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GOLEIROS DE FUTEBOL 2

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Cad. Saúde Colet., 2011, Rio de Janeiro, 19 (2): 225-31 225
Artigo Original
ResumO
A grande quantidade de movimentos repetidos, executados pelo preparador de goleiros no seu ato laboral, estimula a 
realização desta pesquisa, que tem como finalidade verificar a prevalência de sintomas osteomusculares em preparadores 
de goleiros da série A do Campeonato Gaúcho – Temporada 2009. Trata-se de um estudo descritivo, com uma amostra de 16 
indivíduos, sendo um representante de cada clube participante. O método utilizado tratou-se de uma entrevista por telefone, 
na qual foram aplicados dois questionários, o Nordic Musculoskeletal Questionnaire (NMQ) e um questionário fechado, 
composto por vinte perguntas. Observou-se a prevalência de dor de 87,4% nos últimos 12 meses e de 43,8% nos últimos 7 
dias, além de 6,30% de afastamento do trabalho no último ano. Conforme revisão de literatura, o resultado encontrado nos 
últimos 12 meses foi mais elevado quando comparado com outras classes trabalhadoras, como praticantes de atletismo, 
fisioterapeutas, dentistas, trabalhadores em carga e descarga de mercadorias, bancários e metalúrgicos.
Palavras-chave: futebol; preparador de goleiros; sistema musculoesquelético.
AbstRAct
The big number of repetitive movements performed by goalkeeper coaches in their routine has motivated the realization of 
this research which verified the prevalence of musculoskeletal symptoms during the preparation of goalkeepers of the Gaucho 
Championship Series A – 2009 season. This is a descriptive study, with a sample of 16 individuals, a professional from each 
participating club. The method used was an interview by phone, in which two questionnaires were applied, the Nordic Muscu-
loskeletal Questionnaire (NMQ) and a closed questionnaire composed of 20 questions. It was observed the prevalence of pain 
of 87.4% in the last 12 months, of 43.8% in the last 7 days and 6.30% had to stay away from work in the last year. According 
literature review, the result found in the last 12 months showed the highest compared to other working class such as practiser 
of athletics, physical therapists, dentists, workers in loading and unloading goods, banking and metallurgical. 
Keywords: soccer; goalkeeper coach; musculoskeletal system.
Sintomas osteomusculares em 
preparadores de goleiros da Série A 
do Campeonato Gaúcho 2009
Symptoms work-related musculoskeletal goalkeeping coach 
in the Gaucho Championship Series A – 2009 season
Daniel Ricardi Crizel1, Ricardo Rodrigo Rech2, Daiane Trentin3
1 Bacharel em Educação Física pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) – Caxias do Sul (RS), Brasil; Preparador de Goleiros da equipe profissional do Porto 
Alegre Futebol Clube – Porto Alegre (RS), Brasil. 
2 Professor de Educação Física do Município de Caxias do Sul – Caxias do Sul (RS), Brasil.
3 Professora dos Cursos de Educação Física (Licenciatura e Bacharelado) da UCS – Caxias do Sul (RS), Brasil.
 Endereço para correspondência: Daniel Ricardi Crizel – Rua Rio Amazonas, 1.223 – Frederico Ernesto Buchollzz – CEP: 96212-140 – Rio Grande (RS), 
Brasil – Email: danielcrizel@hotmail.com.
 Fonte de financiamento: nenhuma.
 Conflito de interesse: nada a declarar.
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Daniel Ricardi Crizel, Ricardo Rodrigo Rech, Daiane Trentin
IntROduçãO
Para Giulianotti¹, o futebol é, inegavelmente, o principal 
esporte do mundo, além de uma atividade economicamente 
ativa que movimenta valores superiores a U$ 225 bilhões 
anuais². O futebol evoluiu rapidamente e, em 1930 no Uru-
guai, aconteceu a primeira copa do mundo, que contou com a 
participação de 13 países³. 
Em 1871, foi criada a figura do goleiro, que tinha a missão 
de impedir o sucesso do seu adversário, ou seja, impedir que 
a bola atravessasse a linha do gol4. Atualmente, o goleiro é 
visto como um especialista, ficando evidente a necessidade da 
especificidade em seu processo de treinamento. Em meados 
da década de 70, se tem notícia do primeiro preparador es-
pecífico para este atleta no Brasil. Esta preparação específica 
começou a desenvolver atletas com grande potencial5. 
