eles são comuns a todo o Continente Americano, podendo ser encontrados no meio rural, florestas, banhados pastagens e vegetação arbustiva. Todavia, há um crescente desmatamento assolando seu habitat natural, por isso estes animais estão sendo obrigados a procurarem alimentos e abrigos em outros locais Figura 1: Sarcocystis neurona em área cinzenta no sistema nervoso central (SNC). http//www.vetmed.ucdavis.Edu.ceh.images.hr21.1epm cean.gif.ht habitados por humanos, como fazendas, haras, sítios, chácaras e cidades. Com isso ocorre um aumento no risco da disseminação de doenças e da contaminação dos alimentos dos animais e principalmente dos cavalos, que se tornam hospedeiros intermediários aberrantes. Os equinos adquirem a doença via oro fecal ao ingerir agua ou alimento infectado com esporocistos oriundos dos dejetos de gambás, que se infectam a partir da ingestão dos cistos do S. neurona contidos na musculatura dos hospedeiros intermediários, que sofreram esquizogonia, originando formas infectantes presentes na musculatura. Ademais, outros animais podem auxiliar na disseminação da doença atuando como hospedeiros intermediários. Entre eles podemos citar: aves, tatus, insetos, outros marsupiais, gatos, felinos silvestres. Podendo ser considerados hospedeiros de transporte. Os hospedeiros intermediários se infectam ao ingerirem agua ou alimentos contaminados com oocistos liberados nas fezes de gambás, com isso, o parasita se Figura 2: Didelphis albiventris.(http//:farm4.static.flickr.com) Figura 3:Didelphis virginiana. (http://images.google.com.br/images/imag) desenvolve em células do epitélio intestinal, destas serão liberados oocistos que infectaram outros animais e ocorrerá o desenvolvimento de cistos na musculatura esquelética. Os cavalos são classificados como hospedeiros intermediários acidentais ou aberrantes terminais, pois eles não são capazes de transmitir a doença para outros cavalos, visto que neles não ocorre esquizogonia completa, o protozoário permanece na forma de merozoítos. O s. neurona não pode ser transmitido horizontalmente entre cavalos e nem pode ser transmitido aos cavalos dos hospedeiros intermediários. Entretanto, foi observado em potros, antes da ingestão do colostro, a presença de anticorpos contra o S. neurona, sugerindo a possibilidade de transmissão vertical assim como uma possível correlação a resposta humoral das éguas com a não transmissão do parasito, mas ainda não há estudos suficientemente embasados para assegurar estas informações, visto que hoje em dia, estudos indicam que a transmissão transplantaria ou lactogênica do parasito é incomum. Estes animais se infectam acidentalmente quando ingerem alimentos contaminados com fezes dos gambás que possuem esporocistos infectantes. Em todas as espécies ocorre o desenvolvimento do parasita em células do epitélio intestinal, e destas serão liberados oocistos que infectarão os hospedeiros intermediários. Entretanto, quando os equinos ingerem os oocistos do ambiente, os esporozoítos atingem o trato intestinal, penetram nas células do epitélio atingem o sistema circulatório e se tornam merozoitos, ao invés de irem para a musculatura esquelética se dirigem preferencialmente para o SNC e em casos raros para a musculatura cardíaca, possuindo preferencialmente pelo tronco cerebral e a medula espinhal, onde tanto células neurais como células de infiltrados inflamatórios podem ser parasitadas por centenas de merozoítos. Todavia, são encontrados em equinos somente estágios assexuais do parasito Figura 4: Ciclo de vida do Sarcocystis neurona (http//: www.sarcocystis.life.cycle.jpg) Os parasitas do gênero Sacorcystis comumente completam o seu ciclo de vida em dois hospedeiros, o intermediário e o definitivo. Ao serem ingeridos pelos hospedeiros intermediários, os esporocistos rompem-se liberando esperozoitos infectantes que penetram na mucosa intestinal, são disseminados pelo sistema vascular e ultrapassam a barreira hematoencefálica, atingindo o SNC. Os esporozoitos desenvolvem-se intracelularmente nas células endoteliais dos capilares e em outros pequenos vasos, tornando-se multinucleados e transformando-se em esquizontes que produzem merozoítos. Após isso a célula hospedeira é rompida e os merozoítos são liberados no sangue do hospedeiro. Nas células endoteliais ocorre normalmente outro ciclo de desenvolvimento, gerando uma segunda geração de merozoítos. Após serem produzidos, a última geração de merozoítos penetra em células musculares esqueléticas e cardíacas para se transformar em sarcocístos (quisto muscular), contendo bradizoítos. Quando os equinos atuam como hospedeiros intermediários, os esquizontes e “sarcocistos” são os estágios encontrados em seus tecidos musculares, podendo haver presença não só de sarcocistos de S. neurona na musculatura, mas também esquizontes no cérebro. Os gambás, hospedeiros definitivos, se infectam ao ingerir a carne dos hospedeiros intermediários com sarcocistos contendo bradizoítos. Estes (bradizoítos), penetram na lâmina própria do trato intestinal e formam os estágios sexuados, os machos (microgametas) e as fêmeas (macrogametas). Por fim, o oocisto esporula no hospedeiro definitivo, produzindo dois esporocistos, cada um contendo quatro esporozoítos livres que são observados nas fezes do hospedeiro definitivo. Os esquizontes dispõem de núcleo lobulado, e nele serão divididos e surgirão os merozoítos. Dentro de uma única célula são encontrados vários esquizontes em diferentes estágios de desenvolvimento, e é exatamente tal desenvolvimento que irá causar os sinais clínicos. Geralmente, em equídeos, apenas os esquizontes e sarcocistos de S. neurona podem ser encontrados, produzindo elevado número de merozoitos, através de reprodução assexuada (esquizogonia). Estas células podem ser encontradas em células cardíacas e medula espinhal (predominância dos casos). 