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Cad. Saúde Colet., 2011, Rio de Janeiro, 19 (2): 225-31 225 Artigo Original ResumO A grande quantidade de movimentos repetidos, executados pelo preparador de goleiros no seu ato laboral, estimula a realização desta pesquisa, que tem como finalidade verificar a prevalência de sintomas osteomusculares em preparadores de goleiros da série A do Campeonato Gaúcho – Temporada 2009. Trata-se de um estudo descritivo, com uma amostra de 16 indivíduos, sendo um representante de cada clube participante. O método utilizado tratou-se de uma entrevista por telefone, na qual foram aplicados dois questionários, o Nordic Musculoskeletal Questionnaire (NMQ) e um questionário fechado, composto por vinte perguntas. Observou-se a prevalência de dor de 87,4% nos últimos 12 meses e de 43,8% nos últimos 7 dias, além de 6,30% de afastamento do trabalho no último ano. Conforme revisão de literatura, o resultado encontrado nos últimos 12 meses foi mais elevado quando comparado com outras classes trabalhadoras, como praticantes de atletismo, fisioterapeutas, dentistas, trabalhadores em carga e descarga de mercadorias, bancários e metalúrgicos. Palavras-chave: futebol; preparador de goleiros; sistema musculoesquelético. AbstRAct The big number of repetitive movements performed by goalkeeper coaches in their routine has motivated the realization of this research which verified the prevalence of musculoskeletal symptoms during the preparation of goalkeepers of the Gaucho Championship Series A – 2009 season. This is a descriptive study, with a sample of 16 individuals, a professional from each participating club. The method used was an interview by phone, in which two questionnaires were applied, the Nordic Muscu- loskeletal Questionnaire (NMQ) and a closed questionnaire composed of 20 questions. It was observed the prevalence of pain of 87.4% in the last 12 months, of 43.8% in the last 7 days and 6.30% had to stay away from work in the last year. According literature review, the result found in the last 12 months showed the highest compared to other working class such as practiser of athletics, physical therapists, dentists, workers in loading and unloading goods, banking and metallurgical. Keywords: soccer; goalkeeper coach; musculoskeletal system. Sintomas osteomusculares em preparadores de goleiros da Série A do Campeonato Gaúcho 2009 Symptoms work-related musculoskeletal goalkeeping coach in the Gaucho Championship Series A – 2009 season Daniel Ricardi Crizel1, Ricardo Rodrigo Rech2, Daiane Trentin3 1 Bacharel em Educação Física pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) – Caxias do Sul (RS), Brasil; Preparador de Goleiros da equipe profissional do Porto Alegre Futebol Clube – Porto Alegre (RS), Brasil. 2 Professor de Educação Física do Município de Caxias do Sul – Caxias do Sul (RS), Brasil. 3 Professora dos Cursos de Educação Física (Licenciatura e Bacharelado) da UCS – Caxias do Sul (RS), Brasil. Endereço para correspondência: Daniel Ricardi Crizel – Rua Rio Amazonas, 1.223 – Frederico Ernesto Buchollzz – CEP: 96212-140 – Rio Grande (RS), Brasil – Email: danielcrizel@hotmail.com. Fonte de financiamento: nenhuma. Conflito de interesse: nada a declarar. Cad. Saúde Colet., 2011, Rio de Janeiro, 19 (2): 225-31226 Daniel Ricardi Crizel, Ricardo Rodrigo Rech, Daiane Trentin IntROduçãO Para Giulianotti¹, o futebol é, inegavelmente, o principal esporte do mundo, além de uma atividade economicamente