Por sua vez, o preparador de goleiros desenvolve diaria-
mente, no ato laboral, exercícios, que segundo a American 
College of Sports Medicine6, podem ser definidos como movi-
mento corporal planejado, estruturado e repetitivo. É função 
do preparador de goleiros, por exemplo, exercícios como 
arremessos e chutes². 
Sendo assim, segundo Vieira7, o profissional sofre transfor-
mações em nível físico e mental, podendo estas ser positivas, 
se utilizarem o corpo de forma saudável, ou negativas, quando 
expõe este a esforços exaustivos e estressantes, podendo oca-
sionar assim alienação, tensão e desgaste. Conforme portaria 
do Ministério da Saúde8, esforços repetitivos, trabalho estático, 
esforços intensos, ritmos de trabalho e posturas inadequadas 
podem ser motivadores do aparecimento ou agravamento de 
lesões, principalmente de ordem osteomuscular. O estudo, 
realizado por Melzer9, comprova estes conceitos, já que cons-
tatou que 76% dos funcionários, de um antigo setor de uma 
indústria, apresentavam qualquer tipo de dor, desconforto ou 
formigamento em sua atividade profissional. 
De acordo com o Ministério da Saúde8, a partir do ano 
de 1998 no Brasil, eventos ocorridos por esforços repetitivos 
são chamados de distúrbios osteomusculares relacionados 
ao trabalho (DORT), termo traduzido da terminologia work 
related musculoskeletal disorder, que vem a cada dia sendo 
mais disseminado pelo mundo. Magnago et al.10 consideram 
a DORT uma das doenças mais incapacitantes; Freitas et al.11 
destacam, para seu acometimento, fatores de natureza orga-
nizacional (concentração de movimentos, horas adicionais, 
ritmo intenso), biomecânicos (força excessiva, alta repetição 
de um movimento, postura estática), psicossociais (pressão 
por resultados, ambiente de trabalho tenso, relacionamento 
interpessoal) e de condições de trabalho (temperatura, espa-
ço, ferramentas). Carvalho et al.12 destacam a associação de 
fatores a carrear seu surgimento. As consequências do DORT 
incluem limitações na vida diária, passando por afastamento 
das atividades profissionais, mudanças de identidade familiar, 
círculo social e de trabalho, sentimento de culpa, resultando, 
também, em sensação de incapacidade e de inutilidade13. 
A fim de normatizar a mensuração dos relatos osteomus-
culares, tem sido usado amplamente o Nordic Musculoskeletal 
Questionnaire (NMQ), traduzido para várias línguas nas 
últimas décadas. O NMQ mostra-se bastante eficaz, não 
apenas no diagnóstico clínico, mas também na identificação 
de distúrbios osteomusculares14. Sendo assim, fazendo uso 
deste instrumento, este estudo teve o objetivo de investigar 
a prevalência de sintomas osteomusculares em preparadores 
de goleiros da Série A do Campeonato Gaúcho de Futebol 
Profissional, na temporada de 2009.
metOdOlOgIA
Foi feito um estudo descritivo, que buscou investigar a 
prevalência de sintomas osteomusculares relacionados ao tra-
balho, em preparadores de goleiros participantes da Série A 
do Campeonato Gaúcho de Futebol Profissional, temporada 
2009. A população da pesquisa foi composta por um represen-
tante de cada equipe participante do Campeonato Gaúcho. 
Os instrumentos utilizados para viabilizar a pesquisa 
foram o NMQ e um questionário estruturado, criado pelos 
pesquisadores e submetido a um estudo piloto, composto por 
20 perguntas fechadas, que tinham como objetivo conhecer o 
perfil biológico, social e laborativo destes indivíduos. Com a 
finalidade de se verificar a fidedignidade e objetividade des-
tes instrumentos, foi realizado um projeto piloto, quando os 
instrumentos foram aplicados a três preparadores de goleiros 
que não fizeram parte da população pesquisada.
