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Direito Ambiental NATHALIA ELLEN SILVA BEZERRA Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria NATHALIA ELLEN SILVA BEZERRA AUTORIA Nathalia Ellen Silva Bezerra Sou formada em Direito, com uma experiência técnico-profissional na área de Direito do Trabalho e Previdenciário. Além disso, atuo como conciliadora e advogada, tendo em vista a colocação em prática e a valorização dos meios alternativos de solução de conflitos. Ao longo da minha vida acadêmica, sempre demonstrei um grande interesse pela escrita, dessa forma espero que, por meio desse material e da experiência vivenciada, você consiga adquirir e ampliar os seus conhecimentos para que possa exercer uma vida profissional plena. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Tipos de Poluição ............................................................................................. 12 Aspectos Gerais sobre a Poluição ...................................................................................... 12 Os Principais Tipos de Poluição ...........................................................................................16 Poluição da Água ......................................................................................................... 17 Poluição do Ar ................................................................................................................ 17 Poluição Sonora ............................................................................................................18 Poluição Visual ............................................................................................................... 19 Poluição do Solo ........................................................................................................... 19 Poluição Atômica.......................................................................................................... 19 Impactos Ambientais e Crises no Meio Ambiente ............................ 21 Aspectos Gerais Acerca dos Impactos Ambientais ............................................... 21 Conceito e Tipos de Impactos Ambientais ...............................................23 Crise do Meio Ambiente .............................................................................................................26 Crimes e Infrações Ambientais ..................................................................29 Crimes Ambientais: Definição, Características e Legislação ...........................29 Tipos de Crimes Ambientais ...................................................................................................34 Crimes Contra a Fauna .............................................................................................34 Crimes Contra a Flora ...............................................................................................34 Poluição e Outros Crimes Ambientais ..........................................................35 Crimes Contra o Ordenamento Urbano e Patrimônio Cultural . 36 Crimes Contra a Administração Ambiental .............................................. 36 Infrações Ambientais ................................................................................................................... 36 Responsabilidade Civil Ambiental ...........................................................38 Aspectos Gerais da Responsabilidade civil ................................................................ 38 Responsabilidade Civil Objetiva e Subjetiva .............................................................. 40 Responsabilidade Civil no Âmbito do Direito Ambiental .................................... 41 9 UNIDADE 03 Direito Ambiental 10 INTRODUÇÃO Você sabia que a área relativa ao Direito Ambiental está em constante avanço, sendo uma das pautas que gera maiores preocupações no âmbito mundial na atualidade? Diante disso, diversas leis são criadas no âmbito nacional e internacional com o intuito de assegurar e promover o bem-estar e a segurança dos recursos naturais, para que eles continuem possibilitando uma vida com índice de qualidade satisfatório, não só para as gerações atuais, como também para as futuras. Com base nisso, durante a presente unidade estudaremos quais são os principais impactos e crimes que podem ser gerados e que existem no mundo, tendo como foco principal o Brasil. Além disso, também passaremos a entender que os danos ambientais são passíveis de punição de acordo com as normas relativas à responsabilidade ambiental, que tem o intuito de tornar mais severa e obrigatória a proteção, a preservação e a restauração ambiental. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Direito Ambiental 11 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3 – Degradação ambiental: responsabilidade civil e criminal. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Analisar quais são os tipos de poluição. 2. Averiguar os principais impactos ambientais e crises no meio ambiente. 3. Investigar os crimes e infrações ambientais. 4. Identificar os impactos relativos à responsabilidade ambiental no ordenamento jurídico brasileiro. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Direito Ambiental 12 Tipos de Poluição OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de analisar cada um dos tipos de poluição, conseguindo ainda visualizar cada uma dessas tipologias na prática e entender de forma crítica os impactos que eles podem causar ao meio ambiente, e consequentemente, à saúde humana. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Então vamos lá. Avante!. Aspectos Gerais sobre a Poluição Querido aluno, até aqui e com base no seu conhecimento de mundo, podemos entender a importância que o meio ambiente exerce para a vida humana, assim como para os demais tipos e espécies de vida. Assim, além de precisarmos dele para sobreviver, nós o integramos. Apesar das diversas leis que já estudamos até o momento serem responsáveis pela proteção do meio ambiente, estabelecendo formas de garantir a sua preservação e a sua proteção, ainda são vistos e promovidos, diariamente, inúmeros danos ao meio ambiente, alguns, inclusive, irreversíveis. Nesse sentido, durante este capítulo vamos direcionar os nossos esforços não para o entendimento daquilo que deve proteger o meio ambiente, como viemos fazendo até o presentemomento, mas para alguns dos principais danos promovidos ao meio ambiente, para que possamos entender os prejuízos gerados, bem como formas de dirimir tais danos e prejuízos, já que alguns deles podem ser evitados de maneira simples. Quanto aos mais complexos, compreenderemos a importância do desenvolvimento de políticas e ações responsáveis por impor limites a essas ações nocivas. Direito Ambiental 13 Mais uma vez, é importante esclarecer que proteger, preservar e defender o meio ambiente não significa frear a economia e/ou impedir o desenvolvimento dos países, mas sim uma nova forma de pensar e buscar essas finalidades sob um olhar ambientalista. Afinal, se destruirmos o meio ambiente, não sobrará mundo para que estejamos preocupados com desenvolvimento econômico! Atualmente, a sociedade procura aliar métodos técnicos, científicos e tecnológicos na busca de promover a preservação ao meio ambiente, diminuindo os impactos e a produção da poluição em suas variadas tipologias, o esgotamento de recursos naturais e os desastres ecológicos. Assim, antes de adentrarmos em uma análise mais detalhada acerca da poluição, primeiro vamos refletir um pouco. Imagine como seria o mundo sem os homens, ou melhor, sem os Homo sapiens. Responda às perguntas acerca desse mundo utópico: você consegue visualizar algum prédio? Escutar o barulho do motor de algum carro? Você sentiria dificuldades para respirar? Passaria muito tempo em engarrafamentos? Veria notícias na televisão acerca do desmatamento? Não precisamos pensar muito antes de responder a essas perguntas, afinal o mundo sem o homem seria totalmente diferente. Claro que o Homo sapiens não foi responsável apenas por promover danos, já que os avanços propostos por nós também facilitam a nossa vida em proporções incalculáveis. Contudo somos uma raça egoísta e imediatista, por isso demoramos anos para demonstrar preocupação com o meio ambiente