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Folha de São Paulo 29.04.20

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QUARTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2020ANO 100 ┆ Nº 33.264 R$ 5,00
D E S D E 1 9 2 1 UM J O R NA L A S E RV I Ç O D O B R A S I L
AUDIÊNCIA/MÊS
PÁGINAS VISTAS 404.556.455
VISITANTES ÚNICOS 69.769.423
Aparelho familiar
Apoio declinante
Acerca de escolhadeBol-
sonaroparaachefiadaPF.
Sobre opinião relativa a
quarentena,noDatafolha.
EDITORIAISA2
ATMOSFERAB2
ISSN 1414-5723
9 771414 572049
33264
São Paulo hoje
28
15
0h 6h 12h 18h 24h
˚
˚
QUARENTENAEMSP
Comércio Há 36 dias
Escolas Há 36 dias
Saiba o que abre e o que fecha
emcada estado em folha.com
Cai apoio a isolamento; Brasil
já temmaismortos queChina
Defesa de quarentena perde 8 pontos percentuais, segundoDatafolha; ‘e daí?’, diz presidente sobre recorde
Oapoioaumisolamentoso-
cialamploparaconteroco-
ronavírusdivideapopulação
brasileira,mostraoDatafo-
lha. Pela primeira vez des-
deo iníciodapandemia, há
empatetécnicoentrequem
defendeavoltaaotrabalhoe
osqueapoiamaquarentena.
Opinavampelorelaxamen-
to das regras 37% no início
deabril.Forampara41%em
17deabrilepara46%napes-
quisa realizada na segunda
(27). Jáodistanciamentoto-
tal tinha o apoio de 60%no
início de abril, foi para 56%
nodia 17e, agora,para52%.
A adoção da quarentena
apenaspara idososepesso-
as nos gruposde risco éde-
fendidapelopresidenteJair
Bolsonarosobaalcunhade
“isolamento vertical”. O go-
verno,noentanto,atéagora
nãoapresentounenhumes-
tudoqueembaseamedida.
Ontem,opaísbateurecor-
de demortos pela Covid-19
em24horas,com474,epas-
souototaldaChina. “Edaí?
Lamento. Quer que eu faça
oquê?EusouMessias,mas
não façomilagres”, afirmou
opresidenteaoserquestio-
nado sobre os números.
OBrasilagoraéononopa-
íscommaismortesnomun-
do,5.017óbitos,contra4.637
registrados pelos chineses.
NelsonTeich(Saúde)reco-
nheceu agravamento da si-
tuação,masdissequeapiora
estárestritaa locaiscomdi-
ficuldades. SaúdeB1 e B4
Pandemia afeta
5milhões de
empregos com
carteira
Aomenos5milhõesdetra-
balhadores com carteira
assinada já tiveram seus
empregos afetados de al-
gummododesde o início
da crise do coronavírus,
oequivalentea 15%does-
toquede formais dopaís.
Cercade 1milhãofoide-
mitido e está apto ao se-
guro-desemprego, e 4,3
milhõestiveramcontrato
suspensooujornadaesa-
lárioreduzidos. MercadoA15
Presidente apoia
pressão para saída
de Regina Duarte
ComoavaldeJairBolsona-
ro, aliados deram início a
umprocessodefriturade
ReginaDuartecomoobje-
tivo de fazer com que ela
peçademissãodaSecretá-
riaEspecialdaCulturaan-
tesdecompletardoisme-
sesnocargo.Segundorela-
tos,opresidentereclamou
da dificuldade de diálogo
comaatriz. Ilustrada B16
Esporte B17
Sem partidas até
setembro, França
pressiona centros
do futebol europeu
Ilustrada B12
Há 50 anos, Waly
Salomão escrevia
texto quemudaria
a contracultura
Edaí? Lamento.
Quer que eu faça
o quê? Eu sou
Messias,masnão
façomilagres
Jair Bolsonaro
presidente da República
5.017
é o total de óbitos por
Covid-19 no país; epicentro,
o estado de São Paulo
registrou 224 vítimas
em 24h, um recorde
Saúde B4
Joice Hasselmann
ENTREVISTA
O que Bolsonaro
quer fazer com
a PF é chavismo
Ex-líder do governo no
Congressoehojedesafeto
deJairBolsonaro,adepu-
tadaJoiceHasselmanndiz
queopresidenteagecomo
o chavismo ao querer fa-
zer da PF e doMinistério
da Justiça “uma coisa só”,
chefiadaporele. PoderA10
Paulo Chapchap
ENTREVISTA
Como cinto, uso de
máscara deveria
ser obrigatório
O diretor-geral do Hospi-
tal Sírio-Libanês defende
ousodemáscaraemtodo
o país e diz que profissio-
naisdesaúdedevemfazer
mea-culpapordemorara
aprenderisso.“Deveriaser
obrigatório, igual ao cin-
to de segurança.” SaúdeB8
Ação quematou
músico no Rio não
tinha aval de praxe
AaçãodoExércitoque le-
vouaofuzilamentodomú-
sicoEvaldoRosaemabril
de 2019, no Rio, era par-
te de uma operação para
ocupar uma favela próxi-
ma.Nãohavia,porém,de-
cretodeGarantiadaLei e
daOrdemquepermitisse
aosmilitaresagirnasegu-
rançapública. CotidianoB10
Consumidor que tiver
cota de consórcio poderá
sacar em dinheiro A23
Espanha e França
anunciam plano gradual
de desconfinamento A12
Laboratórios passam a
oferecer testes do vírus
com coleta domiciliar B7
Nomeação de
novo chefe da
PF gera ações
na Justiça
AsnomeaçõesdeAlexan-
dreRamagemàPolíciaFe-
deraledeAndréMendon-
çanaJustiçaforamconfir-
madas ontem. A escolha
deMendonçano lugarde
Sergio Moro em geral foi
bem recebida, mas a de
Ramagem, amigo do clã
Bolsonaro, já levou parti-
dospolíticosaentrarcom
pelomenosseisaçõesjudi-
ciais para barrar sua pos-
se, que seráhoje. PoderA4
Celso relevaMoro e
foca Bolsonaro em
decisão no STF A9
Profissionais de saúde
terão assinatura grátis e
newsletter da Folha B10
Cidade de
São Paulo já
negocia usar
UTIs privadas
Oaumentodemortesem
SãoPaulolevouacidadea
buscar vagas na rede pri-
vadaparaampliar suaca-
pacidade de internação,
ao passo que represen-
tantes de hospitais priva-
dosafirmamqueoMinis-
tério da Saúde e muitos
estados têm sido lentos a
procurá-los para suprir a
faltadeleitosdeUTI.Para
eles,oatrasoseriadevido
adisputapolítica. SaúdeB2
Mauro Paulino e
Alessandro Janoni
ANÁLISE
Saída de ex-juiz
tem pouco impacto
Se por um lado os efeitos
da crise sanitária afasta-
rampartedosmaisescola-
rizadosedosmaisricosda
basedeJairBolsonaro,por
outroagregaramsegmen-
tosmaiscarentesedepen-
dentesdaspolíticaspúbli-
cas do governo. Poder A11
Funcionários de lojas de Campina Grande se ajoelhamna calçada durante ato que pedia retorno às atividades; sindicato
dos comerciários acusa patrões de obrigarem empregados a participar, e Procuradoria do Trabalho investigaMercado A16
PROTESTO POR REABERTURADE COMÉRCIO NA PARAÍBA É INVESTIGADO
Jonathan Samuel/Paraibaonline
Em estudo, exame
de sangue detecta
câncer precoce
Estudo publicado ontem
pela revista Sciencemos-
trou, em pesquisa feita
com10milmulheres,queé
possíveldetectarprecoce-
menteváriostiposdecân-
cer com base em exames
de sangue. Amaior parte
dosquemorremdadoen-
ça a descobre já em está-
gio avançado. Ciência B11
Terminal de embarque semmovimento ontem; voos diminuíram para umamédia de sete
por dia em abril, reduzindo o barulho nos arredores do aeroporto, na zona sul de São Paulo
VIZINHOS COMEMORAMSILÊNCIO DE CONGONHAS
Rubens Cavallari/Folhapress
Trump vê ‘grande
surto’ no Brasil e
cogita cortar voos
OpresidentedosEUA,Do-
nald Trump, afirmou on-
tem que o Brasil seguiu
“caminho diferente” no
combateàCovid-19epas-
sa por um “grande sur-
to”. Trump voltou a cogi-
tar restrição de voos vin-
dosdopaís. JairBolsonaro
disseque“oqueeleachar
que tem que fazer no pa-
ís dele, ele faz”.MundoA14
a eee
opinião
A2 QUARTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2020
UM JORNAL A S ERV I ÇO DO BRAS I L
a
Publicado desde 1921 – Propriedade da Empresa Folha daManhã S.A.
presidente Luiz Frias
diretor de redação Sérgio Dávila
superintendentes Antonio Manuel Teixeira Mendes e Judith Brito
conselho editorial Rogério Cezar de Cerqueira Leite, Marcelo Coelho,
Ana Estela de Sousa Pinto, Cláudia Collucci, Hélio Schwartsman,
Mônica Bergamo, Patrícia Campos Mello, Suzana Singer, Vinicius Mota,
Antonio Manuel Teixeira Mendes, Luiz Frias e Sérgio Dávila (secretário)
diretoria-executiva Marcelo Benez (comercial), Marcelo Machado
Gonçalves (financeiro) e Eduardo Alcaro (planejamento e novos negócios)
editoriais@grupofolha.com.br
EDITORIAIS
Aparelho familiar
Apoio declinante
Odesenrolardosacontecimentos
vai dando razão à acusação mais
gravefeitapeloex-ministroSergio
Moro contra o presidente da Re-
pública,dequeJairBolsonaroage
motivadopeloobjetivodereduzir
aPolíciaFederalauminstrumento
pessoal do ocupante doPlanalto.
Os primeiros indícios de confir-
maçãoconstavamdaspalavrasdo
própriochefedogovernonasexta-
feira(24).Apropósitodedefender-
sedoquepoucoanteshaviaditoo
ex-juiz da Lava Jato, o presidente
admitiu que fazia pressões sobre
oMinistériodaJustiçaparaarran-
carinformaçõesdaPolíciaFederal.
Na sequência, Moro divulgou
mensagens trocadas com Bolso-
naro emque omandatário citava
repercussõesdeuminquéritopa-
ra apurar fake news e ameaças a
magistrados, que corre noSupre-
moTribunal Federal, comomoti-
vo para substituiro diretor daPF.
Nosábado (25), estaFolha reve-
lou que a apuração, presidida pe-
loministroAlexandredeMoraes,
havia identificadoovereadorCar-
los Bolsonaro como um dos arti-
culadores do esquema criminoso
de intimidação. O ciclo se fecha-
va,mas aindanão se completara.
Odelegadonomeadopelopresi-
dentedaRepúblicaparaassumira
Polícia Federal, Alexandre Rama-
gem, é amigodofilhoCarlos.
UmoutroconvivadafamíliaBol-
sonaro,JorgeOliveira,teriasidoin-
dicadoparaapastada Justiçanão
fosseumafortepressãopalaciana
para demover o chefe de Estado.
Acabousendoindicadoparaocar-
go AndréMendonça, que era o ti-
tulardaAdvocacia-GeraldaUnião.
Escandalosa é pouco para qua-
lificar a promoção de Ramagem
à chefia da Polícia Federal nesse
contexto. Por mais que cautelas,
comoa tomadaporAlexandrede
Moraes ao proibir a troca dos de-
legadosqueconduzemoinquérito
das fake news, possam evitar da-
nospontuais,a intençãodeapare-
lhar o órgão policial ficou clara e
partedopresidentedaRepública.
Não à toa, ações para anular a
posse do indicado a diretor-geral
daPFcomeçaramachegaràscor-
tesfederais, inclusiveaoSupremo.
