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ESCOLA MUNICIPAL _____________________________________________ TURMA ________ NOME: __________________________________________________________________________ LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 1 MARCELO CRIVELLA PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO CÉSAR BENJAMIN SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO MARIA DE NAZARETH MACHADO DE BARROS VASCONCELLOS SUBSECRETARIA DE ENSINO SANDRA MARIA DE SOUZA MATEUS GERÊNCIA DE ENSINO FUNDAMENTAL WELINGTON MARTINS MACHADO ELABORAÇÃO LEILA CUNHA DE OLIVEIRA REVISÃO FÁBIO DA SILVA MARCELO ALVES COELHO JÚNIOR DESIGN GRÁFICO EDIGRÁFICA IMPRESSÃO AGRADECIMENTOS ESPECIAIS(IMAGENS DA CAPA): E.M. ALICE DO AMARAL PEIXOTO E.M. ÁLVARO ALVIM E.M. BÉLGICA E.M. CÂNDIDO PORTINARI E.M. DEODORO CIEP ENG. WAGNER GASPAR EMERY E.M. GASTÃO PENALVA E.M. GUILHERME TELL E.M. JOAQUIM NABUCO CIEP MARGARET MEE E.M PROF. HELTON A. VELOSO DE CASTRO E.M. PROF.ª ZELIA CAROLINA DA SILVA PINHO E.M. RIBEIRO COUTO E.M. TATIANA CHAGAS MEMÓRIA E.M. TENENTE RENATO CÉSAR LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 2 m useudainfancia.unesc.net “Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade.” Manoel de Barros, em Memórias inventadas Prezado Aluno, Prezada Aluna, Você está recebendo seu segundo caderno pedagógico de 2018. Como sempre, o objetivo é que você o utilize, junto com seus colegas e com o seu/sua Professor(a), aprimorando suas habilidades. Este segundo caderno vai ajudá-lo a rever conceitos já estudados, a se apropriar de novos e necessários conceitos e, assim, a ampliar, aprofundar e consolidar seus conhecimentos e sua capacidade de leitura e de produção textual. Que sejamos todos bem-sucedidos! passagensaereasbrasil.com LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 3 DEPOIMENTO (fragmento) Conceição Evaristo Talvez o primeiro sinal gráfico, que me foi apresentado como escrita, tenha vindo de um gesto antigo de minha mãe. Ancestral, quem sabe? Pois de quem ela teria herdado aquele ensinamento, a não ser dos seus antepassados, os mais antigos ainda? Ainda me lembro, o lápis era um graveto e o papel era a terra lamacenta. Mãe se abaixava, mas antes cuidadosamente ajuntava e enrolava a saia, para prendê-la entre as coxas e o ventre. E de cócoras, com parte do corpo quase alisando a umidade do chão, ela desenhava um grande sol, cheio de infinitas pernas. Era um gesto solene. Era um ritual de uma escrita composta de múltiplos gestos, em que todo corpo dela se movimentava e não só os dedos. E os nossos corpos também, que se deslocavam no espaço acompanhando os passos de mãe em direção à página-chão em que o sol seria escrito. Aquele gesto de movimento-grafia era uma simpatia para chamar o sol. Fazia-se a estrela no chão. Do tempo/espaço aprendi desde criança a colher palavras. A nossa casa vazia de móveis, de coisas e muitas vezes de alimento e de agasalhos, era habitada por palavras. Mamãe contava, minha tia contava, meu tio velhinho contava, os vizinhos amigos contavam. Eu, menina, repetia, intentava. Cresci possuída pela oralidade, pela palavra. As bonecas de pano e de capim que minha mãe criava para as filhas nasciam com nome e história. Tudo era narrado, tudo era motivo de prosa-poesia. EVARISTO, Conceição. Depoimento. In: Representações Performáticas Brasileiras: teorias, práticas e suas interfaces. (org) Marcos Antônio Alexandre. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007, p 16-21. pinterest.com No caderno anterior, você leu sobre as figuras rupestres de nossos antepassados e sobre as rodas de conversa em volta da fogueira dos primeiros seres humanos. Lembra? Assim tem sido ao longo da nossa história, de geração a geração: nossas primeiras experiências com as palavras se dão através das imagens que vemos, dos desenhos que traçamos, das histórias que ouvimos... São ensinamentos que nos ficam na memória. O texto abaixo fala disso. Vamos ler? acrilex.com.br filosofiacienciaevida.uol.com.br LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 4 1. De acordo com a narradora, o primeiro sinal gráfico que aprendeu, como sendo uma escrita, lhe veio de um gesto antigo de sua mãe. Em poucas palavras explique que gesto foi esse: ________________________________________________________________________________________________________________ 2. A narradora mostra não ter certeza de que tenha sido esse o primeiro sinal. Que palavra indica a incerteza? _______________________ 3. Observe o trecho “Ancestral, quem sabe? Pois de quem ela teria herdado aquele ensinamento, a não ser dos seus antepassados, os mais antigos ainda?”. a) A que ela se refere quando fala em “ancestral”? _______________________________________________________________________ b) Que significado essa palavra dá ao ato que se refere? __________________________________________________________________ 4. A narradora faz uso de metáforas, ou seja, aproxima ideias/palavras por uma relação de semelhança, para falar do lápis e do papel utilizados pela mãe para executar seu gesto. Que relação de semelhança ela estabelece nessas metáforas? ______________________________________________________________________________________________________________ 5. No trecho “Aquele gesto de movimento-grafia era uma simpatia para chamar o sol.”, com que sentido foi usada a palavra em destaque? _______________________________________________________________________________________________________________ 6. A que se refere o período final do primeiro parágrafo: “Fazia-se a estrela no chão.”? _______________________________________________________________________________________________________________ 7. No início do 2º parágrafo, a narradora afirma que “Do tempo/espaço aprendi, desde criança, a colher palavras.” Com que sentido ela usa o verbo “colher” para se referir à sua aprendizagem de palavras? _______________________________________________________________________________________________________________ 8. Transcreva do texto o trecho que nos permite perceber que a narradora vem de uma família humilde, pobre de recursos materiais. _______________________________________________________________________________________________________________ 9. O que, neste trecho, nos permite entender que se tratava de uma família rica em bens culturais? _______________________________________________________________________________________________________________ 10.Releia a parte final do 2.º parágrafo e explique o motivo pelo qual a narradora diz que cresceu possuída pela oralidade: _______________________________________________________________________________________________________________ 11. Explique o uso da palavra “DEPOIMENTO” para dar título ao texto: ______________________________________________________________________________________________________________ LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 5 Observe o período final do texto: “Evidentemente, isso é uma fantasia de escritor, que é para isso que os escritores servem, mas, ao mesmo tempo, poderia ser uma filosofia de vida.” a) A que se refere o termo “isso”, em destaque? ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ Da estátua à pedra José Saramago Digo às vezes que não concebo nada tão exemplar como irmos pela vida levando pela mão a criança que fomos, imaginar que cada um de nós teria de ser sempre dois, que fôssemos dois pela rua, dois tomando decisões, dois diante das diversas circunstâncias que nos rodeiam e provocamos. Todos iríamos pela mão de um ser de sete ou oito anos, nós mesmos, que nos observaria o tempo todo e a quem não poderíamos defraudar. Por isso é que eu digo: “Deixa-te levar pela criança que foste.” Se fôssemos pela vida dessa maneira,talvez não cometêssemos certas deslealdades ou traições porque a criança que nós fomos nos puxaria pela manga e diria: “Não faças isso.” Evidentemente, isso é uma fantasia de escritor, que é para isso que os escritores servem, mas ao mesmo tempo poderia ser uma filosofia de vida. SARAMAGO, José. Da estátua à pedra. Belém: UFPA, 2013. (trecho adaptado) Glossário: concebo – formo uma ideia, penso; compreendo, entendo; defraudar – fraudar, enganar, lograr a confiança. Observe os dois trechos que aparecem entre aspas. Que função tem a presença dessas aspas, nos trechos? ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ Observe a palavra “dois”, repetida na 3.ª linha. A quem ela se refere? ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ b) Na opinião do autor, para que servem os escritores? ____________________________________________ c) O que significa a expressão “uma filosofia de vida”, como aparece no final do texto? _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ Você está agindo como criança! Quantas vezes já ouvimos e ainda vamos ouvir essa frase ao longo da vida, dita de forma negativa, como censura, para dizerem que estamos agindo de forma insensata, imatura... No texto a seguir, o autor desenvolve uma opinião diferente e vê a criança dentro de nós de forma positiva. LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 6 1. Releia o texto “Da estátua à pedra” e tente identificar as circunstâncias indicadas pelos termos destacados: Da estátua à pedra (trecho adaptado) Digo às vezes que não concebo nada tão exemplar como irmos pela vida levando pela mão a criança que fomos, imaginar que cada um de nós teria de ser sempre dois, que fôssemos dois pela rua, dois tomando decisões, dois diante das diversas circunstâncias que nos rodeiam e provocamos. Todos iríamos pela mão de um ser de sete ou oito anos, nós mesmos, que nos observaria o tempo todo e a quem não poderíamos defraudar. Por isso é que eu digo: “Deixa-te levar pela criança que foste.” Se fôssemos pela vida dessa maneira, talvez não cometêssemos certas deslealdades ou traições porque a criança que nós fomos nos puxaria pela manga e diria: “Não faças isso.” Evidentemente, isso é uma fantasia de escritor, que é para isso que os escritores servem, mas ao mesmo tempo poderia ser uma filosofia de vida. SARAMAGO, José. Da estátua à pedra. Belém: UFPA, 2013. O VALOR DOS ELEMENTOS DE COESÃO (I) 2. Observe, no 1.º período do texto, como as vírgulas vão coordenando ideias, ações que se sucedem, que se somam: “Digo às vezes que não concebo nada tão exemplar como irmos pela vida levando pela mão a criança que fomos, imaginar que cada um de nós teria de ser sempre dois, que fôssemos dois pela rua, dois tomando decisões, dois diante das diversas circunstâncias que nos rodeiam e provocamos.” a) Que função exercem as vírgulas e o vocábulo “e” neste 1.º período? ______________________________________________________________________________________________________________ ___________, _______________, ___________, _______________, _____________, ______________, _______________, ___________, ____________, ___________ e ___________. COESÃO é a conexão, a ligação que se percebe entre as partes de um texto. Percebemos a coesão quando lemos um texto e verificamos que as palavras, as frases e os parágrafos estão entrelaçados, um dando continuidade ao outro. Os elementos de coesão são, muitas vezes, palavras ou sinais que estabelecem relações de continuidade entre frases, orações, períodos e parágrafos de um texto, indicando circunstâncias, referências, substituições. O entendimento e o uso adequado dos elementos de coesão são fundamentais na construção de sentidos que resultem na coerência do texto como um todo. Vamos observar como isso acontece em um texto? LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 7 Bola de meia, bola de gude Composição de Milton Nascimento e Fernando Brant Há um menino Há um moleque Morando sempre no meu coração Toda vez que o adulto balança Ele vem pra me dar a mão Há um passado no meu presente Um sol bem quente lá no meu quintal Toda vez que a bruxa me assombra O menino me dá a mão E me fala de coisas bonitas Que eu acredito Que não deixarão de existir Amizade, palavra, respeito Caráter, bondade, alegria e amor [...] Bola de meia, bola de gude O solidário não quer solidão Toda vez que a tristeza me alcança O menino me dá a mão Há um menino Há um moleque Morando sempre no meu coração Toda vez que o adulto fraqueja Ele vem pra me dar a mão http://www.vagalume.com.br/milton-nascimento/bola-de- meia-bola-de-gude.html ... em voz alta e, se der, no ritmo da canção. 1. O texto ao lado é uma letra de canção, construída em versos e estrofes, como em um poema. Você percebe que há uma semelhança de TEMA com o texto em prosa lido anteriormente? Que TEMA seria comum aos dois textos? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 2. No texto em prosa, “Da estátua à pedra” (lido anteriormente), a criança, que o autor imagina que deveria haver em nós, viria em nosso auxílio quando, por exemplo, estivéssemos prestes a ter uma atitude errada, a cometer uma deslealdade. Ao longo da letra dessa canção, percebem-se situações em que um menino, a “criança em nós”, viria em auxílio, viria “dar a mão” ao eu poético adulto. Com suas palavras, diga que situações são essas: Na 1.ª estrofe ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Na 2.ª estrofe ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Na 4.ª estrofe ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ Na 5.ª estrofe ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 8 Arte de ser criança Frei Betto No jardim de infância, em Belo Horizonte, nossas tarefas consistiam em sonhar, imaginar, colorir, desenhar, moldar em argila estranhas figuras, empilhar cubos de madeira que, sobrepostos, se transformavam em casas, pontes, prédios, castelos. Dispostos em linha reta, viravam ferrovias, carruagens, estradas. Em círculos, viravam arenas circenses, represas ou lagos. Esse entrelaçar de tato, visão e imaginação organizava meu mundo interior. Bastavam uns poucos apetrechos para meus sentimentos encontrarem expressão nos objetos manipulados ou nas linhas de meus desenhos. [...] Os pássaros falam linguagens que só eles entendem; dragões, bruxas e duendes, que povoavam o meu imaginário, não eram pessoas como meus pais, nem coisas como os paralelepípedos que calçavam as ruas, e sim entidades espirituais [...] com as quais mantinha relações de temor, reverência e fascínio. O melhor da infância é o mistério. Os adultos devem manter-se à distância quando a criança se encontra mergulhada em seu universo onírico. Se um adulto interfere, quebra-se o encanto. Privar a criança do mergulho no mistério é amputá-la da infância. É mutilar o ser criança, para apressar, de modo cruel, a irrupção irreversível do adulto. FREI BETTO. Revista O GLOBO, 11 de novembro de 2012. Glossário: manipulados – manuseados, manejados; movimentados ou feitos, preparados com a(s) mão(s); onírico – relativo a sonhos; amputá-la – cortá-la, eliminá-la (ver “mutilar”a seguir); 1. Nos dois primeiros parágrafos, o autor nos fala do passado, de um momento de sua infância. a) Onde ele localiza esse momento? ____________________________________________________________________________________ b) Que termos dos parágrafos indicam que se fala do passado?_______________________________________________________________ 2. Transcreva do texto o trecho que expressa uma OPINIÃO sobre o que seria o melhor do “ser criança”: ___________________________________________________________________________________________________________________ 3. Nos três últimos parágrafos, o autor passa a falar do presente. Que termos indicam essa mudança? ________________________________ 4. Observando os dois últimos parágrafos, percebemos que a FINALIDADE do texto é _____________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________ mutilar – privar, cortar, eliminar, separar, truncar... (ver “amputá-la”); irreversível – o que não se pode reverter, voltar atrás; o que não tem volta. LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 9 Vamos retomar aqui um período do texto anterior: “Os adultos devem manter-se à distância quando a criança se encontra mergulhada em seu universo onírico.”. Nesse período, o elemento de coesão quando indica uma circunstância de tempo (ou temporal). 1. Observe, a seguir, variações em que o uso de outros elementos de coesão muda o sentido do período e diga que circunstância indica o elemento que substitui o “quando”, em cada variação: a) Os adultos devem manter-se à distância, uma vez que a criança se encontra mergulhada em seu universo onírico: ____________________. b) Os adultos devem manter-se à distância, para a criança mergulhar em seu universo onírico: ____________________. c) Os adultos devem manter-se à distância , à medida que a criança mergulha em seu universo onírico: __________________________. d) A criança se encontra mergulhada em seu universo onírico, portanto os adultos devem manter-se à distância: _______________________________. O VALOR DOS ELEMENTOS DE COESÃO (II) “O melhor da infância é o mistério.” Nas charges, as crianças que inventam o brinquedo para se “comunicarem à distância” ou a que brinca com a pipa estariam mais “equipadas” para o melhor da infância, ou seja, para o mistério e o encantamento do mundo de sonhos e imaginação, próprios da infância, do que as que “brincam” com seus aparelhos eletrônicos? Vale uma Roda de Conversa! Releia o texto de Frei Betto e as charges ao lado. Pense na relação que se pode estabelecer entre os textos. A sugestão é que debata o assunto com os seus colegas, em uma Roda de Conversa organizada e coordenada pelo(a) Professor(a). Ao lado, uma sugestão para dar início à conversa. agendaw hite.com .br Cândido Portinari – Meninos soltando pipa ......................................................................................................................................... OBSERVE, a seguir, como as charges, mesmo com diferentes linguagem e estrutura, podem ser consideradas crônicas do cotidiano . A FINALIDADE maior de uma charge é a de fazer uma crítica a comportamentos, atitudes, enfim, a situações que ocorrem no dia a dia da sociedade. LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 10 SOU UMA CRIANÇA, NÃO ENTENDO NADA Erasmo Carlos, baseado em poema de Giuseppe Ghiaroni Antigamente quando eu me excedia Ou fazia alguma coisa errada Naturalmente minha mãe dizia "Ele é uma criança, não entende nada" Por dentro eu ria satisfeito e mudo Eu era um homem e entendia tudo Hoje só, com meus problemas Rezo muito, mas eu não me iludo Sempre me dizem quando fico sério "Ele é um homem e entende tudo" Por dentro com a alma atarantada Sou uma criança, não entendo nada PONTOS DE VISTA Giuseppe Ghiaroni Na minha infância, quando eu me excedia, quando eu fazia alguma coisa errada, se alguém ralhava, minha mãe dizia: – Ele é criança, não entende nada! Por dentro, eu ria satisfeito e mudo. Eu era um homem, entendia tudo. Hoje que escrevo histórias e poemas e pareço ter tido algum estudo, dizem quando me veem com meus problemas: – Ele é um homem, ele entende tudo! Por dentro, alma confusa e atarantada, eu sou uma criança, não entendo nada! http://www.escritas.org/pt/t/6183/pontos-de-vista Leia, agora, um poema que também tem, como assunto principal, o “ser criança” e o “ser adulto”, só que tratado de modo diferente. O poema é estruturado em duas estrofes, com seis versos cada uma: 1. Na 1.