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Doença de Chagas e Triatomíneos

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CONCURSO PÚBLICO – UNIVERDIDADE FEDERAL DE PELOTAS
CANDIDATA: Nathieli Bianchin Bottari
SUMÁRIO
1. Toxoplasma gondii e Toxoplasmose; 
2. Doença de Chagas e Triatomíneos; 
3. Babesia spp. e Babesioses;
4. Fascíola hepática e fasciolose; 
5. Família Taeniidae;
6. Ancilostomídeos;
7. Familia Trichostrongylidae;
8. Díptera: sistemática, bionomia e importância; 
9. Ordem Acari: sistemática e importância;
10. Insetos Ectoparasitos. 
Triatomíneos
Introdução
A doença de Chagas (DC), ou tripanossomíase americana, é o resultado da infecção humana pelo protozoário parasita Trypanosoma cruzi (T. cruzi). Mais de um século depois de sua primeira descrição por Carlos Chagas, a doença é endêmica em 21 países latino-americanos, sendo a Bolívia o país com a mais alta carga da doença. Classificada como uma das 17 doenças tropicais negligenciadas listadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a doença de Chagas, evidencia-se, na América Latina, como a endemia de maior impacto sobre a morbimortalidade, expressando-se em um grupo de 21 países, onde estima-se que atinja entre 5 e 6 milhões de pessoas, das quais menos de 1% recebem tratamento e aproximadamente 7.000 evoluem para óbito anualmente. 
Histórico
Em 1909 foi descoberta a doença de Chagas pelo médico e cientista brasileiro Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas, o então pesquisador assistente do instituto Oswaldo Cruz, nesse mesmo ano se mudou para a cidade de Lassance, interior de MINAS GERAIS em busca do combate à malária. Foi então nessa pesquisa que ele acabou encontrando um flagelado de mico o qual denominou Trypanosoma minasense e indo a fundo nessa pesquisa encontrou um Trypanosoma diferente do anterior só que dessa vez em barbeiros e denominou esse protozoário de Trypanosoma cruzi em homenagem a Oswaldo Cruz, e desta forma descobriu uma nova doença humana, a chamada doença de Chagas.
Epidemiologia
A Doença de Chagas é uma infecção tropical de grande importância no mundo, com alto impacto social e econômico, principalmente nas áreas endêmicas. De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde, o número de pessoas infectadas em escala global ascende de 7 para 8 milhões. No Brasil, a doença de Chagas continua sendo até hoje um grande problema atingindo cerca de 3 milhões de indivíduos em suas diversas classes sociais. 
A forma indeterminada da doença é encontrada em 60 a 70% dos pacientes com Doença de Chagas. Destes, de 20 a 30% evoluem para a cardiomiopatia chagásica crônica mais frequente entre os pacientes com sinais clínicos e a maior causa de mortalidade, responsável por 10% das mortes em adultos nas regiões endêmicas. Dos pacientes chagásicos, de 5 a 10% desenvolvem síndromes digestivas, sendo no Brasil a prevalência variando de 2 a 8,8%. Nos pacientes imunodeprimidos, em especial aqueles HIV+, de 25 a 44% apresentam algum tipo de comprometimento cardíaco e em 75 a 80% reporta-se o acometimento do sistema nervoso central. A infecção congênita pode ocorrer em 71% dos recém-nascidos de mães em fase aguda.
No Brasil, 1,09% das bolsas de sangue são descartadas devido à sorologia positiva para T. cruzi.
Biologia e ciclo de vida do Trypanosoma cruzi 
O T. cruzi é um protozoário flagelado pertencente ao Filo Sarcomastigofora, Subfilo Mastigofora, Classe Zoomastigofora, Ordem Kinetoplastida, Família Trypanosomatidae e ao Gênero Trypanosoma. 
Por presentar variações morfológicas, fisiológicas e biológicas, relacionadas tanto à patogenicidade quanto à infectividade, alguns autores classificam o T. cruzi como um “complexo cruzi”, e não como uma espécie única. T. cruzi, possui organelas normalmente encontradas em células eucarióticas, e bem como outras que lhe são próprias, tais como cinetoplasto.
O flagelo dos tripanosomatídeos origina-se a partir do corpúsculo basal, e apresenta um arranjo clássico de microtúbulos tipo 9+2. No T. cruzi, a semelhança de outros tripanosomatídeos, o flagelo se exterioriza através da bolsa flagelar, uma peculiar invaginação por meio da qual o parasito ingere nutrientes do meio externo. A sua adesão à membrana celular faz-se mediante justaposição através de agrupamento de partículas intramembranares, em intervalos mais ou menos regulares, presentes na superfície de contato do flagelo com o corpo do parasito.
Os tripanosomatídeos de um modo geral apresentam uma mitocôndria única e que se ramifica pelo corpo do parasito. A mitocôndria do T. cruzi apresenta cristas típicas e inúmeras enzimas presentes em eucariotos. Na região da mitocôndria próxima ao corpúsculo basal observa-se uma densa região, caracterizada pela concentração de DNA e denominada de cinetoplasto onde se encontra aproximadamente 20-25% do DNA total da célula. O DNA mitocondrial do cinetoplasto (kDNA) é único em sua estrutura, função e modo de replicação sendo constituído por uma rede composta de milhares de círculos de DNA interligados. 
Outra importante estrutura é o citóstoma, presente apenas na forma epimastigota, envolvida na coleta de macromoléculas do meio externo por endocitose 
Os tripanosomas possuem um polimorfismo evolutivo, com alteração de sua forma celular ao longo do seu ciclo evolutivo, sendo morfologicamente identificadas pela presença do flagelo e também pela posição do cinetoplasto. As principais formas são: 
· Amastigota: forma circular, ovóide ou fusiforme, de aproximadamente 4 μm, com formato achatado, núcleo grande e pouco citoplasma; seu cinetoplasto é bem visível e seu flagelo curto não se exterioriza, permanecendo dentro da bolsa flagelar e limitando seus movimentos. Multiplica no interior de células do hospedeiro vertebrado.
· Epimastigota: forma alongada, com cinetoplasto anterior ao núcleo. O flagelo emerge longe da extremidade posterior, porém mantém-se colado à membrana e se torna livre depois de ultrapassar o pólo anterior da célula; presença da membrana ondulante, que acompanha os movimentos flagelares. Presente no interior dos insetos vetores, onde se multiplica na região do trato digestivo 
· Tripomastigota: forma de corpo longo e achatado, com cinetoplasto posterior ao núcleo. Seu flagelo percorre toda a extensão da célula, aderido à extensa membrana ondulante. A tripomastigota metacíclica é infectante aos hospedeiros vertebrados e origina-se no hospedeiro invertebrado; forma que não se multiplica e até infectar alguma célula, permanece livre e circulante na corrente sanguínea. Podem viver em altas temperaturas (cerca de 37 °C), com alta capacidade invasiva para penetrar mucosas e conjuntivas 
As tripomastigotas possuem variações morfológicas, diretamente relacionadas à fisiologia e ao comportamento do parasito. As formas delgadas, com 20 μm de comprimento por 1 μm de largura, possuem cinetoplasto afastado da região posterior, movimentação rápida e direcionada. São mais infectantes e responsáveis por parasitemias precoces, embora sejam mais sensíveis a ação da resposta imune. Por outro lado, as formas largas possuem 15 μm de comprimento e 2-4 μm de largura, em forma de C ou U, com cinetoplasto próximo a extremidade posterior e com movimentos lentos e não direcionais. São menos infectantes e demoram mais para penetrarem nas células, quando comparadas as formas delgadas, desenvolvendo assim parasitemias mais tardias. São mais resistentes à ação da resposta imunológica e permanecem por mais tempo circulando pela corrente sanguínea. 
Parasitam preferencialmente células do Sistema Mononuclear Fagocitário (SMF), sendo chamadas de “macrofagotrópicas”, enquanto as formas largas possuem tropismo pelas células musculares, identificadas como “miotrópicas” 
Ciclo Biológico
O ciclo do T. cruzi é heteroxênico, em que a multiplicação intracelular acontece no hospedeiro vertebrado (homem e mamíferos de outras sete ordens diferentes) e a multiplicação extracelular no hospedeiroinvertebrado, o inseto vetor (hemípteros hematófagos).
No hospedeiro vertebrado, o ciclo tem início quando, durante o repasto sanguíneo do inseto infectado (o vetor) elimina fezes e urina com as formas tripomastígotas metacíclicos. Estas, por sua vez, penetram no local da picada e se interiorizam em células SMF através de um processo de fagocitose induzida. Os parasitos permanecem dentro do vacúolo digestivo, onde podem ser mortos; para que isso não aconteça, há a transformação das tripomastígotas em amastigotas, que escapam do vacúolo e invadem o citoplasma, onde se multiplicam intensamente por divisão binária e se transformam novamente em tripomastígotas, até o ponto da célula não conseguir aguentar a alta carga parasitária e romper, liberando essas formas no tecido e na corrente sanguínea, onde permanecem circulantes, sendo então combatidas pela imunidade, desenvolvida pelo organismo do hospedeiro. As tripomastígotas que conseguem sobreviver penetram em outras células, se transformam novamente em amastigotas, e assim cronificam a doença 
No hospedeiro invertebrado, a infecção acontece durante o repasto sanguíneo, quando o inseto hematófago ingere as formas tripomastígotas presentes na corrente sanguínea. No intestino, há a transformação das tripomastígotas em epimastígotas, que se multiplicam por divisão binária, com possibilidade de formação de rosáceas (agrupamentos de epimastígotas). No reto do inseto as epimastígotas, aderidas à mucosa pela extremidade de seu flagelo, se transformam em tripomastígotas metacíclicas,em um processo denominado metaciclogênese, e são eliminadas nas fezes e urina durante seu repasto sanguíneo, e dessa forma dão continuidade ao ciclo.
O T. cruzi mantém, na natureza, ciclos domésticos, peridomésticos e selvagens. No ciclo doméstico, a transmissão aos animais domésticos, como cães, gatos, porcos e cabras, ao homem e entre esses, acontece pela transmissão por triatomíneos domésticos. O ciclo peridoméstico origina-se por mudança do ciclo selvagem, que mantém a infecção em animais domésticos e nas áreas envoltas por habitações humanas pelos tritatomíneos peridomésticos, ocasionado, eventualmente, pela invasão de animais domésticos nestes ciclos e o inverso. O ciclo selvagem, por sua vez, é mantido entre os animais selvagens, como por exemplo tatus e pacas, e originou o ciclo doméstico devido à transmissão acidental do homem.
 
