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nº 1 • JAN-FEV-MAR 2020
Revista da Universidade do
âncer
Os desafios 
do Câncer
Expediente
Direção Geral: Simone Bonecker
Revisão: Bruno Bonecker
Rua Carolina Santos 119, Meier - RJ
20720-310 
tel: (21) 4132-7122
www.universidadedocancer.com.br
Comunicado Importante
A Revista da Universidade do Câncer é 
uma publicação de cunho estritamente 
acadêmico produzida pela Universidade 
do Câncer e publicada pela Editora Bonec-
ker, e imparcial sem nenhuma relação com 
indústrias farmacêuticas, hospitais, socie-
dades brasileiras, universidades, organiza-
ções não governamentais ou instituições 
de qualquer natureza. Tampouco a opinião 
dos entrevistados e autores dos artigos 
publicados espelham ou expressam as opi-
niões da Universidade do Câncer. Temos 
como objetivo principal a democratização 
e divulgação do conhecimento sobre o 
Câncer. Os resultados aqui expostos são 
frutos de resultados de pesquisas acadê-
micas e devem ser interpretados dentro 
deste contexto. Em nenhum momento 
estamos sugerindo ou indicando troca 
de tratamento, medicamento ou exames. 
TODA e qualquer dúvida sobre diagnósti-
co, tratamento, medicamento ou acompa-
nhamento de doença, deve ser direciona-
da um médico especializado (clínico geral, 
oncologista, hematologista, geneticista clí-
nico ou outro). Nada substitui a consulta 
ao seu clínico. 
Sumário
PERSONAGEM
por Simone Bonecker
Janet Rowley (1925-2013) médica, 
geneticista, pesquisadora, primeira 
cientista a associar uma translocação 
cromossômica como causa de uma 
leucemia, a Leucemia Mieloide Crônica, 
mudando o entendimento da biologia do 
câncer na época. 
TEMA DA CAPA
por Simone Bonecker
Desafios no câncer, o que esperar para 
os próximos anos? Este tema aborda 
o aumento da incidência de câncer 
no Brasil e quais desafios tem que ser 
superados para um melhor controle desta 
neoplasia de alta complexidade. 
AVANÇOS NO CÂNCER
por Simone Bonecker
CAR-T: Por que essa terapia atraiu 
os holofotes recentemente e o que 
espera dela? Discuti o papel desta 
promissora terapia no câncer, desde seu 
desenvolvimento até o obstáculo de virar 
uma rotina clínica. 
FATOR DE RISCO
por Simone Bonecker
Fatores de risco não modificáveis para 
câncer de mama – São esses: gênero, 
idade, raça/etnia, fatores reprodutivos e 
hormonais, genética e histórico familiar 
e como estes afetam a probabilidade de 
desenvolvimento da doença. 
LEITURA DE ARTIGO CIENTÍFICO
“The inherited p53 mutation in the 
Brazilian populations” da Maria Isabel 
Achatz e Gerard Zambetti
4
7
15
21
25
Editorial
Mais um ano que se inicia e como todo mês de janeiro, refle-
timos, planejamos, idealizamos o próximo ano. Por isso, con-
vido a todos a uma reflexão sobre os desafios do câncer no 
Brasil, entendemos que este é um problema mundial, porém 
as estatísticas (taxa de incidência, taxa de mortalidade, cân-
ceres mais frequentes) entre os países desenvolvidos e em 
desenvolvimentos são bem diferentes, assim como seus de-
safios, por isso não entraremos no mérito global, e sim uma 
reflexão nacional do tema. 
Também não entraremos em debates políticos e sugestão 
de mudanças no sistema de saúde, apesar de concordamos 
que boa parte dos avanços necessários viriam dessa área de 
atuação. Atuamos na área Educacional e queremos incentivar 
o debate, a discussão, difusão e democratização do conhe-
cimento. Ao divulgarmos conhecimento para os profissio-
nais da saúde e população em geral, sobre os mecanismos 
de carcinogênese, fatores de risco, prevenção, importância 
do diagnóstico precoce, exames e tratamentos disponíveis, 
estaremos conscientizando sobre a importância das políticas 
de rastreamento populacional, favorecendo o diagnóstico 
precoce e aumentando taxas de cura. Queremos de maneira 
bem ambiciosa, contribuir com a redução nas taxas de inci-
dência e mortalidade desta neoplasia. A ignorância e o des-
conhecimento não farão esta doença sumir; o conhecimento 
e a informação podem identifica-la e trata-la o quanto antes. 
Ajude-nos na divulgação e difusão do conhecimento. Caso 
você deseje contribuir com alguma informação adicional ou 
identifique algum dado errado ou desatualizado, favor entrar 
enviar um e-mail para: contato@universidadedocancer.com.
br. Sua contribuição é imprescindível!
Nesta nossa primeira edição, trazemos como Personagem 
do Câncer, a pesquisadora Janet Rowley (1925-2013) por seu 
enorme papel não só nos estudos das leucemias, mas no en-
tendimento da biologia do câncer de uma maneira geral. Sua 
descoberta dos cromossomos envolvidos na translocação res-
ponsável pela formação do Cromossomo Filadélfia modificou 
a visão desta neoplasia. Antes achava-se que estes rearranjos 
eram uma consequência do câncer e com o tempo foi de-
monstrado que na verdade eles eram a causa. Permitindo o 
desenvolvimento de drogas alvo específicas para o tratamen-
to desta leucemia em particular, a Leucemia Mieloide Crônica 
e de outros tumores. Além do uso deste cromossomo e seu 
produto gênico como excelentes biomarcadores diagnósticos 
e de acompanhamento de doença residual mínima.
Simone Bonecker
4 Revista UC
Janet Rowley
(1925-2013)
Por que Janet Rowley? 
Por ser mulher? Por ser pioneira em sua área? Por que mudou o curso de uma doen-
ça? Simplesmente quis começar a edição desta revista trazendo uma pessoa que 
pessoalmente me inspirou, impactou minha pesquisa e carreira. Uma renomada 
pesquisadora que tive a honra de conhecer pessoalmente durante um congresso. 
Uma pessoa gentil, simpática e extremamente inteligente que tive o prazer de 
conhecer, em setembro de 2012, durante um Congresso Internacional de Leuce-
mia Mieloide Crônica (International Chronic Myeloid Leukemia Foudation). Ela e o 
também falecido e renomado John Goldman entregaram o prêmio, que leva seu 
nome “Rowley Prize”, para o pesquisador George Daley, por suas contribuições 
na área. Uma pesquisadora que pensava como tal, questionadora e intrigada, 
não ficava revivendo suas glórias passadas, falava sobre que estudava, sobre os 
avanços nos mecanismos patogenéticos da leucemia mieloide aguda. Ao final da 
palestra me apresentei, nem tinha entrado no doutorado ainda, faria a prova em 
dezembro deste mesmo ano. Reconheci o trabalho dela na área e entre outras 
perguntas técnicas acabei perguntando qual foi o maior desafio pessoal dela. Ela, 
com uma voz calma e branda disse: “Essa geração quer colher enquanto planta. 
Eu publiquei o artigo descrevendo a translocação 9,22 aos 48 anos, juntando as 
fotos em minha mesa de jantar, pois era o único lugar que meus filhos não me-
xiam, eu só trabalhava meio período nesta época. Muita coisa deu errado antes 
de dar certo, sempre dá, mas os artigos só mostram 
o que o deu certo. Seja persistente, você vai errar, 
seus experimentos darão errado, você vai pensar em 
desistir. Recomece quantas vezes forem necessárias, 
aprenda o básico para poder aplicar, pense simples, 
foque em responder a sua hipótese com base nos 
seus resultados e só depois seus frutos estarão pron-
tos para serem colhidos”. Ali percebi uma sabedoria 
que seria incapaz de conseguir lendo seus artigos e 
sua biografia, levei para o meu doutorado e para vida 
suas palavras. Ela estava certa, errei, os experimen-
tos deram errado, tivemos que readequar objetivos, 
mas fizemos colaborações incríveis, aprendi, cres-
ci, defendi o doutorado com três filhos depois de 5 
anos, e hoje continuo plantando para colher os meus 
frutos mais adiante. Entendo o processo e hoje, co-
meçando com esta revista, tenho o objetivo de plan-
tar conhecimento sobre câncer, para que no futuro, 
quem sabe, possamos colher prevenção da doença, 
diagnósticos precoces, redução na incidência por há-
bitos modificáveis e melhora na qualidade de vida! 
