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Direto Ambiental

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO 
GRANDE DO SUL 
 
 
ITAMARA LUANA GOIS SCALEI 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO AMBIENTAL E A RESPONSABILIDADE PENAL DOS DANOS 
AMBIENTAIS: CASO SAMARCO EM MARIANA-MG 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ijuí (RS) 
2016
 
 
 
ITAMARA LUANA GOIS SCALEI 
 
 
 
 
 
 
DIREITO AMBIENTAL E A RESPONSABILIDADE PENAL DOS DANOS 
AMBIENTAIS: CASO SAMARCO EM MARIANA-MG 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão do Curso de 
Graduação em Direito objetivando a 
aprovação no componente curricular 
Trabalho de Curso - TCC. 
UNIJUÍ - Universidade Regional do 
Noroeste do Estado do Rio Grande do 
Sul. DCJS - Departamento de Ciências 
Jurídicas e Sociais. 
 
 
 
 
 
Orientadora: MSc. Dhieimy Quelem Waltrich 
 
 
 
 
 
 
 
Ijuí (RS) 
2016
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho à minha família, pelo 
incentivo, apoio e confiança em mim 
depositados durante toda a minha jornada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus acima de tudo, por ter me dado à vida, força, coragem e confiança 
para superar as dificuldades e nunca desistir. 
 
Аоs meus pais (Inordi e Maria de Lurdes), meus irmãos (Jonatas e Mirian), е 
a toda minha família que, sempre esteve presente e me incentivou com apoio, 
confiança e me compreendeu nos momentos de ausência nesta jornada acadêmica. 
 
Ao mеυ esposo, Claudinei, qυе dе forma especial е carinhosa mе dеυ força е 
coragem, mе apoiando nоs momentos dе dificuldades. Obrigada pеlа paciência, 
pelo incentivo. Valeu а pena toda distância, tоdо sofrimento, todas аs renúncias... 
 
A todos os professores, que no decorrer do curso souberam usar suas 
habilidades, compartilhando seus conhecimentos. Em especial a minha orientadora, 
a professora Dhiemy Quelen Waltrich, com quem eu tive o privilégio de conviver e 
contar com sua dedicação. 
 
E a todos que de uma forma ou outra sempre me incentivaram e colaboraram 
sempre que solicitados, com boa vontade e generosidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“O homem destrói a natureza na justificativa de 
sobreviver; a natureza luta para sobreviver, para 
garantir a sobrevivência do homem”. (J. Wesley)
RESUMO 
 
O presente trabalho de conclusão de curso estuda o meio ambiente como 
bem jurídico e sua proteção constitucional, bem como o desenvolvimento desta 
proteção ao longo do ordenamento jurídico brasileiro, especialmente a 
responsabilidade penal no descumprimento das normas que o norteiam, com ênfase 
nos danos ambientais, bem como a responsabilidade causada pela grave conduta 
criminosa praticado em Mariana, no interior de Minas Gerais, pela empresa de 
mineração Samarco. Partindo da premissa que o meio ambiente é um bem de valor 
incalculável e que todos no presente e no futuro o necessitam para sobreviver, 
tornou-se uma preocupação mundial sua preservação, porém ainda ocorrem casos 
gravíssimos de sua exposição e exploração pelo homem. Nesta esteira, faz-se 
necessária a existência e aplicabilidade de uma legislação efetiva na 
responsabilização dos causadores, tanto o poder público, como as pessoas 
jurídicas/físicas causadoras do dano que possuem responsabilidade solidária. 
 
Palavras-Chave: Meio ambiente. Proteção constitucional. Danos ambientais. 
Responsabilidade penal. 
 
ABSTRACT 
 
The present work of conclusion of course studies the environment as a legal 
asset and its constitutional protection, as well as the development of this protection 
throughout the Brazilian legal system, especially the criminal responsibility in the 
noncompliance with the norms that guide it, with emphasis on environmental 
damage, As well as the liability caused by the serious criminal conduct practiced in 
Mariana, in the interior of Minas Gerais, by the mining company Samarco. Starting 
from the premise that the environment is a commodity of incalculable value and that 
everyone in the present and future needs it to survive, it has become a worldwide 
concern for its preservation, but there are still very serious cases of its exposure and 
exploitation by man. In this vein, it is necessary the existence and applicability of an 
effective legislation in the accountability of the causers, both the public power, as well 
as the legal / physical persons causing the damage that bear joint liability. 
 
Keywords: Environment. Constitutional protection. Environmental damage. 
Criminal responsibility. 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8 
 
1 DIREITO AMBIENTAL E A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE NO DIREITO 
PENAL ...................................................................................................................... 10 
1.1 Conceito de meio ambiente e de dano ambiental .......................................... 10 
1.2 Desenvolvimento da proteção normativa ao ambiente no ordenamento 
brasileiro .................................................................................................................. 14 
1.3 Meio ambiente e a Constituição de 1988 ......................................................... 17 
1.3.1 A responsabilidade penal do ente coletivo na constituição de 1988 ......... 18 
1.4 A proteção na Constituição Federal e os acordos internacionais ................ 19 
 
2 A NECESSIDADE DA TUTELA PENAL NOS CRIMES AMBIENTAIS E A 
POLUIÇÃO POR ATIVIDADE DE MINERAÇÃO ..................................................... 25 
2.1 Necessidade de tutela penal do meio ambiental ............................................ 25 
2.2 Responsabilidade penal nos crimes ambientais por pessoas físicas e 
jurídicas.................................................................................................................... 30 
2.2.1 Posição do STF sobre o tema ....................................................................... 32 
2.3 Danos e crimes causados por atividade de mineração ................................. 34 
2.3.1 Legislações Brasileiras Sobre Atividade de Mineração .............................. 36 
 
3 CASO SAMARCO E CRIMES COMETIDOS ......................................................... 39 
3.1 Exposição do caso Samarco (noticiado pelo G1 e laudo preliminar) ........... 39 
3.2 Danos ambientais provocados conforme laudo final (noticiado e os laudos 
efetivos).................................................................................................................... 44 
3.2.1. Danos sobre qualidade e disponibilidade da água microrregional e 
macrorregional ........................................................................................................ 44 
3.2.2 Danos na qualidade e disponibilidade de solo ............................................ 46 
3.2.3 Danos sobre a biodiversidade ...................................................................... 46 
3.3 Crimes imputados e Responsabilidade penal pelos danos causados (os 
crimes que foram denunciados, os crimes em espécie). .................................... 49 
3.3.1 crimes imputados aos agentes causadores do desastre ........................... 49 
3.3.2 Responsáveis penalmente pelos danos causados ..................................... 56 
 
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 59 
 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 62 
 
ANEXOS ................................................................................................................... 66 
 
 
 
 
 
 
 
 8 
INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho apresenta um estudo acerca das noções sobre o meio 
ambiente, a fim de efetuar uma investigação em busca da construção de alternativas 
à reeducação ambiental depreservação. Essa busca é necessária face à crescente 
destruição coletiva em relação ao meio ambiente, que além de ser uma reconstrução 
morosa, muitas vezes é irreparável e de grande afetação aos seres vivos, uma vez 
que o ser humano atual pensa muito em ter, cada vez mais, ou seja, a ganância faz 
com que não vejam as consequências. 
 
Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas e 
por meio eletrônico, a análise de algumas obras de direito ambiental e de 
responsabilidade penal pelos danos causados, além do estudo sobre a empresa 
Samarco, análise dos planos estruturais para sua existência, bem como as medidas 
de fiscalização pelo poder público, com fulcro na legislação específica, cumulada 
com as hipóteses legais que preveem condenações aos infratores, a fim de 
enriquecer a coleta de informações e permitir um aprofundamento no estudo da 
responsabilidade ambiental, revelar a importância dos princípios na construção de 
ideias sustentáveis, apontar novas perspectivas para a problemática ambiental. 
 
Inicialmente, no primeiro capítulo, foi feita uma abordagem do meio ambiente 
e os danos ambientais, tomando como ponto de partida alguns conceitos básicos de 
direito ambiental, trazidos por diferentes doutrinadores. Ainda foi relacionado o 
direito ambiental e direito penal, com fulcro no consequencialismo. 
 
No segundo capítulo foi analisada mais profundamente a necessidade da 
tutela penal ambiental, desde sua previsão da Constituição até seu surgimento nas 
 9 
normas infraconstitucionais, como é o caso da Lei n. 9.605/98. Também são 
analisadas as responsabilidades dos agentes causadores de danos ambientais, 
além da responsabilidade das pessoas físicas, a das pessoas jurídicas e ainda a dos 
agentes públicos, verificando quais as penalidades, mas também os meios que 
poderiam utilizar para prevenção ambiental. Por fim, estudar os danos e crimes 
causados especificamente por atividades de mineração que não observaram as 
regras e os limites previstos para explorações dos bens naturais. 
 
Seguindo, no terceiro capitulo, faz-se a exposição do caso Samarco, uma 
emblemática tragédia ambiental ocorrida em Mariana, no interior de Minas Gerais, 
com a empresa de mineração Samarco, bem como a apuração dos danos causados 
com base nas notícias e laudo preliminar. Ainda, as medidas de fiscalização pelo 
poder público, com fulcro na legislação específica, cumulada com as hipóteses 
legais que preveem condenações aos infratores. A descrição dos danos e crimes 
cometidos, levando em consideração o que foi noticiado e os laudos efetivos, bem 
como a responsabilização por estes danos, os crimes em espécie aos quais os 
agentes foram denunciados. 
 