3. EPIDEMIOLOGIA A Mieloencefalite Protozoária Equina é uma enfermidade infecciosa, não contagiosa, que pode acometer equinos. Entretanto, estes não transmitem a infecção para outros equinos ou outras espécies de animais, já que o Sarcocystis neurona não completa a esquizogonia, permanecendo na forma de merozoítos não infectantes no tecido nervoso. A infecção ocorre quando o equino ingere comida ou alimento com oocistos contendo esporocistos de S. neurona, que ao entrarem no trato intestinal, penetram nas células do endotélio dos vasos e evoluem para merozoítos, que vão atravessar a barreira hematoencefálica e se alojar no SNC do animal. Atualmente, ainda não há pesquisas que comprovem a dose exata de ingestão de esporocistos de S. neurona para o desenvolvimento da doença devido a habilidade dos equinos em eliminar o parasita, contribuindo para uma baixa incidência da doença na população geral, menos de 1% da população de equinos. Essa eliminação do protozoário deve ocorrer devido ao elevado número de cavalos que apesar de neurologicamente normais, possuem anticorpos para S. neurona em seu líquido cérebro-espinhal. Por outro lado, há cavalos com lesões compatíveis com EPM, mas com ausência de protozoários em seu SNC. Além de cavalos, outros equídeos podem ser infectados pelo S. neurona, possuindo até 2 relatos da doença clínica em um pônei e uma zebra. Entretanto há uma baixa ocorrência de casos em outras espécies de equídeos se comparado aos notificados em cavalos, sugerindo discrepância a respeito da resistência à infecção. O período mínimo de incubação é de 8 semanas. A distribuição geográfica da EPM corresponde à dos hospedeiros definitivos, Didelphis virginiana e Didelphis albiventris, visto que os equinos se infectam com a ingestão de agua e alimentos contaminados pelas fezes do hospedeiro definitivo, contendo esporocistos do protozoário S. neurona. Os gambás se aproximam de áreas de criação habitadas por humanas, devido a abundante disponibilidade de alimento, por isso são importantes hábitos de higiene animal objetivando o controle da doença (constante limpeza das instalações, fornecimento regulado de ração, etc.). Saville et al. (2000a), explica que o risco de ocorrência da MPE reduz para um terço da probabilidade se os animais selvagens são impedidos de obter acesso a alimentação ou a água fornecida aos equinos. Ademais, este estudo apontou também que animais tratados periodicamente com anti-coccidianos têm 10 vezes menos probabilidade de desenvolvimento de sinais clínicos da MPE. Apenas a presença de gambás em um ambiente onde se cria equinos já aumenta o risco de ocorrência da doença em 2,5 vezes mais, e a presença de áreas com cobertura arbórea também é um fator de risco associado com a ocorrência da doença 2 vezes maior que em áreas não arborizadas, visto que gambás possuem preferência por áreas arborizadas A EPM é uma enfermidade endêmica das Américas, mas já foi descrito casos de EPM na Europa, África do Sul e Ásia em equinos importados do Continente Americano. Apesar dos gambás serem os únicos hospedeiros definitivos conhecidos para S. neurona, e serem encontrados apenas no Continente americano, alguns estudos evidenciaram a soro positividade em cavalos na França e Espanha. Com isso está sendo sugerido a presença de um outro hospedeiro definitivo ainda não elucidado, ou uma reação cruzada com outra espécie de Sarcocystis spp. Através de estudos sorológicos, pode ser concluído quehá diferentes graus de exposição dos equinos ao S. neurona de acordo com a região geográfica: na América do Sul há exposição em 35,6% e 35,5% dos animais estudados respectivamente, no Brasil e Argentina, demonstrando uma distribuição equivalente da doença pela América do Sul até então. No Brasil foram feitas pesquisas demonstrando a diferença prevalência de animais soropositivos conforme a região, em Roraima foi confirmado uma prevalência de 43,2% e por outro lado foi confirmado 8,75% no Rio de Janeiro. Entretanto, apesar da presença de soropositivos, apenas uma minoria apresenta sinais clínicos pela doença, e alguns conseguem eliminar o parasita sem que necessite de tratamento. Nos Estados Unidos a soro prevalência para S. neurona (número de animais que possuem anticorpos e, portanto, já entraram em contato com o agente etiológico) varia de 15 a 89%, de acordo com a região geográfica e a estação climática. Em uma pesquisa com dados post- mortem de 10 centros nos Estados Unidos e Canadá mostrou que em 364, a maioria dos casos de EPM (61,8%) ocorreu em cavalos com 4 anos de idade ou menos, e apenas 19,8% foram cavalos com idade acima de oito anos. Entretanto, são considerados animais com maior risco de ocorrência da MPE atualmente, animais que estão entre 1-5 anos de idade e acima de 13 anos de idade. Como principais fatores de risco associados com a prevalência da EPM podemos citar: idade (A faixa etária dos animais susceptíveis pode variar de 2 meses a vinte e 24, com maior prevalência em cavalos com até 4 anos), proximidade geográfica com o habitat do hospedeiro definitivo, tipo de instalação que o animal se encontra, ecologia regional, histórico de estresse recente e sua relação com imunossupressão (transporte, treinamento intenso, lesões, participação em corridas, cirurgias, pós-partos, etc.) e fatores sazonais (apenas as estações do ano e o estado corpóreo dos gambás são fatores de risco associados com a presença de esporocistos). É relatado que cavalos atletas possuem uma maior probabilidade de adquirir a doença comparados com cavalos utilizados para lazer, pois esses animais estão mais sujeitos a viagens e estresses constantes. Em contrapartida não há predileção por sexo e apesar de parecer não existir preferência por raça, as raças Thoroughbreds, Standardbreds e Quarto de Milha apresentam os maiores percentuais dos casos quando comparadas as demais raças. Estudos relataram que há uma tendência sazonal na incidência de equinos soropositivos. No inverno há uma diminuição do soro prevalência de EPM, como relatado na américa do Norte, pois há um menor acesso a comida pelos gambás e redução de esporocistos