ativa que movimenta valores superiores a U$ 225 bilhões anuais². O futebol evoluiu rapidamente e, em 1930 no Uru- guai, aconteceu a primeira copa do mundo, que contou com a participação de 13 países³. Em 1871, foi criada a figura do goleiro, que tinha a missão de impedir o sucesso do seu adversário, ou seja, impedir que a bola atravessasse a linha do gol4. Atualmente, o goleiro é visto como um especialista, ficando evidente a necessidade da especificidade em seu processo de treinamento. Em meados da década de 70, se tem notícia do primeiro preparador es- pecífico para este atleta no Brasil. Esta preparação específica começou a desenvolver atletas com grande potencial5. Por sua vez, o preparador de goleiros desenvolve diaria- mente, no ato laboral, exercícios, que segundo a American College of Sports Medicine6, podem ser definidos como movi- mento corporal planejado, estruturado e repetitivo. É função do preparador de goleiros, por exemplo, exercícios como arremessos e chutes². Sendo assim, segundo Vieira7, o profissional sofre transfor- mações em nível físico e mental, podendo estas ser positivas, se utilizarem o corpo de forma saudável, ou negativas, quando expõe este a esforços exaustivos e estressantes, podendo oca- sionar assim alienação, tensão e desgaste. Conforme portaria do Ministério da Saúde8, esforços repetitivos, trabalho estático, esforços intensos, ritmos de trabalho e posturas inadequadas podem ser motivadores do aparecimento ou agravamento de lesões, principalmente de ordem osteomuscular. O estudo, realizado por Melzer9, comprova estes conceitos, já que cons- tatou que 76% dos funcionários, de um antigo setor de uma indústria, apresentavam qualquer tipo de dor, desconforto ou formigamento em sua atividade profissional. De acordo com o Ministério da Saúde8, a partir do ano de 1998 no Brasil, eventos ocorridos por esforços repetitivos são chamados de distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT), termo traduzido da terminologia work related musculoskeletal disorder, que vem a cada dia sendo mais disseminado pelo mundo. Magnago et al.10 consideram a DORT uma das doenças mais incapacitantes; Freitas et al.11 destacam, para seu acometimento, fatores de natureza orga- nizacional (concentração de movimentos, horas adicionais, ritmo intenso), biomecânicos (força excessiva, alta repetição de um movimento, postura estática), psicossociais (pressão por resultados, ambiente de trabalho tenso, relacionamento interpessoal) e de condições de trabalho (temperatura, espa- ço, ferramentas). Carvalho et al.12 destacam a associação de fatores a carrear seu surgimento. As consequências do DORT incluem limitações na vida diária, passando por afastamento das atividades profissionais, mudanças de identidade familiar, círculo social e de trabalho, sentimento de culpa, resultando, também, em sensação de incapacidade e de inutilidade13. A fim de normatizar a mensuração dos relatos osteomus- culares, tem sido usado amplamente o Nordic Musculoskeletal Questionnaire (NMQ), traduzido para várias línguas nas últimas décadas. O NMQ mostra-se bastante eficaz, não apenas no diagnóstico clínico, mas também na identificação de distúrbios osteomusculares14. Sendo assim, fazendo uso deste instrumento, este estudo teve o objetivo de investigar a prevalência de sintomas osteomusculares em preparadores de goleiros da Série A do Campeonato Gaúcho de Futebol Profissional, na temporada de 2009. metOdOlOgIA Foi feito um estudo