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BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA REQUERIDA EM CARÁTER ANTECEDENTE Brief comments about the stabilization of the injunctive relief requested in previous character Revista de Processo | vol. 280/2018 | p. 185 - 209 | Jun / 2018 DTR\2018\14367 Lúcio Grassi de Gouveia Doutor em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa. Mestre em Direito pela UFPE. Professor Adjunto III da Universidade Católica de Pernambuco (Graduação, Mestrado e Doutorado). Pesquisador do Grupo de Pesquisa LOGOS (Processo, Linguagem e Tecnologia da Universidade Católica de Pernambuco). Secretário Adjunto do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP). Conselheiro Fiscal da Associação Brasileira de Direito Processual (ABDPRO). Membro da Associação Norte-Nordeste dos Professores de Processo (ANNEP). Juiz de Direito em Recife-PE. luciograssi13@gmail.com Mateus Costa Pereira Doutorando e Mestre em Direito Processual pela Unicap. Professor de Processo Civil da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Pesquisador do Grupo de Pesquisa LOGOS (Processo, Linguagem e Tecnologia da Universidade Católica de Pernambuco). Membro fundador e Diretor de Assuntos Institucionais da Associação Brasileira de Direito Processual (ABDPro). Membro da Associação Norte-Nordeste de Professores de Processo (Annep) e do Conselho Editorial da Revista Brasileira de Direito Processual (RBDPro). Advogado. mateuspereira@abdpro.com.br Área do Direito: Civil; Processual Resumo: O presente artigo trata de questão relevante para o processo civil brasileiro e pretende responder à seguinte pergunta: é possível uma interpretação que compatibilize os artigos 303 e 304 do Código de Processo Civil brasileiro de 2015 na busca de soluções adequadas para os problemas relativos à compreensão da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente? A cientificidade da pesquisa está diretamente relacionada à determinação dos métodos de estudo. Tendo em vista seu caráter teórico, será utilizado material preponderantemente bibliográfico, consideradas monografias, teses e artigos científicos, de forma a coletarmos as informações mais relevantes acerca do tema suscitado. No final do artigo, concluiremos que o aparente paradoxo existente pode ser superado por uma interpretação que considere que tal estabilização passa pela existência de um microssistema de técnica monitória formado pelas regras da ação monitória e da tutela provisória, pela necessária distinção entre estabilização e coisa julgada material e pela adequada fixação dos pressupostos para a estabilização, de forma a dar utilidade prática a esse instituto inovador e relevante para o processo civil brasileiro. Palavras-chave: Processo civil – Estabilização – Tutela antecipada antecedente Abstract: This article deals with an important question of the Brazilian civil procedure and intends to answer the following question: is it possible to present an interpretation that compatibilize articles 303 and 304 of the Brazilian Civil Procedure Code 2015 in the search for appropriate solutions for problems related to the understanding of stabilization of the injunctive relief requested in the pretrial phase? The scientific research is directly related to the determination of study methods. Given its theoretical character, this study will use mainly bibliographical material, including theses and papers in order to collect the most relevant information. At the end of the article it will be concluded that the apparent contradiction can be overcome by an interpretation that considers that such stabilization involves the existence of a microsystem of monitoring technique formed by the rules of monitory protection and injunctive relief, the necessary distinction between stabilization and res judicata and the proper fixing of the conditions for stabilization, to give practical value to this relevant and innovative institute for the Breves considerações acerca da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente Página 1 Brazilian civil procedure. Keywords: Civil procedure – Stabilization – Preliminary injunctive relief Sumário: 1.Introdução São1 muitos os pontos polêmicos relativos ao estudo da tutela provisória no processo civil brasileiro, merecendo especial destaque aquele referente à estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente. O presente artigo pretende responder à seguinte pergunta: é possível uma interpretação que compatibilize os artigos 303 e 304 do Código de Processo Civil (LGL\2015\1656) brasileiro de 2015 na busca de soluções adequadas para problemas relativos à compreensão da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente? A cientificidade da pesquisa está diretamente relacionada à determinação dos métodos de estudo. Para propiciarmos o aprofundamento temático, empregaremos o método dedutivo, tendo em vista sua natureza doutrinária. Tendo em vista seu caráter teórico, será utilizado material preponderantemente bibliográfico, com pesquisas em monografias, teses e artigos científicos, de forma a coletarmos as informações mais relevantes acerca do tema suscitado. Muito se tem discutido a respeito da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente. A doutrina tem encontrado enormes dificuldades para compatibilizar a interpretação/aplicação dos arts. 303 e 304 do CPC/2015 (LGL\2015\1656). Tentaremos, diante desses dois artigos do CPC/2015 (LGL\2015\1656), propor soluções para problemas que poderão surgir na interpretação e aplicação da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente por juízes e tribunais brasileiros. No final do artigo, concluiremos que o aparente paradoxo existente pode ser superado por uma interpretação que considere que tal estabilização passa pela existência de um microssistema de técnica monitória formado pelas regras da ação monitória e da tutela provisória, pela necessária distinção entre estabilização e coisa julgada material e pela adequada fixação dos pressupostos para a estabilização, de forma a dar utilidade prática a esse instituto inovador e relevante para o processo civil brasileiro. Em relação à classificação da tutela provisória, Leonardo Greco entende que o legislador do CPC/2015 (LGL\2015\1656) a teria adotado por três critérios: o critério da natureza, o critério funcional e o critério temporal. O critério da natureza da providência pleiteada divide a tutela provisória em tutela de urgência, cautelar ou antecipada, e tutela de evidência, em que esta se parece distinguir-se das outras, pela acentuada probabilidade de existência do direito do autor ou pelo elevado valor humano desse direito, a merecer proteção provisória independentemente de qualquer aferição de perigo de dano. Pelo critério funcional, é a finalidade preponderante de preservação ou implementação de alguma situação fática ou jurídica, na esfera do direito processual, para garantir a eficácia da prestação jurisdicional na causa principal ou, diversamente, a imediata investidura do requerente no gozo, ainda que provisório, parcial ou total, do bem da vida almejado na causa principal, que subdivide a tutela provisória em cautelar ou antecipada, podendo esta última ainda subdividir-se em tutela antecipada de urgência e tutela antecipada de evidência. Tendo em vista a instrumentalidade intrínseca à tutela provisória, o critério temporal a divide em antecedente e incidente, conforme seja requerida antes ou no curso da ação principal. A tutela provisória antecedente pode ser cautelar ou antecipada de urgência. A tutela provisória incidente pode ser cautelar ou antecipada. A tutela provisória incidente antecipada pode ser de urgência ou de evidência.2 Breves considerações acerca da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente Página 2 Dessa forma, a tutela provisória (expressão usada pelo legislador) pode fundar-se na urgência ou na evidência. As de urgência (satisfativas ou cautelares) exigem a demonstração da probabilidade do direitoe do perigo de dano (ou de ilícito, em se tratando de tutela inibitória) ou do risco ao resultado útil do processo (art. 300 do CPC (LGL\2015\1656)), esta última expressão usada de forma inadequada pelo legislador, e em face do posicionamento