Juntos sei que podemos fazer a diferença. 
Personagem
por Simone Bonecker
5JAN-FEV-MAR 2020
Como ela mudou o curso das leucemias?
Foi ela quem definiu o seguinte paradigma: siga 
a alteração genética nas células cancerígenas e 
então encontrará uma maneirade encontrar a 
droga certa para o paciente. Há o câncer antes 
e depois de Rowley, costumavam dizer só cân-
cer de pulmão, agora é câncer de pulmão não 
pequenas células com mutação L858R no gene 
EGFR sensível ao inibidor tirosina quinase. 
Havia sido a primeira vez que o câncer foi asso-
ciado a um rearranjo cromossômico, não como 
causa e sim como consequência da doença. Ela 
permitiu uma melhor compreensão da pato-
gênese tumoral. Métodos diagnósticos foram 
mais precisos, tratamentos foram mais asserti-
vos. Suas descobertas permitiram o desenvolvi-
mento do primeiro inibidor alvo específico para 
um tipo de câncer, mudando de vez a curva de 
sobrevida dos pacientes com leucemia mieloi-
de crônica, que anteriormente tinha um tempo 
médio de sobrevivência de três a quatro anos e 
agora provavelmente vive sua vida normal, após 
a entrada deste inibidor. 
Janet reconheceu que o cromossomo Filadé-
lfia não era uma exclusão do cromossomo 21 
ou cromossomo 22, como se pensava, mas sim 
uma translocação recíproca entre os cromosso-
mos 9 e 22. Descreveuuma versão aberrante do 
cromossomo 22 truncado, o cromossomo Fila-
délfia (que recebeu este nome por ser a cidade 
dos pesquisadores que o identificaram, padrão 
de nomenclatura) acompanhado por um cro-
mossomo 9 alongado. Observou ainda que este 
estava presente entre mais de 95% dos pacien-
tes com leucemia mieloide crônica. 
Em 1977, ela identificou uma terceira translo-
cação, em pessoas com leucemia promielocítica 
aguda. Sua descoberta ajudou no entendimen-
to do mecanismo por trás de um medicamento 
eficaz: o ácido retinóico. Um derivado da vitami-
na A, o medicamento restaura a função normal 
do seu receptor de proteína interrompido. Mais 
uma vez revolucionado o tratamento desses pa-
cientes e aumentando sobrevida. 
Quem foi ela? 
Janet nasceu em Nova York, mas mudou-se 
com sua família para Chicago antes dos 2 anos 
de idade e passou maior parte de sua lá. Ela 
participou do que era então conhecido como 
uma faculdade de quatro anos, um programa 
instituído na Universidade de Chicago por Ro-
bert Maynard Hutchins, que era o Chanceler na 
época, mas teve que esperar nove meses para 
se matricular, porque a escola já havia atingido 
sua cota de mulheres: três em uma classe de 65 
anos. Em 1948, Janet formou-se em medicina 
pela Universidade de Chicago. 
No dia seguinte à sua graduação em 1948, ela se 
casou com um colega de classe, Donald Rowley, 
que mais tarde se tornou um patologista.Depois 
deum estágio no Serviço Público de Saúde e uma 
pequena passagemem clínicas pré-natais, ela 
começou a estudar neurologia. Em 1955 come-
çou a trabalhar com crianças com síndrome de 
Down e em 1959, um artigo publicado por Lejeu-
ne e colaboradores relatando a presença de um 
cromossomo 21 adicional na síndrome de Down, 
aguçaram seuinteresse pela citogenética. Quan-
do o marido tirou uma licença sabática na Ingla-
terra em 1961, ela recebeu uma bolsa de estudo 
com Laszlo Lajtha, um hematologista do Chur-
chill Hospital em Oxford e começou a examinar 
os cromossomos no laboratório. Com base nes-
sa experiência, foi apontada como pesquisadora 
associada da Universidade de Chicago em 1962, 
realizando os seus primeiros estudos de replica-
ção de normale cromossomos anormais.
De 1962 a 1975, passou a maior parte do tempo 
criando seus quatro filhos e, assim, trabalhou 
em sua pesquisa apenas3 dias por semana. Por 
causa de sua eficiência e resultados significa-
tivos, ela tornou-se professora associada em 
1971 e professora titular em 1978. 
Durante um segundo período sabático em Ox-
ford, ela aperfeiçoou técnicas para manchar os 
cromossomos, facilitando sua identificação. Ela 
foi a primeira a perceber que pedaços de cromos-
somos em algumas células cancerígenas huma-
nas haviam se quebrado e trocado de lugar - um 
fenômeno conhecido como translocação. Sabe-
se agora que a translocação que ela identificou 
6 Revista UC
entre os cromossomos 8 e 21 é responsável por 
até 12% dos casos de leucemia mielóide aguda. 
Ela publicou o trabalho em um artigo de autoria 
única em junho de 1973. No mesmo mês, ela 
publicou um artigo na Nature que caracteriza-
va uma anormalidade genética encontrada em 
pessoas com leucemia mielóide crônica.
A descrição de que a translocação 9;22 estava 
presente em pacientes com leucemia mieloide 
crônica foi encarada com ceticismo por seus 
pares e passou despercebida por alguns anos. 
Acreditavam que essa era consequência e 
não causa da doença. Após apresen-
tar seu trabalho em uma reunião 
no Young Turks, em 1973, nin-
guém fez nenhuma pergunta, 
seus resultados foram igno-
rados pela plateia. É interes-
sante notar que seu artigo de 
1973 na revista Nature foi um 
artigo de autor único, algo que 
raramente vemos nos dias de 
hoje. Mais tarde, diversos capítulos 
sobre citogenética, especificamente 
de leucemias e princípios genéticos, foram es-
critos e ela não foi nem mencionada ou convi-
dada a escrevê-los, como é o caso da edição 2ª e 
3ª, de 1977 e 1983, respectivamente da revista 
William Hematology. Ela e sua colega, Michelle 
Le Beau, foram convidadas somente na 4ª edi-
ção, em 1989. Esse foi um marco importante na 
aplicação dos cromossomos nas análises das 
leucemias e na carreira de Janet. Na década de 
1980, cada uma das anormalidades havia sido 
caracterizada molecularmente, revelando que 
as translocações criam proteínas de “fusão” 
que impulsionam o crescimento celular. Desde 
então, dezenas de translocações foram encon-
tradas em outros tipos de câncer.
Janet teve seu reconhecimento no mundo todo. 
Ela recebeu o Prêmio Dameshek da Sociedade 
Americana de Hematologia em 1982; foi eleita 
para a Academia Nacional de Ciências em 1983; 
apresentou a Palestra Stratton na Sociedade In-
Druker, B. Janet Rowley (1925-2013). Nature 505, 484 (2014) doi:10.1038/505484a
E Beutler. Introduction to Janet D Rowley. Leukemia 2000, 14, 511–512. 
Lejeune J, Gauthier M, Turpin R. Etude des chromosomes somatiques de neuf enfants mongoliens. CR Acad Sci 1959; 248: 
1721.
Rowley JD. A new consistent chromosomal abnormality in chronic myelogenous leukemia identified by quinacrine 
fluorescence and Giemsa staining. Nature 1973; 243: 290–293. Nature J. D. Rowley Nature 243, 290–293; 1973
ternacional de Hematologia em 1986; a palestra 
de Karnofsky na Sociedade Americana de Onco-
logia Clínica em 1987; ganhou o prêmio Mott do 
General Fundação de Pesquisa do Câncer Motor 
em 1989; recebeu o Prêmio Allen da Sociedade 
Americana de Genética Humana1991; foi Pre-
sidente da Sociedade Americana de Recursos 
Humanos Genética em 1993; recebeu o Prêmio 
Gairdner em 1996; o Prêmio de Pesquisa Clínica 
Albert Lasker em 1998; e a Medalha Nacional 
da Ciência em 1998. Além disso, ela foi reconhe-
cida por receber cinco diplomas honorários. 
Era uma militante ativa, apesar de 
servir no Conselho de Bioética do 
ex-presidente dos EUA, George 
W. Bush, ela criticou fortemen-
te a política do governo que 
proibia o financiamento fede-
ral de pesquisas com células-
tronco embrionárias. Em 2009, 
ela ficou ao lado do presidente 
Barack Obama quando ele sus-
pendeu a proibição.