e, consequentemente, com gerações futuras e outras espécies, sejam essas animais ou vegetais. Ainda assim, mesmo que atualmente nós tenhamos várias preocupações ambientais, os danos não foram extintos, ainda existem, uns em proporção maior, outros em proporção menor, mas fazem-se presentes. O ser humano é responsável por agravar diariamente os prejuízos ao meio ambiente, com rios, mares e lagos poluídos, florestas, em sua maioria, desmatadas, sendo esses impactos apenas alguns dos muitos promovidos pelos seres humanos. Torna-se necessário, ainda, destacar a agilidade com que impactos em escala mundial aconteceram. Direito Ambiental 14 Um dos danos ambientais promovidos pelo mundo todo em grande escala é a poluição, responsável por atingir o meio ambiente. Assim, para que possamos entender o que é esse dano, primeiro precisamos relembrar que, em conformidade com a Política Nacional de Meio Ambiente, expressa pela Lei nº 6.938/1981, o meio ambiente é “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981). Nesse sentido, tudo aquilo que for produzido por microrganismos ou for produzido pelo homem e que afete a natureza, por ultrapassar a sua capacidade de absorção, gerando modificações nas condições físicas e afetando as diversas espécies existentes nesses espaços naturais, será considerado como poluição. Desta feita, a Política Nacional do Meio Ambiente, em seu artigo 3º, III, define poluição como sendo III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. (BRASIL, 1981) A partir desse entendimento, a poluição é produzida pelo homem e está em frequente avanço desde o período em que movimentos como a industrialização, a urbanização e a globalização ganharam cada vez mais força, levando em consideração que, no início desses processos, não havia uma preocupação ambiental e, muito menos, planejamentos e políticas voltadas para o crescimento sustentável. Assim, o artigo 3º da Política Nacional do Meio Ambiente, agora em seu inciso IV, define poluidor como sendo “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental” (BRASIL, 1981). Direito Ambiental 15 Um dos grandes problemas relacionados à poluição é que, além de ela em si ser considerada um dano ambiental, ainda é responsável pela promoção e/ou pela intensificação de outros problemas. Dessa maneira, a poluição pode ser geradora de alterações climáticas, pode promover a escassez da água, a desertificação, a perda da biodiversidade, o aumento do lixo, danos à qualidade do ar, pode aumentar os impactos do efeito estufa, promover a exaustão dos recursos naturais, entre tantos outros. Além disso, a maior parte dos problemas promovidos pela poluição é responsável por afetar a saúde humana seja de forma direta ou indireta. Dessa maneira, a poluição está diretamente ligada ao estilo de vida que os seres humanos levam. Nas épocas em que a indústria está com um maior índice de produção, crescem os impactos ambientais; nos momentos em que as cidades estão mais cheias em razão de eventos turísticos ou de qualquer natureza, também conseguimos visualizar impactos como o aumento de lixo nas ruas e uma quantidade maior de emissão de gases em virtude do aumento de veículos. Por outro lado, quando as pessoas ficam em casa e as indústrias reduzem a sua produção, percebem-se efeitos positivos e a diminuição, quase que imediata, de efeitos gerados pela poluição torna-se visível. Um exemplo recente e atual é o acontecido por conta do isolamento social consequente do COVID-19. SAIBA MAIS: Assim, para entender melhor acerca da relação entre a redução da poluição e o isolamento social resultante da pandemia provocada pelo COVID-19, faça a leitura das seguintes notícias: “Poluição do ar em São Paulo diminuiu 50% na primeira semana de quarentena”, neste link, e “Estudo de Harvard aponta relação entre a poluição do ar e taxa de mortalidade da COVID-19”, neste link. Aluno, como vimos, a poluição não é responsável por atingir apenas um ponto específico do meio ambiente, sem causar danos aos demais, pois pode promover impactos à natureza de diversas maneiras. Diante disso, no tópico a seguir passaremos a compreender em detalhes os principais tipos de poluição. Direito Ambiental https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/04/08/poluicao-do-ar-em-sao-paulo-diminui-50percent-na-primeira-semana-de-quarentena.ghtml https://oglobo.globo.com/sociedade/estudo-de-harvard-aponta-relacao-entre-poluicao-do-ar-taxa-de-mortalidade-da-covid-19-24359145 16 Os Principais Tipos de Poluição Antes que possamos ampliar os nossos conhecimentos sobre os tipos de poluição, pense no seu cotidiano e tente visualizar se no ambiente em que você está inserido existe poluição. Se a resposta para essa pergunta for “sim”, tente classificar as poluições do seu convívio e, ao longo dos tópicos seguintes, faça um comparativo entre o que você respondeu inicialmente e aquilo que responderá ao término do presente capítulo. A classificação da poluição em tipos é feita com o intuito de promover uma maior didática sobre o assunto, assim como para facilitar o entendimento dos danos que podem ser causados e dos principais agentes causadores, tornando mais simples a tarefa de elaborar políticas, ações e métodos que visem reduzir os malefícios promovidos pela poluição nos diversos setores presentes na vida social. Observe a Figura 1. Figura 1 – Principais tipos de poluiçãoFonte: Elaborado pela autora (2020). Direito Ambiental 17 Poluição da Água O desempenho de várias tarefas cotidianas pode gerar danos e prejuízos para a água, que podem ser visualizados no meio rural, porém são vistos com uma frequência maior nas regiões urbanas. A poluição da água pode ser promovida pelos esgotos domésticos, lixo, rejeitos industriais, irrigação inadequada, acidentes ecológicos, entre outros. O planeta Terra é, em grande parte, composto por água, sendo que esse recurso faz-se presente no mar, nos rios, nos lagos e nos oceanos. Dessa maneira, a poluição causará impactos diversos a depender do aquífero que tenha sido atingido, pois, em razão de suas naturezas e peculiaridades, cada um pode se manifestar de forma distinta. Entre os maiores desastres acontecidos no Brasil, responsáveis por danificar e poluir grandes porções de água, está o desastre de Mariana, onde a barragem conhecida como “barragem do Fundão”, pertencente à empresa Samarco, liberou mais de 40 milhões de metros cúbicos de resíduos contaminados, tendo promovido o desaparecimento de localidades como Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, segundo notícia veiculada pela página online do Estado de Minas. A lama contida na barragem foi responsável pela morte de 19 pessoas e por gerar impactos a 39 municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo, tendo percorrido mais de 600 km pelo rio Doce e os seus afluentes até chegar ao Oceano Atlântico. Durante todo o caminho, uma quantidade inestimável de fauna e flora foi prejudicada, danificada e devastada. Poluição do Ar A poluição promovida ao ar também é conhecida como poluição atmosférica, e ocorre por meio de gases tóxicos e partículas sólidas presentes no ar, em razão das produções industriais, do uso de veículos, de usinas térmicas, entre outros que também afetam a qualidade do ar. Esse tipo de poluição é responsável por promover diversos tipos de danos à saúde humana, já que podem gerar problemas respiratórios, asma, alergias, lesões degenerativas e até mesmo câncer nos principais órgãos do corpo humano, como, por exemplo, câncer pulmonar. Desta Direito Ambiental 18 feita, quanto maior for a cidade em que as pessoas estiverem inseridas, maiores tendem a ser os danos promovidos à saúde dos habitantes. Além disso, as metrópoles são envoltas em redomas atmosféricas que aprisionam o ar quente e dificultam a dispersão dos gases poluentes, aumentando ainda mais os prejuízos ao ar e à saúde humana. SAIBA MAIS: O índice de poluição do ar é tão intenso em algumas localidades do mundo, que esse fator acaba por gerar oportunidades econômicas. Exemplo disso foi a criação de um bar que vende doses de oxigênio na Índia. Para entender melhor essa ideia, realize a leitura da notícia intitulada “O bar que vende doses de oxigênio em Nova Déli, cidade tomada pela poluição”, neste link. Poluição Sonora A poluição