que adotamos de que as cautelares não seriam instrumentos do instrumento, existindo um direito próprio a ser acautelado3. As de evidência (sempre satisfativas) pressupõem a demonstração de que as afirmações de fato estejam comprovadas, tornando o direito evidente (art. 311 do CPC (LGL\2015\1656)), independentemente de demonstração do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo. As tutelas de urgência cautelares ou satisfativas podem ser concedidas de forma antecedente ou incidental, considerando o momento em que o pedido de tutela provisória é formulado, em comparação com o da tutela definitiva. A tutela provisória satisfativa antecedente dá início ao processo no qual se pode, futuramente, requerer a tutela definitiva, visando a adiantar seus efeitos (mandamentais ou executivos). Eduardo Costa afirma que seria uma decisão mandamental ou executiva de eficácia imediata de declaração4. A demonstração da ocorrência concreta do periculum in mora não pode autorizar a declaração de nulidade de um contrato, a constituição de uma servidão de passagem, a condenação ao pagamento de indenização e a anulação de um casamento, mas admite que a situação de fato seja esvaziada de todas as circunstâncias que ameaçam tolher o direito do autor5. Ressaltamos que tanto o art. 303 quanto o art. 305 do CPC/2015 (LGL\2015\1656), que tratam dos procedimentos para a tutela antecipada e tutela cautelar requeridas em caráter antecedente, com regimes bem diversos, exigem que na petição inicial o autor indique o pedido de tutela final, a lide e o seu fundamento, respectivamente. Tal previsão é importante, pois se o legislador agora enquadrou ambas no gênero tutela de urgência e incluiu em seu suporte fático a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, por outro lado, no caso das tutelas de urgência antecedentes, há necessidade de distinção entre ambas em virtude da completa diferenciação de procedimentos, a começar pelo fato de que a satisfativa antecedente estabiliza e a cautelar não6. Tal providência visa a impedir que uma providência que aparentemente é satisfativa antecedente e atingiu estabilização se torne cautelar em virtude da apresentação futura de um pedido principal inadequado. Ao trazer para o CPC/2015 (LGL\2015\1656) a técnica da tutela antecipada satisfativa antecedente, o legislador instituiu um procedimento em que o autor pode obter tal tutela, de forma eficiente e rápida, autonomizada e voltada a atingir estabilidade, se assim requerido pelo autor e diante da ausência de impugnação pelo réu. Veremos que o fato de parte da doutrina brasileira apontar que esse procedimento se apresenta como integrante de um microssistema de técnica monitória não pode cegar-nos quanto às distinções que devem ser apontadas entre a técnica monitória e a técnica da estabilização. A tutela monitória foi criada para situações em que, ausente título executivo, haja forte aparência de que aquele que se diz credor tenha razão. Busca-se, a partir do procedimento monitório, a rápida formação de título executivo, funcionando como atalho para o processo de execução, naqueles casos em que cumulativamente há concreta e marcante possibilidade de existência do crédito e o réu, regularmente citado, não apresenta defesa alguma. Sua função essencial, no direito brasileiro, é acelerar o surgimento de autorização para executar7. Foi acolhida a proposta doutrinária que emprega técnica do contraditório eventual já presente no procedimento monitório com o fim de autonomizar e estabilizar a tutela antecipada fundada na urgência8. Partindo do modelo adotado para a ação monitória (arts. 700 a 702 do CPC (LGL\2015\1656)), em que se viabiliza a obtenção de resultados práticos no processo a partir da inércia do réu, em casos em que há concreta e marcante possibilidade de existência do direito do autor, aferida mediante cognição sumária, Breves considerações acerca da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente Página 3 identifica-se a técnica de monitorização do processo civil brasileiro. Preconiza-se a existência de um microssistema de técnica monitória formado pelas regras da ação monitória e da tutela provisória9. Saliente-se que a ação monitória, mediante cognição exauriente, visa à formação de coisa julgada material e a tutela provisória de urgência satisfativa antecedente, mediante cognição sumária, visa apenas à estabilização da decisão. Estabilizada a tutela provisória, a cognição exauriente poderá ficar para outra oportunidade, por meio da ação prevista nos §§ 2º e 5º do art. 304 do CPC (LGL\2015\1656), movida por qualquer das partes, se assim pretenderem. Nessa perspectiva, inverte-se o ônus da instauração do processo de cognição exauriente10, já que o réu, para subtrair-se aos efeitos práticos da medida urgente, deverá promovê-lo, sem prejuízo da iniciativa do autor que pretender obter confirmação da tutela provisória mediante decisão que produza coisa julgada material. Assiste, porém, razão a Heitor Sica, que aponta três claras diferenças entre a técnica monitória e a técnica da estabilização: i) a desnecessidade de demonstração de urgência para manejo do processo monitório; ii) no processo monitório, a efetivação da decisão sumária ocorre apenas após a estabilização, ao passo que na da tutela antecipada sua eficácia é liberada mesmo antes da estabilização; e a iii) desnecessidade de prova escrita de obrigação líquida e certa para pleitear a tutela antecipada urgente satisfativa em caráter antecedente, embora seja difícil imaginar que o autor convença o juiz da probabilidade de seu direito sem qualquer prova escrita11. Em face da monitorização do procedimento e em aplicação analógica do art. 702, § 1º, do CPC (LGL\2015\1656), que afirma que os embargos à ação monitória podem se fundar em matéria passível de alegação como defesa no procedimento comum, concordamos com Mitidiero12, que defende que essa ação exauriente é simples prosseguimento da ação antecipada antecedente, pelo que não haverá inversão do ônus da prova, cabendo ao autor da antecedente, que agora poderá ser réu da exauriente, provar os fatos constitutivos do seu direito e ao réu da antecedente, que agora poderá ser autor da exauriente, provar fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor da antecedente. Tal posição tem por fundamento a ideia do contraditório eventual que ocorre em face da monitorização do procedimento, que não poderia resultar na inversão do ônus da prova causando situação de extrema dificuldade para o autor da ação exauriente. A opção de conceder estabilidade às medidas antecipatórias foi adotada pelo sistema processual italiano, inspirada no sistema dos référés franceses, com o intuito de afastar os males decorrentes da excessiva demora para se obter decisão definitiva da lide, bem como evitar a propositura de processos principais quando as partes estivessem satisfeitas com o provimento obtido em sede de antecipação de tutela. Para tanto, foi alterado o CPC italiano em 2005, dando-se nova redação aos seus artigos 669-octies e 669-novies, estabelecendo-se que, uma vez deferida a tutela antecipada, tal decisão não perderá sua eficácia caso não proposto o processo principal no prazo peremptório previsto por lei, adquirindo estabilidade e, por consequência, perdendo seu caráter instrumental e acessório. Assim, tornou-se facultativa a propositura do processo principal tanto pelo requerente como pelo requerido, que irão ajuizá-lo apenas se tiverem interesse na continuidade do processo para obter decisão definitiva sobre a questão já apreciada sumariamente13. Concedida a tutela provisória de urgência satisfativa antecedente, não havendo impugnação do réu e uma vez efetivada integralmente a medida, o processo será extinto semapreciação do mérito e a providência urgente deverá manter sua eficácia por tempo indeterminado. O direito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada, previsto no § 2º desse artigo, cessará após dois anos, contados da ciência da decisão que extinguiu o processo, nos termos do § 1º. Ocorre, assim, a estabilização da tutela urgente satisfativa antecedente. Por força de lei, não cabe o regime da estabilização para as tutelas provisórias de urgência cautelares nem para as tutelas provisórias de