viáveis no ambiente. Contudo nas estações de primavera e verão a taxa de soropositivos é 3 vezes maior e no outono chega a ser 6 vezes maior, sendo, portanto, a estação com maior ocorrência. A sazonalidade está relacionada diretamente com a biologia dos gambás, pois as espécies de Didelphis possuem uma menor atividade no inverno, podendo até entrar em estado de hipobiose (hibernação) e deste modo dispersando uma menor quantidade de oocistos no ambiente. Já nos meses de primavera e verão a taxa de atividade das espécies de Didelphis aumenta, até a chegada do outono, onde ingerem uma elevada quantidade de alimento, para construir uma boa reserva energética para o inverno seguinte, e consequentemente defecam mais oocistos no ambiente. Figura 5: Áreas com ocorrência de EPM. (http://www.bayerequineconnection.com/images/epm2.jpg) 4. PATOGENESE A Mieloencefalite Protozoária Equina (EPM) é uma doença progressiva debilitante que acomete o SNC dos equinos. Após 3 semanas desde a infecção os merozoítos e esquizontes do S. neurona já se encontram no SNC contidos em células mononucleares, neurônios, células da glia e pode talvez ser encontrado em outras células neurais, multiplicando-se em seu interior. Foram realizados estudos com genes e interferon gama em ratos geneticamente modificados que foram alimentados com esporocistos de S. neurona, e nesse estudo foi indicado que o protozoário se multiplica apenas nos tecidos viscerais inicialmente, depois são transportados, no interior de leucócitos, para o SNC do animal, escapando do sistema imune do hospedeiro e prosseguindo seu processo de multiplicação. Através de estudos antigênicos e genéticos isolados de S. neurona, foi demonstrado a existência de variações, ou seja, insinua a existência de cepas mais virulentas que outras e capazes de desenvolver os quadros neurológicos. Ao penetrar e infectar estas células do SNC, os esquizontes se multiplicam no seu interior produzindo inflamação não purulenta com um acumulo de células inflamatórias (eosinófilos, linfócitos e neutrófilos) que migram para o local, que provoca várias alterações na função neurológica normal do animal, gerando sinais clínicos variáveis, que dependem da localização do protozoário no SNC e das lesões causadas. Se a área parasitada foi por exemplo, o cérebro pode gerar depressão, convulsões e alterações comportamentais. Já se a localização e lesão do parasita envolver o tronco encefálico (área mais acometida) e medula espinhal (área com mais lesões visíveis), podem ocorrer alterações locomotoras, incoordenação motora assimétrica devido o envolvimento tanto dos tratos ascendentes quanto dos descendentes, e uma abundância de outros sinais clínicos neurológicos se o dano causado se localizar nos núcleos dos nervos cranianos. Figura 6: Cavalo com incoordenação motora. (http: www.vetmed.ucdavis.Edu.ceh.images.) As lesões se dividem em agudas, subagudas e crônicas. As agudas macroscópicas constituem em focos aleatórios de hemorragias multifocais, por outro lado, nas lesões crônicas e subagudas são mais perceptíveis áreas de descoloração que variam de claras e escuras com focos de malacia. Já microscopicamente, as lesões que predominam são as áreas multifocais para áreas aglutinantes de hemorragia, inflamação não purulenta com focos de necrose e acumulo visível de células mononucleares, principalmente nas meninges. Apesar da área do SNC mais acometida ser o tronco cerebral, a área onde se observa mais lesões é na medula, contudo é muito raro o animal apresentar alterações em abas as estruturas. Embora todos os equinos estejam susceptíveis a infecção por S. neurona, alguns apresentam soro positividade com anticorpos para S. neurona e mesmo assim não apresentam a doença clínica, ou seja, nem todos os animais que portam o parasita vão obrigatoriamente apresentar sintomatologia clínica e infelizmente ainda não foi elucidado através dos conhecimentos científicos atuais a maneira que a doença evolui de um estado assintomático para um quadro neurológico severo, dificultando, assim não só o diagnóstico, mas também o controle, tratamento e prevenção da doença. Entretanto já foram descobertos fatores de risco associados com a doença, como a idade e provavelmente histórico de estresse recente (transporte, treinamento intenso, lesões, etc.) podem levar a uma imunossupressão culminando em danos neurológicos severos com a deterioração do estado clinico. Por outro lado, foram realizados experimentos onde se objetivou a imunossupressão em equinos infectados pelo S. neurona através do uso de drogas imunossupressoras, como corticoides ou correlacionando a indução de estresse de um segundo transporte (após um período de descanso), e não foi observado o agravamento do estado clinico. Já outro pesquisador relatou que houve uma maior exacerbação dos sinais clínicos em animais que foram expostos ao estrese de primeiro transporte (submetidos a exposição do agente logo após a viagem), todavia foi observado uma apresentação de sinais clínicos mais brandos em animais submetidos ao uso de corticoides. A alteração de virulênciapode ser causada também pela variação antigênica do S. neurona, dependendo da sua estrutura genética. Entretanto é apenas uma hipótese, visto que esta informação deriva de um estudo realizado em animais marinhos parasitados por Sarcocystis spp, onde se observava a variação antigênica dos parasitas nestes animais, não podendo ser correlacionado com a variação que ocorre em equinos ainda. 