Qual os desafios ainda existem? 
O desenvolvimento de metodologias cada vez 
mais sensíveis corroboraram com o avanço no 
conhecimento da genética do câncer. Permitin-
do detectar uma única célula tumoral em meio 
a diversas células sadias em seu microambien-
te, contribui para o desenvolvimento de medi-
camentos mais específicos, com menos efeitos 
colaterais. Este campo da oncologia que é a me-
dicina personalizada,tem desafios além dos be-
nefícios citados, mas gostem dela ou não, é um 
caminho sem volta. O foco da discussão não é se 
esta é ou não útile sim como devemos nos ade-
quar a ela. Principalmente levando em conside-
ração as questões regulatórias, capacitação de 
médicos e profissionais da saúde e em como tor-
ná-la acessível e sustentável para a maioria dos 
pacientes e para o próprio sistema de saúde.•
7JAN-FEV-MAR 2020
Desafios 
no CâncerO QUE ESPERAR PARA
OS PRÓXIMOS ANOS
por Simone Bonecker
8 Revista UC
Nós vivemos em um país em desenvolvimento, que tem pas-sado por diversas mudanças, entre elas o envelhecimento da população (Figura 1) e estilos de vida com hábitos alimenta-
res não-saudáveis e sedentarismo. O ônus do câncer tem aumenta-
do à medida que as doenças infecciosas tem sido controladas. 
No Brasil, o câncer continua no pódio das principais causas de mor-
te. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), cerca de 
582 mil novos casos foram registrados em 2018 e para este ano a 
estimativa se mantém quase a mesma, 600 mil novos casos.
Se você acha que cada vez mais pessoas têm sido diagnosticadas 
com câncer, sua impressão é corroborada com dados. Apesar de 
observarmos uma redução na mortalidade por câncer nas últimas 
duas décadas, o problema está longe do fim, pois o diagnóstico 
segue aumentando.Os resultados positivos sobre os índices de 
mortalidade podem ser relacionados à uma redução significativa 
na mortalidade por câncer de pulmão, um dos tipos mais comuns, 
por causa da queda no consumo de tabaco nos últimos anos. In-
clusive, o Brasil é pioneiro e exemplo no combate ao tabagismo e a 
consequência é o decrescimento das taxas relacionadas ao câncer 
de pulmão. Segundo dados do INCA, a doença foi responsável por 
26.498 mortes em 2015, mas desde meados da década de 1980, 
essa taxa de incidência vem diminuindo para os homens e desde 
meados de 2000 para as mulheres. Este padrão é observado devi-
do a adesão e cessação tardia das mulheres ao tabaco. No fim do 
século XX, o câncer de pulmão se tornou uma das principais causas 
de morte evitáveis.
No entanto, o desenvolvimento de novos tratamentos e estraté-
gias de prevenção, incluindo testes de triagem como: mamogra-
fias, exames de sangue e colonoscopia e os exames de rastreamen-
to genético, ainda são apontados como os principais responsáveis 
pela redução da mortalidade, levando a diagnósticos cada vez mais 
precoces e maiores taxas de cura. Em contrapartida, o maior obstá-
culo será adaptar os tratamentos a cada tipo de doença, a chama-
da medicina personalizada, uma vez que cada pessoa terá uma va-
riante única da doença, o que tornará o tratamento mais oneroso.
Figura 1: Pirâmide etária da população 
brasileira divida por faixa etária e 
separada pelo sexo no ano de 2010 e 
as estimativas para os anos de 2020 e 
2030. (Fonte: IBGE site)
Fatores de risco
São fatores (hábitos, am-
biente ou hereditário, por 
exemplo) associados ao 
aumento do risco de se 
desenvolver uma doença.
9JAN-FEV-MAR 2020
A redução das desigualdades entre as regiões e 
classes sociais também é um obstáculo a ser su-
perado. Apesar do Brasil ter conseguido aumen-
tar o percentual de casos de câncer de mama 
diagnosticados nos estágios in situ e I de 17,3% 
para 27,6% em 15 anos (2000 – 2015), essa pro-
porção ainda baixa se considerarmos a região 
Norte (12,7%), em comparação com as regiões 
Sul (29,2%) e Sudeste (30,8%). Isso pode ser in-
terpretado tanto pela dificuldade ao acesso a 
mamografia quanto pela desinformação desta 
necessidade. O percentual de mulheres brasilei-
ras, com idade entre 50 a 69 anos, que fizeram o 
exame em 2013, de acordo com a última Pesqui-
sa Nacional de Saúde, foi de 60%, mas de ape-
nas 38,7% na região Norte e 47,9% no Nordeste, 
bem abaixo das regiões Sul (64,5%) e Sudeste 
(67,9%). Quando segmentadas pelo nível de 
instrução, as mulheres que realizaram mamo-
grafia, com a mesma faixa etária, foi observado 
que 80% das que tinham nível superior fizeram 
o exame, em contrapartida, somente 50% entre 
as que possuíam fundamental incompleto ou 
sem instrução.
Outro desafio, um dos maiores talvez, seja es-
clarecer os mitos que cercam a doença. Com 
tantas pessoas ainda acreditando em chás mi-
lagrosos e sem clareza sobre a importância do 
estilo de vida para a prevenção desta doença. 
Como bem pontuou o Dr Jean Rene Clemenceau 
no congresso anual da sociedade americana de 
Oncologia Clínica de 2019 (do inglês: American 
Society of Clinical Oncology), PREVENÇÃO e 
EDUCAÇÃO são as ações fundamentais para me-
lhorar o atendimento ao câncer. O investimen-
to em capacitação de pessoas, equipamentos e 
campanhas educacionais também são desafios 
a serem enfrentados nós próximos anos, princi-
palmente com o avanço tão rápido do conheci-
mento nesta área. Manter a atualização de re-
comendações, novos protocolos é um obstáculo 
que pode ser superada por meio de educação 
continuada desses profissionais. 
Se um terço de todos os cânceres tem quatro 
fatores de risco em comum (tabagismo, dieta e 
obesidade, álcool e sedentarismo),talvez a pri-
meira ação para reduzir a incidência de alguns 
cânceres seja fosse a conscientização da im-
portância dos hábitos de vida mais saudáveis, 
como: prática regular de exercícios físicos, in-
gestão de alimentos saudáveis, não fumar, evi-
tar a ingestão de bebidas alcoólicas, para citar 
alguns. Estas ações podem ser implementadas 
com baixíssimo custo, veja alguns exemplos so-
bre a importância do combate e algumas medi-
das que podem ser adotadas. 
 
Figura 2: quatro principais fatores de risco 
que estão associados a um terço de todos os 
cânceres: sedentarismo, tabagismo, consumo 
de bebida alcoólica e dieta e obesidade. 
10 Revista UC
O desafio ao tabagismo
Importância
Se ninguém fumasse no Brasil, 1 a cada 3 mortes por câncer se-
riam evitadas! Considerando principalmente: câncer, doença 
cardíaca e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), 156.216 
mortes anuais poderiam ser evitadas. Chocante esse número, né?
Aproveito para esclarecer que isso NÃO quer dizer que: Todos as 
pessoas que fumam terão câncer ou que os não fumantes não de-
senvolverão câncer. Quer dizer simplesmente que, estatisticamen-
te os fumantes possuem uma maior probabilidade de desenvolver 
diversos tipos de câncer quando comparado aos não fumantes.
A associação entre o tabaco e o câncer de pulmão é conhecida 
deste os primeiros trabalhos publicados no JAMA (Journal of the 
American Medical Association) em 1950. Quando falamos de ci-
garro, sem dúvida o primeiro câncer que vem em nossas mentes 
é o de pulmão, e de fato, 90% de todos os cânceres de pulmão 
tem como fator de risco principal o tabagismo. Mas esse ainda é 
responsável pelos cânceres de: bexiga; pâncreas; fígado; colo do 
útero; esôfago; rins; de laringe (cordas vocais); na cavidade oral 
(boca); faringe (pescoço); estômago e leucemia mieloide aguda.
O que é e por que faz mal? 
Entende-se por tabagismo uma doença crônica causada pela de-
pendência à nicotina, uma das 4.720 substâncias químicas que 
estão presentes na fumaça do cigarro e um dos mais agressivos. 