Alegam que Bolsonaro cometeu
abuso depoder e desvio definali-
dadenanomeaçãodo amigo.
Nacartilhadoneoautoritarismo
emvogaemalgumaspartesdopla-
neta,aparececomoitemdedesta-
que a lenta cooptaçãodos órgãos
independentes do Estado pelos
tentáculosdocandidatoacaudilho.
JairBolsonaroseguemestresco-
mo Nicolás Maduro, da Venezue-
la, e VictorOrbán, daHungria, ao
tentar transformaraPFnumbirô
a serviço da família presidencial.
Precisasercontidopelas institu-
ições. A PF hoje exigemais, e não
menos, garantias —como um di-
retor-geral submetido ao escrutí-
niodoLegislativo—paraasuaatu-
ação técnica e republicana.
DetectadapeloDatafolhaháduas
semanas, aquedadoapoiodapo-
pulação às políticas de isolamen-
tosocialsemostrou, infelizmente,
umatendênciaagoraconfirmada.
Noiníciodeabril,60%dosbrasi-
leirosconcordavamque,paraoen-
frentamento da pandemia deCo-
vid-19,apermanênciaemcasaera
recomendável inclusive para pes-
soasnãopertencentesagruposde
risco como idosos e doentes crô-
nicos. No dia 17, o percentual ha-
viacaídoa56%.Destavez,são52%.
Trata-se de parcela similar, no
limite damargem de erro de três
pontospercentuais, àdosquede-
fendem isolamento apenas dos
mais vulneráveis aonovocorona-
vírus —enquanto os demais, se-
gundoesseentendimento,deveri-
am retomar suas atividades.
O dado preocupa porque, con-
formeoquaseconsensodosespe-
cialistas, ainda não chegou omo-
mento de relaxar as quarentenas
recomendadas pelas autoridades
sanitárias para evitar uma sobre-
carga dos sistemashospitalares.
No estado de São Paulo, onde a
disseminaçãodadoençaseencon-
traemestágiomaisavançado,ogo-
vernador JoãoDoria (PSDB)fixou
adatade11demaioparaoinícioda
reaberturagradualdecomérciose
outrossetores.Tudoestácondici-
onado, entretanto, ao comporta-
mentodos paulistas até lá.
Ditodeoutromodo,éprecisoque
asmedidas de precaução contem
com adesão suficiente para redu-
ziroritmodocontágioepreservar
a capacidadeda redehospitalar.
Menos ruimque 53%dos entre-
vistadosdeclaremquesó têmsaí-
do de casa quando inevitável, en-
quanto outros 16% se dizem em
isolamento absoluto—percentu-
ais que semantiveram sem gran-
des oscilações ao longodomês.
Ainda é amplamente majoritá-
rio, emboratenhacaídonoperío-
dode 76%para67%,ocontingen-
te que considera mais importan-
te nestemomento conter o avan-
ço da epidemia, mesmo ao custo
do aumentododesemprego.
Difícil,defato, imaginarescolha
maisdolorosa—oquetornaparti-
cularmentecrueleirresponsávela
campanhalideradapelopresiden-
te JairBolsonaropelavolta imedi-
atadasatividadeseconômicas,em
nomede evitar a recessão.
Aexperiênciainternacionalmos-
tra que a hesitação ou a recusa à
quarentena pode levar a resulta-
dos trágicos, enquanto a reaber-
turacautelosaseafiguramaispro-
missora.Essacompreensãoparece
embasarocomportamentocorre-
to damaioria dos brasileiros.
Nomeação, por Jair Bolsonaro, de um amigo do
filho investigado para dirigir a PF é escandalosa
sãopaulo JairBolsonarodissee fez
absurdosduranteaepidemiadeCo-
vid-19, traiualgumasdesuasprinci-
paisbandeirasdecampanhae,ape-
sardisso, seguecomoapoiodecer-
cadeumterçodoeleitorado, como
mostroupesquisaDatafolha.
Seiquevãomexingarpordizer is-
so,masoparalelocomospetistasé
inevitável.Lulatambémconservou
oapoiodemaisoumenosoutroter-
çodoeleitorado.Nementronomé-
ritojurídicodasentençaqueconde-
nou o ex-presidente,mas, nomíni-
mo, o fato de ter tolerado altos ní-
veisdecorrupçãoeestabelecidore-
laçõespessoaisabsolutamentepro-
míscuascomempreiteirosconfigu-
ra um desastre ético que contraria
tudooqueoPTsempredefendera.
Oqueacontececomocérebrodo
militante político, que parece per-
der a capacidade de ver o óbvio?O
jornalistaEzraKlein,autorde“Why
We´re Polarized”, oferece uma boa
resposta a esse enigma. Ele obvia-
mentenão falanadadebolsonaris-
tas e petistas, mas recorre à litera-
tura psicológica e da ciência políti-
ca para esmiuçar as mentes de de-
mocratas e republicanos. Com as
devidas adaptações, muitas de su-
as conclusões valempara oBrasil.
O mais surpreendente é consta-
tar que não há nada de irracional
no comportamento desses eleito-
res. Eles apenas decidiram colocar
suasidentidadespolíticasàfrentede
outros valores quepossamalimen-
tar. Na esfera individual, faz senti-
do. Quem age dessa forma refor-
ça os vínculos sociais que tem com
seu grupo, o que é fonte de satisfa-
ção pessoal.
Oproblema éque, noplano cole-
tivo,essasupervalorizaçãodaiden-
tidade de grupo leva à polarização,
que raramente é saudável para a
política, emesmo a posições clara-
mentedisfuncionais,comooapoio
acríticoa líderespopulistasqueco-
locam sua agenda pessoal à frente
dos interesses do país. Não há re-
paro simples para essa dinâmica,
quevemcolocandosobestresseal-
gumasdasmaissólidasdemocraci-
as doplaneta.
helio@uol.com.br
brasília Donald Trump nunca du-
vidou da lealdade de seus eleitores
fiéis.Dezmeses antesdaeleiçãode
2016,omagnatasubiunumpalanque
eexibiuadimensãodesuaautocon-
fiança:“Eupoderiairparaomeioda
QuintaAvenida,atiraremalguéme
nãoperderia nenhumeleitor”.
Até aquele dia, o republicano só
havia apresentado uma amostra
grátisdo repertóriodeatrocidades
queusariaduranteacampanha.Da-
lipordiante,deudeclaraçõesabsur-
das, prometeubarbaridades e che-
gou àCasaBrancamesmoassim.
A despreocupação de Jair Bolso-
narocomsuapopularidadeespelha
afrase lançadaporseuídoloameri-
canonaquelecomício.Osnúmeros
da última pesquisa Datafolhamos-
tram que a base de apoio do presi-
dente semanteve inabalada.
Assimcomonofimdoanopassa-
do,umacadatrêsbrasileirosafirma
queogovernoBolsonaroéótimoou
bom. Nesse intervalo, o presiden-
te empurrou o país em direção ao
abismodocoronavírus, fez campa-
nha contra alertas das autoridades
de saúde e demitiu o ministro que
cuidavadaárea.Seusapoiadoresvi-
ram 5.000mortes emmenos de 40
dias,mas continuarama seu lado.
A solidez dessa base abriu cami-
nho para mais desatinos. Bolsona-
ro deu apoio explícito a uma turba
que pedia um golpemilitar e inter-
feriupoliticamentenaPolíciaFede-
ral para proteger os filhos. Depois,
nomeou um delegado próximo de
sua família. “E daí?”, rebateu.
Opresidenteprovavelmenteacre-
dita que pode fazer o que quiser.
Emboratrincadopeloconflitocom
Sergio Moro, o discurso antissiste-
maaindaprendeosbolsonaristasa
seulíder,assimcomoapromessade
uma agenda conservadora. O peso
damáquinapública eosR$600pa-
gos a trabalhadores informais afe-
tados pela crise inflamesse grupo.
Bolsonaroaindaprecisaráenfren-
tarosefeitosdadisparadadasmor-
tes por coronavírus e da recessão
provocada pela pandemia. Por en-
quanto,opaísmantémnopoderum
presidente que fabrica disparates
semmedodeperderpopularidade.
riodejaneiro Minhaempregadaestá
emcasanosubúrbio,commarido,fi-
lhosenetos.Amigosmeusfecharam
seusescritórios,ateliêsoupequenos
negócios, e tambémestão emcasa.
Atores e músicos que conheço es-
tãoigualmenteparados,eemsevera
quarentena. Muitas dessas pessoas
vivememapartamentosmodestos,
que lhes bastavamquando podiam
sair à vontade.Confinadas,aspare-
descomeçamapesar-lhes.Elasgos-
tariamde dar umpulo lá fora.Mas,
conscientesquesão,sabemque,en-
quantoasmortespelovírusnãoche-
garemaopicoesóentãodeclinarem,
nãoéhoradeabrir a guarda.
Emcontrapartida,deminhajane-
la,vejo jovensevelhoscaminhando
nocalçadãodapraia,pedalandoou
correndonacicloviaeaté indomer-
gulhar. Sei pelo noticiário que em
SãoPaulotambéméassim.Umacoi-
sa são os prestadores de certos ser-
viços, que nãopodemparar de tra-
balhar. Outra são os quedecidiram
nãoabrirmãodo lazer—nemque-
remprivardisso seusgarotos, a jul-
gar pelos festivos playgrounds que
tambémvejo daqui.
Nãoconheçoacorpolíticadessas
pessoas, mas quem continua a fla-
nar, contra as recomendações dos
agentesdasaúde,estárepetindo,até
sem saber, o gesto de Jair Bolsona-
ro, para quem ninguém cerceará o
seudireitode ir e vir. Pormim,Bol-
sonaropode iratéparaodiaboque
ocarregue,nemédaminhacontaa
saúdedequemsai emcarreatas ou
comele partilha celulares, abraços
e perdigotos.
Mas é da conta de todos nós, que
estamos em casa, a saúde dos que
continuamnas ruas como se tives-
sem passaportes de imunidade. O
passeiodeumdeles,hoje,poderen-
derumainternaçãosódaquia 15di-
as.Oproblemaéoque,porumaca-
deiaperversa,esses15diascustarão
a quemficou emcasa.
Um amigo paulista, pioneiro da
quarentena, está muito mal. Pode
ter sido infectado pelo netinho as-
sintomático. Não haverá tragédia
maior para uma família.
Será que eles não enxergam?
Bolsonaro naQuinta Avenida
Danossa conta
-
Hélio Schwartsman
-
Bruno Boghossian
-
Ruy Castro
Aeconomiapolíticaéumco-
nhecimento que desde tem-
pos imemoriais acumula ob-
servações para tentar enten-
derosestímulosquelevamos
homensasecomportaremna
suaatividadediáriaecomoor-
ganizamadivisãodotrabalho
para produzir, no território
queocupam(como“seu”!), a
suasubsistênciamaterial,ou
seja, o total de bens e servi-
çosproduzidoscoletivamen-
teequantocadaumreceberá
como“quota”pelasuacoope-
raçãonoque foi produzido.
Nela,osproblemassãosem-
preosmesmos:1º)oqueeco-
moproduzir,quedependedas
necessidades da sociedade e
das “técnicas” para atendê-
las, e 2º) como se distribuirá
oproduzido, se pela forçade
umaautoridadeoupelocon-
senso obtido numa negocia-
çãopolítica.Oquemuda são
as tentativas de resolvê-los.
Ao longo de sua história, o
homem vivenciou múltiplas
alternativasorganizacionais,
numprocessodeseleçãoqua-
se biológico para encontrar
qual lhe daria maior “liber-
dade” junto com maior “se-
gurança”. Foi assim que che-
gouàconcepçãodeumEsta-
doforte,controladoporuma
Constituiçãoconsensualmen-
teconstruídaqueimponha—
pela Lei— uma estrutura de
poder republicano e garanta
o Estado democrático de Di-
reito,comojátemosnoBrasil.
