Buscar

MÓDULO 5 - PRINCÍPIOS INFORMATIVOS DO PROCEDIMENTO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 9 páginas

Prévia do material em texto

5. Princípios informativos do procedimento.
Conforme apontado anteriormente, de forma simples a palavra princípio se refere a início, começo, origem. Outrossim, todo conjunto de regras que dá vida a um código tem seus próprios princípios. Assim como a Constituição Federal tem seus princípios que influenciam todo o ordenamento jurídico, todos os outros códigos têm seus princípios e, por isso, vemos discussões sempre polêmicas sobre os princípios do Direito Penal (Código Penal), do Direito do Trabalho (CLT), do Direito do Consumidor (CDC), do Direito Civil (Código Civil) e assim sucessivamente. Diferente, portanto, não seria com o Processo Civil que tem, no seu nascimento, diversos princípios que são essenciais para a compreensão de sua missão, objetivo e função social.
Como ressaltado no módulo anterior, "os princípios seriam normas que obrigam que algo seja realizado na maior medida do possível, de acordo com as possibilidades fáticas e jurídicas do caso concreto" (THEODORO JÚNIOR, Humberto et atl., Novo CPC - Fundamentos e Sistematização / Humberto Theodoro Júnior, Dierle Nunes, Alexandre Melo Franco Bahia, Flávio Quinaud Pedron. - 2ª ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 55). Logo, existem um grupo de normas dentro do Código de Processo Civil que visam e anseiam promover valores que otimizam o resultado do Processo Civil e favoreçam a concretização de seus escopos.
Cuidamos, no módulo anterior, dos princípios constitucionais que têm influência direta no Processo Civil. Desta feita, cuidaremos agora de princípios que são próprios ao processo civil.
 
5.1. Princípio da oralidade.
A todo cidadão que busca a intervenção do Poder Judiciário tem dentro de si a expectativa de ser ouvido pelo Juiz. Mesmo que veja no processo civil uma prevalência por atos escritos e formais como Petição Inicial, Contestação, Reconvenção, Réplica, Alegações Finais, Sentenças, Recursos e Acórdãos (além da perícia ser reduzida à termo), evidentemente que existe, sempre, uma ordem natural que impulsione o Poder Judiciário, na pessoa do Juiz de Direito, a promover o máximo possível, o contato oral e pessoa das partes entre si e consigo. Por isso, o princípio da oralidade aponta que na prática dos atos processuais deve prevalecer a comunicação oral, muito embora estes atos venham a ser documentados posteriormente.
A oralidade deve objetivar a praticidade e efetividade do processo. Assim a oralidade deve prevalecer a fim de proporcionar maior celeridade e efetividade à prestação jurisdicional. Contudo, não se deve ter o entendimento equivocado de que esse princípio exige que os atos processuais sejam praticados oralmente. Ao contrário, esta forma é uma faculdade apresentada às partes no processo, quando lhes for conveniente o uso da palavra não escrita, pois "a oralidade, em nosso Código, foi adotada com mitigação, em face das peculiaridades da realidade brasileira e das restrições doutrinárias feitas ao rigorismo do princípio" (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil [livro eletrônico] / Humberto Theodoro Júnior. - 59. ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2018).
Deparamo-nos com inúmeros dispositivos legais que demonstram a presença do princípio da oralidade no Código de Processo Civil, como por exemplo:
Art. 166.  A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada.
Art. 205.  Os despachos, as decisões, as sentenças e os acórdãos serão redigidos, datados e assinados pelos juízes.
§ 1o Quando os pronunciamentos previstos no caput forem proferidos oralmente, o servidor os documentará, submetendo-os aos juízes para revisão e assinatura.
Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz, em decisão de saneamento e de organização do processo:
§ 3º Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, deverá o juiz designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação com as partes, oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer suas alegações.
Além disso, é possível ver que a oralidade mostra-se circunstancial e fundamental também para a promoção de outros princípios e anseios do Código de Processo Civil, como, a possibilidade da Oralidade promover a solução consensual dos conflitos (art. 3º, §2º, do CPC15), permitir a cooperação entre as partes (art. 6º do CPC15), permitir a economia processual e a razoável duração do processo, além, claro, de otimizar a aplicação da Ampla Defesa e do Contraditório de modo a aumentar a eficiência do próprio processo na fundamentação da decisão, e, por isso, a Oralidade permite com que exista um "processo justo, compatível com o processo democrático idealizado constitucionalmente, uma presença marcante das linhas gerais da oralidade, que cumpre aos juízes e tribunais valorizar e fazer frutificar, tornando cada vez mais humana a tutela jurisdicional". (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil [livro eletrônico]... op. cit. idem).
Por fim, "a oralidade compreende a publicidade, a imediação do juiz, a irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias, a concentração de atos e a identidade física do juiz. Logo, a prevalência de atos orais sobre os escritos é apenas uma entre suas características" (CARDOSO, Oscar Valente. A oralidade (e a Escrita) no Novo Código de Processo Civil Brasileiro / Oscar Valente Cardoso. - Cadernos do Programa de Pós-graduação em Direito/UFRGS - Vol. VIII, n. 1, 2013. p. 276). Provavelmente, a prova mais sólida em favor da oralidade é a cooperação do art. 6º, do CPC15, pois onde será melhor lugar para construir a cooperação que não o do diálogo?
 