Formas de transmissão
Por anos, a principal forma de transmissão do T. cruzi, no Brasil, foi a vetorial. Transmitida por triatomíneos da família Reduviidae, subfamília Treatominae e do gênero Triatoma, Panstrongylus, Rhodnius e Eutriatoma. Mais de 130 espécies foram encontradas como sendo potencialmente vetoras, porém no Brasil, das 52 espécies encontradas, 5 possuem maior importância epidemiológica, uma vez que são domésticas: Triatoma infestans, Triatoma brasiliensis, Panstrogylus megistus, Triatoma pseudomaculata e Triatoma sordida, Triatoma rubrovaria no Rio Grande do Sul e Rhodnius neglectus em Goiás 
Outra forma de transmissão ocorre por transfusão sanguínea (transfusional). partir dos anos de 1990, foi implementado o controle nos bancos de sangue, com cobertura atual em 98% no país, diminuindo assim a incidência dessa forma de transmissão. A infecção por transplante de órgãos pode acontecer a partir de um doador chagásico e também da reativação da doença, por imunossupressão, no receptor. 
A transmissão congênita ocorre quando existem ninhos de amastigotas na placenta, que liberam tripomastigotas e estas chegam à circulação fetal. Alguns fatores podem estar relacionados com a infecção: fase da doença, grau de parasitemia, fatores imunológicos e nutricionais maternos, placentários e obstetrícios. Atualmente, essa via é o principal mecanismo de transmissão do T. cruzi no país, especialmente devido aos controles vetorial e transfusional 
A via oral tem sido uma importante forma de transmissão da doença, responsável por alguns surtos, que possuem como característica a infecção de várias pessoas. A infecção pode ocorrer, embora de forma rara, pela ingesta de leite materno (com a presença do parasito na glândula mamária), de carne crua ou mal cozida de mamífero infectado, especialmente de animais que fazem parte do ciclo selvagem. Ingesta de alimentos ou bebidas contaminadas tanto com fezes ou urina de triatomíneos quanto com urina ou secreção para-anal de marsupiais, ambos infectados com T. cruzi.
A região Amazônica é responsável pela maioria dos casos de transmissão oral, através do consumo de produtos naturais tais como, sucos, vitaminas e polpa de açai contaminados tanto com fezes e urina do triatomíneo quanto com o próprio vetor.
A transmissão acidental pode acontecer por desconhecimento, desatenção, falha ou mal uso de equipamentos de proteção individual, instalações e equipamentos inadequados. Existem outras formas de se adquirir a doença, sendo essas consideradas como formas excepcionais de infecção, ou formas secundárias, como exemplos existem: transmissão pela picada do vetor, quando há a regurgitação do conteúdo estomacal do inseto ou quando a probóscita se encontra infectada por fezes ou urina contaminadas; contato com fezes de triatomíneos, uma vez que o parasito permanece viável por algum tempo; picada ou contato com outras espécies de insetos hematófagos, entre eles culicíneos, flebotomíneos, cimicídeos, pulgas e piolhos, envolvendo mecanismos de regurgitação após prévia contaminação em indivíduo com alta parasitemia, contaminação da probóscita e até mesmo o esmagamento ou ingestão de algum artrópode contaminado. 
A contaminação por secreção de glândulas anais de marsupiais acontece especialmente em áreas endêmicas onde o gambá (Didelphis albiventris), infectado, contamina o alimento ou diretamente um mamífero suscetível com o material expelido de suas glândulas anais. A via sexual possui baixa possibilidade de transmissão em humanos.
Formas Clínicas e sintomas 
A Doença de Chagas caracteriza-se por ser uma infecção com fases aguda e crônica e sinais clínicos variados. A fase aguda começa após um período de incubação de cerca de sete a dez dias, sendo oligossintomática. O início dessa fase é marcado por manifestações locais, como o Sinal de Romaña e o Chagoma de Inoculação nos pacientes que adquiriram a infecção pela via vetorial. O Sinal de Romaña se caracteriza por edema bipalpebral, unilateral, congestão conjuntiva e aumento dos linfonodos, enquanto no Chagoma de Inoculação, há uma inflamação aguda da derme e hipoderme no local de penetração do parasito. Nessa fase, existe uma intensa proliferação intracelular do T. cruzi na forma de amastigota e a liberação de tripomastigotas na circulação sanguínea. As manifestações clínicas gerais dessa fase são febre, edemas localizados e generalizados, poliadenia, hepatoesplenomegalia. Nas formas graves, surgem quadros de cardiomiopatia com alterações no ritmo do batimento cardíaco, insuficiência cardíaca e até quadros severos de meningoencefalite aguda. 
Na fase crônica, existe uma redução dos parasitos circulantes devido ao aparecimento da resposta imune, humoral e celular, e a sintomatologia pode surgir anos após a transmissão, ou o indivíduo pode permanecer um período assintomático. Na forma crônica assintomática, a forma indeterminada, os indivíduos possuem anticorpos contra o parasito, confirmados pelos testes sorológicos, mas não apresentam sinais clínicos, evidenciados pelos exames radiográficos normais.
Nas formas crônicas sintomáticas, existe uma variação nas manifestações clínicas, com duas formas predominantes: a forma cardíaca e a digestiva. 
Na forma cardíaca, observa-se cardiomiopatia, arritmias, aneurisma ventricular apical esquerdo, sinais de insuficiência cardíaca, aumento do coração e progressão paramorte súbita, sendo frequentes também a hipóxia, os fenômenos tromboembólicos 
A patologia, provocada pelo T. cruzi, tem início com a formação de grandes ninhos de amastigotas, que multiplicam no interior das fibras musculares e se apresentam dissociadas pelo edema intersticial. Em volta das fibras que estão sendo destruídas, observa-se um infiltrado inflamatório, enquanto nas lesões, existe a substituição das áreas inflamadas e necrosadas por áreas de fibrose, o que resulta na redução da força de contração do coração. O comprometimento do sistema nervoso autônomo que regula as contrações cardíacas traz perturbações na formação e na propagação dos estímulos cardíacos, resultando nas arritmias, bloqueio atrioventricular, fibrilação atrial entre outros. 
As principais alterações chagásicas digestivas são: megaesôfago e megacólon. Essas deformações resultam do comprometimento do sistema nervoso entérico, em particular do plexo de Auerbach. As células nervosas desse plexo se degeneram em meio ao processo inflamatório desenvolvido pelas células ao seu redor, reduzindo dessa forma o número de células nervosas. A disfunção do esôfago acontece pela incoordenação motora, que altera a propagação da onda contrátil ao longo do órgão, e também do controle da abertura do esfíncter da cárdia responsável pela alteração na função do cólon, que promove a estagnação do bolo fecal nessa região e uma consequente hipertrofia e dilatação do órgão. A hipertrofia muscular e a dilatação desses órgãos caracteriza-os por megaesôfago e megacólon.
Pouco se sabe a respeito da origem das lesões teciduais nos músculos estriados esqueléticos e lisos presentes nos órgãos acometidos pelo T. cruzi, uma vez que os ninhos de amastigotas estão presentes nos tecidos livres de inflamação e os infiltrados inflamatórios das células mononucleares e a lise celular são os principais achados.
As amastigotas, presentes no tecido, colonizam as células e dentro delas se tornam inacessíveis por tempo desconhecido. A comprovação da transferência do K-DNA do T. cruzi para as células do hospedeiro e a mutação resultante desta transferência parece ser o fator que desencadeia o desenvolvimento de células efetoras do sistema imune e um consequente combate destas às células infectadas, explicando desta forma as lesões autoimunes presentes nos pacientes com Doença de Chagas.
A Doença de Chagas congênita acontece pela transmissão do T. cruzi ao feto durante a gestação e pode causar abortos, partos prematuros, nascimento de bebês com baixo peso e até mesmo a natimortalidade e má-formação. A maioria dos casos comprovados dessa via de infecção não possui sinais clínicos, porém, naqueles que apresentam, a criança pode apresentar redução no peso, má nutrição, icterícia, petéquias, hemorragias, hepatoesplenomegalia, abdômen distendido, insuficiência cardíaca chagásica, megaesôfago e meningoencefalite. 
Outro importante aspecto na doença de Chagas é a sua reativação associada a situações de imunossupressão, incluindo transplantes, leucemias, linfomas a doença de Chagas é considerada oportunista e sua reativação comprovada pelo aumento da parasitemia, detectada por técnicas parasitológicas, e os principais sinais clínicos são semelhantes aos desenvolvidos na fase aguda. Porém, muitos destes, devido à imunossupressão, acabam desenvolvendo manifestações mais graves sendo o envolvimento do sistema nervoso central a mais frequente, como a meningoencefalite, seguida de manifestações cardíacas.
Diagnóstico
O diagnóstico laboratorial para comprovação de casos suspeitos de infecção por T. cruzi pode ser feito através de testes parasitológicos e sorológicos, que possuem diferentes resultados se aplicados na fase aguda ou crônica e auxiliam o diagnóstico clínico a confirmar ou excluir a infecção. Na fase aguda, os exames possuem como objetivo a detecção do parasito, enquanto que na fase crônica, objetiva-se comprovar a infecção pela presença de anticorpos. 
Na fase aguda, o T. cruzi se torna facilmente identificado, uma vez que ele permanece circulante na corrente sanguínea, em grande quantidade, por um ou dois meses. Os exames parasitológicos utilizados para a detecção consistem nos métodos de exame de sangue a fresco e por gota espessa. endo o exame de gota espessa mais preciso, por concentrar maior quantidade de sangue no mesmo espaço. Esses testes são considerados mais eficazes e econômicos e devem ser o método de primeira alternativa.
Quando os exames diretos possuem resultado negativo e existe uma grande suspeita de infecção, utilizam-se os métodos de concentração que possuem alta sensibilidade e nos casos de presença de sintomas por mais de 30 dias. Entre esses exames estão o microhematócrito e o método de Strout, que tem tido os melhores resultados, com a retirada do parasito do coágulo que se forma no sangue, concentrando-se no soro. O método QBC (Quantitative Buffy Coat) é muito utilizado para se confirmar a doença de Chagas congênita, sendo realizado durante o teste do pezinho. 
Os métodos sorológicos, embora não sejam recomendados nessa fase da doença, são realizados quando a pesquisa direta for negativa e persistirem os sinais clínicos. Os mais utilizados são o Western Blot, ELISA (Enzime linked immunosorbent assay) para a detecção de anticorpos IgM, característicos da fase aguda. O Imunofluorescência indireta (IFI) também é muito utilizado para a o diagnóstico. 
Na fase crônica da doença, existe uma redução no número de parasitos circulantes devido ao aparecimento da resposta imune, resultando na baixa sensibilidade dos testes parasitológicos. Dessa forma, o diagnóstico deve ser comprovado utilizando dois tipos diferentes de testes sorológicos distintos ou com preparações antigênicas diferentes.
Dos exames parasitológicos indiretos, o xenodiagnóstico e a hemocultura são muito utilizados, com variáveis níveis de especificidade devido à sua baixa sensibilidade. Sendo assim, esses testes são muito importantes visto que o seu resultado positivo, em qualquer fase, possui um alto valor confirmatório, embora seu resultado negativo não elimine a possibilidade de infecção. 
Na fase crônica, o diagnóstico deve ser realizado utilizando um teste de elevada sensibilidade como, por exemplo, o ELISA com antígeno total ou IFI, associado a outro teste de alta especificidade. Os mais utilizados são o IFI, que possui grande sensibilidade e precocidade nas respostas positivas, ELISA, método automatizado simples e econômico, além da técnica de hemaglutinação, cujo teste rápido é muito utilizado em bancos de sangue.
A técnica de Polymerase Chain Reaction (PCR) consiste em um método parasitológico molecular, uma vez que detecta o material genético do T.cruzi presente em amostras de sangue, soro e até mesmo tecidos do paciente. Essa técnica é utilizada para a comprovação da infecção, tendo o uso restrito aos centros de pesquisa, até o momento.
Tratamento
As opções atuais de tratamento para a DC estão limitadas a apenas duas drogas nitroheterocíclicas: Benzonidazol (1) (Rochagan/LAFEPE e Abarax/ELEA) e Nifurtimox (2) (LAMPIT/Bayer). 
O Benzonidazol, único fármaco utilizado no Brasil, sendo recomendado para pacientes com a doença de Chagas nas fases aguda e crônica indeterminada. O tratamento com Benzonidazol tem uma taxa de cura de 70% nos pacientes com a fase aguda da infecção. Entretanto, a taxa de cura em pacientes na fase crônica indeterminada é baixa, variando entre 10–33%.
As principais indicações para Nif e Bz são: fase aguda da infecção, forma congênita, reativação associada com imunosupressão, infecções recentes e em situações de transfusões ou transplante de órgãos. Ambos os fármacos podem também ser indicadas para o tratamento de alguns pacientes nas formas indeterminada e crônica comfraco envolvimento cardíaco. 
A atividade antiparasitária do Nif resulta da redução metabólica do grupo nitro por nitroredutases gerando radicais nitroanions, altamente reativos, que reagem com oxigênio produzindo produtos da redução do oxigênio. O T. cruzi é deficiente em mecanismos de detoxicação para metabólitos de oxigênio e deste modo mais sensível a esses produtos do que a célula hospedeira.
A ação do Bz sobre o T. cruzi envolve um efeito direto sobre a síntese de macromoléculas por ligação covalente, ou outras interações dos intermediários de nitroredução com componentes celulares ou uma ação inibitória direta sobre a atividade catenante da DNA topoisomerase do parasito 
Os esquemas mais utilizados de tratamento são: Nif por 60- 90 dias, 8-10 mg/kg/dia em adultos e menos que 15 mg/kg/dia em crianças; Bz por 60 dias, 5 mg/kg/dia em adultos e menos de 10 mg/kg/dia em crianças. Ambas as medicações devem ser divididas em 2-3 frações após as refeições. 
 	Os efeitos colaterais desses medicamentos, incluem: dermatite alérgica, prurido, febre, intolerância gastrointestinal, entre outros. Esses efeitos, estão bem documentados e têm limitado uma utilização mais ampla, especialmente em populações adultas.
Prevenção 
Ainda não há vacina contra a doença de Chagas e sua incidência está diretamente relacionada às condições habitacionais (casas de pau-a-pique, sapê, etc). Cuidados com a conservação das casas, aplicação sistemática de inseticidas e utilização de telas em portas e janelas são algumas das medidas preventivas que devem ser adotadas, principalmente em ambientes rurais. A melhor forma de prevenção é o combate ao inseto transmissor.
Em relação à prevenção de Chagas transfusional, foi recomendado pela Organização Mundial de Saúde a utilização do corante violeta de genciana depois substituído pelo em serviços hemoterápicos em áreas endêmicas, porém existem algumas restrições ao seu uso devido a relatos sobre alterações em eritrócitos, carcinogenicidade potencial, e não aceitação pelos pacientes devido a sua cor. 
Babesiose
Introdução
As hemoparasitoses possuem grande importância médica, veterinária e econômica pela possibilidade de causar doença grave e trazer danos irreversíveis, podendo culminar com a morte do hospedeiro. No Brasil, a babesiose, é uma das doenças transmitidas por vetores mais importantes, devido sua distribuição, infectividade e patogenia.
	O gênero Babesia, inclui protozoários intraeritrócitários transmitidos por carrapatos da família Ixodidae associado a uma enfermidade limitante ao crescimento da bovinocultura mundial e nacionalmente, já que bovinocultura apresenta grande destaque na economia brasileira, de forma que o Brasil possui o segundo maior rebanho bovino do mundo, sendo responsável por 15,4% da produção global de carne bovina e 35 bilhões de litros de leite ao ano (IBGE, 2019). 
Além disso, várias espécies de Babesia já foram descritas com possibilidades de infectar humanos, sendo a mais importante a Babesia microti. B. microti também pode ser transmitido através de transfusão de sangue, transplante de órgãos e perinatalmente. Sintomas como febre, prostração, falta de apetite, anemia, parada da ruminação e queda da produção de leite podem ser observados em animais doentes. Em seres humanos, a doença pode apresentar se de forma assintomática ou permanecer subclínica ao longo de sua evolução com sintomas inespecíficos, incluindo mal-estar, fadiga, calafrios, febre, cefaleia, mialgia e artralgia. Conhecer aspectos da epidemiologia, sinais clínicos, conduta terapêutica e formas de controle e profilaxia referentes a babesiose é essencial diante da grande importância da babesiose e seus efeitos deletérios à pecuária e a saúde humana. Aseguir serão abordados aspectos sobre epidemiologia, ciclo biológico do protozoário, sinais clínicos, e subsídios ao diagnóstico e terapêutica da enfermidade e ao final serão abordadas novas ferramentas com base no diagnóstico molecular e terapias complementares à babesiose. 
Histórico
A babesiose é uma doença popularmente conhecida como “doença do carrapato” e assim foi nomeada após Victor Babes, um patologista e microbiologista  húngaro, ter identificado microrganismos intraeritrocíticos como a causa da hemoglobinúria febril em bovinos em 1888. Cinco anos mais tarde, Smith e Kilborne identificaram um carrapato como vetor para a transmissão de babesia bigemina em bovinos no Texas. Essa observação, estabeleceu pela primeira vez que um artrópode poderia transmitir um agente infeccioso a um hospedeiro vertebrado.
Nos meados do século XX foi descrito o primeiro caso de babesiose em humanos, por Skrabalo e Deanovic (1957), sendo conhecidas até hoje, mais de 100 espécies descritas entre mamíferos e aves nas quais a sua identificação e taxonomia se baseiam em suas características morfológicas, aos padrões de agregação de estágios e características do hospedeiro.
Classificação taxonômica e Etiologia 
Em condições naturais este parasita é transmitido por carrapatos da família Ixodidae, dentre os vetores biológicos hematófagos, podemos citar os ixodídios membros dos gêneros Dermacentor spp., Hyalomma spp., e Rhipicephalus spp.
O parasito pertence ao Filo Apicomplexa, Classe: Sarcodina; Ordem Piroplasma, Família Babesidade e Gênero Babesia. 
Das espécies de Babesia spp. que acometem os cães, duas merecem destaque, B. gibsoni, conhecida como pequena Babesia e B. canis como grande Babesia. A espécie B. gibsoni é mais prevalente na América do Norte, Ásia, norte e leste da África, porém, já foi relatada no Estado do Paraná, Brasil. Com relação a grande Babesia, estudos prévios subdividiam essa espécie em três subespécies B. canis rossi transmitida pelo carrapato Haemaphysalis leachi, considerada a mais patogênica, encontrada no Sul da África e no Sudão, B. canis canis, considerada com o menor grau de patogenicidade, transmitida por Dermacentor reticulatus e encontrada na Europa e B. canis vogeli encontrada no norte e sul da África, América do Norte, Europa, Austrália, Sudão, Turquia e no Brasil, sendo esta, transmitida pelo Rhipicephalus sanguineus.
A partir de métodos moleculares, as subespécies B. canis canis, B. canis rossi e B. canis vogeli, foi demonstrado que estas se diferenciam, por meio das apresentações clínicas, seus vetores, suas distribuições geográficas e características da filogenia molecular, sugerindo que devem ser consideradas como espécies verdadeiras e separadas. Sendo assim, atualmente a grande babesia encontrada em cães no Brasil é reconhecida a nível de espécie e chamada de B. vogeli 
A babesiose equina, também chamada de nutaliose, piraplasmose, ou febre biliar, é produzida por duas espécies diferentes de protozoários intra-etritrocitários patogênicos pertencentes ao gênero Babesia (Babesia caballi) e Theileria (Theileria equi). Essas enfermidades de ampla distribuição mundial são consideradas as únicas protozooses intra-eritrocitárias dos equídeos, onde estes se comportam como o hospedeiro vertebrado do parasita. O termo piroplasmose equina é referente à classificação taxonômica (ordem Piroplasmida) dos agentes etiológicos causadores da doença. Já o termo theileriose equina é mais recente e surgiu devido à reclassificação taxonômica do protozoário Babesia equi, que passou a se chamar Theileria equi devido às diferenças morfológicas e em seu ciclo de vida quando comparado a outros membros da família Babesiidae, encaixando-se melhor dentro da família Theileiriidae. Desta forma, a theilerios e equina se refere à enfermidade cujo agente etiopatogênico é a Theileria equi. E a babesiose equina se refere à enfermidade cujo agente etiopatogênico é a Babesia caballi.
Em suma, do ponto de vista etiopatogênico, adota-seo termo nutaliose equina ou piroplasmose equina quando em referência generalista à afecção produzida por qualquer um desses protozoários ou quando em referência à 
enfermidade causada por ambos os agentes etiológicos (B. caballi e T. equi). 
A babesiose bovina, febre da água vermelha é uma enfermidade causada pelos protozoários Babesia bovis e Babesia bigemina. Ambas as espécies são transmitidas pelo carrapato do boi Ripicephalus (Boophilus) microplus e, juntamente com a anaplasmose, determinada por Anaplasma marginale, formam o complexo Tristeza Parasitária Bovina (TPB). A B. divergens, por outro lado, afeta principalmente o gado na Europa – da Escandinávia ao Mediterrâneo – e no norte da África.
 