sonora pode ser compreendida como as alterações promovidas nas propriedades físicas do meio ambiente e que são resultantes das emissões de som, sejam essas em níveis regulados ou não pela legislação vigente, pois o que deve ser levado em conta é a existência e o grau dos danos que podem ser promovidos, de forma direta ou indireta, à saúde do ser humano. A poluição sonora também é responsável por danificar a saúde humana, podendo resultar em surdez temporária, permanente, total ou parcial, dores de cabeça, tontura, estresse, ansiedade, fadiga, redução de produtividade, instabilidade emocional, irritação, aumento da pressão sanguínea, elevação do ritmo cardíaco, aumento na produção de adrenalina, e até mesmo distúrbios do sono, entre tantos outros danos. Direito Ambiental https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/11/27/o-bar-que-vende-doses-de-oxigenio-em-nova-deli-cidade-tomada-pela-poluicao.ghtml 19 Poluição Visual Por sua vez, a poluição visual é a responsável por promover danos e incômodos por meio de impactos visuais, que podem ser causados por pichações, excesso de luminosidade e telões, lixo, letreiros, entre outros. Assim, como os demais tipos de poluição apresentados até o momento, a poluição visual também é capaz de produzir malefícios à saúde humana, promovendo, por exemplo, o estresse, a fadiga e a ansiedade. Além disso, também afeta a estética e as condições sanitárias dos locais em que se fazem presentes. Poluição do Solo Assim como o ar e água podem ser atingidos pela poluição, o solo também pode ser poluído, promovendo uma intensificação ou o surgimento de processos como a erosão e a desertificação. Na maioria dos casos, a poluição do solo ocorre por meio do uso de componentes químicos, práticas inadequadas de conservação, devastação e desmatamento de florestas, queimadas, descarte inadequado de lixo, entre outros fatores. Poluição Atômica A poluição atômica é aquela promovida pela utilização de elementos radioativos e resultantes da exploração de energia nuclear. Os danos promovidos por esse tipo de poluição são catastróficos, tanto ao meio ambiente, como à saúde humana, sendo vistos durante várias gerações, já que podem promover deformações e alterações genéticas. Um dos grandes problemas existentes quanto a esse tipo de poluição, em âmbito mundial, faz referência às formas adequadas de descarte dos lixos atômicos produzidos pelas usinas nucleares, já que diversas dificuldades apresentam-se quanto ao armazenamento e tratamento desses materiais. Direito Ambiental 20 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que diversos danos ambientais podem ser gerados com base nas ações cotidianas dos indivíduos. Entre os principais danos e prejuízos resultantes da atividade humana, pode ser citada a poluição, que, além de gerar prejuízos ao ambiente por si só, ainda é capaz de intensificar outros, promovendo modificações climáticas e alterações na biodiversidade. Além disso, também passamos a compreender que a poluição, em razão de sua amplitude, divide-se em tipos, sendo os mais importantes a poluição do ar, a poluição da água, a poluição do solo, a poluição sonora, a poluição visual e a poluição atômica. Direito Ambiental 21 Impactos Ambientais e Crises no Meio Ambiente OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender quais são os principais impactos causados ao meio ambiente, dando ênfase ainda ao entendimento relativo às crises do meio ambiente e as suas principais consequências para a qualidade da vida humana. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão e para a sua formação como cidadão, tendo em vista que o meio ambiente também faz parte dos seus direitos. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Então vamos lá. Avante! Aspectos Gerais Acerca dos Impactos Ambientais É da natureza humana ser imprevisível e mutável. Práticas hoje consideradas como corriqueiras e normais, há trinta, vinte, dez anos não eram visualizadas dessa maneira. Nesse mesmo sentido, podemos analisar as alterações presentes no modo de vida dos seres humanos. Em um passado não tão distante, a vida, predominantemente, ocorria nos espaços rurais, contudo, atualmente, ainda que o campo exerça um papel fundamental para o bem-estar humano no que se refere à agricultura e a outras atividades, o desenvolvimento e a maior parte populacional não se encontram nesses ambientes. O meio urbano é o local em que as principais mudanças e evoluções são vistas, pois é o centro do desenvolvimento econômico, político e social. Desta feita, muitos passos foram dados em caminho ao progresso desde que o processo de urbanização ocorreu, porém, assim como tudo apresenta um lado bom e outro ruim, no cenário urbano não poderia ser diferente. A criação e a constante ampliação das cidades são responsáveispor intensificar os impactos ambientais. Direito Ambiental 22 Nas cidades, principalmente nas metrópoles, aspectos culturais, costumeiros e habituais acabam trazendo impactos e interferências ao meio ambiente, já que, infelizmente, muitas das práticas e ensinamentos presentes no Brasil vão de encontro a ações que protejam o meio ambiente e. Sendo assim, por mais que já existam leis e projetos que visem promover a reeducação ambiental da população, os problemas relativos a esse assunto são complexos e até de difícil resolução, já que hábitos e costumes não são aspectos fáceis de serem modificados e práticas enraizadas na nossa cultura levam anos para que sejam alteradas. Para que tais mudanças e avanços sejam feitos, é necessário que os primeiros passam sejam dados, afinal não há como começar pelo fim, ou simplesmente mudar tais fatores de forma repentina. Com pequenos avanços, somos capazes de promover grandes mudanças para o cenário ambiental. Uma conscientização voltada para aspectos como, por exemplo, a realização da coleta de lixo pela população e a sua efetivação pelos governantes, o consumo moderado da água e até mesmo a simples prática de não jogar papel no chão, já são capazes de trazer mudanças significativas desde que a população em geral esteja disposta a adotar novos hábitos. Por outro lado, outros fenômenos responsáveis por promover impactos ambientais de alto índice são mais difíceis de serem reparados, tendo em vista que o uso da água e a produção de resíduos gerado pela indústria de consumo de bens matérias promovem impactos significativos ao meio ambiente. Além do processo relativo à urbanização ter sido uma das causas para o aumento dos problemas ambientais, o crescimento populacional verificado, não só no Brasil, mas no mundo como um todo, tem demonstrado ser também um dos fatores relacionados ao aumento da promoção dos impactos negativo, principalmente nos cenários que envolvem os países em desenvolvimento e as regiões marcadas por altos índices de pobreza, pois esses fatores favorecem as aglomerações em periferias, tornando o número de favelas ainda maiores. Além disso, como nesses espaços há pouca assistência, os danos promovidos ao meio ambiente acabam sendo ainda maiores, pois construções são feitas em Direito Ambiental 23 locais irregulares e sem a devida autorização, sendo esse apenas um dos fenômenos gerados pela marginalização presente nos centros urbanos. Outro fato facilmente identificável é que, independentemente da classe social a que o indivíduo pertença, há um desejo de melhorar, de ascender. Nesse sentido, o que todos parecem ter em comum é a vontade de ter seus direitos garantidos, englobando aqueles relativo à vida saudável e a um ambiente saudável, responsáveis por fornecer uma melhor qualidade de vida. Assim, aspectos como ar puro, água pura e outros fatores considerados essenciais para uma vida digna, estável e de qualidade elevada. Porém, esse não é o cenário observado na maior parte das cidades, já que, como mencionado no capítulo anterior, existem bares que, por conta da qualidade do ar, já comercializam oxigênio, como uma forma de aliviar e fornecer uma respiração de maior qualidade para os seus clientes nem que seja por poucos segundos. Conceito e Tipos de Impactos Ambientais Nesse sentido, para que possamos entender um pouco melhor o que são os impactos ambientais, é preciso que entendamos a sua definição. Diante disso, em conformidade com a resolução do Conama