ª estrofe a) O eu poético fala, no passado, lembrando seu tempo de criança. Além do uso de formas verbais do passado (pretérito), que expressão, na estrofe, indica que o eu poético fala do seu passado? _____________________________________________________________ b) Que circunstância os elementos de coesão “quando” e “se” indicam? _____________________________________________________________ c) Transcreva o verso que contém uma OPINIÃO em discurso direto: _____________________________________________________________ 2. Na 2.ª estrofe a) O eu poético fala do seu tempo presente. Além das formas verbais do tempo presente, que outra palavra indica isso? _______________________ b) Que circunstâncias indicam os elementos de coesão “e” e “quando”? ___________________________ e ______________________________. c) Reescreva os versos 9 e 10, transformando o discurso direto em indireto: _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ 3. No título De acordo com o contexto, comente o título “Pontos de vista” dado ao poema: __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ Ouça a canção em https://www.youtube.com/watch? v=wE03bMygbjQ Observe a letra de canção adaptada, compare com o poema e converse com os colegas sobre as semelhanças e diferenças entre os textos. O poema acima foi adaptado e musicado. Vamos ler, se possível cantando junto com os colegas, a letra da canção? LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 11 Habilidade de leitura – A informação implícita em um texto A charge ao lado foi apresentada para leitura no caderno anterior (1º bimestre). Você deve lembrar que aprendeu tratar-se de um texto estruturado em linguagem mista, combinando elementos das linguagens verbal e não verbal. A leitura dessa combinação de elementos nos permitiu deduzir que o menino oferece seu equipamento (smartphone) porque não vivenciou a experiência de criar seus próprios brinquedos. Logo, não entende o brinquedo dos outros dois, não entende o sentido da brincadeira. Essa informação está implícita na charge. É uma habilidade de leitura importante a de deduzir o que não aparece explícito, ou seja, expresso claramente no texto, mas que os elementos presentes permitem deduzir: o implícito do texto. Vamos exercitar um pouco mais esta habilidade? O GLOBO. Segundo Caderno. Sexta-feira, 17.5.2013. 1. Pela leitura da tirinha como um todo, pode-se deduzir que, na opinião do personagem, a forma mais sólida e verdadeira de amor é o amor por si mesmo. Que palavra da tirinha permite deduzir isto? ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ O GLOBO. Segundo Caderno. Domingo, 17/3/2013. 2. As marcas das linguagens verbal e não verbal, na sequência dos quadrinhos, nos permitem entender que a personagem Gloss sai frustrada porque __________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 12 O surdoO médico atende o paciente, idoso e milionário, que estava usando um revolucionário aparelho de audição, e pergunta ao velhinho: – E aí, seu Almeida, está gostando do aparelho? – É muito bom. – E a família gostou? – pergunta o médico. – Não contei para ninguém ainda, mas já mudei meu testamento três vezes. http://almanaqueportugues.com 3. Na anedota lida, o traço de humor está em uma informação implícita. Observe as informações explícitas do texto e deduza por que seu Almeida não contou à família sobre o aparelho de audição que estava usando e mudou três vezes seu testamento. Escreva abaixo o que você deduziu. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 4. O garoto da tirinha é o Calvin. Pelas marcas da linguagem verbal e não verbal do texto, podemos perceber que Calvin é um menino que está irritado e que deve ser desorganizado, pois acha estranho que alguém guarde sua jaqueta em um armário. a) O que, no texto, nos permite deduzir que Calvin deve ser desorganizado? _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ b) Que marcas no texto nos permitem perceber que Calvin está irritado? _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ 5. As ANEDOTAS, assim como as TIRINHAS, são textos narrativos que provocam ou procuram provocar um efeito de humor. A FINALIDADE maior dessas narrativas é a de ____________________________________________________________________ WATTERSON, Bill. O mundo é mágico: as aventuras de Calvin&Haroldo. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2007. CALVIN recantodasletras.com .br “Escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa não palavra – a entrelinha – morde a isca, alguma coisa se escreveu.” (Clarice Lispector, em Água viva.) acritica.uol.com .br LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 13 Revendo habilidades de leitura: a relação de causa e consequência “Nada acontece por acaso.” Você já deve ter ouvido e lido muitas vezes a frase apresentada acima. Concorda com ela? Concordemos ou não, acreditemos ou não na força do acaso, com uma coisa temos de concordar: nada acontece sem uma causa, sem motivação. Veja essa outra frase: “O encontro entre eles se deu por acaso.” Entendemos que foi por acaso, uma vez que eles não marcaram o encontro, nem sabiam que estariam um e outro naquela rua, que parariam em esquinas opostas, esperando o sinal para atravessar, cada qual para o seu lado, e que, no meio da travessia... o encontro “casual”. “O encontro entre eles se deu por acaso.” Está dito... foi assim que nos contaram! O encontro se deu e foi por força do acaso. Por acaso, algo aconteceu. Entenda o acaso como uma sequência de fatos: virem em direções opostas na calçada de uma mesma rua, o sinal fechar para eles, pararem em esquinas opostas, olharem-se na travessia... O que aconteceu? O encontro. CONSEQUÊNCIA O que o motivou, o que causou aquele encontro? O acaso, a força do acaso. CAUSA O encontro, ocorrido por força do acaso, pode vir a se tornar a causa de uma ou de uma rede de consequências futuras, mas aí... serão outras partes da mesma história, não é mesmo? gsm fans.org Nas páginas seguintes, você lerá dois textos de base narrativa, nos quais poderá observar bem essa relação de causa e efeito, ou melhor, de causa e consequência. LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 14 Aquecimento global As causas apontadas pelos cientistas para justificar o fenômeno do aquecimento global podem ser naturais ou provocadas pelo homem. Contudo, cada vez mais as pesquisas nesta área apontam o homem como o principal responsável. Fatores como a grande concentração de agentes poluentes na atmosfera contribuem para um aumento bastante significativo do efeito estufa. No efeito estufa a radiação solar é normalmente devolvida pela Terra ao espaço em forma de radiação de calor; parte dela, contudo, é absorvida pela atmosfera, e esta envia quase o dobro da energia retida à superfície terrestre. Este efeito é responsável pelas formas de vida de nosso planeta. Entretanto, os agentes poluentes, presentes na atmosfera, o intensificam, ocasionando um aumento de temperatura bem acima do “normal”. O fator que evidenciou este aquecimento foi a investigação das medidas de temperatura em todo o planeta desde 1860. Alguns estudos mostram ser possível que a variação em irradiação solar tenha contribuído, significativamente, para o aquecimento global ocorrido entre 1900 e 2000. Dados recebidos de satélite indicam uma diminuição de 10% em áreas cobertas por neve desde os anos 60. A região da cobertura de gelo no hemisfério norte, na primavera e verão, também diminuiu em cerca de 10% a 15% desde 1950. O degelo dos polos é uma das consequências do aquecimento global. Estudos recentes mostraram que a maior intensidade das tempestades ocorridas estava relacionada com o aumento da temperatura da superfície da faixa tropical do Atlântico. Esses fatores foram responsáveis, em grande parte, pela violenta temporada de furacões registrada nos Estados Unidos, México e países do Caribe. O Protocolo de Kyoto visa à redução da emissão de gases que promovem o aumento do efeito estufa. http://www.todabiologia.com/ecologia/aquecimento_global.htm Você sabe o que é o Protocolo de Kyoto? Pesquise e proponha uma conversa sobre o assunto, com os seus colegas e com seu(sua) Professor(a). ESPAÇO PES UISA 4. Do 4.º parágrafo, transcreva causa possível: __________________________________________ consequência possível: ___________________________________ _______________________________________________________ 5. Observe o 5.º e o 6.