Inclusive, este é classificado como doença e está inserido no Có-
digo Internacional de Doenças (CID-10) no grupo de transtornos 
mentais e de comportamento devido ao uso de substância psi-
coativa. Há diversas variedades de produtos derivados do tabaco 
que podem ser usados de diversas formas: fumo/inalado, aspira-
do, mascado ou absorvida pela mucosa oral, sendo no Brasil, o 
fumado a forma predominante. 
Conhece-se pelo menos 70 agentes cancerígenos (= produtos, 
neste caso, químico, causador de câncer) presentes na fumaça, 
entre eles: o arsênio, amônia, níquel, benzopireno, cádmio, nitro-
saminas, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP), resíduos 
de agrotóxicos, substâncias radioativas, como o Polônio 210, ace-
tona, naftalina e até fósforo P4/P6, substâncias usadas em vene-
no para matar rato.
Cigarros eletrônicos (também conhecidos como Dispositivos ele-
trônicos para fumar), narguilé e derivados–estudos sobre emis-
sões dos cigarros eletrônicos identificou mais de 80 compostos 
em seus aerossóis, entre eles: nicotina, formaldeído, acetaldeído, 
nitrosaminas, metais pesados, como níquel, cromo, manganês e 
11JAN-FEV-MAR 2020
chumbo (associados a alguns tipos de cân-
cer, danos em órgãos e danos aos sistemas 
imunológico e cardiovascular), compostos 
igualmente cancerígenos.Ainda, o uso do 
cigarro eletrônico quadriplicou a chance de 
um indivíduo começar a fumar, segundo uma 
revisão sistemática de estudos científicos. 
Usá-lo em ambientes fechados também po-
de causar danos à saúde relacionados à ex-
posição ao aerossol emitido, aproveitamos 
para lembrar que a comercialização, impor-
tação e propaganda deste no Brasil é proibi-
da, segundo Resolução da Diretoria Colegia-
da (RDC) da Agência Nacional de Vigilância 
Sanitária (Anvisa), nº 46 de 2009. Já o nar-
guilé, o INCA alerta: “Parece inofensivo, mas 
fumar narguilé é como fumar 100 cigarros”. 
Tabagismo passivos
Entende-se como a inalação da fumaça de 
derivados do tabaco por indivíduos não fu-
mantes que convivem com fumantes em 
ambientes fechados respirando as mesmas 
substâncias tóxicas que o fumante inala. Po-
de ser: cigarro, charuto, cigarrilhas, cachim-
bo, narguilé ou outros. 
Os fumantes passivos, expostos a inalação 
involuntária à fumaça do tabaco, também 
possuem o risco, se expostos por longos pe-
ríodos, a câncer de pulmão e doenças car-
díacas (doença pulmonar obstrutiva crônica 
- enfisema pulmonar e bronquite crônica). 
Uma vez que a fumaça que sai da ponta do 
cigarro e se difunde homogeneamente no 
ambiente, contém em média três vezes mais 
nicotina, três vezes mais monóxido de carbo-
no e até 50 vezes mais substâncias cancerí-
genas do que a fumaça que o fumante inala.
O que fazer? 
Como a maioria dos fumantes se torna de-
pendente até os 19 anos, a Organização 
Mundial da Saúde (OMS) considera o taba-
gismo uma doença pediátrica. Por isso, para 
conter a epidemia do tabagismo, diversas 
medidas fazem-se necessárias, entre elas: 
conscientização sobre o perigo do cigarro, 
principalmente para adolescentes e jovens, 
incluindo o alerta aos “novos” tipos de ci-
garros, como cigarros eletrônicos e narguilé; 
controlar o avanço de vendas para menores 
de idade e propaganda, principalmente na 
internet, para esses jovens, assim como ofe-
recer programas de formações específicos 
voltados aos profissionais da saúde, da edu-
cação e outros.
Controle do tabaco no Brasil
Esse é um dos tópicos que devemos nos 
orgulhar do nosso país, temos que avançar 
nesta área, sem dúvida, sempre há, mas o 
trabalho já realizado e os resultados obtidos 
são notórios. Além do percentual de fuman-
tes acima dos 18 anos continuar caindo, de 
15,6% para 9,3%, ou redução de 40%, no pe-
ríodo de 2006 a 2018.O Brasil foi o segundo 
país (atrás da Turquia) a implementar as seis 
estratégias, todos com nível de excelência 
das propostas no pacote de intitulado MPo-
wer contra o tabagismo. Este pacote inclui: 
• Monitorar (Monitor) o uso do tabaco 
e políticas de prevenção
• Proteger (Protect) a população contra 
a fumaça do tabaco 
• Oferecer (Offer) ajuda para a cessação 
do fumo
• Advertir (Warn) sobre os perigos do 
tabaco
• Fazer cumprir (Enforce) as proibições 
sobre a publicidade, promoção e patrocí-
nio do tabaco
• Aumentar (Raise) os impostos sobre o 
tabaco
12 Revista UC
O desafio da obesidade
Importância
Sobrepeso, obesidade e o ganho de peso na fase adulta estão as-
sociados a 13 tipos de cânceres: no endométrio (corpo do útero), 
esôfago (adenocarcinoma), estômago (cárdia), fígado,intestino 
(cólon e reto), mama (mulheres na pós-menopausa), meningio-
ma, mieloma múltiplo, rins, ovário, pâncreas, tireóide, vesícula 
biliar e possivelmente linfoma difuso de grandes células B, mama 
(homens) e próstata (em estágio avançado). 
Há diversos estudos que mostram a associação entre a obesidade 
e os cânceres supracitados, entre eles: um que analisou 1.411 mu-
lheres com câncer de endométrio (1.144 do tipo I e 267 do Tipo II) 
e observou que obesidade é significativamente mais prevalente 
no grupo com câncer endometrial de tipo I em comparação às 
que têm tipo II (66% versus 51%) especialmente em afro-ameri-
canas, no entanto a obesidade não se associa à doença de tipo II.
Outro estudou fez uma análise retrospectiva de pacientes com cân-
cer de ovário e 34% delas eram obesas e a obesidade foi associada 
a pior sobrevida global em mulheres com câncer epitelial ovariano 
seroso papilar de baixo grau. Porém, não se associou à sobrevida 
em pacientes com formas mais graves da doença, sugerindo que 
outras comorbidades poderiam influenciar a mortalidade. 
A obesidade infantil é outro fator de extrema importância, uma 
que sabe-se, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer, 
que quanto maior o índice de massa corporal (IMC) na infância e 
na adolescência, maior o risco de câncer e/ou de obesidade na 
fase adulta. 
O que é e por que faz mal? 
Obesidade é considerada uma doença multifatorial, ocorrendo 
pela interação de fatores genéticos e condições do ambiente, en-
tretanto muitos dos mecanismos fisiopatológicos que levam àela 
são ainda desconhecidos.
O excesso de gordura no corpo provoca um processo inflamatório 
e aumenta a produção de hormônios que podem causar danos 
às células, provocando ou acelerando o surgimento da doença. A 
obesidade, principalmente em níveis mais altos de índice de mas-
sa corporal, e a obesidade abdominal, medida pela circunferência 
da cintura, associam-se significativamente a maior mortalidade 
de todas as causas do que peso normal. 
13JAN-FEV-MAR 2020
O que fazer?
Obesidade e sobrepeso devem ser preferencial-
mente manejados com medidas não medica-
mentosas, com ênfase em dieta saudável (evitar 
o consumo de alimentos e preparações com alto 
teor de gordura saturada, gordura trans, açúcar 
livre e sal, como lanches e fast foods salgados 
ou açucarados; o consumo rotineiro de bebidas 
açucaradas) e atividade física (a recomendação 
é que todos se exercitem regularmente durante 
uma média de 3 a 4 horas por semana), segundo 
recomendação da Organização Mundial da Saú-
de. Assistir televisão também pode influenciar 
no ganho de peso corporal, uma vez que as pro-
pagandas e o hábito de ficar sentado por muitas 
horas favorecem o comportamento sedentário 
e o consumo de alimentos ricos em calorias, 
gordura, açúcar e sal como biscoitos, salgadi-
nhos, doces, entre outros.
Ainda, o estímulo a que profissionais da saúde 
se aprimorem nos cuidados de pessoas com 
sobrepeso e obesidade parece constituir-se em 
fator positivo no controle dessas manifestações. 
Há ausência de treinamento em estratégias de 
mudança de comportamento e escassa expe-
riência em trabalhar em equipe multiprofissio-
nal com pacientes obesos.