evidência. Nos termos do art. 1.015, inc. I, do CPC (LGL\2015\1656), o recurso cabível contra decisão concessiva da antecipação de tutela é o agravo de instrumento, no primeiro grau; agravo interno no segundo grau; Breves considerações acerca da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente Página 4 sendo possível, ainda, em certos casos, consideradas as restrições do Enunciado 735 da Súmula do STF, o uso dos recursos extraordinário e especial contra decisões de tribunais. Não interpostos tais recursos pelo réu, estabiliza-se a decisão. A estabilização não se confunde com coisa julgada, nos termos do § 6º do art. 304 do CPC (LGL\2015\1656), já que não houve cognição suficiente para tanto, cabendo inclusive a extinção do processo sem apreciação do mérito, por sentença, com preservação dos efeitos da decisão provisória, que terá os efeitos estabilizados. Difere a estabilização da coisa julgada, que recai sobre o conteúdo (declaratório) da decisão, que se torna indiscutível, e não sobre seus efeitos. Trata-se de hipótese de tutela sumária definitiva, que em contraposição à tutela sumária provisória, tem eficácia plena independentemente de ulterior confirmação por sentença proferida com base em cognição exauriente14. Não poderíamos deixar de reconhecer aqui a possibilidade de que certas tutelas antecipadas possam ensejar, no plano pragmático, resultado prático equivalente àquele pretendido por meio da decisão final do processo, ou seja, poderá esgotar os efeitos concretos da ação principal. Muitas vezes, tal ordem provisória mostra-se, no caso concreto, a única via processual para impedir a perda irreparável (“unwiederbringlicher Rechtsverlust”) do direito. Coloca-se o juiz numa situação difícil, pois ou aceita decidir o pedido de tutela de urgência satisfativa que produz efeitos tão marcantes no campo pragmático ou deixa que a passagem do tempo crie por si mesma uma situação jurídica irreparável e irreversível. Na dúvida, deve escolher a solução que se apresente conforme o princípio da tutela jurisdicional efetiva15. Nesses casos o tempo é fator decisivo e a antecipação realizada poderá apresentar efeitos fáticos definitivos, sendo a decisão provisória porque proferida com base em cognição sumária. Pense-se no caso de concessão de autorização para determinado candidato participar de guia eleitoral na televisão, que se encerra em alguns poucos dias. Ora, mesmo que ele se comprometa a formular o pedido principal e permitir que o juízo realize a cognição exauriente da matéria, a concessão de liminar satisfativa praticamente esgota, em termos práticos, aquilo que o autor está buscando com o pedido principal. Através desse ele postulará o reconhecimento (declaração) do direito de participar do guia; mas o efeito mandamental, tão importante do ponto de vista pragmático, já terá sido antecipado. O juiz que deferiu a liminar foi aquele que efetivamente solucionou em termos pragmáticos o conflito, apesar de tê-lo feito em cognição sumária em virtude da impossibilidade de aguardar a discussão do mérito em cognição exauriente. Para casos como esses, a estabilização funciona muito bem, pois podem as partes não ter mais qualquer interesse no julgamento do pedido principal futuro. No contencioso administrativo francês fala-se em procedimentos de urgência que podem resultar em decisões de mérito definitivas – processos que estariam num ponto de ruptura com o conceito de réferé e traduzem a aceitação, por parte dos intervenientes no contencioso administrativo francês, de uma clara opção por uma justiça sumária em vez da justiça produzida de forma demorada por tribunais colegiais, em processos normais. São eles: a) em matéria de “domicilie de secours” respeitante a ajuda social, b) “ le prononcé de condamnations em matière d’audiovisueles ” pelo qual, entre outras medidas, se poderá proibir a exibição de um filme erótico na televisão em horário de grande audiência, c) “ le pouvoir d’annuler les arrêtés de reconduire des étrangers à la fronteire ” (ou seja o processo referente à anulação das decisões de recondução de estrangeiros à fronteira, cuja decisão de fundo será emitida em 48 horas) e d) o “réferé précontractuel”16. Como afirmam Roberto Campos Gouveia, Ravi Peixoto e Eduardo Costa, o entendimento mais adequado parece ser o de que, mesmo após os dois anos, não haverá formação de coisa julgada material. Além da dicção expressa do art. 304, § 6º, é preciso perceber que o próprio procedimento não foi construído para a produção da coisa julgada. O seu objetivo não é esse, mas tão somente o de satisfação fática da parte. Afinal, se o objetivo da parte é o de obter a coisa julgada material, tem-se o procedimento comum Breves considerações acerca da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente Página 5 para tanto. Impor a formação de coisa julgada material no procedimento de antecipação de tutela antecedente é tentar encaixar antigos conceitos a fórceps no fenômeno da estabilização. Trata-se de uma forma de simplificar a estabilização17. Para esses autores, decorridos dois anos da estabilização da tutela antecipada antecedente, não há coisa julgada e nem se pode admitir o ajuizamento de ação rescisória. O que se tem é um fenômeno novo, com características próprias – a imutabilidade das eficácias antecipadas. Trata-se de um meio caminho entre a ampla mutabilidade das decisões antecipatórias incidentais e a coisa julgada material. Ele impede que, pela impossibilidade relativa de se discutir o dictum da decisão antecipatória, se alterem, de modo forçado a seu beneficiário, as eficácias antecipadas: a derrubada de um muro, a devolução de um determinado bem18. Estabilizada a decisão e no prazo de dois anos contados da ciência da decisão que extinguiu o processo, nos termos do § 1º do art. 304 do CPC (LGL\2015\1656), quaisquer das partes poderão propor ação autônoma com o intuito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada estabilizada nos termos do caput do art. 304 do CPC (LGL\2015\1656). O autor poderá buscar até mesmo a sua confirmação, dessa vez por decisão fruto de cognição exauriente com aptidão para fazer coisa julgada material. O réu que se manteve inerte poderá, agora, retomar a discussão da matéria. Dessa forma, inverte-se o ônus do tempo em desfavor do réu que não impugnou a anterior decisão concessiva de tutela provisória de urgência satisfativa antecedente, que conserva seus efeitos enquanto não revista, reformada ou invalidada por decisão de mérito a ser proferida nessa ação autônoma. Para instruir a inicial da ação autônoma, quaisquer das partes podem requerer desarquivamento dos autos em que foi proferida decisão anterior. Deverá essa ação ser proposta, em face da prevenção, perante o juízo em que a tutela antecipada foi concedida (art. 304, § 4º, do CPC (LGL\2015\1656)). Concordamos com Heitor Sica, para quem, passados dois anos da decisão extintiva do feito, produz-se uma estabilidade qualificada. Reconhece que a explicação de tal fenômeno repousaria na decadência, tal como ocorre com a rescisória, de modo que a extemporaneidade da demanda promovida com base no art. 304, § 2º levaria à extinção do feito com fundamento no art. 487, II, do CPC (LGL\2015\1656)19. Enfim, estabilização e coisa julgada são fenômenos diversos. Passemos agora à análise dos pressupostos necessários para a estabilização. O primeiro pressuposto à estabilização tem relação com o pedido do autor. Nos termos do § 5º do art. 303 do CPC (LGL\2015\1656), o autor indicarána petição inicial que pretende valer-se do benefício previsto no caput desse artigo e, em simultâneo, deverá manifestar interesse em não dar prosseguimento ao processo após concessão da tutela antecipada; ou seja, fará clara e inequívoca opção pelo procedimento da tutela provisória satisfativa antecedente que tem natureza estabilizável, abrindo mão do prosseguimento do processo para obtenção de uma decisão fruto de cognição exauriente a ser protegida pelo manto da coisa julgada material. O réu precisa também saber de antemão qual a intenção do autor, evitando-se assim que seja surpreendido. Considerando que o 303, § 5º, tem aplicação à tutela antecipada em caráter antecedente, defendemos sua aplicação à estabilização, no intuito de resguardar