º parágrafos e determine como CAUSA ou como CONSEQUÊNCIA os seguintes fatores: I. diminuição de 10% em áreas cobertas por neve desde os anos 60: ________________________ II. aquecimento global - __________________________ III. degelo dos polos - _______________________________ IV. maior intensidade de tempestades - _____________________ V. aumento da temperatura da superfície da faixa tropical do Atlântico. - ___________________________ VI. violenta temporada de furacões - _________________________ O texto tem como TEMA (ou assunto principal) as causas e consequências do aquecimento global. Sua FINALIDADE é _______________________________________________________ 1. Identifique nos parágrafos, ao longo do texto, o agente principal das causas que resultam no aquecimento global (consequência): _______________________________________________________ 2. No 2.º parágrafo, aponte o que é CAUSA: ________________________________________________ CONSEQUÊNCIA: _______________________________________ 3. Relacione o 1.º parágrafo ao 3.º e aponte CAUSA NATURAL CONSEQUÊNCIA _______________________ ____________________________ CAUSA PROVOCADA PELO HOMEM CONSEQUÊNCIA ________________________ __________________________ ________________________ __________________________ LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 15 AS PÉROLAS Dentro do pacote de açúcar, Renata encontrou uma pérola. A pérola era evidentemente para Renata, que sempre desejou possuir um colar de pérolas, mas sua profissão de doceira não dava para isso. – Agora vou esperar que cheguem as outras pérolas – disse Renata, confiante. E ativou a fabricação de doces, para esvaziar mais pacotes de açúcar. Os clientes queixavam-se de que os doces de Renata estavam demasiado doces, e muitos devolviam as encomendas. Por que não aparecia outra pérola? Renata deixou de ser doceira qualificada, e ultimamente só fazia arroz-doce. Envelheceu. A menina que provou o arroz-doce, aquele dia, quase já ia quebrando um dente, ao mastigar um pedaço encaroçado. O caroço era uma pérola. A mãe não quis devolvê-la a Renata, e disse:– Quem sabe se não aparecerão outras, e eu farei com elas um colar de pérolas? Vou encomendar arroz- doce toda semana. ANDRADE, Carlos Drummond de. Rick e a girafa. São Paulo: Ática, 2007. Glossário: qualificada – competente. 1. Que trechos do 1.º e do 2.º parágrafos indicam que Renata acreditava no destino e na sorte? ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ 2. De acordo com o 2.º e o 3.º parágrafos, a) o que fez os doces de Renata ficarem doces demais (CAUSA IMEDIATA)? ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ b) que CONSEQUÊNCIAS isso teve para a doceira Renata? ____________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ Leia, a seguir, a pérola de imaginação que é esse pequeno conto de Carlos Drummond de Andrade: LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 16 O VALOR DOS ELEMENTOS DE COESÃO (III) gsm fans.org Bem, voltemos agora àquele “encontro casual”, ocorrido numa travessia de rua. Imaginemos algumas CIRCUNSTÂNCIAS, que você tentará identificar. Imaginemos, por exemplo, que “Se o encontro casual não tivesse ocorrido, aqueles dois talvez nem tivessem se conhecido.” Que CONDIÇÃO se estabeleceu para eles terem se conhecido? ____________________________________ Que termo, na frase acima, indica essa condição? ______________ A frase afirma que eles não teriam se conhecido ou expressa uma dúvida? _________________________ Que termo indica que se expressa uma dúvida ? _________________ Acho que nada acontece por acaso, sabe? Que no fundo as coisas têm seu plano secreto, embora nós não entendamos. (Carlos Ruiz Zafón) 3. PRODUÇÃO DE TEXTO Agora, imagine e escreva um parágrafo final, um desfecho que contenha as consequências da atitude da mãe da menina para si mesma, para sua filha e para Renata. _______________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________________ Já ocorreu algum encontro casual em sua vida? Conhece algum? Que tal uma Roda de conversa? LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 17 Multirio Voltemos à crônica do dia a dia – No caderno do 1.º bimestre, enfocamos o gênero textual “CRÔNICA”. Vale lembrar alguns aspectos, um pouco antes de ler o texto a seguir (uma crônica). A crônica tem, como traços marcantes, o olhar para o cotidiano e a linguagem informal. A vivência do cronista e suas observações sobre a vida, sobre fatos banais do dia a dia são assuntos de uma crônica, escrita como se o cronista conversasse, contasse um caso ao leitor. Leia a crônica a seguir. Observe que o narrador é personagem da cena que narra (uma situação cotidiana) e fala de todos nós, a partir da observação do comportamento do outro. RECORDAÇÃO Antonio Prata "Hoje a gente ia fazer 25 anos de casado", ele disse, me olhando pelo retrovisor. Fiquei sem reação: tinha pegado o táxi na Nove de Julho, o trânsito estava ruim, levamos meia hora para percorrer a Faria Lima e chegar à rua dos Pinheiros, tudo no mais asséptico silêncio, aí, então, ele me encara pelo espelhinho e, como se fosse a continuação de uma longa conversa, solta essa: "Hoje a gente ia fazer 25 anos de casado". Meu espanto, contudo, não durou muito, pois ele logo emendou: "Nunca vou esquecer: 1º de junho de 1988. A gente se conheceu num barzinho, lá em Santos, e dali pra frente nunca ficou um dia sem se falar! Até que cinco anos atrás... Fazer o que, né? Se Deus quis assim...". Houve um breve silêncio, enquanto ultrapassávamos um caminhão de lixo e consegui encaixar um "Sinto muito". "Obrigado. No começo foi complicado, agora tô me acostumando. Mas sabe que que é mais difícil? Não ter foto dela." "Cê não tem nenhuma?" "Não, tenho foto, sim, eu até fiz um álbum, mas não tem foto dela fazendo as coisas dela, entendeu? Que nem: tem ela no casamento da nossa mais velha, toda arrumada. Mas ela não era daquele jeito, com penteado, com vestido. Sabe o jeito que eu mais lembro dela? De avental. Só que toda vez que tinha almoço lá em casa, festa e alguém aparecia com uma câmera na cozinha, ela tirava correndo o avental, ia arrumar o cabelo, até ficar de um jeito que não era ela. Tenho pensado muito nisso aí, das fotos, falo com os passageiros e tal e descobri que é assim, é do ser humano, mesmo. A pessoa, olha só, a pessoa trabalha todo dia numa firma, vamos dizer, todo dia ela vai lá e nunca tira uma foto da portaria, do bebedor, do banheiro, desses lugares que ela fica o tempo inteiro. Aí, num fim de semana ela vai pra uma praia qualquer, leva a câmera, o celular e tchuf, tchuf, tchuf. Não faz sentido, pra que que a pessoa quer gravar as coisas que não são da vida dela e as coisas que são, não? Tá acompanhando? Não tenho uma foto da minha esposa no sofá, assistindo novela, mas tem uma dela no jet ski do meu cunhado, lá na Guarapiranga. Entro aqui na Joaquim?” "Isso.” Glossário: asséptico: preservado de contaminação ou imune ao que possa causar contaminação: limpo, puro. Continua... LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 18 Antes de continuar a leitura, imagine, a partir do que já leu, como terminará a conversa, como terminará a história da foto da esposa que o personagem queria ter, como terminará essa viagem? A crônica continua na próxima página. Mas, antes, vamos estudar o que lemos até aqui: 1. O que o título permite antecipar sobre o tema da crônica? ___________________________________________________________________________________________________________________ 2. Que função exercem as aspas em trechos ao longo de toda a crônica? ___________________________________________________________________________________________________________________ 3. Quem são os personagens da crônica? Transcreva do primeiro parágrafo o trecho que nos permite reconhecer quem são: ___________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________ 4. No primeiro trecho da crônica “Hoje a gente ia fazer 25 anos de casado”, percebe-se que algo aconteceu no casamento do personagem que o impediu que completasse 25 anos de casado. Transcreva do trecho a expressão que indica que houve um impedimento para algo acontecer: ___________________________________________________________________________________________________________________ 5. De acordo com o 2.º parágrafo, quantos anos de casado o personagem completou? ____________________________________________ 6. Na sua opinião, o que teria acontecido há cinco anos e que causou a interrupção da vida de casado do personagem? Justifique sua opinião com um trecho do 2.º parágrafo:___________________________________________________________________________________________________________________ 7. De acordo com o 3.º parágrafo, que tipo de objeto de recordação o personagem não tinha, mas gostaria de ter? ___________________________________________________________________________________________________________________ 8. Transcreva a fala em que o narrador-personagem começa a mostrar interesse pela história do outro: ___________________________________________________________________________________________________________________ 9. Localize e transcreva do 3.