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NÚCLEO DE PÓS GRADUAÇÃO 
 
CURSO DE COMPLEMENTAÇÃO PEDAGÓGICA 
Coordenação Pedagógica – IBRA 
 
 
 
DISCIPLINA 
 
 
 
PSICOLOGIA DA 
EDUCAÇÃO E DA 
APRENDIZAGEM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 03 
 
 
 
1 A FISIOLOGIA HUMANA ............................................................................. 06 
 
 
 
2 SISTEMA NERVOSO ................................................................................... 09 
 
2.1 Estrutura e funcionamento do sistema nervoso ......................................... 09 
 
2.2 Plasticidade ................................................................................................ 18 
 
2.3 Memória de curto e longo prazo ................................................................. 18 
 
2.4 Implicações dos estudos do sistema nervoso nas Ciências 
 
Cognitivas......................................................................................................... 21 
 
 
 
3 FREUD E O CÉREBRO – INTEGRAÇÃO ENTRE 
PSICANÁLISE E NEUROFISIOLOGIA ........................................................... 22 
 
 
 
 
4 NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO ..................................................... 25 
 
 
 
 
ANEXOS .......................................................................................................... 33 
 
 
 
REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS.......................................... 36 
 
 
 
3 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 
 
 
Nos esforçamos para oferecer um material condizente com a graduação 
daqueles que se candidataram a esta especialização, procurando referências 
atualizadas, embora saibamos que os clássicos são indispensáveis ao curso. 
 
As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são neutras, 
afinal, opiniões e bases intelectuais fundamentam o trabalho dos diversos institutos 
educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de fazer apologia a esta ou 
aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento científico, testado e 
provado pelos pesquisadores. 
 
Não obstante, o curso tenha objetivos claros, positivos e específicos, nos 
colocamos abertos para críticas e para opiniões, pois temos consciência que nada 
está pronto e acabado e com certeza críticas e opiniões só irão acrescentar e 
melhorar nosso trabalho. 
 
Como os cursos baseados na Metodologia da Educação a Distância, vocês 
são livres para estudar da melhor forma que possam organizar-se, lembrando que: 
aprender sempre, refletir sobre a própria experiência se somam e que a educação é 
demasiado importante para nossa formação e, por conseguinte, para a formação 
dos nossos/ seus alunos. 
 
De acordo com Relvas (2010), para entender o mecanismo de aprender, é 
preciso saber um pouco sobre o funcionamento do sistema nervoso central (SNC), o 
organizador dos nossos comportamentos, pois cada tipo de habilidades ou 
comportamento pode ser bem relacionado a certas áreas do cérebro em particular. 
 
Assim, há áreas habilitadas a interpretar estímulos que levam à percepção 
visual e auditiva, à compreensão e à capacidade linguística, à cognição, ao 
planejamento de ações futuras, inclusive de movimento, e assim por diante. 
 
 
 
 
 
 
 
"
4 
 
 
 
 
Disciplina recente que agrupa neurologia, psicologia e biologia, a 
neurociência vem despontando positivamente com estudos que podem auxiliar na 
compreensão dos aspectos envolvidos na aprendizagem. 
 
Poderíamos também dizer que é uma prática interdisciplinar, resultado da 
interação de diversas áreas do saber ou disciplinas científicas como, por exemplo: 
neurobiologia, neurofisiologia, neuroquímica, neurofarmacologia, neuroanatomia e 
neuropsicologia. 
 
As duas principais correntes em Neurociências são: 
 
CORRENTE LOCALIZACIONISTA, que teve início na Frenologia com Franz 
Joseph Gall (1758-1828). Gall acreditava que as “faculdades” (funções cerebrais) se 
encontravam em áreas circunscritas do cérebro. 
 
CORRENTE HOLÍSTICA, GLOBALÍSTICA OU UNITARISTA, onde destaca- 
se o fisiologista francês Marie-Jean-Pierre Florens (1794-1867) o qual acreditava 
que as funções mentais não dependiam de áreas particulares do sistema nervoso, 
mas que este funcionava como um todo, de modo orquestrado, integrado. 
 
Bartoszeck (2007) constata que nos últimos anos muitos aspectos da 
fisiologia, bioquímica, farmacologia e estrutura do sistema nervoso de invertebrados 
e o cérebro de vertebrados foram elucidados. Estudos fundamentais sobre a função 
da percepção, emoções, aprendizagem e memória mostraram significativo 
progresso, especialmente adotando abordagens da neurociência cognitiva. 
 
Veremos ao longo do curso que a aprendizagem e educação não só podem 
como devem ser estudadas como um novo campo das ciências naturais, variando 
do ambiente fetal até a idade adulta avançada. 
 
Não temos dúvidas e as pesquisas comprovam que a alfabetização, 
utilizando-se das neurociências, reveste-se de importância para o cotidiano, 
ajudando a população a ter melhor entendimento de si e dos avanços científicos, 
evitando especulações e a crença em neuromitologias. Várias das implicações 
educacionais decorrentes das interações do cérebro são explicadas a partir dos 
princípios de neurociência como veremos ao longo do curso. 
 
 
 
 
 
 
"
5 
 
 
 
 
Ressaltamos que o material para estudo trata-se de uma reunião do 
pensamento de vários autores que entendemos serem os mais importantes para a 
disciplina. 
 
Para maior interação com o aluno deixamos de lado algumas regras de 
redação científica, mas nem por isso o trabalho deixa de ser científico. 
Desejamos a todos uma boa leitura e caso surjam algumas lacunas, ao final 
da apostila encontrarão nas referências consultadas e utilizadas aporte para sanar 
dúvidas e aprofundar os conhecimentos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1 A FISIOLOGIA HUMANA 
 
 
 
 
Se entendermos que do cérebro depende nossa existência, então, nada 
mais importante do que conhecê-lo por dentro e encontramos na neurofisiologia, 
meios de nos fazer entender seu intrincado modo de funcionamento, suas nuances e 
suas particularidades. 
 
O cérebro é o organismo que nos possibilita desde o exercício do 
pensamento e do raciocínio, até o controle de todas as atividades de nosso corpo, 
sem entrarmos no campo da parapsicologia, quando ele é considerado o elemento 
gerador das energias que provocam todos os fenômenos considerados 
“paranormais”. 
 
Contrariando os filósofos naturalistas e materialistas, a consciência não é 
uma simples propriedade biológica dos organismos mais complexos dos seres 
humanos, embora a sua realidade subjetiva dependa do correto funcionamento 
objetivo dos intrincados mecanismos cerebrais. 
 
Mas seja qual for a linha de raciocínio adotada (científica, teológica ou 
filosófica), o estudo dos intrincados mecanismos neuronais serve tanto para que os 
extremados espiritualistas “cartesianos” entendam o funcionamento da base de 
sustentação material da sua mente extracorpórea, quando terão a oportunidade de 
entender que mente não é só espírito, mas necessita também de um pouco de 
matéria, como também ajudará os materialistas “damasianos” a abrir seus horizontes 
e entender que o homem não deve ser tão auto suficiente como pensam, e que ficamuito difícil sustentar como obra de simples acaso, e totalmente independente de 
qualquer energia superior a nossa, o desenvolvimento de órgãos tão intrincados 
como nossos sistemas neuronais. 
 
O termo fisiologia humana, cuja definição mais apropriada para os dias de 
hoje é: “[...] a ciência que descreve como o corpo dos organismos vivos funciona 
(...)” (Santos, 1998, p.13); foi primeiramente utilizado pelos gregos, cerca de 600 
anos antes de Cristo, para descrever o questionamento filosófico da natureza das 
coisas. 
 
 
 
 
"
7 
 
 
 
 
Etimologicamente a fisiologia humana é entendida como a história da 
natureza humana; mas, empregada numa acepção mais restrita, designa a ciência 
dos fenômenos da vida humana ou a ciência que estuda as funções dos seres 
multicelulares. 
 