5.2. Princípio da economia.
Assim como o tempo é um recurso valioso, é preciso considerar que o tempo que o processo dura existe porque ele consome recursos valiosos de toda a República que são destinados ao custeio dos salários de funcionários públicos (Juiz, Oficial de Justiça, Escrevente, Peritos etc.), bem como o próprio tempo que é valioso e impõe velocidade para que a situação de incerteza não dure por tempo demasiado e, por sso, o princípio da economia processual prega o máximo resultado na atuação do direito com o mínimo emprego de atos processuais, sem obrigar a refazer frequentemente os atos já praticados ou precisar refazer porque foram feitos erroneamente.
Se o processo é um instrumento para a aplicação do direito material, não pode exigir um gasto exagerado com relação aos interesses em disputa. Por isso, conforme ensina Neves (2016, p. 138/141), é preciso olha-lo por dois ângulos: (i) o macroscópica, como; (ii) o microscópica. No primeiro caso, isto é, a economia processual sob a ótica macroscópica, "deve se pensar em mecanismos para evitar a multiplicidade dos processos e, quando isso concretamente não ocorrer, diminuir a prática de atos processuais, evitando-se sua inútil repetição" (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil - volume único / Daniel Amorim Assumpção Neves - 8ª ed. - Salvador: JusPodivm, 2016. p. 138).
Típica aplicação desse princípio em sua visão macro encontra-se em institutos como a reunião de processos em casos de conexão, litisconsórcio, processo coletivo etc.
Eis alguns exemplos encontrados no CPC: (a) conexão, cf. art. 55, do CPC15; (b) continência, cf. art. 56, do CPC15; (c) suspensão por prejudicialidade externa, cf. art. 313, V, 'a', do CPC15; (d) Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, cf. art. 976, do CPC15 e (e) alguns feitos com caráter coletivo (usucapião e possessórias), como o art. 565, do CPC15.
Na visão microscópica podemos invocar tanto os benefícios da Justiça Gratuita, como a própria celeridade que tende a deixar o processo mais barato em todos os seus aspectos (uma vez que o próprio tempo do processo é considerado na fixação de honorários advocatícios), mas, provavelmente, o viés microscópio mais importante é a utilização inteligente das ferramentas processuais de modoque o ato praticado não precise ser praticado novamente,
Nesse sentido, complemente Humberto Theodoro Junior:
"Como aplicações práticas do princípio da economia processual, podem ser citados os seguintes exemplos: indeferimento, desde logo, da inicial, quando a demanda não reúne os requisitos legais; denegação de provas inúteis; coibição de incidentes irrelevantes para a causa [...] possibilidade de antecipar julgamento de mérito, quando não houver necessidade de provas orais em audiências; saneamento do processo antes da instrução" (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil [livro eletrônico]... op. cit. idem).
Não existe nada mais agressivo à economia processual do que a necessidade de praticar novamente um ato porque foi mal praticado, como, o exemplo seguinte da jurisprudência:
 