º parágrafo a expressão que inicia uma explicação através de um exemplo e que tem o mesmo significado de “Por exemplo:”: ______________________________________________________________________________________________________ 10) Observe o trecho final do parágrafo: “Entro aqui na Joaquim?” "Isso.” A que se refere a palavra em destaque? Com que significado foi usada a palavra “Isso”? _______________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________ LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 19 Continuação e conclusão da crônica "Ano passado me deu uma agonia, uma saudade, peguei o álbum, só tinha aqueles retratos de casório, de viagem, do jet ski, sabe o que eu fiz? Fui pra Santos. Sei lá, quis voltar naquele bar." "E aí?!" "Aí que o bar tinha fechado em 94, mas o proprietário, um senhor de idade, ainda morava no imóvel. Eu expliquei a minha história, ele falou: 'Entra'. Foi lá num armário, trouxe uma caixa de sapatos e disse: 'É tudo foto do bar, pode escolher uma, leva de recordação'." Paramos num farol. Ele tirou a carteira do bolso, pegou a foto e me deu: umas 50 pessoas pelas mesas, mais umas tantas no balcão. "Olha a data aí no cantinho, embaixo." "Primeiro de junho de 1988?" "Pois é. Quando eu peguei essa foto e vi a data, nem acreditei, corri o olho pelas mesas, vendo se achava nós aí no meio, mas não. Todo dia eu olho essa foto e fico danado, pensando: será que a gente ainda vai chegar ou será que a gente já foi embora? Vou morrer com essa dúvida. De qualquer forma, taí o testemunho: foi nesse lugar, nesse dia, tá fazendo 25 anos, hoje. Ali do lado da banca, tá bom pra você?“ PRATA, Antonio. Trinta e poucos. São Paulo. Companhia das Letras, 2016. Continue a leitura da crônica e confira se você imaginou algo parecido ou se o clímax e o desfecho da crônica o surpreenderam: 11. De acordo com o 4º parágrafo da crônica (1º, no trecho acima), a que bar o personagem se refere quando diz “Sei lá, quis voltar naquele bar.” ? ___________________________________________________________________________________________________________ 12. Que sentimentos o levaram a voltar ao local, depois de tanto tempo? _________________________________________________________________________________________________________________ 13. Observe que o parágrafo final começa com o trecho: “Paramos num farol.” a) Quem está dizendo a frase? ________________________________________________________________________________________ b) A quem ele se refere quando diz “Paramos”? ___________________________________________________________________________ c) A que se refere a palavra “farol”, bem característica do modo de falar de pessoas de São Paulo? _________________________________ 14. O que retratava a foto que o personagem mostrou ao narrador? __________________________________________________________ 15. O que havia de especial na foto, que fez o personagem levá-la como recordação? ___________________________________________ 16. No trecho “corri o olho pelas mesas, vendo se achava nós aí no meio, mas não.”, que marca bem o modo de falar do personagem, a) com que significado ele usa a expressão “corri o olho”? __________________________________________________________________ b) a quem ele se refere quando diz “nós”? _______________________________________________________________________________ 17. O personagem diz “Vou morrer com essa dúvida.” Explique, com suas palavras, a que dúvida ele se refere? _________________________________________________________________________________________________________________ 18. No desfecho da crônica, a quem o personagem está fazendo a pergunta e que ele trata amigavelmente por “você”? Por que ele faz a pergunta? _________________________________________________________________________________________________________ LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 20 FATO E OPINIÃO SOBRE UM FATO Volte ao 3º parágrafo da crônica e observe o trecho: “Tenho pensado muito nisso aí, das fotos, falo com os passageiros e tal e descobri que é assim, é do ser humano, mesmo.” a) Que opinião o personagem expressa? _______________________________________________________________________________ b) Sobre que fato ele expressa essa opinião? ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Vamos aproveitar a crônica lida para dar atenção especial a algumas outras habilidades de leitura: UM POUCO MAIS SOBRE O VALOR DOS ELEMENTOS DE COESÃO Como já vimos, entre parágrafos, entre períodos ou entre orações de textos que lemos, podemos observar termos (palavras, expressões ou sinais de pontuação) com a função de fazer a COESÃO (estabelecer relações lógicas) entre as ideias, expressando circunstâncias que as ligam. Observe os trechos a seguir, retirados da crônica, e diga que relação se estabelece entre as ideias, em cada um deles: 1. “Até que cinco anos atrás... Fazer o que, né? Se Deus quis assim...". Que circunstâncias indicam os termos em destaque? _______________________________________________________________________ 1. “Não tenho uma foto da minha esposa no sofá, assistindo novela, mas tem uma dela no jet ski do meu cunhado, lá na Guarapiranga. Entro aqui na Joaquim?” "Isso.” (3º parágrafo) a) Que circunstâncias indicam, respectivamente, a palavra e a expressão em destaque? _______________________________________ b) Que conexão se pode estabelecer entre o período “Entro aqui na Joaquim” e o que o personagem vinha falando anteriormente? _________________________________________________________________________________________________________________ 2. "Ano passado me deu uma agonia, uma saudade, peguei o álbum, só tinha aqueles retratos de casório, de viagem, do jet ski, sabe o que eu fiz? Fui pra Santos. Sei lá, quis voltar naquele bar.” (4º parágrafo). a) Que relação se estabelece entre sentir agonia, saudade, ao perceber que só tinha aqueles tipos de retrato, e o fato de o personagem ir para Santos e voltar àquele bar? ____________________________________________ b) Que conexão entre as ideias as vírgulas estabelecem no trecho? ____________________________ 3. “Todo dia eu olho essa foto e fico danado, pensando: será que a gente ainda vai chegar ou será que a gente já foi embora?” a) Que circunstâncias indicam, respectivamente, a expressão e as palavras em destaque? __________________________________________________________________________________________________________________ b) O que indica o uso dos dois pontos (:), no trecho? ______________________________________________________________________ LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 21 EFEITO DE SENTIDO Os recursos de linguagem utilizados para provocar efeitos de sentido colaboram na construção do sentido do texto como um todo, daí a importância de perceber suas ocorrências em trechos de um texto. Ocorrem, por exemplo, através de uso da pontuação – “E mesmo que voltasse, [...] encontraria vivo aquele ser tão velhinho que mais parecia um antigo morto esquecido de partir?!...” (Lygia Fagundes Telles) destaque dado a uma palavra (tipos de letra, negrito, sinais...) – “Na verdade O AMOR É QUÍMICA!” (Profª Liria Alves) escolha de determinadas palavras ou expressões, explorando seus recursos expressivos (as figurasde linguagem, por exemplo; o uso de uma figura de linguagem, de palavras no diminutivo ou no aumentativo...) – “Ele bebia um golinho de velhice.” (Guimarães Rosa) repetições, gradações, variações da forma de palavras ou da estrutura das frases, dos períodos, dos parágrafos... – “Reza reza o rio/córrego pro rio/e o rio pro mar...” (Caetano Veloso) 1. Observe o seguinte trecho do 1.º parágrafo da crônica: “Fiquei sem reação: tinha pegado o táxi na Nove de Julho, o trânsito estava ruim, levamos meia hora para percorrer a Faria Lima e chegar à rua dos Pinheiros, tudo no mais asséptico silêncio, aí, então, ele me encara pelo espelhinho e, como se fosse a continuação de uma longa conversa, solta essa: "Hoje a gente ia fazer 25 anos de casado". Na expressão em destaque, o narrador faz uso de uma HIPÉRBOLE (figura de linguagem que expressa exagero, lembra?), levando-se em conta o significado da palavra “asséptico”. Que efeito de sentido tem o uso desse recurso expressivo no trecho? ___________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________ 2. Observe, no 2.º parágrafo, o trecho “A gente se conheceu num barzinho, lá em Santos, e dali pra frente nunca ficou um dia sem se falar! Até que cinco anos atrás... Fazer o que, né? Se Deus quis assim...". Que efeito de sentido tem, respectivamente, o uso do ponto de exclamação e das reticências (nos dois períodos em que são usadas)? ___________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________ 3. No 3.º parágrafo, observe o uso da onomatopeia em “A pessoa, olha só, a pessoa trabalha todo dia numa firma, vamos dizer, todo dia ela vai lá e nunca tira uma foto da portaria, do bebedor, do banheiro, desses lugares que ela fica o tempo inteiro. Aí, num fim de semana ela vai pra uma praia qualquer, leva a câmera, o celular e tchuf, tchuf, tchuf.” Que feito de sentido tem o uso repetido da onomatopeia em destaque? ___________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________ LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 22 4. Observe, agora, a sequência de quadrinhos da tirinha abaixo. Que efeito de sentido tem a mudança do tipo de letra no 2.