Embora a fisiologia dos gregos não tenha sido exatamente a mesma que 
conhecemos hoje, muitas das ideias que ainda são verdadeiras para o seu 
desenvolvimento foram formuladas nos livros da Escola de Medicina de Hipócrates, 
ainda antes do ano 350 a.C., principalmente o tratado “De natura hominis”, que pode 
ser atualmente interpretada como a teoria da doença causada pelos fatores 
emocionais. 
 
Também bastante significante para a definição da fisiologia durante a época 
dos grandes pensadores foi a teleologia de Aristóteles, quando dizia que “cada parte 
do corpo é formada para uma finalidade e esta função pode ser deduzida de sua 
estrutura”. 
 
A definição de fisiologia como Anatomia em Movimento apareceu no século 
XVIII com a publicação de “Elementa physiologiae corporis humani” (Albrecht von 
Haller, 1757-1766) em 8 volumes. 
 
No século XIX as pesquisas na área da fisiologia de todos os organismos 
vivos tomou uma importância fundamental devido a curiosidade, às necessidades 
médicas e aos interesses econômicos. 
 
A descoberta de estruturas semelhantes e funções comuns a todos os 
organismos vivos resultaram no desenvolvimento de um conceito praticamente 
unificado de fisiologia geral. 
 
A partir da segunda metade do século XIX a palavra fisiologia passou a 
significar a utilização de métodos experimentais, assim como técnicas e conceitos 
das ciências físicas para investigar as causas e os mecanismos das atividades de 
todas as coisas vivas. 
 
O significado da fisiologia humana desde o final do século XX quase se 
aproxima ao estudo do comportamento do organismo humano de forma 
exclusivamente mecanicista ou matemática, ou seja: “[...] os fisiologistas 
contemporâneos consideram os organismos como máquinas que, embora 
 
 
"
8 
 
 
 
 
incrivelmente complexas, são compreensíveis pelo estudo de seus componentes 
(...)” (SANTOS, 1998, p.14) ou, segundo defende Dennett: “[...] todas as relações 
entre a mente e o cérebro humano podem ser compreendidas com a aplicação de 
modelos matemáticos (...)” ( Dennett, 1998), pensamento também próximo das 
ideias de Damásio: “Existo e sinto... logo, penso”(Antônio Damásio em “O erro de 
Descartes”) ou ainda, quase da mesma forma: “[...] o ser humano é, na verdade, um 
autômato, e o fato de sermos dotados de sensibilidade, sentimentos e 
conhecimentos é parte dessa sequência automática da vida; esses atributos 
especiais nos possibilitam existir sob uma ampla variedade de condições que, de 
outra maneira, tornariam a vida impossível” (GUYTON, 1986). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"
9 
 
 
 
 
2 SISTEMA NERVOSO 
 
 
 
 
A neurociência é o estudo da realização física do processo de informação no 
sistema nervoso animal e humano. O estudo da neurociência engloba três áreas 
principais: a neurofisiologia, a neuroanatomia e neuropsicologia. 
 
A neurofisiologia é o estudo das funções do sistema nervoso. Ela utiliza 
eletrodos para estimular e gravar a reação das células nervosas ou de área maiores 
do cérebro. Ocasionalmente, os pesquisadores separam as conexões nervosas para 
avaliar os resultados. 
 
A neuroanatomia é o estudo da estrutura do sistema nervoso, em nível 
microscópico e macroscópico. Os neuroanatomistas dissecam o cérebro, a coluna 
vertebral e os nervos periféricos fora dessa estrutura. 
 
A neuropsicologia é o estudo da relação entre as funções neurais e 
psicológicas. A principal questão que a neuropsicologia procura responder é qual 
área específica do cérebro controla ou media as funções psicológicas. O principal 
método de estudo usado pelos neuropsicólogos é o estudo do comportamento ou 
mudanças cognitivas que acompanham lesões em partes específicas do cérebro. 
Estudos experimentais com indivíduos normais também são comuns. 
 
 
 
2.1 Estrutura e funcionamento do Sistema Nervoso 
 
Observando a estrutura do sistema nervoso, percebemos que eles têm 
partes situadas dentro do cérebro e da coluna vertebral e outras distribuídas por 
todo corpo. As primeiras recebem o nome coletivo de sistema nervoso central 
(SNC), e as últimas de sistema nervoso periférico (SNP). É no sistema nervoso 
central que está a grande maioria das células nervosas, seus prolongamentos e os 
contatos que fazem entre si. No sistema nervoso periférico estão relativamente 
poucas células, mas um grande número de prolongamentos chamados fibras 
nervosas, agrupados em filetes alongados chamados nervos. 
 
 
 
 
 
 
 
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Classes de células no sistema nervoso e regiões morfológicas dos neurônios 
típicos: 
 
A célula neural, ou neurônio, e as células da glia, ou neuróglia, ou gliócitos, 
são os dois tipos básicos de células do sistema nervoso. 
 
O neurônio constitui a unidade básica, estrutural e funcional, e tem a função 
de receber, integrar, processar e transmitir informações. 
 
Os neurônios possuem um corpo celular, um axônio (elemento transmissor) 
 
e vários dendritos (elemento receptor). 
 
A neuróglia, por sua vez, desempenha uma série de funções auxiliares 
fundamentais para permitir o funcionamento normal dos neurônios. 
 
Embora a forma neuronal apresente uma enormidade de variações, o 
neurônio típico pode ser apresentado como sendo constituído por: dendritos, que 
são os elementos receptores das informações (impulsos); o corpo celular, que 
constitui o seu centro metabólico, onde a informação recebida pelos dendritos é 
processada; e o axônio, que é o elemento que transmite essas informações 
(impulsos), já processados, para os dendritos dos próximos neurônios. Há também 
os botões terminais, na extremidade do axônio, por onde a transmissão é efetuada. 
 
Entre o terminal pré-sináptico do axônio de um neurônio e os receptores 
situados nos dendritos de um neurônio pós-sináptico, existe um estreito espaço 
intercelular, de aproximadamente 200Å a 300Å (Angstrons), chamado de fenda ou 
fissura sináptica (Santos, 1984, p. 31). 
 
 
 
Características dos neurotransmissores 
 
Os neurotransmissores medeiam efeitos imediatos e curtíssimos sobre a 
célula pós-sináptica e atendem aos seguintes requisitos: são sintetizados no 
neurônio; estão presentes na terminação pré-sináptica, sendo liberados em 
quantidades suficientes para exercer ação definida sobre o neurônio pós-sináptico 
ou órgão efetor; administrado de forma exógena em concentrações adequadas, imita 
a ação do transmissor endógeno liberado; e deve existir um mecanismo específico 
para sua remoção do sítio de ação. 
 
 
 
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Quanto à sua função os neurônios são classificados como: aferente ou 
sensitivo; eferenteou motor; e interneurônio ou neurônio de associação. 
 
Os aferentes transmitem as informações dos órgãos sensoriais ao sistema 
nervoso central. 
 
Os eferentes transmitem os comandos motores para os músculos, vísceras, 
glândulas, etc... 
 
Os interneurônios, localizados no interior do sistema nervoso central, 
estabelecem os contactos entre os aferentes e os eferentes, e constituem mais de 
90 % da população neuronal. 
 
 
 
 
A formação do sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico 
 
(SNP) 
 
O sistema nervoso central é composto pelo encéfalo, encerrado na caixa 
craniana, e pela medula espinhal, encerrada na coluna vertebral. 
 
O encéfalo, por sua vez, compõe-se de: cérebro (telencéfalo e diencéfalo), 
cerebelo e tronco encefálico ou tronco cerebral (mesencéfalo, ponte e bulbo). 
 