Dito isso,épreciso lembrar
queoquechamamosde“eco-
nomia de mercado” foi des-
coberto (não inventado) pe-
los economistas nas feiras
daantiguidadequandoopo-
der local lhes dava proteção
e garantia apropriedadepri-
vada. Talvez a contribuição
mais importante dos econo-
mistasàcivilizaçãotenhasido
dar àquele instrumento —o
“mercado”— cada vez mais
eficiência no uso dos fatores
deproduçãodisponíveis,mas
sempreescassosparaatender
àdemandade todos.Ocusto
disso foi a separação dos ho-
mens em duas classes: a dos
quecomandamoprocesso(os
que detêm o capital) e a dos
que não têm outra alternati-
va a não ser servi-los, o que
gera umadisparidade de po-
der insuportável.
Desde a autópsia de Marx
(e da contribuição de Stuart
Mill,o liberal),ficouclaroque
a“economiademercado”tem
trêsgravesproblemas:1º)éin-
capaz de eliminar a pobreza
dos menos favorecidos pela
sorte;2º)produzimensasde-
sigualdadesderenda,quesão
corrosivasparaacoesãosoci-
al,alémdecriardúvidassobre
oprocessodemocrático;3º)as
flutuaçõesquelhesãoínsitas
epromovema“insegurança”
dostrabalhadorespelavaria-
çãodoemprego,queinspirou
aspolíticaskeynesianas, víti-
mas, como Marx, de “vulga-
tas”daeconomiade“cordel”.
Foram esses fatos que le-
varam à necessidade de um
Estado forte, que, nas crises
agudas, se transforma, pro-
visoriamente, no “garante”
deúltima instânciadenossa
“segurança”.
Estado forte
-
Antonio Delfim Netto
Economista e ex-ministro da Fazenda
(governos Costa e Silva e Médici).
Escreve às quartas
Hubert
Causa preocupação a queda do endosso ao amplo
isolamento social, como captou pesquisa Datafolha
a eee
opinião
QUARTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2020 A3
ERRAMOS
erramos@grupofolha.com.br
Liberdade de expressão
Se Bolsonaro não existisse, teria
queserinventado.Suapérolamais
recentefoidizerquefakenewssão
“liberdadedeexpressão”.Alémde
absurda,afalaépraticamenteuma
confissão de culpa—mesmo que
mais uma vez ele não saiba direi-
to o que está dizendo.
Francisco J. B. de Aguiar (São Paulo, SP)
Datafolha
(“Impeachment de Bolsonaro di-
vide o país, mas presidente man-
témbasede apoio, dizDatafolha”,
Poder, 27/4). Uma coisa a pesqui-
sa demonstra de forma inequívo-
ca: como a oposição está desinte-
grada,semcapacidadedediagnós-
tico, sem propostas e, o que é pi-
or, sem líderes confiáveis. De po-
sitivoemtodaessacrise, apenasa
solidariedadedosbrasileirospara
comopróximo.
JoséWalter MotaMatos
(Pouso Alegre, MG)
*
Osresultadosdapesquisaindicam
que grande parcela da população
é incapazdeolharos fatos e inter-
pretá-los com isenção. E a pande-
mia rolando solta.
João Larizzatti (Rio de Janeiro, RJ)
*
Enquanto houver apoio da elite
econômica, o impeachment não
sai. Da média da população, 45%
já desejam o impedimento. Mas
isso só passa quando a elite dese-
ja. Assim, cai por terra o conceito
dedemocracia e sobressaemoda
plutocracia e odanecropolítica.
Rafhael Jeronymo Lima
Oliveira (Rio de Janeiro, RJ)
Desculpa aí
Adissonânciacognitivaestápegan-
dofortenoseleitoresquecontinu-
amaapoiarBolsonaro.Prometeu-
nososmelhoresministros,zeroto-
lerânciacomcorrupção,zeropos-
sibilidadedesecandidataràreelei-
çãoeofimdavelhapolítica.Reali-
dade:quatroministrostécnicosig-
noradosoueliminadoseministros
donaipedeErnestoAraújo,Abra-
hamWeintraub e Marcelo Álvaro
ainda gozando da sua confiança.
Deseusfilhosnemsefale... (lávem
aPF). Flerta comuma interpreta-
ção pessoal dos fatos, concentra
todos os esforços visando 2022 e,
assim, abraçamultidões e os pro-
fissionais da velha política. Esta-
mosferrados.Deminhaparte,elei-
tor deBolsonaro, peçodesculpas.
Clive L. C. Ashby (São Paulo, SP)
STF
Celso de Mello agiu de forma ab-
solutamente correta, pois os su-
postos crimesdeMorosópassam
aexistirse,comprovadamente,ele
tiver mentido em suas acusações
contraopresidente(“CelsodeMel-
lo ignora possíveis crimes deMo-
roemandarecadossóaBolsonaro
em decisão no STF”, Poder, 28/4).
Se ele comprovaroquedisse, não
hánada a investigar.
Noeli Tejera Lisbôa (Porto Alegre, RS)
*
DoisilustresministrosdoSupremo
TribunalFederalmanifestaram-se
sobre a demissão deMoro: “... é o
arrefecimentodoesforçodetrans-
formaçãodoBrasil” (LuísBarroso)
e “... sóposso afirmarque cresceu
minha admiração pelo ministro”
(MarcoAurélioMello). Datíssima
máximavênia,masmanifestações
assim,emitidaspordois integran-
tesdamaisaltacorte,apenascon-
tribuemparadesmerecê-la.Oque
é lamentável.
Gary Bon-Ali (Rio de Janeiro, RJ)
Isolamento
NemCuba,nemVenezuela,nemAr-
gentina.Acontinuaressaganância
e irresponsabilidade social, oBra-
sil seráumEstadosUnidosemnú-
merodemortespelaCovid-19—e
como consequência terá um ele-
vadonúmerodeórfãospobresou
na extremapobreza.
Isabel Terezinha Ferronato
(Blumenau, SC)
Como da primeira vez
O leitorGeraldo JoséDultra (“Pai-
nel doLeitor”, 25/4) lamentanun-
camais poder olhar nos olhos de
Bolsonaro como da primeira vez.
Um flerte que o levou a acreditar
evotarnele.Faltouesclarecerseo
fatosedeuantesoudepoisdeBol-
sonaroenaltecerotorturadorBri-
lhanteUstra,reafirmandoqueadi-
taduramatoupoucagenteedeveria
termatado30mil, incluindoFHC.
Será que o leitor viu só suavidade
nosolhosdocapitão?Quandoodi-
aborezaéporquequerteenganar.
Edson José de Senne
(Ribeirão Preto, SP)
Vírus
O Brasil enfrenta duas pragas: a
pandemia do coronavírus e a epi-
demiadobolsonavírus.Enquanto
a primeira, que já contaminou 72
mil pessoas, está na fase de cres-
cimento,a segunda,quecontami-nou50milhões, teveopiconofim
de 2018 e está, felizmente, em de-
clínio,comimunidadederebanho
jácomprovada.ACovid-19atacao
pulmãoepodematar;aBolsovid-18
atacaocérebroemantémoindiví-
duoemestadopsicótico,comma-
niadeperseguiçãoecrençasmessi-
ânicas.Nãohávacinascontraelas.
Eenquantoumaestásendopesqui-
sadapelaciência,aoutraestáqua-
se pronta pela segurança pública.
Walter Celaschi (Valinhos, SP)
Enquanto
Enquanto cadáveres se acumu-
lam em corredores de hospitais e
governos estaduais e municipais
compram câmaras de refrigera-
çãoparaconservarcorposatéque
possamserenterrados—emvalas
comunseemcamadas—,Bolsona-
roseapressaemgarantirqueelee
seus zeros à esquerda sejam blin-
dadosde suasmaracutaiasmilici-
anas e outrasmais.
Rita Lopes (São Paulo, SP)
Verdeira cara
Enfimopresidenteeleitoparacom-
bater o crime organizado e a cor-
rupçãomostra sua verdadeira ca-
ra(“BolsonaroconfirmaMendon-
ça na Justiça e Ramagem, amigo
de seus filhos, na Polícia Federal”,
Poder,28/4).Essepovotodoqueo
elegeu foi rifado. O Brasil foi rifa-
do.Bolsonaronão se reelege,mas
o estrago é grande.
Edison Gonçalves (São Paulo, SP)
*
É prerrogativa do presidente da
República nomear ministros de
Estado e o chefe da Polícia Fede-
ral. Quemgosta de ver terroristas
ecorruptosnomeadosparacargos
assim que vote no PT novamente
em 2022. Até lá, que se respeite a
democracia.
Olavo Cardoso Júnior (Marília, SP)
*
NosdesenhosdoScooby-Doo,Fred
sempre desmascara o malfeitor,
que quase sempre é alguém já co-
nhecidode todos. Edesta veznão
foidiferente.Parabénsàturmado
Scooby-Doo e a João Montanaro
por nos presentear com a ótima
lembrançanasuaexcelentecharge.
Josenir Teixeira (São Paulo, SP)
cotidiano (25.abr., pág. b8) Di-
ferentemente do que afirmava o
texto “A gestão de SergioMorona
segurançapúblicadopaís”, houve
motimnaPolíciaMilitardoCeará,
nãonaPolícia Federal doCeará.
PAINELDO LEITOR
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Cartas para al. Barão de Limeira, 425, São Paulo, CEP 01202-900. A Folha se reserva o
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Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular
o debate dos problemas brasileiros emundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo
Há quem diga que a Covid-19 tem
letalidade inferior ao que se previa
inicialmente. Contudo, nada mu-
dou em relação às expectativas so-
bre outra pandemia, a da violência
contra amulher.
OúltimoAnuárioBrasileirodeSe-
gurançaPúblicaécategórico:temos
emmédia 180 casosdeestuprodiá-
riosnopaís,eamaioriadasvítimas
conheceseuagressor.Osdadoscom-
piladospeloFórumBrasileirodeSe-
gurançaPúblicaindicamqueocená-
rio mais frequente da violência é a
residênciadavítima. Imagineope-
rigo que estão correndomeninas e
mulheresbrasileiras,confinadasem
suascasascomseusalgozesaolado.
Essa tragédianãoéexclusividade
nossa. É um “leitmotiv” global, e a
ONUMulheresvemdivulgandonú-
merosaterradores.Aviolênciacon-
tra amulher explodiu naChina. As
denúnciasdeviolênciacontraamu-
lher triplicaram desde que o lock-
downfoidecretado.Omesmoocor-
reu na Espanha e na Itália—ainda
que, entre as italianas, os pedidos
de ajuda tenhamsido feitos a orga-
nizaçõesdasociedadecivil.NaFran-
ça, denúncias aumentaram 30%. Já
a Argentina teve 25%mais. O novo
coronavírus cruza as fronteiras e o
boomdeviolênciacontraamulher
o segue, invariavelmente.
Atragédiatampoucoéinesperada.
AONUMulheresalertadesdedezem-
broparaoimpactodapandemiade
Covid-19 na vida demeninas emu-
lheres.Pandemiascomoadoebola
nosensinaramquemulheresemsi-
tuaçãoderiscoexperimentamuma
vulnerabilidade aindamaior quan-
dohácriseshumanitárias.Emcon-
textosanálogos,écomumoaumen-
todedenúnciasdeviolênciadomés-
tica, além de números elevados de
tráficodemulheresecasamentose
prostituição infantis.
A situação é tão assombrosa que
a Organização Mundial da Saúde
(OMS)publicouemmarçorecomen-
daçõespara autoridades responsá-
veispelasaúdeesegurançapública
sobreoimpactodoisolamentosoci-
al nas dinâmicas violentas que viti-
mizammeninasemulheres.AOMS,
taxativa, diz que governos têm pa-
pel decisivo e devem prover servi-
ços de qualidade às vítimas.
Diante de tantos alertas, conse-
guimosevitararepetiçãododrama
por aqui?Não.