º quadrinho? E que efeito tem o destaque dado aos vocábulos IR e GRITAR no 3.º quadrinho? ________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________ PRODUÇÃO DE TEXTO Dê asas à imaginação, que agora você vai ser o(a) cronista! Na crônica “Recordação”, lemos sobre o sentimento de perda em um personagem e sobre sua necessidade de ter uma foto que lembre um “momento de vida” de sua esposa. As crônicas são assim, retratam cenas de vida cotidiana, no caso um sentimento de perda revelado ao cronista em uma corrida de táxi. Uma fotografia, por exemplo, que é a recordação, o objeto a que se refere o título da crônica, pode servir como tema para se escrever uma crônica. Observe a fotografia ao lado e, a partir do que mais lhe chamar atenção nela, imagine uma história que você vai nos contar em forma de crônica. Planeje, escreva, revise, reescreva, até chegar à forma final de sua crônica, que você vai transcrever em uma folha à parte deste Caderno. Não se esqueça de dar um título à sua crônica! w w w .m ensagenscom am or.com / LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 23 "Hoje a gente ia fazer 25 anos de casado“. - 1º parágrafo “(...) dali pra frente nunca ficou um dia sem se falar! – 2.º parágrafo “Não faz sentido, (...)” - 3.º parágrafo “Mas ela não era daquele jeito, com penteado, com vestido. “ – 3.º parágrafo "Ano passado me deu uma agonia, uma saudade, - 4.º parágrafo (...) será que a gente ainda vai chegar ou será que a gente já foi embora? - 5.º parágrafo Na crônica Recordação, o personagem diz, a certa altura, que descobriu, falando com passageiros, “que é assim, do ser humano, mesmo”. Ele está expressando uma OPINIÃO sobre um FATO: o tipo de foto que as pessoas costumam tirar. 1. Observe, agora, outros trechos da crônica transcritos no quadro abaixo. Pense sobre cada um deles: expressa um FATO ou uma OPINIÃO? Depois, preencha a coluna da direita de acordo com o que cada trecho expressa. FATO ou OPINIÃO? recantodasletras.com .br PARA REFLETIR Emitir opinião sobre um fato envolve mais que liberdade de expressão: envolve a responsabilidade sobre o que se diz. LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 24 FATO X OPINIÃO Habilidade importante para a leitura crítica de um texto é a de saber distinguir um fato do que seja a opinião sobre um fato. Observe o trecho de uma possível narrativa: “Ana refletiu sobre a questão pela primeira vez e considerou que as fotos em redes sociais não são o melhor meio de conhecer as pessoas.” O narrador narra um FATO: o fato de Ana ter refletido sobre a questão pela primeira vez e ter chegado a uma consideração sobre as fotos em redes sociais. O narrador nos informa a OPINIÃO da personagem, o que ela considera: “as fotos em redes sociais não são o melhor meio de conhecer as pessoas.” Se alguém, em um texto, diz, por exemplo, “A bela amiga se alistou na importante expedição de colonização de Marte.”, temos: Uma amiga ter se alistado numa expedição: é o FATO que se informa. Dizer que a amiga é bela e que a expedição é importante revela, nos dois casos, pontos de vista, OPINIÕES de quem o diz. Ensinamento Adélia Prado Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento. Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou comigo: "Coitado, até essa hora no serviço pesado". Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente. Não me falou em amor. Essa palavra de luxo. PRADO, Adélia. Poesia reunida. São Paulo: Arx, 1991. 1. O estudo ser a coisa mais fina do mundo é um fato ou uma opinião? ____________________________________________________________________ 2. Ao revelar o que a mãe achava sobre o estudo, o eu poético está expressando um fato ou uma opinião? ____________________________________________________________________ 3. Que palavra, no verso 1, indica que o eu poético está se referindo a uma opinião, a um modo de ver de sua mãe? ____________________________________________________________________ 4. Em que versos aparecem opiniões do eu poético? ____________________________________________________________________ 5. No poema, quais as diferentes opiniões que se contrapõem? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Leia este poema: Agora, observe, no poema Ensinamento, o que expressa FATO e o que expressaOPINIÃO: LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 25 agencia.ac.gov.br youtube.com valeagoraw eb.com .br g1.globo.com A ARTE DA CONVIVÊNCIA Leia as imagens que ilustram fatos que ocorrem no dia a dia de nossa sociedade. Imagine e escreva, abaixo de cada uma delas, uma pequena legenda adequada ao fato ilustrado. Depois, leia para os seus colegas. __________________ __________________ __________________ noticiasdeitauna.com .br __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ ____________________________________ A ÉTICA DO DIA A DIA Pense em situações que ocorrem com tanta frequência no nosso dia a dia, em diferentes momentos de interação social, que acabam sendo banalizadas, vistas erradamente como “coisas que acontecem”, servindo, assim, como maus exemplos para você, jovem. Pense em atitudes socialmente ruins, seja entre pessoas ou de pessoas em relação ao meio ambiente, por exemplo. Que tal fazer um levantamento dessas situações, junto com seus colegas, e discutir o assunto em uma RODA DE CONVERSA, organizada e coordenada pelo(a) Professor(a)? __________________ __________________ __________________ Os pontos importantes sobre a questão em debate podem ser anotados por aluno(a) escolhido(a) pelo(a) Professor(a) junto com seus companheiros de turma. Organizado, o texto pode compor um painel afixado em sala de aula, contendo fotos ou recortes de revistas e jornais que ilustrem o que seria, para todos, “A ÉTICA DO DIA A DIA PARA UMA VIDA MELHOR.” LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 26 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO – O CONTO Vamos estudar mais um pouco esse gênero textual narrativo? O ENREDO – um fato acontece, em geral, por uma determinada causa e se desenrola, numa rede de causas e consequências, envolvendo pessoas (personagens) e certas circunstâncias ou condições que as caracterizam. É necessário saber como tudo aconteceu, a(s) causa(s), as consequência(s )... e saber contar! As pérolas Dentro do pacote de açúcar, Renata encontrou uma pérola. A pérola era evidentemente para Renata, que sempre desejou possuir um colar de pérolas, mas sua profissão de doceira não dava para isso. – Agora vou esperar que cheguem as outras pérolas – disse Renata, confiante. E ativou a fabricação de doces, para esvaziar mais pacotes de açúcar. Os clientes queixavam-se de que os doces de Renata estavam demasiado doces, e muitos devolviam as encomendas. Por que não aparecia outra pérola? Renata deixou de ser doceira qualificada, e ultimamente só fazia arroz-doce. Envelheceu. A menina que provou o arroz-doce, aquele dia, quase já ia quebrando um dente, ao mastigar um pedaço encaroçado. O caroço era uma pérola. A mãe não quis devolvê-la a Renata, e disse: – Quem sabe se não aparecerão outras, e eu farei com elas um colar de pérolas? Vou encomendar arroz-doce toda semana. ANDRADE, Carlos Drummond de. Rick e a girafa. São Paulo: Ática, 2007. Glossário: qualificada - competente Observe como se constrói o enredo, no pequeno conto de Carlos Drummond de Andrade, já apresentado neste caderno. Mais uma vez, se constitui em exemplo significativo: SITUAÇÃO INICIAL CONFLITO GERADOR CLÍMAX DESFECHO TÍTULO SITUAÇÃO INICIAL – Renata encontra uma pérola em um pacote de açúcar. CONFLITO GERADOR – Renata aumenta a fabricação de doces, para esvaziar mais pacotes de açúcar, na esperança de encontrar mais pérolas. CLÍMAX – A menina encontra uma pérola, ao provar o arroz-doce de Renata. DESFECHO – Na esperança de encontrar outras pérolas, a mãe da menina resolve encomendar arroz-doce toda semana. TÍTULO – Observe que o título é adequado à história que é narrada. NARRADOR – Você percebeu que o narrador não participa da história? Ele conta uma história que ocorreu com outras pessoas. A história é, então, contada na 3ª pessoa. É o que chamamos de FOCO NARRATIVO. PERSONAGENS – Renata é a protagonista, personagem principal do enredo. A menina e a mãe da menina são os personagens secundários, que também participam do enredo. OBSERVE, NA ESTRUTURA DO CONTO, OS ELEMENTOS DA NARRATIVA: LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 27 QUADRO-BASE PARA O PLANEJAMENTO DE UM CONTO INTRODUÇÃO SITUAÇÃO INICIAL O quê? Quem? Onde? Quando? (Que situação vai se complicar?) DESENVOLVIMENTO CONFLITO GERADOR O fato complicador, que muda a situação inicial. O quê? Por quê? Como? (Elementos no desenvolvimento do conflito que vão levar ao clímax da história). CLÍMAX O quê? (Que fato, no desenvolvimento do conflito, vai exigir uma decisão, uma solução, e preparar o desfecho da história?). CONCLUSÃO DESFECHO E então... (Como se concluirá a história?). Para entender mais um pouco o gênero CONTO: o enredo O enredo – Uma situação inicial que se complica, que gera um conflito; esse conflito atinge um momento de máxima tensão, o clímax, que prepara o desfecho da história. Em resumo é isso, mas dentro de cada um desses momentos há elementos fundamentais no desenvolvimento da narrativa. Leia, abaixo, o quadro que seria a base para o planejamento de um conto que se vai escrever. recantodasletras.com .br Elementos estruturais do conto “As pérolas” PARÁGRAFO INTRODUÇÃO SITUAÇÃO INICIAL DESENVOLVIMENTO CONFLITO GERADOR CLÍMAX CONCLUSÃO DESFECHO Veja como ficaria um quadro com os elementos estruturais do conto lido: Renata encontra uma pérola em um pacote de açúcar. 