descritivo, que buscou investigar a prevalência de sintomas osteomusculares relacionados ao tra- balho, em preparadores de goleiros participantes da Série A do Campeonato Gaúcho de Futebol Profissional, temporada 2009. A população da pesquisa foi composta por um represen- tante de cada equipe participante do Campeonato Gaúcho. Os instrumentos utilizados para viabilizar a pesquisa foram o NMQ e um questionário estruturado, criado pelos pesquisadores e submetido a um estudo piloto, composto por 20 perguntas fechadas, que tinham como objetivo conhecer o perfil biológico, social e laborativo destes indivíduos. Com a finalidade de se verificar a fidedignidade e objetividade des- tes instrumentos, foi realizado um projeto piloto, quando os instrumentos foram aplicados a três preparadores de goleiros que não fizeram parte da população pesquisada. Cabe salientar que o NMQ caracteriza-se por fragmentar o corpo humano em diversos segmentos (cabeça, pescoço, tronco superior, tronco inferior, braço, punho, mão, quadril, coxa,joelho, perna, tornozelo e pé), onde os questiona- mentos são compostos de respostas binárias e norteados por três perguntas. A primeira pergunta foi se o indivíduo havia sentido dor, desconforto ou formigamento em algum destes segmentos nos últimos 12 meses; a segunda pergunta referiu-se ao acometimento destes sintomas nos últimos sete dias e a terceira pergunta foi se algum dos sintomas provocou o afastamento de suas atividades profissionais nos últimos 12 meses e, em caso afirmativo, qual foi o segmento responsável pelo afastamento. O questionário fechado, por sua vez, foi composto por 20 perguntas, que buscavam traçar o perfil biológico, social e laborativo do indivíduo, fazendo, para tanto, menção a idade, escolaridade, tempo de profissão, metodologia de trabalho, Cad. Saúde Colet., 2011, Rio de Janeiro, 19 (2): 225-31 227 Sintomas osteomusculares em goleiros quantidade de chutes e arremessos desferidos diariamente, quantidade de minutos trabalhados por sessão. O projeto foi apresentado aos participantes por meio de contato telefônico, onde foram catalogados os endereços residenciais e eletrônicos dos mesmos, a fim de enviar uma carta com informações da pesquisa e o Termo de Consen- timento Livre e Esclarecido (TCLE). Assim que o TCLE retornou assinado, via fax a cobrar, foi feito novo contato telefônico para realização da entrevista. Tal procedimento foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de Ca- xias do Sul, sob a garantia de preservar, aos participantes, o sigilo das informações coletadas, bem como a isenção de qualquer tipo de custo financeiro, ficando este sob respon- sabilidade do pesquisador. Os dados foram inicialmente armazenados em um banco criado no programa Excel for Windows e depois transportados para o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 13.0, onde foram analisados. Foi realizada estatística descritiva com apresentação das frequências e percentuais. ResultAdOs Após análise dos dados coletados, verificou-se, quanto à prevalência de sintomas osteomusculares junto aos preparado- res de goleiros estudados, que 87,5% (n=14) alegaram algum tipo de sintoma nos últimos 12 meses. Quando perguntados sobre a existência destes nos últimos 7 dias, 43,8% (n=7) afir- maram terem sido acometidos por sintomas. Já 6,30% (n=1) alegaram ter se afastado de suas atividades profissionais nos últimos 12 meses, em função de sintomas osteomusculares relacionados ao seu trabalho. Buscando caracterizar