A partir desse estudo verifica-se a importância deste bem natural que é o 
meio ambiente, e a falta de preocupação por parte de todas as pessoas que nele 
habitam. Ademais, busca-se conscientizar os indivíduos a optarem pelas melhores 
propostas, quais sejam a da sustentabilidade e preservação para que prolongue a 
vida na terra, sendo essenciais para a contribuição dessa construção de alternativas 
à vida, sustentáveis, a utilização de métodos que coíbam tais condutas agressivas 
ao meio ambiente, normas e regras efetivas, que solucionem e especialmente 
previnam danos irreversíveis, e que busquem da paz ambiental nacional e 
internacionalmente. 
 10 
1 DIREITO AMBIENTAL E A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE NO DIREITO 
PENAL 
 
A previsão constitucional do art. 225, caput, da Constituição Federal, ao 
considerar o direito ao meio ambiente equilibrado um direito fundamental, impôs ao 
Poder Público e à coletividade o dever de cuidado, proteção e, inclusive, 
preservação ao ambiente natural para presentes e futuras gerações. 
 
O tema do meio ambiente, principalmente o de sua degradação, é de suma 
importância, haja vista que produz efeitos imediatos e futuros na vida das pessoas, 
ameaçando os recursos naturais essenciais à perpetuação de todas as espécies de 
vida. 
 
Assim sendo, para garantirmos o bem-estar e a qualidade de vida, bem 
como a apreciação da responsabilidade nos casos de lesões ou ameaça de lesão 
aos bens ambientais no direito ambiental, imprescindível à análise, primeiramente, 
dos conceitos básicos a ele inerentes e do desenvolvimento da proteção normativa 
no ordenamento brasileiro. 
 
Feitas essas primeiras colocações, esclarece-se que o presente capítulo tem 
por objetivo analisar além dos conceitos, a proteção ambiental através de normas 
punitivas de condutas lesivas ao meio ambiente, ou seja, a origem desta tutela e 
como esta se desenvolveu, em especial na Constituição de 1988 e no Direito Penal, 
a fim de possibilitar a posterior averiguação de sua eficácia nas atuais relações com 
o meio ambiente, objeto deste estudo. 
 
1.1 Conceito de meio ambiente e de dano ambiental 
 
A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente n. 6.938 de 31 de agosto de 
1981, definiu meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e 
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em 
todas as suas formas” (art.3º, I). Na mesma cadência de ideias completas José 
Afonso da Silva, citado por Luís Paulo Sirvinskas (2011), conceituando meio 
 11 
ambiente como “a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais 
que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”. 
 
Segundo Édis Milaré, citado por Fernando Capez (2007, p.45), 
 
No conceito jurídico de meio ambiente podemos distinguir duas 
perspectivas principais: uma estrita e outa ampla, a estrita nada mais 
é do que o patrimônio natural e suas relações com e entre os seres 
vivos, já na ampla abrange toda a natureza original e artificial, assim 
como os bens culturais correlatos. 
 
No entendimento de muitos, meio ambiente está relacionado apenas com o 
sentido estrito, ou seja, com a natureza, beleza, local a ser admirado, um habitat 
para a vida humana e animal, não deixa de estar correto, porém a doutrina 
apresenta uma divisão que vai além desse entendimento, dividindo-o em meio 
ambiente natural, artificial e cultural, quem explica detalhadamente esta divisão é 
Capez (2011 p. 45-46, grifos do autor): 
 
Meio ambiente natural: aquele que existe por si só, 
independentemente da influência do homem. Exemplo: a atmosfera, 
a água (rios, mares, lagos, etc), a flora, a fauna, o solo. 
Meio ambiente artificial: aquele que decorre da ação humana. 
Exemplo: conjunto de edificações, prédios, fábricas, casas, praças, 
ruas, jardins, o meio ambiente do trabalho, enfim, tudo o que é 
construído pelo homem. (Obs.: mesmo que se localizem no meio de 
uma mata, por exemplo, serão considerados parte do meio ambiente 
artificial, visto que decorrem de intervenção humana no meio 
ambiente natural) 
Meio ambiente cultural: constituído pelo patrimônio arqueológico, 
artístico, turístico, histórico, paisagístico, monumental, etc. também 
decorre da ação humana, atribui valores especiais a determinados 
bens do patrimônio cultural do País. 
 
Ainda, sobre o tema Lenza (2014, p. 1331, grifos do autor) escreve: 
 
Podemos sustentar que o meio ambiente é bem de fruição geral da 
coletividade, de natureza difusa e, assim, caracterizado como res 
omnium - coisa de todos, e não como res nullius, como advertiu 
Sérgio Ferraz.38. Trata-se de direito que, apesar de pertencer a cada 
indivíduo, é de todos ao mesmo tempo e, ainda, das futuras 
gerações. 
 
 12 
Levando em consideração as colocações feitas acima, fica clara a importância 
da preservação, como comenta Sirvinskas (2011, p.91): 
 
O preceito constitucional protege a sadia qualidade de vida do 
homem que vive neste mundo. Essa qualidade de vida está 
relacionada ao meio ambiente urbano e rural. Procura-se protegê-lo 
das agressões e degradações praticadas pelo próprio homem. 
 
Neste sentido,entende-se por degradação da qualidade ambiental a 
alteração adversa das características do meio ambiente, e por poluição a 
degradação da qualidade ambiental resultante de atividade que direta ou 
indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; que 
criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; que afetem 
desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio 
ambiente e que lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões 
ambientais estabelecidos, conforme prevê o art. 3º, II e III, „a‟, „b‟, „c‟, „d‟, e „e‟ da Lei 
6.938/81 (BRASIL, 2016). 
 
A degradação ameaça não somente o bem estar da sociedade como 
também a qualidade de vida e sobrevivência da espécie humana. Dessa forma, cabe 
verificar as diversas maneiras que se manifestam quer destruindo os elementos que 
o compõem, quer por substâncias que alterem a qualidade. O dano ambiental no 
ordenamento jurídico na análise de Costa citado por Morato Leite (2000, p. 97-98): 
 
Dano, de acordo com a teoria do interesse, á lesão de interesses 
juridicamente protegidos. Costa precisa que o dano é toda ofensa a 
bens ou interesses alheios protegidos pela ordem jurídica o 
interesse, nesta concepção, representa a posição de uma pessoa, 
grupo ou coletividade em relação ao bem suscetível de satisfazer-lhe 
uma necessidade. Bem deve ser entendido, em sentido amplo, como 
o meio de satisfação de uma necessidade. Pelo que se depreende 
desta definição, dano abrange qualquer diminuição ou alteração de 
bem destinado à satisfação de um interesse. Isso significa, como 
regra, que as reparações devem ser integrais, sem limitações quanto 
à sua indenização, compreendendo os danos patrimoniais. 
 
Na visão de Milaré (2011, p.1119), “Dano ambiental é a lesão aos recursos 
ambientais, com consequente degradação – alteração adversa ou in pejus – do 
equilíbrio ecológico e da qualidade de vida”. 
 13 
Analisado por José Afonso da Silva (2004, p. 299), 
 
Dano ecológico é qualquer lesão ao meio ambiente causado por 
condutas ou atividades de pessoa física ou jurídica de Direito Público 
com o disposto no art. 225, §3°, da Constituição da República, 
segundo o qual as condutas e atividades consideradas lesivas ao 
meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a 
sanções penais e administrativas, interdependentes da obrigação de 
reparar os danos causados. 
 
Os danos ambientais, são caracterizados por atingirem um número 
significante de indivíduos, além de serem de valores incalculáveis, muitas vezes 
irreparáveis, diferem-se do dano comum pelo fato de que este atinge uma pessoa ou 
um conjunto determinado de pessoas, por isso dizem ser um dano de difícil 
reparação, mesmo tendo uma reparação em dinheiro. Às vezes é impossível 
consertar o dano causado, talvez, a melhor forma de reparação e a solução desse 
dano, seja a prevenção. 
 
É por este e por outros motivos que o ordenamento jurídico brasileiro passou 
a tratar da tutela ambiental com um olhar preventivo. Assim, no começo o homem 
achava-se dono do ambiente ao seu redor e acreditava que era seu provedor 
natural, e que nunca iria acabar, porém, com o passar dos anos percebeu que os 
recursos naturais se esgotavam e que deveriam parar e pensar numa maneira de 
recuperá-los. 
 
Para isso, além dos conceitos estudados acima, indispensável faz fixar uma 
concepção do que seja o Direito Ambiental. Há muitas definições na doutrina acerca 
da matéria, dentre elas, menciona Paulo de Bessa Antunes (2005, p.11): 
 
Entendo que o Direito ambiental pode ser definido como um direito 
que se desdobra em três vertentes fundamentais, que são 
constituídas pelo direito ao meio ambiente, direito sobre o meio 
ambiente e direito do meio ambiente. Tais vertentes existem, na 
medida em que o Direito Ambiental é um direito humano fundamental 
que cumpre a função de integrar os direitos à saudável qualidade de 
vida, ao desenvolvimento econômico e à proteção dos recursos 
naturais. Mais do que um Direito autônomo, o Direito Ambiental é 
uma concepção de aplicação da ordem jurídica que penetra, 
transversalmente, em todos os ramos do Direito. O Direito Ambiental, 
portanto, tem uma dimensão humana, uma dimensão ecológica e 
 14 
uma dimensão econômica que se devem harmonizar sob o conceito 
de desenvolvimento sustentado. 
 
Por mais completo que seja este conceito, vale destacar um conceito que 
destaca sua sistematização, trazido por Paulo Affonso Leme Machado (2012 p. 62-
63): 
 
O Direito Ambiental é um Direito sistematizador, que faz a articulação 
da legislação, da doutrina e da jurisprudência concernentes aos 
elementos que integram o ambiente. Procura evitar o isolamento dos 
temas ambientais e sua abordagem antagônica. Não se trata mais de 
construir um Direito das águas, um Direito da atmosfera, um Direito 
do solo, um Direito florestal, um Direito da fauna ou um Direito da 
biodiversidade. O Direito Ambiental não ignora o que cada matéria 
tem de especifico, mas busca interligar estes temas com a 
argamassa da identidade dos instrumentos jurídicos de preservação 
e de reparação, de informação, de monitoramento e de participação. 
 