O Rio de Janeiro registra aumen-
to de 50%nas denúncias de violên-
cia contraamulherdesdeaadesão
aoisolamentosocial.OTribunalde
JustiçadeSãoPauloapontoualtade
13%naconcessãodemedidasprote-
tivasdeurgêncianomêsdemarço.
OLigue180, serviçopúblicogratuito
econfidencialquerecebedenúncias
deviolênciacontraamulher, acusa
aumentode 9%nonúmerode liga-
ções desde o início da quarentena.
Tendo em conta a subnotificação
usual, imagina-se que esse avanço
sejamuitomaior.
Ogoverno JairBolsonaro temen-
frentadoaCovid-19egovernadode
modo desajuizado. A ministra Da-
mares Alves tem capitaneado me-
didas também desajuizadas na de-
fesa de meninas e mulheres. Vive-
mosumapandemiaeumpandemô-
nio.Restaàsbrasileirascontarcom
o heroísmo de servidores públicos
que trabalham em condições pre-
cárias e com redes de solidarieda-
dequeoperamempequenaescala.
ComodizLilia Schwarcz, andamos
nos contentando com o otimismo
novarejo e opessimismonoataca-
do.Merecemosbemmais.
Estamos vivenciando ummomen-
to de grandes incertezas e angústi-
as, decorrentes da pandemia pelo
novo coronavírus. Quando nos de-
paramoscomonúmeroelevadode
óbitos,nãopoupandoinclusivepaí-
sesdesenvolvidoscomgrandeaces-
soàtecnologia,associadoaonúme-
roexcessivodepacientesqueneces-
sitam ser hospitalizados em UTIs,
trabalhar na área de saúde e estar
na linha de frente de uma crise co-
mo esta nos faz refletir sobre este
presentesombrioeprojetarumfu-
turomelhor.
Acreditoquepodemostirargran-
des lições do que estamos vivendo
hoje.Exemplosdesucessoebrechas
deimperfeiçõesagorareconhecidas
podemsetornarlegadosaseremin-
corporados na área de saúde.
Diantedeumagrave crise sanitá-
ria,observamosaformaçãodecon-
sórcios de várias instituições que,
forças unidas, convergiram exper-
tises, tecnologias ematerial huma-
no em prol de salvar vidas. Dessas
iniciativas, importantesestudosclí-
nicos estãoemandamento, que se-
guramente serão referências futu-
rasna área.Omomentoatualmos-
trouoquantoé imperiosoquehos-
pitais,agênciasdepesquisa,univer-
sidades, indústriae instânciasesta-
tais,dentreoutros,mantenhamuma
constante capacidade de se mobi-
lizar emequipe, deixandopotenci-
aisrivalidadesde lado,embuscade
soluçõesque impactemnavidadas
pessoas, nosso bemmaior.
Notamostambém,demaneirain-
questionável, a importância da ci-
ência no nosso dia a dia. Nesta epi-
demia pela Covid-19, vimos por vá-
rias ocasiões governantes deman-
dando soluções rápidas, exigindo
de pesquisadores as respostas “de-
finitivas”.Umpaíssomenteseráde-
senvolvidodefatosetivernocentro
desuaculturaeseumododevivera
valorizaçãodaatividadecientíficae
dosseuscientistas,bemcomoacri-
ação de um ambiente fértil de pes-
quisae inovação.Tal ciclovirtuoso,
uma vez criado, será capaz de de-
senvolver um ambiente de negóci-
os saudável, juntamente coma cri-
ação de complexos industriais da
saúde, oferecendo as bases sólidas
para a geração de riqueza, empre-
gos, autossustentabilidade e o fun-
damental crescimento econômico
de que tanto necessitamos. Espero
que voltemos a ver o investimento
e estímulo à ciência no país, sem-
pre lembrando que pesquisas séri-
as e transformadoras exigem tem-
po e rigormetodológico.
Outro ponto que poderá ser um
legado são as chamadas parcerias
público-privadas, bem como o de-
senvolvimentodeoportunidades e
facilidades para que a área da saú-
depossareceberrecursosdeforma
mais criativa e desburocrarizada.
No Brasil de hoje ainda é difícil a
doaçãodevaloresaseremaplicados
nasaúde,diferentementedoquese
vêemoutrospaíses,comonosEUAe
emalgumasnaçõeseuropeias,onde
empresasoumesmograndesfortu-
nasencontramnessaaçãoumbem
coletivo, que impactanasociedade
como um todo. Vimos no combate
ao coronavírus que o fomentopri-
vado ao desenvolvimento da área
da saúde é amplamente possível.
Esperamos que estas ações se tor-
nemperenes.
E, por fim, tenho a convicção de
que a valorização de todos os pro-
fissionais da saúde será um legado
inquestionáveldostemposqueesta-
mos vivendo agora. Ainda estamos
nomeiodacrise,etodostêmtraba-
lhado de forma incansável e deste-
mida, lutandocontrauminimigoin-
visíveleque impõetantosofrimen-
to para pacientes e seus familiares.
Presenciamos inúmeras histórias
de superações e privações de cole-
gas que, apesar disso, seguem em
suasvocaçõesesecolocamapostos
paraabatalha.Avalorizaçãoàqual
me refiro não trata de algo abstra-
toe imaterial,masdepontos tangí-
veisqueincluemumareformulação
ampladosistemaderemuneraçãoe
decarreira,proteçãofísicaemental,
paracitaralguns.Aviaeointuitofi-
nal são,naturalmente, criarascon-
diçõesparaque continueeprospe-
re amissão de aliviar o sofrimento
e salvar a vida dopróximo.
Heróis,mascaradoseuniformiza-
dos, em sua grandemaioria anôni-
mos, os profissionais da saúde per-
sonificam o que de melhor quere-
mosparanosso futuro,buscandoo
legadobom,diantedeummomen-
to tãodifícil que vivemos.
Épossível imaginar
um legadopós-coronavírus?
Pandemia e pandemônio
-
Fernando Bacal
Cardiologista do Incor (Instituto do Coração - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP)
e do Hospital Albert Einstein, é diretor científico da Sociedade Brasileira de Cardiologia
-
Manoela Miklos
Doutora em relações internacionais, especialista em direitos humanos e segurança pública na América Latina,
ativista feminista e fundadora do coletivo Agora É Que São Elas
Espero que voltemos a ver investimento e estímulo à ciência no país
Assim como o vírus, violência contra a mulher também cruza fronteiras
[
Tenho a convicção de
que a valorização de
todos os profissionais
da saúde será um legado
inquestionável. (...) Ainda
estamos nomeio da crise,
e todos têm trabalhado
de forma incansável
e destemida, lutando
contra um inimigo
invisível e que impõe
tanto sofrimento para
pacientes e seus familiares
[
Pandemias como a do
ebola nos ensinaram que
mulheres em situação
de risco experimentam
uma vulnerabilidade
aindamaior quando há
crises humanitárias. Em
contextos análogos, é
comum o aumento de
denúncias de violência
doméstica, além de
números elevados de
tráfico demulheres
e casamentos e
prostituição infantis
Em charge de
JoãoMontanaro,
a turma do
Scooby-Doo
desmascara
o vilão Jair
Bolsonaro
a eee
poder
A4 QUARTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2020
Jornal filiado ao IVC
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O idiota debochando dasmortes.
Amarca de um presidente sem
empatia, doente: ‘e eu com isso?’
De Elena Landau, ex-diretora do BNDES, sobre Jair Bolsonaro ter dito
“e daí” sobre recorde demortos por coronavírus no Brasil
TIROTEIO
comMariana Carneiro e Guilherme Seto
Nomeado por vontade de Jair Bolsonaro, Alexandre
Ramagem acenou para alvos do presidente em sua
primeira reunião como diretor-geral. O delegado fez
nominalmenteelogiosaossuperintendentesdoRioe
dePernambuco.SergioMorodisseemsuasaídaqueo
presidentequeriasubstitui-lossemmotivo.Ramagem
tambémquisseposicionaremrelaçãoaoex-ministro,
fazendomençãopositivaadoisdelegadossabidamen-
te ligados ao ex-juiz. Odiretor pediu tranquilidade.
Bandeira branca
seguro Ramagemdisse ain-
da que a PF possui controles
suficientes, o que levou à in-
terpretaçãodequeelequisdi-
zer que o órgão está protegi-
dode interferências.
paz Alémdos27superinten-
dentes convidados, partici-
param da reunião os atuais
diretores e o ex-diretor-geral
MaurícioValeixo.Osdoistro-
caramhomenagens.Aforma
de transmissão do cargo foi
elogiadapordelegados, con-
siderada civilizada.
emtroca Ramagemdeuindi-
cações de que vaimanter no
cargo a superintendente de
Pernambuco, Carla Patrícia.
Eledissenoencontro virtual
que vai mexer na diretoria,
mas sem pressa. Como con-
tou o Painel, alguns dos atu-
ais integrantesdacúpulavão
para fora dopaís.
apoio EmseuperfilnoTwit-
ter,RebecaRamagem,mulher
donovodiretor-geral,tempro-
movido algumas das pautas
maiscontroversasdogoverno
e tem atacado políticos com
os quais o presidente temvi-
vido relação tensa.
oposição Rebecatempedido
com frequência o impeach-
ment do governador de São
Paulo,JoãoDoria(PSDB),ediz
que ele é pior que o ex-presi-
denteLula (PT).Ela também
criticaopresidentedaCâma-
ra, RodrigoMaia (DEM-RJ), e
defendevotaçãopopularpa-
raocargoempostagenscon-
tra odeputado.
corrente Rebeca também
postou críticas à imprensa.
Ashashtagsmaisusadas: em
abrilpediu#jejumpeloBrasil;
emmarço,#oBrasilnãopode-
parar,#Jairnãocainemapaue
#Dia15EuVouPeloJair, sobre
atos em apoio ao presidente
que foram condenados por
organizações de saúde para
evitar aglomerações.
sigodevolta OPaineltentou
falar comRebeca Ramagem,
mas não conseguiu. O perfil
comonomedela eraumdos
18 seguidospelacontaoficial
de Ramagematé a noite des-
ta terça (28).
vaitarde JairBolsonaronão
deumais informaçõesa seus
ministrossobreasacusações
feitas por SergioMoro na úl-
tima sexta (24). Para auxilia-
res, o presidente deu sinais,
em reunião nesta terça (28),
de que estava aliviado e se li-
mitou a dizer que se sentia
tranquilo.Disseagoraera“bo-
la pra frente”.
com carinho O presidente
reiterou,emprivado,oafago
público feito a Paulo Guedes
—repetiu aos ministros que
ele é o responsável pela eco-
nomia. O plano pilotado por
Braga Netto (Casa Civil) que
gerouacrisecomosupermi-
nistro, no entanto, segue em
construção.Novareuniãotéc-
nicaocorreunestaterça(28).
merchan Coube a Roberto
Campos Neto (Banco Cen-
tral) apresentar aos colegas
indicadoresfinanceiros,pon-
tuando que o risco de dete-
rioração fiscal da última se-
mana mexeu com os inves-
tidores. Ele aproveitou para
tentar limpar a barra do se-
torbancário, acusadode tra-
varodinheiroenãorepassar
a pequenas empresas.
embaixador AndréMendon-
ça, indicadoparaaJustiça, fez
umdiscurso aos colegas que
foielogiado.Nãofezmençãoa
Moroedissequepretendese-
guir na linha dodiálogo com
as cortes superiores.
morosaiu Ministrosaponta-
ramdiferençaentreostchaus
deLuizHenriqueMandettae
deSergioMorodogoverno.O
primeirosedespediudosco-
legasnogrupodeWhatsApp
e recebeuelogiosnapartida.
Moro apenas saiu do grupo.
partilha Emcarta ao presi-
dente do Senado, Davi Alco-
lumbre (DEM-AP), a associ-
ação de secretários de finan-
çasdascapitaispedequeocri-
tério para a divisão da verba
que o governo federal repas-
saráaestadosemunicípiosse-
ja o de recomposição de per-
das de arrecadação. Isso da-
ria àsgrandescidadesvanta-
gemsobreasmenores—que,
porsuavez,têmmenoscasos
deCovid-19.