a população pesquisada, observou- se que a média de idade foi de 43,38 anos, onde 87,5% (n=14) foram atletas profissionais antes de se tornarem preparado- res de goleiros, sendo que a média da vida atlética destes indivíduos foi de 11,88 anos. Já a média de tempo da atual profissão ficou em 12,56 anos. Observou-se que o Índice de Massa Corporal (IMC), médio do grupo, foi de 26,28, ou seja, sobrepeso, segundo o American College Of Sports Medicine (ACSM, 2003). Além disso, 68,8% (n=11) apresentaram o IMC categorizado como sobrepeso. A Tabela 1 apresenta as médias de chutes, arremessos, volume de sessões em minutos, além da categorização da amostra. Com relação ao cuidado com o próprio corpo, ou seja, sua preparação para seu desempenho profissional, 12,5% (n=2), não fazem aquecimento adequado antes das sessões de trabalho, 6,30% (n=1) dizem aquecer-se eventualmente, enquanto a maioria, 81,3% (n=13) alegam ter o hábito de aquecer-se antes de todas as sessões de treinamento. Quan- do perguntados se costumam alongar-se após as sessões, 12,5% (n=2) disseram que não, 18,8% (n=3) disseram que eventualmente, enquanto a maioria, 68,8% (n=11), alonga- se após as atividades. Ainda sobre a preparação prévia para a função, somente 6,30% (n=1), alegaram não fazer exercícios para reforço muscular, enquanto 93,8% (n=15) disseram fazer atividades para este fim. A média semanal de reforço muscular da amostra ficou estabelecida em 3,62 sessões semanais. A prevalência de dor, desconforto ou formigamento relatada pelos preparadores para os últimos 12 meses em segmentos como no pulso/mão foi de 18,8% (n=3), na parte inferior das costas foi de 37,5% (n=6), no quadril/coxa foi de 43,8% (n=7), no joelho/perna foi de 62,5% (n=10) e ainda, no tornozelo/pé foi de 31,3% (n=5). Já, nos últimos sete dias, a presença de sintomas osteomusculares foi significativa nos segmentos do trem inferior: costas inferior 12,5% (n=2), quadril/coxa 12,5% (n=2) e joelho/perna 25,0% (n=4). A tabela 1. Categorização da amostra. IMC: Índice de Massa Corporal. Variáveis Média Nãon (%) Sim n (%) Eventualmente n (%) Idade 43,38 anos Tempo que foi atleta 11,88 anos IMC 26,28 Tempo de atuação como preparador de goleiros 12,56 anos Sessão em que executa muitos chutes 596,25 chutes Sessão em que executa muitos arremessos 89,94 arremessos Semana com maior número de sessões de trabalho 7,88 sessões Sessão de trabalho com alto volume de treino em min 113,44 Faz aquecimento antes da sessão de treino 2 (12,5) 13 (81,3) 1 (6,30) Faz alongamento após a sessão de treino 2 (12,5) 11 (68,8) 3 (18,8) Faz reforço muscular regularmente 1 (6,25) 15 (93,8) Média de reforço muscular semanalmente 3,62 sessões Cad. Saúde Colet., 2011, Rio de Janeiro, 19 (2): 225-31228 Daniel Ricardi Crizel, Ricardo Rodrigo Rech, Daiane Trentin Tabela 2 apresenta as prevalências dos últimos 12 meses e dos últimos 7 dias. Conforme a Tabela 3, o segmento corporal mais acome- tido de dor, desconforto ou formigamento, tanto nos últimos 12 meses (61,1%), como nos últimos 7 dias (66,7%), foi o trem inferior, que apresentou maiores índices quando comparado com o tronco e o trem superior. Observamos que 57,1% (n=8) dos que alegaram sentir dor no joelho/perna nos últimos 12 meses tratavam-se também de ex-atletas profissionais. Além disso, de acordo com o IMC calculado, 66,7% (n=8) dos indivíduos que apresentaram sintomas de dor nos joelho/perna nos últimos 12 meses apre- sentavam também o IMC de sobrepeso. Além disso, devemos