a posição do demandado – conforme será objeto de análise, o réu precisa ter ciência da intenção do autor a fim de avaliar se permitirá a estabilização, uma vez que a estabilização seguida da extinção do processo também poderá lhe ser proveitosa. Havendo cumulação de pedidos, não caberá estabilização da tutela antecipada parcial, ou seja, não poderá ser concedida a tutela satisfativa antecedente para um deles, sujeita ao regime de estabilização em dois anos, com prosseguimento do processo em relação ao(s) outro(s), nos casos de cumulações simples ou sucessiva. É que havendo continuidade do processo, a decisão antecipatória da tutela poderá ser revogada no curso do processo ou na própria decisão final, não havendo possibilidade nem necessidade do ajuizamento de ação autônoma para sua revisão, reforma ou invalidação Breves considerações acerca da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente Página 6 (ou mesmo confirmação), nos termos do art. 304, § 2º. O processo deverá ter continuidade para julgamento do mérito e a tutela antecipada parcial deverá ser confirmada ou revogada pela sentença. Quanto ao conteúdo da petição inicial, estando presente a situação de urgência no momento da propositura da ação, tal situação autoriza que o autor se limite a requerer a tutela provisória de urgência antecedente, que dá início ao processo no qual poderá ser obtida, ou não, no futuro, a tutela definitiva. Por meio de um requerimento anterior à formulação do pedido de tutela definitiva o autor busca apenas antecipar os efeitos práticos (executivos e mandamentais) da futura tutela satisfativa definitiva. Pede-se a tutela provisória e depois a definitiva, tudo no mesmo processo. Pode acontecer, ainda, de o autor formular de logo seu requerimento de tutela provisória antecipada em petição inicial completa, que já contém o pedido de tutela satisfativa definitiva, que não necessitará de aditamento posterior. Nesse caso, restando claro que se contenta com a estabilização, nada obsta a aplicação do regime estabilizatório. Dessa forma, o CPC de 2015 cria a possibilidade de o autor explicitar na inicial que pretende valer-se do benefício previsto para a concessão de tutela de urgência satisfativa em caráter antecedente, nos termos do art. 303, § 5º, do CPC (LGL\2015\1656), regime que permitirá sua sujeição ao regime da estabilização previsto no art. 304 e parágrafos do CPC (LGL\2015\1656). No ponto, é importante esclarecer que não defendemos que os arts. 303 e 304 sejam uma amálgama (de interpretação/aplicação consorciada), vale dizer, que a opção pelo regime antecedente disciplinado pelo primeiro conduziria, necessariamente, a opção pelo regime da estabilização (art. 304); para nós, uma compreensão nesse sentido restringiria, injustificadamente, a facilitação ao acesso à justiça (à tutela de urgência satisfativa) açambarcada pelo art. 303, CPC (LGL\2015\1656)20, sendo uma interpretação que diminui as potencialidades do regime antecedente. Veremos adiante que a aplicação do regime estabilizatório pressupõe a ausência de impugnação do réu e acarretará a extinção do processo sem apreciação do mérito, por sentença, com estabilização da decisão, podendo ser a decisão revista, reformada, invalidada, ou mesmo consolidada21, em ação própria movida por quaisquer das partes no prazo de dois anos. Deve o autor requerer na inicial a tutela antecipada, indicando também o pedido de tutela definitiva ou final, que será formulado no prazo previsto em lei para o aditamento (art. 303, § 1º, inc. I, do CPC (LGL\2015\1656)), com exposição sumária da causa de pedir, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou de ilícito22, ou ainda do risco ao resultado útil do processo (expressão usada pelo legislador). Deve indicar ainda o valor da causa, considerado para efeito do cálculo o pedido de tutela final ou definitiva que pretende formular (art. 303, § 4º, do CPC (LGL\2015\1656)). Deve explicitar que pretende valer-se do benefício previsto para a concessão de tutela de urgência satisfativa em caráter antecedente, nos termos do art. 303, § 5º, do CPC (LGL\2015\1656). Caso haja documentos imprescindíveis à concessão da tutela antecipada antecedente, deverá juntá-los com a inicial, podendo os demais ser acostados aos autos quando do aditamento posterior. Requerida a concessão de liminar pelo autor, o juiz poderá concedê-la com ou sem a oitiva da parte contrária, ou após justificação prévia. Diante do amplíssimo contraditório veiculado pelo CPC de 2015, defendemos a excepcionalidade da concessão de liminares inaudita altera parte. As exceções ao art. 10 do CPC (LGL\2015\1656), que exige oitiva prévia da parte contrária como regra, estão previstas no art. 9º do mesmo CPC (LGL\2015\1656) e se aplicam para a tutela provisória de urgência, tutela de evidência nos casos do art. 311, incisos II e III e decisão do art. 701 do CPC (LGL\2015\1656), que se refere à tutela da evidência para expedição de mandado de pagamento, de entrega de coisa ou para a execução de obrigação de fazer ou não fazer em ação monitória. Mesmo nesses casos, temos defendido que a concessão de liminares sem oitiva da parte contrária somente se justificaria diante da impossibilidade de aguardar a manifestação do réu, sendo medida excepcionalíssima. Assim, mesmo nessas hipóteses excepcionais do art. 9º, o juiz deverá ouvir a parte contrária, nos casos em que a oitiva não comprometer a efetividade da medida. Poderá o juiz exigir, conforme o caso, caução Breves considerações acerca da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente Página 7 real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa sofrer, autorizada sua dispensa caso a parte economicamente hipossuficiente não puder prestá-la (art. 300, §§ 1º e 2º, do CPC (LGL\2015\1656)). A tutela de urgência antecipada não deverá ser concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão, o que tem sido visto com ressalvas, em nome da aplicação do postulado normativo da proporcionalidade (§ 3º do art. 300 do CPC (LGL\2015\1656)), evitando-se assim que o autor sofra mal maior com a denegação do que aquele que seria causado ao réu com a concessão. O segundo pressuposto à estabilização tem relação com a decisão em si. É que só haverá estabilização para decisão concessiva de tutela provisória satisfativa antecedente, concedida, na primeira instância como em grau de recurso, antes do aditamento da inicial para complementação da causa de pedir e formulação de pedido definitivo23. Mas a circunstância de se ter realizado justificação prévia, antes da concessão da liminar, nos termos do art. 300, § 2º, do CPC (LGL\2015\1656), não impede que a mesma decisão atinja a estabilidade. O terceiro pressuposto à estabilização tem relação com a atitude adotada pelo réu quando citado e intimado após a concessão da medida. Dispõe o art. 304 do CPC (LGL\2015\1656) que concedida a tutela antecipada, nos termos do art. 303 do CPC (LGL\2015\1656), torna-se estável se da decisão que a conceder não for interposto o respectivo recurso. Aplicar-se-ia ao caso o agravo de instrumento no primeiro grau, agravo interno das decisões monocráticas nos tribunais, sendo possível, ainda, em certos casos, consideradas as restriçõesdo Enunciado 735 da Súmula do STF, o uso dos recursos extraordinário e especial contra decisões de tribunais. Saliente-se que pode ser viável a interposição de embargos declaratórios com efeitos infringentes. Não interpostos tais recursos pelo réu, estabiliza-se a decisão. Entendemos razoável o entendimento da doutrina que tem exigido não só a ausência de interposição do recurso tempestivo, mas também que o réu não tenha se valido de nenhum outro meio de impugnação da decisão, pedido de suspensão de segurança, pedido de reconsideração, antecipação da defesa, comparecimento à audiência de conciliação e de mediação ou mesmo reclamação24, malgrado não haja um consenso em torno de todos os instrumentos citados. Tal entendimento ampliativo privilegia a manifestação inequívoca do réu de prosseguimento do processo e evita o uso do agravo de instrumento (ou de outro recurso, conforme a natureza do pronunciamento judicial) quando, de outro modo, restar evidenciada a intenção do réu nesse sentido. Admitida pelo magistrado