 Ainda que os agentes etiológicos da babesiose tenham ampla distribuição, existem diferentes situações epidemiológicas. Isso ocorre por tratar-se do período de maior infestação de carrapato, responsável pela transmissão dos agentes etiológicos favorecidos pelas condições climáticas sazonais, umidade e temperatura.
Quanto a origem dos animais, há uma reconhecida susceptibilidade maior em bovinos Bos taurus taurus do que Bos taurus indicus. A faixa etária de animais acometidos varia de 6 meses e 8 anos de idade. Cabe salientar que antes da primo-infecção os animais são protegidos por anticorpos colostrais, que contra B. bovis permanecem em titulações apreciáveis até no máximo 90 dias e, conta B. bigemina, 60 dias de vida. E os animais que não se infectam até os nove meses de idade não montam respostas imunológicas efetivas, tornando-se mais vulneráveis.
Podem ser acometidos bovinos, bubalinos e cervídeos, em todas as idades, entretanto cada um destes agentes possui características epidemiológicas distinta. Ainda que os agentes etiológicos da babesiose tenham ampla distribuição, existem diferentes situações epidemiológicas. Isso ocorre por tratar-se do período de maior infestação de carrapato, responsável pela transmissão dos agentes etiológicos favorecidos pelas condições climáticas sazonais, umidade e temperatura.
O primeiro caso de ser humano imunocompetente acometido pela babesia foi identificado na ilha de Nantucket, cujo agente causal era a babesia microti e o vetor identificado foi o carrapato Ioxodes dammini, casos adicionais ocorreram na ilha, e a doença se tornou conhecida como "febre Nantucket".  
Após ser reconhecida em um paciente na Europa, a maioria dos casos até hoje foram reportados no Nordeste e Oeste dos Estados Unidos da América. Para além dos Estados Unidos, há casos reportados esporadicamente na Ásia, África, Austrália, Europa e América do Sul. Um segundo grupo de babesia é a babesia duncan que causa um pequeno número de casos que foram identificados na costa do Pacífico nos EUA. Um terceiro grupo é o da babesia divergens que causa casos esporádicos nos Estados Unidos da América, mas é a principal causa de babesiose na Europa.
No Brasil, já foram descritos casos de babesiose humana, porém sem diagnóstico específico. A B. microti, parasita de roedores, principal agente de babesiose humana na América do Norte, ainda não foi identificada no Brasil. As espécies mais comuns em nosso país são as que parasitam bovinos, (B. bigemina e B. bovis), equinos (B. caballí) e caninos (B. canis e B. gibsoní). A babesiose humana é uma doença febril aguda, carac terizada por mialgias, fadiga, anemia hemolítica, icterícia e hemoglobinúria, cujo o quadro clínico se confúnde com o da malária. 
Características morfológicas 
O grupo formado por Babesia e Theileria foi batizado de “piroplasmídeos” devido à morfologia em forma de pêra do estágio de multiplicação do parasita no sangue do hospedeiro vertebrado. Como hemoparasitas não formadores de pigmento, os piroplasmídeos podem ser diferenciados de outros gêneros infectantes de eritrócitos, como Plasmodium e Haemoproteus, que em contraste formam pigmento (hemozoína) na célula parasitada.
Possuem dois estágio de vida, um deles livre, na forma de esporzoítos, que possuem aspecto esférico e dois estágios intraeritrócitários, os trofozoítos que adquirem uma membrana rugosa e se aderem aos eritrócitos e merozoítos que possuem no seu interior 1 ou 4 trofozóidos formando uma cruz chamada de “cruz de malta”.
Independentemente de sua classificação, todos os carrapatos apresentam em comum algumas características externas como: presença de 6 pares de patas na fase larval e 8 pares de patas nas demais fases; estrutura corporal achatada quando não alimentados; presença de hipostômio (e não uma mandíbula “mordedora”); corpo não segmentado; e ausência de antenas. Internamente, o carrapato apresenta como principais componentes o trato digestivo (faringe, esôfago, intestino e saco retal), os túbulos de Malpighi, a traqueia, as glândulas salivares, o corpo gorduroso e o ovário. 
Ciclo de vida parasitológico
	O ciclo parasitológico de Babesia sp é do tipo heteroxênio; isto é, é necessário dois hospedeiros para que o ciclo se complete. Animais e o ser humano são hospedeiros definitivos, enquanto o vetor biológico (carrapatos da família Ixodidae) são hospedeiros intermediários.
	O ciclo têm início quando o vetor ao alimertar-se em um HD, ingere gamontes do parasita. No intestino delgado do carrapato, os gamontes diferenciam-se em zigotos (células diplóides). Os zigotos, sofrem reprodução sexuada (esperogonia) e dão origem a cinetos (células haplóides). Os cinetos passam por meiose dando origem aos esporocinetos. Os esporocinetos via hemolinfa alcançam as glândulas salivares e demais tecidos do carrapato. Nas glândulas salivares, os esporocinetos diferenciam em esporozoítos. Os esporocinetos também podem alcançar os ovários dos carrapatos e ser transmitidos via transovariana dando origem a esporozoítos. Através das ecdises ou mudas de ovos para larva, ninfa e adulto, os esporozoítos são transmitidos via transestadial.
	Ao fazer repasto sanguíneo, o carrapato transmite junto com saliva esporozoítos a um hospedeiro definitivo. Os eporozoítos se aderem aos eritrócitos e amadurecem em trofozoítos, os quais sofrem reprodução assexuada (merogonia) e diferenciam-se em dando origem ,eventualmente, a 4 merozoítos. Os merozoítos deixam os eritrócitos e fora das hemácoas voltam a ser gamontes reiniciando um novo ciclo. 
Em seres humanos, a Babesiose pode ainda ser transmitida via transfusão de sangue ou transplante de órgãos. 
Patogenia
	A babesia causa doença em hospedeiros através de uma combinação de danos induzidos diretamente pelo parasito ou imunomediados. A patogenia está relacionada a hemólise intra e extravascular cujo impacto no hospedeiro depende idade, estado nutricional, carga parasitológica, respostas imunes, extensões de dano. 
	A principal consequência da babesiose é a hemólise intravascular e extravascular disseminada. A hemólise ocorre em decorrência da multiplacação do parasito no interior dos eritrócitos induzindo a lise celular com consequente diminuição no número de eritrócitos, hemoglobinúria, hematúria. Trombocitopenia também é um achado observado em animais infectados como um mecanismo compensatório da eritropoese. Hipóxia pode ser observada pela falta de transporte de oxigênio pelas hemácias.
A resposta imune inata parece não responder definitivamente na babesiose, macrófagos reconhecem antígenos periplasmáticos presentes nos eritrócitos fagocitam e apresentam aos linfócitos T. A resposta celular é mediada por linfócitos T perfil Th1, com produção de citocinas, especialmente IL-12 e Interferon gama. Ambas, estimulam a secreção de óxido nítrico.
A resposta imune humoral, mediada por anticorpos parece ser mais eficiente. Isso explica por que animais jovens (<6 meses de idade) são mais resistentes à Babesiose por receberem anticorpos via transplacentária e via colostro. Também respondem de forma eficiente imunologicamente.
 