O sistema nervoso periférico é constituído de: nervos periféricos (31 pares 
de nervos espinhais, que partem da medula espinhal e 12 pares de nervos 
cranianos, que partem do encéfalo); e corpos celulares neuronais (gânglios da raiz 
dorsal e receptores periféricos). 
 
Parte do sistema límbico desempenha papel importante no controle das 
emoções com ação sobre o sistema endócrino 
 
A amígdala medeia o prazer e as reações emocionais apetitivas, controlando 
as emoções, sendo necessária para o condicionamento de um organismo ao 
ambiente no qual vive, isto é: condicionamento de lugar. 
 
Se não existir o controle das emoções por meio da amígdala, o 
funcionamento do hipotálamo, que “[...] representa o centro de elaboração e de 
exteriorização das emoções, sempre sob a ação inibidora do córtex cerebral” 
(Santos, 1984, p. 152), passa a ser livre e exagerado, gerando fenômenos do tipo 
emocional forte, como o medo, a raiva, etc. 
 
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Estruturas cerebrais envolvidas nos mecanismos de memória 
 
O hipocampo acompanhado dos corpos mamilares, núcleos anteriores do 
tálamo, colunas anteriores dos fórnices e núcleos mediais dorsais do tálamo é o 
conjunto responsável pela gravação da memória a longo prazo. 
 
A formação hipocampal no lobo temporal, parte do sistema límbico, é 
importante no mecanismo da memória, principalmente para transferir a memória a 
curto prazo para memória a longo prazo. Essa afirmativa deriva de experiências 
efetuadas com pessoas que foram submetidas à remoção de ambos os hipocampos 
(ou de outras estruturas límbicas associadas) e que conseguem manter a memória 
pré-existente sem nenhuma alteração, desenvolvendo, porém, o fenômeno da 
amnésia anterógrada, ou seja, incapacidade de formar novas memórias. 
 
O mesmo tipo de amnésia anterógrada foi observado em pacientes que 
sofreram lesões: 1) dos corpos mamilares; 2) dos núcleos anteriores do tálamo; 3) 
das colunas anteriores dos fórnices; 4) dos núcleos mediais dorsais do tálamo. 
 
Tais observações mostram que, para se consolidar a memória, todas essas 
estruturas cerebrais são essenciais e que a falta de uma só delas impossibilita tal 
processo (ANDERSEN, 2007). 
 
O tálamo é o responsável pela codificação, armazenagem e acesso ao 
arquivo de memória a longo prazo. 
 
O tálamo é o órgão responsável pelo acesso consciente à memória a longo 
prazo, dirigindo a atenção da pessoa para a informação arquivada, desempenhando 
importante papel na codificação, armazenamento e lembrança dessas memórias. 
 
Tem sido proposto que lesões na área talâmica provoquem amnésia 
retrógrada, ou seja, a incapacidade de lembrar memórias acumuladas nos depósitos 
de memória a longo prazo, reforçando a ideia de que o tálamo seja o principal 
responsável por tal acesso. 
 
Alterações físicas ou químicas nas sinapses devem constituir o arquivo 
propriamente dito. 
 
Andersen (2007) ressalta que acredita-se que esse arquivo, que constitui a 
memória a longo prazo, resulte realmente de certas alterações físicas ou químicas 
nas sinapses, principalmente devido às observações de pessoas submetidas a 
"
13 
 
 
 
 
anestesia geral, hipoxia, isquemia e resfriamento cerebral. Elas não perderam a 
memória a longo prazo, significando que esse arquivo não depende da contínua 
atividade do sistema nervoso. 
 
 
 
Lobos cerebrais 
 
Os lobos cerebrais são o lobo frontal, lobo parietal, lobo occipital e lobo 
temporal, nomes esses oriundos dos ossos cranianos nas suas proximidades e que 
os recobrem. 
 
O lobo frontal fica localizado na região da testa, o lobo accipital na região da 
nuca, o lobo parietal na parte superior central da cabeça e os lobos parietais nas 
regiões laterais da cabeça, por cima das orelhas. 
 
 
 
Estrutura responsável pela conexão entre os dois hemisférios cerebrais 
 
O corpo calosoI, localizado no fundo da fissura sagital ou inter-hemisférica, é 
a estrutura responsável pela conexão entre os dois hemisférios cerebrais. 
 
Essa estrutura, composta por fibras nervosas, seria a responsável pela troca 
de informações entre os dois hemisférios cerebrais, mantendo, conforme teorias 
ainda sem confirmações experimentais conhecidas, muitos arquivos de memória em 
reservas duplicadas no outro hemisfério. 
 
Dentre as funções mais importantes do lobo frontal temos: 
 
 o comando motor primário referente aos dedos, mão, braço, ombro, tronco, 
laringe, língua, face, etc.; 
 
 funções cognitivas e emotivas; 
 
 programação e preparação dos movimentos e controle da postura; 
 
 controle do movimento conjugado do olhar; 
 
 processamento das informações olfatórias; 
 
Função da área de Broca: produção do padrão de respostas motoras que 
resultam na expressão verbal com sentido; 
 
 
 
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Função da região homóloga à área de Broca: capacidade de expressão da 
emoção na palavra falada. 
 
Existe uma síndrome apresentada por pacientes que ignoram um dos lados 
do seu corpo (e algumas vezes metade do mundo exterior) chamada de negligência 
da metade contralateral do corpo, ou neglect. Essa síndrome caracteriza-se pelo 
total abandono mental de metade de seu corpo, como se essa metade não existisse. 
 
É bastante comum que pacientes que estejam sofrendo dessa síndrome 
deixem de barbear metade de sua face ou vistam apenas metade do corpo. Ela é 
normalmente causada por algum tipo de lesão do lobo parietal esquerdo. 
 
 
 
Divisão do sistema nervoso autônomo que controla as respostas “flight or 
fight” e as respostas “rest and digest” 
 
O sistema nervoso autônomo é constituído de duas divisões, a divisão 
simpática e a divisão parassimpática. 
 
A divisão simpática controla as respostas “fight or flight” (luta ou fuga) 
enquanto que a divisão parassimpática controla as respostas “rest and digest” 
(repouso e digestão). 
 
Dentre as estruturas do sistema límbico relacionada ao medo condicionado 
temos a amígdala que está envolvida diretamente na aquisição do medo 
condicionado, assim como na sua expressão motora e neuroendócrina. 
Abaixo veremos algumas representações esquemáticas das estruturas 
discorridas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Ilustração esquemática dos hemisférios cerebrais ligados pelo corpo caloso. 
A visão é processada pelo lobo occipital, sendo a audição, aspectos de memória e o 
“eu” processados pelos lobos temporais. Os lobos parietais abrigam o córtex 
sensorial e motor. O cerebelo controla os movimentos. Os lobos frontais (área pré- 
frontal) estão envolvidos com antecipação, planejamento, pensamento ético e 
religioso (adaptado de RESTAK, 1994)."
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O sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal) é composto de dois 
tipos básicos de células: o neurônio (1) e a glia que dá suporte estrutural e 
fisiológico, como o astrócito (4) e o oligodendrócito (6). O neurônio é composto de 
corpo celular (1), núcleo (2) e dendritos (3), por onde entra a informação e o axônio 
(5) e terminais (7) de onde esta sai a informação eletroquímica (adaptado de BRAIN 
BASICS, 2002). 
 
 
 
O funcionamento do sistema nervoso 
 
Os nervos (conjunto de neurônios) podem ser divididos em nervos que 
levam informação para o SNC e nervos que levam informação do SNC. Os primeiros 
são chamados fibras aferentes e os últimos de fibras eferentes. As fibras aferentes 
enviam sinais dos receptores (células que respondem ao estímulo sensorial nos 
olhos, ouvidos, pele, nariz, músculos, articulações) para o SNC. As fibras eferentes 
enviam sinais do SNC para os músculos e as glândulas. 
 