Foi então, que a legislação ambiental teve seu espaço com mais potência em 
nosso ordenamento. Neste sentido, escreve (SILVA, 2014, p. 28, grifos do autor), “O 
problema da tutela jurídica do meio ambiente manifesta-se a partir do momento em 
que sua degradação passa a ameaçar não só o bem-estar, mas a qualidade de vida 
humana, se não a própria sobrevivência do ser humano”. 
 
1.2 Desenvolvimento da proteção normativa ao ambiente no ordenamento 
brasileiro 
 
O desenvolvimento da tutela jurídica ambiental, no início deu ênfase no 
ambiente natural, teve como base a Constituição Portuguesa, no Brasil deu início 
com o Código Civil, quando este prevê os direitos de vizinhança, mais tarde legisla 
sobre saúde pública relacionando-os com o meio ambiente, logo após surgiram 
várias leis especificas, como: Código Florestal, Código de Águas, Código de Pesca. 
Estes marcos históricos devem ser relembrados com mais detalhes. (MILARÉ, 2011) 
 
 A trajetória da tutela jurídica do meio ambiente foi dividida em vários 
momentos. O primeiro foi aquele desregrado, onde houve explorações sem limites, 
ausência de normas protetivas, muito caracterizada pelo forte poder do estado, 
baseado no direito à propriedade e à livre iniciativa (MILARÉ, 2011). 
 15 
Tendo em vista, o mencionado acima, naquela época a propriedade era vista 
como poder, o povo era individualista neste quesito, não se pensava no bem social, 
podendo o proprietário fazer o que bem lhe convinha em seu imóvel, despreocupado 
com as consequências oriundas de tais atos. Tomava decisões de corte, mudança, 
enfim, tinha poderes plenos e ilimitados sobre seus bens. 
 
 Falando em ausência de regras, Rodrigo Ribeiro de Magalhães Alves (2009, 
p. 7), relata que nas Ordenações Portuguesas, que regeu o país até a promulgação 
da Carta Civil de 1916, onde segundo ele, haviam tratamentos pontuais e esparsos 
sobre temas relacionados ao meio ambiente, mas sob um enfoque totalmente 
diverso do escopo de proteção desse bem jurídico. 
 
 Neste sentido Milaré (2011, p. 1042), também se pronunciou: 
 
Toda essa legislação, antiga, complexa, esparsa e inadequada, 
deixava imune (se é que não o incentivava) o esbulho do patrimônio 
natural, despojado do seu caráter de bem comum e tratado 
ignominiosamente como propriedade privada, gerido e explorado 
sem escrúpulos, com discricionariedade acima de qualquer 
legislação coerente, de qualquer interesse maior. 
 
 Ainda, continua dizendo que a nossa história, infelizmente, é de depredação 
ambiental impune, que na prática somente eram punidos os delitos que atingiam a 
coroa e interesses de classes dominantes (MILARÉ, 2011, p. 1044). 
 
Em que pese o pouco caso dado à tutela protetiva do meio ambiente,foi após 
atravessar crises econômicas, problemas sociais e após a possibilidade de escassez 
dos recursos naturais não renováveis, que começou a preocupação quase que 
mundial com o tema. Neste sentido são as palavras de Silva (2014, p.35): 
 
[...] a tutela jurídica do meio ambiente aparecia circunstanciadamente 
nesses diplomas legais. Só recentemente se tomou consciência da 
gravidade da degenerescência do meio ambiente natural, cuja 
proteção passou a reclamar uma politica deliberada, mediante 
normas diretamente destinadas a prevenir, controlar e recompor sua 
qualidade. 
 
 16 
 O segundo marco histórico do desenvolvimento da tutela ambiental foi o 
Código Civil de 1916, o qual elencou várias normas destinadas a fundamentar, é 
claro, o direito privado, marcado pelo conflito de vizinhanças pela degradação da 
propriedade, ainda pela poluição das empresas, mas muito voltado ainda, a visão 
econômica. Porém, foi a partir de então que surgiram várias legislações específicas 
de tutela do meio ambiente (MILARÉ, 2016). 
 
 Entretanto, outra fase deste desenvolvimento iniciou-se no ano de 1972 com 
a declaração do meio ambiente na Conferência de Estocolmo. Essa conferência 
nacional aconteceu para discutir os principais problemas ambientais que já 
alcançavam uma dimensão global, e principalmente o crescimento econômico, que 
neste momento passou a ser visto de maneira que possibilitasse o desenvolvimento 
sustentável, substitui uma visão quantitativa por uma qualitativa e equilibrada. Além 
disso, contém 26 princípios de grande relevância para as questões ambientais 
(MIARÉ, 2011). 
 
 A partir de então, o âmbito nacional teve uma preocupação em compensar o 
tempo perdido, e tentar reverter ou ao menos, minimizar a situação, passou a surgir 
legislações com o objetivo de obter um crescimento econômico através da proteção 
ambiental. Milaré (2011, p.1047-1048), escreve sobre os quatros marcos mais 
importantes desta postura recente do ordenamento jurídico na busca de resposta ao 
clamor social pela imperiosa tutela do ambiente, quais sejam a Lei n.º 6.938 de 
31.08.1981 conhecida como a Lei da Politica Nacional do Meio Ambiente, que dentre 
seus artigos traz para o mundo do direito o conceito de meio ambiente, também 
institui um sistema nacional de meio ambiente (SISNAMA), e estabeleceu a 
obrigação do poluidor reparar os danos causados. 
 
 Também cita a Lei n.º 7.347, de 24.07.1985, como outro marco, que disciplina 
a ação civil pública como instrumento processual específica para a defesa do meio 
ambiente, além de possibilitar que a agressão ambiental seja incluída como um caso 
de justiça. O terceiro marco, e mais importante podemos dizer, foi a Constituição 
Federal de 1988, que se fez notável progresso, dando um capítulo único ao meio 
ambiente, influenciando desta forma, as constituições estaduais a legislarem sobre o 
tema. O quarto marco, foi Lei n.º 9.605 de 12. 02. 1998, conhecida como Lei dos 
 17 
Crimes Ambientais, que dispõe sobre sanções penais e administrativas aos agentes 
causadores de danos ambientais, além de prever a possibilidades de a pessoa 
jurídica ser parte ré, em processo contra o meio ambiente (BRASIL, 2016). 
 
1.3 Meio ambiente e a Constituição de 1988 
 
A Constituição ao reservar um capítulo inteiro (VI) para o direito ambiental, em 
seu Titulo VII, da ordem social, apesar de ter um único artigo, trouxe esperanças 
para o surgimento de outras normas de proteção e ordem ambiental. Importante faz 
transcrever o art. 225: 
 
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem 
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, 
impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo 
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 2016). 
 
Apenas no caput deste artigo percebe-se a riqueza de detalhes e 
abrangências com que o legislador tratou o tema. Não deixando de ser importante 
também seus parágrafos e incisos. Além deste capítulo próprio do meio ambiente, 
há outras proteções ao meio ambiente ao longo da Constituição Republicana. 
 
Neste sentido Milaré (2011, p. 184), escreve que “A constituição de 1988 
pode muito bem ser denominada „verde‟, tal o destaque (em boa hora) que dá à 
proteção do meio ambiente”. A Carta Magma de 1988, na verdade apenas 
concretizou um sonho que está em nossa nação, à consciência de que precisamos 
viver em harmonia com a natureza, ou melhor, com o meio ambiente, garantindo um 
meio ambiente ecologicamente equilibrado dando continuidade à vida, em que pese 
esta mesma norma, em seu art. 3ª prevê os objetivos da República, dentre os quais 
está o desenvolvimento e o bem-estar da sociedade e de todos (BRASIL, 2016). 
 
A partir deste momento, que foram criadas legislações federais, que 
estabeleceram políticas e conselhos de desenvolvimento e controle do meio 
ambiente. Contudo, no Brasil, então como já mencionado, foi a Constituição de 1988 
que realmente pôs o meio ambiente como um direito fundamental, a qual nos levou 
ao maior salto no que diz respeito à tutela de proteção e principalmente de punição 
 18 
pelos crimes cometidos contra o meio ambiente, os quais passarão a ser estudado 
num segundo momento. 
 
1.3.1 A responsabilidade penal do ente coletivo na constituição de 1988 
 
Além da responsabilidade administrativa e civil, a própria Constituição 
Federal preocupou-se em responsabilizar penalmente os agentes causadores de 
danos ambientais. Foi no próprio artigo acima citado, qual seja, o art. 225 § 3º, que 
está prevista essa sanção, o qual prescreve que as condutas e atividades 
consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou 
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de 
reparar os danos causados (BRASIL, 2016). 
 
Neste sentido, Celeste Leite dos Santos Pereira Gomes (1998), diz que tal 
dispositivo e sua interpretação literal enseja o entendimento de que é admissível a 
responsabilidade penal dos entes jurídicos, enseja sobre as espécies de pena 
previstas no artigo 5º, XLVI da CF e continua que em tese, é possível que a pessoa 
jurídica seja objeto de alguma das mencionadas sanções. 
 
Também em seu art. 173, § 5º, a Constituição assim dispõe: A lei, sem 
prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, 
estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a as punições compatíveis com 
sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a 
economia popular. 
 
Apesar dos dispositivos, em especial este último não especificar em que 
responsabilidade se enquadra, como criticado por alguns autores, nossa Lei maior é 
a Constituição, e ela dá ao direito ao meio ambiente caráter fundamental. Para 
afirmação deste direito como direito fundamental, imprescindível foram às palavras 
do Ministro Celso de Mello nas primeiras decisões do STF, sobre o meio ambiente 
como direito ambiental, citado por Patryck de Araújo Ayala (2011, p. 411): 
 
Trata-se [...] de um direito de terceira geração, que assiste de modo 
subjetivamente indeterminado a todo o gênero humano, circunstancia 
 19 
essa que justifica a especial obrigação – que incumbe ao Estado e à 
própria coletividade – de defendê-lo e preservá-lo em beneficio das 
presentes e futuras gerações, evitando-se, desse modo, que 
irrompam, no seio da comunhão social, os graves conflitos 
intergeracionais marcados pelo desrespeito ao dever de 
solidariedade na proteção desse bem essencial de uso comum de 
todos quantos compõe o grupo social. 
 