Sinais e manifestações clínicas
As manifestações clínicas da babesiose variam desde infecçãosubclínica ou assintomática até casos de doença fulminante resultando em morte. 
O primeiro e principal sinal clínico observado é a anemia hemolítica com anemia severa. Em algumas espécies pode ocorrer hemoglobinémia, hemoglobinúria e febre que influenciam a destruição rápida das células sanguíneas. Em necrópsias são observadas colorações anormais como icterícia e palidez na carcaça com hemorragias presentes. Algumas espécies de Babesia afectam o sistema nervoso central devido à manutenção de eritrócitos infetados nos capilares cerebrais que cria um ambiente anóxico no cérebro, resultando em sinais neurológicos como por exemplo, a ataxia.
A infecção por B. bovis pode induzir o sequestro de eritrócitos parasitados nos capilares cerebrais resultando em sinais neurológicos como hiperexcitabilidade, incoordenação motora, opistótono, tremores musculares, paralisia dos membros pélvicos, movimentos de pedalagem, andar em círculos, cegueira e agressividade, sendo usualmente fatal. Esse fato faz com que a babesiose cerebral possa ser confundida com outras doenças que afetam o sistema nervoso central de bovinos, inclusive com a raiva. 
Entre as alterações macroscópicas da babesiose estão a esplenomegalia, hepatomegalia, hemoglobinúria, icterícia, hemorragias cardíacas e bile verde-escura espessa. Como alteração patognomônica em casos de TPB, causados por B. bovis, é contatada uma pronunciada congestão do córtex encefálico, conferindo-lhe um aspecto de coloração “róseo-cereja”. 
Como achados adicionais em animais com babesiose podem ser descritos a carcaça pálida, pulmões edematosos, saco pericárdico com presença de fluido sorossanguinolento, mucosas do abomaso e intestinal ictéricas com sinais de hemorragias subserosas e bexiga distendida com urina escura castanho- avermelhada. Os achados macroscópicos e os achados histopatológicos são semelhantes aos de doenças que causam hemólise intravascular e anemia, com sinusóides hepáticos distendidos e repletos de sangue, degeneração de hepatócitos, canalículos biliares distendidos contendo bile, linfonodos com maior número de macrófagos e hemácias no seu interior, congestão capilar do cérebro com edema perivascular e pequenas hemorragias, e necrose e congestão vascular nos rins.
Na maioria dos casos a infeção em humanos é assintomática. A doença é particularmente preocupante em indivíduos esplenectomizados, com imunodeficiên- cias congénitas ou adquiridas e idosos. A maioria dos pacientes sintomáticos torna-se doente 1-4 semanas após a picada de um carrapato infectado e 1-9 semanas (mas até seis meses em um caso relatado), após transfusão de sangue contaminado. Depois de um início gradual de quadro de mal-estar geral, fadiga e febre, com um pico de temperatura que pode ser tão elevada como 40 °C. Calafrios e sudorese são comuns e podem ser acompanhados de cefaleia, mialgias, anorexia, tosse não produtiva e artralgias. Outros sintomas incluem vômitos ocasionais,  náuseas, dor de garganta, dor abdominal, sufusão conjuntival, fotofobia, perda de peso, labilidade emocional, depressão e hiperestesias. Ao exame físico, a febre é o sinal mais comum. Pode ser acompanhada de esplenomegalia ou, ocasionalmente, por eritema da faringe, hepatomegalia, icterícia, ou retinopatia com hemorragias.
 