Cabe salientar que o NMQ caracteriza-se por fragmentar 
o corpo humano em diversos segmentos (cabeça, pescoço, 
tronco superior, tronco inferior, braço, punho, mão, quadril, 
coxa,joelho, perna, tornozelo e pé), onde os questiona-
mentos são compostos de respostas binárias e norteados 
por três perguntas. A primeira pergunta foi se o indivíduo 
havia sentido dor, desconforto ou formigamento em algum 
destes segmentos nos últimos 12 meses; a segunda pergunta 
referiu-se ao acometimento destes sintomas nos últimos 
sete dias e a terceira pergunta foi se algum dos sintomas 
provocou o afastamento de suas atividades profissionais nos 
últimos 12 meses e, em caso afirmativo, qual foi o segmento 
responsável pelo afastamento.
O questionário fechado, por sua vez, foi composto por 20 
perguntas, que buscavam traçar o perfil biológico, social e 
laborativo do indivíduo, fazendo, para tanto, menção a idade, 
escolaridade, tempo de profissão, metodologia de trabalho, 
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Sintomas osteomusculares em goleiros
quantidade de chutes e arremessos desferidos diariamente, 
quantidade de minutos trabalhados por sessão. 
O projeto foi apresentado aos participantes por meio de 
contato telefônico, onde foram catalogados os endereços 
residenciais e eletrônicos dos mesmos, a fim de enviar uma 
carta com informações da pesquisa e o Termo de Consen-
timento Livre e Esclarecido (TCLE). Assim que o TCLE 
retornou assinado, via fax a cobrar, foi feito novo contato 
telefônico para realização da entrevista. Tal procedimento 
foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de Ca-
xias do Sul, sob a garantia de preservar, aos participantes, 
o sigilo das informações coletadas, bem como a isenção de 
qualquer tipo de custo financeiro, ficando este sob respon-
sabilidade do pesquisador. 
Os dados foram inicialmente armazenados em um 
banco criado no programa Excel for Windows e depois 
transportados para o programa Statistical Package for the 
Social Sciences (SPSS) versão 13.0, onde foram analisados. 
Foi realizada estatística descritiva com apresentação das 
frequências e percentuais.
ResultAdOs
Após análise dos dados coletados, verificou-se, quanto à 
prevalência de sintomas osteomusculares junto aos preparado-
res de goleiros estudados, que 87,5% (n=14) alegaram algum 
tipo de sintoma nos últimos 12 meses. Quando perguntados 
sobre a existência destes nos últimos 7 dias, 43,8% (n=7) afir-
maram terem sido acometidos por sintomas. Já 6,30% (n=1) 
alegaram ter se afastado de suas atividades profissionais nos 
últimos 12 meses, em função de sintomas osteomusculares 
relacionados ao seu trabalho. 
Buscando caracterizar a população pesquisada, observou-
se que a média de idade foi de 43,38 anos, onde 87,5% (n=14) 
foram atletas profissionais antes de se tornarem preparado-
res de goleiros, sendo que a média da vida atlética destes 
indivíduos foi de 11,88 anos. Já a média de tempo da atual 
profissão ficou em 12,56 anos. Observou-se que o Índice de 
Massa Corporal (IMC), médio do grupo, foi de 26,28, ou seja, 
sobrepeso, segundo o American College Of Sports Medicine 
(ACSM, 2003). Além disso, 68,8% (n=11) apresentaram o 
IMC categorizado como sobrepeso. A Tabela 1 apresenta as 
médias de chutes, arremessos, volume de sessões em minutos, 
além da categorização da amostra.
Com relação ao cuidado com o próprio corpo, ou seja, 
sua preparação para seu desempenho profissional, 12,5% 
(n=2), não fazem aquecimento adequado antes das sessões 
de trabalho, 6,30% (n=1) dizem aquecer-se eventualmente, 
enquanto a maioria, 81,3% (n=13) alegam ter o hábito de 
aquecer-se antes de todas as sessões de treinamento. Quan-
do perguntados se costumam alongar-se após as sessões, 
12,5% (n=2) disseram que não, 18,8% (n=3) disseram que 
eventualmente, enquanto a maioria, 68,8% (n=11), alonga-
se após as atividades. Ainda sobre a preparação prévia 
para a função, somente 6,30% (n=1), alegaram não fazer 
exercícios para reforço muscular, enquanto 93,8% (n=15) 
disseram fazer atividades para este fim. A média semanal 
de reforço muscular da amostra ficou estabelecida em 3,62 
sessões semanais.