outra manifestação diversa do recurso, deverá ocorrer no prazo do recurso cabível. Recomendamos, porém, que num primeiro momento a parte ré use efetivamente o recurso (em sentido técnico) para impugnar tal decisão, tendo em vista a opção do legislador por esse meio impugnativo e o grande número de magistrados a interpretar literalmente o dispositivo. Para obstar a estabilização, não há necessidade de que o recurso tenha sido provido, bastando ter sido admitido. Nesse sentido, veja-se o Enunciado 28 da ENFAM, “admitido o recurso interposto na forma do art. 304 do CPC/2015 (LGL\2015\1656), converte-se o rito antecedente em principal para apreciação definitiva do mérito da causa, independentemente do provimento ou não do referido recurso”. A estabilização não ocorrerá caso o réu inerte tenha sido citado e intimado por edital ou hora certa, se estiver preso ou for incapaz sem representante ou em conflito com ele. Nesses casos será necessária a designação de curador especial que terá o dever funcional de promover sua defesa, mesmo que genérica, impugnando a decisão concessiva da tutela antecipada satisfativa concedida. Não haverá estabilização quando, apesar da inércia do réu, a demanda for devidamente respondida e a tutela antecipada concedida antecedentemente for questionada por quem se apresente como assistente simples do réu ou por litisconsorte cujos fundamentos de defesa aproveitem também ao réu inerte25. Breves considerações acerca da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente Página 8 É importante destacar que a estabilização também não ocorrerá se o réu não for cientificado da possibilidade de sua ocorrência, uma vez que não poderá ser surpreendido – vedação à decisão-surpresa26. Como vimos, o autor deve ressaltar na inicial que se contenta com o regime estabilizatório, caso em que dispensa o julgamento do pedido principal. Sabendo o réu, de antemão, que o autor se contenta com a estabilização da tutela satisfativa antecedente e que dispensa a apreciação do pedido principal, poderá não impugnar a decisão concessiva da tutela de urgência, caso em que teremos um negócio jurídico processual plurilateral e o processo será extinto sem resolução do mérito, por sentença, com a estabilização. Em havendo impugnação, o processo deverá prosseguir até atingir o julgamento final por sentença que aprecie o mérito, suscetível de fazer coisa julgada material. Esse tem sido um dos grandes obstáculos ao adequado entendimento da estabilização da tutela satisfativa antecedente. Concedida e não estabilizada ou não concedida a tutela satisfativa antecedente, e somente nesses casos, deverá o autor aditar a inicial, em 15 dias (ou em outro prazo maior que o juiz fixar) ou cinco dias, respectivamente. Em havendo prosseguimento, o processo continuará até o julgamento final, estando a sentença apta a produzir coisa julgada material, sem estabilização da tutela satisfativa antecedente. Apesar da confusão que o texto legal pode causar, não há sentido em se obrigar o autor a emendar a inicial quando autor e réu se contentam com a estabilização e não pretendem que o mérito seja discutido e julgado, com formação de coisa julgada material. O princípio da eficiência nesse caso impede o juiz de praticar atos inúteis no processo e que serviriam apenas para causar tumulto e sem qualquer finalidade prática 27. Não havendo opção pelo regime da estabilização e somente nesse caso, o aditamento da inicial trará novos elementos para propiciar o julgamento do processo com obtenção da tutela definitiva, fruto de cognição exauriente, voltada à obtenção da coisa julgada material. Porém, a promoção do aditamento da inicial é incompatível com o regime da estabilização. Concordamos com a solução apresentada por Marco Paulo Denucci Di Spirito, que tem defendido que o julgador realize uma avaliação prospectiva com supedâneo nas regras gerais, antecipando a organização em pauta, fazendo consignar, já na decisão concessiva da tutela antecipada em caráter antecedente, que o autor deverá aditar a inicial nos termos do art. 303, § 1º, I, dentro de “x” dias, contados do integral escoamento do prazo indicado no art. 304, in fine, caso o réu se manifeste oportunamente. Seria assim o autor intimado a aditar a inicial, caso o réu apresente objeção no prazo para interposição do agravo de instrumento (art. 1003, § 5º). Dessa forma, o aditamento deverá ocorrer, independentemente de nova intimação, no prazo de até 15 dias, tendo por termo a quo o primeiro dia útil subsequente ao efetivo escoamento do prazo a que alude o art. 1003, § 5º, do CPC (LGL\2015\1656). Outra opção possível seria a positivação, na oportunidade da decisão concessiva da tutela satisfativa antecedente, de determinação à secretaria judiciária para verificar a interposição do agravo de instrumento, ou a realização de outra manifestação do réu no prazo para esse recurso, e intimar o autor sobre a ocorrência de qualquer um desses atos. É importante que o magistrado faça constar que o prazo para o aditamento da inicial será contado a partir dessa intimação28, mas não antes. Essa compreensão dos institutos tem em mira a compatibilização dos arts. 303 e 304, preservando, como dantes referido, a situação jurídica do réu, que não poderá ser surpreendido pela estabilização – não requerida – no futuro; outrossim, evita que o autor precise aditar a inicial (condicionalmente, caso pretenda a estabilização), apenas para evitar a extinção do processo nos termos do art. 303, § 2º. Breves considerações acerca da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente Página 9 Em caso de rejeição da tutela provisória antecipada antecedente, o juiz determinará a intimação do autor para que promova o aditamento (o legislador denomina, de forma equivocada, de emenda da inicial, como se a rejeição da tutela resultasse, necessariamente, de um problema ligado à admissibilidade da demanda) da inicial em cinco dias. O autor terá a oportunidade de complementar a causa de pedir, confirmar pedido de tutela definitiva e trazer documentos indispensáveis à propositura da demanda ainda ausentes (art. 303, § 6º, do CPC (LGL\2015\1656)). No caso de descumprimento e apesar da exiguidade do prazo, será a inicial indeferida com extinção do processo sem resolução do mérito. Concedida a tutela antecipada satisfativa, deverá o réu ser citado e intimado para, cumpri-la, ou, querendo, impugná-la, o que geralmente fará por meio do recurso próprio. Se a impugnação for admitida, afastado estará o regime da estabilização, cabendo ao autor aditar a inicial em 15 dias. Não ocorrendo a estabilização, seja porque o autor não se contenta com a mesma e pretende o julgamento do mérito ou porque o réu impugnou a decisão, deverá o juiz, primeiramente, intimar o autor para que, no prazo de 15 dias ou em outro maior por ele fixado, promova o aditamento da inicial (art. 303, § 1º, I, do CPC (LGL\2015\1656)), nos mesmos autos e sem incidência de novas custas (art. 303, § 3º, doCPC (LGL\2015\1656)), de modo a complementar sua causa de pedir, confirmar seu pedido de tutela definitiva, juntar novos documentos indispensáveis ou úteis para a apreciação do pedido sob pena de extinção do processo (art. 303, § 1º, I, § 2º, do CPC (LGL\2015\1656)); em seguida intimará o réu, já citado, para a audiência de conciliação ou de mediação na forma do art. 334. Não havendo composição, o prazo para contestação será contado na forma prevista no art. 335 do CPC (LGL\2015\1656). Observe-se que o prazo de resposta do réu somente poderá iniciar-se se ele tiver ciência inequívoca do aditamento da inicial pelo autor, para que possa, no prazo mínimo de 15 dias, exercer seu direito de defesa de forma ampla. Se a causa não admitir autocomposição, não sendo cabível a designação de audiência de conciliação ou de mediação (art. 334, § 4º, II do CPC (LGL\2015\1656)), o prazo de resposta só correrá da data em que for intimado do aditamento da inicial. Tem natureza de sentença terminativa prevista no art. 485, inc. X a decisão que declara estabilizada a tutela antecipada antecedente. Nesse ponto vislumbramos eficácia declaratória. Não se enquadra nas hipóteses do art. 502, que reserva a formação de coisa julgada material à sentença de mérito. Nessa sentença deverá