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QUARTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2020ANO 100 ┆ Nº 33.264 R$ 5,00 D E S D E 1 9 2 1 UM J O R NA L A S E RV I Ç O D O B R A S I L AUDIÊNCIA/MÊS PÁGINAS VISTAS 404.556.455 VISITANTES ÚNICOS 69.769.423 Aparelho familiar Apoio declinante Acerca de escolhadeBol- sonaroparaachefiadaPF. Sobre opinião relativa a quarentena,noDatafolha. EDITORIAISA2 ATMOSFERAB2 ISSN 1414-5723 9 771414 572049 33264 São Paulo hoje 28 15 0h 6h 12h 18h 24h ˚ ˚ QUARENTENAEMSP Comércio Há 36 dias Escolas Há 36 dias Saiba o que abre e o que fecha emcada estado em folha.com Cai apoio a isolamento; Brasil já temmaismortos queChina Defesa de quarentena perde 8 pontos percentuais, segundoDatafolha; ‘e daí?’, diz presidente sobre recorde Oapoioaumisolamentoso- cialamploparaconteroco- ronavírusdivideapopulação brasileira,mostraoDatafo- lha. Pela primeira vez des- deo iníciodapandemia, há empatetécnicoentrequem defendeavoltaaotrabalhoe osqueapoiamaquarentena. Opinavampelorelaxamen- to das regras 37% no início deabril.Forampara41%em 17deabrilepara46%napes- quisa realizada na segunda (27). Jáodistanciamentoto- tal tinha o apoio de 60%no início de abril, foi para 56% nodia 17e, agora,para52%. A adoção da quarentena apenaspara idososepesso- as nos gruposde risco éde- fendidapelopresidenteJair Bolsonarosobaalcunhade “isolamento vertical”. O go- verno,noentanto,atéagora nãoapresentounenhumes- tudoqueembaseamedida. Ontem,opaísbateurecor- de demortos pela Covid-19 em24horas,com474,epas- souototaldaChina. “Edaí? Lamento. Quer que eu faça oquê?EusouMessias,mas não façomilagres”, afirmou opresidenteaoserquestio- nado sobre os números. OBrasilagoraéononopa- íscommaismortesnomun- do,5.017óbitos,contra4.637 registrados pelos chineses. NelsonTeich(Saúde)reco- nheceu agravamento da si- tuação,masdissequeapiora estárestritaa locaiscomdi- ficuldades. SaúdeB1 e B4 Pandemia afeta 5milhões de empregos com carteira Aomenos5milhõesdetra- balhadores com carteira assinada já tiveram seus empregos afetados de al- gummododesde o início da crise do coronavírus, oequivalentea 15%does- toquede formais dopaís. Cercade 1milhãofoide- mitido e está apto ao se- guro-desemprego, e 4,3 milhõestiveramcontrato suspensooujornadaesa- lárioreduzidos. MercadoA15 Presidente apoia pressão para saída de Regina Duarte ComoavaldeJairBolsona- ro, aliados deram início a umprocessodefriturade ReginaDuartecomoobje- tivo de fazer com que ela peçademissãodaSecretá- riaEspecialdaCulturaan- tesdecompletardoisme- sesnocargo.Segundorela- tos,opresidentereclamou da dificuldade de diálogo comaatriz. Ilustrada B16 Esporte B17 Sem partidas até setembro, França pressiona centros do futebol europeu Ilustrada B12 Há 50 anos, Waly Salomão escrevia texto quemudaria a contracultura Edaí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias,masnão façomilagres Jair Bolsonaro presidente da República 5.017 é o total de óbitos por Covid-19 no país; epicentro, o estado de São Paulo registrou 224 vítimas em 24h, um recorde Saúde B4 Joice Hasselmann ENTREVISTA O que Bolsonaro quer fazer com a PF é chavismo Ex-líder do governo no Congressoehojedesafeto deJairBolsonaro,adepu- tadaJoiceHasselmanndiz queopresidenteagecomo o chavismo ao querer fa- zer da PF e doMinistério da Justiça “uma coisa só”, chefiadaporele. PoderA10 Paulo Chapchap ENTREVISTA Como cinto, uso de máscara deveria ser obrigatório O diretor-geral do Hospi- tal Sírio-Libanês defende ousodemáscaraemtodo o país e diz que profissio- naisdesaúdedevemfazer mea-culpapordemorara aprenderisso.“Deveriaser obrigatório, igual ao cin- to de segurança.” SaúdeB8 Ação quematou músico no Rio não tinha aval de praxe AaçãodoExércitoque le- vouaofuzilamentodomú- sicoEvaldoRosaemabril de 2019, no Rio, era par- te de uma operação para ocupar uma favela próxi- ma.Nãohavia,porém,de- cretodeGarantiadaLei e daOrdemquepermitisse aosmilitaresagirnasegu- rançapública. CotidianoB10 Consumidor que tiver cota de consórcio poderá sacar em dinheiro A23 Espanha e França anunciam plano gradual de desconfinamento A12 Laboratórios passam a oferecer testes do vírus com coleta domiciliar B7 Nomeação de novo chefe da PF gera ações na Justiça AsnomeaçõesdeAlexan- dreRamagemàPolíciaFe- deraledeAndréMendon- çanaJustiçaforamconfir- madas ontem. A escolha deMendonçano lugarde Sergio Moro em geral foi bem recebida, mas a de Ramagem, amigo do clã Bolsonaro, já levou parti- dospolíticosaentrarcom pelomenosseisaçõesjudi- ciais para barrar sua pos- se, que seráhoje. PoderA4 Celso relevaMoro e foca Bolsonaro em decisão no STF A9 Profissionais de saúde terão assinatura grátis e newsletter da Folha B10 Cidade de São Paulo já negocia usar UTIs privadas Oaumentodemortesem SãoPaulolevouacidadea buscar vagas na rede pri- vadaparaampliar suaca- pacidade de internação, ao passo que represen- tantes de hospitais priva- dosafirmamqueoMinis- tério da Saúde e muitos estados têm sido lentos a procurá-los para suprir a faltadeleitosdeUTI.Para eles,oatrasoseriadevido adisputapolítica. SaúdeB2 Mauro Paulino e Alessandro Janoni ANÁLISE Saída de ex-juiz tem pouco impacto Se por um lado os efeitos da crise sanitária afasta- rampartedosmaisescola- rizadosedosmaisricosda basedeJairBolsonaro,por outroagregaramsegmen- tosmaiscarentesedepen- dentesdaspolíticaspúbli- cas do governo. Poder A11 Funcionários de lojas de Campina Grande se ajoelhamna calçada durante ato que pedia retorno às atividades; sindicato dos comerciários acusa patrões de obrigarem empregados a participar, e Procuradoria do Trabalho investigaMercado A16 PROTESTO POR REABERTURADE COMÉRCIO NA PARAÍBA É INVESTIGADO Jonathan Samuel/Paraibaonline Em estudo, exame de sangue detecta câncer precoce Estudo publicado ontem pela revista Sciencemos- trou, em pesquisa feita com10milmulheres,queé possíveldetectarprecoce- menteváriostiposdecân- cer com base em exames de sangue. Amaior parte dosquemorremdadoen- ça a descobre já em está- gio avançado. Ciência B11 Terminal de embarque semmovimento ontem; voos diminuíram para umamédia de sete por dia em abril, reduzindo o barulho nos arredores do aeroporto, na zona sul de São Paulo VIZINHOS COMEMORAMSILÊNCIO DE CONGONHAS Rubens Cavallari/Folhapress Trump vê ‘grande surto’ no Brasil e cogita cortar voos OpresidentedosEUA,Do- nald Trump, afirmou on- tem que o Brasil seguiu “caminho diferente” no combateàCovid-19epas- sa por um “grande sur- to”. Trump voltou a cogi- tar restrição de voos vin- dosdopaís. JairBolsonaro disseque“oqueeleachar que tem que fazer no pa- ís dele, ele faz”.MundoA14 a eee opinião A2 QUARTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2020 UM JORNAL A S ERV I ÇO DO BRAS I L a Publicado desde 1921 – Propriedade da Empresa Folha daManhã S.A. presidente Luiz Frias diretor de redação Sérgio Dávila superintendentes Antonio Manuel Teixeira Mendes e Judith Brito conselho editorial Rogério Cezar de Cerqueira Leite, Marcelo Coelho, Ana Estela de Sousa Pinto, Cláudia Collucci, Hélio Schwartsman, Mônica Bergamo, Patrícia Campos Mello, Suzana Singer, Vinicius Mota, Antonio Manuel Teixeira Mendes, Luiz Frias e Sérgio Dávila (secretário) diretoria-executiva Marcelo Benez (comercial), Marcelo Machado Gonçalves (financeiro) e Eduardo Alcaro (planejamento e novos negócios) editoriais@grupofolha.com.br EDITORIAIS Aparelho familiar Apoio declinante Odesenrolardosacontecimentos vai dando razão à acusação mais gravefeitapeloex-ministroSergio Moro contra o presidente da Re- pública,dequeJairBolsonaroage motivadopeloobjetivodereduzir aPolíciaFederalauminstrumento pessoal do ocupante doPlanalto. Os primeiros indícios de confir- maçãoconstavamdaspalavrasdo própriochefedogovernonasexta- feira(24).Apropósitodedefender- sedoquepoucoanteshaviaditoo ex-juiz da Lava Jato, o presidente admitiu que fazia pressões sobre oMinistériodaJustiçaparaarran- carinformaçõesdaPolíciaFederal. Na sequência, Moro divulgou mensagens trocadas com Bolso- naro emque omandatário citava repercussõesdeuminquéritopa- ra apurar fake news e ameaças a magistrados, que corre noSupre- moTribunal Federal, comomoti- vo para substituiro diretor daPF. Nosábado (25), estaFolha reve- lou que a apuração, presidida pe- loministroAlexandredeMoraes, havia identificadoovereadorCar- los Bolsonaro como um dos arti- culadores do esquema criminoso de intimidação. O ciclo se fecha- va,mas aindanão se completara. Odelegadonomeadopelopresi- dentedaRepúblicaparaassumira Polícia Federal, Alexandre Rama- gem, é amigodofilhoCarlos. UmoutroconvivadafamíliaBol- sonaro,JorgeOliveira,teriasidoin- dicadoparaapastada Justiçanão fosseumafortepressãopalaciana para demover o chefe de Estado. Acabousendoindicadoparaocar- go AndréMendonça, que era o ti- tulardaAdvocacia-GeraldaUnião. Escandalosa é pouco para qua- lificar a promoção de Ramagem à chefia da Polícia Federal nesse contexto. Por mais que cautelas, comoa tomadaporAlexandrede Moraes ao proibir a troca dos de- legadosqueconduzemoinquérito das fake news, possam evitar da- nospontuais,a intençãodeapare- lhar o órgão policial ficou clara e partedopresidentedaRepública. Não à toa, ações para anular a posse do indicado a diretor-geral daPFcomeçaramachegaràscor- tesfederais, inclusiveaoSupremo. Alegam que Bolsonaro cometeu abuso depoder e desvio definali- dadenanomeaçãodo amigo. Nacartilhadoneoautoritarismo emvogaemalgumaspartesdopla- neta,aparececomoitemdedesta- que a lenta cooptaçãodos órgãos independentes do Estado pelos tentáculosdocandidatoacaudilho. JairBolsonaroseguemestresco- mo Nicolás Maduro, da Venezue- la, e VictorOrbán, daHungria, ao tentar transformaraPFnumbirô a serviço da família presidencial. Precisasercontidopelas institu- ições. A PF hoje exigemais, e não menos, garantias —como um di- retor-geral submetido ao escrutí- niodoLegislativo—paraasuaatu- ação técnica e republicana. DetectadapeloDatafolhaháduas semanas, aquedadoapoiodapo- pulação às políticas de isolamen- tosocialsemostrou, infelizmente, umatendênciaagoraconfirmada. Noiníciodeabril,60%dosbrasi- leirosconcordavamque,paraoen- frentamento da