Camila Mattoso
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R$ 1.177
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R$ 1.460
GRUPO FOLHA
brasília Após a saída de Ser-
gioMorodogovernosobaale-
gaçãode interferênciapolíti-
canaPolíciaFederal,anome-
açãodonovodiretor-geralda
corporação pelo presidente
Jair Bolsonaro virou alvo de
umasériedeaçõesnaJustiça
ederesistêncianoCongresso.
BolsonarooficializounoDi-
árioOficialdestaterça(29)os
nomesdoadvogadoAndréde
AlmeidaMendonça, 47, para
substituirMoronoMinistério
da Justiça e do delegadoAle-
xandre Ramagem, 48, para a
vaga de Maurício Valeixo na
Diretoria-Geral da PF.
“Terrivelmente evangéli-
co” nas palavras de Bolsona-
ro,Mendonça já era chefeda
AGU(AdvocaciaGeraldaUni-ão)econsideradopelopresi-
dente, para atender sua ba-
se religiosa, como um possí-
vel nomea ser indicadopara
uma vaga no STF (Supremo
Tribunal Federal).
A nomeação foi elogiada
pelo presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), ad-
versário de Bolsonaro, para
quemMendonça “é um qua-
dropreparadoeequilibrado”.
Já a indicação de Rama-
gem,amigodoclãBolsonaro
que era diretor-geral daAbin
(Agência Brasileira de Inteli-
gência),motivouumaofensi-
va judicial para barrá-la, ten-
do em vista os interesses da
famíliaedealiadoseminves-
tigações daPolícia Federal.
O plano de troca da chefia
daPFfoiestopimdasaídade
Moro.Oex-ministrodisseque
Bolsonaroqueriaterumapes-
soadocontatopessoaldeleno
comandodacorporaçãopara
poder“colherinformações”e
“relatórios” diretamente.
Nesta terça, Bolsonarodis-
se que a investigação da PF
sobre a facada que ele levou
durante a campanha eleito-
ral em 2018 foi “negligencia-
da” e será reaberta. A decla-
ração foi dada por Bolsona-
ro a apoiadores na frente do
Palácio daAlvorada.
“Vai ser reaberta a investi-
gação. Vai fazer a investiga-
ção.Foinegligenciado”,disse.
Nomomento,aindaháuma
apuração da PF sobre a faca-
da.Ainvestigação,quebusca
eventuais mandantes, com-
parsas ou financiadores do
atentado,atéomomentodes-
cartou essa hipótese.
Noprimeiroinquéritosobre
oepisódio,aPFconcluiuque
AdélioBispo,autordafacada,
agiusozinhoesofredetrans-
tornosmentais.Elefoidecla-
rado inimputável.
DiantedanomeaçãodeRa-
magem,partidosemovimen-
tos políticos entraram com
açõesjudiciaisparatentarim-
pediraposse,marcadaparaas
15hdestaquarta(29).Elesale-
gam“abusodepoder”e“des-
viodefinalidade”naescolha.
No fim da tarde desta ter-
ça, havia ao menos seis pro-
cessos pedindo a suspensão
da nomeação, alegando que
Bolsonaro praticou “apare-
lhamento particular” ao in-
dicá-lo para a função.
A base dos pedidos é a de-
núncia deMoroalegando in-
terferência do presidente da
RepúblicanaPolíciaFederal.
RodrigoMais disse queRa-
magem terá “dificuldade na
corporação, na forma como
ficoupolêmica a sua nomea-
ção”. “A gente sabe que a Po-
lícia Federal é uma corpora-
ção muito unida, que traba-
lhade formamuito indepen-
dente.Qualquertipodeinter-
ferênciaésemprerechaçado.
A gente viu emoutros gover-
nos.Maseunãoconheço[Ra-
magem]”,disseaoapresenta-
dorJoséLuizDatena,daBand.
Ramagemseaproximouda
família Bolsonaro durante a
campanha de 2018, quando
comandou a segurança do
então candidato a presiden-
te depois da facada.
O vereador Carlos Bolso-
naro (Republicanos) esteve
à frentedadecisãoque levou
Ramagem ao comando da
Abin. No sábado (25), a Fo-
lhamostrouqueumaapura-
çãocomandadapeloSTF,com
participaçãodeequipesdaPF,
temindíciosdeenvolvimento
deCarlosemumesquemade
disseminaçãode fakenews.
Na noite de segunda (27),
Bolsonaro disse não haver
esquema de notícias falsas.
“MeuDeusdocéu.Issoéliber-
dadedeexpressão.Vocêsde-
veriamserosprimeirosa ser
contra a CPI das Fake News.
O tempo todo o objetivo da
CPI émedesgastar”.
OPDTentroucomumman-
dadodesegurançanoSTFale-
gando “abuso de poder por
desvio de finalidade” com a
nomeação do delegado para
aPF.Orelatorseráoministro
AlexandredeMoraes.
Umoutrocasorelatadopor
Moraesestáentreosmotivos
que levaram à demissão do
antigodiretor geral Valeixo.
NomeaçãodeBolsonaro
paraPFgeraações judiciais
e resistêncianoCongresso
Pedidos na Justiça questionam indicação de amigo da família
presidencial; inquérito sobre facada será reaberto, diz presidente
Jair Bolsonaro exibe alvo em estande de tiro em vídeo publicado namanhã desta terça Jair Bolsonaro no Facebook
“
A gente sabe
que a Polícia
Federal é
uma corpo-
raçãomuito
unida, que
trabalha de
formamuito
independen-
te. Qualquer
tipo de
interferência
é sempre
rechaçado.
A gente viu
emoutros
governos
RodrigoMaia
presidente da
Câmara, sobre
a nomeação de
Alexandre
Ramagem
Em trocas de mensagens
apresentadaporMoro,Bolso-
naro pede a troca de coman-
donaPFcombaseemumain-
formaçãodequeacorporação
estaria investigandodeputa-
dosbolsonaristas.Emrespos-
ta, Moro diz que a investiga-
çãoéconduzidaporMoraes.
A Rede Sustentabilidade
também entrou no STF con-
tra a nomeação. Apresentou
ADPF (Ação de Descumpri-
mentodePreceitoFundamen-
tal) afirmando que conversa
poraplicativoentreBolsonaro
eMoro“demonstradeforma
inequívoca a vontade de in-
terferênciaeminvestigações”.
ParaosenadorRandolfeRo-
drigues(AP), líderdasiglano
Senado,apesardepreencher
osrequisitosestritamentele-
gais,anomeaçãoé“umaten-
tativadeBolsonarocontrolar
eabafar investigaçõesdains-
tituiçãoqueenvolvemseusfa-
miliares e conhecidos”.
Randolfe, ao lado do sena-
dor Fabiano Contarato (ES),
é autor de outra ação no Ju-
diciário. Os parlamentares
pedirampara que fosse anu-
lada a exoneração de Valei-
xo e suspensas novas nome-
ações. A ofensiva, porém, foi
rejeitadapelo juizEdLeal,da
22ª Vara Federal Cível do DF.
Os advogados da Rede avisa-
ramque irão recorrer.
O PSOL, através do depu-
tado federal Marcelo Freixo
(RJ), entrou com ação, mas
preferiu contestar a nomea-
ção à primeira instância da
Justiça. “Não permitiremos
queopresidente transforme
a PF numa polícia política a
serviçoda família”, afirmou.
AdeputadaTabataAmaral
(PDT-SP)ingressoucomação
naJustiçaFederalemBrasília
pedindo para que Ramagem
seja proibidode assumir.
O coordenador do Movi-
mentoBrasilLivre(MBL),Ru-
binhoNunes,confirmouque
ogrupopolítico tambémen-
troucomaçãocontraaposse.
ReservadamenteàFolha in-
tegrantesdoSTFavaliamque
nãoháimpedimentoparaRa-
magemassumirocargomes-
mo tendo ligações com o clã
Bolsonaro.Osministrosouvi-
doslembram,noentanto,que
ohistóricorecentedoSupre-
modemonstraqueocenário
políticoé levadoemconside-
ração emdecisões do tipo.
Renato Onofre, Matheus
Teixeira, Gustavo Uribe e
Danielle Brant
a eee QUARTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2020 A5
Especialista brasileiro destaca que China é referência no
combate à COVID-19
Pessoas compram comida emWuhan, capital da Província de Hubei, centro da China, em 16 de abril de 2020. A vida emWuhan está
gradualmente voltando ao normal quando a epidemia de coronavírus diminui. (Xinhua/Shen Bohan)
Um homem recebe verificação de código de saúde emedição de temperatura corporal na entrada de um supermercado em Suifenhe,
Província de Heilongjiang, nordeste da China, em 17 de abril de 2020. (Xinhua/Zhang Tao)
INFORMEPUBLICITÁRIO
A China se tornou um exemplo e uma
referência na luta contra a doença do novo
coronavírus (COVID-19), segundo explicou o
especialista brasileiro, Evandro Menezes de
Carvalho.
Menezes de Carvalho, coordenador do
Núcleo de Estudos Brasil-China da Faculdade
de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV),
lembrou que aCOVID-19 “tem sido considerada
por diversas autoridades internacionais um dos
maiores desafios para as nações desde o fim da
Segunda Guerra Mundial. Esta epidemia tem
sido considerada pelo governo chinês como a
maior e mais difícil emergência de saúde pública
do país desde a fundação da República Popular
da China em 1949.”
“É por isto que o governo chinês considera
o combate à COVID-19 um grande teste para
o sistema chinês e a capacidade de governança
de um país com quase 1,4 bilhão de pessoas. E
talvez o combate à COVID-19 seja um grande
teste para todos os sistemas políticos de todos
os países”, comentou.
Como um bom conhecedor da China,
Menezes enfatizou que o país “tem se tornado
uma referência e um aliado na luta contra a
COVID-19” por ter sido o primeiro país a sofrer
comovírus,eenfatizouqueopaís “temmostrado
capacidade para tomar medidas rápidas e
eficazes” que separou em três categorias.
A China, ao implementar quarentena estrita
na cidade de Wuhan, em 23 de janeiro deste
ano, além de em outras cidades do entorno,
e outras medidas restritivas com maior ou
menor restrição quanto ao isolamento social em
demais regiões do país, preveniu 700 mil casos
de infecção pelo novo coronavírus até fevereiro,
segundo o ministro-conselheiro da Embaixada
da China no Brasil, Qu Yuhui.
O diplomata destacou o esforço, a
responsabilidade e o sacrifício da população
chinesa para controlar a doença no país. Eledestacou que ainda não há o que celebrar, e não
haverá o fim da epidemia até que o último país
vença a doença, independentemente de quantos
“A primeira, as medidas de contenção
da propagação do vírus visando estancar o
aumento dos casos de infecção ao isolar a cidade
de Wuhan com mais de 10 milhões de pessoas”,
e também “determinar que todas as regiões de
nível provincial cancelassem eventos em massa,
suspendessem as viagens de ônibus de longa
distância e fechassem pontos turísticos”.
A segunda medida que detalhou foi “as
medidas para atendimento médico em grande
escala, ao construir hospitais em um curto
espaço de tempo e enviar para Hubei equipes
médicas oriundas de várias partes do país”.
A terceira foi “a responsabilidade ao
substituir os chefes do Partido na Província
de Hubei e na cidade de Wuhan e demitir
funcionários locais, que foram relapsos no
exercício de suas atribuições e na identificação
e controle do vírus”.
O especialista brasileiro destacou que “a
China também atuou no plano internacional
para evitar a propagação do vírus” e que “como
membro da Organização Mundial da Saúde
(OMS), abriu um canal de diálogo com o diretor-
geral desta organização para discutir as ações
necessárias para a gestão global no combate à
epidemia além de ter doado àOMS”.