Diagnóstico e exames complementares
O diagnóstico da babesiose, durante a fase aguda, que coincide com o pico da parasitemia, é feito pelo encontro de parasitos em esfregaços de sangue corados pelo método de Giemsa ou de Wright. Durante a avaliação em microscópio e auxílio de óleo de imersão é possível visualizar pequenas corpos arredondados ou corpos pareados em forma de pêra unidos em ângulo obtuso dentro de hemácias, estas estruturas possuem de 1 – 1,5 μm (arredondados) e 1,5 – 2,4 μm (forma de pêra). Algumas caracteriscas microscópicas ajudam a discriminar entre os generos Plasmodium e Babesia, onde na segunda não há depósitos de pigmento de hemozoína e há presença de formas tetrades ou “cruz de malta” nos eritrócitos.
Além disso, os achados laboratoriais são consistentes com uma anemia hemolítica leve a moderada e incluem um hematócrito baixo, baixo nível de hemoglobina, baixo nível de haptoglobina, contagem elevada de reticulócitos e aumento de lactato desidrogenase. A trombocitopenia é comumente observada. A doença geralmente dura 1-2 semanas, mas a fadiga pode persistir por meses, parasitemia assintomática pode persistir por vários meses após a terapia padrão ser iniciada, ou por mais de um ano, se o paciente não receber tratamento. 
A doença pode apresentar recidiva em pacientes gravemente imunocomprometidos, apesar de 7-10 dias de terapia antimicrobiana, e podem persistir por mais de um ano se não forem adequadamente tratados. Na fase subaguda ou crônica, quando a parasitemia é baixa, a doença pode ser diagnosticada por meio de pesquisa de anticorpos, utilizando-se provas sorológicas (imunofluorescência indireta, ELISA e outras) e pesquisa do parasito por PCR (reação em cadeia da polimerase) e sequenciamento dos seus produtos. Além de ser um método mais específico na detecção de hemoparasitas, as técnicas de PCR e o sequenciamento também causa menor estresse durante a coleta nos animais quando comparado a coleta sanguínea, tornando-o uma alternativa mais simples para detecção do agente, principalmente a nível de pesquisa e controle endêmico.
Entretanto, os métodos citados acima, são de alto custo, demandando grande aparato laboratorial, sendo muitas vezes inviáveis para a realização em pequenas propriedades rurais. Dessa forma, métodos diretos como a observação dos protozoários em esfregaço sanguíneo, capa leucoplaquetária e esfregaço de ponta de orelha, são técnicas de suma importância, pois além de apresentarem baixo custo, podem ser realizados pelo veterinário a campo, otimizando o diagnóstico de hemoparasitoses em bovinos.
Além disso, de acordo com Osaki et al. (2002) e Santos (2013) as hemácias parasitadas se tornam pouco flexíveis e são retidas por mais tempo na luz dos vasos de menor calibre, dessa forma, os eritrócitos parasitados são direcionados ao endotélio capilar, tornando o esfregaço de sangue de ponta de orelha o método padrão ouro para o diagnóstico. 
Quando os exames são inconclusivos e infecção é suspeita, uma amostra de sangue do paciente pode ser injetada num animal de laboratório, tal como um hamster, nesse caso geralmente se identifica a babesia no sangue do animal inoculado dentro de 2-4 semanas.
 
Em seres humanos, o diagnóstico de babesiose deve ser considerado em qualquer pessoa que resida ou tenha viajado para áreas endêmicas. A gravidade da babesiose depende principalmente do estado imune do paciente e de quais  espécies de babesia causam a infecção. Cerca de metade das crianças e um quarto dos adultos previamente saudáveis que estão infectadas com babesia microti têm infecções assintomáticas. Os casos  assintomáticos, leves e moderados geralmente ocorrem em pessoas imunocompetentes. 
O nível de parasitemia pode ser baixo quando o paciente é visto pela primeira vez, esfregaços de sangue adicionais podem ser necessárias ao longo de vários dias para detectar o organismo. Os esfregaços são tipicamente repetido a cada 12-24 horas. Quando esfregaços permanecem negativos, mas o diagnóstico é fortemente suspeito, uma PCR deve ser realizada e, se positiva, a terapia antimicrobiana deve ser considerada. A detecção de anticorpos no soro da babesia pode ser útil em fazer o diagnóstico, mas o tratamento que se baseia apenas na análise sorológica positiva deve ser evitado. 
Entre os testes baseados em anticorpos, o IFA demonstrou ser o mais sensível e detecta 100% dos casos de babesiose aguda com esfregaço de sangue positivo e espera-se que seja altamente sensível na detecção de doadores com infecções assintomáticas por Babesia, enquanto os títulos de anticorpos são mantidos por um baixo grau de infecção.
Centros de Controlee Prevenção de Doenças acrescentam que amostras de indivíduos epidemiologicamente ligados à exposição a B. microti precisam apenas exibir reatividade em um título de ≥1:64 para ser considerado um caso de babesiose
Abordagem terapêutica e evolução
 
Para o tratamento da doença em animais são indicados basicamente dois fármacos comercialmente disponíveis: Diaceturato de diminazina (3 à 5 mg/kg ; 2 -3 aplicações a cada 24 h), Dipropionato de imidocarb (1 à 3 mg/kg ; 2 -3 aplicações a cada 24 h). O imidocarb é o fármaco considerado de dupla ação, sua utilização deve ser acompanhada por cuidados específicos e uma medicação suporte com hepatoprotetor, soro glicosado, anti-histamínico, sombra, água fresca, alimento a disposição e sem muita movimentação.
Em regiões endêmicas é preconizado que animais jovens entrem em contato com carrapatos para criarem imunidade contra os agentes da TPB, caso esta infestação seja muito grande deve ser realizado o controle do ectoparasita. Podem ser realizados banhos estratégicos em áreas epidêmicas e endêmicas como forma de controle do carrapato. 
Atualmente algumas vacinas tem sido desenvolvidas, a maioria das vacinas contra a TPB consistem em cepas atenuada de B. bovis e B. bigemina somadas a A. centrale (menos patogênico que o A. marginale). Este inócuo é padronizado e o animal apresenta uma infecção subclínica, é uma medida mais segura, pois não apresenta sua forma virulenta normal.
O tratamento para humanos é considerado apropriadamente indicado quando pacientes sintomáticos forem detectados com babesiose em esfregaço ou PCR, ou pacientes assintomáticos com persistência de babesia por mais de três meses.
A infecção por babesia micoti grave requer internação hospitalar e é comum entre os pacientes que foram submetidos à esplenectomia e aqueles com neoplasias, infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, hemoglobinopatias, ou doença pulmonar ou cardíaca crônica, além de insuficiência hepática. Outros grupos com maior risco de doença grave incluem pessoas com idade superior a 50 anos, pacientes que recebem tratamento com drogas imunossupressoras para neoplasia ou submetidos a transplantes de órgãos, e aqueles que recebem terapia anticitocinas como etanercept e infliximab, ou medicações que depletam linfócitos maduros como o rituximab. Complicações desenvolvem em aproximadamente metade dos pacientes que são internados com babesiose. A síndrome do desconforto respiratório agudo e CIVD são as complicações mais comuns, mas a insuficiência cardíaca congestiva, coma, insuficiência hepática, insuficiência renal, ou a ruptura do baço também pode ocorrer. As taxas de mortalidade de 6-9% foram relatadas em pacientes hospitalizados e até 21% entre aqueles com casos imunossuprimidos causados por babesia duncani. A maioria dos casos causados pelo babesia divergens é grave  e ocorre em pessoas esplenectomizadas. A taxa de mortalidade por babesia divergens diminuiu drasticamente desde a utilização da combinação de agentes antimicrobianos.
 