A prevalência de dor, desconforto ou formigamento 
relatada pelos preparadores para os últimos 12 meses em 
segmentos como no pulso/mão foi de 18,8% (n=3), na parte 
inferior das costas foi de 37,5% (n=6), no quadril/coxa foi de 
43,8% (n=7), no joelho/perna foi de 62,5% (n=10) e ainda, 
no tornozelo/pé foi de 31,3% (n=5). Já, nos últimos sete dias, 
a presença de sintomas osteomusculares foi significativa nos 
segmentos do trem inferior: costas inferior 12,5% (n=2), 
quadril/coxa 12,5% (n=2) e joelho/perna 25,0% (n=4). A 
tabela 1. Categorização da amostra.
IMC: Índice de Massa Corporal.
Variáveis Média Nãon (%)
Sim
n (%)
Eventualmente 
n (%)
Idade 43,38 anos 
Tempo que foi atleta 11,88 anos 
IMC 26,28 
Tempo de atuação como preparador de goleiros 12,56 anos 
Sessão em que executa muitos chutes 596,25 chutes 
Sessão em que executa muitos arremessos 89,94 arremessos 
Semana com maior número de sessões de trabalho 7,88 sessões 
Sessão de trabalho com alto volume de treino em min 113,44 
Faz aquecimento antes da sessão de treino 2 (12,5) 13 (81,3) 1 (6,30)
Faz alongamento após a sessão de treino 2 (12,5) 11 (68,8) 3 (18,8)
Faz reforço muscular regularmente 1 (6,25) 15 (93,8) 
Média de reforço muscular semanalmente 3,62 sessões 
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Daniel Ricardi Crizel, Ricardo Rodrigo Rech, Daiane Trentin
Tabela 2 apresenta as prevalências dos últimos 12 meses e dos 
últimos 7 dias.
Conforme a Tabela 3, o segmento corporal mais acome-
tido de dor, desconforto ou formigamento, tanto nos últimos 
12 meses (61,1%), como nos últimos 7 dias (66,7%), foi o trem 
inferior, que apresentou maiores índices quando comparado 
com o tronco e o trem superior. 
Observamos que 57,1% (n=8) dos que alegaram sentir dor 
no joelho/perna nos últimos 12 meses tratavam-se também 
de ex-atletas profissionais. Além disso, de acordo com o IMC 
calculado, 66,7% (n=8) dos indivíduos que apresentaram 
sintomas de dor nos joelho/perna nos últimos 12 meses apre-
sentavam também o IMC de sobrepeso.
Além disso, devemos destacar que embora 53,8% (n=7) 
façam aquecimento diariamente, estes ainda assim, costumam 
apresentar dor no joelho/perna. Somado a isso, 66,7% (n=8) 
dos preparadores que apresentam sintomas e possuem mais 
de 41 anos, sentem dores no joelho/perna. Da mesma forma, 
75,0% (n=9) dos que apresentam dor no joelho, têm mais de 
dez anos de profissão.
Em relação aos indivíduos com dor no quadril/coxa, 
54,5% (n=6) treinam 8 ou mais sessões de trabalho durante 
uma semana. Ainda com relação ao quadril, 54,5% (n=6) dos 
que apresentam dor, treinam por sessão acima de 100 min, 
assim como 72,7% (n=8) dos que tem dor no joelho, treinam 
acima deste tempo. Quanto ao número de chutes, daqueles 
que chutam mais de 400 vezes em uma sessão, 66,7% (n=6) 
alegam dores nos joelhos/perna. A Tabela 4 apresenta os sin-
tomas osteomusculares nos últimos 12 meses e nos últimos 7 
dias em relação às variáveis independentes.
dIscussãO
Após coleta e análise dos dados, buscou–se comparar os 
resultados encontrados com estudos que se relacionem com 
o tema. Em função de tratar-se de uma categoria profissional 
pouco estudada, não foram encontrados estudos similares 
com esta classe. Sendo assim, tentou-se traçar comparativos 
com outras profissões, cujos sintomas osteomusculares são 
investigados. Além disso, houve a tentativa de comparação 
com atletas de diferentes modalidades esportivas.