destacar que embora 53,8% (n=7) façam aquecimento diariamente, estes ainda assim, costumam apresentar dor no joelho/perna. Somado a isso, 66,7% (n=8) dos preparadores que apresentam sintomas e possuem mais de 41 anos, sentem dores no joelho/perna. Da mesma forma, 75,0% (n=9) dos que apresentam dor no joelho, têm mais de dez anos de profissão. Em relação aos indivíduos com dor no quadril/coxa, 54,5% (n=6) treinam 8 ou mais sessões de trabalho durante uma semana. Ainda com relação ao quadril, 54,5% (n=6) dos que apresentam dor, treinam por sessão acima de 100 min, assim como 72,7% (n=8) dos que tem dor no joelho, treinam acima deste tempo. Quanto ao número de chutes, daqueles que chutam mais de 400 vezes em uma sessão, 66,7% (n=6) alegam dores nos joelhos/perna. A Tabela 4 apresenta os sin- tomas osteomusculares nos últimos 12 meses e nos últimos 7 dias em relação às variáveis independentes. dIscussãO Após coleta e análise dos dados, buscou–se comparar os resultados encontrados com estudos que se relacionem com o tema. Em função de tratar-se de uma categoria profissional pouco estudada, não foram encontrados estudos similares com esta classe. Sendo assim, tentou-se traçar comparativos com outras profissões, cujos sintomas osteomusculares são investigados. Além disso, houve a tentativa de comparação com atletas de diferentes modalidades esportivas. Sendo assim, Pastre et al.15, em um estudo comparativo entre informações obtidas em prontuários e inquéritos de morbidade referida, constataram que no atletismo os membros inferiores foram mais lesionados; os mesmos autores sugerem que tal fato possa ocorrer em função dos movimentos explosivos. Relacio- nando-se este fato com a profissão de preparador de goleiros, este desenvolve suas atividades com sessões de trabalho, por vezes, com grande volume. Desta forma, desfere arremessos e chutes, onde 13,1% (89,94) são arremessos e 86,9%(596,25) são chutes. O alto grau de exigência de força explosiva do preparador para executar sua jornada de trabalho, pode ser comparado à mesma exigência física imposta também aos velocistas, podendo assim predispor a lesões nos membros inferiores. O presente estudo constatou uma prevalência de dor, nos últimos 12 meses, de 87,4% entre os preparadores de goleiros. Já o estudo de Laurino et al.16 analisou a presença de dor em praticantes de atletismo, onde foi relatada esta por 76,7% da amostra de 79 indivíduos. Uma pesquisa realizada por Ejnis- man et al.17 constatou que, em esportes de arremesso, 72,2% da amostra estudada tinha queixas de dor e, além disso, o mecanismo de lesão do ombro nesses atletas, em sua maioria, acontecia por traumas sem contato ou por movimentos repe- tidos, em 55,4% da amostra. Os resultados encontrados com preparadores de goleiros mostram que, no joelho/perna, 62,5% sentiram dor nos úl- timos 12 meses, no quadril/coxa, 43,8% e, no tornozelo pé, 31,25%. Conforme encontrado na literatura referenciando a lesões de atletas futebolistas brasileiros, Cohen et al.18 de- claram que 72,2% são ocorrências nos membros inferiores, 6,00% nos membros superiores e 16,8% no tronco e cabeça. Porém, com os preparadores de goleiros, esta pesquisa apon- tou sintomas osteomusculares relacionados ao trabalho para membros inferiores em 61,1%, para membros superiores em 13,9% e para o tronco em 25,0%. Os preparadores de goleiros trabalharam em média 7,88 sessões de trabalho semanais. Em semanas de alto volume de tabela 2. Prevalência de sintomas