1.º Renata aumenta a fabricação de doces, para esvaziar mais pacotes de açúcar na esperança de encontrar mais pérolas. 2.º A menina encontra uma pérola, ao provar o arroz-doce de Renata. 4.º Na esperança de encontrar outras pérolas, a mãe da menina resolve encomendar arroz-doce toda semana. Parágrafo final LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 28 PARA ENTENDER UM POUCO MAIS O GÊNERO “CONTO” Há momentos em que temos o coração transbordando de sentimentos. Há horas em que sentimos necessidade de contar a alguém alguma situação, um fato, uma sensação nossa, um sentimento, uma ideia que nos ocorreu... Narrar, contar histórias, é a melhor forma de transformar em experiência o que vivemos, o que sentimos diante das situações. Há quem conte oralmente a um amigo ou a um grupo... há quem escreva suas histórias, quem as publique; assim como há ouvintes e leitores dessas histórias. O que não nos falta é história. Observe a estrutura e os elementos narrativos deste outro pequeno CONTO de Carlos Drummond de Andrade, que nos fala da alegria e da tristeza de um contador de histórias. Histórias para o Rei Nunca podia imaginar que fosse tão agradável a função de contar histórias, para a qual fui nomeado por decreto do Rei. A nomeação colheu-me de surpresa, pois jamais exercitara dotes de imaginação, e até me exprimo com certa dificuldade verbal. Mas bastou que o Rei confiasse em mim para que as histórias me jorrassem da boca à maneira de água corrente. Nem carecia inventá-las. Inventavam-se a si mesmas. Este prazer durou seis meses. Um dia, a Rainha foi falar ao Rei que eu estava exagerando. Contava tantas histórias que não havia tempo para apreciá-las, e mesmo para ouvi-las. O Rei, que julgava minha facúndia uma qualidade, passou a considerá-la um defeito, e ordenou que eu só contasse meia história por dia, e descansasse aos domingos. Fiquei triste, pois não sabia inventar meia história. Minha insuficiência desagradou, e fui substituído por um mudo, que narra por meio de sinais, e arranca os maiores aplausos. ANDRADE, Carlos Drummond de. Histórias para o Rei. Rio de Janeiro: Record, 1999. Glossário: facúndia - facilidade para falar; abundância em palavras. TÍTULO SITUAÇÃO INICIAL CONFLITO GERADOR CLÍMAX DESFECHO pt.w ikipedia.org LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 29 1. O título antecipa para o leitor o que vai ser contado? Leia todo o conto e pense se o título escolhido foi adequado. Converse com os seus colegas e com seu(sua) Professor(a). 2. Observe o narrador do conto. Ele está ausente e conta, como observador, algo que aconteceu a outros ou ele participa da história? ____________________________________________________________________________________________________________ 3. Em que situação inicial encontramos o personagem principal do conto? ____________________________________________________________________________________________________________ 4. Que complicação ou conflito ocorre para mudar a situação?___________________________________________________________________________________________________________ 5. Qual é o clímax, o momento de maior tensão na história? ___________________________________________________________________________________________________________ 6. Além do narrador-personagem, que outros personagens participam da história? ___________________________________________________________________________________________________________ 7. Como se conclui, como se dá o desfecho da história? Que efeito de IRONIA há nesse desfecho? ___________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________ 8. Em determinado momento, o narrador faz uso de ironia sobre o fato de não saber inventar meia história. Transcreva o trecho em que ironiza o fato: _____________________________________________________________________________________________________ estadao.com .br irdeb.ba.gov.br flickr.com 9. Releia o trecho: “Mas bastou que o Rei confiasse em mim para que as histórias me jorrassem da boca à maneira de água corrente.” Que efeito de sentido tem a escolha da palavra destacada? _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ recantodasletras.com .b LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 30 Elementos estruturais do conto “Histórias para o Rei” PARÁGRAFO INTRODUÇÃO SITUAÇÃO INICIAL DESENVOLVIMENTO CONFLITO GERADOR CLÍMAX CONCLUSÃO DESFECHO Vamos imaginar como foi planejado o conto, ou seja, como teria sido imaginado antes de ser escrito? Foco narrativo – em 1ª pessoa (narrador-personagem). Personagem principal e características – o narrador-personagem: um homem comum, a princípio inseguro, pouco dado à imaginação, com dificuldade de se expressar verbalmente e que precisa sentir que confiam nele. Personagens secundários e características – o Rei (um homem que sabe julgar as qualidades alheias e confiar nas pessoas, mas facilmente influenciável pela opinião alheia); a Rainha (uma mulher forte, influente junto ao marido, ansiosa, com certa dificuldade de atenção, intolerante com o que considera exagero, pois lhe exige tempo de atenção); o novo contador de histórias, um homem incapacitado de fala, mas com grande capacidade de contar histórias por meio de sinais. Título – Histórias para o Rei. QUADRO-BASE PARA O PLANEJAMENTO DO CONTO INTRODUÇÃO SITUAÇÃO INICIAL O quê? Nomeação do personagem principal como contador de histórias de um reino. Quem? O narrador-personagem. Onde? Em um reino não localizado. Quando? No tempo dos contos, do “Era uma vez”. DESENVOLVIMENTO CONFLITO GERADOR e DESENVOLVIMENTO DO ENREDO O quê? A Rainha reclama com o Rei sobre o contador de histórias por ele nomeado. Por quê? Acha que ele está exagerando. Como? Conta histórias demais. E então? O Rei, influenciado pela Rainha, muda de opinião sobre as qualidades do contador de histórias e ordena-lhe que passe a contar apenas meia história por dia, com folga aos domingos. CLÍMAX O quê? O personagem principal fica triste, pois não sabe imaginar uma meia história, o que desagrada ao Rei. CONCLUSÃO DESFECHO O narrador-personagem é substituído por um mudo, que conta histórias por meio de sinais e que agrada muito à plateia. PASSO A PASSO PARA A PRODUÇÃO DE UM CONTO Agora, com base nos elementos do conto, preencha o quadro ao lado: criandoriqueza.com .br LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 31 Escritas ou contadas oralmente, muitas histórias saem do mundo da imaginação e ganham vida no mundo mágico e luminoso das narrativas de ficção. Em geral, há um encadeamento de fatos a partir de uma situação inicial que se complica, se desenvolve e chega a um desfecho. É o que chamamos de ENREDO – a rede que o narrador cria para ENREDAR, prender o leitor! Você conhece a história daquela história que nem enredo tinha? Ela é assim, leia! JÁ ERA UMA VEZ Era uma vez uma história bem pobrezinha, tão pobrezinha que não tinha personagens, não tinha começo, não tinha meio, não tinha fim, nem enredo tinha. E para que serve uma história sem enredo? A pobre da nossa história andava por aí pedindo: – Um enredo, pelo amor de Deus! Mas ninguém dá a mínima atenção a uma história sem enredo. E a historinha sem enredo passava por grandes histórias, cada uma mais orgulhosa do seu enredo. Uma era a história de um cavaleiro de armadura que atacava até moinhos de vento. A historinha olhava e dizia: – Puxa!, isso é que é enredo. Quem dera eu tivesse um enredo assim! Outra era a história de um médico que virava monstro e de um monstro que virava médico. Tinha também a história de um rei que tinha uma távola redonda. Todas as histórias tinham enredo, menos a nossa. Um dia, nossa história decidiu: “vou sair pelo mundo e vou encontrar um enredo, custe o que custar”. Assim, nossa história correu mundo, conheceu todos os lugares, viu cidades imensas, ouviu a queixa das pessoas, o som das trombetas e o barulho dos cascos dos cavalos do rei. Viu bandidos serem enforcados, foi presa, foi solta, foi presa de novo, fugiu. Assim, os anos se passaram, e assim a nossa história voltou ao ponto de partida. Agora, já era uma velha história, uma história que os pescadores contavam nas noites de lua, as velhas contavam para as crianças dormir, e as pessoas sonhavam quando queriam esquecer da vida. Um dia, nossa história estava para morrer. Então, ela reuniu em sua volta todas as pequenas anedotas da vizinhança, os episódios mínimos e as piadas sujas e disse: – Meus amores, antes de partir tenho uma coisa muito importante para contar a vocês, que vai alegrar os homens, fazer as mulheres chorarem e apavorar as crianças. Já era quase nada, quando conseguiu dizer: – Era uma vez uma história bem pobrezinha, tão pobrezinha que não tinha personagens, não tinha começo, não tinha meio, não tinha fim, nem enredo tinha. E morreu dizendo: – Para que serve uma história sem enredo? LEMINSKI, Paulo. Gozo fabuloso. São Paulo: DBA Artes Gráficas, 2004. ATENÇÃO! Aproveite a