Sendo assim, Pastre et al.15, em um estudo comparativo entre 
informações obtidas em prontuários e inquéritos de morbidade 
referida, constataram que no atletismo os membros inferiores 
foram mais lesionados; os mesmos autores sugerem que tal fato 
possa ocorrer em função dos movimentos explosivos. Relacio-
nando-se este fato com a profissão de preparador de goleiros, este 
desenvolve suas atividades com sessões de trabalho, por vezes, 
com grande volume. Desta forma, desfere arremessos e chutes, 
onde 13,1% (89,94) são arremessos e 86,9%(596,25) são chutes. 
O alto grau de exigência de força explosiva do preparador para 
executar sua jornada de trabalho, pode ser comparado à mesma 
exigência física imposta também aos velocistas, podendo assim 
predispor a lesões nos membros inferiores.
O presente estudo constatou uma prevalência de dor, nos 
últimos 12 meses, de 87,4% entre os preparadores de goleiros. 
Já o estudo de Laurino et al.16 analisou a presença de dor em 
praticantes de atletismo, onde foi relatada esta por 76,7% da 
amostra de 79 indivíduos. Uma pesquisa realizada por Ejnis-
man et al.17 constatou que, em esportes de arremesso, 72,2% 
da amostra estudada tinha queixas de dor e, além disso, o 
mecanismo de lesão do ombro nesses atletas, em sua maioria, 
acontecia por traumas sem contato ou por movimentos repe-
tidos, em 55,4% da amostra. 
Os resultados encontrados com preparadores de goleiros 
mostram que, no joelho/perna, 62,5% sentiram dor nos úl-
timos 12 meses, no quadril/coxa, 43,8% e, no tornozelo pé, 
31,25%. Conforme encontrado na literatura referenciando 
a lesões de atletas futebolistas brasileiros, Cohen et al.18 de-
claram que 72,2% são ocorrências nos membros inferiores, 
6,00% nos membros superiores e 16,8% no tronco e cabeça. 
Porém, com os preparadores de goleiros, esta pesquisa apon-
tou sintomas osteomusculares relacionados ao trabalho para 
membros inferiores em 61,1%, para membros superiores em 
13,9% e para o tronco em 25,0%. 
Os preparadores de goleiros trabalharam em média 7,88 
sessões de trabalho semanais. Em semanas de alto volume de 
tabela 2. Prevalência de sintomas osteomusculares em 
preparadores de goleiros.
Sintomas
Prevalência
12 meses
n (%)
7 dias
n (%)
Pescoço 2 (12,5) 0 (0)
Ombros 0 (0) 0 (0)
Cotovelos 2 (12,5) 1 (6,25)
Pulso/mão 3 (18,8) 0 (0)
Costas superior 1 (6,25) 0 (0)
Quadril/coxa 7 (43,8) 2 (12,5)
Joelho/perna 10 (62,5) 4 (25,0)
Tornozelo/pé 5 (31,3) 0 (0)
tabela 3. Sintomas por segmentos.
Segmento Últimos 12 mesesn (%)
Últimos 7 dias
n (%)
Membros superiores 5 (13,9) 1 (11,1)
Tronco 9 (25,0) 2 (22,2)
Membros inferiores 22 (61,1) 6 (66,7)
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Sintomas osteomusculares em goleiros
tabela 4. Sintomas nos últimos 12 meses e 7 dias em relação às variáveis independentes.
IMC: Índice de Massa Corporal.