osteomusculares em preparadores de goleiros. Sintomas Prevalência 12 meses n (%) 7 dias n (%) Pescoço 2 (12,5) 0 (0) Ombros 0 (0) 0 (0) Cotovelos 2 (12,5) 1 (6,25) Pulso/mão 3 (18,8) 0 (0) Costas superior 1 (6,25) 0 (0) Quadril/coxa 7 (43,8) 2 (12,5) Joelho/perna 10 (62,5) 4 (25,0) Tornozelo/pé 5 (31,3) 0 (0) tabela 3. Sintomas por segmentos. Segmento Últimos 12 mesesn (%) Últimos 7 dias n (%) Membros superiores 5 (13,9) 1 (11,1) Tronco 9 (25,0) 2 (22,2) Membros inferiores 22 (61,1) 6 (66,7) Cad. Saúde Colet., 2011, Rio de Janeiro, 19 (2): 225-31 229 Sintomas osteomusculares em goleiros tabela 4. Sintomas nos últimos 12 meses e 7 dias em relação às variáveis independentes. IMC: Índice de Massa Corporal. Sintomas nos últimos 12 meses Sintomas nos últimos 7 dias n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) Costas Inferior Quadril Joelho Tornozelo Costas Inferior Quadril Joelho Tornozelo Classificação IMC (n) Adequado (4) 1 (25,0) 1 (25,0) 2 (50,0) 1 (25,0) 1 (25,0) 1 (25,0) 0 0 Sobrepeso (12) 5 (41,7) 6 (50,0) 8 (66,7) 4 (33,3) 1 (8,30) 1 (8,30) 4 (33,3) 0 Faz aquecimento regularmente (n) Não (2) 0 1 (50,0) 2 (100) 1 (50,0) 1 (50,0) 0 1 (50,0) 0 Sim (13) 6 (46,2) 6 (46,2) 7 (53,8) 4 (30,8) 1 (7,70) 2 (15,4) 2 (15,4) 0 Eventualmente (1) 0 0 1 (100) 0 0 0 1 (100) 0 Faz Alongamento regularmente (n) Não (2) 1 (50,0) 1 (50,0) 1 (50,0) 1 (50,0) 1 (50,0) 0 0 0 Sim (13) 4 (36,4) 4 (36,4) 7 (63,6) 3 (27,3) 0 2 (18,2) 3 (27,3) 0 Eventualmente (1) 1 (33,3) 2 (66,7) 2 (66,7) 1 (33,3) 1 (33,3) 0 1 (33,3) 0 Faz reforço muscular (n) Sim (1) 0 0 1 (100) 0 1 (100) 0 1 (100) 0 Não (15) 6 (40,0) 7 (46,7) 9 (60,0) 5 (33,3) 1 (6,70) 2 (13,3) 3 (20,0) 0 Semana Alto Volume (n) Até 7 sessões (5) 2 (40,0) 1 (20,0) 3 (60,0) 1 (20,0) 1 (20,0) 1 (20,0) 1 (20,0) 0 >8 sessões (11) 4 (36,4) 6 (54,5) 7 (63,6) 4 (36,4) 1 (9,10) 1 (9,10) 3 (27,3) 0 Treino Alto Volume (n) Até 99 min (5) 2 (40,0) 1 (20,0) 2 (40,0) 1 (20,0) 0 1 (20,0) 0 0 + de 100 min (11) 4 (36,4) 6 (54,5) 8 (72,7) 4 (36,4) 2 (18,2) 1 (9,10) 4 (36,4) 0 Nº de chutes (n) Até 399 (5) 2 (28,6) 3 (42,9) 4 (57,1) 4 (57,1) 0 2 (28,6) 0 0 >400 (11) 4 (44,4) 4 (44,4) 6 (66,7) 1 (11,1) 2 (22,2) 0 4 (44,4) 0 Nº de arremessos (n) Até 99 (5) 3 (25,0) 4 (33,3) 7 (58,3) 5 (41,7) 2 (16,7) 2 (16,7) 1 (8,30) 0 >100 (11) 3 (75,0) 3 (75,0) 3 (75,0) 0 0 0 3 (75,0) 0 trabalho, associadas às sessões extensas, estas duravam em média 113,44 min. Dois estudos são interessantes quanto ao aspecto metodológico do treinamento. No primeiro, um arti- go de Rodrigues et al.19 feito com atletas profissionais de dois clubes portugueses, constatou-se que as equipes treinavam em média 5,8 sessões semanais, apresentando incidência de 48,0% de lesões de joelho; cabe ressaltar, ainda, que a média das sessões de trabalho duravam 120 min. Já o outro estudo, de Dantas et al.20, visava identificar a frequência de lesão nos membros inferiores no futsal; aqueles autores verificaram que a equipe estudada treinava semanalmente de cinco a nove vezes e apresentava incidência de lesões no tornozelo (44,4%), na coxa (25,9%), no joelho (18,5%), na perna (7,40%) e no pé (3,70%). Agora se buscou analisar o estudo com outros, que tives- sem utilizado como ferramenta de coleta de dados o ques- tionário nórdico, abordando diversas classes trabalhadoras e confrontando os acometimentos constatados com os prepa- radores de goleiros. Ávila et al.21 em seu estudo com fisioterapeutas, mostra- ram que 71,0% relatam já ter sentido dor musculoesquelética