5. SINAIS CLINICOS Os sinais clínicos de EPM apresentados possuem elevada variabilidade, dependendo não só da área do SNC parasitada pelo parasita e formação de cistos (cérebro, cerebelo ou ainda medula espinhal), podendo acometer mais que um local, mas também dos danos secundários provocados pela resposta inflamatória e da gravidade das lesões provocadas pelo Sarcocystis neurona. E a taxa de sobrevivência destes animais acometidos depende também da severidade das lesões e consequentes sinais clínicos, que quanto mais severos, maior a probabilidade de debilitar o animal ao ponto de entrar em decúbito permanente, sendo necessária a eutanásia. No exame físico a maioria dos animais, mesmo portando MPE e com quadro neurológico instalado, não apresentam alterações nos sinais vitais se mostrando alertas e dispostos, contudo, alguns equinos podem apresentar magreza e uma branda depressão. Todavia, alguns animais podem apresentar sinais clínicos gerais, como: paralisia de nervos cranianos, diminuição da propriocepção, ataxia dos membros posteriores, paralisia de língua, disfagia, balançar de cabeça, decúbito agudo, pressão da cabeça contra obstáculos, paresia, e paralisia e decúbito quando acomete os neurônios motores inferiores da medula espinhal. E, apesar de incomum, animais com EPM podem apresentar perda de peso. A apresentação clássica da doença é incoordenação motora assimétrica, atrofia muscular focal, diminuição proprioceptiva e paresia, geralmente mais graves nos membros posteriores. Alguns sinais deixam o animal com impressão de perda de equilíbrio, como incoordenação motora assimétrica, fraqueza muscular, arrastar pinças no solo ao caminhar, tropeçar no solo ou em objetos, espasticidade em um ou dois membros (aumento do tônus muscular no momento da contração, causado por condição neurológica anormal) e atrofia muscular focal do lado acometido pela lesão, levando o animal a usar a parede da baia para equilibrar-se. A localização das lesões pode ser um desafio visto que inúmeros segmentos do encéfalo e/ou da medula espinhal podem estar simultaneamente envolvidos. Se o animal for acometido com lesões no tronco encefálico e medula espinhal, eles podem apresentar alterações locomotoras, de marcha e incoordenação motora com movimentos de lateralização, que são piorados quando o animal anda em círculo, para trás, com a cabeça erguida ou quando sobe e desce rampas, havendo grande variabilidade e dependendo da gravidade a localização da lesão. Já se houver lesão no cérebro, pode gerar depressão, convulsão, alterações comportamentais (inclinação da cabeça), paralisia do nervo facial, dificuldade de deglutição, e pode até evoluir para convulsões. A infecção pode causar também alterações encefálicas que podem afetar todos e qualquer núcleo dos nervos cranianos. Dentre as principais anormalidades correlacionadas as lesões ocorridas nos nervos cranianos, podemos citar: perda de sensibilidade na córnea e nas narinas, ataxia vestibular, paralisia do nervo facial, atrofia de masseter, desvio de cabeça, atrofia e ou paralisia de língua, disfagia e balançar compulsivo da cabeça. Todavia, provavelmente os sinais clínicos que serão observados serão somente andar em círculos, decúbito agudo, pressionar a cabeça contra obstáculos. Se a lesão for localizada no neurônio motor inferior da medula espinhal ocorre o decúbito, atrofia dos músculos quadríceps e glúteo e paresia do equino. Por outro lado, se a lesão ocorrer na medula sacral, pode ser visualizada a paresia da cauda ou síndrome da cauda equina, e incontinência urinária e anal. Outra causa para a variabilidade de sinais a ser considerada seria a capacidade do parasita em infectar aleatoriamente ambas as substancias branca e cinza no SNC em múltiplos locais no SNC, causando de geralmente tropeços e descoordenações frequentes com alternância de membros (“trançar de pernas”). Devido a isso, os primeiros sinais da doença podem ser facilmente confundidos com apenas uma claudicação de origem musculoesquelética. A massa cinzenta é responsável por inervar a musculatura esquelética, então quando é acometida pode causar fraqueza severa e atrofia muscular focal, principalmente dos músculos temporais, glúteo e quadríceps. Por outro lado, a substancia branca é o tecido responsável pelo transporte de mensagens entre as diferentes áreas da substancia cinzenta dentro do sistema nervoso, e quando é afetada sinais como ataxia, paresia e fraqueza dos membros caudais ao local da lesão são manifestados. A evolução do quadro clínico costuma variar de aguda a crônica, podendo estabilizar por um tempo, normalmente possuindo progressão gradual. Porém, em alguns casos pode haver uma exacerbação súbita e uma rápida progressão de alterações mais brandas para sinais clínicos mais graves, e podendo apresentar sinais focais ou multifocais de patologias neurológicas que envolvem o cérebro, tronco encefálico ou medula espinhal. Resultando em decúbito. Alguns equinos podem até chegar a apresentar uma discreta melhora, todavia os sintomas podem serem agravados posteriormente. Após a infecção, a afecção leva de duas semanas a dois anos para se desenvolver e os equinos começarem os primeiros sinais clínicos. Em um primeiro momento os animais podem apresentar alguns sintomas atípicos como déficit das funções das vias aéreas superiores, deslocamento do palato mole, respiração ruidosa, hemiplegia laringeana, claudicações discretas ou atípicas. Além disso, podem apresentar sinais como disfagia, funcionamento anormal do sistema respiratório, claudicação e até convulsões. Na medida que há o agravamento progressivo da doença, o equino pode apresentar disfagia, depressão severa, febre, decúbito ou dificuldade para levantar ou ficar em pé, dificuldade para deglutir e caminhar, insensibilidade da cabeça e pescoço e até morte. Mas se feito o exame neurológico, os sintomas mais vistos são ataxia assimétrica, fraqueza muscular, espasticidade envolvendo os quatro membros, áreas de hipoalgesia, hiporreflexia, hiperalgesia ou perda sensorial completa. Sendo que o ultimo estagio da doença ocorre quando o animal se torna incapaz de se locomover e se encontra em decúbito permanente. O andar assimétrico com atrofia muscular focal pode ajudar a diferenciar EPM de outras afecções neurológicas. Após o tratamento, se o animal portou apenas leves alterações neurológicas há uma provável melhora após o tratamento (74%). Por outro lado, animais que apresentam alterações neurológicas moderadas possuem apenas 58% de