EMENTA: SEGURO DE VIDA. INTERESSE DE AGIR. DESNECESSIDADE DE EXAURIMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA. QUESTÃO JÁ ANTERIORMENTE DECIDIDA. PRECLUSÃO PRO JUDICATO. ANULAÇÃODA SENTENÇA. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. Embora sejam as condições da ação cognoscíveis de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição (artigo 267, § 3.º do CPC), não pode o juiz reapreciar questão já decidida e contra a qual as partes não se insurgiram por meio do recurso cabível, ocorrendo o fenômeno da preclusão pro judicato. Anulação da sentença, de ofício. Necessidade de retorno dos autos à vara de origem para dilação probatória. Recurso prejudicado. (TJSP - Ap. n° 3001342-58.2013.8.26.0157 - 35ª Câmara de Direito Privado - Rel. Des. Dr. Gilberto Leme - j. 14.12.2015).
 
Nesse exemplo acima, trata-se de um recurso (Apelação) feito contra uma sentença que julgou improcedente o processo de plano, que, conforme a decisão da segunda instância acima, viu que a medida foi equivocada e se fazia necessária a realização de uma audiência e instrução probatória (oitiva de testemunhas, depoimento pessoa, perícias etc.) para aferir a verdade do caso, ordenando que a sentença fosse anulada e o processo voltasse do zero gastando-se tempo, recursos e praticando atos inúteis como a própria sentença anulada. Dessa forma, economia não é sinônimo de celeridade ou rapidez, mas o equilíbrio difícil e necessário de velocidade com eficiência respeitando-se, sempre, o devido processo legal. 
 
5.3. Princípio da eventualidade ou da preclusão.
Para entender este princípio é preciso voltar para o início. Em todo o começo de aula sobre a teoria geral do processo somos obrigados a indagar: o que é o processo? Muito rasamente se vê responderem "a solução de litígio entre duas pessoas perante um Juiz". Não que se considere absolutamente errado, mas faltam-lhes pontos essenciais, pois "o processo, então, pode ser encarado pelo aspecto dos atos que lhe dão corpo e das relações entre eles e igualmente pelo aspecto das relações entre os seus sujeitos" (CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. / Antônio Calrlos de Araújo Cintra; Ada Pellegrini Grinover, Cândido Rangel Dinamarco. - 29ª ed. - São Paulo: Malheiros Editores, 2013. 309). De um modo mais amplo, umas das faces do processo é retirado de seu próprio nome, e, assim, "etimologicamente, processo significa marcha avante ou caminha (do latim, procedere = seguir adiante)" (CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo... op. cit. p. 309).
Compreendendo a raiz do conceito retirado de seu próprio nome, isto é, que o processo é sempre pautado pela existência de atos no tempo, ou seja, que para o processo existir é preciso que um ato suceda ao outro numa ordem específica sem se fazer toda hora retornar a atos já praticados (inerente também à economia processual), vê-se que o processo deve perseguir uma ordem lógica e coerente como, por exemplo, o início pela Petição Inicial (art. 319, do CPC15), a resposta da outra parte pela Contestação/Reconvenção (Art. 335, do CPC15), depois disso é dada uma nova oportunidade para a parte autora se manifestar (art. 350, do CPC15), nesse momento o Juiz saneia o processo (art. 357, do CPC15) e assim sucessivamente.
De acordo com o princípio da eventualidade (ou da preclusão) os atos processuais devem ser praticados na época oportuna de uma só vez, sob pena de não poderem pratica-lo posteriormente, buscando, assim, a celeridade e eficiência da tutela jurisdicional. Assim devem as partes alegar, no momento próprio, todas as pretensões ou decisões de mérito, ou de defesa, ou de rito, não o podendo fazê-lo em outra oportunidade, no mesmo processo, como, se vê, por exemplo, no art. 319, IV, do CPC para o Autor na Petição Inicial, ou, ainda, o art. 336, do CPC15 para o Réu na Contestação, ou, mais claro ainda, o art. 434, do CPC15 que serve para todas as partes. Depois de feita a petição inicial, o Poder Judiciário não deseja que a parte fique inovando toda hora alegando que faltou pedir um ou mais itens que eram relevantes a sua causa.
Além de eventualidade ou preclusão (art. 507, do CPC15), um dos seus modos de ver é conhecido como concentração de atos (como o dever de juntar todas as provas que se tem no mesmo momento), ou, ainda, do deduzido e dedutível (art. 508, do CPC15) que impede que a parte inove argumentos que deveria ter usado no processo, pois, conforme lição de Humberto Theodoro Jr., (2018), vê-se que o processo é dividido normalmente nas seguintes etapas:
 