nº 001 de janeiro de 1986, o artigo 1º determina que Artigo 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais. (BRASIL, 1986) Desta feita, todas as ações promovidas pelos homens são responsáveis por gerar impactos ao meio ambiente. Contudo cabe a nós analisarmos se todo o impacto ambiental é negativo. Assim, com base nos conhecimentos que você já possui sobre a temática, reflita um pouco antes de prosseguir. Direito Ambiental 24 Se durante a sua reflexão você tiver chegado à conclusão de que os impactos ambientais podem ser positivos e negativos a depender dos resultados gerados por eles, então você está alinhado com os ensinamentos apresentados até o momento. Mas, se você ficou confuso e acabou chegando à conclusão de que os impactos só podem ser negativos, não se preocupe, vamos entender melhor o assunto. Mesmo que impactos positivos também possam ser gerados, infelizmente a maior parte dos impactos ambientais são negativos, tendo em vista que apresentam como resultados danos ao meio ambiente, promovendo a sua degradação e poluição. Nesse sentido, como já aprendemos, os impactos negativos estão relacionados ao aumento do número de cidades, à ampliação das zonas urbanas, ao uso cada vez mais maior de automóveis, à utilização indevida e inconsequente dos recursos naturais, sem haver uma preocupação com a sua reposição, ao consumo exagerado e inconsciente de bens e serviços e à produção de lixo sem que haja uma preocupação com a sustentabilidade ou com a utilização de materiais degradáveis. Assim, o comportamento e as influências promovidas pelo âmbito empresarial também são responsáveis por gerar os impactos negativos, mas não podem, de maneira nenhuma, ser compreendidos como os únicos responsáveis, tendo em vista que a sociedade, a população, ou seja, você, meu querido aluno, com pequenas atitudes, também promove impactos ambientais negativos em suas práticas diárias. Tabela 1 – Consequências dos impactos ambientais IMPACTOS AMBIENTAIS NEGATIVOS IMPACTOS AMBIENTAIS POSITIVOS Extinção de espécies Campanhas de plantio de árvores Poluição Coleta seletiva Inundações Uso de sacolas biodegradáveis Intensificação do efeito estufa Limpar praias Mudanças climáticas Uso de energia solar Diminuição da qualidade de vida Obras de revitalização Erosões Criação de espaços verdes em centros urbanos Fonte: Elaborado pela autora (2020). Direito Ambiental 25 A Tabela 1 apresenta alguns dos principais impactos que podem ser gerados ao meio ambiente, dividindo-os em positivos e negativos. Ainda que existam variados empecilhos para a execução de propostas que promovam os impactos ambientais positivos, esses ainda acontecem e cada vez mais atenção tem sido destinada a essas propostas. Desta feita, os impactos ambientais positivos relacionam-se a técnicas, métodos e programas destinados à preservação do meio ambiente, englobando ainda ações que se refiram a sua manutenção, recuperação, defesa e/ ou proteção. Além disso, os impactos ambientais também podem ser promovidos como resultado da mineração, fontes de energia, da agricultura, pelo consumo, pela geração de lixo e pela agropecuária. Levando em consideração que o número de impactos negativos gerados é muito maior do que a quantidade de impactos positivos, as legislações presentes no território nacional estabelecem medidas que visam equilibrar esse cenário, como apresentado na figura 2. Figura 2 – Medidas resultantes de impactos ambientais negativos Fonte: Elaborado pela autora (2020). As medidas denominadas como mitigadoras são empregadas em conjunto com a execução da ação. Em outras palavras, tenta-se diminuir os impactos ambientais negativos desde o momento de seu surgimento. Podemos citar como exemplo uma obra da construção civil que, ainda no momento de construção de determinado edifício, opta pela utilização de materiais recicláveis, adotando um projeto consciente e com a menor quantidade de danos ao meio ambientepossível. Direito Ambiental 26 Já as medidas compensatórias são adotadas nos momentos em que há a possibilidade de dirimir os impactos ambientais negativos ainda quando se encontram em sua fonte causadora. O termo “compensatória” está ligado ao verbo “compensar”. Dessa maneira, é preciso que seja implementada uma outra medida com o intuito de remediar os danos causados, por meio de ações benéficas ao meio ambiente, ou seja, essas medidas serão utilizadas quando os danos já tiverem se concretizado e houver a intenção de amenizá-los. Como exemplo, pode-se citar o reflorestamento, que tem como intenção balancear os danos causados pelo desmatamento. Crise do Meio Ambiente Na sua opinião, atualmente enfrentamos uma situação de crise? Como você diria que ela acontece? Quais foram as causas que provocaram o surgimento dessa crise? As condições ambientais estão piores ou do mesmo jeito? Para que possamos entender esse contexto, é primeiro primordial que entendamos o conceito de crise. Dessa forma, conforme Wagner da Luz, a palavra crise é utilizada em situações referentes a doenças, a distúrbios funcionais e a momentos que envolvam mudanças bruscas e repentinas na realidade em que estamos inseridos. O termo “crise” pode ser utilizado para alertar estados críticos de saúde, bem como para destacar momentos de dificuldade mundial, como, por exemplo, a crise econômica de 1929. Nesse sentido, a crise ambiental, em conformidade com Wagner da Luz, pode ser compreendida da seguinte forma: A crise ambiental, em sua dupla articulação com a dimensão social, é resultado direto de um modelo de desenvolvimento, de base capitalista, que se baseia na ideia de crescimento infinito, que acaba gerando concentração das riquezas e exclusão social. Além disso, gera-se também riscos socioambientais de todos os tipos, a fragilização das instituições democráticas e um padrão ético individualista, competitivo e utilitarista. Este modelo se estende por todo o globo e pouco importa a localidade em questão, existe uma tendência a uma uniformização do pensamento. (LUZ, 2018) Direito Ambiental 27 As crises ambientais presentes em todo o mundo são reflexos das atitudes humanas e da ausência de preocupação suficiente com a diminuição das imprudências e das agressões provocadas ao meio ambiente, sejam elas derivadas de atitudes diretas ou indiretas, assim como causadas por pessoas físicas ou por pessoas jurídicas. Dessa maneira, a crise ambiental é uma reação natural do meio ambiente às ações e aos danos que vêm atingindo a natureza há tantos anos. Nesse sentido, a crise ambiental não se faz presente apenas em uma localidade, não é uma realidade restrita do Brasil, mas, sim, do mundo como um conjunto. Dessa forma, todos sentem os efeitos promovidos pelas ações humanas no meio ambiente. É fato que a crise ambiental já está instaurada e também é fato que muitos dos prejuízos gerados não podem ser restaurados ou solucionados, afinal as espécies que entraram em extinção não podem mais ser retomadas. Porém, mesmo que os danos sejam incalculáveis, nem tudo está perdido, ainda há tempo para nos reerguermos em busca de um ambiente equilibrado ecologicamente, ainda está em tempo de estabelecermos lutas protetivas ao meio ambiente. Contudo as discussões e as medidas a serem tomadas precisam ser feitas agora, não há mais tempo para esperar, por isso precisamos sair de nossas zonas de conforto e tomar as atitudes corretas a favor das causas ambientais. SAIBA MAIS: Levando em consideração a crise ambiental instaurada no mundo, as organizações e as entidades governamentais pronunciam-se acerca dessa temática. Um desses pronunciamentos pode ser conferido na notícia a seguir: “ONU afirma que crise ambiental no planeta é grave, mas tem solução”. Link: Dessa forma, as questões ambientais fazem parte do cotidiano humano, principalmente quando são levados em conta os contextos urbanos e os problemas ambientais vistos todos os dias nas cidades, e que afetam de forma mais severa aqueles que se encontram em situação crítica e marginalizada. Direito Ambiental http://g1.globo.com/natureza/rio20/noticia/2012/06/onu-crise-ambiental-no-planeta-e-grave-mas-tem-solucao.html 28 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que todos os atos promovidos pelo ser humano devem ser enquadrados como impactos ambientais, contudo esses podem manifestar-se de forma positiva ou de maneira negativa, dependendo dos resultados que serão obtidos e refletidos no cenário ambiental. Dessa maneira, os impactos negativos materializam-se por meio da urbanização e do aumento populacional, assim como pelas ações decorrentes desse fenômeno. Ainda que seja mais raro de se verem, os impactos positivos também podem ser constatados. Por fim, analisamos os efeitos promovidos pela crise ambiental que se instaura, não só no Brasil, mas no mundo como um todo, sendo necessário que decisões sejam tomadas com o intuito de evitar que ainda mais danos ocorram. Direito Ambiental 29 Crimes e Infrações Ambientais OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de analisar quais são os principais crimes e infrações ambientais presentes no ordenamento jurídico brasileiro, bem como as consequências de tais crimes e infrações. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Então vamos lá. Avante!. Crimes Ambientais: Definição, Características e Legislação Já aprendemos até aqui inúmeros motivos que justificam a importância e a imprescindibilidade do meio ambiente para a vida humana, assim como para a saúde e a manutenção do mundo como um todo, afinal nós fazemos parte do planeta e dependemos dele para sobreviver. Já o contrário, isto é, a dependência do planeta em relação a nós, não pode ser dito, por isso, além de ser um direito de todos, a proteção e a defesa ambiental são também dever de toda a população, em conformidade com o expresso pelo texto constitucional brasileiro. Assim como as outras áreas do direito, as legislações específicas do Direito Ambiental são de suma importância para a regulação desse campo, contudo nem sempre são obedecidas, assim como nem sempre conseguem frear os impactos ambientais negativos que acarretam danos para o meio ambiente. Diante disso, há a necessidade de que se estabeleçam normas de teor punitivo, mas, além disso, legislações incumbidas de estabelecer o que deve ser tipificado como crime e infração perante o Direito Ambiental, sendo essa mais uma tentativa de impedir que prejuízos sejam gerados ao meio ambiente por meio do sistema punitivo, das multas e restrições de liberdade em casos mais severos. Direito Ambiental 30 Querido aluno, assim como outros conceitos, aquilo que pode ser entendido como crime também passou por diversas modificações ao longo do tempo, tendo em vista que a definição destinada a esse termo não pode ser considerada imutável, estática ou única, independentemente do contexto social. Sendo assim, o crime pode ser conceituado de diversas maneiras, a depender da escola que se deseje seguir, bem como do ramo jurídico do qual se esteja falando. Porém, de forma singela, crime pode ser considerado como violações diferidas contra o direito. Nesse sentido, levando em consideração a realidade ambiental, o crime presente nesse âmbito jurídico pode ser compreendido como qualquer dano ou prejuízo causado ao meio ambiente em geral, seja aquele destinado a uma grande extensão espaço ambiental, seja destinado a um elemento ou recurso específico, podendo englobar a flora, a fauna, a biodiversidade e qualquer outro recurso advindo da natureza. No direito brasileiro, todo crime deve ser punido e correspondea uma sanção determinada por instrumento legal. Desta feita, a Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 também é conhecida como Lei de Crimes Ambientais, pois é a responsável por dispor acerca das sanções penais e administrativas decorrentes de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, dando ainda outras providências acerca da temática em questão. A Lei de Crimes Ambientais foi a responsável por assegurar uma maior efetividade à proteção ambiental, já que, antes da sua existência, já se via a presença de alguns instrumentos legais, inclusive a Constituição da República Federativa de 1988, que destinavam atenção às temáticas ambientais, contudo faltava modos de punir aqueles que não a cumprissem, pois as leis presentes até o momento eram amplas e de difícil aplicação, não conseguindo abranger situações práticas responsáveis por violar o meio ambiente. Observava-se que não adiantava apenas fornecer acesso aos recursos naturais e mencionar na lei que todos merecem usufruir de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, se não existissem punições para aqueles que afrontavam e danificavam o meio ambiente. Direito Ambiental 31 Além disso, antes dessa lei, não havia um consenso sobre os atos que merecessem ou não ser punidos. Dessa forma, conforme Frederico Pereira (2014), matar um animal silvestre era considerado crime inafiançável, mesmo que fosse para consumo alimentício, na medida em que maltratar animais e promover o desmatamento não eram tipificados da mesma maneira, sendo considerados simples contravenções punidas com multa. Assim, a legislação apresentava falta de equilíbrio, apresentando punições severas demais para algumas situações e praticamente punição nenhuma para outras consideradas tão ou até mesmo mais graves. Porém, com a implementação da atual Lei de Crimes ambientais, uma maior segurança jurídica passou a ser ofertada, assim como uma proteção ambiental mais centrada e focada em promover efeitos reais. Por isso houve uma uniformização penal, fazendo utilização de gradações adequadas e infrações claras e bem definidas, tornando mais difícil o acontecimento de dúvidas e, por conseguinte, a impunidade. REFLITA: Antes de avançar, é importante fazer uma breve crítica, tendo em vista que esse assunto será melhor discutido em unidade posterior. Apesar das legislações existentes e dos avanços referentes aos crimes e às infrações ambientais, verifica-se que, no território brasileiro, muitos crimes e infrações ambientais ainda são cometidos, sendo visualizadas situações em que a punição adequada não é efetuada, mesmo em casos graves e de ampla extensão, como os acontecidos nas cidades de Mariana e Brumadinho, ambas localizadas no estado de Minas Gerais e vítimas do rompimento de barragens de minério. Diante disso, muito ainda precisa ser feito no nível jurídico para que as leis e as punições sejam devidamente cumpridas, bem como no setor relativo à educação ambiental destinada à população como um todo para que essas temáticas passem a ter uma maior aplicabilidade na prática, afinal de nada adianta que o nosso país apresente leis bonitas e efetivas apenas no papel. Direito Ambiental 32 Nesse sentido, algumas das leis ambientais foram flexibilizadas, na medida em que outras foram enrijecidas. Assim, ainda em conformidade com o apresentado por Frederico Pereira (2014), matar animais continuou sendo crime, porém, nas hipóteses em que os animais foram mortos com a finalidade de saciar a fome do agente ou de sua família, a tipificação não será aplicada. Por sua vez, maus-tratos e desmatamento não autorizado são crimes que podem ter como resultado a restrição da liberdade daquele que os praticaram. Salienta-se, ainda, que, a partir da legislação em estudo, as pessoas jurídicas também passaram a ser responsabilizadas criminalmente pelos prejuízos e danos que gerarem ao meio ambiente. É importante destacar ainda que não serão apenas consideradas como crime aquelas condutas que tiverem como resultado a promoção de danos ao meio ambiente, sendo enquadrados dessa maneira também os atos que ignoram ou que vão de encontro ao estabelecido nas normas ambientais, mesmo que não sejam gerados prejuízos ao meio ambiente. Nesse sentido, o artigo 2º da Lei de Crimes Ambientais estabelece que Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la. (BRASIL, 1998) Assim, como exemplo, pode-se apontar que as obras que forem realizadas sem a concessão da licença ambiental, ainda que não gerem prejuízo à natureza, serão configuradas como crime, pois a legislação ambiental determina que, para que tais obras sejam realizadas, há necessidade de permissão por meio de licença. Nesse caso, será aplicada a punição por meio de multa, com detenção nos casos mais severos. A Lei de Crimes Ambientais não pune as pessoas que praticaram crimes menos graves e mais graves da mesma maneira, tendo em vista que as punições são fixadas em conformidade com o grau da infração cometida. Assim, a sanção poderá ir desde a privação de liberdade do agente até uma multa, estando presentes entre os dois extremos ainda as Direito Ambiental 33 possibilidades referentes a restrição de direitos, a serviços comunitários, a interdição temporária de direitos, a suspensão de atividades, a prestação de pecúnia e a recolhimento domiciliar. É claro que nem todas as punições que podem ser aplicadas às pessoas físicas poderão ser destinadas da mesma maneira às pessoas jurídicas, contudo as empresas e empreendimentos responsáveis por agredir o meio ambiente também serão punidos, podendo a punição ocorrer por meio da aplicação de multas e restrições de direitos, como, por exemplo, a suspensão total ou parcial das atividades, interdição das atividades e proibição quanto ao estabelecimento de contratos e quanto ao recebimento de subsídios fornecidos pelo Poder Público, entre outras. Nesse sentido, o artigo 6º da Lei de Crimes Ambientais estabelece aquilo que a autoridade competente deverá observar no momento de fixar a pena, sendo esses critérios utilizados tanto para as pessoas jurídicas quanto para as pessoas físicas. Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente observará: I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas consequências para a saúde pública e para o meio ambiente; II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental; III - a situação econômica do infrator, no caso de multa. (BRASIL, 1998) O texto da Constituição da República Federativa de 1988, em seu artigo 5º, LXXII, prevê que qualquer cidadão será parte legitima para ingressar com ação popular que tenha como intenção anular atos lesivos ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, responsável, entre outras coisas, por violar o meio ambiente. Por sua vez, a ação civil pública é o instrumento jurídico adequado para a proteção ambiental, sendo utilizado para solicitar a reparação dos danos ocorridos ao meio ambiente, podendo ser proposta pelo Ministério Público, Defensoria Pública, União, Estado, Município, empresas públicas, fundações, sociedades de economia mista e associações com finalidade de proteção ao meio ambiente, conforme expresso na Lei nº 7.347 de 1985. Direito Ambiental 34 Tipos de Crimes Ambientais Querido aluno, até o presente momento, já podemos compreender a amplitude do meio ambiente, tendo em vista que, ainda na unidade I, aprendemos quais são os seus tipos. Dessa maneira, é natural que os crimes praticadoscontra o meio ambiente também apresentem suas divisões, já que as áreas que compõem a natureza, mesmo que se relacionem entre si, funcionam de maneira distinta, em razão de suas características próprias e dos interesses que são capazes de gerar nos seres humanos. Desta feita, a Lei nº 9605/1998, ou seja, a Lei de Crimes Ambientais, apresenta em seu texto cinco tipos de crimes ambientais distintos, sendo cada um desses abordado de forma breve nos subtópicos a seguir. Crimes Contra a Fauna Os crimes contra a fauna estão previstos nos artigos 29 a 37, sendo compreendidos como agressões destinadas aos animais, sejam eles silvestres, nativos ou em rota migratória. Alguns exemplos de crimes enquadrados nessa categoria são: venda ilegal, impedimento da procriação, maus-tratos, transporte ilegal, manutenção em cativeiro, entres outros. Crimes Contra a Flora Por sua vez, os crimes praticados contra a flora estão localizados nos artigos 38 a 53, que enquadram nessa categoria qualquer tipo de destruição ou dano causado à vegetação, dando uma ênfase maior aos prejuízos gerados às áreas de preservação permanente ou às unidades de conservação. Dessa maneira, alguns casos relativos a esses tipos de crime estão associados, por exemplo, à provocação de incêndios em mata ou floresta, venda, transporte e soltura de balões, a atos de dificultar a regeneração vegetal, de destruir e desmatar sem a devida permissão e sem finalidade, entre outras situações presentes nos mencionados artigos da Lei de Crimes Ambientais. Direito Ambiental 35 Poluição e Outros Crimes Ambientais Querido aluno, durante o primeiro capítulo desta unidade, nós pudemos compreender a poluição em detalhes, já que estudamos a sua definição, características e tipologias principais. Nesse sentido, fica claro compreender os motivos pelos quais a poluição é considerada como um crime pela Lei de Crimes Ambientais, já que é um fenômeno resultante de alterações promovidas pelas atividades humanas e que causa impactos graves não só ao meio ambiente, mas também para a saúde humana e para a biodiversidade em geral. Quanto aos outros crimes ambientais, os artigos 55 e 56, caputs, da Lei nº 9.605/1988, determinam que poderão ser enquadrados dessa maneira os seguintes atos: Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (BRASIL, 1988) Nesse sentido, a poluição e os outros crimes ambientais serão abordados pelos artigos 54 a 61 da Lei de Crimes Ambientais. Direito Ambiental 36 Crimes Contra o Ordenamento Urbano e Patrimônio Cultural Como já foi discutido anteriormente, o conceito dado ao meio ambiente é amplo. Assim, verifica-se uma interação entre os elementos presentes no meio ambiente natural, artificial e cultural. Isso faz com que a violação visualizada nesse campo não se relacione apenas aos danos promovidos aos aspectos naturais, levando em consideração, também, os danos praticados em desfavor da ordem urbana e/ou cultural. Crimes Contra a Administração Ambiental Os crimes relacionados à administração ambiental estão presentes nos artigos de 66 a 69 da Lei de Crimes Ambientais, sendo enquadrados nessa categoria condutas que obstaculizam o exercício das funções pertencentes ao Poder Público, seja nos casos em que essas são efetuadas por particulares ou até mesmo por profissionais do Poder Público em si. Infrações Ambientais As infrações ambientais administrativas podem ser compreendidas como as ações ou as omissões responsáveis por violar as regras jurídicas que estão sendo utilizadas, promovidas, protegidas e recuperadas em relação ao meio ambiente. Nesse sentido, a Lei de Crimes Ambientais também apresenta em seu texto disposições acerca dessas infrações, estando essas alocadas nos artigos 70 a 76 da mencionada legislação. SAIBA MAIS: Levando em consideração a amplitude e a importância exercida pela Lei de Crimes Ambientais e para entender a punição destinada a cada crime e infração, bem como as regras mais específicas e detalhadas acerca dos incisos e alíneas abrigadas por essa legislação, faça a leitura da Lei nº 9.605/98, disponível neste link. Direito Ambiental http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm 37 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que, assim como em outras áreas do direito, o descumprimento das normas presentes nas legislações ambientais apresenta como resultado punições e sanções, sendo essas aplicadas tanto às pessoas físicas quanto às pessoas jurídicas, levando em consideração a natureza e as características de cada um desses agentes. Dessa forma, a Lei nº 9.605/1998 tem como responsabilidade dispor acerca dos crimes e infrações ambientais, sendo por isso denominadas como Lei de Crimes Ambientais. Em seguida, abordamos os tipos de crimes presentes na mencionada legislação, sendo essas relativas aos crimes da fauna, flora, contra a administração, poluição e outros crimes ambientais contra o ordenamento urbano e cultural. Por fim, abordamos a temática relativa às infrações ambientais administrativas ao apresentar seu conceito. Direito Ambiental 38 Responsabilidade Civil Ambiental OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar quais são os impactos proporcionados pela responsabilidade ambiental presente no ordenamento jurídico brasileiro. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Então vamos lá. Avante!. Aspectos Gerais da Responsabilidade civil A responsabilidade civil apresenta como um dos seus focos principais o comportamento humano, dando ênfase para a prática de ações que resultem em danos e prejuízos para outro indivíduo ou para a sociedade em conjunto. Nesse sentido, querido aluno, para que possamos entender quais são os contornos relativos à responsabilidade civil ambiental, é primeiro necessário que tenhamos entendimento sobre a responsabilidade civil e os seus aspectos gerais, levando em consideração fatores como a ação ou a omissão, os danos, o nexo de causalidade e a presença ou a ausência de culpa. Assim, a ideia referente à responsabilização civil está ligada aos momentos em que determinadas pessoas devem responder pelos atos praticados, sejam pessoas físicas ou jurídicas, sofrendo as consequências dos danos e prejuízos que proporcionaram. Diante disso, o conhecido civilista Flávio Tartuce (2013, p. 423) afirma que” a responsabilidade civil surge em face do descumprimento obrigacional, pela desobediência de uma regra estabelecida em um contrato, ou por deixar determinada pessoa de observar um preceito normativo que regula a vida”. Ainda nesse sentido, Maria Helena Diniz (2006) conceitua a responsabilidade civil como sendo a Aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal. (DINIZ, 2006, p. 32) Direito Ambiental 39 Por sua vez, a responsabilidade civil pode ser classificada como contratual ou negocial, assim como extracontratual ou aquiliana. Desta feita, a responsabilidade civil contratual, também conhecida como negocial, decorre da ausênciade cumprimento das obrigações que derivam de contratos ou negócios jurídicos. Os critérios de responsabilização são fixados no próprio texto contratual, tendo como base o estabelecimento de cláusulas penais relativas, ainda, à indenização e/ou perdas e danos. Por sua vez, a responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana possui uma ligação mais direta com os aspectos legais, já que possui como base os fundamentos expostos pelo CC/2020. Assim, esse documento apresenta como base os atos ilícitos e o abuso de direito, levando em consideração as definições apresentadas pelos artigos 186 e 187 do Código Civil de 2002, respectivamente, como pode ser visto a seguir Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. (BRASIL, 2002) Salienta-se, ainda, que a responsabilidade civil apresenta três requisitos principais, sendo esses a antijuridicidade, a imputabilidade e o nexo causal. Nesse sentido, a antijuridicidade relaciona-se ao ato cometido, já que, para que seja objeto de responsabilização, o ato precisa ser contrário ao determinado por uma norma jurídica. Já quanto à imputabilidade, o agente responsável deve ser capaz, para que assim possa responder pelo dano que cometeu, levando em consideração que os incapazes e os prejuízos derivados de caso fortuito ou força maior não são passíveis de indenização. Por fim, o nexo causal estabelece um vínculo entre a conduta praticada pelo agente e o dano que foi gerado, só devendo haver a responsabilização quanto à indenização nos casos em que o agente de fato tiver sido responsável pelo prejuízo proporcionado. Direito Ambiental 40 Dessa forma, a responsabilidade e o dever de indenizar, para que possam ser aplicados, devem levar em conta a conduta, o dano, o nexo de causalidade e a culpa do agente, não podendo tais fatores serem ignorados para a determinação da responsabilização civil. Nesse caso, a culpa estará presente nos casos em que houve a intenção de provocar o dano, sendo esse conceito no Código Penal pertencente ao dolo, que também se aplica aos casos em que o prejuízo for gerado em decorrência de negligência, imprudência e imperícia. Cabe esclarecer que a negligência estará caracterizada quando a pessoa possuir conhecimento sobre a atitude que deve tomar e, ainda assim, não faz aquilo entendido como necessário e até mesmo como legal; a imprudência, por sua vez, ocorrerá nos casos em que as pessoas não observaram as regras que seriam capazes de impedir o acontecimento do fato, agindo assim sem a devida cautela; por fim, a imperícia caracteriza- se pela falta de qualificação, também estando presente nos casos em que a pessoa pratica ato para o qual deve possuir certo conhecimento prévio, técnico e/ou profissional sem efetivamente possuí-los. Responsabilidade Civil Objetiva e Subjetiva Querido aluno, considerando a jornada que você vem trilhando pelos caminhos acadêmicos, como você definiria e distinguiria a responsabilidade civil objetiva e responsabilidade civil subjetiva? Surgiram dúvidas quanto a esse questionamento? Então vamos esclarecer. É muito difícil que mencionemos o assunto da responsabilidade civil sem tocarmos na necessidade de diferenciar os seus tipos, já que existem campos jurídicos que se apoiam na responsabilidade civil para determinar o sistema punitivo que será adotado, possuindo como base o ponto de vista objetivo, o subjetivo ou ainda ambos. Nesse sentido, a responsabilidade civil subjetiva apresenta como critérios para a sua caracterização os elementos relativos à conduta, ao dano, ao nexo causal e à culpa do agente. Dessa forma, a responsabilidade subjetiva é aquela que leva em consideração a presença da culpa, só sendo caracterizada quando ela existir. Direito Ambiental 41 Assim, será preciso que a culpa seja comprovada, pois sem essa comprovação, a responsabilidade não poderá ser fixada. Diante disso, a responsabilidade em regra deverá seguir os critérios da subjetividade, porém algumas legislações apresentam em seu texto determinações que deixam clara a escolha pela responsabilidade civil objetiva. Em outras palavras, a responsabilidade civil subjetiva é a regra, mas existem exceções que podem ser aplicadas a essa determinação. Por outro lado, a responsabilidade objetiva, para ser caracterizada, também deverá levar em consideração a conduta, o dano promovido e o nexo causal existente entre os dois critérios, porém a culpa não precisa ser comprovada para que essa responsabilidade seja fixada. Assim, o artigo 927 do Código Civil determina que Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (Artigos 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. (BRASIL, 2002, grifo nosso) Dessa maneira, a grande distinção entre as duas responsabilidades diz respeito à culpa, tendo em vista que a responsabilidade civil objetiva não precisa dessa comprovação e na medida em que a responsabilidade civil subjetiva só será posta em prática quando houver elementos que comprovem a presença da culpa. Responsabilidade Civil no Âmbito do Direito Ambiental Agora que já entendemos quais são os critérios gerais responsáveis por definir e caracterizar a responsabilidade civil, podemos aplicar esse conceito ao nosso objeto de estudo, o Direito Ambiental, e ao presente capítulo, referente à presença da responsabilidade civil no âmbito do Direito Ambiental. Direito Ambiental 42 A responsabilidade civil ambiental está orientada em conformidade com um regime jurídico próprio, ou seja, que se adapta aos casos específicos relativos ao meio ambiente, tendo como base o exposto no texto do artigo 225 da Constituição da República Federativa de 1988, assim como pelo disposto no artigo 14, parágrafo 1º, da Lei nº 6.938/1991, que, como sabemos, é a legislação que institui a Política Nacional do Meio Ambiente. Essas leis serão melhor abordadas posteriormente, mas ainda neste capítulo. Levando em consideração as semelhanças presentes entre o Direito Ambiental, o Direito Administrativo e o Direito Civil, ficam claros os motivos pelos quais a responsabilidade presente nesse último é aplicada no jurídico ambiental, já que é um campo de ampla aplicação e efetividade. Como aprendemos no tópico anterior, a responsabilidade civil pode ser subjetiva e objetiva, e mesmo que a regra consista na subjetividade, perante o ramo do Direito Ambiental bem como das legislações presentes nessa área, a responsabilidade utilizada é a objetiva, ou seja, aquela que independe de culpa. Dessa maneira, a responsabilidade civil objetiva é adotada como o melhor modelo a ser seguido no âmbito ambiental, pois garante uma proteção mais ampla à vítima, que, nesse caso, é tanto o meio ambiente quanto a coletividade, já que o meio ambiente, além de ser um dever de todos, também é considerado como um direito não só das gerações atuais, mas também das futuras gerações. Um exemplo que pode ser utilizado para esclarecer esse fato é imaginar os atos poluentes praticados por uma pessoa jurídica X, pois mesmo que nessa atividade não se comprove a presença da culpa, a entidade assumiu os riscos pelos danos que poderiam ser promovidos em razão da poluição causada por ela. Dessa maneira, ela deverá assumir a responsabilidade pelos prejuízos que possam decorrer das suas