chance de melhora, seguido pelos animais com severas alterações com 50% de melhora. Figura 7: Cavalo apresentando atrofia do musculo glúteo (Howen et al. (2014) 6. DIAGNOSTICO Das muitas desordens neurológicas que afetam os equinos, a EPM é a afecção neurológica mais comumente diagnosticada. Seu diagnóstico deve ser baseado no histórico, nos sinais clínicos e principalmente neurológicos, nos resultados de exames físicos e neurológicos, localização anatômica da lesão, métodos de imunodiagnóstico, resposta a terapia, na evolução do caso clínico e exclusão de outras doenças. Sendo que quanto mais cedo forem detectados os sinais clínicos, maiores as chances de o animal obter um prognóstico mais favorável, pois ele terá um acesso mais rápido ao tratamento e maiores chances de recuperação. Devem ser realizados exames neurológicos completos, procurando por indícios de EPM, comoa assimetria de marcha e atrofia muscular focal, em animais que apresentam sintomatologia neuronal e habitam áreas habitados pelo Didelphis spp. Ao tentar realizar o diagnóstico clinico e levantar suspeitas, deve-se basear nos sinais neurológicos que apesar de poderem aparecer em outras afecções, deve –se tentar focar em sinais característicos a EPM, como sinais de atrofia de diferentes grupos musculares e a perda da coordenação motora, principalmente dos membros posteriores. Devem também serem realizados exames laboratoriais como a Reação de Imuno fluorescência Indireta e Western Blot para eliminar hipóteses, confirmando ou excluindo suspeitas. Entretanto, o diagnóstico mais preciso é o realizado no post- mortem, onde pode-se visualizar evidentes lesões no SNC - Análises sanguíneas e do líquido cefalorraquidiano (LCR) Apesar da EPM não causar alterações consistentes no hemograma (não apresentando alterações nas células sanguíneas, das séries vermelha e branca) ou bioquímica sérica, podem ser visualizadas anormalidades inespecíficas como hiperfibrinogenemia, linfopenia, elevações na bilirrubina sérica, ureia e enzimas Figura 8: Cavalo com alteração de marcha (Dubey et al., 2015) teciduais, possivelmente relacionadas com estresse, terapia com corticoides, traumas, anorexia e danos musculares. Não são causadas também alterações significativas no líquido cefalorraquidiano ou LCR (não são vistas modificações em sua composição, alteração da coloração, celularidade, turbidez, proteína, enzimas, glicose e eletrólitos, nem a presença de merozoitos). Contudo, podem ocorrer elevações na proteína total, pleocitose mononuclear e aumento da atividade da creatinafosfoquinase. Ademais, na maioria dos casos suspeitos de EPM, a colheita de LCR e pesquisa de anticorpos contra S. neurona é essencial para confirmar o diagnóstico ante-mortem e descartar outros, através do diagnóstico diferencial pois, sua análise físico química permite verificar a presença de anticorpos específicos anti-S. neurona presentes do sangue. Diferenciando se a doença neurológica é infecciosa ou não. A contaminação iatrogênica durante a coleta do LCR é comum e, atualmente, a contagem de hemácias é o método de escolha para avaliar a contaminação da amostra de LCR com anticorpos séricos do sangue. Todavia ao pesquisar por anticorpos contra S. neurona no teste “Western blot”, não se deve trabalhar com amostras que possuem mais de 50 hemácias/L, pois valores de contaminação superiores a este e o elevado número de soropositivos para EPM assintomáticos podem provocar falsos-positivos. A coleta do LCR é feita no espaço atlanto-occipital e lombo-sacro, todavia o lombo-sacro é mais utilizado para o processo de coleta, visto que é mais fácil devido a contenção do animal em quadrupedal. Ademais, a maioria dos equinos que portam EPM apresentam lesões caudais ao espaço atlanto-occipital. Por fim, se não são encontrados anticorpos no LCR, mesmo com contaminação com sangue, o EPM é excluído como causa da enfermidade neurológica. Mas se são detectados anticorpos contra o S. neurona no LCR de equinos portadores de incoordenação motoras, o diagnóstico de EPM é confirmado. - Quociente de albumina (QA) Ao avaliar uma amostra qualitativa de LCR é interessante uma proporção de albumina no próprio LCR e soro. Esta proteína é encontrada em abundância no soro, todavia não é produzida no LCR e sua presença decorre do escape da proteína da circulação geral. Para avaliarmos a integridade da barreira hematoencefálica devemos comparar e avaliar a concentração total de albumina no LCR e o QA, estabelecendo uma variação normal. Se a alguma dessas variáveis ou ambas estão elevadas, ou seja, >2.2, indica o aumento na permeabilidade da barreira hematoencefálica ou contaminação iatrogênica da amostra sanguínea. Ademais, outro indicador da integridade da barreira hematoencefálica é a concentração total de igG no LCR e no soro quando usada em conjunto com o QA, avaliando também a produção de igG intratecal. Mas a sensibilidade desse teste é questionada, pois os resultados sem limites normais precisam ser interpretados com cautela - Immunoblot (Western blot) Quando há suspeita de um diagnóstico clinico, ela pode ser rapidamente confirmada por este exame. Entretanto, apesar do rápido diagnóstico contribuir para a diminuição dos problemas neurais e sinais clínicos quando ainda feito na fase aguda, ele se torna ineficaz se o animal já está na fase crônica O teste de Western blot atua detectando a presença de anticorpos antiproteína específicos para o S. neurona no LCR ou no soro, sem apresentar reação cruzada com outros protozoários, em equinos portadores de incoordenação motora após outras enfermidades neurológicas ou osteomusculares tenham sido excluídas. O teste possui uma especificidade e sensibilidade de aproximadamente 89%. Ou seja, se é testado um LCR positivo para S. neurona através do Immunoblot, ele destaca a presença dos anticorpos produzidos em resposta ao parasita, o que indica a presença do mesmo no tecido nervoso do animal. - Reação em cadeia da polimerase (PCR) O teste de da reação em