Na esteira de defender o direito à vida com imediata ligação a um direito ao 
meio ambiente equilibrado, faz pertinente reflexão: 
 
Uma coisa é afirmar a existência de um direito, outra coisa é 
determinar quais os modos de proteção desse direito (ação judicial, 
processo administrativo). Acresce que o fato de se reconhecer um 
direito à vidacomo direito positivo a prestações existenciais mínimas, 
tendo como destinatário os poderes públicos, não significa impor 
como o Estado deve, prima facie, densificar esse direito. 
Diferentemente do que acontece no direito à vida, na sua dimensão 
negativa – não matar- e na sua positiva – impedir de matar – aqui, na 
segunda dimensão, positiva, existe um relativo espaço de 
discricionariedade do legislador (dos poderes públicos) quando à 
escolha do meio (ou meios) para tornar efetivo o direito à vida na 
dimensão existencial mínima. (CANOTILHO 2008, p. 57-58) 
 
O assunto sobre meio ambiente como direito a vida, em especial os meios 
de proteção trazidos pelos legisladores através de punição, quais sejam, as leis 
penais serão mais bem desenvolvidas no segundo capítulo. 
 
1.4 A proteção na Constituição Federal e os acordos internacionais 
 
 Tendo em vista que as consequências da degradação ambiental extrapolam 
os marcos territoriais de um país, ou seja, seus reflexos são internacionais ou até 
mesmo planetário. Houve uma imensa preocupação em nível geral em obterem 
legislações, como acordos e tratados, convenções, entre outros a fim de manter o 
equilíbrio do meio ambiente. Esses documentos têm por objetivo a cooperação 
internacional, que possibilita o desenvolvimento em plano internacional, a 
conservação ambiental e a melhoria das condições socioeconômicas e da qualidade 
de vida, ou seja, a internacionalização de tal tutela. 
 
Sobre a questão sustenta Milaré (2011, p. 1506) 
 
 20 
Desertificação, chuva acida, mudanças climáticas, redução da 
biodiversidade, entre outras consequências ambientais, fazem parte 
do dia a dia da humanidade e levaram ao fortalecimento da 
interdependência entre as nações que, através dos instrumentos do 
Direito Internacional, tem buscado formas de cooperação e 
entendimento para a preservação do planeta. 
 
Na medida em que a questão ambiental tornou-se assunto planetário, e a 
indispensabilidade de concurso entre os povos, ou seja, o princípio da cooperação 
internacional passa a ser obrigatório. No Brasil, a Constituição Federal o define em 
seu art.4º a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade como 
princípio fundamental que deverá nortear as relações internacionais em que o Brasil 
estiver envolvido (BRASIL, 2016). 
 
 Os tratados, como já dito antes, são as principais fontes do Direito 
Internacional. Milaré destaca que os tratados estabelecem uma relação de Estado a 
Estado e se aplicam, salvo estipulação em contrário, a todo território dos países 
contraentes. O tratado é primeiramente definido na Convenção de Viena, de 1969, 
que é chamada Lei dos Tratados, em seu artigo 2.°: Acordo internacional concluído 
entre Estados em forma escrita e regulado pelo direito internacional, são 
juridicamente obrigatórios e vinculantes. (MILARÉ, 2011). 
 
No caso brasileiro, a Constituição de 1988, em seu art. 84, inciso VIII, 
determina que o Presidente da República tem o poder de celebrar tratados, 
convenções e atos internacionais, sujeitos a apreciação e aprovação pelo Poder 
legislativo, mediante decreto conforme art. 49, I, da mesma Carta. (MILARÉ, 2011). 
 
 Vários atos internacionais foram ratificados pelo Brasil, vejamos alguns deles: 
já de início, tomaremos como base a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio 
Ambiente de 1972, onde foi aprovada a conhecida Declaração de Estocolmo, que 
contém 26 princípios e foi uma base para a redação do art. 225 da Constituição 
Federal. Logo após, em 1975, ocorreu a Convenção sobre Zonas Úmidas de 
Importância Internacional, ou Convenção de Ramsar, sua principal preocupação era 
com a vida e o habitat das aves aquáticas, a mesma impôs as partes contratantes 
obrigações como listar zonas úmidas de importância nacional, conservando-as, 
estabelecer reservas naturais e manejar de forma a beneficiar as aves aquáticas, a 
 21 
cooperação entre as partes ao programar convenção, nos casos de pesquisa e 
desenvolvimento de projetos. – o Brasil ratificou-a através do Decreto Legislativo n.º 
33 de 16.06.1992. (MILARÉ, 2011). 
 
 Também a Convenção sobre o Comércio das Espécies da Flora e da Fauna 
Selvagem em Perigo de Extinção – CITES, em nosso país foi ratificada em 
24.06.1975, através do Decreto Legislativo n.º 54, esta deu origem no Brasil a um 
conjunto de Decretos, Portarias e Resoluções. Já em 1982 aconteceu a Convenção 
das Nações Unidas sobre o Direito do Mar – UNCLOS, no Brasil sua ratificação foi 
formalizada pelo Decreto Legislativo n.º 05 de 09.11.1987, originou uma legislação 
rica e específica para as questões marítimas nacionais. Segundo Milaré (2011, p, 
1516), esta Convenção trata do espaço oceânico e das diversas modalidades de sua 
utilização, tais como a navegação, o sobrevoo, a exploração de recurso, a 
conservação e a contaminação, a pesca e o tráfego marítimo. 
 
 Outro grande marco foi a Convenção de Viena para proteção da Camada de 
Ozônio, firmada por 28 países em março de 1985, foi um marco no Direito 
Internacional do Ambiente, uma vez que adotou tacitamente o Princípio da 
Precaução, mais tarde, em 1987, amparado pelo perfil desta foi firmado o protocolo 
de Montreal sobre substâncias que destroem a Camada de Ozônio, aprovado no 
Brasil em 1989, porém só passou a viger no Brasil em 17.06.1990. Este assunto é 
um dos mais conhecidos, é um dos problemas ambientais que teve repercussão, ao 
passo que todos sabem dos cuidados que se deve tomar ao se expor ao sol, visto 
que o buraco da camada de ozônio vem aumentando (MILARÉ, 2011). 
 
 O Brasil preocupou-se intensamente e interagiu de várias formas para 
amenizar tal problema, criando programas, decretos, resoluções e proibições das 
empresas na utilização de certas substâncias nocivas, como o uso de SDOs1. 
 
 Em 1989, nasceu a Convenção sobre Controle de Movimentos 
Transfronteiriços de Resíduos Perigosos, também conhecida como Convenção da 
Basiléia. Esta, segundo Milaré, esta baseada no princípio do consentimento prévio e 
 
1
 Substâncias de produtos e equipamentos que destroem a camada de ozônio. (MILARÉ, 2011, 
p.1516) 
 22 
explicito para a importação e o trânsito desses resíduos, coibindo o tráfico ilícito. 
Assim, a Convenção não proíbe a movimentação transfronteiriça de resíduos 
perigosos em si, mas estabelece mecanismos para o seu controle e 
acompanhamento. Sendo aprovada no Brasil pelo Decreto n.º 34, de 16.06,1982 e 
promulgada através do Decreto n.º 875, de 19.07.1993. (MILARÉ, 2011). 
 
Em 1983, foi instituída a Conferências das Nações Unidas sobre o Meio 
Ambiente e desenvolvimento - CNUMAD, também conhecida como “cúpula da terra”, 
ela se realizou na cidade do Rio de Janeiro – Rio 92. Ela nasceu com o objetivo de 
os países repensarem a questão de reversão da degradação ambiental, nesta 
ocasião surgiu o termo desenvolvimento sustentável. Além disso, vários documentos 
foram oriundos desta conferência, vejamos dois deles: A declaração do Rio Sobre 
Meio Ambiente e Desenvolvimento, que segundo Milaré (2011, p. 1531): 
 
Esta Carta contém 27 princípios e busca estabelecer um novo 
modelo de desenvolvimento, fundado na utilização sustentável dos 
recursos ambientais, no respeito a capacidade do Planeta de 
Absorção de resíduos e de efluentes líquidos e gasosos poluentes e, 
por fim, na valorização da qualidade ambiental como requisito 
imprescindível à qualidade de vida, que somente pode ser 
proporcionada através da solidariedade socioeconômica e da 
cooperação técnico-cientifica entre os povos. 
 
 Foi na Conferência do Rio de Janeiro (ECO-92) que surgiu a Agenda 21, 
segundo Sirvinskas (2011, p. 635): 
 
Cuida-se de um conjunto amplo e diversificado de diretrizes que, no 
suceder-se dos vários capítulos, recorre frequentemente a outros 
textos das Nações Unidas [...]. Essa agenda possui 2.500 
recomendações para implementar a sustentabilidade.Cuida-se de 
uma carta de intenções para o século XXI. 
 
 Ainda Milaré (2011, p. 1540), diz que o Brasil foi o primeiro país a assinar a 
Convenção, em 04 de junho de 1992, tendo sido aprovado pelo Congresso Nacional 
mediante o Decreto Legislativo 01 de 03.02.1994 e entrado em vigor no país em 29 
de maio de 1994. Foi promulgada pelo Decreto Presidencial n.º 2.625, de 01. 
07.1998. 
 