pandemia deCo- vid-19,apermanênciaemcasaera recomendável inclusive para pes- soasnãopertencentesagruposde risco como idosos e doentes crô- nicos. No dia 17, o percentual ha- viacaídoa56%.Destavez,são52%. Trata-se de parcela similar, no limite damargem de erro de três pontospercentuais, àdosquede- fendem isolamento apenas dos mais vulneráveis aonovocorona- vírus —enquanto os demais, se- gundoesseentendimento,deveri- am retomar suas atividades. O dado preocupa porque, con- formeoquaseconsensodosespe- cialistas, ainda não chegou omo- mento de relaxar as quarentenas recomendadas pelas autoridades sanitárias para evitar uma sobre- carga dos sistemashospitalares. No estado de São Paulo, onde a disseminaçãodadoençaseencon- traemestágiomaisavançado,ogo- vernador JoãoDoria (PSDB)fixou adatade11demaioparaoinícioda reaberturagradualdecomérciose outrossetores.Tudoestácondici- onado, entretanto, ao comporta- mentodos paulistas até lá. Ditodeoutromodo,éprecisoque asmedidas de precaução contem com adesão suficiente para redu- ziroritmodocontágioepreservar a capacidadeda redehospitalar. Menos ruimque 53%dos entre- vistadosdeclaremquesó têmsaí- do de casa quando inevitável, en- quanto outros 16% se dizem em isolamento absoluto—percentu- ais que semantiveram sem gran- des oscilações ao longodomês. Ainda é amplamente majoritá- rio, emboratenhacaídonoperío- dode 76%para67%,ocontingen- te que considera mais importan- te nestemomento conter o avan- ço da epidemia, mesmo ao custo do aumentododesemprego. Difícil,defato, imaginarescolha maisdolorosa—oquetornaparti- cularmentecrueleirresponsávela campanhalideradapelopresiden- te JairBolsonaropelavolta imedi- atadasatividadeseconômicas,em nomede evitar a recessão. Aexperiênciainternacionalmos- tra que a hesitação ou a recusa à quarentena pode levar a resulta- dos trágicos, enquanto a reaber- turacautelosaseafiguramaispro- missora.Essacompreensãoparece embasarocomportamentocorre- to damaioria dos brasileiros. Nomeação, por Jair Bolsonaro, de um amigo do filho investigado para dirigir a PF é escandalosa sãopaulo JairBolsonarodissee fez absurdosduranteaepidemiadeCo- vid-19, traiualgumasdesuasprinci- paisbandeirasdecampanhae,ape- sardisso, seguecomoapoiodecer- cadeumterçodoeleitorado, como mostroupesquisaDatafolha. Seiquevãomexingarpordizer is- so,masoparalelocomospetistasé inevitável.Lulatambémconservou oapoiodemaisoumenosoutroter- çodoeleitorado.Nementronomé- ritojurídicodasentençaqueconde- nou o ex-presidente,mas, nomíni- mo, o fato de ter tolerado altos ní- veisdecorrupçãoeestabelecidore- laçõespessoaisabsolutamentepro- míscuascomempreiteirosconfigu- ra um desastre ético que contraria tudooqueoPTsempredefendera. Oqueacontececomocérebrodo militante político, que parece per- der a capacidade de ver o óbvio?O jornalistaEzraKlein,autorde“Why We´re Polarized”, oferece uma boa resposta a esse enigma. Ele obvia- mentenão falanadadebolsonaris- tas e petistas, mas recorre à litera- tura psicológica e da ciência políti- ca para esmiuçar as mentes de de- mocratas e republicanos. Com as devidas adaptações, muitas de su- as conclusões valempara oBrasil. O mais surpreendente é consta- tar que não há nada de irracional no comportamento desses eleito- res. Eles apenas decidiram colocar suasidentidadespolíticasàfrentede outros valores quepossamalimen- tar. Na esfera individual, faz senti- do. Quem age dessa forma refor- ça os vínculos sociais que tem com seu grupo, o que é fonte de satisfa- ção pessoal. Oproblema éque, noplano cole- tivo,essasupervalorizaçãodaiden- tidade de grupo leva à polarização, que raramente é saudável para a política, emesmo a posições clara- mentedisfuncionais,comooapoio acríticoa líderespopulistasqueco- locam sua agenda pessoal à frente dos interesses do país. Não há re- paro simples para essa dinâmica, quevemcolocandosobestresseal- gumasdasmaissólidasdemocraci- as doplaneta. helio@uol.com.br brasília Donald Trump nunca du- vidou da lealdade de seus eleitores fiéis.Dezmeses antesdaeleiçãode 2016,omagnatasubiunumpalanque eexibiuadimensãodesuaautocon- fiança:“Eupoderiairparaomeioda QuintaAvenida,atiraremalguéme nãoperderia nenhumeleitor”. Até aquele dia, o republicano só havia apresentado uma amostra grátisdo repertóriodeatrocidades queusariaduranteacampanha.Da- lipordiante,deudeclaraçõesabsur- das, prometeubarbaridades e che- gou àCasaBrancamesmoassim. A despreocupação de Jair Bolso- narocomsuapopularidadeespelha afrase lançadaporseuídoloameri- canonaquelecomício.Osnúmeros da última pesquisa Datafolhamos- tram que a base de apoio do presi- dente semanteve inabalada. Assimcomonofimdoanopassa- do,umacadatrêsbrasileirosafirma queogovernoBolsonaroéótimoou bom. Nesse intervalo, o presiden- te empurrou o país em direção ao abismodocoronavírus, fez campa- nha contra alertas das autoridades de saúde e demitiu o ministro que cuidavadaárea.Seusapoiadoresvi- ram 5.000mortes emmenos de 40 dias,mas continuarama seu lado. A solidez dessa base abriu cami- nho para mais desatinos. Bolsona- ro deu apoio explícito a uma turba que pedia um golpemilitar e inter- feriupoliticamentenaPolíciaFede- ral para proteger os filhos. Depois, nomeou um delegado próximo de sua família. “E daí?”, rebateu. Opresidenteprovavelmenteacre- dita que pode fazer o que quiser. Emboratrincadopeloconflitocom Sergio Moro, o discurso antissiste- maaindaprendeosbolsonaristasa seulíder,assimcomoapromessade uma agenda conservadora. O peso damáquinapública eosR$600pa- gos a trabalhadores informais afe- tados pela crise inflamesse grupo. Bolsonaroaindaprecisaráenfren- tarosefeitosdadisparadadasmor- tes por coronavírus e da recessão provocada pela pandemia. Por en- quanto,opaísmantémnopoderum presidente que fabrica disparates semmedodeperderpopularidade. riodejaneiro Minhaempregadaestá emcasanosubúrbio,commarido,fi- lhosenetos.Amigosmeusfecharam seusescritórios,ateliêsoupequenos negócios, e tambémestão emcasa. Atores e músicos que conheço es- tãoigualmenteparados,eemsevera quarentena. Muitas dessas pessoas vivememapartamentosmodestos, que lhes bastavamquando podiam sair à vontade.Confinadas,aspare- descomeçamapesar-lhes.Elasgos- tariamde dar umpulo lá fora.Mas, conscientesquesão,sabemque,en- quantoasmortespelovírusnãoche- garemaopicoesóentãodeclinarem, nãoéhoradeabrir a guarda. Emcontrapartida,deminhajane- la,vejo jovensevelhoscaminhando nocalçadãodapraia,pedalandoou correndonacicloviaeaté indomer- gulhar. Sei pelo noticiário que em SãoPaulotambéméassim.Umacoi- sa são os prestadores de certos ser- viços, que nãopodemparar de tra- balhar. Outra são os quedecidiram nãoabrirmãodo lazer—nemque- remprivardisso seusgarotos, a jul- gar pelos festivos playgrounds que tambémvejo daqui. Nãoconheçoacorpolíticadessas pessoas, mas quem continua a fla- nar, contra as recomendações dos agentesdasaúde,estárepetindo,até sem saber, o gesto de Jair Bolsona- ro, para quem ninguém cerceará o seudireitode ir e vir. Pormim,Bol- sonaropode iratéparaodiaboque ocarregue,nemédaminhacontaa saúdedequemsai emcarreatas ou comele partilha celulares, abraços e perdigotos. Mas é da conta de todos nós, que estamos em casa, a saúde dos que continuamnas ruas como se tives- sem passaportes de imunidade. O passeiodeumdeles,hoje,poderen- derumainternaçãosódaquia 15di- as.Oproblemaéoque,porumaca- deiaperversa,esses15diascustarão a quemficou emcasa. Um amigo paulista, pioneiro da quarentena, está muito mal. Pode ter sido infectado pelo netinho as- sintomático. Não haverá tragédia maior para uma família. Será que eles não enxergam? Bolsonaro naQuinta Avenida Danossa conta - Hélio Schwartsman - Bruno Boghossian - Ruy Castro Aeconomiapolíticaéumco- nhecimento que desde tem- pos imemoriais acumula ob- servações para tentar enten- derosestímulosquelevamos homensasecomportaremna suaatividadediáriaecomoor- ganizamadivisãodotrabalho para produzir, no território queocupam(como“seu”!), a suasubsistênciamaterial,ou seja, o total de bens e servi- çosproduzidoscoletivamen- teequantocadaumreceberá como“quota”pelasuacoope- raçãonoque foi produzido. Nela,osproblemassãosem- preosmesmos:1º)oqueeco- moproduzir,quedependedas necessidades da sociedade e das “técnicas” para atendê- las, e 2º) como se distribuirá oproduzido, se pela forçade umaautoridadeoupelocon- senso obtido numa negocia- çãopolítica.Oquemuda são as tentativas de resolvê-los. Ao longo de sua história, o homem vivenciou múltiplas alternativasorganizacionais, numprocessodeseleçãoqua- se biológico para encontrar qual lhe daria maior “liber- dade” junto com maior “se- gurança”. Foi assim que che- gouàconcepçãodeumEsta- doforte,controladoporuma Constituiçãoconsensualmen- teconstruídaqueimponha— pela Lei— uma estrutura de poder republicano e garanta o Estado democrático de Di- reito,comojátemosnoBrasil. Dito isso,épreciso lembrar queoquechamamosde“eco- nomia de mercado” foi des- coberto (não inventado) pe- los economistas nas feiras daantiguidadequandoopo- der local lhes dava proteção e garantia apropriedadepri- vada. Talvez a contribuição mais importante dos econo- mistasàcivilizaçãotenhasido dar àquele instrumento —o “mercado”— cada vez mais eficiência no uso dos fatores deproduçãodisponíveis,mas sempreescassosparaatender àdemandade todos.Ocusto disso foi a separação dos ho- mens em duas classes: a dos quecomandamoprocesso(os que detêm o capital) e a dos que não têm outra alternati- va a não ser servi-los, o que gera umadisparidade de po- der insuportável. Desde a autópsia de Marx (e da contribuição de Stuart Mill,o liberal),ficouclaroque a“economiademercado”tem trêsgravesproblemas:1º)éin- capaz de eliminar a pobreza dos menos favorecidos pela sorte;2º)produzimensasde- sigualdadesderenda,quesão corrosivasparaacoesãosoci- al,alémdecriardúvidassobre oprocessodemocrático;3º)as flutuaçõesquelhesãoínsitas epromovema“insegurança” dostrabalhadorespelavaria- çãodoemprego,queinspirou aspolíticaskeynesianas, víti- mas, como Marx, de “vulga- tas”daeconomiade“cordel”. Foram esses fatos que le- varam à necessidade de um Estado forte, que, nas crises agudas, se transforma, pro- visoriamente, no “garante” deúltima instânciadenossa “segurança”. Estado forte - Antonio Delfim Netto Economista e ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici). Escreve às quartas Hubert Causa preocupação a queda do endosso ao amplo isolamento social, como captou pesquisa Datafolha a eee opinião QUARTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2020 A3 ERRAMOS erramos@grupofolha.com.br Liberdade de expressão Se Bolsonaro não existisse, teria queserinventado.Suapérolamais recentefoidizerquefakenewssão “liberdadedeexpressão”.Alémde absurda,afalaépraticamenteuma confissão de culpa—mesmo que mais uma vez ele não saiba direi- to o que está dizendo. Francisco J. B. de Aguiar (São Paulo, SP) Datafolha (“Impeachment de Bolsonaro di- vide o país, mas presidente man- témbasede apoio, dizDatafolha”, Poder, 27/4). Uma coisa a pesqui- sa demonstra de forma inequívo- ca: como a oposição está desinte- grada,semcapacidadedediagnós- tico, sem propostas e, o que é pi- or, sem líderes confiáveis. De po- sitivoemtodaessacrise, apenasa solidariedadedosbrasileirospara comopróximo. JoséWalter MotaMatos (Pouso Alegre, MG) * Osresultadosdapesquisaindicam que grande parcela da população é incapazdeolharos fatos e inter- pretá-los com isenção. E a pande- mia rolando solta. João Larizzatti (Rio de Janeiro, RJ) * Enquanto houver apoio da elite econômica, o impeachment não sai. Da média da população, 45% já desejam o impedimento. Mas isso só passa quando a elite dese- ja. Assim, cai por terra o conceito dedemocracia e sobressaemoda plutocracia e odanecropolítica. Rafhael Jeronymo Lima Oliveira (Rio de Janeiro, RJ) Desculpa aí Adissonânciacognitivaestápegan- dofortenoseleitoresquecontinu- amaapoiarBolsonaro.Prometeu- nososmelhoresministros,zeroto- lerânciacomcorrupção,zeropos- sibilidadedesecandidataràreelei- çãoeofimdavelhapolítica.Reali- dade:quatroministrostécnicosig- noradosoueliminadoseministros donaipedeErnestoAraújo,Abra- hamWeintraub e Marcelo Álvaro ainda gozando da sua confiança. Deseusfilhosnemsefale... (lávem aPF). Flerta comuma interpreta- ção pessoal dos fatos, concentra todos os esforços visando 2022 e, assim, abraçamultidões e os pro- fissionais da velha política. Esta- mosferrados.Deminhaparte,elei- tor deBolsonaro, peçodesculpas. Clive L. C. Ashby (São Paulo, SP) STF Celso de Mello agiu de forma ab- solutamente correta, pois os su- postos crimesdeMorosópassam aexistirse,comprovadamente,ele tiver mentido em suas acusações contraopresidente(“CelsodeMel- lo ignora possíveis crimes deMo- roemandarecadossóaBolsonaro em decisão no STF”, Poder, 28/4). Se ele comprovaroquedisse, não hánada a investigar. Noeli Tejera Lisbôa (Porto Alegre, RS) * DoisilustresministrosdoSupremo TribunalFederalmanifestaram-se sobre a demissão deMoro: “... é o arrefecimentodoesforçodetrans- formaçãodoBrasil” (LuísBarroso) e “... sóposso afirmarque cresceu minha admiração pelo ministro” (MarcoAurélioMello). Datíssima máximavênia,masmanifestações assim,emitidaspordois integran- tesdamaisaltacorte,apenascon- tribuemparadesmerecê-la.Oque é lamentável. Gary Bon-Ali (Rio de Janeiro, RJ) Isolamento NemCuba,nemVenezuela,nemAr- gentina.Acontinuaressaganância e irresponsabilidade social, oBra- sil seráumEstadosUnidosemnú- merodemortespelaCovid-19—e como consequência terá um ele- vadonúmerodeórfãospobresou na extremapobreza. Isabel Terezinha Ferronato (Blumenau, SC) Como da primeira vez O leitorGeraldo JoséDultra (“Pai- nel doLeitor”, 25/4) lamentanun- camais poder olhar nos olhos de Bolsonaro como da primeira vez. Um flerte que o levou a acreditar evotarnele.Faltouesclarecerseo fatosedeuantesoudepoisdeBol- sonaroenaltecerotorturadorBri- lhanteUstra,reafirmandoqueadi- taduramatoupoucagenteedeveria termatado30mil, incluindoFHC. Será que o leitor viu só suavidade nosolhosdocapitão?Quandoodi- aborezaéporquequerteenganar. Edson José de Senne (Ribeirão Preto, SP) Vírus O Brasil enfrenta duas pragas: a pandemia do coronavírus e a epi- demiadobolsonavírus.Enquanto a primeira, que já contaminou 72 mil pessoas, está na fase de cres- cimento,a segunda,quecontami-nou50milhões, teveopiconofim de 2018 e está, felizmente, em de- clínio,comimunidadederebanho jácomprovada.ACovid-19atacao pulmãoepodematar;aBolsovid-18 atacaocérebroemantémoindiví- duoemestadopsicótico,comma- niadeperseguiçãoecrençasmessi- ânicas.Nãohávacinascontraelas. Eenquantoumaestásendopesqui- sadapelaciência,aoutraestáqua- se pronta pela segurança pública. Walter Celaschi (Valinhos, SP) Enquanto Enquanto cadáveres se acumu- lam em corredores de hospitais e governos estaduais e municipais compram câmaras de refrigera- çãoparaconservarcorposatéque possamserenterrados—emvalas comunseemcamadas—,Bolsona- roseapressaemgarantirqueelee seus zeros à esquerda sejam blin- dadosde suasmaracutaiasmilici- anas e outrasmais. Rita Lopes (São Paulo, SP) Verdeira cara Enfimopresidenteeleitoparacom- bater o crime organizado e a cor- rupçãomostra sua verdadeira ca- ra(“BolsonaroconfirmaMendon- ça na Justiça e Ramagem, amigo de seus filhos, na Polícia Federal”, Poder,28/4).Essepovotodoqueo elegeu foi rifado. O Brasil foi rifa- do.Bolsonaronão se reelege,mas o estrago é grande. Edison Gonçalves (São Paulo, SP) * É prerrogativa do presidente da República nomear ministros de Estado e o chefe da Polícia Fede- ral. Quemgosta de ver terroristas ecorruptosnomeadosparacargos assim que vote no PT novamente em 2022. Até lá, que se respeite a democracia. Olavo Cardoso Júnior (Marília, SP) * NosdesenhosdoScooby-Doo,Fred sempre desmascara o malfeitor, que quase sempre é alguém já co- nhecidode todos. Edesta veznão foidiferente.Parabénsàturmado Scooby-Doo e a João Montanaro por nos presentear com a ótima lembrançanasuaexcelentecharge. Josenir Teixeira (São Paulo, SP) cotidiano (25.abr., pág. b8) Di- ferentemente do que afirmava o texto “A gestão de SergioMorona segurançapúblicadopaís”, houve motimnaPolíciaMilitardoCeará, nãonaPolícia Federal doCeará. PAINELDO LEITOR folha.com/paineldoleitor leitor@grupofolha.com.br Cartas para al. Barão de Limeira, 425, São Paulo, CEP 01202-900. A Folha se reserva o direito de publicar trechos das mensagens. Informe seu nome completo e endereço TENDÊNCIAS/DEBATES folha.com/tendencias debates@grupofolha.com.br Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros emundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo Há quem diga que a Covid-19 tem letalidade inferior ao que se previa inicialmente. Contudo, nada mu- dou em relação às expectativas so- bre outra pandemia, a da violência contra amulher. OúltimoAnuárioBrasileirodeSe- gurançaPúblicaécategórico:temos emmédia 180 casosdeestuprodiá- riosnopaís,eamaioriadasvítimas conheceseuagressor.Osdadoscom- piladospeloFórumBrasileirodeSe- gurançaPúblicaindicamqueocená- rio mais frequente da violência é a residênciadavítima. Imagineope- rigo que estão correndomeninas e mulheresbrasileiras,confinadasem suascasascomseusalgozesaolado. Essa tragédianãoéexclusividade nossa. É um “leitmotiv” global, e a ONUMulheresvemdivulgandonú- merosaterradores.Aviolênciacon- tra amulher explodiu naChina. As denúnciasdeviolênciacontraamu- lher triplicaram desde que o lock- downfoidecretado.Omesmoocor- reu na Espanha e na Itália—ainda que, entre as italianas, os pedidos de ajuda tenhamsido feitos a orga- nizaçõesdasociedadecivil.NaFran- ça, denúncias aumentaram 30%. Já a Argentina teve 25%mais. O novo coronavírus cruza as fronteiras e o boomdeviolênciacontraamulher o segue, invariavelmente. Atragédiatampoucoéinesperada. AONUMulheresalertadesdedezem- broparaoimpactodapandemiade Covid-19 na vida demeninas emu- lheres.Pandemiascomoadoebola nosensinaramquemulheresemsi- tuaçãoderiscoexperimentamuma vulnerabilidade aindamaior quan- dohácriseshumanitárias.Emcon- textosanálogos,écomumoaumen- todedenúnciasdeviolênciadomés- tica, além de números elevados de tráficodemulheresecasamentose prostituição infantis. A situação é tão assombrosa que a Organização Mundial da Saúde (OMS)publicouemmarçorecomen- daçõespara autoridades responsá- veispelasaúdeesegurançapública sobreoimpactodoisolamentosoci- al nas dinâmicas violentas que viti- mizammeninasemulheres.AOMS, taxativa, diz que governos têm pa- pel decisivo e devem prover servi- ços de qualidade às vítimas. Diante de tantos alertas, conse- guimosevitararepetiçãododrama por aqui?Não. O Rio de Janeiro registra aumen- to de 50%nas denúncias de violên- cia contraamulherdesdeaadesão aoisolamentosocial.OTribunalde JustiçadeSãoPauloapontoualtade 13%naconcessãodemedidasprote- tivasdeurgêncianomêsdemarço. OLigue180, serviçopúblicogratuito econfidencialquerecebedenúncias deviolênciacontraamulher, acusa aumentode 9%nonúmerode liga- ções desde o início da quarentena. Tendo em conta a subnotificação usual, imagina-se que esse avanço sejamuitomaior. Ogoverno JairBolsonaro temen- frentadoaCovid-19egovernadode modo desajuizado. A ministra Da- mares Alves tem capitaneado me- didas também desajuizadas na de- fesa de meninas e mulheres. Vive- mosumapandemiaeumpandemô- nio.Restaàsbrasileirascontarcom o heroísmo de servidores públicos que trabalham em condições pre- cárias e com redes de solidarieda- dequeoperamempequenaescala. ComodizLilia Schwarcz, andamos nos contentando com o otimismo novarejo e opessimismonoataca- do.Merecemosbemmais. Estamos vivenciando ummomen- to de grandes incertezas e angústi- as, decorrentes da pandemia pelo novo coronavírus. Quando nos de- paramoscomonúmeroelevadode óbitos,nãopoupandoinclusivepaí- sesdesenvolvidoscomgrandeaces- soàtecnologia,associadoaonúme- roexcessivodepacientesqueneces- sitam ser hospitalizados em UTIs, trabalhar na área de saúde e estar na linha de frente de uma crise co- mo esta nos faz refletir sobre este presentesombrioeprojetarumfu- turomelhor. Acreditoquepodemostirargran- des lições do que estamos vivendo hoje.Exemplosdesucessoebrechas deimperfeiçõesagorareconhecidas podemsetornarlegadosaseremin- corporados na área de saúde. Diantedeumagrave crise sanitá- ria,observamosaformaçãodecon- sórcios de várias instituições que, forças unidas, convergiram