 
 
 
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Os neurônios são formados por três partes: a soma, os axônios e os 
dendritos. A parte central, corpo celular ou soma, contém o núcleo celular. Pode-se 
observar que a soma possui grande número de prolongamentos, ramificando-se 
múltiplas vezes como pequenos arbustos, são os dendritos. É através dos dendritos 
que cada neurônio recebe as informações provenientes dos demais neurônios a que 
se associa. O grande número de neurônios é útil a célula nervosa, pois permite 
multiplicar a área disponível para receber as informações aferentes. Saindo da soma 
também, existe um filamento mais longo e fino, ramificando-se pouco no trajeto e 
muito na sua porção terminal, é o axônio. Cada neurônio tem um único axônio, e é 
por ele que saem as informações eferentes dirigidas às outras células de um circuito 
neural. 
 
A região de contato entre um terminal de fibra nervosa e um dendrito ou o 
corpo (mais raramente um outro axônio) de uma segunda célula, chama-se sinapse, 
e constitui uma região especializada fundamental para o processamento da 
informação pelo sistema nervoso. Na sinapse, nem sempre, os sinais elétricos 
passam sem alteração, podem ser bloqueados parcial ou completamente, ou então 
multiplicados. Logo, não ocorre apenas uma transmissão da informação, mas uma 
transformação durante a passagem. 
 
A transmissão sináptica pode ser química ou elétrica. Na sinapse elétrica, as 
correntes iônicas passam diretamente pelas junções comunicantes (região de 
aproximação entre duas células) para as outras células. A transmissão é 
ultrarrápida, já que o sinal passa praticamente inalterado de uma célula para outra. 
Na sinapse química, a transmissão do sinal através da fenda sináptica (região de 
aproximação entre duas células, bem maior que as junções comunicantes) é feita 
através de neurotransmissores. A sinapse química pode ser exitatória, quando 
ocorre um aumento no estímulo recebido pelo neurônio pós-sináptico, ou inibitória, 
quando ocorre uma diminuição do estímulo no neurônio pós-sináptico. São essas 
transformações ocorridas durante a sinapse que garantem ao sistema nervoso a sua 
enorme diversidade e capacidade de processamento de informação. 
Uma das melhores maneiras de perceber a influência dos 
neurotransmissores na cognição é observando a quantidade de drogas cujo efeito 
provém da modificação da atividade dos neurotransmissores, como a nicotina. 
 
 
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2.2 Plasticidade 
 
Plasticidade é a capacidade do sistema nervoso alterar o funcionamento do 
sistema motor e perceptivo baseado em mudanças no ambiente. 
 
Estudos comprovam a hipótese sobre o desenvolvimento neural e a 
aprendizagem na qual funções particulares de processamento de informação são 
controladas por grupos especiais de neurônios, mas quando uma dessas funções 
fica inutilizada, os neurônios associados a ela passam a controlar outra função. Por 
exemplo, se os neurônios que normalmente recebiam estímulos do olho esquerdo 
pararem de receber esse estímulo, eles se tornariam responsáveis pelos estímulos 
do olho direito. O inverso também é verdadeiro, quando as funções neurais são 
limitadas, os neurônios podem passar a controlar novas funções. 
 
No entanto, nem sempre esse processo ocorre. A plasticidade é mais 
comum em crianças. 
 
 
 
2.3 Memória de curto e longo prazo 
 
Um dos conceitos mais importantes dessa área é a distinção entre memória 
de curto e longo prazo. Uma razão para acreditar nessa distinção é que, algumas 
vezes depois de um severo golpe na cabeça, uma pessoa pode ser incapaz de 
lembrar eventos que aconteceram antes do golpe (amnésia retrógrada), mas 
continuaria lembrando dos eventos que ocorreram bem antes. A fragilidade das 
memórias recentes sugere que elas estavam num estado fisiológico diferente das 
memórias mais antigas. 
 
Uma outra razão para essa distinção é que nós somos capazes de lembrar 
um pequeno número de itens que nós acabamos de guardar na memória, mas 
podemos lembrar uma grande quantidade de informação de um passado distante. 
Esses fatos sugerem que a memória de curto prazo e a memória de longo prazo 
podem ter propriedades físicas distintas. 
Memória de Curto Prazo (MCP): Capaz de armazenar informações por 
períodos de tempo um pouco mais longos, mas também de capacidade 
relativamente limitada. 
 
 
 
"
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Memória de Longo Prazo (MLP): Capaz de estocar informações durante 
períodos de tempo muito longos, talvez até indefinidamente. 
 
Apesar do nosso cérebro ser dividido em dois hemisférios não existe relação 
de dominância entre eles, pelo contrário, eles trabalham em conjunto, utilizando-se 
dos milhões de fibras nervosas que constituem as comissuras cerebrais e se 
encarregam de pô-los em constante interação. O conceito de especialização 
hemisférica se confunde com o de lateralidade (algumas funções são representadas 
em apenas um dos lados, outras nos dois) e de assimetria (um hemisfério não é 
igual ao outro). 
 
Segundo Lent (2002), o hemisfério esquerdo controla a fala em mais de 95% 
dos seres humanos, mais isso não quer dizer que o direito não trabalhe, ao 
contrário, é a prosódia do hemisfério direito que confere à fala nuances afetivas 
essenciais para a comunicação interpessoal. 
 
O hemisfério esquerdo é também responsável pela realização mental de 
cálculos matemáticos, pelo comando da escrita e pela compreensão dela através da 
leitura. Já o hemisfério direito é melhor na percepção de sons musicais e no 
reconhecimento de faces, especialmente quando se trata de aspectos gerais. O 
hemisfério esquerdo participa também do reconhecimento de faces, mas sua 
especialidade é descobrir precisamente quem é o dono de cada face. 
Da mesma forma, o hemisfério direito é especialmente capaz de identificar 
categorias gerais de objetos e seres vivos, mas é o esquerdo que detecta as 
categorias específicas. O hemisfério direito é melhor na detecção de relações 
espaciais, particularmente as relações métricas, quantificáveis, aquelas que são 
úteis para o nosso deslocamento no mundo. O hemisfério esquerdo não deixa de 
participar dessa função, mas é melhor no reconhecimento de relações espaciais 
categoriais qualitativas. Finalmente, o hemisfério esquerdo produz movimentos mais 
precisos da mão e da perna direitas do que o hemisfério direito é capaz de fazer 
com a mão e a perna esquerda (na maioria das pessoas). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"
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Fonte: Lent (2002) 
 
 
 
 
E onde entra a aprendizagem? 
 
A aprendizagem é definida por Santos (1999,p. 85) como o processo neural 
pelo qual a experiência modifica o comportamento centralmente regulado. 
 
Ele pode ser do tipo associativo ou do tipo não associativo, ou seja, pode ter 
relação direta com os estímulos, como nos condicionamentos clássicos e 
condicionamentos operantes, para o aprendizado associativo; ou não depender 
dessa relação entre estímulos e respostas, como na habituação e na sensitização, 
para os aprendizados não associativos. 
Ou, conforme a classificação apresentada em Krech (1978, p. 50): “[...] os 
tipos de aprendizagem podem ser agrupados em três categorias de complexidade 
 
"
21 
 
 
 
 
crescente: 1) aprendizagem de resposta condicionada; 2) memorização; 3) 
 
aprendizagem por ensaio-e-erro”. 
 
 
 
 
2.4 Implicações dos estudos do sistema nervoso nas Ciências Cognitivas 
 
Existem redundâncias consideráveis no sistema nervoso. A existência de 
processamento paralelo é amplamente aceita na neurociência e acredita-se que ele 
seja necessário devido a rapidez e complexidade do processamento da informação 
no cérebro das criaturas vivas. O poder da computação paralela pode ser observado 
nos modernos computadores seriais que demoram muito mais que o cérebro 
humano para processar informações visuais. Nos últimos anos, reconheceu-se que 
computadores com processamento paralelo são necessários para acelerar o 
processamento de imagens, aproximando-o da velocidade do cérebro humano. 
 