 Sintomas nos últimos 12 meses Sintomas nos últimos 7 dias
 n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)
Costas Inferior Quadril Joelho Tornozelo Costas Inferior Quadril Joelho Tornozelo
Classificação IMC (n)
Adequado (4) 1 (25,0) 1 (25,0) 2 (50,0) 1 (25,0) 1 (25,0) 1 (25,0) 0 0
Sobrepeso (12) 5 (41,7) 6 (50,0) 8 (66,7) 4 (33,3) 1 (8,30) 1 (8,30) 4 (33,3) 0
Faz aquecimento 
regularmente (n)
Não (2) 0 1 (50,0) 2 (100) 1 (50,0) 1 (50,0) 0 1 (50,0) 0
Sim (13) 6 (46,2) 6 (46,2) 7 (53,8) 4 (30,8) 1 (7,70) 2 (15,4) 2 (15,4) 0
Eventualmente (1) 0 0 1 (100) 0 0 0 1 (100) 0
Faz Alongamento 
regularmente (n)
Não (2) 1 (50,0) 1 (50,0) 1 (50,0) 1 (50,0) 1 (50,0) 0 0 0
Sim (13) 4 (36,4) 4 (36,4) 7 (63,6) 3 (27,3) 0 2 (18,2) 3 (27,3) 0
Eventualmente (1) 1 (33,3) 2 (66,7) 2 (66,7) 1 (33,3) 1 (33,3) 0 1 (33,3) 0
Faz reforço muscular (n)
Sim (1) 0 0 1 (100) 0 1 (100) 0 1 (100) 0
Não (15) 6 (40,0) 7 (46,7) 9 (60,0) 5 (33,3) 1 (6,70) 2 (13,3) 3 (20,0) 0
Semana Alto Volume (n)
Até 7 sessões (5) 2 (40,0) 1 (20,0) 3 (60,0) 1 (20,0) 1 (20,0) 1 (20,0) 1 (20,0) 0
>8 sessões (11) 4 (36,4) 6 (54,5) 7 (63,6) 4 (36,4) 1 (9,10) 1 (9,10) 3 (27,3) 0
Treino Alto Volume (n)
Até 99 min (5) 2 (40,0) 1 (20,0) 2 (40,0) 1 (20,0) 0 1 (20,0) 0 0
+ de 100 min (11) 4 (36,4) 6 (54,5) 8 (72,7) 4 (36,4) 2 (18,2) 1 (9,10) 4 (36,4) 0
Nº de chutes (n)
Até 399 (5) 2 (28,6) 3 (42,9) 4 (57,1) 4 (57,1) 0 2 (28,6) 0 0
>400 (11) 4 (44,4) 4 (44,4) 6 (66,7) 1 (11,1) 2 (22,2) 0 4 (44,4) 0
Nº de arremessos (n)
Até 99 (5) 3 (25,0) 4 (33,3) 7 (58,3) 5 (41,7) 2 (16,7) 2 (16,7) 1 (8,30) 0
>100 (11) 3 (75,0) 3 (75,0) 3 (75,0) 0 0 0 3 (75,0) 0
trabalho, associadas às sessões extensas, estas duravam em 
média 113,44 min. Dois estudos são interessantes quanto ao 
aspecto metodológico do treinamento. No primeiro, um arti-
go de Rodrigues et al.19 feito com atletas profissionais de dois 
clubes portugueses, constatou-se que as equipes treinavam 
em média 5,8 sessões semanais, apresentando incidência de 
48,0% de lesões de joelho; cabe ressaltar, ainda, que a média 
das sessões de trabalho duravam 120 min. Já o outro estudo, 
de Dantas et al.20, visava identificar a frequência de lesão nos 
membros inferiores no futsal; aqueles autores verificaram que a 
equipe estudada treinava semanalmente de cinco a nove vezes e 
apresentava incidência de lesões no tornozelo (44,4%), na coxa 
(25,9%), no joelho (18,5%), na perna (7,40%) e no pé (3,70%). 
Agora se buscou analisar o estudo com outros, que tives-
sem utilizado como ferramenta de coleta de dados o ques-
tionário nórdico, abordando diversas classes trabalhadoras e 
confrontando os acometimentos constatados com os prepa-
radores de goleiros.
Ávila et al.21 em seu estudo com fisioterapeutas, mostra-
ram que 71,0% relatam já ter sentido dor musculoesquelética 
constante ou intermitente, sendo a coluna lombar a mais 
afetada pela dor, com 59,0% de queixas. Cabe salientar que, 
a prevalência junto a preparadores foi superior, com 87,4%, 
onde o segmento mais apontado foi o joelho/perna com 
62,5%, nos últimos 12 meses.
Já Barbosa et al.22, em estudo com dentistas, relataram 
que a classe apresentou 68,9% de sintomas osteomusculares 
relacionados ao trabalho, principalmente em regiões como 
pescoço, costas, ombro e mãos. Já com os profissionais de 
preparação de goleiros foram 18,75%. Como os dentistas 
utilizam muito mais os membros superiores, tal fato expli-
ca a diferença.