Combate a obesidade no Brasil
Segundo dados do Ministério da Saúde, o nú-
mero de obesos no país aumentou 67,8% ente 
2006 e 2018. Ao mesmo tempo, a população 
passou a adquirir hábitos mais saudáveis, au-
mentando o consumo de legumes, verduras e 
frutas. Uma pesquisa realizada em 2018, nas ca-
pitais brasileiras e DF mostrou que a frequência 
de adultos obesos foi de 19,8%, sendo ligeira-
mente maior entre as mulheres (20,7%) do que 
entre os homens (18,7%). A frequência de obe-
sidade aumentou com a idade até os 44 anos 
para homens e até os 64 anos para mulheres. 
Se separamos os níveis de escolaridade em três 
estratos: 0 a 8 anos, 9 a 11 anos e 12 ou mais 
anos de escolaridade, foi observada uma redu-
ção na frequência da obesidade, para ambos os 
sexos, com o aumento do nível de escolaridade, 
de forma notável para mulheres. 
Melhorar os hábitos alimentares das crianças e 
incentivá-las a prática de esportes também são 
medidas necessárias que evitarão a obesidade 
infantil, adulta e aparecimento de doenças não 
transmissíveis. E será o consumo alimentar em 
idade precoce que defi¬nirá os padrões de con-
sumo ao longo da vida.
14 Revista UC
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morbidade-e-mortalidade-evidencias-sobre-o-manejo-com-medidas-nao-medicamentosas-5&category_slug=serie-
uso-racional-medicamentos-284&Itemid=965 Acessado em 20/12/2019
Outra notícia importante, recentemente (17 de dezembro de 2019) foi a aprovação 
pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de uma resolução que deter-
mina a eliminação da gordura trans nos alimentos industrializados no Brasil, com re-
dução na utilização até 2021 e eliminar definitivamente a partir de 2023. 
Vacinação 
Outro fator importante que vale a pena ser destacado são os cânceres que podem 
ser evitados através da vacinação, como os que são causados por vírus: vírus da he-
patite B (HBV, do inglês hepatitis B virus), que pode levar ao carcinoma hepatocelular 
(câncer de fígado) e o papiloma vírus humano (HPV, do inglês humanpapillomavirus) 
associado ao câncer cervical (também conhecido como câncer de colo do útero). Para 
ambos, já há disponível, na própria rede pública, vacinação contra os vírus supracita-
dos. O desafio talvez seja a conscientização na população de risco de que esses são 
cânceres de fácil prevenção e esclarecimentos tanto sobre a segurança do processo 
de vacinação, com combate a fakenews e divulgação da gravidade da doença.
Apesar dos enormes desafios em combater o câncer, pode-se perceber através da 
conscientização da população e divulgação do conhecimento correto já conseguire-
mos lidar com essa doença por uma outra perspectiva. Conseguiremos evitar e reduzir 
a incidência de vários tipos de cânceres e mais recursos poderão ser disponibilizados 
para o diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos cânceres com fatores de ris-
cos não modificáveis, como por exemplo: gênero, idade, raça e etnia, fatores reprodu-
tivos e hormonais, histórico familiar e genética.•
15JAN-FEV-MAR 2020
avanços
no câncer
CAR-T
Receptor de Antígeno 
Quimérico de Células T
Por que esta terapia atraiu os 
holofotes recentemente?
O que esperar dela?
por Simone Bonecker
16 Revista UC
Durante anos, os fundamentos do tratamento do câncer eram: cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Nas últimas duas décadas, terapias alvo específicas, que são medi-camentos direcionados às células cancerígenas, por se concentrarem em alterações 
moleculares específicas vistas principalmente nessas células – também se consolidaram co-
mo tratamentos padrão para muitos tipos de câncer. Entre eles: Imatinibe (Gleevec®), para 
o tratamento de leucemia mieloide crônica, tumores estromais gastrointestinais (GISTs) e 
outros e o Trastuzumabe (Herceptin®), que é um anticorpo monoclonal anti-HER-2 para 
câncer de mama. 
Mas, nos últimos anos, a imunoterapia – terapia que recruta e fortalece o poder do 
sistema imunológico de um paciente para atacar tumores – surgiu como o que muitos 
na comunidade de câncer chamam agora de “quinto pilar” do tratamento do câncer.
Até recentemente, o uso da terapia com células T, o CAR-T, era restrito a pequenos 
ensaios clínicos, principalmente em pacientes com leucemias agudas em estágio 
avançado, que já haviam falhado a todas as terapias anteriores. No entanto, esses 
tratamentos atraíram a atenção dos pesquisadores e do público devido às respostas 
notórias que eles produziram em alguns pacientes – crianças e adultos – para os quais 
todos os outros tratamentos pararam de funcionar.
Apesar dos primeiros ensaios clínicos publicados com essa metodologia serem com pa-
cientes de tumores sólidos, os primeiros resultados satisfatórios foram no tratamento 
de linfomas, com CARs anti-CD19, sob o comando do grupo do Dr. Steven Rosenberg e 
leucemias agudas. 
A terapia com CAR-T foi aclamada como uma cura para o câncer por alguns meios de co-
municação, mas o que realmente é essa “tecnologia milagrosa” e o que realmente podemos 
esperar dela?
17JAN-FEV-MAR 2020
O que são as terapias com CAR-T (receptor de antígeno qui-
mérico de células T)? 
É uma imunoterapia que utiliza células T (um tipo de célula 
do sistema imunológico) autólogas ou alogênicas modifica-
das geneticamente em laboratório que passam a expressar, 
em sua superfície, receptores quiméricos de antígeno (do 
inglês: Chimeric Antigen Receptors, CARs) específico pa-
ra um antígeno tumoral. Após uma expansão celular ex 
vivo e reinfusão no paciente. Essas células, agora são 
capazes de reconhecer especificamente o tumor e ata-
ca-lo (Figura 3).
CARs são proteínas quiméricas de um fragmento de 
cadeia única variável de um anticorpo monoclonal 
específico com um ou mais domínios de sinaliza-
ção intracelular de receptores de células T.
As terapias celulares em si não são recentes, já 
vem sendo utilizadas na medicina desde a déca-
da de 50 através do transplante de medula ós-
sea que envolve a infusão de células – tronco 
hematopoiéticas. A imunoterapia com células 
CAR-T insere-se no grupo das Terapias Celu-
lares Adotivas (ACTs, do inglês: adoptive cell 
transfer), juntamente com os linfócitos infiltran-
tes de tumor (TILs, do inglês: tumor-infiltrating 
lymphocytes) e receptor específico de células T 
(TCR, do inglês: T-cell receptor). As ACTs são um ti-
po de imunoterapia de extrema complexidade que 
se baseia na administração de células T anti-tumo-
rais autólogas (células do próprio paciente) ou alogê-
nicas (células de um dador) modificadas geneticamen-
te ou não, dependendo da sua origem. 
Em linhas gerais, após a ligação entre o antígeno alvo e 
o CAR, a célula CAR-T ficará ativada, proliferando e des-
truindo a célula cancerígena alvo, independentemente do 
nível de expressão das moléculas MHC (Complexo Principal 
de Histocompatibilidade, do inglês: Major Histocompatibi-
lity Complex). Permitindo então a manutenção da atividade 
anti-tumoral, mesmo em situações de escape do sistema imu-
ne típicas dos microambientes tumorais imunossupressores. 
Figura 3: Representação gráfica de uma 
célula T modificada para expressar o CAR 
(receptores quiméricos de antígeno.
18 Revista UC
Como funciona?
A obtenção da matéria-prima para a produção das células CAR-T varia de acordo com o tipo de transfe-
rência celular – na via alogênica as células recolhidas provêm de um doador saudável e na via autóloga 
as células são recolhidas do próprio paciente. 
A partir de amostras do sangue periféricodo paciente, o material celular é coletado através de um 
processo de filtração sanguínea (leucaferese) que permite a obtenção de amostra não seletiva de 
células sanguíneas mononucleares periféricas (PBMC). Apesar da mistura policlonal dos linfócitos 
T (inclui linfócitos de função efetora (Tcitox), reguladora (Treg) e auxiliar (Thelper) serem maioria, es-
te filtrado contém outros tipos de células. Essa variabilidade na composição celular é um fator 
incontrolável e com um grande impacto no processo de fabricação das células CAR-T. Por isso, 
posteriormente a separação o passo seguinte é a remoção ou diluição desses outros grupos 
celulares, através de processos de enriquecimento do produto com linfócitos T, promovendo 
sua expansão e ativação. 