a) a postulação = pedido do autor e resposta do réu;
b) o saneamento = solução das questões meramente processuais ou formais para preparar o ingresso na fase de apreciação do mérito;
c) a instrução = coleta dos elementos de prova; e
d) o julgamento = solução do mérito da causa (sentença). (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil [livro eletrônico]... op. cit. idem).
 
O processo deve ter um fim e para que isso aconteça é necessário que se respeite o princípio da eventualidade ou da preclusão para proibir comportamentos que retornem frequentemente o processo em fases já passadas, sem isso o processo será uma clássica história sem fim.
 
5.4. Princípio da identidade física do juiz.
No Código de Processo Civil revogado, o princípio da identidade física do juiz era claro em seu art. 132 que dizia, em apertadíssima síntese, que o juiz que ouviu as partes e participou da instrução probatória é quem deveria proferir a sentença, pois se compreendia, como é lógico, que ele é a melhor pessoa para praticar esse ato já que vivenciou por si mesmo todos os atos necessários para a construção de um convencimento racional e genuíno. Todavia, essa regra geral do art. 132, do CPC73 não foi transcrita no CPC15 levando-se muitos ao erro de sustentar que não existiria mais o princípio da identidade física do juiz.
No entanto, devemos nos lembrar que: "O atual diploma processual não repetiu a regra anterior, o que não significa que a tenha abandonado, pois continuam a ser necessárias as audiências, as colheitas de prova oral em audiência e a obrigatoriedade, como regra, de a sentença ser proferida em audiência. Podemos dizer que houve mitigação, um verdadeiro abrandamento do princípio da oralidade e do subprincípio da identidade física do juiz" (NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil / Nelson Nery Junior, Rosa Maria de Andrade Nery. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.  p. 981).
Com isso o atual CPC determina que encerrado o debate ou oferecidas às razões finais, o juiz proferirá sentença em audiência ou no prazo de 30 (trinta) dias transcrito no art. 366, do CPC15, de modo a manter vivo o princípio, mas mitigado para ser flexibilizado com maior eficiência sob a luz de outros problemas que possam surgir na condução do processo.
 
5.5. Princípio da boa-fé:
Talvez seja considerado o princípio mais polêmico do Código de Processo Civil tanto por sua novidade como, claro, por sua dificuldade de enquadramento. Originariamente, o princípio da boa-fé é algo importado, praticamente, do Código Civil em seu art. 422, que, progressivamente,foi importado ao Processo Civil como ferramenta de controle dos comportamentos das partes envolvidas no processo (seja ele autor, réu, terceiro interessado, servidor, ministério público ou juiz) e, assim, evitar que o Processo Civil se transforme em um campo de batalha em que vale-tudo.
No processo, portanto, os comportamentos terão força vinculante e a expectativa criada deve ser cumprida. Assim, por exemplo, alguém que firma um acordo nos autos, pede sua homologação ao juízo por sentença, não pode requerer, contraditoriamente, que se espere escoar o prazo de recurso, pois é contraditório que alguém que firmou um acordo tenha interesse de recorrer contra a decisão que homologou (ou seja, decretou válido o acordo) que ela mesma fez. Dessa maneira: "Os deveres de proceder com lealdade e com boa-fé, presentes em diversos artigos do Código de Processo Civil, prestam-se a evitar os exageros no exercício da ampla defesa, prevendo condutas que violam a boa-fé e lealdade processual e indicando quais são as sanções correspondentes. Como ensina a melhor doutrina, ainda que por vezes não se mostre fácil no caso concreto, deve existir uma linha de equilíbrio entre os deveres éticos e a ampla atuação na defesa dos interesses" (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil - volume único... op. cit. p. 147).
Nesse sentido, podemos citar dois exemplos valiosos do Superior Tribunal de Justiça:
 