exper- tises, tecnologias ematerial huma- no em prol de salvar vidas. Dessas iniciativas, importantesestudosclí- nicos estãoemandamento, que se- guramente serão referências futu- rasna área.Omomentoatualmos- trouoquantoé imperiosoquehos- pitais,agênciasdepesquisa,univer- sidades, indústriae instânciasesta- tais,dentreoutros,mantenhamuma constante capacidade de se mobi- lizar emequipe, deixandopotenci- aisrivalidadesde lado,embuscade soluçõesque impactemnavidadas pessoas, nosso bemmaior. Notamostambém,demaneirain- questionável, a importância da ci- ência no nosso dia a dia. Nesta epi- demia pela Covid-19, vimos por vá- rias ocasiões governantes deman- dando soluções rápidas, exigindo de pesquisadores as respostas “de- finitivas”.Umpaíssomenteseráde- senvolvidodefatosetivernocentro desuaculturaeseumododevivera valorizaçãodaatividadecientíficae dosseuscientistas,bemcomoacri- ação de um ambiente fértil de pes- quisae inovação.Tal ciclovirtuoso, uma vez criado, será capaz de de- senvolver um ambiente de negóci- os saudável, juntamente coma cri- ação de complexos industriais da saúde, oferecendo as bases sólidas para a geração de riqueza, empre- gos, autossustentabilidade e o fun- damental crescimento econômico de que tanto necessitamos. Espero que voltemos a ver o investimento e estímulo à ciência no país, sem- pre lembrando que pesquisas séri- as e transformadoras exigem tem- po e rigormetodológico. Outro ponto que poderá ser um legado são as chamadas parcerias público-privadas, bem como o de- senvolvimentodeoportunidades e facilidades para que a área da saú- depossareceberrecursosdeforma mais criativa e desburocrarizada. No Brasil de hoje ainda é difícil a doaçãodevaloresaseremaplicados nasaúde,diferentementedoquese vêemoutrospaíses,comonosEUAe emalgumasnaçõeseuropeias,onde empresasoumesmograndesfortu- nasencontramnessaaçãoumbem coletivo, que impactanasociedade como um todo. Vimos no combate ao coronavírus que o fomentopri- vado ao desenvolvimento da área da saúde é amplamente possível. Esperamos que estas ações se tor- nemperenes. E, por fim, tenho a convicção de que a valorização de todos os pro- fissionais da saúde será um legado inquestionáveldostemposqueesta- mos vivendo agora. Ainda estamos nomeiodacrise,etodostêmtraba- lhado de forma incansável e deste- mida, lutandocontrauminimigoin- visíveleque impõetantosofrimen- to para pacientes e seus familiares. Presenciamos inúmeras histórias de superações e privações de cole- gas que, apesar disso, seguem em suasvocaçõesesecolocamapostos paraabatalha.Avalorizaçãoàqual me refiro não trata de algo abstra- toe imaterial,masdepontos tangí- veisqueincluemumareformulação ampladosistemaderemuneraçãoe decarreira,proteçãofísicaemental, paracitaralguns.Aviaeointuitofi- nal são,naturalmente, criarascon- diçõesparaque continueeprospe- re amissão de aliviar o sofrimento e salvar a vida dopróximo. Heróis,mascaradoseuniformiza- dos, em sua grandemaioria anôni- mos, os profissionais da saúde per- sonificam o que de melhor quere- mosparanosso futuro,buscandoo legadobom,diantedeummomen- to tãodifícil que vivemos. Épossível imaginar um legadopós-coronavírus? Pandemia e pandemônio - Fernando Bacal Cardiologista do Incor (Instituto do Coração - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP) e do Hospital Albert Einstein, é diretor científico da Sociedade Brasileira de Cardiologia - Manoela Miklos Doutora em relações internacionais, especialista em direitos humanos e segurança pública na América Latina, ativista feminista e fundadora do coletivo Agora É Que São Elas Espero que voltemos a ver investimento e estímulo à ciência no país Assim como o vírus, violência contra a mulher também cruza fronteiras [ Tenho a convicção de que a valorização de todos os profissionais da saúde será um legado inquestionável. (...) Ainda estamos nomeio da crise, e todos têm trabalhado de forma incansável e destemida, lutando contra um inimigo invisível e que impõe tanto sofrimento para pacientes e seus familiares [ Pandemias como a do ebola nos ensinaram que mulheres em situação de risco experimentam uma vulnerabilidade aindamaior quando há crises humanitárias. Em contextos análogos, é comum o aumento de denúncias de violência doméstica, além de números elevados de tráfico demulheres e casamentos e prostituição infantis Em charge de JoãoMontanaro, a turma do Scooby-Doo desmascara o vilão Jair Bolsonaro a eee poder A4 QUARTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2020 Jornal filiado ao IVC Circulação paga às quartas de mar.2020, impresso mais digitais (IVC) 321.680 exemplares Páginas vistas no site da Folha emmar.2020 (Google Analytics) 404.556.455 Visitantes únicos no site da Folha emmar.2020 (Google Analytics) 69.769.423 O idiota debochando dasmortes. Amarca de um presidente sem empatia, doente: ‘e eu com isso?’ De Elena Landau, ex-diretora do BNDES, sobre Jair Bolsonaro ter dito “e daí” sobre recorde demortos por coronavírus no Brasil TIROTEIO comMariana Carneiro e Guilherme Seto Nomeado por vontade de Jair Bolsonaro, Alexandre Ramagem acenou para alvos do presidente em sua primeira reunião como diretor-geral. O delegado fez nominalmenteelogiosaossuperintendentesdoRioe dePernambuco.SergioMorodisseemsuasaídaqueo presidentequeriasubstitui-lossemmotivo.Ramagem tambémquisseposicionaremrelaçãoaoex-ministro, fazendomençãopositivaadoisdelegadossabidamen- te ligados ao ex-juiz. Odiretor pediu tranquilidade. Bandeira branca seguro Ramagemdisse ain- da que a PF possui controles suficientes, o que levou à in- terpretaçãodequeelequisdi- zer que o órgão está protegi- dode interferências. paz Alémdos27superinten- dentes convidados, partici- param da reunião os atuais diretores e o ex-diretor-geral MaurícioValeixo.Osdoistro- caramhomenagens.Aforma de transmissão do cargo foi elogiadapordelegados, con- siderada civilizada. emtroca Ramagemdeuindi- cações de que vaimanter no cargo a superintendente de Pernambuco, Carla Patrícia. Eledissenoencontro virtual que vai mexer na diretoria, mas sem pressa. Como con- tou o Painel, alguns dos atu- ais integrantesdacúpulavão para fora dopaís. apoio EmseuperfilnoTwit- ter,RebecaRamagem,mulher donovodiretor-geral,tempro- movido algumas das pautas maiscontroversasdogoverno e tem atacado políticos com os quais o presidente temvi- vido relação tensa. oposição Rebecatempedido com frequência o impeach- ment do governador de São Paulo,JoãoDoria(PSDB),ediz que ele é pior que o ex-presi- denteLula (PT).Ela também criticaopresidentedaCâma- ra, RodrigoMaia (DEM-RJ), e defendevotaçãopopularpa- raocargoempostagenscon- tra odeputado. corrente Rebeca também postou críticas à imprensa. Ashashtagsmaisusadas: em abrilpediu#jejumpeloBrasil; emmarço,#oBrasilnãopode- parar,#Jairnãocainemapaue #Dia15EuVouPeloJair, sobre atos em apoio ao presidente que foram condenados por organizações de saúde para evitar aglomerações. sigodevolta OPaineltentou falar comRebeca Ramagem, mas não conseguiu. O perfil comonomedela eraumdos 18 seguidospelacontaoficial de Ramagematé a noite des- ta terça (28). vaitarde JairBolsonaronão deumais informaçõesa seus ministrossobreasacusações feitas por SergioMoro na úl- tima sexta (24). Para auxilia- res, o presidente deu sinais, em reunião nesta terça (28), de que estava aliviado e se li- mitou a dizer que se sentia tranquilo.Disseagoraera“bo- la pra frente”. com carinho O presidente reiterou,emprivado,oafago público feito a Paulo Guedes —repetiu aos ministros que ele é o responsável pela eco- nomia. O plano pilotado por Braga Netto (Casa Civil) que gerouacrisecomosupermi- nistro, no entanto, segue em construção.Novareuniãotéc- nicaocorreunestaterça(28). merchan Coube a Roberto Campos Neto (Banco Cen- tral) apresentar aos colegas indicadoresfinanceiros,pon- tuando que o risco de dete- rioração fiscal da última se- mana mexeu com os inves- tidores. Ele aproveitou para tentar limpar a barra do se- torbancário, acusadode tra- varodinheiroenãorepassar a pequenas empresas. embaixador AndréMendon- ça, indicadoparaaJustiça, fez umdiscurso aos colegas que foielogiado.Nãofezmençãoa Moroedissequepretendese- guir na linha dodiálogo com as cortes superiores. morosaiu Ministrosaponta- ramdiferençaentreostchaus deLuizHenriqueMandettae deSergioMorodogoverno.O primeirosedespediudosco- legasnogrupodeWhatsApp e recebeuelogiosnapartida. Moro apenas saiu do grupo. partilha Emcarta ao presi- dente do Senado, Davi Alco- lumbre (DEM-AP), a associ- ação de secretários de finan- çasdascapitaispedequeocri- tério para a divisão da verba que o governo federal repas- saráaestadosemunicípiosse- ja o de recomposição de per- das de arrecadação. Isso da- ria àsgrandescidadesvanta- gemsobreasmenores—que, porsuavez,têmmenoscasos deCovid-19. Camila Mattoso painel@grupofolha.com.brPAINEL MG, PR, RJ, SP R$ 5 (seg. a sáb.) R$ 7 (domingo) Redação São Paulo Al. Barão de Limeira, 425 | Campos Elíseos | 01202-900 | (11) 3224-3222 Atendimento ao assinante (11) 3224-3090 | 0800-775-8080 Ombudsman ombudsman@grupofolha.com.br | 0800-015-9000 Assine a Folha assine.folha.com.br | 0800-015-8000 Venda avulsa ES, GO, MT, MS, RS R$ 6 R$ 8,50 DF, SC R$ 5,50 R$ 8 AL, BA, PE, SE, TO R$ 9,25 R$ 11 Outros estados R$ 10 R$ 11,50 Assinatura semestral à vista com entrega domiciliar diária Carga tributária 3,65% MG, PR, RJ, SP R$ 685 ES, GO, MT, MS, RS R$ 1.089 DF, SC R$ 858 AL, BA, PE, SE, TO R$ 1.177 Outros estados R$ 1.460 GRUPO FOLHA brasília Após a saída de Ser- gioMorodogovernosobaale- gaçãode interferênciapolíti- canaPolíciaFederal,anome- açãodonovodiretor-geralda corporação pelo presidente Jair Bolsonaro virou alvo de umasériedeaçõesnaJustiça ederesistêncianoCongresso. BolsonarooficializounoDi- árioOficialdestaterça(29)os nomesdoadvogadoAndréde AlmeidaMendonça, 47, para substituirMoronoMinistério da Justiça e do delegadoAle- xandre Ramagem, 48, para a vaga de Maurício Valeixo na Diretoria-Geral da PF. “Terrivelmente evangéli- co” nas palavras de Bolsona- ro,Mendonça já era chefeda AGU(AdvocaciaGeraldaUni-ão)econsideradopelopresi- dente, para atender sua ba- se