Ademais, destacou que “a ação chinesa
também se deu no plano das relações bilaterais.
O país forneceu suprimentos médicos e kits de
testes para identificação do vírus para a Itália,
a República da Coreia e o Japão. Além disso,
a China enviou especialistas para o Irã, Iraque
e Itália para colaborar com os esforços de
contenção da epidemia.”
Para Menezes, “algumas das lições
aprendidas pela China foram transformadas em
medidas jurídicas visando evitar o surgimento
de uma nova epidemia e sobretudo aprimorar o
sistema de saúde pública”, proibindo e punindo
“o comércio ilegal de animais silvestres com o
intuito de prevenir os riscos à saúde pública”.
Segundo ele, a experiência chinesa mostrou
que no combate à epidemia é preciso ter
“eficiência nas medidas de contenção do vírus,
transparência nas informações e no processo de
tomada de decisão dos governos e solidariedade
entre as pessoas e entre os povos envolvidos”.
“Estas três dimensões são importantes para
pensarmos os desafios dos sistemas políticos e
de governança no plano doméstico e a ação dos
Estados nas organizações internacionais para
lidar com situações de emergência”, destacou.
Menezes alertou que “todos os países
parecem ter demonstrado ao menos uma falha
em uma destas dimensões no trato do combate
ao vírus, cujas consequências têm sido fatais:
na eficiência das medidas de contenção do
vírus, na transparência das informações e no
processo de tomada de decisão dos governos
e na solidariedade entre as pessoas e entre os
povos envolvidos”.
O especialista criticou que “os líderes
ineficientes são um desastre para qualquer
sistema político. E se torna ainda pior quando
ignoram ou fazem pouco caso da ciência. A
política nunca terá êxito contra a verdade
científica.”
Segundo ele, “o mundo provavelmente não
será o mesmo após a epidemia, e talvez outras
lições poderão ser tiradas desta dolorosa
experiência mundial”, dentre as quais citou que
“os Estados serão forçados a discutirem suas
políticas econômicas em razão das pressões
sociais internas com os defensores do ‘Estado
mínimo’ perdendo espaço e os defensores de
um socialismo adaptado às circunstâncias atuais
ganhandomais voz”.
Também previu que “a ciência e a tecnologia
assumirão uma importância capital para a
promoção do bem-estar social e para a garantia
da boa governança” e que “a agenda em defesa
de padrões de desenvolvimento sustentáveis
e que respeite o meio ambiente ganhará novo
ímpeto”.
Além disso, “a ordem internacional poderá
sofrer mudanças substantivas diante da
necessidade de se reformar urgentemente as
organizações internacionais e fortalecer o papel
do multilateralismo, e países como a China
poderão ter um papel ainda maior no sistema
internacional”.
Quarentena na China preveniu 700mil casos de coronavírus
até fevereiro
COVID-19 conciliamedicina tradicional chinesa emedicina ocidental
países adotem medidas adequadas ou não.
Segundo ele, ainda não é tempo para relaxar.
Para o ministro-conselheiro, China e Brasil
têm muito a cooperar, e a tarefa primordial
no momento é o combate à COVID-19,
mas a concertação em relação a políticas
macroeconômicas e em áreas de comércio e
investimento são fundamentais, especialmente
no período posterior à pandemia. “Nossas
economias são muito complementares,
temos necessidades cotidianas e estratégicas
para fomentar a cooperação. É importante
acrescentar tijolos a esta construção, em vez
de retirar os alicerces deste edifício, ou mesmo
danificá-lo”, comparouQu.
“Respeitamos muito a política externa do
Brasil, que temsidosemprevoltadaaoequilíbrio,
à diversidade e à independência, e esperamos
que isso continue. Vamos sempre tratar o Brasil
como parceiro estratégico e um país amigo”,
afirmou o diplomata.
ATAQUES RACISTAS PREOCUPAM
Ataques racistas que têm a China ou os
chineses como alvos preocupam, diz o ministro-
conselheiro. Segundo ele, ainda que o primeiro
surto do novo coronavírus tenha sido registrado
na China, a origem do vírus ainda é pesquisada.
Para além disso, lembra o diplomata, tanto a
comunidade internacionalquantoaOrganização
Mundial da Saúde (OMS) se opõem à associação
de um vírus a determinado país ou região, a fim
de evitar politização ou estigmatização.
No Brasil, afirma Qu, ainda que haja ataques
xenófobos dirigidos à China, especialmente
nas redes sociais, ele acredita que esta opinião
não representa a maioria da população
brasileira. Sobre declarações racistas vindas de
integrantes do governo e da política, como caso
do ministro da Educação brasileiro, Abraham
Weintraub, o diplomata acredita que esta não é
hora de declarações irresponsáveis, mas que o
relacionamento sino-brasileiro é de longo prazo,
construído há gerações e hoje sólido emaduro.
“Não sóagora,masno futuro, a parceria sino-
brasileira continuará importante para ambos
os países. Lamentamos muito que pessoas não
queiram cooperar neste contexto atual. Nós
não vamos deixar de trabalhar, e preservaremos
as conquistas já alcançadas, além de contra-
atacarmos as teorias da conspiração”, disse Qu
em relação à postura chinesa.
Oministro-conselheiro lembrou que a China
respeita o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro,
que conversou por telefone há três semanas
com o presidente chinês, Xi Jinping. Segundo
ele, houve concordância em diversos aspectos,
inclusive em realizar esforços conjuntos no
combate à COVID-19. “Acreditamos que esta é
a posição oficial do governo brasileiro”, afirmou
Qu.
AJUDACHINESANOEXTERIOR
Qudestacaquetodosospaísesdevemseunir
numabatalha a um inimigo comum, aCOVID-19.
Nestemomento, informao diplomata, o governo
chinês está prestando auxílio a 127 países e a
quatro organizações internacionais, doando
ou vendendo equipamentos de proteção
pessoal, kits para testes e equipamentos, como
respiradores.
Hoje, informou o diplomata, 70 nações e
entidades negociam a compra de suprimentos
hospitalares com a China. Quando se pensa
em respiradores, a China é responsável pela
produção de um a cada cinco deste tipo de
equipamento no mundo. Os respiradores mais
sofisticados, conhecidos como invasivos, são
produzidos por apenas 21 companhias na China
que, em média, podem fazer mil aparelhos
por mês, cada. No entanto, estas dependem
de peças vindas do exterior, especialmente da
União Europeia que, assim comoos EUA, proibiu
exportações destes equipamentos e de seus
suprimentos.
“Há um problema nas cadeias globais de
valor, no suprimento de insumos. O governo
chinês tem apoiado o desenvolvimento de peças
nacionais para utilização nos respiradores, mas
leva tempo. Além disso, a mão de obra utilizada
para constituir estes respiradores também é
especializada, e não há muitos profissionais
capacitados”, explicou Qu, que afirmou que
as encomendas de novos respiradores estão
sendo recebidas paraentrega apenas em
outubro. Ele garantiu que não há preferência
por compradores, e que os negócios são feitos
diretamente com empresas privadas. O governo
chinês, no entanto, oferece uma listagem de
fornecedores que, além de serem idôneos,
obedecem a padrões de diferentes países na
fabricação dos equipamentos. A Embaixada
no Brasil está auxiliando tanto o Ministério da
Saúde quanto os governos estaduais do Brasil
em relação a fornecedores e distribuidores
idôneos e pode auxiliar em alguns casos em que
surjam entraves burocráticos em temas como
logística e transporte.
Até agora, muitas equipes médicas chinesas
já viajaram a diversos países para prestar
aconselhamento a médicos locais. Por meio de
videoconferência, os profissionais de saúde
chineses se reuniram com seus colegas de 150
países ou organizações internacionais, incluindo
o Brasil. O país sul-americano também recebeu
doaçõesou irá receber suprimentoshospitalares
de empresas chinesas. Há 10 províncias ou
municípios da China que já enviaram ou estão
preparando doações para seus estados ou
municípios brasileiros irmãos.
AEXPERIÊNCIA CHINESACOMA
QUARENTENA
“Estamos perante uma doença muito
perigosa e desconhecida. Talvez só conheçamos
10% sobre a COVID-19, e nesta circunstância,
cuidado nunca é demais”, disse Qu. Segundo
ele, a quarentena iniciada em Wuhan garantiu
que a China e o mundo ganhasse tempo
para estudar a pandemia, tornando-a uma
ferramenta essencial. “Nossa lição é de que é
possível compatibilizar o controle da doença e
o desenvolvimento socioeconômico”, acredita o
ministro-conselheiro.
Para ele, o governo tem um papel
imprescindível no processo, garantindomedidas
abrangentes e sistemáticas que garantam
implementação de controle da doença e giro da
economia. Da população, é preciso “respeito e
um maior senso de disciplina. Não adianta que
90% da população faça quarentena, se 10%
não fizer, anula os esforços dos demais”, diz o
diplomata.
Ele destacou que a China ainda está
cautelosa em relação a medicamentos para a
cura da COVID-19, e o único consenso é de que
não há um único medicamento que tenha sido
comprovado seguro ou eficiente. Em relação a
O uso conjunto da medicina tradicional
chinesa (MTC) e da medicina ocidental tornou-
se um destaque durante a batalha da China
contra a COVID-19.
Segundo os médicos chineses, uma troca
aberta de conhecimentos e ideias entre aMTC e
amedicina ocidental pode ser benéfica, pois não
foram encontrados remédios específicos para
curar a doença.
“Nunca pensei que a MTC precisava
demonstrar sua sabedoria ao fazer uma
reivindicação exclusiva para curar a COVID-19”,
disse Liu Qingquan, presidente do Hospital da
Medicina Tradicional Chinesa de Beijing e chefe
do primeiro hospital temporário totalmente
apoiado por médicos e trabalhadores médicos
daMTC emWuhan.
Tanto os médicos na medicina ocidental
quanto os naMTCmonitoramos sinais vitais dos
pacientes.
No hospital administrado por Liu, todos os
pacientes fizeram exames como tomografia
computadorizada, hemograma e esfregaços na
garganta.
Os testes de diagnóstico podem ajudar no
diagnóstico e seria ótimo se alguns compostos
químicos pudessem atingir com precisão o
patógeno, disse Liu.
Mas sem uma cura certa, aMTC e amedicina
ocidental precisam trabalhar juntos.
Para a prevenção e casos leves, médicos
de todo o mundo afirmam que a imunidade é a
melhor proteção contra o novo coronavírus.
Fortalecer o sistema imunológico ou
restaurar o equilíbrio interno para afastar o
vírus é a teoria daMTC para lidar com a doença.
A medicina ocidental é mais centrada em
doenças e sintomas, enquanto aMTC tende a ser
mais centrada no paciente. As condições gerais
de um paciente, do nível microscópico à visão
holística, são levadas em consideração.
A combinação da MTC com a medicina
ocidental deu ao hospital de Liu três “zeros”:
zero paciente apresentou resultado positivo
novamente após receber alta; zero caso leve se
tornou grave ou crítico; e zero equipe hospitalar
infectada. Estes foram significativos em conter a
disseminação da doença.
Para casos graves e críticos, o uso de
tratamentos ocidentais de apoio, como
ventiladores e máquinas de ECMO (oxigenação
por membrana extracorpórea), que assumem
o trabalho dos pulmões, é muito importante,
aliviando os sintomas e prevenindo eventos
adversos, afirmou Liu.
A MTC também foi provada desempenhar
um papel complementar na terapia intensiva.
Por exemplo, foi descoberto que uma injeção
da MTC chamada Xuebiqing é eficaz contra a
tempestade de citocinas, uma reação exagerada
do sistema imunológico que é causa da morte
dos pacientes grave e criticamente doentes com
COVID-19, de acordo com Liu.
“Afinal, o objetivo de qualquer medicina,
ocidental ou MTC, é ajudar as pessoas a se
recuperarem da doença”, disse Liu.
vacinas, EUA e China lideram pesquisas na área.