Uma combinação de atovaquone e azitromicina é o tratamento de escolha para pacientes imunocompetentes com babesiose leve a moderada. Outra combinação possível é a clindamicina e quinino na eliminação da parasitemia e resolução de sintomas. Em um estudo apenas 15% dos pacientes que receberam atovaquone e azitromicina tiveram sintomas consistentes com uma reação adversa à droga, e apenas um paciente (2%) teve que interromper a medicação por causa dos efeitos colaterais. Em contraste, três quartos dos pacientes que receberam clindamicina e quinino tiveram reações adversas, e foi necessária a redução da dose ou a descontinuação do tratamento em um terço desses pacientes. 
 
	Doses
	Atovaquone 
	Adulto, 750 mg; crianças 20 mg / kg (no máximo, 750 mg / dose) a cada 12 horas
	 
	Azitromicina
	Adulto, 500 mg no dia 1 e 250 mg em dias subsequentes; crianças: 10 mg / kg (máximo, 500 mg / dose) no dia 1 e 5 mg / kg (no máximo, 250 mg / dose) nos dias subsequentes.
	 
	Clindamicina e quinino
	Clindamicina Oral Adulto, 600 mg a cada 8 horas; crianças: 7-10 mg / kg (no máximo, 600 mg / dose) a cada 6-8 horas.
	 
	Intravenoso
	Adulto 300-600 mg a cada 6 horas; crianças: 7-10 mg / kg (no máximo, 600 mg / dose) a cada 6-8 horas.
	 
	Quinino 
	Adulto, 650 mg a cada 6-8 horas; crianças: 8 mg / kg (no máximo, 650 mg / dose) a cada 8 horas.
 
Todas as doses da terapia antimicrobiana são administradas durante 7-10 dias, exceto em pacientes com recidiva persistente, que recebem tratamento durante pelo menos seis semanas, incluindo duas semanas após a babesia não ser detectada em um esfregaço de sangue periférico. A exosanguinotransfusão completa ou parcial é recomendada para babesiose causada por babesia divergens, mas também deve ser considerada em qualquer caso grave de babesiose causada por outras espécies de babesia microti, incluindo babesia duncani. Todos os agentes antimicrobianos são administrados por via oral, a não ser em casos severos de  babesia microti e babesia divergens.
Para os pacientes imunocomprometidos com babesiose, bons resultados foram relatados com o uso de atovaquona e azitromicina combinados com doses mais elevadas de azitromicina (600-1000 mg por dia).
Os portadores assintomáticos devem ser considerados parasitas se forem detectados por mais do que três meses. A combinação de clindamicina e quinino foi o primeiro regime antimicrobiano bem sucedido para o tratamento de infecção por babesia microti, e clindamicina intravenosa e oral, ainda quinino é recomendado para pacientes com doença grave. Quando necessário, a quinidina intravenosa pode ser utilizada em vez de quinino oral, mas requer monitorização cardíaca para um possível prolongamento do intervalo QT. Transfusão de sangue completo ou de concentrado de hemácias deve ser considerada em pacientes com doença grave, particularmente aqueles infectados com babesia divergens. 
As indicações para essa terapia incluem um elevado nível de parasitemia (maior ou igual a 10%), anemia clinicamente significativa, ou disfunção renal, hepática, ou pulmonar.
Pacientes imunodeprimidos podem ter babesiose persistente e recidivante, apesar de o tratamento com o curso normal de 7-10 dias dos agentes antimicrobianos. Em pacientes com doença recidivante com indicação de terapia de longo prazo (mais do que quatro semanas) pode ocorrer resistência a atovaquona e ocasionalmente a azitromicina.
Os pacientes com babesiose devem ser cuidadosamente monitorados  durante o tratamento. Na maioria dos casos, sintomas desaparecem em um ou dois dias após a terapia antimicrobiana. A infecção desaparece dentro de três meses. Em pacientes gravemente doentes, a parasitemia deve ser monitorada diariamente até que tenha diminuído para um nível de menos do que 5% e a condição do paciente melhorado. Se os sintomas reaparecerem, o tratamento deve ser retomado imediatamente, com acompanhamento clínico próximo.
 