Esse é um dos caminhos pelo qual a neurociência pode ajudar as ciências 
cognitivas. A psicologia cognitiva tem se esforçado para modelar as atividades 
intelectuais com elementos que interajam numa maneira neurologicamente 
plausível. Esses modelos estão ajudando a mostrar como a cognição pode ser 
estruturada através dos princípios básicos de operação da mente (LENT, 2002). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"
22 
 
 
 
 
3 FREUD E O CÉREBRO – INTEGRAÇÃO ENTRE PSICANÁLISE E 
NEUROFISIOLOGIA 
 
 
 
Sempre existiram, no meio psicanalítico, aqueles que se interessaram em 
buscar fazer correlações entre a neurociência e os conhecimentos adquiridos na 
investigação psicanalítica. Com isso, puderam ser mostradas as contribuições que a 
psicanálise poderia dar para um enriquecimento mútuo nas investigações 
neuropsicológicas e traduzir em termos psicanalíticos as conquistas neurocientíficas 
(SOUSSUMI, 2001). 
 
O desenvolvimento da neurociência começa a tornar realidade o vaticínio de 
Freud de que no futuro as hipóteses psicanalíticas seriam explicadas pela biologia 
(ANDRADE, 2003). 
 
As aquisições recentes da neurobiologia indicam que a neuroplasticidade 
pode ser um dos caminhos para a reconciliação entre a psicanálise e a neurociência. 
Dentre os achados neurocientíficos no âmbito do psiquismo, destaca-se a ação da 
relação afetiva sobre circuitos neurais de bebês, os quais podem sofrer atrofia 
cerebral se cuidados inadequadamente. Também há evidências de que métodos 
psicológicos podem promover modificações no cérebro. Este ponto é de especial 
interesse para a psicanálise, cujo método se baseia numa relação afetiva 
(transferência) (ANDRADE, 2003). 
 
Recentes avanços no estudo interdisciplinar da emoção também indicam 
possibilidades de uma aproximação bem-sucedida entre a psicanálise e a 
neurociência. O conhecimento atual dos mecanismos psicobiológicos, por meio dos 
quais, por exemplo, o hemisfério direito processa informações sociais e emocionais 
em níveis subconscientes e mediante os quais o córtex orbitofrontal regula o afeto e 
a motivação, permite uma compreensão mais profunda da “Estrutura Psíquica” 
formulada por Freud (SCHORE, 1997 apud LIMA, 2009). 
 
A descrição tradicional de inconsciência como concebida por Freud é de 
significância histórica e não somente ganhou ampla aceitação, mas também atraiu 
muito criticismo. Entretanto, hoje se sabe que o modo fundamental de 
processamento das funções cerebrais é de ordem inconsciente. Partes do 
 
 
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processamento simbólico-declarativo e do processamento de funções emocionais do 
cérebro são permanentemente inconscientes. Outras partes desses processos são 
conscientes ou podem ser trazidas à consciência ou, alternativamente, podem ser 
excluídas da consciência. Ressaltando o papel essencial dos processos psíquicos 
inconscientes, Winograd et al (2005) citam como exemplo a verificação de que o 
comportamento de pacientes incapazes de se lembrar de acontecimentos passados, 
por causa de lesões em estruturas cerebrais responsáveis pelo armazenamento de 
memória, é claramente influenciado pelos fatos “esquecidos”. Esses dados 
corroboram a teoria de Freud, segundo a qual o inconsciente domina a maior parte 
dos processos psicofisiológicos. 
 
Segundo estudos de Lima (2010) a neurociência também demonstrou que 
as estruturas do cérebro essenciais para a formação de memórias conscientes não 
são funcionais durante os dois primeiros anos de vida, explicando o que Freud 
identificou como “amnésia infantil”. Assim como Freud hipotetizou, não poder trazer 
à luz da consciência a maior parte de nossas memórias de infância não significa que 
elas não tenham se inscrito em nós nem que não afetem nossos sentimentos, 
pensamentos e comportamentos atuais. As experiências da primeira infância, 
sobretudo entre mãe e bebê, influenciam o padrão das conexões cerebrais e, 
correlativamente, o padrão de nossos comportamentos e pensamentos. 
 
A vasta contribuição de Freud relativamente à função dos sonhos foi em 
grande parte ignorada pela ciência, pela falta de um método quantitativo e de 
hipóteses testáveis. Felizmente, os avanços da neurociência convergiram nos 
últimos anos para dois importantes insights psicanalíticos. O primeiro consiste na 
observação concreta de que os sonhos, frequentemente, contêm elementos da 
experiência do dia anterior, denominados de “restos do dia”. O segundo é o 
reconhecimento de que estes “restos” incluem atividades mnemônicas e cognitivas 
da vigília, persistindo nos sonhos na medida de sua importância para o sonhador. 
Assim, ainda que de maneira difusa, a psicanálise prevê que a consolidação de 
memórias e o aprendizado sejam importantes funções oníricas (SIDARTA, 2003). 
Segundo Freud, os sonhos constituem “uma realização (disfarçada) de um 
desejo (reprimido)”. A hipótese de que o sistema dopaminérgico mesolímbico- 
mesocortical, relacionado aos estados motivacionais, é essencial para a formação 
dos sonhos também oferece algum respaldo à teoria freudiana. Assim, as emoções 
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parecem exercer um papel fundamental na formação dos sonhos (CHENIAUX, 
 
2006). 
 
Estudos experimentais recentes trazem à tona duas grandes contribuições 
de Freud aos conhecimentos atuais sobre a supressão e/ou inibição de memórias. 
Ambos os processos, largamente estudados por ele, a repressão e a extinção, já 
têm boa parte de seus mecanismos conhecidos. Essa inibição ou supressão é 
inerente à nossa natureza. Por um lado, precisamos impedir o acesso à consciência 
de muitas memórias, porque sua evocação seria prejudicial ou insuportável. Por 
outro, precisamos fazê-lo porque devemos recordar ou aprender outras memórias 
(IZQUIERDO, 2006). 
 
Em seu estudo, Izquierdo cita achados interessantes de outros 
pesquisadores (Anderson ET al, 2004): no momento em que o cérebro exclui da 
consciência a expressão de memórias indesejadas, ocorrem: a) inibição da 
evocação dessas memórias (repressão); b) ativação do córtexpré-frontal 
anterolateral (envolvido na memória de trabalho); c) inibição da atividade do 
hipocampo. O hipocampo é o “diretor” da “orquestra” de áreas corticais envolvidas 
na evocação de memórias. 
 
O estudo desses cientistas pretendeu explicar casos de bloqueio de 
memória especialmente nas situações de abusos sexuais sofridos por crianças que 
não se lembram dos abusos quando se tornam adultas. Sua existência foi percebida 
por meio da utilização de imagens cerebrais que mostravam os sistemas 
neurológicos participantes do bloqueio da evocação de memórias indesejáveis. 
Esses dados corroboram a hipótese de Freud sobre o processo de “recalque”. 
Analisando todos esses dados, Lima (2010) considera que as visões 
psicanalítica e neurocientífica podem ser complementares e mutuamente 
enriquecedoras. Tomados em conjunto, esses achados indicam não só a viabilidade, 
mas a necessidade de reavaliar o legado psicanalítico de Freud, com uma diferente 
abordagem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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25 
 
 
 
 
3 NEUROCIËNCIA E NEUROEDUCAÇÃO 
 
 
 
 
Segundo Ventura (2010) a neurociência está em grande expansão, e foi 
eleita com destaque pelo Governo dos EUA como prioritária na década de 1990, que 
ficou conhecida como a „Década do Cérebro‟ (Library of Congress, 2010). Muitos 
também consideram o século XXI o século do cérebro, no qual as grandes 
conquistas da humanidade estarão dirigidas para a compreensão das funções 
neurais humanas. 
 