Ferrari et al.23 pesquisaram trabalhadores do serviço de 
apoio de um hospital universitário e viram que 46,7% sen-
tem dores nos tornozelos e pés, 33,5% nos joelhos. Já Faria24 
investigou a prevalência de sintomas musculoesqueléticos em 
Cad. Saúde Colet., 2011, Rio de Janeiro, 19 (2): 225-31230
Daniel Ricardi Crizel, Ricardo Rodrigo Rech, Daiane Trentin
trabalhadores do setor de carga e descarga de uma empresa de 
transportes e encomendas de Cascavel, PR; ele constatou que 
84,0% dos entrevistados relataram sentir dores.
Silva et al.25 avaliaram distúrbios osteomusculares em 
estabelecimentos bancários no estado da PB; 57,0% dos su-
jeitos entrevistados apresentaram sintomas, enquanto 43,0% 
não tinham nenhum sintoma. Outro estudo com bancários 
foi feito por Brandão et al.26 na cidade de Pelotas e região; 
foi identificada a ocorrência de dor osteomuscular em 60,0% 
da amostra. No mesmo estudo, os bancários apresentaram 
ao menos um episódio de dor no último ano e 43,0% nos 
últimos 7 dias. 
Já Picoloto et al.27 pesquisaram sintomas osteomusculares e 
fatores associados em trabalhadores de uma indústria de Cano-
as, RS, onde viram que 75,2% da amostra relataram algum sin-
toma nos últimos 12 meses, 53,3% nos últimos 7 dias e 38,5% já 
foram afastados do trabalho devido a problemas de saúde. 
Conforme anteriormente mencionado, como são popula-
ções distintas, as comparações de dados e análise de resultados 
tornam-se complicadas. Os estudos utilizados na discussão 
neste artigo estão mais bem explicitados na Tabela 5.
Os resultados do presente estudo precisam ser interpre-
tados com cautela, visto que o mesmo apresentou algumas 
limitações. Pode-se citar o fato de ser um estudo descritivo, 
com avaliação pontual de variáveis independentes e um des-
fecho, não podendo, portanto, estabelecer uma relação causal. 
Outro fator a ser considerado é que, mesmo se tratando da 
população de preparadores do Campeonato Gaúcho da Série 
A – temporada 2009, o n amostral é pequeno; além disso, 
também pode ter ocorrido o viés de memória.
cOnclusãO
Os resultados obtidos neste trabalho podem apontar, 
aos profissionais da preparação, a necessidade de atenção 
quanto a suas metodologias e a influência do seu labor no 
risco de instalação de sintomasosteomusculares relacionados 
ao trabalho. Veem-se necessários estudos com populações 
maiores e também um maior recorte de tempo, possibilitando 
assim, a comparação entre os dados levantados em estudos 
específicos desta classe, dificultadas até então, devido a pouca 
literatura específica. Com isso, tentará se garantir a eficiência 
do trabalho do preparador de goleiros, bem como estabelecer 
pressupostos ergonômicos para sua realização, respeitando os 
limites fisiológicos de suas estruturas corporais.
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tabela 5. Estudos de prevalência de dor em diversas profissões.
Ano Autor População Prevalência de dor (%)
2000 Laurino et al.16 Atletismo 76,5
2001 Ejnisman et al.17 Arremessadores 72,2
2005 Ávila et al.21 Fisioterapeutas 71,0
2004 Barbosa et al.22 Dentistas 68,9
2004 Ferrari et al.23 Trabalhadores em carga/
descarga
84,0
2000 Silva et al.25 Bancários – Paraíba 57,0
2005 Brandão et al.26 Bancários – Rio Grande 
do Sul
60,0
2008 Picoloto et al.27 Metalúrgicos 75,2
2009 Crizel et al. 
(estudo atual)
Preparadores de goleiros 87,4
Cad. Saúde Colet., 2011, Rio de Janeiro, 19 (2): 225-31 231
Sintomas osteomusculares em goleiros
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Recebido em 27/05/2010 
Aprovado em: 15/03/2011

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