religiosa, como um possí- vel nomea ser indicadopara uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal). A nomeação foi elogiada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ad- versário de Bolsonaro, para quemMendonça “é um qua- dropreparadoeequilibrado”. Já a indicação de Rama- gem,amigodoclãBolsonaro que era diretor-geral daAbin (Agência Brasileira de Inteli- gência),motivouumaofensi- va judicial para barrá-la, ten- do em vista os interesses da famíliaedealiadoseminves- tigações daPolícia Federal. O plano de troca da chefia daPFfoiestopimdasaídade Moro.Oex-ministrodisseque Bolsonaroqueriaterumapes- soadocontatopessoaldeleno comandodacorporaçãopara poder“colherinformações”e “relatórios” diretamente. Nesta terça, Bolsonarodis- se que a investigação da PF sobre a facada que ele levou durante a campanha eleito- ral em 2018 foi “negligencia- da” e será reaberta. A decla- ração foi dada por Bolsona- ro a apoiadores na frente do Palácio daAlvorada. “Vai ser reaberta a investi- gação. Vai fazer a investiga- ção.Foinegligenciado”,disse. Nomomento,aindaháuma apuração da PF sobre a faca- da.Ainvestigação,quebusca eventuais mandantes, com- parsas ou financiadores do atentado,atéomomentodes- cartou essa hipótese. Noprimeiroinquéritosobre oepisódio,aPFconcluiuque AdélioBispo,autordafacada, agiusozinhoesofredetrans- tornosmentais.Elefoidecla- rado inimputável. DiantedanomeaçãodeRa- magem,partidosemovimen- tos políticos entraram com açõesjudiciaisparatentarim- pediraposse,marcadaparaas 15hdestaquarta(29).Elesale- gam“abusodepoder”e“des- viodefinalidade”naescolha. No fim da tarde desta ter- ça, havia ao menos seis pro- cessos pedindo a suspensão da nomeação, alegando que Bolsonaro praticou “apare- lhamento particular” ao in- dicá-lo para a função. A base dos pedidos é a de- núncia deMoroalegando in- terferência do presidente da RepúblicanaPolíciaFederal. RodrigoMais disse queRa- magem terá “dificuldade na corporação, na forma como ficoupolêmica a sua nomea- ção”. “A gente sabe que a Po- lícia Federal é uma corpora- ção muito unida, que traba- lhade formamuito indepen- dente.Qualquertipodeinter- ferênciaésemprerechaçado. A gente viu emoutros gover- nos.Maseunãoconheço[Ra- magem]”,disseaoapresenta- dorJoséLuizDatena,daBand. Ramagemseaproximouda família Bolsonaro durante a campanha de 2018, quando comandou a segurança do então candidato a presiden- te depois da facada. O vereador Carlos Bolso- naro (Republicanos) esteve à frentedadecisãoque levou Ramagem ao comando da Abin. No sábado (25), a Fo- lhamostrouqueumaapura- çãocomandadapeloSTF,com participaçãodeequipesdaPF, temindíciosdeenvolvimento deCarlosemumesquemade disseminaçãode fakenews. Na noite de segunda (27), Bolsonaro disse não haver esquema de notícias falsas. “MeuDeusdocéu.Issoéliber- dadedeexpressão.Vocêsde- veriamserosprimeirosa ser contra a CPI das Fake News. O tempo todo o objetivo da CPI émedesgastar”. OPDTentroucomumman- dadodesegurançanoSTFale- gando “abuso de poder por desvio de finalidade” com a nomeação do delegado para aPF.Orelatorseráoministro AlexandredeMoraes. Umoutrocasorelatadopor Moraesestáentreosmotivos que levaram à demissão do antigodiretor geral Valeixo. NomeaçãodeBolsonaro paraPFgeraações judiciais e resistêncianoCongresso Pedidos na Justiça questionam indicação de amigo da família presidencial; inquérito sobre facada será reaberto, diz presidente Jair Bolsonaro exibe alvo em estande de tiro em vídeo publicado namanhã desta terça Jair Bolsonaro no Facebook “ A gente sabe que a Polícia Federal é uma corpo- raçãomuito unida, que trabalha de formamuito independen- te. Qualquer tipo de interferência é sempre rechaçado. A gente viu emoutros governos RodrigoMaia presidente da Câmara, sobre a nomeação de Alexandre Ramagem Em trocas de mensagens apresentadaporMoro,Bolso- naro pede a troca de coman- donaPFcombaseemumain- formaçãodequeacorporação estaria investigandodeputa- dosbolsonaristas.Emrespos- ta, Moro diz que a investiga- çãoéconduzidaporMoraes. A Rede Sustentabilidade também entrou no STF con- tra a nomeação. Apresentou ADPF (Ação de Descumpri- mentodePreceitoFundamen- tal) afirmando que conversa poraplicativoentreBolsonaro eMoro“demonstradeforma inequívoca a vontade de in- terferênciaeminvestigações”. ParaosenadorRandolfeRo- drigues(AP), líderdasiglano Senado,apesardepreencher osrequisitosestritamentele- gais,anomeaçãoé“umaten- tativadeBolsonarocontrolar eabafar investigaçõesdains- tituiçãoqueenvolvemseusfa- miliares e conhecidos”. Randolfe, ao lado do sena- dor Fabiano Contarato (ES), é autor de outra ação no Ju- diciário. Os parlamentares pedirampara que fosse anu- lada a exoneração de Valei- xo e suspensas novas nome- ações. A ofensiva, porém, foi rejeitadapelo juizEdLeal,da 22ª Vara Federal Cível do DF. Os advogados da Rede avisa- ramque irão recorrer. O PSOL, através do depu- tado federal Marcelo Freixo (RJ), entrou com ação, mas preferiu contestar a nomea- ção à primeira instância da Justiça. “Não permitiremos queopresidente transforme a PF numa polícia política a serviçoda família”, afirmou. AdeputadaTabataAmaral (PDT-SP)ingressoucomação naJustiçaFederalemBrasília pedindo para que Ramagem seja proibidode assumir. O coordenador do Movi- mentoBrasilLivre(MBL),Ru- binhoNunes,confirmouque ogrupopolítico tambémen- troucomaçãocontraaposse. ReservadamenteàFolha in- tegrantesdoSTFavaliamque nãoháimpedimentoparaRa- magemassumirocargomes- mo tendo ligações com o clã Bolsonaro.Osministrosouvi- doslembram,noentanto,que ohistóricorecentedoSupre- modemonstraqueocenário políticoé levadoemconside- ração emdecisões do tipo. Renato Onofre, Matheus Teixeira, Gustavo Uribe e Danielle Brant a eee QUARTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2020 A5 Especialista brasileiro destaca que China é referência no combate à COVID-19 Pessoas compram comida emWuhan, capital da Província de Hubei, centro da China, em 16 de abril de 2020. A vida emWuhan está gradualmente voltando ao normal quando a epidemia de coronavírus diminui. (Xinhua/Shen Bohan) Um homem recebe verificação de código de saúde emedição de temperatura corporal na entrada de um supermercado em Suifenhe, Província de Heilongjiang, nordeste da China, em 17 de abril de 2020. (Xinhua/Zhang Tao) INFORMEPUBLICITÁRIO A China se tornou um exemplo e uma referência na luta contra a doença do novo coronavírus (COVID-19), segundo explicou o especialista brasileiro, Evandro Menezes de Carvalho. Menezes de Carvalho, coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China da Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), lembrou que aCOVID-19 “tem sido considerada por diversas autoridades internacionais um dos maiores desafios para as nações desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Esta epidemia tem sido considerada pelo governo chinês como a maior e mais difícil emergência de saúde pública do país desde a fundação da República Popular da China em 1949.” “É por isto que o governo chinês considera o combate à COVID-19 um grande teste para o sistema chinês e a capacidade de governança de um país com quase 1,4 bilhão de pessoas. E talvez o combate à COVID-19 seja um grande teste para todos os sistemas políticos de todos os países”, comentou. Como um bom conhecedor da China, Menezes enfatizou que o país “tem se tornado uma referência e um aliado na luta contra a COVID-19” por ter sido o primeiro país a sofrer comovírus,eenfatizouqueopaís “temmostrado capacidade para tomar medidas rápidas e eficazes” que separou em três categorias. A China, ao implementar quarentena estrita na cidade de Wuhan, em 23 de janeiro deste ano, além de em outras cidades do entorno, e outras medidas restritivas com maior ou menor restrição quanto ao isolamento social em demais regiões do país, preveniu 700 mil casos de infecção pelo novo coronavírus até fevereiro, segundo o ministro-conselheiro da Embaixada da China no Brasil, Qu Yuhui. O diplomata destacou o esforço, a responsabilidade e o sacrifício da população chinesa para controlar a doença no país. Eledestacou que ainda não há o que celebrar, e não haverá o fim da epidemia até que o último país vença a doença, independentemente de quantos “A primeira, as medidas de contenção da propagação do vírus visando estancar o aumento dos casos de infecção ao isolar a cidade de Wuhan com mais de 10 milhões de pessoas”, e também “determinar que todas as regiões de nível provincial cancelassem eventos em massa, suspendessem as viagens de ônibus de longa distância e fechassem pontos turísticos”. A segunda medida que detalhou foi “as medidas para atendimento médico em grande escala, ao construir hospitais em um curto espaço de tempo e enviar para Hubei equipes médicas oriundas de várias partes do país”. A terceira foi “a responsabilidade ao substituir os chefes do Partido na Província de Hubei e na cidade de Wuhan e demitir funcionários locais, que foram relapsos no exercício de suas atribuições e na identificação e controle do vírus”. O especialista brasileiro destacou que “a China também atuou no plano internacional para evitar a propagação do vírus” e que “como membro da Organização Mundial da Saúde (OMS), abriu um canal de diálogo com o diretor- geral desta organização para discutir as ações necessárias para a gestão global no combate à epidemia além de ter doado àOMS”. Ademais, destacou que “a ação chinesa também se deu no plano das relações bilaterais. O país forneceu suprimentos médicos e kits de testes para identificação do vírus para a Itália, a República da Coreia e o Japão. Além disso, a China enviou especialistas para o Irã, Iraque e Itália para colaborar com os esforços de contenção da epidemia.” Para Menezes, “algumas das lições aprendidas pela China foram transformadas em medidas jurídicas visando evitar o surgimento de uma nova epidemia e sobretudo aprimorar o sistema de saúde pública”, proibindo e punindo “o comércio ilegal de animais silvestres com o intuito de prevenir os riscos à saúde pública”. Segundo ele, a experiência chinesa mostrou que no combate à epidemia é preciso ter “eficiência