A neurociência estuda também as doenças do sistema nervoso e seus 
reflexos em todas as funções do indivíduo, procurando métodos de diagnóstico, 
prevenção e tratamento, além da descoberta das causas e mecanismos. Desde uma 
dor de cabeça até a doença de Alzheimer, o custo social e econômico dessas 
afecções é imenso, e é também muito grande a parcela da economia dedicada ao 
desenvolvimento e à produção e comercialização de fármacos e de equipamentos 
de diagnóstico. O aprofundamento da pesquisa traz o reconhecimento de novas 
doenças, permitindo seu estudo e tratamento. São muitos os exemplos de novas 
descobertas. No século XIX, Freud descreveu a paralisia cerebral, tendo usado esse 
nome para distinguí-la da paralisia infantil. Nas últimas décadas foi reconhecida a 
síndrome do pânico e há menos de 10 anos, a morte súbita, as graves 
consequências de distúrbios do sono e os príons e seu possível envolvimento em 
patologias neurológicas e mentais. É surpreendente pensar que as doenças do 
sono, que sempre afligiram a humanidade, só tiveram reconhecimento muito 
recentemente. 
 
A pesquisa em neurociência visa, dentre seus objetivos, esclarecer os 
mecanismos das doenças neurológicas e mentais por meio do estudo do sistema 
nervoso normal e patológico. 
 
As funções do sistema nervoso podem ser alteradas por eventos ambientais 
como trauma, agentes infecciosos ou tóxicos; por tumores, mutações gênicas e 
defeitos congênitos; por eventos vasculares e deficiências nutricionais, e por muitos 
outros fatores. Muitas doenças do sistema nervoso são totalmente incapacitantes, 
outras provocam prejuízos de diferentes níveis de gravidade. Infelizmente, segundo 
Ventura (2010) não temos acesso a dados de prevalência brasileiros. Para 
"
26 
 
 
 
 
exemplificar alguns números mais relevantes são citadas a seguir informações dos 
 
EUA. 
 
Dados do National Institute of Health - NIH (2002) mostram que, na 
população dos EUA, dentre as doenças neurológicas que em geral se instalam na 
infância: 
 
(1) a epilepsia afeta cerca de 2,5 milhões de norte-americanos; 
(2) a paralisia cerebral ocorre em 750.000 nascimentos; 
(3) o autismo atinge 400.000 crianças; e, 
 
(4) os tumores cerebrais são a segunda causa de morte por câncer em crianças até 
 
15 anos. 
 
Dentre as doenças que afetam adultos, causando anos de invalidez, perda 
de vida e impacto econômico, os dados do NIH indicam que: 
 
(1) acima dos 60 anos, a demência do tipo Alzheimer, o acidente vascular encefálico 
e a doença de Parkinson são frequentes; 
 
(2) os acidentes vasculares encefálicos (cerebrais) são a terceira entre todas as 
causas de morte e uma causa importante de invalidez (mais de 700.000 americanos 
são afetados); 
 
(3) o trauma cerebral e as lesões medulares ocorrem principalmente antes dos 30 
anos, sendo o trauma cerebral responsável por mais de 5,3 milhões de 
comprometimentos e mais de 50.000 óbitos; 
 
(4) a esclerose múltipla começa por volta dos 30 anos de idade. Finalmente, a dor é 
a principal queixa para a procura de atendimento médico em geral. A prevalência de 
dor crônica é alta e suas causas difíceis de tratar. 
 
A neurociência contribui também para o esclarecimento das doenças 
mentais. O National Institute of Mental Health - NIMH (2002) define doenças mentais 
como aquelas em que há alteração no pensamento, humor ou comportamento 
(isoladamente ou combinados), acarretando sofrimento e/ou prejuízo funcional. 
Dados daquela agência mostram que durante um período de um ano, 22% da 
população americana adulta (44 milhões de pessoas) têm alguma doença mental 
 
 
"
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diagnosticável por critérios confiáveis; dentre essas pessoas, 3% associam o abuso 
de drogas à doença mental. 
 
A neurociência no Brasil está representada principalmente pela Sociedade 
Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC), que congrega a pesquisa 
básica da área. A produção neurocientífica está também presente nas Sociedades 
Brasileiras de Psicologia, de Farmacologia, de Fisiologia, de Bioquímica, e na 
Brazilian Research Association on Vision and Ophthalmology. Na área clínica, a 
neurociência brasileira é apresentada nas Sociedades Brasileiras de Neurologia, de 
Psiquiatria e de Neuropsicologia (VENTURA, 2010). 
 
A SBNeC, originalmente Sociedade Brasileira de Psicobiologia, tem 34 anos 
de existência. Foi fundada por Elisaldo Carlini, que reuniu um grupo de psicólogos, 
psicofarmacólogos, neurofisiologistas, psiquiatras e outros especialistas. A ata de 
fundação gerada nessa reunião histórica mostra a argumentação desses 
pesquisadores na época, muito interessados em promover a integração entre 
psicologia e neurociência. Esse grupo decidiu pela fundação da nova sociedade a 
partir da Sociedade Latinoamericana de Psicobiologia, cujo sucesso tinha sido 
comprometido pelas dificuldades políticas dos países da região na década de 1970. 
O nome Sociedade Brasileira de Psicobiologia perdurou até os anos 1990, quando, 
para evitar a criação de uma segunda sociedade na mesma área, dedicada à 
neuroquímica, decidiu-se mudar o nome da entidade para Sociedade Brasileira de 
Neurociências e Comportamento. 
 
A manutenção da palavra comportamento como parte do nome tem grande 
relevância para a área de Psicologia, pois constitui a forma de integrar os psicólogos 
experimentais na sociedade, valorizando o enfoque no estudo do comportamento. 
 
Essa ênfase espelha a motivação original do grupo fundador de integrar 
psicólogos, estudiosos do comportamento, com os demais ramos da fisiologia, 
farmacologia, morfologia, e outras áreas de estudo do sistema nervoso (VENTURA, 
2010). 
 
Tokuhama-Espinosa (2008 apud ZARO ET AL, 2010) localiza o início das 
preocupações da Neuroeducação nos anos 1970, com duas referências principais: 
Show e Stewart (1972) e Gardner (1974), sendo este último autor bastante 
conhecido no Brasil, através de sua teoria das inteligências múltiplas. 
 
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Ambos os autores, diz, já naquele momento estabeleceram diversos 
princípios-chave em neuroeducação,incluindo a compreensão de que não existem 
dois cérebros idênticos, devido tanto à natureza (questões congênitas) quanto à 
criação (experiência). Em 2007, Howard Gardner apontou diretamente para a falta 
de um elo, visivelmente necessário, entre a neurologia, a psicologia e a educação, 
para formar o que seriam “neuro-educadores” (ZARO, 2010) 
 
Do ponto de vista psicológico, o objetivo principal da Neuroeducação seria 
explicar os comportamentos da aprendizagem, ressaltando que os neurologistas se 
ocupam disto através do cérebro, enquanto os psicólogos se debruçam sobre a 
mente, o que, certamente, para qualquer um que se mantenha em uma razoável 
distância crítica do tema, aponta para questões complementares e não antagônicas. 
 