leitura para observar o FOCO narrativo e o modo como o narrador apresenta as falas de seu personagem (DISCURSO DIRETO), utilizando o recurso dos dois pontos (:), seguidos por travessões ( – ); como também o recurso da fala entre aspas. phoenixproducoes.com .br LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 32 1. Quem é a personagem principal em “Já era uma vez”? ________________________________________________________________________________________________________________ 2. O narrador qualifica a personagem como “uma história bem pobrezinha”. Que efeito de sentido tem o uso do vocábulo “bem” antes do diminutivo “pobrezinha”? E o uso do diminutivo em pobrezinha? ________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________ 3. No trecho "Era uma vez uma história bem pobrezinha, tão pobrezinha que não tinha personagens”, ocorre uma relação de causa e consequência. Que termos, no trecho, estabelecem essa relação? ________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________ 4. Qual era o maior desejo da personagem principal e que ela vivia pedindo aos outros que realizassem? ________________________________________________________________________________________________________________ 5. Que outros elementos característicos da narrativa o narrador diz que faltam à personagem,por ela ser “pobre, tão pobrezinha que... nem enredo tinha”? ________________________________________________________________________________________________________________ 6. Por que a história sem enredo encontra dificuldade de que alguém a ouça e atenda a seu pedido? ________________________________________________________________________________________________________________ 7. Qual a opinião da personagem sobre o enredo da primeira das “grandes histórias” que ela cita? Transcreva o trecho que justifica sua resposta. _______________________________________________________________________________________________________________ 8. Na sua aventura de sair pedindo um enredo por aí, a personagem passa por grandes histórias com enredos, segundo o narrador. Relacione, na primeira coluna do quadro abaixo, cada enredo citado. Tente lembrar ou pesquise para chegar ao título de cada história e escreva-o, na segunda coluna, ao lado do enredo a que se refere. A tarefa pode ser realizada com a participação de todos os alunos, coordenada pelo(a) Professor(a). ENREDO TÍTULO LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 33 9. No 11.º parágrafo, o narrador conta que “nossa história correu mundo”. Com que sentido ele usa a expressão em destaque? _____________________________________________________________________________________________ 10. Pelo que o narrador conta, no 11.º parágrafo, “nossa história”, ao correr mundo, passou por muitas experiências, viveu uma grande aventura e, sendo a personagem quem é, entendemos que ela viajou por um mundo especial. Que mundo é esse? _____________________________________________________________________________________________ 11. No parágrafo seguinte (12.º), “nossa história”, depois de “correr mundo”, volta ao “ponto de partida” e “já era uma velha história”. Releia, com atenção, o parágrafo, reflita e responda: Dentro do mundo em que a personagem vivia, a que tempo ela voltou? _____________________________________________________________________________________________ 12. Que expressão do início do conto repete-se no final e lembra a tradição oral dos contadores de histórias? _____________________________________________________________________________________________ 13. Viu só? “Nossa história” acabou ganhando um enredo! Agora, com os elementos da narrativa, complete o quadro: praler.org SITUAÇÃO INICIAL CONFLITO GERADOR CLÍMAX DESFECHO 14. Você observou que a fala final da personagem repete a situação inicial da história narrada? Por essa repetição, podemos entender que a história que não tinha enredo não morreu. Qual foi o destino da “nossa história”? __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ recantodasletras.com .br m php.org falandoem literatura.com Que resposta você daria à pergunta que “nossa história” faz no final do conto? Converse com os seus colegas e com o seu(sua) Professor(a). LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 34 Produção de texto Viu para o que serve uma história sem enredo? Sabemos que, na tradição oral, as histórias vão sendo conhecidas porque são contadas no “boca a boca”, alguém conta para alguém que conta para alguém... E assim vai. Você pode reparar que, nessa forma de transmissão de histórias, muitas vezes as pessoas começam assim: Você conhece aquela do...? Assim, a gente vai conhecendo, por exemplo, aquela da moça que encontrou uma pérola num pacote de açúcar, aquela da história que não tinha enredo... Acontece, às vezes, de uma pessoa nos contar o final e a coisa perder um pouco a graça, não é mesmo? Por exemplo: Você conhece aquela da história que começava pelo final e ninguém queria saber de ouvir ou de ler mais nada? A história foi ficando aborrecida, começou a se sacudir de raiva. Sacudiu-se tanto que as letras se embaralharam e... Não, vamos parar! Não queremos saber já o final. E temos um amigo que vai nos contar direitinho essa história toda, com começo, meio e fim. Esse amigo é você! Organize-se. Faça o planejamento da história (retome, para isso, a página com o quadro de planejamento, apresentado neste caderno). Planejada a sua história, use rascunhos à vontade, peça ajuda a seu(sua) Professor(a). A situação inicial você já tem. Pense em como ela vai se desenvolver, pense na complicação, no clímax e no desfecho. Pense que ela pode ter outros personagens. Elabore seu plano, rascunhe o necessário, até chegar à história que você vai nos contar aqui, agora! Como já sugerimos uma situação inicial, vamos deixá-la escrita aqui, para você continuar, criar e escrever todo o desenvolvimento até chegar ao desfecho. Ah, o título também é com você; não se esqueça! Asas à imaginação, mãos à obra, que queremos conhecer mais essa história! ___________________________________________________________ (Aqui você vai escrever o título de sua história.) Era uma vez uma história que começava pelo final. O leitor lia aquele final e a deixava de lado, sem querer saber como a história tinha começado e se desenvolvido, até chegar àquele desfecho. A história começou a ficar muito aborrecida em ser abandonada assim e resolveu que desse jeito a situação não podia continuar. Um dia, estava ela diante dos olhos de um leitor, já pronta para ser abandonada, quando começou a se sacudir de raiva até fazer as letras se embaralharem e ______________________________________________________________________________________ “Já era uma vez” Com base na história que você acabou de ler e nas respostas que deu às questões propostas, observe a expressão que dá título à narrativa. Trata-se de um jogo de palavras, que resulta da mistura da gíria “Já era” (uma expressão própria da linguagem informal dos jovens e adolescentes, referindo-se a alguma coisa que acabou, que já passou) com “Era uma vez” (expressão característica da tradição oral dos contadores de histórias). Assim, a expressão “Já era uma vez” revela que a história sem enredo “já era”, pois, ao entrar no mundo do “era uma vez”, virou enredo dela mesma. Resumindo: para a personagem, agora, ser uma história sem enredo “já era”. LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 35 Que bom você ter nos contado essa história, hein?! Agora, sabemos como a “história que começava pelo final” resolveu o seu problema. Já conhecemos “a história da história que começava pelo final”. Essa é a função dos contadores de histórias, seja oralmente, seja por escrito: fazer a história seguir seu caminho dentro da história das histórias. Com o tempo, uma história vai mudando. É um mexe daqui, um mexe dali; é um que corta uma parte; outro que inventa outra parte; um que muda o final, que inventa outros personagens, que faz o dia virar noite, o mocinho virar bandido, o monstro ficar bonzinho, afinal... “quem conta um conto aumenta um ponto.” E o mundo gira... e o tempo não para... e é a vida que segue e vai nos dando histórias! M U LTIRIO M U LTIRIO Tema para refletir e debater em turma: “Na arte da convivência, diferenças são riquezas!” recantodasletras.com .br Você já parou para pensar a partir de que critérios se distinguem aquilo que é padrão social e o que se estabelece como um desvio desse padrão? Como se definem “iguais” e “diferentes”? Você já parou para refletir sobre questões como essas? Já pensou que são definições e critérios alheios a nós, estabelecidos arbitrariamente, mas que são muitas vezes usados como argumentos para justificar ideias de exclusão social? Já pensou que tais argumentos estão na raiz de um mal que nos atinge a todos, que é o preconceito? LÍNGUA PORTUGUESA – 8.° ANO 36 O doido da garrafa Ele não era mais doido do que as outras pessoas do mundo, mas as outras pessoas do mundo insistiam em dizer que ele era doido. Depois que se apaixonou por uma garrafa de plástico de se carregar na bicicleta e passou a andar sempre com ela pendurada na cintura, virou o Doido da Garrafa. O Doido da Garrafa fazia passarinhos
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