cadeia da polimerase (PCR) do líquido cefalorraquidiano (LCR) é especifica e possibilita a demonstração de estruturas do DNA do parasito, confirmando ou não se há a presença do S. neurona no material coletado. Entretanto, a sensibilidade do da PCR para a EPM é relativamente baixa, devido a não presença dos merozoitos no LCR, a escassez de DNA no mesmo e as estruturas do DNA livre do parasita poderem ser rapidamente destruídas por ação de enzimas presentes no LCR. Ainda assim, o teste PCR pode ser usado em adjunto para o diagnóstico de EPM em casos seletivos. - Imunoistoquímica (IHQ) Os testes imunoistoquímicos possuem o objetivo de detectar antígenos e podem distinguir o S. neurona de outros parasitos, sendo importante o uso de soro especifico para S. neurona. - Biomarcadores genéticos Em 2005, foi realizado um experimento por Eastman et al., onde foram estudados biomarcadores genéticos (que não foram especificados pelos autores) em leucócitos no sangue periférico de cavalos, podendo oferecer informações cerca do estágio da doença e prognostico antes mesmo dos sinais clínicos se evidenciarem. Foram observados e tabulados genes que se mostraram diferentes em animais portadores e não portadores de sintomas de EPM, formando uma base para um marcador genético da doença. Apesar de os resultados não terem sidos estudados em casos crônicos, foi apresentada boa especificidade e sensibilidade nos estados agudos da doença. 6.1 DIAGNÓSTICO POST- MORTEM Este tipo de diagnóstico é feito através do isolamento do parasito nas lesões do SNC, entretanto pode-se não encontrar o S. neurona devido o tratamento prévio com antiprotozoarios pelo qual o hospedeiro passou 6.2 DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS A EPM pode ser confundida com outras enfermidades por produzir distúrbios neurológicos semelhantes. Os principais diagnósticos diferencias da EPM são: a Mielopatia Estenótica Vertebral Cervical (MEVC), mieloencefalopatia degenerativa equina, Doença Neurológica Motora Equina, mieloencefalopatia com neurite/vasculite causada pelo Herpes vírus equino do tipo 1 (EHV-1) e trauma. 7. TRATAMENTO O tratamento para EPM deve ser iniciado o mais rápido possível assim que o animal apresentar sinais neurológicos reconhecidos, sendo suspeito para a doença, podendo possuir um sucesso de até 75%. Se o animal apresentou sintomatologia leve, ele provavelmente vai se recuperar após o tratamento (74%). Por outro lado, animais que apresentam alterações neurológicas moderadas possuem apenas 58% de chance de melhora, seguido pelos animais com severas alterações com 50% de melhora O tratamento é feito com a administração de vitaminas, antiinflamatórios,coccidioestáticos e analgésicos. Com o objetivo de eliminar o S. neurona e diminuir a reação inflamatória causada pelo mesmo: Como alguns tratamentos aprovados e recomendados para a EPM, podemos destacar: a) Pode ser feita uma combinação de sulfa + trimetopim na dose de 15 a 20mg/kg administrado via oral TID, com dose de 20mg/kg via oral por 30 dias. Mas o mais comum ainda é composto pelo uso de inibidores da diidrofolato redutase que atuam realizando o bloqueio sequencial do metabolismo do ácido fólico e sua conversão em tetrahidrofolato, que é o precursor da proteína para formação do DNA do protozoário. A primeira alternativa terapêutica é o uso de antimicrobianos específicos como a pirimetamina (1,0mg/kg, VO, SID) por 5 a 7 dias com sulfadiazina (20mg/Kg, VO, BID) por 4 a 6 meses, sendo determinada pela melhora dos sinais clínicos e pela ausência de anticorpos anti-S. neurona no LCR. Pode-se utilizar também apenas pirimetamina na dose de 0,25 a 0,5mg/kg BID por via oral durante 3 dias consecutivos. Passados esses 3 primeiros dias, a administração deve passar para SID, por no mínimo 30 dias, podendo se estender por até 90 dias. A pirimetamina atua impedindo a multiplicação do S. neurona ao impossibilitar a utilização do ácido fólico, porém atrapalha também a utilização do ácido pelas células sanguíneas, podendo gerar supressão medular, com neutropenia, anemia e trombocitopenia, defeitos congênitos e até redução da performance reprodutiva de garanhôes. Visto isso deve ser feito o acompanhamento regular, a cada 2 a 4 semanas, do hemograma de todos os equinos que estão sendo tratados, se atentando para o desenvolvimento de leucopenia, que no caso deve haver redução da terapia ou o seu interrompimento. Todavia, foi registrado resistência do S. neurona frente a primetamina na ausência de sulfas, por isso o tratamento deve ser utilizado apenas se o animal estiver manifestando sinais clínicos e o LCR for positivo. Além disso, o tratamento gera alguns efeitos adversos, principalmente com a dose de pirimetamina duplicada, como diarreia, anemia e/ou leucopenia. Se possível, deve-se evitar trimetoprim à toxicidade da pirimetamina, podendo gerar diarreias, anemias e/ou leucopenia e em alguns equinos. Ademais, não é aconselhável o uso de ambos os medicamentos no tratamento de fêmeas gestantes, visto que podem causar deformidades congênitas no feto. E devido aos efeitos colaterais causados pela terapia prolongada com inibidores de folato, pode ser feita uma suplementação dietética com ácido fólico (20 a 40 mg/kg, VO) ou 75 mg como dose total (IM, SID) a cada 3 dias. Porém este não deve ser usado em éguas gestantes, visto que pode gerar defeitos teratogênicos em potros. b) Mais uma proposta de tratamento é administração de ponozuril (de 5 - 10 mg/kg, VO, SID) ou de diclazuril (1 a 2,5 mg/kg, VO, BID), por no mínimo 28 dias. O ponazuril pode ser encontrado na forma de pasta oral. Ele é um metabólito sulfonado do toltrazuril, anti-coccídio que atua em vários estágios do ciclo de vida do parasita. Ademais, ele possui boa atividade in vitro contra o S. neurona. O fármaco é capaz de atravessar a barreira hemato-encefálica, por difusão passiva, chegando no SNC e matando o protozoário. O fármaco está disponível no Brasil através apenas de importação. Durante ou após o termino