Uma destas questões seria, por exemplo, buscar explicações sobre o papel 
das emoções no aprendizado, nos processos de tomada de decisão e nas várias 
possibilidades de motivação dos alunos para o aprendizado. Já para os educadores, 
estas informações seriam usadas para melhorar suas práticas em sala de aula. 
Poderiam, por exemplo, aproveitar o conhecimento já consolidado sobre as 
mudanças neuronais que ocorrem no cérebro, durante o aprendizado (área de 
pesquisa das Neurociências), e as técnicas e métodos de observação e 
documentação dos comportamentos observáveis (área de pesquisa da Psicologia), 
para fundamentar de forma consistente e verificável a eficiência de tais práticas 
(ZARO ET AL, 2010). 
 
Possivelmente, cabe às três categorias de profissionais – e a outras 
categorias hoje integradas às equipes educacionais como, por exemplo, os 
produtores de mídias, os designers, os cientistas da informação e os produtores de 
tecnologias educacionais – identificar as possibilidades de pesquisa e, 
principalmente, os padrões e metodologias de pesquisa que poderiam dar conta 
desta integração. 
 
Hardiman e Denckla (2009 apud ZARO, 2010) definem a Neuroeducação 
como um novo campo do conhecimento que integra “neurocientistas que estudam a 
aprendizagem e educadores que pretendem fazer uso de pesquisas desta natureza”. 
Comentam que, embora esta integração pareça óbvia, nem sempre foi ou será fácil 
e direta, uma vez que os campos profissionais estruturam linguagens e abordagens 
 
"
29 
 
 
 
 
diferenciadas, definindo seus respectivos métodos de produção e validação do 
conhecimento. Talvez por isso recomendam que ambos os grupos se dediquem à 
busca de um método comum para traduzir resultados da pesquisa científica, através 
de um caminho cujo sentido inicia nos laboratórios dos neurocientistas cognitivos e 
segue para o planejamento de estratégias pedagógicas aplicáveis. 
 
Sugere-se que o mesmo caminho continue em direção à produção e ao uso 
de tecnologias educacionais, como vídeos, multimídia, games e outros produtos 
educacionais, refletindo sobre a possibilidade de desenvolver e aplicar estes 
recursos de forma a que possam, comprovadamente, dar suporte a alguma das 
variáveis dinâmicas que compõem a cognição humana, identificando essas variáveis 
observáveis e seus processos de inter-relação. 
 
Tokuhama-Espinosa (2008 apud ZARO, 2010) também concorda que os 
pesquisadores que quiserem integrar-se à área multidisciplinar da Neuroeducação 
precisam realizar um exercício de flexibilidade das suas próprias formas de pensar, 
agir e definir prioridades, uma vez que, como todas as áreas de interface de vários 
tipos de conhecimento, é preciso perceber as abordagens e integrá-las de forma 
equilibrada, sem que uma se imponha sobre as demais. Daí a importância de seu 
trabalho, que tratou de delimitar o que seriam alguns dos temas comuns às áreas, 
como conhecimento já estruturado ou como instrumento ou metodologia de 
pesquisa. A seguir, resumem-se alguns desses temas, tratados pela pesquisadora 
como tópicos básicos ou princípios. 
 
Entre os tópicos citados por Tokuhama-Espinosa (2008 apud ZARO, 2010), 
a partir de sua pesquisa na bibliografia já existente, que delimitam possíveis 
abordagens para pesquisa em Neuroeducação, estão as várias técnicas de 
captação de informações neuronais, por sinais elétricos ou imageamento cerebral 
como instrumento de observação de aprendizagem, a neurogênese e plasticidade; 
as teorias da consciência e da inteligência, a neuroética; as diferenças de 
aprendizado; e as relações corpo-mente (sono e exercícios físicos, entre outros itens 
a esse respeito). 
Enumera ainda o que seriam 14 princípios básicos, a serem usados como fio 
condutor da Neuroeducação, em torno dos quais se articulariam premissas das três 
 
 
 
"
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áreas estruturadoras (neurociências, psicologia e educação, segundo a autora), não 
necessariamente em ordem hierárquica de relevância: 
 
a) estudantes aprendem melhor quando são altamente motivados do que 
quando não têm motivação; 
 
b) stress impacta aprendizado; 
 
c) ansiedade bloqueia oportunidades de aprendizado; 
 
d) estados depressivos podem impedir aprendizado; 
 
e) o tom de voz de outras pessoas é rapidamente julgado no cérebro como 
ameaçador ou não ameaçador; 
 
f) as faces das pessoas são julgadas quase que instantaneamente (i.e., 
intenções boas ou más); 
 
g) feedback é importante para o aprendizado; 
 
h) emoções têm papel-chave no aprendizado; 
 
i) movimento pode potencializar o aprendizado; 
 
j) humor pode potencializar as oportunidades de aprendizado; 
 
k) nutrição impacta o aprendizado; 
 
l) sono impacta consolidação de memória; 
 
m) estilos de aprendizado (preferências cognitivas) são devidas à estrutura 
única do cérebro de cada indivíduo; 
 
n) diferenciação nas práticas de sala de aula são justificadas pelas 
diferentes inteligências dos alunos.” (TOKUHAMA-ESPINOSA, 2008 apud ZARO ET 
AL, 2010). 
 
Além desses princípios, que seriam relativos a cada aprendiz, 
individualmente, diz a pesquisadora, outros dizem respeito a qualquer um deles, 
podendo ser seguido em qualquer prática instrucional. São eles: 
 
a) cada cérebro é único e unicamente organizado; 
 
b) cérebros são especializados e não são igualmente bons em tudo; 
 
 
 
 
"
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c) o cérebro é um sistema complexo, dinâmico e em modificação diária, 
pelas experiências; 
 
d) cérebros são considerados „plásticos‟ e continuam a se desenvolver ao 
 
longo de suas vidas; 
 
e) aprendizado é baseado em parte na habilidade do cérebro de se auto- 
corrigir e aprender pela experiência, através da análise de dados e auto-reflexão; 
 
f) a busca por sentido é inata na natureza humana; 
 
g) a busca por sentido ocorre através de „padronizações‟; 
 
h) aprendizado é baseado em parte na habilidade do cérebro de detectar 
padrões e fazer aproximações para aprender; 
 
i) emoções são críticas para detectar padrões; 
 
j) aprendizado é baseado em parte na capacidade do cérebro para criar; 
 
k) aprendizado é potencializado pelo desafio e inibido pela ameaça; 
 
l) o cérebro processa partes e todo simultaneamente (é um processador 
paralelo); 
 
m) cérebros são projetados para flutuações mais do que atenção constante; 
 
n) aprendizado envolve tanto atenção focada quanto percepção periférica; 
 
o) o cérebro é social e cresce na interação (tanto quanto na reflexão 
pessoal); 
 
p) aprendizado sempre envolve processos conscientes e inconscientes; 
 
q) aprendizado é desenvolvimental; 
 
r) aprendizado recruta a fisiologia completa (o corpo impacta o cérebro e o 
cérebro controla o corpo); 
 
s) diferentes sistemas de memória (curto prazo, de trabalho, longo prazo, 
emocional, espacial, de hábito) aprendem deformas diferentes; 
t) informação nova é arquivada em várias áreas do cérebro e pode ser 
evocada através de diferentes rotas de acesso; 
 
 
 
 
"
32 
 
 
 
 
u) o cérebro recorda melhor quando os fatos e habilidades são integrados 
em contextos naturais; e, 
 
v) Memória + Atenção = Aprendizado (TOKUHAMA-ESPINOSA, 2008 apud 
 
ZARO ET AL, 2010). 
 