"Os princípios da segurança jurídica e da boa-fé objetiva, bem como a vedação ao comportamento contraditório (venire contra factum proprium), impedem que a parte, após praticar ato em determinado sentido, venha a adotar comportamento posterior e contraditório" (STJ, 5ª Turma, AgRg no REsp 1.099.550/SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, ac. 02.03.2010, Dje 29.03.2010).
"O princípio da boa-fé objetiva proíbe que a parte assuma comportamentos contraditórios no desenvolvimento da relação processual, o que resulta na vedação do venire contra factum proprium, aplicável também ao direito processual (AgRg no REsp 1.280.482/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 07.02.2012, Dje 13.04.2012)" (STJ, 4ª Turma, EDcl no REsp 1.435.400/RS, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, ac. 04.11.2014). (THEODORO JÚNIOR, Humberto et atl., Novo CPC - Fundamentos e Sistematização... op. cit. p. 185).
 
Algumas expressões latinas são exemplos clássicos das questões de má-fé (boa-fé) e são muito bem explicadas por Humberto Theodoro Júnior:
 
(a) Venire Contra Factum Proprium: "O princípio venire contra factum proprium 'postula dois comportamentos da mesma pessoa, lícitos em si e diferidos no tempo. O primeiro - o factum proprium - é, porém, contrariado pelo segundo'"; 
(b) Suppressio: "A suppressio - ainda na lição de Menezes Cordeiro - consite na 'situação do direito que, não tendo sido, em certas circunstâncias, exercido durante um determinado lapso de tempo, não possa mais sê-lo, por, de outra forma, se contrariar a boa-fé"
(c) Surrectio: "a surrectio, aponta para o nascimento de um direito como efeito, no tempo, da confiança legitimamente despertada na contraparte por determinada ação ou comportamento" (MARTINS-COSTA, apud THEODORO JUNIOR);
(d) Tu quoque: "A fórmula tu quoque - conforme Menezes Cordeiro - 'traduz com generalidade, o aflorar de uma regra pela qual a pessoa que viole uma norma jurídica não poderia, sem abuso, exercer a situação jurídica que essa mesma norma lhe tivesse atribuído'" (THEODORO JUNIOR, Humberto et al.., Novo CPC - Fundamentos e Sistematização... op. cit. p. 205, 206/209).
 
Trata-se, de uma maneira geral, de uma limitação ao litígio como ferramenta de conscientização da função social do processo e eticidade, além, é claro, de controle recíproco entre as partes, uma vez que a boa-fé é um imperativo para todos que participam no processo (mesmo o Juiz)
 
5.6. Princípio da cooperação.
Juntamente com o art. 5º do CPC15 que trata da boa-fé, o princípio da cooperação (esculpido no art. 6º do CPC15), traz algo bastante difícil de ser compreendido tanto pelas pessoas do dia a dia como por alguns juristas. Isso se dá porque é muito difícil imaginar cooperação quando duas partes divergem calorosamente em suas posições pela luta de um direito que cada um entende seu e que, por isso, leva a crer estar diametralmente errada a parte adversária. Deve-se ter sempre presente que:
 
"As partes têm interesses contrapostos, em relação ao desfecho do processo. Mas o deve de colaborar 'para se obter, com brevidade e eficácia, a justa composição do litígio' [...] diz respeito também à relação entre as partes. Isso corresponde 'à introdução de uma nova cultura judiciária que potencie o diálogo franco entre todos os sujeitos processuais', sem desprezar, evidentemente, a distinção da dimensão que tem o princípio, na relação entre juiz e partes e entre as partes" (MEDINA, José Miguel Garcia. Direito Processual Civil Moderno / José Miguel Garcia Medina. - 2ª ed. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. p. 133).
 