Após a expansão ex vivo, os linfócitos são transduzidos por meio de um vetor viral que con-
tém o gene codificante do CAR. Vários vetores podem ser utilizados, outro diferencial cru-
cial no protocolo, preferencialmente para a transdução das células CAR-T são utilizados os 
vetores retrovirais (exemplo: lentivírus ou sleeping beauty), isso devido à sua capacidade 
de integração genética estável, que possibilita a expressão prolongada do transgene na 
célula infetada. 
A inserção do transgene (gene contendo o CAR) ocorre a partir da infeção viral dos lin-
fócitos T in vitro. A taxa de infeção e a consequente expressão do CAR dependem do 
título infeccioso do vírus e devem ser bem quantificadas para que se possa atingir o 
resultado esperado. As células T modificadas são identificadas contendo o antígeno 
alvo, e amplificadas, em meio de cultura até atingirem os níveis terapêuticos, para 
depois serem infundidas no paciente.
Por fim, as células T CAR são infundidas no paciente, precedida por um regime de 
quimioterapia com “linfodepletação”. As células recém infundidas se multiplicam in 
vivo, reconhecem e matam as células do tumor que expressam o antígeno em suas 
superfícies (Figura 4).
Figura 4: Fluxograma ilustrativo 
da terapia com receptor de 
antígeno quimérico de células T.
19JAN-FEV-MAR 2020
Por que o CAR utilizado nas terapias é anti-CD19?
Porque a expressão extracelular da proteína CD19 es-
tá restrita à linhagem das células B, incluindo células 
precursoras, saudáveis, malignas e plasmócitos. Lo-
go, a super expressão desta proteína à superfície dos 
linfócitos malignos torna esta terapia específico para 
estas doenças, particularmente leucemias e linfomas. 
Essa é uma terapia que tem como alvo anti-CD19, logo 
a presença destes antígenos em células sadias, acar-
retará em igual destruição, levando à aplasia medular 
e periférica de células B. Esse é um efeito adverso ine-
vitável associado ao sucesso da terapia com células 
CAR-T anti-CD19, que normalmente é controlado com 
a administração intravenosa mensal de imunoglobuli-
nas como terapêutica de substituição. 
Outros CAR estão em ensaios clínicos, como para o 
tratamento de leucemia mieloide aguda, o CD123 e 
CD33, antígenos de maturação das células B e mielo-
ma múltiplo, o CD138. 
EfEitos advErsos
Como toda e qualquer terapia, o paciente pode apresentar efeitos colaterais leves até graves, entre os efei-
tos relatos com este tratamento durante ensaios clínicos, os mais comuns foram: síndrome de liberação de 
citocinas, principalmente enquanto as células com CAR se multiplicam para combater a doença (entre os sin-
tomas estão: febre, diminuição da pressão arterial); neurotoxicidade ou alterações cerebrais que provocam 
confusão, convulsões e dores de cabeça, além de infecções, diminuição das taxas sanguíneas, fadiga, lesão 
renal, entre outros. 
CAR-T aprovados para uso nos EUA
Em 2017, dois novos produtos com célu-
las T CAR foram aprovados pela agência 
regulamentar Norte Americana (FDA, do 
inglês: Food and Drug Administration) 
uma para o tratamento de crianças com 
leucemia linfoblástica aguda e a outra 
para adultos com linfomas avançados. 
KYMRIAH® lançado pela Novartis, é a úni-
ca terapia aprovada para duas indicações 
distintas: linfoma não-Hodgkin e leucemia 
linfoblástica aguda de células B e YESCAR-
TA® pela Kite Pharma3 para tratamento de 
linfomas não Hodgkin. 
Segundo especialistas, ainda é cedo para 
afirmar que resultados similares serão en-
contrados contra tumores sólidos, como 
câncer de mama e colorretal.
Desafios para sua incorporação na prática clínica
Segundo Dr. Rosenberg após décadas de pesquisas minuciosas, o progresso com as células CAR-T e 
outras abordagens acelerou bastante nos últimos anos, com os pesquisadores desenvolvendo uma me-
lhor compreensão de como essas terapias funcionam nos pacientes e traduzindo esse conhecimento 
em melhorias na maneira como são desenvolvidas e testadas. Por isso, ele acredita que nos próximos 
anos veremos um progresso dramático que forçará os limites do que muitas pessoas pensavam ser 
possível com esses tratamentos adotados baseados em transferência de células.
Ainda, o desenvolvimento de células T CAR representa uma convergência de ideias vários campos cien-
tíficos, mas o sucesso até agora foi limitado às neoplasias das células B. Estender essa abordagem a ou-
tros tipos de câncer exigirá o desenvolvimento de estratégias baseadas em compreender os obstáculos 
colocados pela heterogeneidade do tumor e pelo microambiente do tumor que está surgindo de sofis-
ticadas ferramentas analíticas e modelos superiores. Essas estratégias tirarão proveito da capacidade 
sem precedentes de manipular geneticamente células T para conferir novas funções, permitindo-lhes 
atingir células tumorais e persistir e funcionar de maneira hostil circunstâncias. 
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Há muito que ser feito como capacitação de profissionais nas mais diversas áreas da 
saúde, questões regulatórias, padronização e validação das diferentes etapas de pro-
dução e infusão dessas células modificadas no paciente. Cada etapa é de suma impor-
tância para que o resultado final seja o esperado. Não menos importante, é a questão 
do custo. A terapia custa em torno de 475 mil dólares, excluindo custos médicos as-
sociados à administração do tratamento. No Brasil já há diversas iniciativas visando a 
redução de custos. 
Segundo Kenneth Anderson, presidente da Sociedade Americana de Hematologia, 
aprovação desses medicamentos pelo FDA deve ser comemoradas, mas lembrou que 
mais pesquisas são necessárias para tornar esta terapia mais eficaz para uma popu-
lação maior, reduzir os efeitos colaterais graves durante o tratamento e, finalmente, 
encontrar uma aplicação mais ampla além dos tumores hematológicos.
No Brasil, essa terapia só pode ser utilizada dentro de ensaios clínicos controlados e o 
primeiro caso de sucesso no Brasil foi realizado pelo Dr. Renato Luiz Cunha do Centro 
de Terapia Celular (CTC-Fapesp-USP) do Hemocentro em um paciente com linfoma 
não Hodgkins que já havia falhada a diversas terapias. Há outras iniciativas no Brasil, 
inclusive no INCA, sob a orientação do Dr. Martin Bonamino.•
*Nota: O paciente 
em relatado veio a 
falecer meses depois 
por traumatismo 
encefálico grave 
provocado por queda 
em casa. Aproveitamos 
a oportunidade para 
prestar solidariedade 
para a família.
21JAN-FEV-MAR 2020
Fatores de 
Risco
PARA CÂNCER DE MAMA
NÃO MODIFICÁVEIS
IMPORTANTE
Se você, leitor (a), tiver fatores de risco para câncer de mama, converse com seu médico sobre maneiras de 
diminuir seu risco e sobre como rastrear o câncer de mama, lembre-se que as informações aqui são mera-
mente educativas e devem ser interpretadas dentro deste contexto.
por Simone Bonecker
22 Revista UC
Terminologias como “aumento do risco” ou “maior probabilidade de desenvolver cân-cer de mama” são confundidas com “terei 
câncer de mama” se não forem bem contextua-
lizadas. Para poder avaliar quão alto é o risco, 
precisa primeiro saber em que linha de base o 
“risco aumentado” se baseia.
Estudos demonstraram que o risco para o de-
senvolvimento de câncer de mama é devido a 
uma combinação de fatores. Os principais fato-
res que influenciam o risco incluem: ser mulher 
e envelhecer, uma vez que a maior incidência 
deste câncer acomete mulheres com 50 anos 
ou mais.Ter um fator de risco não significa que o 
indivíduo terá a doença e vale ressaltar que ca-
da fator de risco possui efeito próprio. A maioria 
das mulheres tem alguns fatores de risco, mas a 
maioria não tem câncer de mama. 
Fator de risco é qualquer situação que aumente 
a probabilidade de ocorrer uma doença, neste 
caso câncer de mama. Este pode ser divido em 
dois tipos: os modificáveis e os não-modificáveis.