Entre os achados finais da pesquisa de Tokuhama-Espinosa, estão alguns 
que justificam a relevância e urgência da consolidação da nova área de pesquisa, 
apontando para a necessidade do diálogo entre a ciência e sua aplicação, de 
maneira justificada e fundamentada em evidências observáveis: 
 
“[...] enquanto milhares de estudos foram devotados para explicar vários 
aspectos da neurociência (como animais, incluindo humanos, aprendem), apenas 
uns poucos estudos neurocientíficos tentaram explicar como os humanos deveriam 
ser ensinados, para maximizar o aprendizado. (...) das centenas de dissertações 
devotadas ao „ensino baseado no cérebro‟, ou „métodos neurocientíficos de 
aprendizado‟, nos últimos cinco anos, a maioria documentou a aplicação destas 
técnicas, ao invés de justificá-las.” (TOKUHAMA-ESPINOSA, 2008, p. 117 apud 
ZARO ET al, 2010). 
 
Compreendendo um quadro de múltiplas necessidades, que estruturam a 
realidade da ecologia educacional contemporânea, sugere-se, então, que a área de 
pesquisa da Neuroeducação, não se limite a integrar o conhecimento de pedagogos, 
neurocientistas e psicólogos, mas de todas as demais áreas que constituem as 
chamadas Ciências Cognitivas, bem como com as áreas de conhecimento da 
Comunicação e das Ciências da Informação, todas elas imbricadas na ecologia 
tecnológico-cognitivo-informacional-comunicacional de Internet, sala de aula, 
entretenimento e interação, aprendizado e aplicação, produção e recepção, entre 
tantas outras características tanto opostas como complementares que caracterizam 
a educação no Século XXI. Assim como não há retorno possível do ser humano ao 
mundo do telégrafo sem fio, também não é plausível supor que os processos de 
ensino-aprendizagem voltem a depender apenas de uma boa teoria, ou de um bom 
quadro-negro, mesmo que estejam integrados a um bom fundamento 
neurocientífico. 
 
 
 
 
 
 
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ANEXOS 
 
LINHA DO TEMPO EM NEUROCIÊNCIA 
 
 
 
Numa breve linha do tempo temos que: 
 
130.000 a.C. – Surge o Homo sapiens neanderthalensis 
 
30.000/35.000 a.C. – surgimento do Homo sapiens sapiens 
 
7.000a 20.000 a.C. – são descobertos os crânios trepanados (ritual?curas?) 
 
1.700 a.C. - Egito – papiro Edwin Smith descrição clínica de 48 casos clínicos, 
aparece o termo encéfalo, meninges, liqüor e medula 
 
Pitágoras (580-510 a.C.) - encéfalo mente – coração alma e sensações 
 
Hipócrates (460-370 a.C.) - epilepsia distúrbio do encéfalo – sede da inteligência e 
sensações (tese cefalocentrista) 
 
Platão (427-347 a.C.) – problema corpo e alma - encéfalo (1) sede do 
processo mental (2) a alma tríplice: coração (alma afetiva), o cérebro (alma 
intelectual), e o ventre (concupiscência - apetite sexual) 
 
Aristóteles (384-322 a.C.) - (1) coração - centro das sensações, das paixões e da 
inteligência (tese cardiocentrista), (2) encéfalo (função refrigerar o corpo e a alma) 
 
Cláudio Galeno, (129-200 a.C.) – médico de gladiadores - encéfalo formado de duas 
partes: uma anterior, o (1) cerebrum (sensações e repositório da memória) (2) 
cerebellum (controle dos músculos) (2) nervos eram condutos - levavam os líquidos 
vitais ou humores. 4 líquidos essenciais (sangue, fleuma, bile amarela e bile negra) 
que, quando em equilíbrio e harmonia(eucrasia) asseguravam a saúde do indivíduo, 
enquanto a doença era devida ao seu desequilíbrio e desarmonia(discrasia). Tese 
dos 4 humores: indivíduo otimista, falante, irresponsável (tipo sanguíneo); calmo, 
sereno, lento, impassível (tipo fleumático); explosivo, ambicioso (tipo colérico); 
introspectivo, pessimista (tipo melancólico). 
 
 
 
 
 
 
 
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Período Medieval – corpo era desprezível e a alma mais importante 
 
Leonardo da Vinci (1452-1519) e Andreas Vesalius (1514-1564) – anatomia através 
de desenhos e a obra De humani corporis fabrica libri septem 
 
René Descartes (1596-1650) - “je pense, donc je suis” definiu a alma como 
substância consciente ou pensamento. A alma era diferente do corpo por possuir 
uma natureza indivisível enquanto o corpo era sempre divisível reestabeleceu a 
ontologia dualista de que alma e corpo eram constituídos por diferentes substâncias. 
Definiu a localização da alma na glândula pineal. 
 
Sigmund Freud (1895) - estudos funcionais do inconsciente. Entende que os 
processos físicos não poderiam ocorrer na ausência dos processos fisiológicos, mas 
que os físicos precediam ao fisiológico. 
 
Thorndike, Watson e Skinner (....) associacionismo, funcionalismo, behaviorismo 
comportamentalismo - estudos do comportamento Gestalt (...) a relação funcional 
entre neurônios decorre da ativação conjunta de uma estrutura difusa de células no 
córtex, constituindo um sistema fechado, capaz de manter-se integrado por um 
breve tempo. 
 
Franz Joseph Gall (1758-1828) Pai da Frenologia. Localização cerebral das 
funções cerebrais. Estudou a relação entre afasia e cérebro tornando-se assim um 
importante precursor da neuropsicologia. acreditava que o cérebro era na verdade 
um conjunto de órgãos separados, cada um dos quais controlava uma “faculdade” 
(aptidão) inata separada. 
 
Pierre Paul Broca (1824-1880) Suas ideias são baseadas em avaliações clínicas 
e estudos anatômicos no estudo de dois pacientes e suas posteriores autópsias. 
Mostrou a relação entre lobo frontal esquerdo e a linguagem. Suas conclusões são 
consideradas, atualmente o marco inicial da neuropsicologia (afasia motora). 
 
Carl Wernicke (1848-1905) descrevia a relação causal entre a lesão no primeiro giro 
temporal esquerdo e uma das formas clínicas da afasia, a afasia sensorial (afasia 
sensorial) e postulou sobre a afasia de condução. 
John M. Harlow (1848-1849) Relata o caso de Phineas Gage, um paciente com 
alterações comportamentais decorrentes de lesão frontal. 
 
 
 
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Lev S. Vygotsky (1896-1934) procurou uma alternativa às posições localizacionistas 
e globalistas Vygotsky considerou as funções corticais superiores em três princípios 
centrais: a) relacionamentos interfuncionais, plásticos e modificáveis; b) sistemas 
funcionais dinâmicos como resultantes da integração de funções elementares; e, c) 
a reflexão da realidade sobre a mente humana. 
 
Alexander Romanovich Luria (1902-1977) concebia uma ciência que mantinha, ao 
mesmo tempo, consonância com a fisiologia e a neurologia, sem depender 
integralmente destas (Cole,1992) e, mais importante, sem nunca perder de vista a 
perspectiva humanista na compreensão e entendimento das condições clínicas 
estudadas (Luria, 1992). Outra grande contribuição de Luria refere-se às inovações 
metodológicas propostas no exame clínico: técnicas aparentemente simples, mas 
orientadas pela sua visão das funções corticais superiores, ou seja, Luria propõe um 
modelo teórico que dirige o trabalho neuropsicológico. “desde uma perspectiva da 
localização sistemática das funções, consideramos os processos corticais superiores 
como sistemas funcionais complexos dinamicamente localizados”. 
 
Camillo Golgi (1843/4-1926) e do histologista espanhol Santiago Ramón y Cajal 
 
(1852-1934) descreveram a estrutura das células nervosas. 
 
Wilder Penfiled (1940)usando métodos de estimulação elétrica estudou e mapeou 
as funções motoras, sensoriais e da linguagem no córtex humano de pacientes 
submetidos à neurocirurgia. 
Charles Scott Sherrington (1857-1952) propôs os termos “sinapse”, definido como o 
local de contato entre dois neurônios, e “transmissão sináptica”, definida como a 
passagem de informações por meio da sinapse. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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