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QUINTA-FEIRA, 30 DE ABRIL DE 2020ANO 100 ┆ Nº 33.265 R$ 5,00 D E S D E 1 9 2 1 UM J O R NA L A S E RV I Ç O D O B R A S I L AUDIÊNCIA/MÊS PÁGINAS VISTAS 404.556.455 VISITANTES ÚNICOS 69.769.423 Desvio de finalidade O papel de Guedes Sobre nomeação de Bol- sonaro barradapelo STF. Acerca de apoio público dopresidenteaoministro. EDITORIAISA2ATMOSFERAB4 ISSN 1414-5723 9 771414 572056 33265 São Paulo hoje 29 15 0h 6h 12h 18h 24h ˚ ˚ QUARENTENAEMSP Comércio Há 37 dias Escolas Há 37 dias Saiba o que abre e o que fecha emcada estado em folha.com Supremoveta posse naPFde amigo deBolsonaro, que fala em recorrer ‘Quemmanda sou eu’, diz presidente ao desautorizar AGU e anunciar recurso da liminar que sustou nomeação de Ramagem OministroAlexandredeMo- raes,doSTF(SupremoTribu- nalFederal), suspendeuon- temanomeaçãodeAlexan- dreRamagemparaadireto- ria-geral da Polícia Federal, feita umdia antes pelo pre- sidente Jair Bolsonaro. Em atenção a mandado desegurançaimpetradope- loPDT,Moraesdeclarouem sua decisão haver “inobser- vância aos princípios cons- titucionaisdaimpessoalida- de,damoralidadeedointe- resse público” no episódio. Omagistrado ainda citou declarações de Sergio Mo- ro, nas quais o ex-ministro daJustiçarelatainformação dada por Bolsonaro de que anomeaçãododelegadofe- deral lhepermitiria interfe- rênciapolíticanainstituição. Ramagem,atualdiretorda Abin (Agência Brasileira de Inteligência), é amigo dos Bolsonaros,oqueopróprio presidente usa como argu- mentoparaa indicação.Tal proximidade é contestada emaomenosseisprocessos. Aliminarfezogovernore- cuardeinício,mas,apósdar posse à tarde a AndréMen- donçanoMinistério da Jus- tiça,Bolsonarodesautorizou aAdvocaciaGeraldaUnião, que declarara em nota que não entraria comrecurso. “É dever dela recorrer. Quem manda sou eu, e eu quero o Ramagem lá”, disse o presidente. Poder A4 Fernando Limongi e Argelina Figueiredo Confronto como STF é inevitável Individualmente,osminis- tros do Supremo semos- tramdispostosabarraras pretensões mais treslou- cadasdopresidente.Este nãovaiparardeprovocar enquanto não encontrar limites. Seu destino está nasmãosdacorte. PoderA8 Luiz C. Pereira Jr. ENTREVISTA No Emílio Ribas, mais dametade temmenos de 60 Primeiro hospital de SP a teraUTI lotada,oInstitu- to de Infectologia Emílio Ribas tem mais da meta- dedos leitosocupadapor pessoascommenosde60 anos. “São,principalmen- te, homens que não cui- damdasaúde”,afirmaseu diretor técnico, Luiz Car- losPereiraJúnior. SaúdeB3 Planos de saúde optam por tirar inadimplentes Amaioria dos 780 planos de saúde do país desistiu deacordocomaANSpelo qualacessariamreservade R$ 1,4bilhãosemantives- seminadimplentesemsua carteiraaté30dejunho.O setor temia sofrer umca- lotegeneralizado. SaúdeB5 Venha ver pessoas agonizando, afirma Doria a presidente O governador João Doria (PSDB)criticouontemJair Bolsonaroepediuqueele saíssedesuabolhaefosse veraspessoasagonizando noshospitais deSãoPau- lo.Mais cedo, o presiden- te atribuiu a governado- res eprefeitosoaumento da crise nopaís. SaúdeB2 Promotoria apura em SP compra de respiradores Uma compra feita sem li- citação pelo governador João Doria para adquirir respiradoresdaChinapor R$550milhõeslevouoMi- nistério Público de São Pauloaabrir investigação paraapurarascircunstân- ciasdaoperação. SaúdeB1 PIB dos EUA recua 4,8% no 1º tri, pior queda desde 2009 Acrise do coronavírus le- vou o PIB dos EUA a cair 4,8%no primeiro trimes- tre, pior resultado desde igualperíodode2009,épo- cadaGrandeRecessão.O