do tratamento, aproximadamente 76% dos cavalos demonstraram melhora clínica, o que sugere uma resolução da infecção ou persistência da droga no LCR. Para asinos que não demonstram melhoras após o primeiro tratamento pode-se administrar diclazuril (5,6mg/kg, VO, SID) ou toltrazuril (10mg/kg, VO, SID) por 28 dias. O diclazuril é um coccidiostático derivado trianzínico que apresenta propriedades anti- S. neurona em culturas celulares que atua inibindo as últimas fases de diferenciação celular promovendo a morte do agente primário da S. neurona. Por isso atualmente é usado para tratar equinos que não respondem à terapia tradicional ou que desenvolveram complicações. Já o toltrazuril altera metabolismo e divisão celular do agente. Outra opção de tratamento para equinos que não possuem boa resposta frente ao tratamento tradicional é a administração de dois fármacos coccidiostáticos do grupo benzeno acetonitrila, o diclazuril (5,6mg/kg, VO, SID) ou toltrazuril (10mg/kg, VO, SID), por no mínimo 28 dias. O primeiro possui rápida absorção, pode ser encontrado no soro até uma hora após o tratamento, consegue eliminar os estágios primários do S. neurona, sendo útil na profilaxia do EPM, e alguns estudos da efemeridade indicam que 70% dos animais tratados com esse fármaco apresentaram melhora clínica seis meses após o término da terapia. Já o segundo é um derivado triazínico que pode ser amplamente utilizado em diversas espécies, possuindo mecanismo de ação que desestabiliza o metabolismo do parasita e sua divisão celular e com isso constitui uma alternativa terapêutica de alta eficácia boa absorção oral e no LCR, razoável tempo de eliminação (48-72h) e boa solubilidade lipídica. Seu uso não tem demonstrado elevações na bioquímica sérica ou anormalidades hematológicas. Recomenda-se como tratamento suplementar, vitamina E, ácido fólico e tiamina (B1). A vitamina E (8000 UI/dia) possui atividade antioxidante, resultando em propriedades anti-inflamatórias se se encontra em altas concentrações no sistema nervoso central. Todavia, ao administrar ácido fólico em equinos podem ser gerados 2 problemas: este ácido possui má absorção no trato intestinal e a conversão do folato para a forma ativa de tetrahidrofolato requer dihidrofolato redutase, porem ele é inibido pelas drogas do tratamento. Como outra alternativa de tratamento, existe outro fármaco anti-coccídeo que pode ser usado, possuindo bons resultados clínicos, o panozuril (toltrazuril sulfona). Podendo também utilizar o nitazoxanide (NTZ), que possui amplo espectro contra bactérias, protozoários e helmintos, provocando a morte de culturas celulares de S. neurona. O tratamento deve ser feito na dose de 25mg/kg/dia, VO, SID, durante os sete primeiros dias. Terminado os primeiros dias deve-se aumentar a dose para 50mg/kg/dia até completar 30 dias. A duração do tratamento pode variar de 28 a 120 dias e deve ser realizado enquanto o LCR for positivo e/ou os animais estiverem demonstrando sinais clínicos. Estudos indicam que este tratamento promove uma melhora clínica em 63 a 86% dos cavalos tratados. Todavia, estas drogas não estão disponíveis no Brasil. Pode ser administrado também a dexametazona (0,1 mg/kg, IV ou IM, SID), entretanto ela só deve ser usada em pacientes que estejam em decúbito, pois se utilizada de maneira prolongada, favorece a proliferação do protozoário. Além destes tratamentos explicados acima, devem ser realizados também tratamentos suporte, especialmente fluidoterapia IV, com solução fisiológica. A sua administração dependerá do estado físico geral do animal, do grau de desidratação do animal. Deve também ser feito como tratamento suporte no período inicial do tratamento o uso de fluidoterapia de anti-inflamatórios não esteroidais (AINES), principalmente quando são utilizadas drogas que matam o protozoário, visto que em alguns animais, isto pode acarretar piora do processo inflamatório no tecido nervoso, piorando o estado clinico do paciente. São utilizados anti-inflamatórios, pois a EPM possui como característica marcante seu aspecto inflamatório. Esta terapia pode ser usada durante um curto espaço de tempo para animais severamente infectados. Pode-se usar o flunixin meglumine na dose de 1,1mg/kg, IM, SID; IV e BID; ou SC por no máximo 4 dias, para controlar o processo inflamatório do sistema nervoso centralredutase. Ou fenilbutazona (4,4mg/kg, IV ou VO, BID), por 3 a 7 dias, assim como a adição de DMSO 1g/kg em 10% de solução (IV ou VO). Ou dimetilsulfóxido (1g/kg diluído em solução 10%e aplicado lentamente via IV, SID), por até cinco dias, podendo melhorar temporariamente os sinais observados Outra terapia de suporte que tem sido utilizada com sucesso é o uso de levamisole e outros imunomoduladores. Muitos equinos podem continuar com resultados positivos por vários meses após a morte do protozoário, por isso se há a persistência clínica da doença, deve-se fazer a reavaliação da terapia a cada trinta dias, visto que no Brasil não há vacina contra EPM. Entretanto, no tratamento deve-se evitar o uso de antifolatos e corticosteroides, uma vez que eles podem resultar em falos- negativo para a doença em tratamentos anteriores ao diagnóstico definitivo e provocam a imunossupressão. Ademais, pode ocorrer um agravamento do quadro do equino (suspeito para EPM) com o uso excessivo dos corticoesteróides. Todavia, pode ser administrado em poucas doses para auxiliar na redução dos efeitos da inflamação caso haja uma progressão da sintomatologia clinica muito rápida. Como uma medida de caráter geral para todos os animais, o cavalo deve ser mantido em uma baia ampla, arejada e com cama alta (caso o animal entre em decúbito lateral) e de boa qualidade. Para estes animais em decúbito devem ser adotadas estratégias para a prevenção de danos secundários e lesões de decúbito. Deve ser fornecida cama alta, ambiente confortável e constante alternância de lado de decúbito. Além disso, é preferível a realização de fisioterapia para os animais acometidos