 23 
 Com a finalidade de reduzir os poluentes do ar atmosférico, em 1997, foi 
realizada a reunião na qual surgiu o protocolo de Kioto, nele estabeleceram-se 
metas para os países desenvolvidos e em desenvolvimento, e os países como o 
Brasil, não incluso no anexo 1, foram chamados para adotar limite quanto suas 
emissões. Porém, este documento entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005, 
quando preencheu os requisitos estabelecidos para sua entrada em vigor. Assim, é 
importante salientar que essas metas, após o transcurso de certo tempo passaram a 
ser insuficientes para combater o efeito estufa diante do aumento imenso das 
emissões. (SIRVINKAS, 2011, p. 634) 
 
 Entre as consequências desses poluentes merece destaque especial às 
mudanças climáticas que afetam o globo terrestre por inteiro, gerando efeitos 
perversos como a perda da biodiversidade, a sensível alteração por nível dos 
oceanos e mares, assim como incalculáveis prejuízos de ordem econômica. Além 
disso, essas mudanças podem tornar inviável a vida humana e outras espécies de 
vida, provocando assim uma radical mudança no Planeta. (MILARÉ, 2011, p. 1541) 
 
 O nosso país retificou o texto deste Protocolo pelo Decreto. Leg. n. 144 de 
20.06.2002, estabelecendo que fica sujeito a aprovação do Congresso qualquer ato 
que possa alterar ou ajustar a Convenção sobre Mudanças Climáticas. 
 
 Passados 10 anos da “Cúpula da Terra”, foi realizada a Cúpula Mundial sobre 
o Desenvolvimento Sustentável, na cidade Johannesburgo na África do Sul, que 
ficou conhecida como Rio + 20. Sirvinkas (2011, p. 634), fala sobre: 
 
A reunião da Cúpula da terra, em Johannesburgo, deveria ser o 
marco para a virada da conscientização internacional do meio 
ambiente. O balanço, ao final da reunião, demonstrou que não houve 
nenhum avanço significativo. Essa megarreunião, pois muitas 
questões foram discutidas sem a devida solução. [...] Vê-se, pois, 
que a reunião não foi conclusiva para resolver os maiores e mais 
graves problemas por que o planeta está passando no momento. 
 
 Tendo em vista, toda esta explanação da cooperação internacional, 
percebemos como são notórias as questões ambientais não só a nível nacional, mas 
também de forma global e a grande preocupação por parte de todos em resgatar os 
 24 
recursos naturais, e planejar a forma como serão gastos os que ainda restam, 
necessários, portanto, a existência desses tratados e convenções de colaboração 
planetária, bem como deveres e obrigações impostos de forma eficaz, em especial 
os que impõem limites aos indivíduos e fiscalização pelo poder Público para que 
tenhamos futuro. 
 
 Nesse sentido vem ao encontro às palavras de Milaré (2011, p. 1551): 
 
Assim, as obrigações planetárias decorrentes de ordem ambiental 
internacional podem ou não tornarem-se legais na medida em que os 
governos soberanos se dispuserem a encampá-las em suas 
respectivas legislações. E, sabendo, pela observação, do panorama 
internacional e dos próprios fatos, haver um conflito de interesses 
que, por vezes, submetem os requisitos essenciais da comunidade 
da Terra aos caprichos de um povo ou de um governo, ao arrepio do 
bom senso ecológico e dos constantes do Planeta. As tentações de 
grandeza, supremacia e hegemonia prevalecem contra tudo e contra 
todos. 
 
 Ainda, o autor observa a partir dos diversos tratados existentes em matéria de 
direito Internacional Ambiental, a cooperação internacional é um tema revestido de 
especial relevância, fala que a afirmação “o meio ambiente não conhece fronteiras” 
tornou-se bastante comum, tanto nos meios científicos como nas próprias 
comunidades nacionais. Ainda, finaliza dizendo que nossa carta magna ao 
proclamar que ”todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem 
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”, não está sendo 
egoísta e etnocentricamente na população e no território do Brasil, embora não lhe 
caiba explicitá-lo: por sermos parte da humanidade, este desideratum estende-se 
para todos os seres humanos e o planeta Terra. (MILARÉ, 2011, p. 1551, 1570). 
 
 
 25 
2 A NECESSIDADE DA TUTELA PENAL NOS CRIMES AMBIENTAIS E A 
POLUIÇÃO POR ATIVIDADE DE MINERAÇÃO 
 
A partir de uma análise do meio ambiente como direito difuso inerente às 
relações humanas e agente de mudanças das sociedades, faz-se necessária uma 
busca de alternativas à prestação jurisdicional do Estado, a fim de regular essas 
relações de forma construtiva e solucionadora. A nossa Constituição de 1988 ao 
reconhecer a necessidade de legitimar a obtenção do desenvolvimento sustentável, 
em face ao de progresso tecnológico e cientifico determinou a atuação conjunta do 
direito penal, civil e administrativo a fim de proporcionarem medidas sancionadoras e 
reparadoras aos danos ambientais. 
 
Em que pese antes do advento da Constituição a tutela penal do meio 
ambiente não ser muito conhecida, havia várias legislações penais esparsas que 
eram aplicadas nos casos concretos. Veremos neste capítulo como esta tutela é 
aplicada, bem como se estudará as legislações vigentes e sua aplicação aos danos 
causados no meio ambiente. Além de dar ênfase aos crimes por atividade de 
mineração. 
 
2.1 Necessidade de tutela penal do meio ambiental 
 
 A Constituição Federal tutela o meio ambiente administrativa, civil e 
penalmente. A tutela penal atua de forma repressiva, punindo os agentes 
causadores de danos a fim de desestimular a prática de atos lesivos ao meio 
ambiente. A importância desta tutela está muito bem demonstrada nas palavras de 
Hébia Luíza Machado (2006, p. 48): 
 
[...] a aplicação isolada dos Direitos Administrativos ou Civil não seria 
apta a solucionar o problema da degradação ambiental, pois, no 
campo administrativo há interferência política, culminando, quase 
sempre, em impunidade. Na seara civil, as demandas são 
prolongadas e difíceis, causando sensação de impunidade, além das 
sérias dificuldades existentes em se valorar e quantificar os danos 
causados. 
 
Nesse sentido, o constitucionalista Silva (2004, p. 39) destaca que: 
 26 
As normas constitucionais assumiram a consciência de que o direito 
à vida, como matriz de todos os demais direitos fundamentais do 
homem é que há de orientar toda a forma de atuação no campo da 
tutela do meio ambiente. Compreendeu que ele é um valor 
preponderante que há de estar acima de quaisquer considerações 
como as de desenvolvimento, como as de respeito ao direito de 
propriedade, como as da iniciativa privada. Também são garantidos 
no texto constitucional, mas, a toda evidência, não podem primar 
sobre o direito fundamental à vida que está em jogo quando se 
discute a tutela da qualidade do meio ambiente, que é instrumental 
no sentido de que, através desta tutela, o que se protege é um valor 
maior: a qualidade da vida humana. 
 
Frente à pequena eficácia das normas da responsabilidade civil ou 
administrativa, optaram os políticos a estabelecerem normas penais na constituição, 
não sendo dessa forma por acaso a previsão constitucional de responsabilização 
penal. Seguindo, neste raciocínio imprescindível o Direito Penal estabelecer em sua 
codificação ou em Leis extravagantes responsabilidade penal aos agentes 
causadores de danos por práticas lesivas ao meio ambiente, como é o caso da Lei 
9.605/98 (MILARÉ, 2011). 
 
A edição da Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que foi aprovada após 
longa tramitação complexa e difícil, dispõe sobre as sanções penais e 
administrativas lesivas ao meio ambiente, e dá outrasprovidências, estabeleceu 
uma nova estruturação para a repressão penal e administrativa dos ilícitos 
ambientais (BRASIL, 2016). 
 
A Lei n. 9.605/98 pode ser dividida em duas partes: a) a Parte Geral, 
compreendida entre os arts. 2º (já que o 1º foi vetado) e 28, e que apresenta normas 
penais e processuais penais gerais; b) a Parte Especial, que indica as infrações 
penais ambientais em espécie. Vale destacar que a Parte Geral muitas vezes repete 
redações contidas no Código Penal e Código de Processo Penal, mas, também, cria 
institutos aplicáveis somente aos crimes ambientais, em virtude do princípio da 
especialidade (BRASIL, 2016). 
 
Cabe ressaltar ainda, que há princípios também que regem esta proteção, e 
que tratando de tutela penal ambiental eles se chocam. Um deles é o princípio da 
intervenção mínima, pelo qual o Estado somente pode intervir quando realmente 
 27 
necessário, e quando esgotados todos os meios em direito permitidos, deixando o 
direito penal como a “última ratio”. Conforme leciona Celso Antonio Pacheco Fiorillo 
e Christiany Pegorari Conte (2012, p.6): 
 
Há evidente diferença – fundamento do princípio da 
fragmentariedade2 – entre tutelar um bem da vida e incluí-lo no seleto 
rol dos bens jurídico-penais. Para ser legítima a tutela penal, é 
necessário que o bem seja “digno” dessa proteção, e que a lesão ou 
ameaça efetivamente mereça uma sanção penal. A 
imprescindibilidade da tutela penal deve ser observada tendo em 
vista a proporcionalidade entre a relevância do bem jurídico protegido 
e as consequências sociais estigmatizadoras, inexistentes nos outros 
ramos do direito. 
 
A visão do direito penal, como meio forte de utilidade social, pois tutela os 
mais importantes bens jurídicos da sociedade, e que deve ser observado como 
instrumento para solucionar os conflitos em últimos casos, Alexandre Victor de 
Carvalho (2003, pg.279, 280), escreve: 
 
É cediço ser o Direito Penal instrumento vigoroso de utilidade social, 
tendo por função precípua a tutela dos mais relevantes bens jurídicos 
da sociedade. A visão minimalista do Direito Penal é hoje largamente 
difundida na órbita da doutrina criminal, para a qual este instrumento 
político (porque é assim que se deve olhar o Direito Penal) só deve 
ser empregado em última instância, quando os filtros de controle 
social, assim como os demais ramos do Direito, não conseguirem dar 
uma resposta adequada ao fato gerador de danosidade. 
 
Além deste, há o principal, qual seja princípio da precaução, tendo em vista 
que tratando de matéria sobre meio ambiente não se pode esperar pelo desfecho 
danoso, para depois somente haver uma intervenção estatal, ou seja, deve prevenir 
antes do dano ocorrer. 
 