Os modificáveis, como o próprio nome já diz es-
tá relacionado aos hábitos de vida de um indiví-
duo e podem ser alterados ao longo de sua vida, 
entre eles: sedentarismo, obesidade, excesso 
de consumo de bebida alcoólica, radiação ioni-
zante em tórax, uso de tabaco, algumas formas 
de terapia de reposição hormonal (aquelas que 
incluem estrogênio e progesterona) tomadas 
durante a menopausa por mais de cinco anos e 
certos contraceptivos orais (pílulas anticoncep-
cionais) também podem aumentar o risco de 
câncer de mama.
Enquanto que os não modificáveis seriam os que 
inerentes às pessoas e não podem ser alterados 
por mudança de hábitos ou por vias conhecidas 
até o momento, como: gênero, idade, raça/et-
nia, fatores reprodutivos e hormonais, genética 
(presença de mutações herdadas, por exemplo) 
e histórico familiar de câncer de mama ou ou-
tros tipos de cânceres (Figura 5). 
FATORES REPRODUTIVOS 
E HORMONAIS
Menarca (primeiro fluxo menstrual) pre-
coce, antes dos 12 anos e o início da 
menopausa após os 55 anos, expõem as 
mulheres a hormônios por mais tempo, 
aumentando o risco de câncer de mama. 
Um estudo caso-controle indicou que 
quanto mais precoce a menarca, aumen-
ta o risco de câncer de mama em duas 
vezes, e dados chineses, com 11.889 mu-
lheres corroboram este estudo mostran-
do que também demonstrou associação 
entre a menarca precoce e desenvolvi-
mento desta neoplasia. Porém, não há 
unanimidade, uma pesquisa publicada 
com 151 mulheres japonesas, os auto-
res não demonstraram associação entre 
o risco de câncer de mama e a idade na 
menarca ou na menopausa. O mesmo foi 
observado em um estudo italiano do tipo 
caso – controle com mais de 1.000 mu-
lheres (1.041 com diagnóstico de câncer 
de mama comparado com 1.002 contro-
les – mulheres com doenças agudas não 
neoplásicas e não hormonais). 
Já no Brasil, alguns estudos corroboram 
com a associação entre uma menarca 
precoce, mas considerando esta antes 
dos 11 anos, com o aparecimento do cân-
cer de mama. 
Figura 3: Fatores de risco não modificáveis para câncer de mama. 
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GÊNERO
O câncer de mama geralmente é uma doença 
exclusiva das mulheres e é uma doença maligna 
rara em homens, responsável por menos de 1% 
de todos os casos de câncer. O câncer de mama 
ocorre com mais frequência em idosos homens 
adultos que tiveram desequilíbrio hormonal, ex-
posição à radiação e história familiar de câncer 
de mama, sendo mutação do gene BRCA2 o fa-
tor de risco mais comum.
No geral, cerca de 130 em 1.000 mulheres terão 
câncer de mama durante a vida, enquanto que 
1 em cada 1.000 homens também terão em al-
gum momento de suas vidas.
IDADE
Após o gênero, a idade é o fator de risco 
conhecido mais importante para câncer de 
mama. A taxa de incidência aumenta signi-
ficativamente com a idade e atinge seu pico 
por volta dos 50 anos de idade, depois dimi-
nui ou permanece gradualmente constante, 
como pode ser observado na tabela 1. Ape-
sar disso, tumores de mama em mulheres 
mais jovens aparecem em tamanho maior, 
estágios avançados, linfonodos positivos e 
sobrevivência mais fraca.
Tabela 1: Número de mulheres que desenvolverão câncer de 
mama dentro dos próximos dez anos classificadas de acordo 
com a idade ao diagnóstico.
Idade
Número de mulheres que desenvolverão câncer 
de mama dentro dos próximos dez anos
30 anos 5 a cada 1.000 mulheres
40 anos 15 a cada 1.000 mulheres
50 anos 25 a cada 1.000 mulheres
60 anos 36 a cada 1.000 mulheres
70 anos 34 a cada 1.000 mulheres
RAÇA/ETNIA
Dados americanos mostram que mulhe-
res brancas são um pouco mais propensas 
a desenvolverem câncer de mama quando 
comparado a mulheres afro-americanas, his-
pânicas e asiáticas. No entanto, as mulheres 
afro-americanas, normalmente apresentam 
um subtipo mais agressivo da doença, em 
estágio avançado e diagnosticado em uma 
idade jovem e maior probabilidade de mor-
rer de câncer de mama. Algumas dessas 
diferenças nos resultados podem ser devi-
do à dificuldade de acesso à mamografia e 
atendimento médico precário, bem como a 
vários padrões de estilo de vida (hábitos ali-
mentares e questões de peso, por exemplo) 
que são mais comuns em alguns grupos étni-
cos do que em outros. Esses fatores podem 
ser alterados e aprimorados.
Vale notar que muitos estudos tem como ba-
se a população americana ou europeia, que 
não são tão miscigenadas quanto a nossa. 
HISTÓRICO FAMILIAR
Este é um fator de risco que depende de algu-
mas informações adicionais, porque o simples 
fato de um indivíduo ter um parente com câncer 
de mama não necessariamente aumenta o ris-
co. Por exemplo, se avó ou prima do probando 
(indivíduo que está sendo analisado) tiveram 
câncer de mama (ou seja, um parente de segun-
do grau ou um parente de terceiro grau), o ris-
co deste dificilmente será afetado. Porém, se a 
mãe ou irmã (parente de primeiro grau) desen-
volverama doença, isso duplicará o risco. Mas 
se apenas um dos parentes próximos teve cân-
cer de mama, isso não significa necessariamen-
te que o probando tem predisposição genética 
causada por um gene mutado. O risco de ocor-
rência do câncer de mama praticamente dobra 
e, quando se trata de dois parentes de primeiro 
grau, aumenta para cerca de três vezes. O risco 
para as mulheres que já tiveram um câncer de 
mama, mesmo sem história familiar, é aumen-
tado em de três a quatro vezes para um novo 
câncer de mama. 
A presença de câncer de mama em vários pa-
rentes próximos pode realmente sugerir que o 
câncer foi causado por uma mutação genética 
transmitida na família ou ainda vários cânce-
res sem necessariamente ser câncer de mama, 
também podem indicar que há uma mutação 
familiar que aumente a predisposição do apare-
cimento desta doença.
24 Revista UC
GENÉTICO
Não é o principal fator de risco, visto que somente 5 a 10% dos casos de câncer de 
mama são atribuídos a fatores hereditários como as mutações germinativas nos genes 
BRCA1 e BRCA2, que são responsáveis pela síndrome de cânceres de mama e ovário he-
reditários. A presença de mutações genéticas patogênicas nesses genes está associada 
a uma maior probabilidade de desenvolvimento de câncer de mama e ovário e o resul-
tado genético pode ajudar ao geneticista clínico e ao oncologista a definirem meios de 
prevenção e a melhor indicação de tratamento para este indivíduo e seus familiares. 
O câncer surge quando os genes de uma célula mudam (se transformam). O corpo 
geralmente pode impedir ou reparar essas alterações. Em pessoas com maior probabi-
lidade de contrair câncer por causa de seus genes, esses mecanismos de proteção não 
são tão eficazes.
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Quem são os genes BRCA1 e BRCA2 e qual a sua relação com o câncer de mama? 
Esses genes são importantíssimos para o bom funcionamento de nossas cé-
lulas, o problema é quando, mutado, perde essas funções. Os genes BRCA1 e 
BRCA2 codificam proteínas responsáveis pelo processo de reparação do DNA, 
proteínas supressoras de tumor. Portanto, quando mutados, esses “permitem” 
erros no DNA está correlacionada com o aparecimento do câncer.
O câncer de mama possui vários subtipos, mas normalmente, mulheres mais 
jovens, com mutações em BRCA1 é comum a associação ao subtipo triplo ne-
gativo (negativo para os receptores hormonais de estrogênio e progesterona e 
baixa expressão de HER2 (ERBB2)), de pior prognóstico. Porém, somente 15% 
dos casos triplos negativos são associados ao BRCA1. Enquanto que cerca de 
55 a 65% das mulheres com a mutação no BRCA1 e 45% das mulheres com a 
mutação no BRCA2 desenvolverão câncer de mama até os 70 anos de idade.