nas medidas de contenção do vírus, transparência nas informações e no processo de tomada de decisão dos governos e solidariedade entre as pessoas e entre os povos envolvidos”. “Estas três dimensões são importantes para pensarmos os desafios dos sistemas políticos e de governança no plano doméstico e a ação dos Estados nas organizações internacionais para lidar com situações de emergência”, destacou. Menezes alertou que “todos os países parecem ter demonstrado ao menos uma falha em uma destas dimensões no trato do combate ao vírus, cujas consequências têm sido fatais: na eficiência das medidas de contenção do vírus, na transparência das informações e no processo de tomada de decisão dos governos e na solidariedade entre as pessoas e entre os povos envolvidos”. O especialista criticou que “os líderes ineficientes são um desastre para qualquer sistema político. E se torna ainda pior quando ignoram ou fazem pouco caso da ciência. A política nunca terá êxito contra a verdade científica.” Segundo ele, “o mundo provavelmente não será o mesmo após a epidemia, e talvez outras lições poderão ser tiradas desta dolorosa experiência mundial”, dentre as quais citou que “os Estados serão forçados a discutirem suas políticas econômicas em razão das pressões sociais internas com os defensores do ‘Estado mínimo’ perdendo espaço e os defensores de um socialismo adaptado às circunstâncias atuais ganhandomais voz”. Também previu que “a ciência e a tecnologia assumirão uma importância capital para a promoção do bem-estar social e para a garantia da boa governança” e que “a agenda em defesa de padrões de desenvolvimento sustentáveis e que respeite o meio ambiente ganhará novo ímpeto”. Além disso, “a ordem internacional poderá sofrer mudanças substantivas diante da necessidade de se reformar urgentemente as organizações internacionais e fortalecer o papel do multilateralismo, e países como a China poderão ter um papel ainda maior no sistema internacional”. Quarentena na China preveniu 700mil casos de coronavírus até fevereiro COVID-19 conciliamedicina tradicional chinesa emedicina ocidental países adotem medidas adequadas ou não. Segundo ele, ainda não é tempo para relaxar. Para o ministro-conselheiro, China e Brasil têm muito a cooperar, e a tarefa primordial no momento é o combate à COVID-19, mas a concertação em relação a políticas macroeconômicas e em áreas de comércio e investimento são fundamentais, especialmente no período posterior à pandemia. “Nossas economias são muito complementares, temos necessidades cotidianas e estratégicas para fomentar a cooperação. É importante acrescentar tijolos a esta construção, em vez de retirar os alicerces deste edifício, ou mesmo danificá-lo”, comparouQu. “Respeitamos muito a política externa do Brasil, que temsidosemprevoltadaaoequilíbrio, à diversidade e à independência, e esperamos que isso continue. Vamos sempre tratar o Brasil como parceiro estratégico e um país amigo”, afirmou o diplomata. ATAQUES RACISTAS PREOCUPAM Ataques racistas que têm a China ou os chineses como alvos preocupam, diz o ministro- conselheiro. Segundo ele, ainda que o primeiro surto do novo coronavírus tenha sido registrado na China, a origem do vírus ainda é pesquisada. Para além disso, lembra o diplomata, tanto a comunidade internacionalquantoaOrganização Mundial da Saúde (OMS) se opõem à associação de um vírus a determinado país ou região, a fim de evitar politização ou estigmatização. No Brasil, afirma Qu, ainda que haja ataques xenófobos dirigidos à China, especialmente nas redes sociais, ele acredita que esta opinião não representa a maioria da população brasileira. Sobre declarações racistas vindas de integrantes do governo e da política, como caso do ministro da Educação brasileiro, Abraham Weintraub, o diplomata acredita que esta não é hora de declarações irresponsáveis, mas que o relacionamento sino-brasileiro é de longo prazo, construído há gerações e hoje sólido emaduro. “Não sóagora,masno futuro, a parceria sino- brasileira continuará importante para ambos os países. Lamentamos muito que pessoas não queiram cooperar neste contexto atual. Nós não vamos deixar de trabalhar, e preservaremos as conquistas já alcançadas, além de contra- atacarmos as teorias da conspiração”, disse Qu em relação à postura chinesa. Oministro-conselheiro lembrou que a China respeita o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que conversou por telefone há três semanas com o presidente chinês, Xi Jinping. Segundo ele, houve concordância em diversos aspectos, inclusive em realizar esforços conjuntos no combate à COVID-19. “Acreditamos que esta é a posição oficial do governo brasileiro”, afirmou Qu. AJUDACHINESANOEXTERIOR Qudestacaquetodosospaísesdevemseunir numabatalha a um inimigo comum, aCOVID-19. Nestemomento, informao diplomata, o governo chinês está prestando auxílio a 127 países e a quatro organizações internacionais, doando ou vendendo equipamentos de proteção pessoal, kits para testes e equipamentos, como respiradores. Hoje, informou o diplomata, 70 nações e entidades negociam a compra de suprimentos hospitalares com a China. Quando se pensa em respiradores, a China é responsável pela produção de um a cada cinco deste tipo de equipamento no mundo. Os respiradores mais sofisticados, conhecidos como invasivos, são produzidos por apenas 21 companhias na China que, em média, podem fazer mil aparelhos por mês, cada. No entanto, estas dependem de peças vindas do exterior, especialmente da União Europeia que, assim comoos EUA, proibiu exportações destes equipamentos e de seus suprimentos. “Há um problema nas cadeias globais de valor, no suprimento de insumos. O governo chinês tem apoiado o desenvolvimento de peças nacionais para utilização nos respiradores, mas leva tempo. Além disso, a mão de obra utilizada para constituir estes respiradores também é especializada, e não há muitos profissionais capacitados”, explicou Qu, que afirmou que as encomendas de novos respiradores estão sendo recebidas paraentrega apenas em outubro. Ele garantiu que não há preferência por compradores, e que os negócios são feitos diretamente com empresas privadas. O governo chinês, no entanto, oferece uma listagem de fornecedores que, além de serem idôneos, obedecem a padrões de diferentes países na fabricação dos equipamentos. A Embaixada no Brasil está auxiliando tanto o Ministério da Saúde quanto os governos estaduais do Brasil em relação a fornecedores e distribuidores idôneos e pode auxiliar em alguns casos em que surjam entraves burocráticos em temas como logística e transporte. Até agora, muitas equipes médicas chinesas já viajaram a diversos países para prestar aconselhamento a médicos locais. Por meio de videoconferência, os profissionais de saúde chineses se reuniram com seus colegas de 150 países ou organizações internacionais, incluindo o Brasil. O país sul-americano também recebeu doaçõesou irá receber suprimentoshospitalares de empresas chinesas. Há 10 províncias ou municípios da China que já enviaram ou estão preparando doações para seus estados ou municípios brasileiros irmãos. AEXPERIÊNCIA CHINESACOMA QUARENTENA “Estamos perante uma doença muito perigosa e desconhecida. Talvez só conheçamos 10% sobre a COVID-19, e nesta circunstância, cuidado nunca é demais”, disse Qu. Segundo ele, a quarentena iniciada em Wuhan garantiu que a China e o mundo ganhasse tempo para estudar a pandemia, tornando-a uma ferramenta essencial. “Nossa lição é de que é possível compatibilizar o controle da doença e o desenvolvimento socioeconômico”, acredita o ministro-conselheiro. Para ele, o governo tem um papel imprescindível no processo, garantindomedidas abrangentes e sistemáticas que garantam implementação de controle da doença e giro da economia. Da população, é preciso “respeito e um maior senso de disciplina. Não adianta que 90% da população faça quarentena, se 10% não fizer, anula os esforços dos demais”, diz o diplomata. Ele destacou que a China ainda está cautelosa em relação a medicamentos para a cura da COVID-19, e o único consenso é de que não há um único medicamento que tenha sido comprovado seguro ou eficiente. Em relação a O uso conjunto da medicina tradicional chinesa (MTC) e da medicina ocidental tornou- se um destaque durante a batalha da China contra a COVID-19. Segundo os médicos chineses, uma troca aberta de conhecimentos e ideias entre aMTC e amedicina ocidental pode ser benéfica, pois não foram encontrados remédios específicos para curar a doença. “Nunca pensei que a MTC precisava demonstrar sua sabedoria ao fazer uma reivindicação exclusiva para curar a COVID-19”, disse Liu Qingquan, presidente do Hospital da Medicina Tradicional Chinesa de Beijing e chefe do primeiro hospital temporário totalmente apoiado por médicos e trabalhadores médicos daMTC emWuhan. Tanto os médicos na medicina ocidental quanto os naMTCmonitoramos sinais vitais dos pacientes. No hospital administrado por Liu, todos os pacientes fizeram exames como tomografia computadorizada, hemograma e esfregaços na garganta. Os testes de diagnóstico podem ajudar no diagnóstico e seria ótimo se alguns compostos químicos pudessem atingir com precisão o patógeno, disse Liu. Mas sem uma cura certa, aMTC e amedicina ocidental precisam trabalhar juntos. Para a prevenção e casos leves, médicos de todo o mundo afirmam que a imunidade é a melhor proteção contra o novo coronavírus. Fortalecer o sistema imunológico ou restaurar o equilíbrio interno para afastar o vírus é a teoria daMTC para lidar com a doença. A medicina ocidental é mais centrada em doenças e sintomas, enquanto aMTC tende a ser mais centrada no paciente. As condições gerais de um paciente, do nível microscópico à visão holística, são levadas em consideração. A combinação da MTC com a medicina ocidental deu ao hospital de Liu três “zeros”: zero paciente apresentou resultado positivo novamente após receber alta; zero caso leve se tornou grave ou crítico; e zero equipe hospitalar infectada. Estes foram significativos em conter a disseminação da doença. Para casos