Há autores que dizem que este princípio corresponde à essência do direito 
ambiental, uma vez que vai além do simples fato de afastar o perigo, nas palavras 
de Cristiane Derani (1996, p. 164): 
 
 
2
 Referido princípio estabelece que apenas os ilícitos que atentam contra valores fundamentais para a 
manutenção e o progresso do ser humano e da sociedade podem configurar ilícitos penais, 
colocando o direito penal na última etapa de proteção do bem jurídico. (FIORILLO, Celso; CONTE, 
Christiany 2012, p.6). 
 28 
[...] Na verdade, é uma “precaução contra o risco”, que objetiva 
prevenir já uma suspeição de perigo ou garantir uma suficiente 
margem de segurança da linha de perigo. Seu trabalho esta anterior 
à manifestação do perigo. 
 
Derani (1996), completa o raciocínio afirmando: 
 
O princípio da precaução deixa claro que, devido à dimensão 
temporal (relacionada com o futuro) e à complexidade da proteção 
ambiental, não é suficiente que se pratique apenas uma “intervenção 
periférica”. Isto é, com base neste princípio, a politica ambiental 
desenvolve-se não em normas rigidamente divididas numa 
denominada ordem do direito ambiental. Normas que denotam uma 
prática sustentável de apropriação de recursos naturais integram 
obrigatoriamente o planejamento da politica econômica e, 
consequentemente, as normatizações da prática econômica. 
Precaução ambiental é necessariamente modificação do modo de 
desenvolvimento da atividade econômica. (1996, p. 165, 166) 
 
Ocorre que, diante destes dois princípios supracitados, já se iniciam os 
conflitos, tendo em vista que o princípio da precaução confronta com o da 
intervenção mínima, pois o segundo orienta a intervenção do Estado apenas quando 
se faz necessário, e não ocorrendo dano não teria como criminalizar, ao passo que 
primeiro trabalha com a anterioridade da norma aplicada a fim de impedir que danos 
futuros aconteçam. 
 
Sendo assim, a tutela penal atua de maneira repressiva a fim de punir e 
desestimular a prática de atos lesivos contra o patrimônio, porém sempre 
observando esses princípios além de muitos outros. Ainda, com relação à lei 
ambiental acima mencionada, significa apenas o primeiro passo para a consolidação 
das leis ambientais, uma vez que não se trata de uma lei perfeita e acabada, 
trazendo consigo avanços, mas também retrocessos (SIRVINSKAS, 1998). 
 
Levando em consideração os fatos mencionados acima, vão ao encontro as 
palavras de Sirvinskas (1998, p. 29): 
 
Perdeu-se uma grande oportunidade de se criarem tipos penais 
completos e abrangentes. A lei se restringiu em sistematizar, 
praticamente, normas já existentes e criminalizar condutas que 
outrora eram apenas contravenções, deixando de disciplinar ou 
proteger outros bens jurídicos relevantes para o meio ambiente. 
 29 
Muitos tipos penais são extremamente abertos, como por exemplo, o 
art. 54 da LA. A maioria dos tipos deve ser complementada por 
normas penais em branco. Muitos dispositivos ficaram nas 
legislações esparsas, não resolvendo o problema da sistematização 
de maneira ampla e precisa. Oxalá, podemos resolver o problema na 
Consolidação das Leis Ambientais que se encontra tramitando no 
congresso. 
 
 Em que pese às críticas, um dos avanços que a lei ambiental trouxe foi a 
introdução da responsabilidade penal da pessoa jurídica, em concurso ou não com a 
pessoa física, as quais serão estudadas detalhadamente no próximo tópico. Neste 
sentido, Carvalho (2003, p. 281), coloca que: 
 
Destarte, o direito ao meio ambiente, chamado de “direito de terceira 
geração”, não impõe deveres apenas ao Estado, mas a todos, 
pessoas físicas e jurídicas, cuja obrigação de preservar a sadia 
qualidade de vida das presentes a sadia qualidade de vida das 
presentes e futuras gerações é indeclinável. 
 
 O mesmo autor acima citado diz que por ser tamanha magnitude o 
valor constitucional dado a esse assunto era prescindível ser efetivada pela 
legislação inferior, nasceu então a Lei n 9.605 de 1998, cujo “objetivo fundamental 
foi o de estabelecer uma resposta penal eficaz aos principais ilícitos penais, 
dimensionando a responsabilidade penal consoante a importância do bem jurídico 
consubstanciado no meio ambiente”. (CARVALHO, 2003, p.283) 
 
Entretanto, para ele a legislação não colide com o princípio da intervenção 
mínima do direito penal, porém acredita ser abuso político do direito penal, uma vez 
que criminaliza algumas condutas que deveriam ser tratadas apenas como infrações 
administrativas. Nesse sentido, completa Carvalho (2003, p. 283): 
 
[...] Esta desproporcionalidade em relação às penas cominadas, no 
exemplo tomado, traz descrédito ao instrumento legislativo, 
demonstrando que o legislador malgrado tenha efetivado a proteção 
penal ao meio ambiente da forma como a Constituição exigiu, não 
levou em conta os princípios constitucionais que penetram no 
sistema penal para a limitação do poder punitiva estatal, e, neste 
particular aspecto, não observou os postulados da intervenção 
mínima. 
 30 
2.2 Responsabilidade penal nos crimes ambientais por pessoas físicas e 
jurídicas 
 
Partindo da interpretação da lei em questão,a reponsabilidade penal por ela 
indicada abrange tanto pessoas físicas como jurídicas, geralmente são cometidos 
em concurso de pessoas e podem ser praticados por qualquer pessoa (crime 
comum), exceto os contra a administração ambiental, o qual exige como sujeito ativo 
funcionário público. 
 
Com relação à pessoa física é tranquilo, pois é sujeito ativo possível de 
delito, possui capacidade de ação com consciência e vontade. 
 
A responsabilização da pessoa jurídica teve, e ainda há certa discussão por 
parte de alguns doutrinadores, ocorre que não há o que ser questionado, uma vez 
que esta constitui mandamento constitucional, prevista no artigo 225, § 3º como já 
citado anteriormente. Além disso, essa determinação constitucional encontra-se 
ressonância em várias outras normas de natureza infraconstitucionais. 
 
Em função desta discussão foram criadas correntes/teorias. As principais são: 
 
1ª: É a corrente minoritária. A CF/88 não previu a responsabilidade penal da 
pessoa jurídica, mas apenas sua responsabilidade administrativa. Os seguidores 
desta corrente interpretam o § 3º do art. 225 da CF/88: os infratores pessoas físicas 
estão sujeitos a sanções penais e os infratores pessoas jurídicas a sanções 
administrativas. Acreditam que quando o dispositivo constitucional fala em sanções 
penais ele está apenas se referindo às pessoas físicas. Adotam essa corrente: 
Miguel Reale Jr., Cézar Roberto Bitencourt, José Cretela Jr (SIRVINSKAS, 1998). 
 
2ª: É a posição majoritária na doutrina. A ideia de responsabilidade da pessoa 
jurídica é incompatível com a teoria do crime adotada no Brasil, esta segunda 
corrente baseia-se na Teoria da ficção jurídica, de Savigny, a qual acredita que a 
pessoa jurídica não teria autonomia, vontade e capacidade de ação. Adotam essa 
corrente: Pierangelli, Zafaroni, René Ariel Dotti, Luiz Regis Prado, Alberto Silva 
Franco, Fernando da Costa Tourinho Filho, Roberto Delmanto, LFG, entre outros. 
 
 31 
3ª: É plenamente possível a responsabilização penal da pessoa jurídica no 
caso de crimes ambientais porque assim determinou o § 3º do art. 225 da CF/88. A 
pessoa jurídica pode ser punida penalmente por crimes ambientais ainda que não 
haja responsabilização de pessoas físicas. Esta corrente é defendida, dentre outros, 
por Vladimir e Gilberto Passos de Freitas. Também adotada por Otto Gierke, a teoria 
da realidade ou da personalidade real que ao contrário, atribui à pessoa jurídica 
capacidade postulatória, com as características acima mencionadas (SIRVINSKAS, 
1998). 
 
Para a segunda teoria, a pessoa jurídica não pode cometer delito, uma vez 
que é destituída de consciência e vontade, e que os delitos praticados por esta são 
de responsabilidade de seus diretores [...]. Já para esta última, ela pode delinquir, 
pois possui vontade que pode ser exteriorizada pela soma das vontades dos seus 
sócios ou dirigentes [...] (SIRVINSKAS, 2002, p. 58). 
 
4ª: É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica, desde que em 
conjunto com uma pessoa física. Essa é a posição, dentre outros, de Édis Milaré e 
da jurisprudência do STJ. 
 
A Lei n. 9.605/98 acompanhou a teoria da realidade, encaixando aos 
preceitos constitucionais para atender à necessidade de prevenção e repressão de 
delitos que atingem bens jurídicos ambientais, sobretudo diante do incremento dos 
danos causados e dos crimes cometidos no âmbito das empresas (BRASIL, 2016). 
 
Esse assunto é muito discutido não só no Brasil como também em outros 
países, há muito conflito e divergência, pelo fato de tratar-se de direito penal, em 
especial na aplicabilidade da pena, uma vez que para esta é observado o princípio 
da culpabilidade. Sobre estas divergências, no entender de Antunes (2005, p. 900): 
 
Este é, certamente o tema mais polêmico que foi introduzido pela lei 
nº 9.605/98 em nosso ordenamento jurídico. Com efeito, afirma-se a 
responsabilidade penal das pessoas jurídicas no Direito Positivo 
brasileiro não é uma questão pacífica e, certamente, será examinada 
pelo Supremo Tribunal Federal [...]. 
 
 32 
Porém, para que a pessoa jurídica possa vir a ser incriminada por prática de 
crime ambiental, devem ser observados alguns requisitos básicos, quais sejam: 
a) o crime ter sido cometido em benefício ou no interesse da sociedade; 
b) tenha sido cometido por decisão do seu representante legal ou contratual 
do ente coletivo, ou por seu colegiado; 
c) e que esta conduta seja considerada crime. 
 