Medidas Profiláticas e de Controle 
As medidas preventivas consistem de medidas de proteção pessoal e residencial e abordagens comunitárias, incluindo evitar locais onde carrapatos, ratos e veados prosperam. 
Para cães e felinos, o melhor método para prevenir a babesiose é o controle dos carrapatos, que pode ser realizado com o uso de carrapaticidas ou coleiras que contenham a substância e higiene do local do animal. 
A profilaxia em bovinos, equinos, caprinos e suínos se baseia principalmente em quatro estratégias que visam ao combate aos carrapatos. A primeira é através de carrapaticidas usados em banhos de imersão levando-se em consideração a dose e concentração corretas, fazendo-se sempre o rodízio do princípio ativo afim de que seja evitada a resistência por parte dos carrapatos; a segunda é a premunição, que é a exposição do animal ao agente, seguidos de correto tratamento para que sejam ativadas as células de defesa; a terceira é a vacinação utilizando-se protozoários vivos, apesar de esta técnica apresentar a desvantagem de muitos animais morrerem devidoa infecção causada pela vacina ou pela intoxicação através do babesicida usado para controlar uma possível superinfecção, valendo lembrar que os esquemas de vacinações geralmente são feitos com vacinas atenuadas que contêm parasitas menos virulentos e incapazes de infectar os carrapatos vetores, estas fazem com que os animais fiquem menos expostos a infecção, ou ainda podem ser feitos com vacinas mortas, estas já um pouco desacreditadas em virtude de sua fraca imunogenicidade; e a quarta estratégia é a quimioprofilaxia através de drogas como o imidocarb que possuem um efeito residual que permite ao animal adquirir a infecção de forma mais branda a proporção que a ação da droga vai diminuindo.
É especialmente importante para os animais/pessoas com maior risco, como imunocomprometidos, ou que interajam em áreas onde a babesiose é endêmica, evitar florestas e locais onde proliferem carrapatos. Pessoas que não podem evitar essas áreas devem usar roupas de proteção, aplicar repelentes de carrapatos contendo permetrina ou ao vestuário e repelentes e examinar a si mesmos diariamente para retirar carrapatos. Estratégias de manejo do meio ambiente, tais como manter a grama cortada, usando plantações que não atraem veados, e pulverizar áreas de alta densidade com formulações anticarrapato pode ajudar a reduzir o risco de picadas de carrapato.
Novas ferramentas e alterantivas terapeuticas
Nos últimos anos, o uso de novas ferramentas com base na biologia molecular permitiram uma análise filogênica mais apurada, bem como identificação de novas espécies de babesia e um estudo mais aprofundado da interação parasito-hospedeiro.
A diferença de estudos com bases moleculares é que eles permitem amplificar o material genético do parasita diretamente no hospedeiro. Muitos estudos disponíveis na literatura nas últimas décadas tem utilizado carrapatos coletados do ambiente como fontes de investigação. Isso permite um estudo mais específico que reflete a situação epidemiológica real em certos habitats, por exemplo.
Alguns estudos utilizando análise de polimorfismos em sequencias únicas de nucleotídeos também permitiram prever a co-interação dentro do mesmo gênero. Por exemplo em um estudo com carrapatados Dermacenter foi possível identificar sequencias de dois parasitas B. microti e B.divergis. 
Os avanços nas tecnologias de detecção melhoraram a capacidade diagnóstica, principalmente por possibilitar a identificação confiável de infecções precoces de baixo grau para diagnóstico clínico e monitoramento do tratamento. Em um relato de caso, a infecção por B. microti, com base nos resultados da reação em cadeia da polimerase (PCR), pode persistir por até 27 meses sem doença clínica evidente.
Para entender melhor a diversidade genética e as relações evolutivas, os pesquisadores começaram a sequenciar o genoma de B. microti de isolados de parasitas coletados em todo o mundo. Em um estudo abrangente, o sequenciamento completo do genoma de 42 amostras de B. microti de diferentes partes do mundo mostrou extensa diversidade genética.
A sequência do genoma de B. microti foi publicada pela primeira vez em 2012 [42]. As análises revelaram um genoma de aproximadamente 6,5 Mbp que codifica cerca de 500 polipeptídeos, que é o menor de todos os genomas nucleares de Apicomplexa.
Uma combinação de descoberta de antígenos baseada em genômica e análises de sequências computacionais permitiram a identificação de novos alvos de detecção conservados com alto número de cópias, que anteriormente não estavam disponíveis [42,43,44]. Por exemplo, o gene de RNA ribossômico 18S é o alvo de amplificação mais comumente usado para Babesia spp. detecção [33,35,41]. Recentemente, genes da família BMN com alto número de cópias foram avaliados quanto à sensibilidade analítica por RT-PCR. A proteína 1 da superfície da célula alfa-helicoidal de B. microti (BmBAHCS1, também conhecida como BmGPI12 [52], BMN1-9 [50] e BmSA1 [53]), um antígeno B. microti secretado, foi identificada por Cornillot et al. como o antígeno mais sensível para a detecção de infecções ativas.
hekkiniath et ai. desenvolveram um ensaio de captura de antígeno para a detecção de BmBAHCS1 que tinha um limite de detecção de 20 pg/μL em amostras in vitro
Referências
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Batista, G.O. Babesiose equina: uma revisão. Academic monograph. São Paulo: Instituto Butantan; 2022. 44 p.
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Fasciola
Introdução
Fasciolose é uma parasitose causada pelo parasita Fascíola hepática, que pertence a classe Trematoda e apresenta em humanos um risco considerável à saúde, com crescentes números de casos identificados em diversos países nas últimas décadas. O homem é considerado um hospedeiro acidental sendo necessário para ocorrer a transmissão a presença do caramujo do gênero Lymnaea (hospedeiro intermediário), umidade e elevada e precipitação. A infecção ocorre após a ingesta de água ou verduras cotaminas com metacércarias do parasita e pode apresentar-se de forma aguda ou crônica. 
As manifestações iniciais incluem dor abdominal e hepatomegalia, podendo evoluir para  colelitíase, colangite, icterícia obstrutiva ou pancreatite. Por ser uma zoonose, a enfermidade fasciolose possui grande importância veterinária ao ponto que a saúde pública também pode ser afetada. Considerada responsável por causar perdas econômicas significativas em bovinos, devido à diminuição na produção de carne e leite, condenação de fígados parasitados e aumento na mortalidade. 
Conhecer aspectos da epidemiologia, sinais clínicos, conduta terapêutica e formas de controle e profilaxia referentes a fasciolose é essencial diante da grande importância da babesiose e seus efeitos deletérios à pecuária e a saúde humana. A seguir serão abordados aspectos sobre epidemiologia, ciclo biológico do protozoário, sinais clínicos, e subsídios ao diagnóstico e terapêutica da enfermidade. 
Histórico
Fasciola hepatica Linnaeus, 1758, é um parasito de vias biliares de ovinos, bovinos, caprinos, suínos e vários animais silvestres. A trajetória do F. hepatica no mundo é tão antiga quanto a história da humanidade. Achados paleontológicos na Alemanha, datados de 3.000 a.C., revelam a presença de ovos desse trematódeo em restos humanos e de bovinos, mostrando que já era encontrado no velho mundo. Na história, o primeiro registro de F. hepatica teria se dado no século IX no Tratado de Saúde Animal do Mundo Árabe, quando é citada como “uma doença de fígado” em ovinos, sendo o primeiro trematódeo a ter seu ciclo de vida descrito em 1882 na Alemanha.
Epidemiologia
A F. hepática alcançou uma distribuição geográfica quase cosmopolita, podendo ser encontrado em áreas de todos os continentes, exceto a Antártida. Este fato é consequência das diferenças de comportamento, hábitos, tradições e alimentação de acordo com as diferentes regiões, características sociais e culturas do mundo. Entre os aspectos subjacentes à heterogeneidade acima mencionada, podem ser destacados: (i) capacidades de adaptação parasitária, (ii) características de transmissão de fasciolidas, (iii) estratégias ecológicasde vetores de limnaeídeos e disseminação, (iv) espécies de animais domésticos e pecuários envolvidos e seu manejo , (v) mudanças climáticas, (vi) mudanças globais, (vii) características gerais do comportamento humano e (ix) fontes de infecção humana.
De acordo com a literatura científica, a infecção humana varia entre 2,4 milhões de pessoas a 17 milhões em 40 países. Entre os países atingidos pelo trema-
tódeo está o Brasil, que acumula uma história recente no contexto mundial desse or-
ganismo. A F. hepatica foi assinalada no Brasil, pela primeira vez em 1918 em bovinos e ovinos do Rio Grande do Sul. Atualmente já é encontrada em animais nos seguintes Estados: Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Bahia (ocorreram casos humanos não autóctones). A fasciolose animal está em expansão no Brasil; de um longo período em que ficou restrita aos estados alcançou o Vale do Paraíba em São Paulo, expandiu para o Mato Grosso e está sendo identificada em Minas Gerais e Espírito Santo. 
É um dos helmintos de animais domésticos e silvestres, incluindo ovinos, bovinos, caprinos, búfalos, camelídeos e cervídeos sendo responsável pela doença denominada fasciolose. Menos comumente, esses parasitas infectam herbívoros não ruminantes (por exemplo, equídeos, lagomorfos, macrópodes e roedores). A infecção causa morbidade e mortalidade significativas e está ligada à redução da produtividade e fertilidade e aumento da suscetibilidade a co-infecções. Juntos, eles contribuem para perdas econômicas anuais da ordem de € 2,5 bilhões em todo o mundo. Um fator importante dos dados coletados no país é que o monitoramento das inspeções (estaduais e federais) no abate não é padronizado. 
Classificação taxonômica e Etiologia da doença
Fasciola hepatica, é um parasito pertencente ao Reino Animalia, Filo Platelmintos, da Classe Trematoda, Subclasse Digenea, Ordem Echinostomatiformes e Família Fasciolidae, Gênero Fasciola. Duas espécies merecem destaque: Fasciola hepática, distribuída globalmente e Fasciola gigantica, restrita à Africana e Ásia.
As características principais deste filo são animais triblásticos, simetria bilateral, acelomados, e corpo achatado dorsoventralmente. O intestino termina em fundo cego e a única abertura do trato digestivo é a boca. O sistema excretor é protonefridial, e sua função é principalmente de regulação osmótica sendo que os produtos de excreção são eliminados principalmente pela superfície do corpo. 
Por fazer parte da classe trematoda apresentam adaptações para a vida parasitária, alguns das quais facilitam a sobrevivência e infestação do hospedeiro, tais como: ventosas, tegumento com cutícula protetora, ausência de órgãos sensoriais e produção de grandes quantidades de ovos. A F. hepatica pertence à subclasse digenea (di: dois, genea: vidas), o nome faz referência a um ciclo de vida heteróxeno com dois hospedeiros: intermediário e definitivo. No hospedeiro intermediário, geralmente um molusco do gênero Lymnaea, habitam os estágios larvais do parasito e no hospedeiro definitivo, geralmente mamíferos, habitam os estágios reprodutores. 
O HI representados geralmente por moluscos da ordem Pulmonatado gênero Lymnaea presentes em locais com canais de drenagem ou irrigação, áreas com pastagens alagadas, pantanosas ou inundadas periodicamente que favorecem condições excelentes para a presença e proliferação dos moluscos do gênero Lymnaea. Tais condições disponibiliza fatores ideias para a sobrevivência dos molusco como temperatura e umidade. 
Aspectos morfológicos
