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Estudo de Caso e Método Biográfico em Ciências Sociais

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UNICENTRO NEWTON PAIVA
CURSO: PSICOLOGIA
DISCIPLINA: ESTÁGIO BÁSICO – TECNICAS DE OBSERVAÇÃO
PROFESSORA: MARCIA PEREIRA INACIO SOARES
ALUNA: ALINE CAMILE VITO
RA: 12106768
GOLDENBERG, Mirian. Estudos de caso / O método biográfico em ciências sociais. In: A arte de pesquisar. 8 ed. Rio de Janeiro - São Paulo: Editora Record, 2004, p. 33 a 43.
Estudo de Caso
Estudo de caso trata-se de uma análise detalhada de um determinado caso tendo como referência a patologia de uma determinada doença. Assim, focando no caso em questão supõe-se poder adquirir conhecimento no fenômeno estudado. Estudo de caso é então a mais completa análise holística, adaptada de uma tradição médica e psicológica que se tornou uma das principais modalidades de pesquisa qualitativa em ciências sociais, e considera a “unidade” estudada como um todo para que o mesmo seja compreendido em seus próprios termos. Para que esta compreensão do todo se dê, o estudo de caso busca informações detalhadas através de diferentes técnicas de pesquisa; o que possibilita a penetração na realidade social que não é possível em uma análise estatística. Nessa penetração as particularidades do objeto estudado (seja um indivíduo, família, instituição ou comunidade), bem como suas diferenças internas e comportamentos distintos da média sejam revelados, em vez de escondidos como nas médias estatísticas onde se considera apenas as tendências do grupo.
Esta observação direta permite um acompanhamento minucioso, pode ser mais prolongado e permite que realmente apareça o significado das situações para o individuo quando aliada a técnicas de entrevista em profundidade. Já a pesquisa quantitativa pressupõe uma padronização e a ideia de que uma determinada situação tenha o mesmo significado para indivíduos diferentes como mostra Moacir Palmeira. Os tipos de dados obtidos em um estudo de caso têm origem em uma tradição de pesquisa antropológica nas sociedades primitivas e não se tem regras precisas sobre as técnicas utilizadas, pois cada uma é única e depende do tema, do pesquisador e de seus pesquisados. Essas características fazem com que um estudo de caso possa durar semanas ou mesmo anos. Nesse período podem surgir problemas teóricos, descobertas inesperadas e também pode ser possível uma reorientação do estudo, pois podem surgir questões mais relevantes que as iniciais.
Pierre Bourdiel nos leva a refletir sobre a importância das interrogações de um caso particular para extrair toda particularidade possível e retirar as propriedades que existem debaixo das aparências, e como o raciocínio lógico nos permite mergulhar nessa particularidade realizando a própria ciência pela maneira particular de pensar o caso, verdadeiramente como tal.
O Método Biográfico Em Ciências Sociais
Em ciências sociais esse método vem acompanhado da discussão sobre a singularidade versus o contexto social e histórico em que um indivíduo está inserido. Porém temos de mencionar e levar em conta que mesmo tendo uma singularidade própria e única, cada indivíduo tem também uma parte, ou é influenciado pode-se dizer, pelo universo social e histórico que o envolve; ou seja, ele também traz em seus atos a universalidade da estrutura social que o envolve. Expressando melhor esse contexto, podemos usar a frase de Norman Denzin, inspirado em Sartre: o homem é “um singular universal”. 
Aspásia Camargo lembra que os ganhos dos estudos de História de Vida podem ser identificados em pesquisas sobre comportamentos desviantes desenvolvidas pela Escola de Chicago. Ela realizou uma pesquisa concentrada em pessoas que formulam politicas estratégicas para estudar a elite política brasileira. Ela afirma que reconstruir suas Histórias de Vida é a melhor forma de conhecer os indivíduos, suas origens, valores e interesses; e que a dificuldade é que se limita aos que “querem falar”, e então seus melhores informantes eram políticos aposentados, excluídos ou perdedores, que ao contrário dos demais que se encontram ativos, querem ser vistos. Com esse método, em vez de explicar o desempenho individual e a ação social, enxergamos na trajetória singular o reflexo das condições históricas e culturais; ou seja, a experiência pessoal se entrelaça à ação histórica diferindo o que é subjetivo (alheio) do que é objetivo (individual), ressaltando que as condições históricas não fazem com que se perca o caráter individual. Um estudo exemplar para se estudar esta relação indivíduo-sociedade a partir da biografia é o estudo de Mozart, feita por Norbert Elias que estudou também a posição que o compositor ocupou na sociedade, suas determinações e as situações que ocorreram no exercício de sua criação. Norbert pensa a liberdade como uma cadeia de interdependência que liga o individuo a outros limitando o que o mesmo pode fazer ou decidir, e se depara com dois elementos fundamentais ao tentar compreender como Mozart pôde ter uma morte tão prematura: a relação com o pai e os conflitos existentes na Áustria e em quase toda a Europa da segunda metade do século XVIII. Assim o estudioso consegue demonstrar o que Mozart foi capaz de fazer ou não como indivíduo: vivia o drama da identificação com o gosto cortesão e a vontade de ter sua música reconhecida pela nobreza; e o ressentimento pela humilhação de ser tratado como serviçal pelos aristocratas da corte. Sua maior vontade era ser reconhecido como igual ou superior pelos que o tratavam como inferior.
O caminho para isso, dentro da corte, exigia que Mozart assimilasse o padrão de comportamento cortesão, mas ele odiava bajulação e era muito franco e direto; o que o faz com pouco mais de vinte anos abandonar então essa situação e se tornar um artista autônomo; o que era muito difícil em sua época e foi se modificando com o passar dos anos permitindo que mais tarde outros artistas como Beethoven pudessem tomar a mesma atitude com menos problemas para se desvincular da corte. A época de Mozart não permitia essa liberdade de ser um artista singular, então foi considerado mais tarde como gênio; e nos faz pensar como um individuo se transforma em modelos para outras pessoas de suas sociedades e épocas.
Diante desse estudo Elias demonstra que o individuo se faz por suas atividades e condições para realiza-las no contexto social em que está inserido no momento; e não como a visão essencialista de que é algo contido em si próprio e que “vem de berço”. A partir dessa perspectiva e estudo de Elias, Mirian Goldenberg desenvolveu sua tese de doutorado sobre a trajetória de Leila Diniz, analisando também as possibilidades e questões impostas para mulheres de sua época, particularmente no Rio de Janeiro; no que diz respeito a sexualidade, conjugalidade e maternidade; e depois comparou esta trajetória com a de Cacilda Becker, discutindo o campo do teatro, cinema e televisão no Brasil, do inicio do século ate a década de 70. Para tal trabalho utilizou materiais biográficos (livros, filmes e vídeos), além de entrevistas para compreender o “não-dito” no material biográfico. Segundo Howard Becker o pesquisador precisa ter consciência de que biografias, autobiografias e histórias de vida não revelam a totalidade da vida de um indivíduo; e que, como um mosaico, cada peça acrescentada contribui para a compreensão do quadro como um todo.

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