o juiz condenar o réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios. Aqui vislumbramos a presença da eficácia condenatória. Quanto a esse tópico, Sica recusa paralelo com a ação monitória, já que nesta o cumprimento espontâneo do mandado injuntivo pelo réu o isenta de responsabilidade pelo custo do processo, tratando-se de um incentivo para o réu satisfazer de plano a pretensão do autor. Quando se trata da técnica da estabilização, a ausência de recurso não implica satisfação do autor, mas apenas a formação de título para execução definitiva, de modo que não se poderia premiar o réu que deu causa à instauração do processo com a isenção das verbas de sucumbência29. Para impugnar tal sentença caberá apelação que será recebida com efeito suspensivo em relação à condenação em tais verbas e apenas devolutivo se a parte ré pretender, por exemplo, que o processo prossiga sem estabilização, porque faltantes os requisitos para a ocorrência desta. Seria o caso do réu que impugnou a decisão concessiva da tutela de urgência e que foi tratado no processo como se não o tivesse feito, por falha do magistrado; seria demais exigir que ele tivesse que propor ação autônoma simplesmente para provar que ingressou com agravo de instrumento contra a decisão. Nesse caso, a tutela antecipada, durante a tramitação do recurso, produzirá seus efeitos normalmente. Breves considerações acerca da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente Página 10 Temos defendido que decisão estabilizada não se sujeita à remessa necessária. Prevê o art. 496 do CPC (LGL\2015\1656) que cabe remessa necessária contra sentença. No presente caso, a decisão que concede tutela antecipada não é sentença, mas decisão interlocutória, e a decisão que extingue o processo nos termos do art. 304, § 1º, embora seja sentença, é terminativa, não sendo considerada sentença proferida contra a Fazenda Pública. Já decidiu o STJ que “o reexame necessário não é exigência constitucional e nem constitui prerrogativa de caráter absoluto em favor da Fazenda, nada impedindo que a lei o dispense, como, aliás, o faz em várias situações”30. Dessa forma, apesar da estabilização, a decisão em si continua tendo natureza de tutela de urgência, havendo incongruência clara entre o escopo desta e o regime da ineficácia das decisões contrárias ao poder público antes de sua submissão ao reexame necessário por instância superior. Quanto à execução da tutela estabilizada, tem natureza definitiva. É que concedida a tutela antecipada antecedente, admite-se de plano sua execução provisória, nos termos do art. 297, parágrafo único, do CPC (LGL\2015\1656): Art. 297 O juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas para efetivação da tutela provisória. Parágrafo único. A efetivação da tutela provisória observará as normas referentes ao cumprimento provisório de sentença, no que couber. Nesse ponto, observe-se que o juiz poderá exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo ser dispensada nos casos de hipossuficiência econômica da parte, nos termos do § 1º do art. 300 do CPC (LGL\2015\1656). Atingindo a tutela antecipada antecedente a estabilização, tão logo extinto o processo com fundamento no art. 304, § 1º, a execução será definitiva, não tendo sentido a criação de restrições ao exequente que executa decisão atingida pela estabilização. Passados dois anos da decisão extintiva do feito, produz-se o que a doutrina vem chamando de estabilidade qualificada e, em face da decadência, não poderá mais ser ajuizada a ação do art. 304, § 2º, do CPC (LGL\2015\1656), que será extinta com fundamento no art. 487, inc. II, do CPC (LGL\2015\1656)31. 1. Ao trazer para o CPC/2015 (LGL\2015\1656) a técnica da tutela antecipada satisfativa antecedente, o legislador instituiu um procedimento em que esta pode ser obtida de forma eficiente e rápida, autonomizada e voltada a atingir estabilidade, se assim requerido pelo autor e diante da ausência de impugnação pelo réu. 2. Foi acolhida proposta doutrinária que emprega técnica do contraditório eventual já presente no procedimento monitório com o fim de autonomizar e estabilizar a tutela antecipada fundada na urgência. 3. Difere a estabilização da coisa julgada material, que recai sobre o conteúdo (declaratório) da decisão, que se torna indiscutível, e não sobre seus efeitos. Trata-se de hipótese de tutela sumária definitiva, que em contraposição à tutela sumária provisória, tem eficácia plena independentemente de ulterior confirmação por sentença proferida com base em cognição exauriente. 4. O autor deve ressaltar na inicial que se contenta com o regime estabilizatório, caso em que dispensa o julgamento do pedido principal. Sabendo o réu, de antemão, da intenção do autor, poderá não impugnar a decisão concessiva da tutela de urgência, caso em que teremos um negócio jurídico processual plurilateral e o processo será extinto sem resolução do mérito, por sentença, com a estabilização. Em havendo impugnação, o processo deverá prosseguir até atingir o julgamento final por sentença Breves considerações acerca da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente Página 11 que aprecie o mérito, suscetível de fazer coisa julgada material. 5. Não havendo opção pelo regime da estabilização e somente nesse caso, o aditamento da inicial trará novos elementos para propiciar o julgamento do processo com obtenção da tutela definitiva, fruto de cognição exauriente, voltada à obtenção da coisa julgada material. Porém, a promoção do aditamento da inicial é incompatível com o regime da estabilização. 6. Vimos que no prazo de dois anos, quaisquer das partes poderão demandar a outra com o intuito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada estabilizada. Essa ação exauriente é simples prosseguimento da ação antecipada antecedente, pelo que não haverá inversão do ônus da prova, cabendo ao autor da antecedente, que agora poderá ser réu da exauriente, provar os fatos constitutivos do seu direito e ao réu da antecedente, que agora poderá ser autor da exauriente, provar fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor da antecedente. Tal posição tem por fundamento a ideia do contraditório eventual que ocorre em face da monitorização do procedimento, que não poderia resultar na inversão do ônus da prova causando situação de extrema dificuldade para o autor da ação exauriente. 7. Tem natureza de sentença terminativa prevista no art. 485, inc. X a decisão que declara estabilizada a tutela antecipada antecedente. Possui eficácia declaratória e não se enquadra nas hipóteses do art. 502 do CPC (LGL\2015\1656), que reserva a formação de coisa julgada material à sentençade mérito. Nessa sentença deverá o juiz condenar o réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios, no que vislumbramos aqui a presença da eficácia condenatória. 8. Decisão estabilizada não se sujeita à remessa necessária. No presente caso, a decisão que concede tutela antecipada não é sentença, mas decisão interlocutória, e a decisão que extingue o processo nos termos do art. 304, § 1º, embora seja sentença, é terminativa, não sendo considerada sentença proferida contra a Fazenda Pública, essa sim, passível de remessa. 9. Atingindo a tutela antecipada antecedente a estabilização, tão logo extinto o processo com fundamento no art. 304, § 1º, a execução será definitiva, não tendo sentido a criação de restrições ao exequente que executa decisão atingida pela estabilização. 10. Passados dois anos da decisão extintiva do feito, produz-se o que a doutrina vem chamando de estabilidade qualificada e, em face da decadência, não poderá mais ser ajuizada a ação do art. 304, § 2º, do CPC (LGL\2015\1656), que será extinta com fundamento no art. 487, inc. II, do CPC (LGL\2015\1656). ALVIM, Arruda; ASSIS, Araken; ALVIM, Eduardo. Comentários ao Código de Processo Civil. 2. ed. rev. e ampliada. São Paulo: RT, 2012. BAUERMANN, Desirê. Estabilização da tutela antecipada. Revista Eletrônica de Direito Processual, v. VI. Disponível em: [ www.arcos.org.br/periodicos/revista-eletronica-de-direito-processual/volume-vi/estabilizacao-da-tutela-antecipada]. Acesso em: 27.06.2015. BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Estabilização das tutelas de urgência. In YARSHELL, Flávio Luiz; MORAES, Maurício Zanoide de (Org.). Estudos em homenagem a Ada Pellegrini Grinover. São Paulo: DPJ Editora, 2005. BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Tutela cautelar e tutela antecipada: tutelas sumárias e de urgência (tentativa de sistematização). 