“A China já começou a fazer testes em seres
humanos há três semanas, mas não se sabe
quando vai estar pronta. Leva de um ano a um
ano e meio para que uma vacina seja lançada no
mercado. Além de esforços nacionais, há muitos
esforços de pesquisa conjunta nesta área,
incluindo China e EUA”, contou o diplomata.
a eee
poder
A6 QUARTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2020
Quemsãoosnovos titularesda JustiçaedaPF
Mendonça substitui Moro com aval da ala militar, e Ramagem tem apoio do clã presidencial para vaga de Valeixo
Chefe da PF dirigiu Abin
e é homemde confiança
do presidente e dos filhos
-Gustavo Uribe e
Italo Nogueira
brasíliaeriodejaneiro Opre-
sidente JairBolsonaro (sem
partido)nomeou,nesta ter-
ça-feira(28),odelegadoAle-
xandreRamagem,48,parao
comandodaPolíciaFederal.
A troca na direção-geral da
PF foi o estopim para o pe-
dido de demissão de Sergio
MorodoMinistériodaJusti-
ça, na semanapassada.
Deacordocomoagoraex-
ministro, Bolsonaro queria
trocar o diretor-geral da PF
para ter acesso a informa-
ções e relatórios confiden-
ciais de inteligência.
Nosábado(25),aFolhadi-
vulgouque,eminquéritosi-
giloso conduzido pelo STF
(Supremo Tribunal Fede-
ral), a PF identificouo vere-
ador Carlos Bolsonaro (Re-
publicanos), filho do presi-
dente, comoumdosarticu-
ladoresdeumesquemacri-
minosode fakenews.
Ramagem era diretor-ge-
ral da Abin (Agência Brasi-
leirade Inteligência) e ého-
memdeconfiançadopresi-
dente ede seusfilhos.Dele-
gadodecarreiradaPF,elese
aproximoudafamíliaBolso-
naro na campanha de 2018,
quando comandou a segu-
rançado então candidato.
CarlosBolsonaroéumdos
seusprincipaisfiadoresees-
tevediretamenteàfrenteda
decisão que o levou ao co-
mando da agência de inte-
ligência em junhopassado.
Oavaldo“filho02”foicon-
quistadoduranteacrisepo-
líticaquelevouàsaídadoen-
tão ministro da Secretaria
de Governo, general Carlos
Santos Cruz. Ramagem era
assessor especial da pasta
e se manteve fiel à família.
Santos Cruz caiu após ata-
ques do “gabinete do ódio”
comandadoporCarlos.
Nestedomingo(26),opre-
sidenterespondeuaumase-
guidoranasredessociaisque
questionouarelaçãodeami-
zadedeRamagemcomosfi-
lhos.“Edaí?Antesdeconhe-
cer meus filhos eu conheci
o Ramagem. Por isso, deve
ser vetado? Devo escolher
alguémamigodequem?”
Delegado da PF desde
2005,Ramagemcomandou,
de 2013 a 2014, a Divisão de
AdministraçãodeRecursos
Humanos e a de Estudos,
Legislações e Pareceres, de
2016 a 2017. Atuou na coor-
denaçãodegrandeseventos
nopaísnosúltimosanos,co-
moaConferênciadasNações
Unidas Rio+20 (2012), a Co-
padasConfederações(2013),
a CopadoMundo (2014) e a
OlimpíadadoRio (2016).
Em2017, integrouaequipe
Agoraministro, pastor
e ex-AGU se fortalece
para vaga no Supremo
-Gustavo Uribe
brasília O substituto de Ser-
gioMoronoMinistériodaJus-
tiça e Segurança Pública dei-
xa aAdvocacia-Geral daUni-
ão para ocupar a vaga. An-
dréMendonça, que também
é pastor da Igreja Presbite-
riana Esperança de Brasília,
integrava a AGU desde 2000,
quandoencerrousuaativida-
decomoadvogadoconcursa-
dodaPetrobras (1997-2000).
Em outubro de 2002 o ad-
vogado publicou no jornal
Folha de Londrina um arti-
go sobre a eleição do ex-pre-
sidente Lula (PT).
Intitulado “O povo se dá
umaoportunidade”, o texto
temtomotimista.Nele,Men-
donça afirma que “o Brasil
cresceueseupovoamadure-
ceu, restando consolidada a
democracia não só porque o
novopresidentefoieleitope-
lo povo, mas porque saiu do
próprio povo”.
“Fato inéditonoBrasil.Um
país, até então, governado
por reis, por presidentes es-
colhidosemgabinetesouain-
daquandoeleitos, lideranças
formadasnascamadassociais
maisprivilegiadas,semexpe-
riência vivencial com a reali-
dadedosmilhõesdebrasilei-
rosmiseráveisemarginaliza-
dos (...),pelospróximosqua-
tro anos será governado por
um líder popular”, escreveu.
Horasdepoisdesuanome-
açãotersidopublicada,Men-
donçafezumapublicaçãonas
redessociaisemacenoaopre-
sidente.
“AgradeçoaopresidenteJair
Bolsonaroporconfiaramim
amissãodeconduziraspolíti-
caspúblicasdeJustiçaeSegu-
rançadonossopaís”,escreveu.
O novoministro da Justiça
afirmouqueseucompromis-
so“écontinuardesenvolven-
dootrabalhotécnicoquetem
pautadominha vida”.
Evangélico, disse contar
com o apoio do povo brasi-
leiroeencerroupedindo“que
Deusnos abençoe”.
Mendonçafoicorregedorda
AGUnagestãodeFabioMedi-
naOsório,nogovernoMichel
Temer. Ele chegou ao gover-
no Bolsonaro por indicação
doministrodaCGU(Contro-
ladoriaGeraldaUnião),Wag-
ner Rosário, com o apoio da
bancada evangélica.
A sua transferência para a
Justiça teve o apoio da cúpu-
la militar e a articulação do
presidentedoSTF(Supremo
Tribunal Federal), José Dias
Toffoli. A expectativa agora
éadequeelemelhorea rela-
ção de Bolsonaro com o Po-
der Judiciário.
AtransferênciadeMendon-
çafortaleceaindicaçãodeseu
nomepara umadas duas va-
Alexandre Ramagem (camisa xadrez) em festa de Réveillon
comCarlos Bolsonaro e amigos Carlos Bolsonaro no Instagram
AndréMendonça abraça Bolsonaro na posse deNelson Teich
noMinistério da Saúde Pedro Ladeira - 17.abr.20/Folhapress
gas a que Bolsonaro terá di-
reito de preencher no STF. O
presidente já disse que con-
sidera oministro, a quem se
referiu como “terrivelmente
evangélico”,aumdospostos.
Aindicaçãoatenderiaaum
apelodabancadaevangélica,
que pediu ao presidente que
umrepresentantedeles ocu-
peumcargonoSupremo,na
tentativadetornaroperfilda
cortemais conservador.
Pelocritériodeaposentado-
ria compulsória aos 75 anos,
aspróximasvagasserãoasde
CelsodeMello,emnovembro,
eMarcoAurélioMello,emju-
lhode2021.Opresidenteindi-
caonome,quedeveserapro-
vadoemseguidapeloSenado.
MendonçaconheceuBolso-
naro em 21 de novembro de
2018, no dia emque foi esco-
lhidoparacomandaraAGU.A
conversa,nogabinetedatran-
siçãonoCCBB(CentroCultu-
ral BancodoBrasil) deBrasí-
lia,duroucercade40minutos.
O então presidente eleito
nada perguntou. Os questio-
namentosficaramacargodo
generalAugustoHeleno,que
assumiriaoGSI(Gabinetede
SegurançaInstitucional),ede
Jorge Oliveira, hoje ministro
da Secretaria-Geral da Presi-
dência—responsávelporana-
lisarocurrículodeMendonça
e apresentá-lo ao chefe.
Mendonça costuma dizer
que “mais do que falar, você
precisa ouvir para entender
a realidade”. Naquele dia, no
entanto,ele fezum“bomjoc-
key”,disseBolsonaro,paraem
seguidaexplicar: “Naáreami-
litar,quandoumcaraestá in-
do bem, a gente diz que es-
tá em um bom jockey. Pode
continuar!”.
Mendonça fez na ocasião
uma análise política da elei-
çãodeBolsonaroe seu signi-
ficadoparaosrumosdopaís.
O futuro AGUdisse ao pre-
sidente eleito que, como ele
havia sepropostoagovernar
nacontramãodopresidenci-
alismo de coalizão, constru-
indoumanova formadediá-
logoerelacionamentocomo
Congresso,enfrentariaumpe-
ríododemaiorresistênciada
chamadapolíticatradicional.
Com a nomeação de Men-
donça,atendênciaéqueBol-
sonarofaçaumacisãonoMi-
nistério da Justiça e recrie a
pasta da SegurançaPública.
Nesse caso, a expectativa
de assessores do presidente
équeelenomeieosecretário
de segurança pública doDis-
trito Federal, Anderson Oli-
veira, para a função. Ander-
soncontacomoapoiodoex-
deputadofederalAlbertoFra-
ga (DEM-DF), amigodoprte-
sidenteBolsonaro.
responsávelpelainvestigação
e inteligência de polícia judi-
ciárianaOperaçãoLava Jato.
Emumadasaçõesquecoman-
dou,aOperaçãoCadeiaVelha,
ocorreuaprisãodeintegran-
tes da cúpula da Assembleia
LegislativadoRiode Janeiro.
Em 2018, antes de atuar na
segurançadeBolsonaro,assu-
miuaCoordenaçãodeRecur-
sosHumanosdaPF,nacondi-
çãodesubstituto.Emjaneiro
de2019, foiparaSecretariade
Governoe,de lá,paraaAbin.
FoiRamagemquemcoman-
dou a operação cujo desdo-
bramentoproduziuoprimei-
ro relatório sobre Fabrício
Queiroz,suspeitodeseroope-
radorda“rachadinha”noan-
tigogabinetedeFlávioBolso-
naronaAssembleia doRio.
Ramagem foi o responsá-
vel na PF pela Operação Ca-
deia Velha, que prendeu em
novembrode2017 trêsdepu-
tadosestaduaisdacúpulado
MDB-RJ(JorgePicciani,Paulo
MeloeEdsonAlbertassi).Na
ocasião,odelegadoeraores-
ponsávelporcoordenarotra-
balhodaPFjuntoaoTribunal
RegionalFederalda2ªRegião,
no Rio—foro no qual os de-
putados foram investigados.
Asegundafasedessainvesti-
gaçãofoiaFurnadaOnça,cu-
jo iníciocontoucomorelató-
riofederalquecitavaasmovi-
mentaçõessuspeitasdeR$1,2
milhão de Queiroz e outros
74 assessores dedeputados.
RamagemnãoatuounaFur-
na daOnçana PF e encerrou
seu relatório sobre a Cadeia
Velha em dezembro de 2017.
O relatório federal de inteli-
gênciafinanceiraqueindicou
amovimentação de Queiroz
foi produzido e enviado aos
órgãosdeinvestigaçãoemja-
neiro de 2018.
O novo diretor-geral da PF
foiemabrilparaaDireçãode
GestãodePessoal,emBrasília.
APFnãoquis informarquan-
doeledeixoudeatuarnoTRF-
2.Segundorelatosouvidospe-
laFolha, elenãotevecontato
formalcomoconteúdodain-
vestigaçãodaFurnadaOnça.
Nodia29deoutubro,Rama-
gem assumiu a coordenação
de segurançadeBolsonaro.
JáQueiroz foidemitidoem
15deoutubro, duas semanas
antes de o delegado ser inte-
grado à campanha de Bolso-
naro.Amigodopresidentehá
34 anos, o ex-assessor foi de-
mitido emmeio ao segundo
turnodadisputapresidencial.