graves e críticos, o uso de tratamentos ocidentais de apoio, como ventiladores e máquinas de ECMO (oxigenação por membrana extracorpórea), que assumem o trabalho dos pulmões, é muito importante, aliviando os sintomas e prevenindo eventos adversos, afirmou Liu. A MTC também foi provada desempenhar um papel complementar na terapia intensiva. Por exemplo, foi descoberto que uma injeção da MTC chamada Xuebiqing é eficaz contra a tempestade de citocinas, uma reação exagerada do sistema imunológico que é causa da morte dos pacientes grave e criticamente doentes com COVID-19, de acordo com Liu. “Afinal, o objetivo de qualquer medicina, ocidental ou MTC, é ajudar as pessoas a se recuperarem da doença”, disse Liu. vacinas, EUA e China lideram pesquisas na área. “A China já começou a fazer testes em seres humanos há três semanas, mas não se sabe quando vai estar pronta. Leva de um ano a um ano e meio para que uma vacina seja lançada no mercado. Além de esforços nacionais, há muitos esforços de pesquisa conjunta nesta área, incluindo China e EUA”, contou o diplomata. a eee poder A6 QUARTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2020 Quemsãoosnovos titularesda JustiçaedaPF Mendonça substitui Moro com aval da ala militar, e Ramagem tem apoio do clã presidencial para vaga de Valeixo Chefe da PF dirigiu Abin e é homemde confiança do presidente e dos filhos -Gustavo Uribe e Italo Nogueira brasíliaeriodejaneiro Opre- sidente JairBolsonaro (sem partido)nomeou,nesta ter- ça-feira(28),odelegadoAle- xandreRamagem,48,parao comandodaPolíciaFederal. A troca na direção-geral da PF foi o estopim para o pe- dido de demissão de Sergio MorodoMinistériodaJusti- ça, na semanapassada. Deacordocomoagoraex- ministro, Bolsonaro queria trocar o diretor-geral da PF para ter acesso a informa- ções e relatórios confiden- ciais de inteligência. Nosábado(25),aFolhadi- vulgouque,eminquéritosi- giloso conduzido pelo STF (Supremo Tribunal Fede- ral), a PF identificouo vere- ador Carlos Bolsonaro (Re- publicanos), filho do presi- dente, comoumdosarticu- ladoresdeumesquemacri- minosode fakenews. Ramagem era diretor-ge- ral da Abin (Agência Brasi- leirade Inteligência) e ého- memdeconfiançadopresi- dente ede seusfilhos.Dele- gadodecarreiradaPF,elese aproximoudafamíliaBolso- naro na campanha de 2018, quando comandou a segu- rançado então candidato. CarlosBolsonaroéumdos seusprincipaisfiadoresees- tevediretamenteàfrenteda decisão que o levou ao co- mando da agência de inte- ligência em junhopassado. Oavaldo“filho02”foicon- quistadoduranteacrisepo- líticaquelevouàsaídadoen- tão ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Santos Cruz. Ramagem era assessor especial da pasta e se manteve fiel à família. Santos Cruz caiu após ata- ques do “gabinete do ódio” comandadoporCarlos. Nestedomingo(26),opre- sidenterespondeuaumase- guidoranasredessociaisque questionouarelaçãodeami- zadedeRamagemcomosfi- lhos.“Edaí?Antesdeconhe- cer meus filhos eu conheci o Ramagem. Por isso, deve ser vetado? Devo escolher alguémamigodequem?” Delegado da PF desde 2005,Ramagemcomandou, de 2013 a 2014, a Divisão de AdministraçãodeRecursos Humanos e a de Estudos, Legislações e Pareceres, de 2016 a 2017. Atuou na coor- denaçãodegrandeseventos nopaísnosúltimosanos,co- moaConferênciadasNações Unidas Rio+20 (2012), a Co- padasConfederações(2013), a CopadoMundo (2014) e a OlimpíadadoRio (2016). Em2017, integrouaequipe Agoraministro, pastor e ex-AGU se fortalece para vaga no Supremo -Gustavo Uribe brasília O substituto de Ser- gioMoronoMinistériodaJus- tiça e Segurança Pública dei- xa aAdvocacia-Geral daUni- ão para ocupar a vaga. An- dréMendonça, que também é pastor da Igreja Presbite- riana Esperança de Brasília, integrava a AGU desde 2000, quandoencerrousuaativida- decomoadvogadoconcursa- dodaPetrobras (1997-2000). Em outubro de 2002 o ad- vogado publicou no jornal Folha de Londrina um arti- go sobre a eleição do ex-pre- sidente Lula (PT). Intitulado “O povo se dá umaoportunidade”, o texto temtomotimista.Nele,Men- donça afirma que “o Brasil cresceueseupovoamadure- ceu, restando consolidada a democracia não só porque o novopresidentefoieleitope- lo povo, mas porque saiu do próprio povo”. “Fato inéditonoBrasil.Um país, até então, governado por reis, por presidentes es- colhidosemgabinetesouain- daquandoeleitos, lideranças formadasnascamadassociais maisprivilegiadas,semexpe- riência vivencial com a reali- dadedosmilhõesdebrasilei- rosmiseráveisemarginaliza- dos (...),pelospróximosqua- tro anos será governado por um líder popular”, escreveu. Horasdepoisdesuanome- açãotersidopublicada,Men- donçafezumapublicaçãonas redessociaisemacenoaopre- sidente. “AgradeçoaopresidenteJair Bolsonaroporconfiaramim amissãodeconduziraspolíti- caspúblicasdeJustiçaeSegu- rançadonossopaís”,escreveu. O novoministro da Justiça afirmouqueseucompromis- so“écontinuardesenvolven- dootrabalhotécnicoquetem pautadominha vida”. Evangélico, disse contar com o apoio do povo brasi- leiroeencerroupedindo“que Deusnos abençoe”. Mendonçafoicorregedorda AGUnagestãodeFabioMedi- naOsório,nogovernoMichel Temer. Ele chegou ao gover- no Bolsonaro por indicação doministrodaCGU(Contro- ladoriaGeraldaUnião),Wag- ner Rosário, com o apoio da bancada evangélica. A sua transferência para a Justiça teve o apoio da cúpu- la militar e a articulação do presidentedoSTF(Supremo Tribunal Federal), José Dias Toffoli. A expectativa agora éadequeelemelhorea rela- ção de Bolsonaro com o Po- der Judiciário. AtransferênciadeMendon- çafortaleceaindicaçãodeseu nomepara umadas duas va- Alexandre Ramagem (camisa xadrez) em festa de Réveillon comCarlos Bolsonaro e amigos Carlos Bolsonaro no Instagram AndréMendonça abraça Bolsonaro na posse deNelson Teich noMinistério da Saúde Pedro Ladeira - 17.abr.20/Folhapress gas a que Bolsonaro terá di- reito de preencher no STF. O presidente já disse que con- sidera oministro, a quem se referiu como “terrivelmente evangélico”,aumdospostos. Aindicaçãoatenderiaaum apelodabancadaevangélica, que pediu ao presidente que umrepresentantedeles ocu- peumcargonoSupremo,na tentativadetornaroperfilda cortemais conservador. Pelocritériodeaposentado- ria compulsória aos 75 anos, aspróximasvagasserãoasde CelsodeMello,emnovembro, eMarcoAurélioMello,emju- lhode2021.Opresidenteindi- caonome,quedeveserapro- vadoemseguidapeloSenado. MendonçaconheceuBolso- naro em 21 de novembro de 2018, no dia emque foi esco- lhidoparacomandaraAGU.A conversa,nogabinetedatran- siçãonoCCBB(CentroCultu- ral BancodoBrasil) deBrasí- lia,duroucercade40minutos. O então presidente eleito nada perguntou. Os questio- namentosficaramacargodo generalAugustoHeleno,que assumiriaoGSI(Gabinetede SegurançaInstitucional),ede Jorge Oliveira, hoje ministro da Secretaria-Geral da Presi- dência—responsávelporana- lisarocurrículodeMendonça e apresentá-lo ao chefe. Mendonça costuma dizer que “mais do que falar, você precisa ouvir para entender a realidade”. Naquele dia, no entanto,ele fezum“bomjoc- key”,disseBolsonaro,paraem seguidaexplicar: “Naáreami- litar,quandoumcaraestá in- do bem, a gente diz que es- tá em um bom jockey. Pode continuar!”. Mendonça fez na ocasião uma análise política da elei- çãodeBolsonaroe seu signi- ficadoparaosrumosdopaís. O futuro AGUdisse ao pre- sidente eleito que, como ele havia sepropostoagovernar nacontramãodopresidenci- alismo de coalizão, constru- indoumanova formadediá- logoerelacionamentocomo Congresso,enfrentariaumpe- ríododemaiorresistênciada chamadapolíticatradicional. Com a nomeação de Men- donça,atendênciaéqueBol- sonarofaçaumacisãonoMi- nistério da Justiça e recrie a pasta da SegurançaPública. Nesse caso, a expectativa de assessores do presidente équeelenomeieosecretário de segurança pública doDis- trito Federal, Anderson Oli- veira, para a função. Ander- soncontacomoapoiodoex- deputadofederalAlbertoFra- ga (DEM-DF), amigodoprte- sidenteBolsonaro. responsávelpelainvestigação e inteligência de polícia judi- ciárianaOperaçãoLava Jato. Emumadasaçõesquecoman- dou,aOperaçãoCadeiaVelha, ocorreuaprisãodeintegran- tes da cúpula da Assembleia LegislativadoRiode Janeiro. Em 2018, antes de atuar na segurançadeBolsonaro,assu- miuaCoordenaçãodeRecur- sosHumanosdaPF,nacondi- çãodesubstituto.Emjaneiro de2019, foiparaSecretariade Governoe,de lá,paraaAbin. FoiRamagemquemcoman- dou a operação cujo desdo- bramentoproduziuoprimei- ro relatório sobre Fabrício Queiroz,suspeitodeseroope- radorda“rachadinha”noan- tigogabinetedeFlávioBolso- naronaAssembleia doRio. Ramagem foi o responsá- vel na PF pela Operação Ca- deia Velha, que prendeu em novembrode2017 trêsdepu- tadosestaduaisdacúpulado MDB-RJ(JorgePicciani,Paulo MeloeEdsonAlbertassi).Na ocasião,odelegadoeraores- ponsávelporcoordenarotra- balhodaPFjuntoaoTribunal RegionalFederalda2ªRegião, no Rio—foro no qual os de- putados foram investigados. Asegundafasedessainvesti- gaçãofoiaFurnadaOnça,cu- jo iníciocontoucomorelató- riofederalquecitavaasmovi- mentaçõessuspeitasdeR$1,2 milhão de Queiroz e outros 74 assessores dedeputados. RamagemnãoatuounaFur- na daOnçana PF e encerrou seu relatório sobre a Cadeia Velha em dezembro de 2017. O relatório federal de inteli- gênciafinanceiraqueindicou amovimentação de Queiroz foi produzido e enviado aos órgãosdeinvestigaçãoemja- neiro de 2018. O novo diretor-geral da PF foiemabrilparaaDireçãode GestãodePessoal,emBrasília. APFnãoquis informarquan- doeledeixoudeatuarnoTRF- 2.Segundorelatosouvidospe- laFolha, elenãotevecontato formalcomoconteúdodain- vestigaçãodaFurnadaOnça. Nodia29deoutubro,Rama- gem assumiu a coordenação de segurançadeBolsonaro. JáQueiroz foidemitidoem 15deoutubro, duas semanas antes de o delegado ser inte- grado à campanha de Bolso- naro.Amigodopresidentehá 34 anos, o ex-assessor foi de- mitido emmeio ao segundo turnodadisputapresidencial. O senador Flávio Bolsona- ro afirmouqueoex-assessor foi exonerado do cargo após 11anosdeserviçoparacuidar desuaaposentadorianaPolí- ciaMilitar, que foi obtida em novembrode 2018. a eee QUARTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2020 A7 Informação na palma damão: omelhor remédio A Folha lança a FolhaMed, uma assinatura pensada para os profissionais que atuam na área médica. Ela dá acesso a todo o conteúdo do jornal e conta também com uma newsletter exclusiva que apresenta notícias, reportagens, entrevistas e os avanços em tratamentos médicos, além das principais notícias e colunas da semana. Acompanhe os conteúdos exclusivos pelo seu computador, tablet ou celular e esteja sempre atualizado sobre os últimos acontecimentos no campo da saúde. 