constante ou intermitente, sendo a coluna lombar a mais afetada pela dor, com 59,0% de queixas. Cabe salientar que, a prevalência junto a preparadores foi superior, com 87,4%, onde o segmento mais apontado foi o joelho/perna com 62,5%, nos últimos 12 meses. Já Barbosa et al.22, em estudo com dentistas, relataram que a classe apresentou 68,9% de sintomas osteomusculares relacionados ao trabalho, principalmente em regiões como pescoço, costas, ombro e mãos. Já com os profissionais de preparação de goleiros foram 18,75%. Como os dentistas utilizam muito mais os membros superiores, tal fato expli- ca a diferença. Ferrari et al.23 pesquisaram trabalhadores do serviço de apoio de um hospital universitário e viram que 46,7% sen- tem dores nos tornozelos e pés, 33,5% nos joelhos. Já Faria24 investigou a prevalência de sintomas musculoesqueléticos em Cad. Saúde Colet., 2011, Rio de Janeiro, 19 (2): 225-31230 Daniel Ricardi Crizel, Ricardo Rodrigo Rech, Daiane Trentin trabalhadores do setor de carga e descarga de uma empresa de transportes e encomendas de Cascavel, PR; ele constatou que 84,0% dos entrevistados relataram sentir dores. Silva et al.25 avaliaram distúrbios osteomusculares em estabelecimentos bancários no estado da PB; 57,0% dos su- jeitos entrevistados apresentaram sintomas, enquanto 43,0% não tinham nenhum sintoma. Outro estudo com bancários foi feito por Brandão et al.26 na cidade de Pelotas e região; foi identificada a ocorrência de dor osteomuscular em 60,0% da amostra. No mesmo estudo, os bancários apresentaram ao menos um episódio de dor no último ano e 43,0% nos últimos 7 dias. Já Picoloto et al.27 pesquisaram sintomas osteomusculares e fatores associados em trabalhadores de uma indústria de Cano- as, RS, onde viram que 75,2% da amostra relataram algum sin- toma nos últimos 12 meses, 53,3% nos últimos 7 dias e 38,5% já foram afastados do trabalho devido a problemas de saúde. Conforme anteriormente mencionado, como são popula- ções distintas, as comparações de dados e análise de resultados tornam-se complicadas. Os estudos utilizados na discussão neste artigo estão mais bem explicitados na Tabela 5. Os resultados do presente estudo precisam ser interpre- tados com cautela, visto que o mesmo apresentou algumas limitações. Pode-se citar o fato de ser um estudo descritivo, com avaliação pontual de variáveis independentes e um des- fecho, não podendo, portanto, estabelecer uma relação causal. Outro fator a ser considerado é que, mesmo se tratando da população de preparadores do Campeonato Gaúcho da Série A – temporada 2009, o n amostral é pequeno; além disso, também pode ter ocorrido o viés de memória. cOnclusãO Os resultados obtidos neste trabalho podem apontar, aos profissionais da preparação, a necessidade de atenção quanto a suas metodologias e a influência do seu labor no risco de instalação de sintomasosteomusculares relacionados ao trabalho. Veem-se necessários estudos com populações maiores e também um maior recorte de tempo, possibilitando assim, a comparação entre os dados levantados em estudos específicos desta classe, dificultadas até então, devido a pouca literatura específica. Com isso, tentará se garantir a eficiência do trabalho do preparador de goleiros, bem como estabelecer pressupostos ergonômicos para sua realização, respeitando os limites fisiológicos de suas estruturas corporais. Giulianotti R.1. Sociologia do futebol: dimensões históricas e socioculturais do esporte das multidões. São Paulo: Nova Alexandria; 2002. Voser RC.2. Futebol: história, técnica e treino de goleiro. Porto Alegre: EDIPUCRS; 2006. Frisselli A, Mantovani M.3. Futebol: Teoria e Prática. São Paulo: Phorte, 1999; 252. Ocaña FG.4. El portero de fútbol. 