O princípio da cooperação está previsto no artigo 6º do CPC:
 
Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. (CPC15).
 
Tal princípio foi inspirado no dever de cooperação recíproca em prol da efetividade do processo (tanto entre partes e juiz; partes e outros auxiliares da justiça; partes e ministério público, como entre parte e parte, ou seja, entre autor e réu). O legislador buscou desarmar todos os sujeitos do processo, fazendo com que cada um haja pautado pela boa-fé, para que a colaboração esteja a serviço da celeridade do processo no caminho da apreciação do mérito. Isso, ademais, deve-se ao próprio modelo democratizador do processo, onde "O NCPC brasileiro esposa ostensivamente o modelo cooperativo, no qual a lógica dedutiva de resolução de conflitos é substituída pela lógica argumentativa, fazendo que o contraditório, como direito de informação/reação, ceda espaço a um direito de influência. Nele, a ideia de democracia representativa é complementada pela democracia deliberativa no campo do processo, reforçando, assim, "o papel das partes na formação da decisão judicial". (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil [livro eletrônico]... op. cit. idem).
Trata-se de impor freios ao comportamento beligerante construindo uma arena de diálogo e não mais de guerra, onde, por meio desse mesmo diálogo, as partes tendem a direcionar o processo para uma efetiva conclusão não apenas para atender seus anseios narcísicos individuais, mas para construir, a partir da cooperação, uma decisão que pôs sob o corolário do diálogo, todos os argumentos genuínos capazes de direcionar a decisão para uma decisão justa que ouviu, adequadamente, todas as partes.
 
5.7. Princípio Dispositivo e Inquisitivo:
Costumam, os doutrinadores, separar esses princípios, porém, seu trabalho conjunto mostra-se muito mais produtivo quando se percebem sua recíproca complementação, pois os limites de um são preenchidos pelo outro e, assim, podemos encontrar suas duas faces no Processo Civil em seu art. 2º: "O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial". Isto é, o processo não pode nascer de ofício, ou seja, não é facultado ao Juiz sair andando de casa em casa perguntando aos cidadãos de sua jurisdição se eles querem que ele sentencie algum litígio ou solucione alguma lide por meio de sentença e, por isso, cada pessoa que se sentir agredida ou em risco de algum direito terá a faculdade de ir-se perante o Juiz e requerer a sentença do Juízo competente.
Esse primeiro viés - também conhecido como princípio da inércia - retrata a primeira parte do art. 2º do CPC15, em que o processo para existir precisa que o cidadão vá até o juízo, pois "o princípio da ação, ou da demanda, indica a atribuição à parte de iniciativa de provocar o exercício da função jurisdicional" pois "a experiência mostra que o juiz que instaura o processo por iniciativa própria acaba ligado psicologicamente à pretensão, colocando-seem posição propensa a julgar favoravelmente a ela" (CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo... op. cit. p. 67).
Em contrapartida, no seu segundo viés - também chamado de princípio inquisitório - "uma vez iniciado, o processo se desenvolve por impulso oficial, isto é, por atos do juiz e dos auxiliares da Justiça" (NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil... op. cit. p. 187), pois depois de instaurado o processo, em virtude de sua natureza de Direito Público, é interesse de todos que provenha, dali, uma decisão justa, legal e constitucional, e, por isso, é lícito ao juízo em situações determinadas intervir de modo a fazer o processo chegar ao seu final exitoso, qual seja: a sentença, e, por isso, "A participação do juiz na produção da prova, [...], contribui sobremaneira para proporcional uma real igualdade entre as partes do processo. Desde que se preserve o contraditório efetivo e equilibrado, nenhum risco apresenta, para a imparcialidade do julgador, essa participação mais ativa" (BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Poderes instrutórios do juiz / José Roberto dos Santos Bedaque. - 7. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. p. 173).
Dessa maneira, o dispositivo impõe que aos cidadãos é dado o direito de começar, mas após iniciado, é dever do juiz conduzir corretamente o processo.
 