Esses genes também estão associados a outros tipos de câncer, assim como 
os cânceres de mama e ovário estão associados a outros genes. Em mulheres, 
mutações no BRCA1 podem aumentar o risco de câncer nas trompas de Falópio 
e câncer de peritônio, enquanto que em homens, a presença de mutações no 
BRCA2 e em menor número no BRCA1 aumentam o risco de câncer de mama e 
também risco maior de câncer de próstata. 
Importante lembrar que a presença de mutação por si só deve ser interpretada 
dentro de um contexto clínico, pois esta pode variar de acordo com a história 
familiar, com diferentes mutações genéticas e com outros fatores de risco, co-
mo a história reprodutiva.•
25JAN-FEV-MAR 2020
Apesar de não ser um artigo recente, particularmente o considero revolucioná-rio em termos de ciência brasileira e com uma história incrível entre o conheci-mento de base e o impacto clínico desse achado. Falaremos nesta seção, sobre 
o artigo “The inherited p53 mutation in the Brazilian populations” da Maria Isabel 
Achatz e Gerard Zambetti. Maria Isabel Achatz é medica e pesquisadora do Instituto 
AC Camargo em São Paulo e trabalhou em sua tese de doutorado com a síndrome de 
Li Fraumeni e sua variante Like. 
Leitura de • • • • • • • • • • • • • • •
• • • Artigo Científico
Síndrome de Li Fraumeni e sua variante Like 
Síndrome de Li Fraumeni (SLF) e sua variante Like (SFL) são sín-
dromes hereditárias associadas à mutação germinativa no gene 
TP53 de alta penetrância, na qual portadores destas mutações 
apresentam um alto risco cumulativo vital para o desenvolvi-
mento de câncer. A caracterização inicial desta síndrome inclui 
famílias que tenham indivíduos com sarcomas de partes moles, 
osteosarcomas, câncer do sistema nervoso central, carcionama 
adenocorticais e câncer de mama com menos de 45 anos. Es-
tima-se que portadores da SLF tenham 50% a mais de chances 
de desenvolverem tumores antes dos 40 anos de idade quan-
do comparada a 1% da população em geral e que 90% dos por-
tadores desenvolverão câncer até 60 anos de idade. Em geral, 
é comum que tenham um histórico de diversos familiares que 
morreram de câncer, sendo os mais característicos, o câncer de 
mama antes dos 35 anos, os sarcomas ósseos ou de partes mo-
les (que podem aparecer em diversos tecidos do corpo, como os 
músculos) antes dos 45 anos, leucemias, tumores nas glândulas 
adrenais (que ficam acima dos rins) e no sistema nervoso central.
Quem é o gene TP53? 
O gene TP53 codifica uma proteína de mesmo nome, proteína 
tumoral p53 (ou p53). Essa proteína atua como um supressor 
de tumor, o que significa que regula a divisão celular, impedindo 
que as células cresçam e se dividam (proliferem) muito rápido 
ou de maneira descontrolada.
A proteína p53 está localizada no núcleo das células do corpo, 
onde se liga diretamente ao DNA. Quando o DNA de uma célu-
la é danificado por agentes como substâncias químicas tóxicas, 
radiação ou raios ultravioleta (UV) da luz solar, essa proteína de-
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26 Revista UC
sempenha um papel crítico na determinação se o DNA será reparado 
ou se a célula danificada sofrerá apoptose. Caso o DNA possa ser 
reparado, o p53 ativa outros genes para corrigir o dano. Se o DNA 
não puder ser reparado, essa proteína impede que a célula se divida 
e sinaliza que ela sofra apoptose. Ao impedir a divisão de células com 
DNA mutado ou danificado, a p53 ajuda a impedir o desenvolvimen-
to de tumores.
Como a p53 é essencial para regular a divisão celular e prevenir a 
formação de tumores, ela foi apelidada de “guardiã do genoma”.
As mutações somáticas no gene TP53 são uma das alterações mais 
frequentes nos cânceres humanos, e as mutações germinativas são a 
causa subjacente da síndrome de Li-Fraumeni.
A história da Síndrome de Li-Fraumeni e Li-Fraumeni Like no Brasil
Logo no início de sua carreira ela tratou de uma paciente que havia 
tido seis tumores primários (independentes um do outro), e apesar 
de suspeitarda SLF, foi desacreditada por seus pares, por ser uma 
síndrome muito rara, tendo aproximadamente 200 casos no mundo. 
Posteriormente, logo no seu primeiro ano, diagnosticou 35 pacientes 
com essa doença. Encorajada por um pesquisador francês, Maria Isa-
bel começou a pesquisar a mutação no gene TP53 em seus pacientes 
com diagnóstico de SLF. A priori não encontrou as mutações clássicas 
descritas para este gene nesta síndrome, eram em sua maioria muta-
ções em uma região de ligação ao DNA. Resolveu então procurar no 
gene inteiro e identificou a mutação R337H em seus pacientes. Essa 
variante foi primeiro descrita anos antes em uma paciente francesa 
de 10 anos de idade com tumor no cérebroe era conhecida dentro 
do carcinoma adenocortical pediátrico, uma doença rara, que nor-
malmente ocorre dentro do contexto da SLF, porém com incidência 
extremamente alta no Sul do país quando comparada aos outros paí-
ses, aparecendo em uma incidência 10 a 15 vezes maior. 
No estudo da Dra. Isabel, foram incluídas 45 famílias brasileiras que 
preencheram os critérios clínicos da síndrome e a mutação R337H 
ocorreu em frequência elevada (46,1%) nas famílias SLF brasileiras, 
predispondo ao amplo espectro tumoral. Tumores adrenocorticais 
foram 2,3 vezes mais frequentes em famílias com a mutação R337H 
se comparado a famílias com outras mutações, sugerindo efeito te-
cido-específico. 
Observou-se então que a presença desta mutação fazia com que esta 
síndrome tivesse características específicas e mais “brandas”, o que 
inclusive justifica a alta prevalência, uma vez que acomete indivíduos 
depois da idade reprodutiva, quando essa mutação já foi passada 
para as gerações seguintes, enquanto que no resto do mundo, pela 
mutação “clássica”, esses indivíduos desenvolvem câncer precoce-
mente e evoluem a óbito antes da reprodução. Entre algumas carac-
terísticas estão:
27JAN-FEV-MAR 2020
R337H Variantes clássicas
Penetrância do câncer é um pouco 
menor, 15% a 20% dos indivíduos 
com essa mutação desenvolvem cân-
cer até os 30 anos de idade
Penetrância maior, 50% desen-
volvem câncer até os 30 anos de 
idade
O carcinoma adenocortical pediátri-
co representa uma proporção maior 
de todos os cânceres (8% a 10%)
O carcinoma adenocortical pe-
diátrico representa uma propor-
ção menor (4%)
Mediana de idade ao diagnóstico de 
câncer de mama é mais tardio, apro-
ximadamente 40 anos
Mediana de idade ao diagnóstico 
de câncer de mama é mais pre-
coce, aproximadamente 32 anos
Maior ocorrência de câncer de tireóide papilar em adultos jovens, cânce-
res renais e adenocarcinomas de pulmão do que os portadores clássicos
 
O Ancestral tropeiro
Após descobrir que a mutação que encontrava em seus pacientes fa-
zia desta uma doença diferenciada e única, a Dra. Maria Isabel come-
çou a estudar as famílias de todos os pacientes que possuíam essa 
mutação e explicar a razão pela qual a incidência de câncer era tão 
alta entre os parentes. Essa mutação é autossômica dominante, logo 
não há uma geração em que ela não se esteja presente. 
Enquanto ela explicava para as famílias sobre a síndrome, uma das 
pessoas sugeriu que isso era coisa do avô tropeiro (eram homens 
que conduziam tropas de cavalos por estradas regiões Sudeste e 
Sul do Brasil fazendo o comércio de mercadorias durante o século 
18). Disse que o avô sumia e reaparecia, que achava que ele havia 
deixado famílias pelo caminho. Nunca esquecendo aquele relato a 
doutora resolveu estudar a rota dos tropeiros e percebeu que esta 
se sobrepunha as famílias que possuíam a SLF. Através de um estudo 
com polimorfismos intragênicos* testaram as nove famílias grandes 
e encontraram esse mesmo padrão em todas elas, conseguiam pro-
vas a sua hipótese de que um mesmo homem, um tropeiro, havia 
“espalhado” o gene mutado por diversas famílias.•
*são marcas específicas nos genes 
que só pessoas da mesma família 
apresentam, funciona como uma 
espécie de teste de paternidade.
28 Revista UC

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