6 meses grátis A partir do 7º mês, R$ 9,90 mensais pelo período de 6 meses. assinefolha.com.br/folhamed *R$ 29,90 mensais a partir do 13º mês. para profissionais da saúde a eee poder A8 QUARTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2020 -CamilaMattoso brasília Emsuadespedidado Ministério da Justiça, Sergio Moro mencionou que, além dodiretor-geral,opresidente Jair Bolsonaro também que- ria trocar os superintenden- tes da Polícia Federal no Rio de Janeiro—estepelasegun- da vez—eemPernambuco. Oex-juiznãoexpôsquaisse- riamosmotivosdo interesse do presidente, mas afirmou que não lhe foram apresen- tadas razões ou causas acei- táveis para as substituições. Apreocupaçãocominvesti- gaçõessobresuafamília,des- conhecimento sobreproces- sos,síndromedeperseguição, inimigospolíticosefakenews sãoalgunsdosprincipaispon- toselencadosporpessoasou- vidas pela Folha para tentar desvendar o que há no Rio e emPernambuco. * Reduto político Capitão reformado do Exér- citoedefensordepautasdas forçasdesegurança,Bolsona- ro sempre manteve contato comagentesedelegadosdas polícias.OfilhoEduardovirou escrivãodaPF,oquetambém estreitou laços. NoRio, onde a família mora, a aproxima- ção foi aindamaior. A candidatura presidenci- al levou ao auge das relações principalmentecomintegran- tesdaPolíciaFederal,quefazi- amsuasegurança—aequipe chegouasercoordenadapor Alexandre Ramagem, nome- adonovodiretor-geral da PF. Segundorelatos,bastidores da Superintendência no Rio e intrigas entregrupos pas- saramachegar rapidamente a Bolsonaro desde a campa- nha. Depois, as relações fo- rammantidas, e os assuntos viraram mais importantes, principalmenteapósvirà to- naa investigaçãodeseufilho Flávio, senador pelo estado. A presença ou ausência do chefedaPFnoedifíciodoór- gão eramotivodeperguntas por parte do presidente, por exemplo.Funçõesdedelaga- dosespecíficostambémvira- vamalvode reclamações. ‘Rachadinha’ e Queiroz AapuraçãonogabinetedeFlá- vioBolsonaronaAssembleia Legislativa do Rio começou apósumrelatórioapontarmo- vimentação de R$ 1,2milhão nacontadoex-assessorFabrí- cioQueiroz,entre2016e2017. Queiroz é PM aposentado e antigo amigodeBolsonaro. AsuspeitadoMPdoRioéa dequeodinheiro seja deum esquema de “rachadinha”. O caso não está com a PF, mas oórgãotocavaàépoca inves- tigaçõesenvolvendopersona- gens em comum. Aliados do presidente divulgaram, vári- as vezes, que apolícia possui informaçõessobreoassunto. Flávio é investigado desde janeiro de 2018 sob a suspei- ta de recolher parte do salá- riodeseusempregadosnaAs- sembleia de 2007 a 2018. Fabrício Queiroz afirmou que recebia valores dos cole- gasdegabineteequeusavao dinheiro para remunerar as- sessores informaisdeFlávio, semconhecimentodoentão deputado.Suadefesa,contu- do,nuncaapontouosbenefi- ciários finais dos valores. Queirozeraamigodoex-po- licialmilitaremilicianoAdri- anodaNóbrega,chamadode heróiporJairBolsonaro.Adri- anoestavaforagidoefoimor- to emfevereiroemumaope- raçãopolicial naBahia. De2007atéFláviosemudar para o Senado, Adriano teve parentes nomeados no anti- go gabinetenaAssembleia. Entendaosmotivosdaobsessão dopresidentepelaPFnoRJ e emPE Família e adversários estão envolvidos em investigações; Moro citou os 2 estados em acusação -JoséMarques sãopaulo Comoargumen- todereduzirodesgastedo governo, delegadosdaPo- lícia Federal reivindicam ao presidente Jair Bolso- naro que adote uma ban- deira que foi ignoradapor seusantecessoresedefen- didapeloseumaisnovode- safeto,oagoraex-ministro SergioMoro. Em carta aberta a Bol- sonaro no domingo (26), a ADPF (Associação Naci- onal dosDelegadosdaPo- líciaFederal) solicitouque eleenviecomurgência, ao Congresso, uma proposta delegislaçãoprevendoum mandatoaodiretor-geralda PF, com escolha por meio de lista tríplice e sabatina. A possibilidade deman- dato já foi elogiada aome- nos duas vezes por Moro: uma vez quando ele ain- da era juiz federal e parti- cipou de um encontro da ADPFemSalvadoreoutra após assumir oMinistério da Justiça—quando disse que a discussão não deve- ria ser imediata. A associação pede que osdelegadosqueintegrem umaeventuallistaatendam a“critériosobjetivos”eque oescolhidopelopresiden- tetenhagarantida“aauto- nomiaparanomeareexo- nerartodososcargosinter- nosdaPF,medianteaobe- diênciaacritériosmínimos objetivos para cada cargo, definidos em lei”. Demandahistóricadaca- tegoria,apropostafoicons- tantementecobradapelas entidadesdeclassedosde- legadosaosgovernosDilma Rousseff (PT) eMichel Te- mer (MDB), que não leva- rama ideia à frente. Em2014e2016,asentida- desdeclassededelegados da PF chegaram a formar listas tríplicespara a esco- lha,porDilmaeTemer,do diretor-geral,masapropos- ta não vingou. NogovernoTemer, a de- manda se fortaleceu após a queda do ex-diretor-ge- ral Fernando Segovia, em fevereiro de 2018, trêsme- ses após assumir o cargo. Ele havia dito, ementre- vista à Reuters, que não existiam provas contra o entãopresidentenoinqué- rito sobre irregularidades em um decreto para o se- tor portuário. Seu substituto, Rogério Galloro,chegouaarticular aapresentaçãodapropos- tademandatoparaadire- toriageralaoscandidatosà Presidência em 2018. No Congresso também houve matérias a respei- to do tema. Em 2015, 29 senadores protocolaram uma proposta de emenda àConstituição que propu- nhaomandato.Maistarde, algunsdeles—comoAécio Neves, José Serra, Aloysio Nunes(todosdoPSDB), Ja- derBarbalhoeGaribaldiAl- ves (doMDB)—acabaram virandoalvosdaLavaJato. Apropostafoiarquivada em2018,quandoalegislatu- rachegouaofim,sempas- sarpelaComissãodeCons- tituição e Justiça. Na Câmara também há uma proposta de autono- miaàPolíciaFederal,mais ampla que a do Senado. Maselatramitadesde2009, semconclusão. OpresidentedaADPF,Ed- vandir Felix de Paiva, diz que um texto do Executi- vo ao Congresso daria for- ça à proposta. “Neste mo- mento, em que aconteceu essamudançatãotraumá- ticanaPolíciaFederal, tal- vezogovernopossapassar esse recado”, afirma. Delegados federais pedem lista tríplice e sabatina para diretor-geral Declaração de bens de Flávio Osenadoreraalvodeprocedi- mentosobrefalsidadeideoló- gicaeleitoralporsupostaocul- taçãodepatrimônionadecla- raçãodebensàJustiçaeleito- ral em 2014. A PF investigava seeleteriadeclaradoumimó- vel pelo valor abaixodo real. Aoconcluiro inquérito,no início deste ano, o delegado Erick Blatt apontou que não haviaindíciosdocrimeeleito- ral e de lavagemdedinheiro. Como a investigação havia seampliadodesdeseuinício, aavaliaçãointernanapolícia éadequehaviapossibilidade legaldequeodelegadoavan- çasseemoutrospontos,oque ele não fez. A conclusão de Blatt não afetou a apuração sobrea“rachadinha”,queestá noMinistérioPúblicodoRio. Citação a Queiroz A Superintendência da PF no Rio tem aberto inquérito combaseemrelatóriofederal de inteligênciafinanceiraem queonomeQueirozémenci- onado.Elenãoéalvodaapu- ração, mas seu antigo advo- gado, Paulo Klein, protoco- loupedidoparateracessoaos autos emsetembrode 2019. Funcionário fantasmadeCarlos OMPdoRioabriuemsetem- brodoisprocedimentospara investigar o vereador Carlos Bolsonaro(Republicanos)pe- la suspeita do uso de funcio- náriosfantasmasemseugabi- neteedapráticade“rachadi- nha”.Damesmamaneiraque ocorrecomoutroscasos, ali- ados de Bolsonaro também afirmam que a investigação está comaPolícia Federal. Episódio Hélio Negão A primeira crise que atingiu a PF teve como um dos pa- nos de fundo uma investiga- ção de crimes previdenciári- os que supostamente envol- via um dos grandes aliados deBolsonaro,odeputado fe- deralHélioNegão (PSL-RJ). ComomostrouaFolha,um despacho de um delegado causou confusão e virou al- vo de apuração, a pedido, na época, de SergioMoro, pres- sionadopelo presidente. O documento recuperava casos de anos anteriores pa- ra levantarapossibilidadede umhomemcitadoseroparla- mentar. Em seguida, porém, diziaquenãoera,masocaso foi mandado para os órgãos de inteligência e teve sigilo decretado —procedimentos considerados foradopadrão para o tipode investigação. Acúpuladapolíciadescon- fiava de uma fraude, criada com o objetivo de gerar des- confiançanaPFdoRio. Segundointegrantesdapo- lícia, o episódionão foi isola- do,masajudouaderrubarRi- cardo Saadi da Superinten- dência—demissão anuncia- daporBolsonaroemagosto. Opresidentechegouadizer à imprensaqueestavamten- tandoprejudicá-lo,mostran- do ter informações de basti- doresdoqueocorrianoórgão. Depoimento do porteiro TambémestácomaPFdoRio investigaçãosobredenuncia- çãocaluniosacontraBolsona- ro envolvendo o porteiro do condomínio em que o presi- dentemorava. O funcionárioafirmou, em depoimentonoinquéritoque apuraasmortesdavereadora MarielleFrancoedomotoris- taAndersonGomes,quefoio presidente (à época deputa- do) quem autorizou a entra- danocondomíniodeumdos acusadospeloassassinatopa- raencontraroPMaposentado RonnieLessa,tambémréuna ação, nodia do crime. Gravaçãodo sistemade in- terfone do condomínio e a presençaregistradadeBolso- naro na Câmara naquele dia contradisseramoporteiro— que,depois, afirmouàPF ter se equivocado. O inquérito aindanão foi concluído. LaudodaPolíciaCivildoRio apontou que o porteiro que interfonou para Lessa não é o mesmo que prestou depo- imento citandoBolsonaro. GovernoWitzel Noepisódioenvolvendoopor- teiro, o presidente chegou a insinuar que o ocorrido era parte de um plano do gover- nadorWilsonWitzel(PSC-RJ). Antesaliados,osdoisviraram inimigos políticos. Nos bastidores, Bolsonaro reclamava que o adversário não virava alvo de investiga- ções.SeuscontatosnaPFinfla- mavamairritação, informan- do que tipo de apuração
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