atitudes. Desta feita, é importante destacar o termo “possam”, já que mesmonas situações em que os danos não forem de fato gerados, ainda assim será necessário que exista uma responsabilização, já que o agente assumiu o risco de chegar a promover algum dano ao meio ambiente, mesmo que esse dano não tenha sido concretizado. Silvana Colombo (2006) Direito Ambiental 43 denomina tal fenômeno de teoria do risco criado. Nesse sentido, dando ainda mais ênfase aos pontos destacados, na teoria da responsabilização civil objetiva ambiental Não se aprecia subjetivamente a conduta do poluidor, mas a ocorrência do resultado é prejudicial ao homem e seu ambiente. A atividade poluente acaba sendo uma apropriação pelo poluidor dos direitos de outrem, pois na realidade a emissão poluente representa um confisco do direito de alguém respirar ar puro, beber água saudável e viver com tranquilidade. (MACHADO, 2000, p. 273) É importante destacar que a ideia de ressarcimento ligado à responsabilidade civil ambiental só poderá efetivar-se nos casos em que o dano existir, já que não se pode reparar aquilo que não foi danificado. Nos casos em que não houver o dano, mas apenas o risco, as decisões que serão adotadas não serão ressarcitórias, mas, sim, preventivas. Quanto ao texto constitucional, salienta-se ainda que, no artigo destinado ao meio ambiente, ao falar-se em responsabilização, fica determinado que a reparação do dano ambiental será observada sobre três tipos de responsabilidades, quais sejam: a penal, a civil e a administrativa, que serão independentes e autônomas. Isso quer dizer que a prática de um único ato ilícito, seja esse uma ação ou uma omissão, poderá ter como resultado três processos distintos, cada um em uma área distinta. Possuindo como foco a responsabilidade civil ambiental, temos que levar em conta a existência e aplicação da teoria do risco criado. Dessa maneira, não existem excludentes quando se avaliam os danos promovidos ao meio ambiente, por isso há a necessidade de indenização e de reparo, mesmo que a culpa não fique comprovada, não sendo nem ao menos preciso, na verdade, que essa culpa seja verificada, pois os danos auferidos ao meio ambiente devem ser contornados, tendo em vista que são responsáveis por causar prejuízos sérios à coletividade como um todo, que precisa desse ambiente para sobreviver e ter uma qualidade de vida digna. Direito Ambiental 44 Assim, a responsabilidade existente no campo ambiental acaba possuindo características peculiares quando comparada às demais áreas do direito, sendo um exemplo disso a disposição presente no artigo 225, parágrafo 3º, da Constituição de 1988, que determina que “as condutas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, às sanções penais e administrativas independentemente da obrigação de reparar o dano causado” (BRASIL, 1988). Dessa forma, ressaltamos mais uma vez que a responsabilidade será fixada mesmo que o dano não seja gerado, ficando essa ideia clara quando o texto constitucional afirma que as pessoas que não cumprirem as normas relativas à proteção e à preservação ambiental deverão ser punidas, “independentemente da obrigação de reparar o dano causado”. Assim, a punição e a indenização deverão ser aplicadas, mesmo que nos casos em que não houver o dano concretizado, e, portanto, ausência da necessidade de reparar e restaurar o meio ambiente a suas condições originais. Nesse mesmo sentido, podemos destacar a disposição presente no artigo 14, parágrafo 1º, da Lei nº 6.938/1981, ou seja, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, que deixa clara a presença da responsabilidade civil objetiva no âmbito ambiental ao determinar que, “sem obstar a aplicação das penalidades neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência da culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade” (BRASIL, 1981). NOTA: Lembrando que, nas unidades anteriores do presente e-book, aprendemos acerca dos princípios de destaque do Direito Ambiental, estando entre esses o princípio do poluidor-pagador. Dessa forma, se você não estiver lembrado do que significa esse princípio, recomenda- se que você volte algumas páginas para refrescar essa definição, a fim de facilitar o entendimento do conteúdo atual. Direito Ambiental 45 Assim, o dever de reparar existe, mesmo que a culpa não seja comprovada, sendo que o temo “dano” faz menção tanto àquele prejuízo já existente e, portanto, atual, como àquele que é futuro. Portanto, mesmo que ainda não se conheçam todos os percalços promovidos, ainda deverão ser tomadas as medidas necessárias para a sua reparação, e tais medidas devem, inclusive, ser colocadas em prática o mais rápido possível, já que não há questionamentos acerca do prejuízo a ser gerado, e, sim, quanto ao momento em que essas lesões serão efetivadas. Porém, aluno, você pode estar se perguntando acerca quais são os motivos que levaram à adoção da responsabilidade civil objetiva perante o Direito Ambiental, certo? Levando em consideração esse questionamento, é importante que conheçamos o posicionamento de Ferraz (2000), que afirma que A teoria objetiva na imputação da responsabilidade ao causador dos danos ao meio ambiente se concretiza porque: em termos de dano ecológico, não se pode pensar em outra adoção que não seja a do risco integral. Não se pode pensar em outra malha que não seja malha realmente bem apertada que possa, na primeira jogada da rede, colher todo e qualquer possível responsável pelo prejuízo ambiental. É importante que, pelo simples fato de ter havido omissão, já seja possível enredar agente administrativo e particulares, todos aqueles que de alguma maneira possam ser imputados ao prejuízo provocado para a coletividade. (FERRAZ, 2000, p. 58) Então, aprendemos que os danos causados ao meio ambiente são graves em sua maioria, pois mesmo os que podem ser reparados levam tempo para que sejam revertidos a sua situação original. Assim, quanto mais grave for o dano causado, mais difícil será a reparação, podendo até mesmo ser impossível que se retomem as características originais. Nesse contexto, a objetividade é vista como critério adequado em razão dos danos e dos resultados que eles causam, já que as lesões, na maioria das vezes, são irreversíveis. Um único dano ao meio ambiente acaba gerando outras consequências. Além disso, a atribuição de culpa nesse âmbito seria de difícil determinação, fazendo com que muitas situações e pessoas não fossem devidamente punidas, por isso a responsabilidade civil ambiental independe de culpa. Direito Ambiental 46 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a responsabilidade é o instrumento jurídico incumbido de analisar e punir as pessoas que desobedecem às normas existentes. Assim, no âmbito da responsabilidade civil, verifica-se a presença da responsabilidade civil subjetiva, a qual depende de culpa para que se efetive, e a responsabilidade civil objetiva, na qual o agente que comete o ato ilícito será responsável independentemente de culpa, devendo ser levado em consideração apenas o dano, o ato praticado e o nexo causal existente entre esses dois elementos. Levando em conta a gravidade e a seriedade dos danos promovidos, no âmbito do Direito Ambiental, adotou-se a responsabilidade civil objetiva, tendo em vista que, na maior parte dos casos, as lesões são irreversíveis, os prejuízos são múltiplos e há uma certa dificuldade em aferir-se se houve ou não culpa. Por isso a culpa não será fator determinante para a responsabilização e determinação da necessidade de que o agente repare o prejuízo provocado ao meio ambiente. Direito Ambiental 47 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agostode 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.Brasília, DF: Presidência da República, [2010]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Leis/L6938compilada.htm. Acesso em: 11 abr. 2020. BRASIL. Resolução Conama nº 001, de 23 de janeiro de 1986. Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html. Acesso em: 13 abr. 2020. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 27 mar. 2020. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm. Acesso em: 14 abr. 2020. BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. 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