5.8. Princípio da primazia do mérito:
Este último princípio do Processo Civil, assim como os arts. 5º e 6º do CPC15, é uma novidade importante. O processo não tem apenas a sentença de mérito, mas tem questões preliminares ou prejudiciais de mérito que analisam a viabilidade mínima daquele processo onde "seu conteúdo é de natureza eminentemente processual, já que encerra o processo sem apreciação de mérito" (NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil... op. cit. p. 1.110), também conhecida como sentença terminativa.
Isso acontece, por exemplo, quando A reclama de B um direito do qual não é detentor, mas quem era detentor é C. Nesse caso, acontece que o mérito (pedido propriamente dito) não pode ser apreciado, pois A não tem legitimidade para reclamar. Um exemplo é o caso de Joãozinho que contratou um curso de inglês, se vê insatisfeito com a qualidade do serviço vai e reclama com sua mãe. Sua mãe irada resolve contratar um advogado e acionar a escola de inglês. Ocorre que Joãozinho não é menor de 18 ou de 16 anos (quando poderia ser representado pela mãe), mas conta, atualmente, com 19 anos, então, a mãe não tem legitimidade ativa (para promover o processo) e o processo será extinto sem analisar o pedido.
Infelizmente, esses equívocos são mais frequentes do que gostaríamos, mas, ao Juízo é dado o dever de sempre procurar promover meios de alcançar uma decisão de mérito, pois a decisão sem resolução do mérito não encerra a discussão que poderá ser renovada sempre já que não faz coisa julgada material, apenas formal. Antes do CPC15 o juiz que extinguisse todos os seus processos sem resolução do mérito não fazia nada de errado (ainda que existisse no processo meios de evitar essa posição), hoje, porém, não é assim, e, por isso, "cabe ao juiz fazer o possível para evitar a necessidade de prolatar uma sentença terminativa no caso concreto, buscando com todo o esforço chegar a um julgamento de mérito". (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil - volume único... op. cit. p. 154).
Usando o mesmo exemplo de Joãozinho contra a escola de inglês, podemos citar que Joãozinho promoveu ele mesmo o processo, mas, infelizmente, por um erro de digitação, uma letra ou um logotipo, acabou chamando para o réu a escola errada. Nesse caso, é dever do Juiz, antes de encerrar o processo, dar ao Joãozinho a chance de corrigir o erro e trocar o réu do seu processo pela pessoa (jurídica) certa, e, assim, o processo termina contra o réu errado, mas continua contra o réu certo respeitando, ao mesmo tempo, o princípio da economia processual.
Nesse sentido, perfeitas são as lições de Neves (2016, p. 154):
 
Essa é uma realidade incontestável, e bem representada pelo art. 282, §2º do Novo CPC, ao prever que o juiz, sempre que puder decidir no mérito a favor da parte a quem aproveita a declaração da nulidade, deve ignorar o vício formal e proferir decisão de mérito. É a prevalência do julgamento de mérito aliada ao princípio da instrumentalidade das formas. A concretização do princípio é encontrada em diversas passagens no Novo Código de Processo Civil, que dá especial ênfase à oportunidade concedida às partes para o saneamento de vícios que impeçam o julgamento do mérito (arts. 139, IX, 317 e 39, §§1º, 2º, 3º do Novo CPC), inclusive no ambiente recursal (arts. 932, parágrafo único; art. 1.007, §§ 2º e 4º do Novo CPC), quando o vício formal pode inclusive ser desprezado se não for reputado grave (art. 1.029, §3º do Novo CPC). (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil - volume único... op. cit. p. 154).

Outros materiais