3.ed. Barcelona: Paidotribo (Coleccion Fútbol); 2000. Guilherme P.5. Goleiros: Heróis e anti- heróis da camisa 1. São Paulo: Alameda; 2006. American College of Sports Medicine.6. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. Vieira SI.7. Manual de saúde e segurança do trabalho. Florianópolis: Mestra; 2000. RefeRêncIAs Brasil.8. Ministério da Saúde. Portaria Nº1.339/GM, de 18 de novembro de 1999. Lista de doenças relacionadas ao trabalho. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2005. Melzer ACS.9. Fatores de riscos físicos e organizacionais associados a distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho na indústria têxtil. Fisioter Pesqui. 2008;15(1):19-25. Magnago TSBS, Lisboa MTL, Souza IEO, Moreira MC.10. . Distúrbios musculo-esqueléticos em trabalhadores de enfermagem: associação com condições de trabalho. Rev Bras Enferm. 2007;60(6):701-5. Freitas JRS, Lunardi WDF, Lunardi VL, Freitas KSS.11. Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho em profissionais de enfermagem de um hospital universitário. Rev Eletr Enf. 2009;11(4):904- 11. Carvalho AJFP, Alexandre NMC.12. Sintomas osteomusculares em professores do ensino fundamental. Rev Bras Fisioter. 2006; 10(1): 35-41. Maeno M.13. LER/DORT: dilemas, polêmicas e dúvidas. Ministério da Saúde (BR), Brasília: Secretaria de Políticas de Saúde; 2001. tabela 5. Estudos de prevalência de dor em diversas profissões. Ano Autor População Prevalência de dor (%) 2000 Laurino et al.16 Atletismo 76,5 2001 Ejnisman et al.17 Arremessadores 72,2 2005 Ávila et al.21 Fisioterapeutas 71,0 2004 Barbosa et al.22 Dentistas 68,9 2004 Ferrari et al.23 Trabalhadores em carga/ descarga 84,0 2000 Silva et al.25 Bancários – Paraíba 57,0 2005 Brandão et al.26 Bancários – Rio Grande do Sul 60,0 2008 Picoloto et al.27 Metalúrgicos 75,2 2009 Crizel et al. (estudo atual) Preparadores de goleiros 87,4 Cad. Saúde Colet., 2011, Rio de Janeiro, 19 (2): 225-31 231 Sintomas osteomusculares em goleiros Pinheiro FA, Trocolli BT, Carvalho CV.14. Validação do questionário Nórdico de sintomas osteomusculares como medida de morbilidade. Rev Saúde Pública. 2002;36(3):307-12. Pastre CM, Filho GC, Monteiro HL, Júnior-Netto J, Padovani CR.15. Lesões desportivas no atletismo: comparação entre informações obtidas em prontuários e inquéritos de morbidade. Rev Bras Med Esporte. 2004;10:1-8. Laurino CFS, Lopes AD, Mano KS, Cohen M, Abdalla RJ.16. Lesões músculo-esqueléticas no atletismo. Rev Bras Ortop. 2000;35(9). Ejnisman B, Andreoli CV, Carrera EF, Abdalla RJ, Cohen 17. M. Lesões músculo-esqueléticas no ombro do atleta: mecanismo de lesão, diagnóstico e retorno à prática esportiva. Rev Bras Ortop. 2001;36(10):389-93. Cohen M, Abdalla RJ, Ejnismam B, Amaro JT.18. Lesões ortopéticas no futebol. Rev Bras Ortop. 1997;32(12):940-4. Rodrigues PF, Silva MR.19. Incidência de lesões no joelho em jogadores de futebol profissional [monografia].; 2007 [Acesso em: 28 de novembro de 2009]. Disponível em: https://bdigital.ufp.pt/dspace/ bitstream/10284/427/1/230-241%20REVISTA_FCS_04-8.pdf Dantas JA, Silva MR.20. Frequência das lesões nos membros inferiores no futsal profissional [monografia]; 2007 [Acesso em: 24 de novembro de 2009]. 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