5. ed. rev. e amp. São Paulo: Malheiros, 2009. CARVALHO, Antonio. Tutela monitória no CPC/2015 (LGL\2015\1656). In: MACÊDO, Lucas Buril de; PEIXOTO, Ravi; FREIRE, Alexandre (Org.). Coleção novo CPC Breves considerações acerca da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente Página 12 (LGL\2015\1656), doutrina selecionada. Salvador: JusPodivm, 2015. v. 4: procedimentos especiais, tutela provisória e direito transitório. CAVALCANTI NETO, Antônio de Moura. Estabilização da tutela antecipada antecedente; tentativa de sistematização. In: DIDIER JR., Fredie; COSTA, Eduardo José da Fonseca; PEREIRA, Mateus da Costa; GOUVEIA FILHO, Roberto P. Campos (Coord.). Coleção grandes temas do novo CPC (LGL\2015\1656). Salvador: JusPodivm, 2016. v. 6: tutela provisória. COSTA, Eduardo José da Fonseca. A antecipação de tutela à luz da teoria quinaria da ação. In: DIDIER JR., Fredie; NOGUEIRA, Pedro Henrique; GOUVEIA, Roberto (Coord.). Pontes de Miranda e o direito processual. Salvador: JusPodivm, 2013. COSTA, Eduardo José da Fonseca. O direito vivo das liminares. São Paulo: Saraiva, 2011. COSTA, Eduardo José da Fonseca. Sentença cautelar, cognição e coisa julgada: reflexões em homenagem à memória de Ovídio Baptista. Revista de Processo, São Paulo, v. 36, n. 191, p. 357-376, jan. 2011. DI SPIRITO, Marco Paulo Denucci. Adequações procedimentais para a tutela satisfativa antecedente no Código de Processo Civil (LGL\2015\1656)/2015. In: DIDIER JR., Fredie; COSTA, Eduardo José da Fonseca; PEREIRA, Mateus da Costa; GOUVEIA FILHO, Roberto P. Campos (Coord.). Coleção grandes temas do novo CPC (LGL\2015\1656). Salvador: JusPodivm, 2016. v. 6: tutela provisória. DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil. 10. ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2015. v. 2. FLACH, Daisson. A verossimilhança no processo civil e sua aplicação prática. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. FONSECA, Isabel Celeste M. Introdução ao estudo sistemático da tutela cautelar no processo administrativo. A propósito da urgência na realização da justiça. Coimbra: Almedina, 2002. FUX, Luiz. Tutela de segurança e tutela de evidência: fundamentos da tutela antecipada. São Paulo: Saraiva, 1996. GOUVEIA FILHO, Roberto Campos; PEIXOTO, Ravi; COSTA, Eduardo José da Fonseca. Estabilização, imutabilidade das eficácias antecipadas e eficácia de coisa julgada: uma versão aperfeiçoada. Disponível em: [www.academia.edu/27656845/ESTABILIZA%C3%87%C3%83O_IMUTABILIDADE_DAS_EFIC%C3%81CIAS_ANTECIPADAS_E_EFIC%C3%81CIA_DE_COISA_JULGADA]. Acesso em: 02.09.2016. GRECO, Leonardo. A tutela da urgência e a tutela da evidência no Código de Processo Civil de 2014/2015. Revista Eletrônica de Direito Processual, Rio de Janeiro, v. XIV. p. 296-330, jul.-dez. 2014. MACÊDO, Lucas Buril. Precedentes judiciais e o direito processual civil. Salvador: JusPodivm, 2014. MADAGAN, Yuri Grossi. Hipóteses de antecipação de tutela: exame do art. 273 do Código de Processo Civil (LGL\2015\1656). Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2009. MITIDIERO, Daniel. Breves comentários ao novo Código de Processo Civil (LGL\2015\1656). São Paulo: RT, 2015. PEIXOTO, Ravi. Por uma análise dos remédios jurídicos processuais aptos a impedir a estabilização da tutela antecipada antecedente de urgência. In: GOUVEIA, Roberto; PEREIRA, Mateus; e COSTA, Eduardo (Coord.). Coleção grandes temas do novo CPC Breves considerações acerca da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente Página 13 (LGL\2015\1656). Salvador: JusPodivm, 2016. v. 6: tutela provisória. PEREIRA, Mateus Costa. Tutela provisória de urgência: premissas doutrinárias questionáveis + negligência da historicidade = equívocos legislativos. In: COSTA, Eduardo José da Fonseca; PEREIRA, Mateus Costa; GOUVEIA FILHO, Roberto Campos (Org.). Coleção grandes temas do novo CPC (LGL\2015\1656). Salvador: JusPodivm, 2016. PIMENTEL, Alexandre Freire; PEREIRA, Mateus Costa; LUNA, Rafael A. Da – suposta – provisoriedade da tutela cautelar à “tutela provisória de urgência” no novo Código de Processo Civil (LGL\2015\1656) brasileiro: entre avanços e retrocessos. Revista de Processo Comparado, v. 3, p. 15-40, 2016. SICA, Heitor Vitor Mendonça. Doze problemas e onze soluções quanto a chamada “estabilização da tutela antecipada”. In: DIDIER JR., Fredie; COSTA, Eduardo José da Fonseca; PEREIRA, Mateus Costa; GOUVEIA FILHO, Roberto Campos. Coleção grandes temas do novo CPC (LGL\2015\1656). Salvador: JusPodivm, 2016. v. 6: tutela provisória. SILVA, Ovídio A. Baptista da. Jurisdição, direito material e processo. Rio de Janeiro: Forense, 2008. SOUZA, Artur César de. Análise da tutela antecipada prevista no relatório final da Câmara dos Deputados em relação ao novo CPC (LGL\2015\1656) – da tutela de evidência e da tutela satisfativa – última parte. Revista de Processo, São Paulo, ano 39, v. 235, p. 151-186, set. 2014. TALAMINI, Eduardo. Tutela monitória. A ação monitória: Lei 9.079/95. 2. ed. rev., atual. e ampliada. São Paulo: RT, 2001. TALAMINI, Eduardo. Tutela de urgência no projeto de novo Código de Processo Civil (LGL\2015\1656): a estabilização da medida urgente e a monitorização do processo civil brasileiro. Revista de Processo, São Paulo, n. 209, p. 13-34, jul. 2012. TUCCI, José Rogério Cruz e; AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lições de história do processo civilromano. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996. 1 O presente artigo vincula-se ao projeto de pesquisa “Possibilidades de aplicação dos princípios da boa-fé e da cooperação intersubjetiva no processo civil brasileiro” da linha de pesquisa Processo, hermenêutica e efetividade dos direitos da Universidade Católica de Pernambuco. 2 GRECO, Leonardo. A tutela da urgência e a tutela da evidência no Código de Processo Civil de 2014/2015. Revista Eletrônica de Direito Processual, Rio de Janeiro, vol. XIV. p. 299-300, jul.-dez. 2014. 3 Conforme bem pontuado por Ovídio, quem elimina o conceito de pretensão à segurança não consegue admitir a existência de um direito à cautela por quem não tenha direito (direito acautelado); autor que enaltecia a contribuição de Pontes de Miranda ao desenvolvimentoda tutela cautelar. SILVA, Ovídio A. Baptista da. Jurisdição, direito material e processo. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 97-98. Ainda sobre o tema, ver: COSTA, Eduardo José da Fonseca. Sentença cautelar, cognição e coisa julgada: reflexões em homenagem à memória de Ovídio Baptista. Revista de Processo, São Paulo, v. 36, n. 191, p. 357-376, jan. 2011. 4 COSTA, Eduardo José da Fonseca. A antecipação de tutela à luz da teoria quinaria da ação. In: DIDIER JR., Fredie; NOGUEIRA, Pedro Henrique; GOUVEIA, Roberto (Coord.). Breves considerações acerca da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente Página 14 Pontes de Miranda e o direito processual. Salvador: JusPodivm, 2013. p. 336. 5 Ainda alguns exemplos: i) não sendo possível obter o reconhecimento antecipado da nulidade de uma cláusula contratual por sua abusividade, é possível suspender seus efeitos e determinar ao plano de saúde que autorize um determinado procedimento cirúrgico; ii) posto que não seja possível interditar alguém em caráter de tutela antecipada, admite-se a constituição de um administrador provisório à universalidade de bens e direitos; iii) não sendo possível a declaração de falsidade de um documento, é viável obter ordem judicial para que seu possuidor se abstenha de utilizá-lo em uma determinada relação jurídica (eventualmente, forçando a sua exibição em juízo); iv) se uma pessoa foi excluída indevidamente de um concurso público ou de um procedimento licitatório, a ilegalidade do ato de exclusão ou desclassificação não será reconhecida em sede de antecipação, mas o sistema autoriza sua suspensão, assim como a imediata reinserção da pessoa no certame; v) raciocínio similar é aplicável à reintegração da pessoa em seu emprego (tutela antecipada), a despeito da ausência do lastro jurídico da demissão restar à análise do pedido final. Os exemplos se multiplicam. 