O senador Flávio Bolsona-
ro afirmouqueoex-assessor
foi exonerado do cargo após
11anosdeserviçoparacuidar
desuaaposentadorianaPolí-
ciaMilitar, que foi obtida em
novembrode 2018.
a eee QUARTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2020 A7
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A8 QUARTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2020
-CamilaMattoso
brasília Emsuadespedidado
Ministério da Justiça, Sergio
Moro mencionou que, além
dodiretor-geral,opresidente
Jair Bolsonaro também que-
ria trocar os superintenden-
tes da Polícia Federal no Rio
de Janeiro—estepelasegun-
da vez—eemPernambuco.
Oex-juiznãoexpôsquaisse-
riamosmotivosdo interesse
do presidente, mas afirmou
que não lhe foram apresen-
tadas razões ou causas acei-
táveis para as substituições.
Apreocupaçãocominvesti-
gaçõessobresuafamília,des-
conhecimento sobreproces-
sos,síndromedeperseguição,
inimigospolíticosefakenews
sãoalgunsdosprincipaispon-
toselencadosporpessoasou-
vidas pela Folha para tentar
desvendar o que há no Rio e
emPernambuco.
*
Reduto político
Capitão reformado do Exér-
citoedefensordepautasdas
forçasdesegurança,Bolsona-
ro sempre manteve contato
comagentesedelegadosdas
polícias.OfilhoEduardovirou
escrivãodaPF,oquetambém
estreitou laços. NoRio, onde
a família mora, a aproxima-
ção foi aindamaior.
A candidatura presidenci-
al levou ao auge das relações
principalmentecomintegran-
tesdaPolíciaFederal,quefazi-
amsuasegurança—aequipe
chegouasercoordenadapor
Alexandre Ramagem, nome-
adonovodiretor-geral da PF.
Segundorelatos,bastidores
da Superintendência no Rio
e intrigas entregrupos pas-
saramachegar rapidamente
a Bolsonaro desde a campa-
nha. Depois, as relações fo-
rammantidas, e os assuntos
viraram mais importantes,
principalmenteapósvirà to-
naa investigaçãodeseufilho
Flávio, senador pelo estado.
A presença ou ausência do
chefedaPFnoedifíciodoór-
gão eramotivodeperguntas
por parte do presidente, por
exemplo.Funçõesdedelaga-
dosespecíficostambémvira-
vamalvode reclamações.
‘Rachadinha’ e Queiroz
AapuraçãonogabinetedeFlá-
vioBolsonaronaAssembleia
Legislativa do Rio começou
apósumrelatórioapontarmo-
vimentação de R$ 1,2milhão
nacontadoex-assessorFabrí-
cioQueiroz,entre2016e2017.
Queiroz é PM aposentado e
antigo amigodeBolsonaro.
AsuspeitadoMPdoRioéa
dequeodinheiro seja deum
esquema de “rachadinha”. O
caso não está com a PF, mas
oórgãotocavaàépoca inves-
tigaçõesenvolvendopersona-
gens em comum. Aliados do
presidente divulgaram, vári-
as vezes, que apolícia possui
informaçõessobreoassunto.
Flávio é investigado desde
janeiro de 2018 sob a suspei-
ta de recolher parte do salá-
riodeseusempregadosnaAs-
sembleia de 2007 a 2018.
Fabrício Queiroz afirmou
que recebia valores dos cole-
gasdegabineteequeusavao
dinheiro para remunerar as-
sessores informaisdeFlávio,
semconhecimentodoentão
deputado.Suadefesa,contu-
do,nuncaapontouosbenefi-
ciários finais dos valores.
Queirozeraamigodoex-po-
licialmilitaremilicianoAdri-
anodaNóbrega,chamadode
heróiporJairBolsonaro.Adri-
anoestavaforagidoefoimor-
to emfevereiroemumaope-
raçãopolicial naBahia.
De2007atéFláviosemudar
para o Senado, Adriano teve
parentes nomeados no anti-
go gabinetenaAssembleia.
Entendaosmotivosdaobsessão
dopresidentepelaPFnoRJ e emPE
Família e adversários estão envolvidos em investigações; Moro citou os 2 estados em acusação -JoséMarques
sãopaulo Comoargumen-
todereduzirodesgastedo
governo, delegadosdaPo-
lícia Federal reivindicam
ao presidente Jair Bolso-
naro que adote uma ban-
deira que foi ignoradapor
seusantecessoresedefen-
didapeloseumaisnovode-
safeto,oagoraex-ministro
SergioMoro.
Em carta aberta a Bol-
sonaro no domingo (26),
a ADPF (Associação Naci-
onal dosDelegadosdaPo-
líciaFederal) solicitouque
eleenviecomurgência, ao
Congresso, uma proposta
delegislaçãoprevendoum
mandatoaodiretor-geralda
PF, com escolha por meio
de lista tríplice e sabatina.
A possibilidade deman-
dato já foi elogiada aome-
nos duas vezes por Moro:
uma vez quando ele ain-
da era juiz federal e parti-
cipou de um encontro da
ADPFemSalvadoreoutra
após assumir oMinistério
da Justiça—quando disse
que a discussão não deve-
ria ser imediata.
A associação pede que
osdelegadosqueintegrem
umaeventuallistaatendam
a“critériosobjetivos”eque
oescolhidopelopresiden-
tetenhagarantida“aauto-
nomiaparanomeareexo-
nerartodososcargosinter-
nosdaPF,medianteaobe-
diênciaacritériosmínimos
objetivos para cada cargo,
definidos em lei”.
Demandahistóricadaca-
tegoria,apropostafoicons-
tantementecobradapelas
entidadesdeclassedosde-
legadosaosgovernosDilma
Rousseff (PT) eMichel Te-
mer (MDB), que não leva-
rama ideia à frente.
Em2014e2016,asentida-
desdeclassededelegados
da PF chegaram a formar
listas tríplicespara a esco-
lha,porDilmaeTemer,do
diretor-geral,masapropos-
ta não vingou.
NogovernoTemer, a de-
manda se fortaleceu após
a queda do ex-diretor-ge-
ral Fernando Segovia, em
fevereiro de 2018, trêsme-
ses após assumir o cargo.
Ele havia dito, ementre-
vista à Reuters, que não
existiam provas contra o
entãopresidentenoinqué-
rito sobre irregularidades
em um decreto para o se-
tor portuário.
Seu substituto, Rogério
Galloro,chegouaarticular
aapresentaçãodapropos-
tademandatoparaadire-
toriageralaoscandidatosà
Presidência em 2018.
No Congresso também
houve matérias a respei-
to do tema. Em 2015, 29
senadores protocolaram
uma proposta de emenda
àConstituição que propu-
nhaomandato.Maistarde,
algunsdeles—comoAécio
Neves, José Serra, Aloysio
Nunes(todosdoPSDB), Ja-
derBarbalhoeGaribaldiAl-
ves (doMDB)—acabaram
virandoalvosdaLavaJato.
Apropostafoiarquivada
em2018,quandoalegislatu-
rachegouaofim,sempas-
sarpelaComissãodeCons-
tituição e Justiça.
Na Câmara também há
uma proposta de autono-
miaàPolíciaFederal,mais
ampla que a do Senado.
Maselatramitadesde2009,
semconclusão.
OpresidentedaADPF,Ed-
vandir Felix de Paiva, diz
que um texto do Executi-
vo ao Congresso daria for-
ça à proposta. “Neste mo-
mento, em que aconteceu
essamudançatãotraumá-
ticanaPolíciaFederal, tal-
vezogovernopossapassar
esse recado”, afirma.
Delegados
federais pedem
lista tríplice e
sabatina para
diretor-geral
Declaração de bens de Flávio
Osenadoreraalvodeprocedi-
mentosobrefalsidadeideoló-
gicaeleitoralporsupostaocul-
taçãodepatrimônionadecla-
raçãodebensàJustiçaeleito-
ral em 2014. A PF investigava
seeleteriadeclaradoumimó-
vel pelo valor abaixodo real.
Aoconcluiro inquérito,no
início deste ano, o delegado
Erick Blatt apontou que não
haviaindíciosdocrimeeleito-
ral e de lavagemdedinheiro.
Como a investigação havia
seampliadodesdeseuinício,
aavaliaçãointernanapolícia
éadequehaviapossibilidade
legaldequeodelegadoavan-
çasseemoutrospontos,oque
ele não fez. A conclusão de
Blatt não afetou a apuração
sobrea“rachadinha”,queestá
noMinistérioPúblicodoRio.
Citação a Queiroz
A Superintendência da PF
no Rio tem aberto inquérito
combaseemrelatóriofederal
de inteligênciafinanceiraem
queonomeQueirozémenci-
onado.Elenãoéalvodaapu-
ração, mas seu antigo advo-
gado, Paulo Klein, protoco-
loupedidoparateracessoaos
autos emsetembrode 2019.
Funcionário fantasmadeCarlos
OMPdoRioabriuemsetem-
brodoisprocedimentospara
investigar o vereador Carlos
Bolsonaro(Republicanos)pe-
la suspeita do uso de funcio-
náriosfantasmasemseugabi-
neteedapráticade“rachadi-
nha”.Damesmamaneiraque
ocorrecomoutroscasos, ali-
ados de Bolsonaro também
afirmam que a investigação
está comaPolícia Federal.
Episódio Hélio Negão
A primeira crise que atingiu
a PF teve como um dos pa-
nos de fundo uma investiga-
ção de crimes previdenciári-
os que supostamente envol-
via um dos grandes aliados
deBolsonaro,odeputado fe-
deralHélioNegão (PSL-RJ).
ComomostrouaFolha,um
despacho de um delegado
causou confusão e virou al-
vo de apuração, a pedido, na
época, de SergioMoro, pres-
sionadopelo presidente.
O documento recuperava
casos de anos anteriores pa-
ra levantarapossibilidadede
umhomemcitadoseroparla-
mentar. Em seguida, porém,
diziaquenãoera,masocaso
foi mandado para os órgãos
de inteligência e teve sigilo
decretado —procedimentos
considerados foradopadrão
para o tipode investigação.
Acúpuladapolíciadescon-
fiava de uma fraude, criada
com o objetivo de gerar des-
confiançanaPFdoRio.
Segundointegrantesdapo-
lícia, o episódionão foi isola-
do,masajudouaderrubarRi-
cardo Saadi da Superinten-
dência—demissão anuncia-
daporBolsonaroemagosto.
Opresidentechegouadizer
à imprensaqueestavamten-
tandoprejudicá-lo,mostran-
do ter informações de basti-
doresdoqueocorrianoórgão.
Depoimento do porteiro
TambémestácomaPFdoRio
investigaçãosobredenuncia-
çãocaluniosacontraBolsona-
ro envolvendo o porteiro do
condomínio em que o presi-
dentemorava.
O funcionárioafirmou, em
depoimentonoinquéritoque
apuraasmortesdavereadora
MarielleFrancoedomotoris-
taAndersonGomes,quefoio
presidente (à época deputa-
do) quem autorizou a entra-
danocondomíniodeumdos
acusadospeloassassinatopa-
raencontraroPMaposentado
RonnieLessa,tambémréuna
ação, nodia do crime.
Gravaçãodo sistemade in-
terfone do condomínio e a
presençaregistradadeBolso-
naro na Câmara naquele dia
contradisseramoporteiro—
que,depois, afirmouàPF ter
se equivocado. O inquérito
aindanão foi concluído.
LaudodaPolíciaCivildoRio
apontou que o porteiro que
interfonou para Lessa não é
o mesmo que prestou depo-
imento citandoBolsonaro.
GovernoWitzel
Noepisódioenvolvendoopor-
teiro, o presidente chegou a
insinuar que o ocorrido era
parte de um plano do gover-
nadorWilsonWitzel(PSC-RJ).
Antesaliados,osdoisviraram
inimigos políticos.
Nos bastidores, Bolsonaro
reclamava que o adversário
não virava alvo de investiga-
ções.SeuscontatosnaPFinfla-
mavamairritação, informan-
do que tipo de apuração

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