Morfologicamente, as características do parasita adulto se apresentam com uma aparência foliácea, possui ventosa oral e localizada na extremidade anterior serve para alimentação e ventosa ventral para adesão, apresenta ramos cecais um de cada lado. Logo abaixo da ventosa oral vê-se a ventosa ventral e junto a esta, uma abertura do poro genital. Por ser hermafrodita, apresenta aparelho genital feminino um ovário, oótipo, útero e glândulas vitelinas e aparelho genital masculino que correspondem a dois testículos, canal eferente, canal deferente e órgão copulador. Ainda apresenta-se coberto por espinhos. Os adultos de F. hepatica têm ~4 cm de comprimento e ~1,5 cm de largura, enquanto F. gigantica têm ~7,5 cm de comprimento e ~1,5 cm de largura. 
Os vermes podem viver por décadas dentro do hospedeiro e produzir até 25.000 ovos por dia por verme.Os ovos adultos deste parasita possuem o tamanho de 150 µm de comprimento e 100 µm de largura, cor amarelo-marrom, com uma abertura (operáculo)e por onde saem os miracidios, forma larval do parasito, são liberados no intestino e alcançam ​​ o ambiente circundante através das fezes.
Ciclo parasitológico
F. hepatica e F. gigantica têm um ciclo de vida complexo, exigindo um hospedeiro primário vertebrado, no qual os vermes hepáticos se reproduzem sexualmente, e um hospedeiro intermediário (caramujos aquáticos da família Lymnaeidae), no qual ocorre a reprodução assexuada
O ciclo de vida de F. hepatica consiste em seis etapas após a eclosão do ovo, passando pelos estágios larvares de miracídio, esporocisto, rédia, cercária e metacercária e finalmente a forma adulta que produz ovos. Esse complexo ciclo só pode ocorrer se houver condições favoráveis tais como temperaturas entre 10°C à 30°C; pH 7 com variações entre 4,2 a 9,0; ambiente aeróbico e presença de água. Nestas condições, ocorre o desenvolvimento embrionário e eclosão do ovo com consequente emissão da larva ciliada denominada miracídio que mede 220-500 μm por 70-80 μm, com vida útil de 8 a 10 horas em um ambiente aquático favorável, onde a mesma nada até encontrar um hospedeiro intermediário.
A F. hepatica tem como hospedeiro intermediário caramujos do gênero Lymnaea, sendo o mais comum no Brasil é a espécie Lymnaea columela. Contudo, o miracídio pode penetrar em diversas espécies de moluscos aquáticos, ocasionado a morte imediata da larva se esta penetrar no hospedeiro errado. Após penetração no caramujo, o miracídio perde os cílios, migra através dos vasos sanguíneos ou canais linfáticos até à região periesofágica, transforma-se em esporocisto e depois se desenvolve na via hepatopâncreatica até atingir 600 a 700 μm. A vida útil do miracídio (8 a 24 horas) é muito limitada por seus estoques de glicogênio, que é sua principal fonte de energia. Para aumentar as chances de localizar e invadir um caracol hospedeiro adequado nesse período, as larvas desenvolveram mecanismos quimio-sensoriais refinados que envolvem fototropismo positivo e expressão de genes envolvidos na secreção de feromônios e metalopeptidases degradantes de tecidos. 
O parasito passa, então, por um desenvolvimento assexuado, passando pelo estágio de desenvolvimento dos esporocistos, os quais originam-se as rédias que medem cerca de 1 a 3 mm de comprimento e tem alguma capacidade de movimentação, destas surgem as cercarias, que se assemelham a um girino e podem ter 300 μm de diâmetro e 600 μm de cauda. Notavelmente, durante este processo, conhecido como expansão clonal, um único miracídio pode produzir de 10 a 700 cercárias.
Após 7 a 8 semanas da infecção, as cercárias abandonam o caracol devido à elevação da temperatura e luminosidade. As cercarias, então, perdem a cauda e fixam-se por meio da ventosa ventral a plantas, encistando-se e transformando-se em metacercárias. As metacercárias possuem 0.20 a 0.25 mm e são semelhantes a grãos de areia, sendo esta a forma infectante para o hospedeiro definitivo. Elas conseguem sobreviver no ambiente exterior sob certas condições, tolerando melhor o frio (abaixo de -10⁰C), mas são bastante sensíveis ao calor e à dessecação.
O parasita completa seu ciclo heteroxênico, no hospedeiro vertebrado que se infecta ao ingerir pasto contaminadocom metacercárias, as quais se encistam no intestino delgado, migram através da parede intestinal, caem na cavidade abdominal e penetram no parênquima hepático, atingindo os canais biliares onde se fixam e se tornam adultos. Ovos eliminados através das fezes alcançam o ambiente e encontram temperatura e umidade adequadas reiniciando o ciclo. 
Patogenia
A infecção por F. hepatica em humanos e animais ocorre principalmente através do consumo de alimentos contendo metacercárias encistadas. Após a ingestão, as metacercárias excistam e tornam-se juvenis recém excisados ​​(NEJs) dentro do duodeno, as quais atravessam a parede intestinal e migram para o fígado através da cavidade peritoneal. Esta fase é caracterizada por inflamação e danos até que se atinjam os ductos biliares do fígado, onde amadurecem em adultos produtores de ovos.
Diferentes respostas de células T e perfis de citocinas observados em células dos linfonodos mesentéricos (mais IL-5) e hepáticos (mais IL-4) de camundongos infectados com F. hepatica sugerem que NEJ e parasitas em estágio hepático produzem diferentes antígenos que alteram o hospedeiro respostas. Apesar da inflamação inicial, até 50% dos humanos infectados são assintomáticos. Este é um feito extraordinário para qualquer agente infeccioso, pois indica a capacidade de subverter a resposta imune do hospedeiro, que normalmente é armada para expulsar um patógeno. Uma abundância aumentada de anticorpos IgG reativos a antígenos (por exemplo, catepsina L1) sugere que uma resposta dirigida por Th2 está montada.
A resposta imune montada durante os estágios iniciais da fasciolíase é geralmente considerada como uma resposta mista Th1/Th2, onde citocinas como IFNγ, IL-4, IL-10 e TGF-β estão elevadas. À medida que a infecção progride, uma resposta Th2 é amplificada em conjunto com a supressão da inflamação Th1, permitindo assim uma infecção prolongada que pode ser dependente de IL-4.
	A presença de vermes adultos nos ductos biliares pode levar a anemia, inflamação, obstrução e colangite. Isso é facilitado pela liberação de moléculas excretor-secretoras (ES) do parasita que medeiam mudanças fisiológicas que permitem seu estabelecimento dentro do hospedeiro. O ES contém peptidases de catepsina que auxiliam na invasão do parasita ao degradar o colágeno e a fibronectina. Nos ductos biliares, a catepsina-L é fundamental para a digestão da hemoglobina durante as atividades de alimentação. Outras moléculas (peroxirredoxina, catepsina-L e inibidor do tipo Kunitz) estimulam uma forte resposta imune polarizada em direção a um fenótipo Treg/Th2 que favorece a sobrevivência do verme.
Combinando essas estratégias, Fasciola spp. sobrevivem por décadas dentro de seu hospedeiro mamífero, onde se reproduzem e se espalham para se tornar um dos parasitas de vermes zoonóticos mais difundidos do mundo.
Sinais e sintomas
A patologia da fasciolose em humanos depende de várias variáveis, incluindo espécies e isolados de vermes, carga parasitária e biologia do hospedeiro (por exemplo, estado imunológico, idade, nutrição). As manifestações clínicas da fasciolose causada por F. hepatica e F. gigantica são consideradas as mesmas, embora o tamanho maior desta última possa resultar em maior chance de obstrução biliar.
A patologia da doença está principalmente associada ao trauma causado pelos vermes imaturos que se enterram nos intestinos e no parênquima hepático e isso se correlaciona com o nível de infecção. As infecções de baixo nível podem ser assintomáticas ou incluir sintomas leves nos estágios agudos, mas podem progredir para uma situação inflamatória crônica grave em um estágio posterior. No entanto, em geral, a infecção aguda é caracterizada por respostas imunes vigorosas do hospedeiro direcionadas aos parasitas invasivos e seus antígenos, podendo resultar em febre, náusea, dor abdominal, hepatomegalia, perda de peso, anemia, eosinofilia transicional e elevação das enzimas hepáticas. Os sintomas geralmente são de natureza inespecífica e podem ser facilmente confundidos com outras doenças, especialmente as do fígado, e variam de leves a graves. Os pacientes geralmente apresentam uma variedade de indicadores, incluindo febre, dor de cabeça, fadiga, calafrios, suores, dor abdominal, desconforto epigástrico, erupções cutâneas e também podem sofrer de anemia e perda de peso. Os parasitas migratórios danificam os tecidos e os vasos sanguíneos, causando grandes hematomas subcapsulares do fígado que podem ser fatais. Esses sintomas podem durar de 2 a 4 meses.
Embora as infecções crônicas sejam frequentemente assintomáticas, elas podem estar associadas a sinais de obstrução biliar, dor abdominal e intolerância alimentar gordurosa. Estes podem levar meses ou até anos para se manifestar. Com o tempo, os parasitas adultos causam danos ao ducto biliar com seus espinhos quando se movem ao longo da árvore biliar. Eles também secretam muitos antígenos e perfuram as paredes do ducto biliar para obter acesso ao sangue, o que leva à hiperplasia do epitélio do ducto biliar e inflamação crônica e, eventualmente, colangite e colecistite.
A fasciolose ectópica, pela qual o parasita migra para outros tecidos que não o fígado (por exemplo, pulmões, intestinos, cérebro), já foi descrita em humanos embora seja rara. Em situações de extrema patogenicidade como afecções neurológicas e oftalmológicas dando origem a sequelas permanentes e até casos fatais.
Animais infectados apresentam mucosas e pele pálida, perda de peso, diminuição do apetite, e a persistência do edema submandibular, abdome dilatado, respiração acelerada, diarreia e até mesmo podem evoluir para a morte. 
Diagnóstico clínico e laboratorial
A abordagem diagnóstica para pacientes animais e humanos afetados por fasciolose e fasciolopsiasis é apoiada por métodos semelhantes. O quadro clínico pode auxiliar no diagnóstico dessas doenças, principalmente quando ocorre em áreas endêmicas, embora o diagnóstico baseado em sinais e sintomas seja propenso a erros por falta de especificidade (não patognomônico), gerando a necessidade de ensaios diretos ou indiretos para confirmar a presença do parasita.
Os métodos de análise direta, baseados principalmente na identificação de ovos de fasciolida nas fezes por microscopia, continuam sendo uma ferramenta simples e barata para detectar a presença de F. hepatica e F. gigantica em humanos ou animais, e representam a única ferramenta de diagnóstico disponível para os menos espécie estudada F. buski. Esses testes diretos geralmente são a única opção acessível para diagnóstico em áreas rurais ou endêmicas em desenvolvimento e também são usados ​​para estimar a intensidade da infecção. A OMS recomenda a técnica de Kato-Katz como o método de escolha para o diagnóstico da fasciolíase devido à sua facilidade de uso e reprodutibilidade, e sua maior sensibilidade em comparação com a observação de ovos em fezes frescas (OMS, 2007). No entanto, a análise das fezes apresenta sérias desvantagens, como a falta de sensibilidade devido à eliminação irrerregular dos ovos nas fezes, sua aplicabilidade é limitada à fase crônica da doença, quando os ovos do parasita são produzidos, e a dificuldade de distinguir F. hepatica e F. gigantica ovos em áreas onde ambos os parasitas coexistem. Além disso, muitas vezes é difícil estabelecer uma correlação entre a carga parasitária e a contagem de ovos nas fezes. Juntamente com a análise das fezes, outros métodos diretos que dependem da inspeção do líquido duodenal ou da bile, bem como amostras biológicas obtidas de cirurgia ou biópsia hepática, oferecem maior confiabilidade, embora raramente sejam usados ​​devido à à necessidade de pessoal especializado para realizá-los e seu caráter invasivo. Além disso, em animais, parasitas adultos podem ser evidenciados diretamente em exames post-mortem.
As técnicas indiretas compreendem vários testes imunológicos, a maioria deles baseados na detecção de anticorpos circulantes e antígenos parasitários (Espino e Finlay, 1994). Essas técnicas visam fornecer maior sensibilidade

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