 Nesse sentido, são as palavras de Sirvinskas (2002, p.61): 
 
Assim, age criminalmente a entidade em que seu representante ou 
seu órgão colegiado deixa de tomar medidas de prevenção do dano 
ambiental, por exemplo, usando tecnologia ultrapassada ou impropria 
á qualidade do ambiente. De qualquer modo, a pessoa jurídica deve 
ser beneficiária direta ou indiretamente pela conduta praticada por 
decisão de seu representante legal ou contratual ou de órgão 
colegiado. 
 
Ainda, há doutrinadores que usam como requisito que somente podem 
responsabilizar pessoas jurídicas de direito privado. Porém, há outros que defendem 
a responsabilização de pessoas de direito públicos, mas a lei deixou em aberto ao 
não dar distinção entre as duas. 
 
2.2.1 Posição do STF sobre o tema 
 
O Supremo Tribunal Federal, até pouco tempo não havia se pronunciado 
sobre a responsabilidade da pessoa jurídica, quem enfrentava o tema era o STJ, 
que até então era o que prevalecia. Em 2013, o STF enfrentou diretamente o tema e 
optou por seguir a 3ª corrente quando a 1ª turma, adotou corrente diversa daquela 
até então dominante. Entendeu que é admissível a condenação de pessoa jurídica 
pela prática de crime ambiental, ainda que absolvidas as pessoas físicas ocupantes 
de cargo de presidência ou de direção do órgão responsável pela prática criminosa 
(1ª Turma. RE 548181/PR, rel. Min. Rosa Weber, julgado em 6/8/2013). Cuja ementa 
está colacionada a seguir: 
 
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PENAL. CRIME 
AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA 
JURÍDICA. CONDICIONAMENTO DA AÇÃO PENAL À 
 33 
IDENTIFICAÇÃO E À PERSECUÇÃO CONCOMITANTE DA 
PESSOA FÍSICA QUE NÃO ENCONTRA AMPARO NA 
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. 1. O art. 225, § 3º, da 
Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da 
pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal 
da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A 
norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação. 2. As 
organizações corporativas complexas da atualidade se caracterizam 
pela descentralização e distribuição de atribuições e 
responsabilidades, sendo inerentes, a esta realidade, as dificuldades 
para imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta. 3. Condicionar a 
aplicação do art. 225, §3º, da Carta Política a uma concreta 
imputação também a pessoa física implica indevida restrição da 
norma constitucional, expressa a intenção do constituinte originário 
não apenas de ampliar o alcance das sanções penais, mas também 
de evitar a impunidade pelos crimes ambientais frente às imensas 
dificuldades de individualização dos responsáveis internamente às 
corporações, além de reforçar a tutela do bem jurídico ambiental. 4. 
A identificação dos setores e agentes internos da empresa 
determinantes da produção do fato ilícito tem relevância e deve ser 
buscada no caso concreto como forma de esclarecer se esses 
indivíduos ou órgãos atuaram ou deliberaram no exercício regular de 
suas atribuições internas à sociedade, e ainda para verificar se a 
atuação se deu no interesse ou em benefício da entidade coletiva. 
Tal esclarecimento, relevante para fins de imputar determinado delito 
à pessoa jurídica, não se confunde, todavia, com subordinar a 
responsabilização da pessoa jurídica à responsabilização conjunta e 
cumulativa das pessoas físicas envolvidas. Em não raras 
oportunidades, as responsabilidades internas pelo fato estarão 
diluídas ou parcializadasde tal modo que não permitirão a imputação 
de responsabilidade penal individual. 5. Recurso Extraordinário 
parcialmente conhecido e, na parte conhecida, provido 
(BRASIL.2016). 
 
Trata-se o caso julgado de uma denúncia apresentada pelo MPF por crime 
ambiental contra a pessoa jurídica Petrobrás e também contra dois de seus 
dirigentes (o então Presidente da Companha e um superintendente de uma 
refinaria). Recebida a denúncia, os acusados, pessoas físicas impetraram 
um habeas corpus conseguindo a exclusão do polo passivo da ação penal. 
 
O STJ, adotando o posicionamento já consolidado decidiu que a pessoa 
jurídica também deveria ser obrigatoriamente, excluída do processo, uma vez que as 
pessoas físicas haviam sido excluídas da ação penal. Por conseguinte, ocorreu a 
extinção do processo. 
 
Foi, então, interposto recurso extraordinário para o STF. A 1ª Turma do STF, 
por maioria, cassou o acórdão do STJ. Justificando o entendimento adotado, disse 
 34 
que a tese do STJ (Teoria da Dupla Imputação) viola a Constituição Federal. Tendo 
em vista que, o art. 225, § 3º, da CF/88 não relaciona a responsabilização da pessoa 
jurídica a uma identificação, e manutenção na relação jurídico-processual, da pessoa 
física ou natural, ou seja, não exige que a pessoa jurídica seja, obrigatoriamente, 
denunciada em conjunto com pessoas físicas. 
 
O presente acordão julgado representa uma grande transformação quanto a 
esse assunto, qual seja, da responsabilidade penal da pessoa jurídica em relação 
aos crimes contra o meio-ambiente. O parecer do Supremo diz ser inteiramente 
possível a responsabilização penal da pessoa jurídica no caso de crimes ambientais, 
em virtude da compreensão concedida ao § 3º do art. 225 da CF/88. A pessoa 
jurídica pode ser punida penalmente por crimes ambientais ainda que não haja 
responsabilização de pessoas físicas (BRASIL, 2016). 
 
Para justificar essa corrente, aplica-se uma técnica precisa. A obrigação penal 
da pessoa jurídica pode ocorrer, pois a CF/88 assim determinou. Cabe destacar que 
o § 3º do art. 225 da CF/88 não exige, para que haja responsabilidade penal da 
pessoa jurídica, que pessoas físicas sejam também, obrigatoriamente, denunciadas. 
 
2.3 Danos e crimes causados por atividade de mineração 
 
 Levando em consideração o que mencionamos acima sobre o grande 
destaque que as questões ambientais vêm ganhando nos últimos anos, não apenas 
internacionalmente como também aqui no Brasil, ao criar a Lei 9.605/98, e ainda o 
advento da responsabilidade penal, porém está podendo atuar somente em última 
ratio, ou seja, somente em ações mais graves dirigidas a bens fundamentais podem 
ser criminalizados. 
 
 Sendo assim, pode-se dizer que, ao estabelecer como crime a poluição por 
atividade minerária, a lei supracitada reconhece uma tutela especial, de importância 
quanto à gravidade e intensidade da ofensa. Porém, é imprescindível, a execução 
desta riqueza, devido aos avanços da globalização. Além disso, a Constituição 
Federal também dá ênfase ao prever em vários de seus artigos normas sobre tal 
prática. Nesse sentido, são as palavras de Antunes (2005, p.845): 
 35 
 
A mineração é uma das atividades mais polêmicas quanto aos 
impactos ambientais que produz. Apesar disto, é indiscutível que, no 
nível tecnológico em que a humanidade se encontra, é 
absolutamente impossível a vida humana sem as atividades 
minerárias. Esse fato, evidente por si mesmo, fez com que o 
constituinte de 1988 dedicasse diversos tópicos da Constituição da 
República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, ao tema 
mineração. 
 
 Não poderia ser ao contrário, esta preocupação do legislador ao tratar sobre 
este assunto, porque como veremos, além de ser uma atividade de extrema 
importância para o desenvolvimento tecnológico e de impacto na economia, é 
prejudicial ao meio ambiente, trazendo danos muitas vezes irreversíveis, fazer o 
equilíbrio entre eles não é uma tarefa fácil. A busca em transformá-los, associá-los a 
um desenvolvimento sustentável é o ideal a ser alcançado (ANTUNES, 2005). 
 
 Ainda, sobre a relevância deste tema escreve Priscila Kutne Armelin (2002, 
p.340): 
 
A mineração sempre desempenhou um papel de relevância na 
economia nacional, desde a época em que o Brasil era colônia de 
Portugal, quando este retinha a quinta parte das riquezas minerais 
encontradas e lavradas aqui, pois eram os minerais propriedade do 
Estado que outorgava o direito de lavra aos particulares. Tal 
relevância é conhecida por todos, minerais como carvão, ferro, ouro 
e pedras preciosas, areia, calcário, argila, e outros, são amplamente 
usados pelo homem, seja na industrialização, na tecnologia, na 
construção, enfim, no desenvolvimento. 
 
 Porém, também fala do grande impacto ambiental que ocasiona ao escrever 
que a “atividade de mineração, de forma geral, é ofensiva, podendo ser de maior ou 
menor intensidade, trazendo sérias consequências ao homem e à sua saúde, 
precisando ser tutelada para a efetiva proteção do meio ambiente, não apenas com 
o intuito de reprimir, mas também de prevenir. Ainda, diz que as sanções civis ou 
administrativas não são suficientes para a repressão, fazendo necessário a 
intervenção penal”. (ALMERIN, 2002, p. 341). 
 
 
 
 36 
2.3.1 Legislações Brasileiras Sobre Atividade de Mineração 
 
 A legislação brasileira sobre a atividade de mineração deixa a desejar, no 
sentido de que poderia ser mais precisa quanto à questão ambiental, tanto no 
Código penal e na Lei das contravenções, principalmente ao tratar de mineração. 
Porém, a Constituição Federal dá uma ênfase maior, para ser mais exato, visto que 
todas as Constituições trataram do tema com exceção apenas da Constituição de 
1824, quando vigorava o Regime Imperial (ANTUNES, 2005). 
 
 A Constituição em vigor prevê vários de seus dispositivos sobre esta atividade 
como seus artigos 20, IX, 21, XXV, 22, XII, 174, §§ 3º e 4º, 176 e parágrafos, 231,§ 
3º, assim como fora do corpo da Constituição também encontramos dispositivos que 
se relacionam com o tema, como é o caso do Ato das Disposições Constitucionais 
Transitórias – ADCT, em seus artigos 43 e 44 e seus parágrafos. Além desses há 
várias outras legislações esparsas. Percebe-se com isso que o legislador brasileiro 
teve preocupação e deu atenção especial ao tema (ANTUNES, 2005). 
 