com objetivo de diminuir a atrofia muscular neurogênica, melhorar a propriocepção e permitir a melhor adaptação aos déficits adquiridos pelos animais. No entanto, existem protocolos de tratamento para a doença que podem não estar na medicina tradicional com medicamentos alopáticos. Pode se optar também pela instituição do tratamento Fisioterapêutico e da Acupuntura. Tais terapêuticas tem se mostrado contribuição para o reestabelecimento dos equinos enfermos, pois elas geram estímulos que promovem uma maior neuroplasticidade que contribui para a diminuição do grau de incoordenação, na recuperação da propriocepção, da função motora normal e no desenvolvimento de músculos atrofiados. Proporcionando uma melhora mais rápida. Vários fármacos e extratos de ervas medicinais tem sido usado tanto in vitro via cultivo celular e in vivo em cobaias, mas ainda não há confirmação da eficácia das mesmas. Neste momento está sendo buscado métodos alternativos no auxílio do tratamento da EPM, e estudos como o uso da terapia celular em equinos estão sendo realizados. Se esses animais tratados forem submetidos a situações estressantes ou não forem tratados por tempo suficiente pode ocorrer reativação da infecção ou até recidiva da doença. Dependendo do tempo de dano neuronal provocado pelo S. neurona, da extensão desta lesão, e quais estruturas forem comprometidas as probabilidades de recuperação do animal se modificam. Alguns animais mesmo respondendo ao tratamento do seu estado clinico após o início do tratamento, podem sofrer com consequências e sequelas devido ao não restabelecimento de vias neurais. Já em outros pode ser observado uma melhora progressiva até após o fim do tratamento medicamentoso, visto que pode haver o restabelecimento dos circuitos neuronais de forma mais lenta ou uma adaptação aos déficits que restam. Vale ressaltar que a melhora descrita se refere a recuperação, total ou parcial, da sintomatologia clinica observada no animal, por fim, pode-se optar por eutanásia quando os custos de tratamentos são altos demais para o produtor, os sinais clínicos estão muito severos sem previsão de melhora, dependendo também do valor econômico do animal e da função que ele exercia. Como medidas preventivas primeiramente devemos nos assegurar em manter os locais de deposito da ração, cochos e bebedouros limpos. Também devemos tentar evitar expor o equino a estresse e as fezes dos gambas, e fazer o controle de vetores e outros hospedeiros. Limitando o acesso das pastagens para os animais selvagens, não deixando os animais se alimentarem no solo, fornecendo fontes de agua potável separadas, optar por piquetes e barracas de equinos (ajudam a reduzir incidência de infecção). Por fim, pode-se também considerar o uso intermitente de drogas coccidiostáticas e coccidicidas para o controle da EPM. 8. CONCLUSÃO A Mieloencefalite Protozoária Equina é uma enfermidade grave causada principalmente pelo S. neurona que acomete equídeos agindo em seu SNC, provocando inúmeras lesões neurológicas, podendo levar a morte. Por isso é de suma importância o diagnóstico precoce e conhecer não só o agente etiológico, como também os possíveis sinais clínicos e tratamentos. Além de tentar não expor o animal a fatores de risco como situações de estresse e imunossupressão. O diagnóstico definitivo é dado quando se identifica o parasito no sistema nervoso e se obtém resultado positivo para a presença de anticorpos contra o protozoário no LCR e no soro sanguíneo do animal. Já o tratamento é realizado com a administração de drogas coccidiostáticas ou coccidiocidas, juntamente ao uso de anti- inflamatórios não esteroidais (AINES) para controle dos sintomas neurológicos causados pela inflamação. Por fim, deve-se tomar medidas preventivas como a restrição do acesso dos equídeos aos animais selvagens, principalmente dos hospedeiros definitivos e intermediários. Apenas essa medida já diminui significantemente a incidência da doença. 9. REFERÊNCIAS Stelmann, Ulisses Jorge Pereira; Amorim, Rogério Martins. Mieloencefalite protozoária equina. Veterinária e Zootecnia, v. 17, n. 2, p. 163-176, 2010. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/140506>. Acesso em 20 de abril. 2020 Zanatto, Rodrigo Morato; Oliveira Filho, José Paes de; Filadelpho, André Luís. Mieloencenfalite Protozoária Eqüina. Revista científica eletrônica de Medicina Veterinária, Uberlândia: FAMED. Disponível em: <http://www.faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/rs4HxsU3pyGgAR g_2013-5-21-15-23-11.pdf>. Acesso em 20 de abril. 2020 Pepe, Paulo Eduardo. Mieloencefalite protozoária equina. 2009. p. 1–54. UNI/FMU. Disponível em: <http://arquivo.fmu.br/prodisc/medvet/pep.pdf>. Acesso em 20 de abril. 2020 Eleoterio Mirelli Cristina; Oliveira, Maria Luiza Silva de; Masseno, Ana Paula. MIELOENCEFALITE PROTOZOÁRIA EQUINA. Revista científica de medicina veterinária. Disponível em: <http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/dRiBckDk70XmHyS_20 19-4-4-19-12-23.pdf>. Acesso em 20 de abril. 2020 Vilela, Severino Ernesto Rezende; et all. Mieloencefalite protozoária equina (Sarcocystis neurona e Neospora hughesi): Revisão. Disponível em: <http://www.pubvet.com.br/uploads/0dc685fabf785095705cadbc2208caf0.pdf>. Acesso em 20 de abril. 2020 Monteiro, Ana Paula Ackel P. EPM – Mieloencefalite Protozoária Equina (Bambeira). 2013. Disponível em: <http://bichosonline.vet.br/wp- content/uploads/2014/08/Bambeira.pdf>. Acesso em 20 de abril. 2020 Binda, Marcela Bucher; Adamkosky, Mirella dos Santos; Toniato, Bianca Meneghel. Mieloencefalite protozoária equina: relato de caso. 2013. Disponível em: <Toniatohttp://www.pubvet.com.br/uploads/04a954d9151f1d71c895007bb20f97e2.pdf> . Acesso em 20 de abril. 2020 Oliveira, Vinicius Tauã Pedreira de. MIELOENCEFALITE PROTOZOÁRIA EQUINA - RELATO DE CASO. Cruz das Almas: UFRB. 2019. Disponível em: <http://200.128.85.17/bitstream/123456789/1807/1/TCC-%20Final.pdf>. 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