6 Decerto que essa foi uma opção legislativa, pois nada impediria que a tutela cautelar também fosse apta a se estabilizar; inclusive, seria uma forma (processual) de assumir a autonomia (material). Hoje, o caminho processual para tanto seria a adoção do procedimento comum. 7 TALAMINI, Eduardo. Tutela monitória. A ação monitória: Lei 9.079/95. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2001. p. 28-29. Para um estudo realizado sob a égide do novo CPC, ver: CARVALHO, Antonio. Tutela monitória no CPC/2015. In: MACÊDO, Lucas Buril de; PEIXOTO, Ravi; FREIRE, Alexandre (Org.). Coleção novo CPC, doutrina selecionada. Salvador: JusPodivm, 2015. v. 4: procedimentos especiais, tutela provisória e direito transitório, p. 525-570. 8 Sobre o tema, indispensável a consulta dos trabalhos do Prof. Ovídio Baptista da Silva. No tocante à técnica do contraditório eventual, cf.: FLACH, Daisson. A verossimilhança no processo civil e sua aplicação prática. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 80-84. 9 Nesse sentido: DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil. 10. ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2015. p. 604-605. 10 TALAMINI, Eduardo. Tutela de urgência no projeto de novo Código de Processo Civil: a estabilização da medida urgente e a monitorização do processo civil brasileiro. Revista de Processo, São Paulo, n. 209, p. 13-34, jul. 2012. p. 25. 11 SICA, Heitor Vitor Mendonça. Doze problemas e onze soluções quanto a chamada “estabilização da tutela antecipada”. In: DIDIER JR., Fredie; COSTA, Eduardo José da Fonseca; PEREIRA, Mateus Costa; GOUVEIA FILHO, Roberto Campos. Coleção grandes temas do novo CPC. Salvador: JusPodivm, 2016. v. 6: tutela provisória. p. 352-353. 12 MITIDIERO, Daniel. Breves comentários ao Novo Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2015. p. 789. 13 Nesse sentido: BAUERMANN, Desirê. Estabilização da tutela antecipada. Revista Eletrônica de Direito Processual, v. VI. Disponível em: [ www.arcos.org.br/periodicos/revista-eletronica-de-direito-processual/volume-vi/estabilizacao-da-tutela-antecipada]. Acesso em: 27.06.2015. 14 BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Estabilização das tutelas de urgência. In YARSHELL, Flávio Luiz; MORAES, Maurício Zanoide de (Org.). Estudos em homenagem a Ada Pellegrini Grinover. São Paulo: DPJ Editora, 2005. p. 663. Breves considerações acerca da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente Página 15 15 A questão é deveras sensível e não é possível estabelecer uma solução geral e abstrata para todos os casos. Em estudo pragmático sobre o tema, Eduardo José da Fonseca Costa, em seu livro O direito vivo das liminares, constatou que, em muitos casos, a presença de uma urgência extremada fez com que os magistrados sequer verificassem a configuração da probabilidade do direito quando da concessão da medida (COSTA, Eduardo José da Fonseca. O direito vivo das liminares. São Paulo: Saraiva, 2011). 16 FONSECA, Isabel Celeste M. Introdução ao estudo sistemático da tutela cautelar no processo administrativo. A propósito da urgência na realização da justiça. Coimbra: Almedina, 2002. p. 242. 17 GOUVEIA FILHO, Roberto Campos; PEIXOTO, Ravi; COSTA, Eduardo José da Fonseca. Estabilização, imutabilidade das eficácias antecipadas e eficácia de coisa julgada: uma versão aperfeiçoada. Disponível em: [www.academia.edu/27656845/ESTABILIZA%C3%87%C3%83O_IMUTABILIDADE_DAS_EFIC%C3%81CIAS_ANTECIPADAS_E_EFIC%C3%81CIA_DE_COISA_JULGADA]. Acesso em: 02.09.2016. 18 Idem. No entanto, para esses mesmos autores, não existirão óbices para que o dictum seja rediscutido em ação própria para quaisquer outros fins. 19 SICA, Heitor Vitor Mendonça. Doze problemas e onze soluções quanto a chamada “estabilização da tutela antecipada”. In: DIDIER JR., Fredie; COSTA, Eduardo José da Fonseca; PEREIRA, Mateus Costa; GOUVEIA FILHO, Roberto Campos. Coleção grandes temas do novo CPC. Salvador: JusPodivm, 2016. v. 6: tutela provisória. p. 353-354. Antônio de Moura Calvalcanti Neto, chama de estabilidade soberana (CAVALCANTI NETO, Antônio de Moura. Estabilização da tutela antecipada antecedente; tentativa de sistematização. In: DIDIER JR., Fredie; COSTA, Eduardo José da Fonseca; PEREIRA, Mateus da Costa; GOUVEIA FILHO, Roberto P. Campos (Coord.). Coleção grandes temas do novo CPC. Salvador: JusPodivm, 2016. v. 6: tutela provisória. p. 220). 20 É a posição de Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael de Oliveira, malgrado reconheçamos o esforço dos autores em compatibilizar os institutos. DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil. 10. ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2015. v. 2. p. 606. 21 Ou seja, as ações possíveis não se limitam aos verbos existentes na lei. 22 Observando que a investigação do dano é irrelevante em se tratando de tutela voltada contra o ilícito ex vi do art. 497, parágrafo único. 23 DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil. 10. ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2015. p. 607-608. 24 No sentido ampliativo: TALAMINI, Eduardo. Tutela de urgência no projeto de novo Código de Processo Civil: a estabilização da medida urgente e a monitorização do processo civil brasileiro. Revista de Processo, São Paulo, n. 209, p. 13-34, jul. 2012. p. 29; DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil. 10. ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2015. p. 609; MITIDIERO, Daniel. Breves comentários ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2015. p. 789; PEIXOTO, Ravi, no artigo intitulado Por uma análise dos remédios jurídicos processuais aptos a impedir a estabilização da tutela antecipada antecedente de urgência, da coletânea intitulada Tutela provisória no novo CPC, coordenada por DIDIER JR., Fredie; GOUVEIA, Roberto; PEREIRA, Mateus; COSTA, Eduardo, não concorda que os embargos de declaração, a suspensão de segurança e o pedido de reconsideração impeçam a estabilização. 25 TALAMINI, Eduardo. Tutela de urgência no projeto de novo Código de Processo Civil: Breves considerações acercada estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente Página 16 a estabilização da medida urgente e a monitorização do processo civil brasileiro. Revista de Processo, São Paulo, n. 209, p. 13-34, jul. 2012. p. 29. 26 Nesse sentido: PEREIRA, Mateus Costa, em palestra proferida no Congresso Themis de Processo Civil realizado na Universidade Católica de Pernambuco em junho de 2015. 27 É importante perceber que a falta de um dos requisitos do art. 303 (ex. valor da causa ou ausência de indicação do pedido final), viabiliza a abertura de prazo à complementação do arrazoado. Não se deve confundir situações que tais, com a não verificação da urgência contemporânea ou da probabilidade do direito, as quais precipitam o indeferimento da medida requestada. 28 DI SPIRITO, Marco Paulo Denucci. Adequações procedimentais para a tutela satisfativa antecedente no Código de Processo Civil/2015. In: DIDIER JR., Fredie; COSTA, Eduardo José da Fonseca; PEREIRA, Mateus da Costa; GOUVEIA FILHO, Roberto P. Campos (Coord.). Coleção grandes temas do novo CPC. Salvador: JusPodivm, 2016. v. 6: tutela provisória. p. 376. 29 SICA, Heitor Vitor Mendonça. Doze problemas e onze soluções quanto a chamada “estabilização da tutela antecipada”. In: DIDIER JR., Fredie; COSTA, Eduardo José da Fonseca; PEREIRA, Mateus Costa; GOUVEIA FILHO, Roberto Campos. Coleção grandes temas do novo CPC. Salvador: JusPodivm, 2016. v. 6: tutela provisória. p. 357. 30 BRASIL. STJ. EResp 345.752, rel. Ministro Teori Albino Zavasky, 1ª Seção, j. 09.11.2005, DJ 05.12.2005. p. 207. 31 Nesse sentido SICA, Heitor Vitor Mendonça. Doze problemas e onze soluções quanto a chamada “estabilização da tutela antecipada”. In: DIDIER JR., Fredie; COSTA, Eduardo José da Fonseca; PEREIRA, Mateus Costa; GOUVEIA FILHO, Roberto Campos. Coleção grandes temas do novo CPC. Salvador: JusPodivm, 2016. v. 6: tutela provisória. p. 353-354. Breves considerações acerca da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente Página 17
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