 Partindo deste ponto são relevantes as palavra trazidas por Antunes (2005, p. 
852) quando diz que: 
 
Devo observar que o Estado brasileiro chamou a si a 
responsabilidade de organizar a garimpagem que, como se sabe, é 
uma prática de alto impacto ambiental. E mais, além de organizar a 
atividade garimpeira, o Estado brasileiro atribuiu prioridade na 
autorização ou concessão para pesquisa e lavra dos recursos e 
jazidas de minerais garimpáveis, nas áreas em que os garimpeiros 
estejam atuando, e mesmo em áreas que, posteriormente, venham a 
ser demarcadas. 
 
E continua dizendo [...] “A garimpagem, portanto é constitucionalmente uma 
questão de segurança nacional, e em consequência, cabe ao Conselho de defesa 
Nacional dispor sobre a sua prática nas áreas de fronteira”. (ANTUNES, 2005, p. 
853). 
 
O principal diploma infraconstitucional que regulamenta este exercício é o 
Código de Mineração, é nele que estão os principais requisitos para licenciamento 
 37 
desta atividade. Igualmente, contém dispositivos legais que protegem a agressão ao 
meio ambiente, sendo exemplo seu artigo 47 que assim dispõe: 
 
Ficará obrigado o titular da concessão, além das condições gerais 
que constam deste código, ainda, ás seguintes, sob pena de sanções 
previstas no Capítulo V: [...] V- Executar os trabalhos de mineração 
com observância das normas regulamentares... VII – Não dificultar 
ou impossibilitar por lavra ambiciosa, o aproveitamento ulterior da 
jazida; VIII – Responder pelos danos e prejuízos a terceiros, que 
resultarem direta ou indiretamente da lavra;IX – Promover a 
segurança e a salubridade das habitações existentes no local; X – 
Evitar o extravio de águas e drenar as que possam ocasionar danos 
e prejuízos aos vizinhos; XI – Evitar a poluição do ar ou da água, que 
possa resultar dos trabalhos de mineração; XII – proteger e 
conservar as fontes, bem como utilizar as águas segundo os 
preceitos técnicos, quando se tratar de lavra da classe VII... 
(Decreto-Lei n. 227 de 28.02.1967). 
 
O referido Código sofreu alterações introduzidas pela Lei n. 7805/89, também 
foi modificado pela Lei n. 9.314/96. É no Código de Minas que encontramos os 
padrões básicos para licenciamento das atividades minerárias e conceitos básicos 
sobre ela. 
 
Além destas legislações acima citadas, há outras leis esparsas que tratam de 
tema específico dentro da atividade mineraria, mas, a norma mais importante em 
questão, para nosso trabalho, é o artigo 55 e parágrafo único da Lei n. 9.605/98, que 
trata do crime em si: 
 
Art. 55. Executar pesquisa lavra ou extração de recursos minerais 
sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou 
em desacordo com a obtida: Pena - detenção, de seis meses a um 
ano, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem 
deixa de recuperar a área pesquisada ou explorada, nos termos da 
autorização, permissão, licença, concessão ou determinação do 
órgão competente (BRASIL, 2016) 
 
Todavia, discute-se se esse artigo é uma norma penal em branco, e se 
ofende ou não o princípio da reserva legal. Pode-se dizer que o parágrafo único é 
uma norma penal em branco, porque reporta a norma administrativa para se saber o 
teor dos termos de autorização, permissão, concessão ou licença, porém, não 
ofende o princípio da reserva legal, pois o teor dos termos estão em outros textos 
legais, como abordado no estudo. “Alguns dos termos ali usados tem seus conceitos 
 38 
estipulados no Código de Mineração, como por exemplo: pesquisa mineral, lavra, 
autorização, enfim, termos indispensáveis para a efetiva elucidação do artigo” 
(ARMELIN, 2002, p. 353). 
 
Logo, a tipificação do crime por atividade ou poluição ocasionado por 
atividades que utilizam a mineração ao meio ambiente está tipificado no artigo 
supracitado. Cabe ressaltar que o dever de recuperação na exploração mineral está 
prevista no § 2ª do artigo 225 da Constituição federal que recepcionou a tutela penal 
juntamente com as demais leis. Esse crime e vários outros serão estudados com 
mais detalhes no próximo capítulo, quando for tratado um caso verídico, que por sua 
vez, lamentavelmente, provocou a destruição do meio ambiente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 39 
3 CASO SAMARCO E CRIMES COMETIDOS 
 
3.1 Exposição do caso Samarco (noticiado pelo G1 e laudo preliminar) 
 
Ao contrário do que muitos pensam, que recursos naturais são infinitos e 
que nunca se acabam, pesquisas e estudos atualmente demostram a preocupação 
cada vez maior dos pesquisadores e ambientalistas, uma vez que, tudo está mais 
escasso. Porém, aumenta o problema à medida que ocorrem descasos com o meio 
ambiente, ou seja, a ambição está acima de tudo. 
 
Não muito longe de nós, há poucos meses, aconteceu uma das mais 
marcantes tragédias ambientais do mundo, provocada pela atividade mineradora no 
país, marcada por ambição, descaso e ignorância. A empresa até então conhecida 
como uma das líderes em projetos socioambientais. Nada disso, adiantou quando no 
dia 05 de novembro do ano de 2015, por volta das 16 h e 20 min, duas barragens se 
romperam causando um mar de lama sobre duas cidades de Minas Gerais, atingindo 
pessoas, casas, sem contar a poluição dos rios de água doce, a destruição de 
florestas e a morte de pessoas (conforme demonstra o antes e o depois no anexo 1 
deste trabalho). 
 
 Apesar de que tragédias socioambientais, principalmente no histórico da 
mineração brasileira e no mundo ocorrerem com frequência, esta ficou marcada na 
história do Brasil. Segundo pesquisadores, foi uma dos maiores desastres 
socioambientais, haja vista, grande dimensão de impactos ambientais. 
 
Antes de serem analisados os aspectos ambientais impactados por esta 
tragédia, é válido conhecer quem é a Samarco S/A. Ela é o resultado da união de 
duas ou mais empresas já existentes com o objetivo de iniciar ou realizar 
uma atividade econômica comum, por um determinado período de tempo. Neste 
caso, os acionistas majoritários são a companhia Vale do Rio Doce e a anglo-
australiana BHP Billinton. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria 
e Comércio Exterior (MDIC), é uma das maiores exportadoras do país, ocupando, 
em 2014, a 10ª posição (G1, 2016). 
 
 40 
As barragens que se romperam, pertenciam a esta empresa, e foram 
construídas para servir de depósito aos resíduos gerados durante o processo de 
mineração de ferro. Conhecidas como Barragem do Fundão e Barragem Santarém, 
as represas estão localizadas na unidade industrial de Germano, no subdistrito de 
Bento Rodrigues, no Município de Mariana em Minas Gerais. 
 
 Segundo, os noticiários e relatórios disponíveis a barragem de Fundão entrou 
em colapso e se rompeu e em minutos lançou ao meio ambiente milhões de 
toneladas de rejeitos de minério, que atingiu a barragem de Santarém ocasionando 
seu transbordamento, formando um devastador tsunami de lama que alcançou o 
distrito de Bento Rodrigues, destruindo completamente o local (como demonstra o 
anexo 2 deste trabalho). Em horas, a lama se alastrou, soterrando casas do distrito 
de Paracatu de Baixo e causou sérios transtornos em outros distritos de Mariana/ 
MG, além de contaminar importantes rios como Gualaxo do Norte, do Carmo e o 
Doce (BRASIL, 2016). 
 
 Com a poluição desses rios houve um rastro de destruição que atingiu direta 
e indiretamente municípios de Minas Gerais e Espírito Santo, até chegar ao Oceano 
Atlântico, provocou impactos a longo prazo no ecossistema, no Rio Doce e seus 
afluentes, na fauna, no solo e nas atividades econômicas (agricultura, pesca, 
turismo) da população que vive na região. 
 
O IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais 
Renováveis) aplicou uma multa preliminar à Samarco de 250 milhões de reais. A 
empresa foi condenada por poluição de mananciais, por tornar áreas urbanas 
inadequadas para a ocupação, por causar interrupção do abastecimento de água, 
por lançar rejeitos em rios, por provocar perda de biodiversidade na bacia do Rio 
Doce, por provocar mortes e colocar em risco à saúde humana (BRASIL, 2015). 
 
 Este desastre não só atingiu os aspectos ambientais e ecológicos, como 
também aspectos econômicos, de infraestrutura, aspectos sociais e humanos e 
aspectos regulatório-institucionais. Uma das causas deste fato, segundo 
especialistas, está relacionada com a utilização de métodos, técnicas antigas, mais 
tradicionais e menos onerosas. Atualmente há novas técnicas de filtragem de 
 41 
resíduos, que permitem a drenagem mais segura, porém as mineradoras preferem 
assumir o risco a investir neste novo sistema que eleva em 6 vezes os custos de 
produção (BRASIL, 2016). 
 
 Em relação ao mencionado acima, Luciano M. N. Lopes (2016, p.4) afirma: 
 
No caso do rompimento da barragem de Mariana/MG os 
especialistas são uníssonos em afirmar que a utilização de técnicas 
mais modernas de filtragem dos resíduos, a manutenção correta das 
barragens, a utilização de instrumentos de monitoramento eletrônico, 
a implementação de sistemas de alerta, a adoção de planos 
emergenciais e, sobretudo, uma fiscalização séria e eficiente pelos 
órgãos competentes são medidas que, se estivessem em pleno 
funcionamento, certamente teriam evitado o desastre ou 
minimizariam seus impactos socioambientais. 
 
 Em continuação, Lopes (2016) traça as prováveis causas do rompimento da 
barragem, tomando como base as diversas linhas de investigações que buscam 
respostas sobre os

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