tomboencerraomaiorci- clodecrescimentodopa- ís na história. MercadoA20 Uso demáscara será obrigatório em ônibus e táxis de São Paulo a partir de 4 demaio B1 Governo cria ‘Placar da Vida’ paramostrar curados; ação coincide com alta demortes B4 BC vende US$ 50 bi emmenos de 1 ano para conter dólar OBancoCentraldiminuiu suas reservas em moeda estrangeiraemUS$50bi- lhões desde junho passa- do, para tentar conter o câmbio. A equipe econô- micadefendeavendados dólares para reduzir a dí- vida pública. MercadoA16 GovernoBolsonaronapossedonovoministroda Justiça; àdir., emcontraste,NancyPelosi, presidentedaCâmaradosEUA,dáentrevistanoCapitólio respeitando regrasde isolamento social Pedro Ladeira/Folhapress União quer editais de leilões com lucromaior para atrair investidores estrangeiros A15 Namira do presidente, apuração da facada pela PF descartamandante A11 Gilberto Kassab ENTREVISTA Hoje eu não daria apoio a pedido de impeachment Ex-prefeitodeSãoPauloe ex-ministro, o presidente do PSD se opõe à abertu- radeprocessocontra Jair Bolsonaro no Congresso, aomenosenquantooSu- premoapuraasacusações deSergioMoro.Kassabne- gaternegociadocargosno governoemtrocadeapoio aopresidente. Poder A10 Antiviral remdesivir acelera recuperação de pacientes, afirma órgão americano B9 Por analogia, lideranças judaicas repudiam Ernesto OComitê JudeuAmerica- noexigiuqueErnestoAra- újo (Relações Exteriores) se desculpe após compa- raroisolamentosocialaos campos de concentração nazistas.Afalatambémfoi repudiadaporoutrasasso- ciaçõesjudaicas. MundoA13 Brasil temmaior taxa de contágio do mundo, diz estudo O Brasil tem o maior nú- mero de reprodução de Covid-19 entre 48 nações analisadas pelo Imperial CollegedeLondres.Nase- manaquecomeçounesta segunda(27),cadainfecta- dotransmitiaovíruspara cercade3pessoas. SaúdeB6 Mauricio Stycer Minissérie ‘Todas asMulheres do Mundo’ encanta Jornalista e crítico de televisão agora escreve às quintas na Ilustrada Ilustrada B12 Drew Angerer/Getty Images/AFP Alunos almoçam separados por divisórias para evitar contágio por Covid-19 em escola de Taipei, em Taiwan Sam Yeh/AFP a eee opinião A2 QUINTA-FEIRA, 30 DE ABRIL DE 2020 UM JORNAL A S ERV I ÇO DO BRAS I L a Publicado desde 1921 – Propriedade da Empresa Folha daManhã S.A. presidente Luiz Frias diretor de redação Sérgio Dávila superintendentes Antonio Manuel Teixeira Mendes e Judith Brito conselho editorial Rogério Cezar de Cerqueira Leite, Marcelo Coelho, Ana Estela de Sousa Pinto, Cláudia Collucci, Hélio Schwartsman, Mônica Bergamo, Patrícia Campos Mello, Suzana Singer, Vinicius Mota, Antonio Manuel Teixeira Mendes, Luiz Frias e Sérgio Dávila (secretário) diretoria-executiva Marcelo Benez (comercial), Marcelo Machado Gonçalves (financeiro) e Eduardo Alcaro (planejamento e novos negócios) editoriais@grupofolha.com.br EDITORIAIS Desvio de finalidade Opapel de Guedes DesdequeassumiuaPresidência, JairBolsonarovemconhecendoos freios impostospelas instituições a arroubos personalistas e auto- ritários.A liçãodestaquarta-feira (29), relativaàgestãodeumórgão essencial deEstado, foi semdúvi- da amais contundente até aqui. Em boa hora, o mandatário se viucompelidoarecuardanomea- çãodeAlexandreRamagemparao cargodediretordaPolíciaFederal. Poucoantes,oministroAlexandre deMoraes, do Supremo Tribunal Federal, suspendera liminarmen- te a decisão escandalosa. Bolsonaro, comodehábito, tes- tava os limites de seu mandonis- mo. Se não resta dúvida de que a escolha do chefe da PF está entre as atribuições exclusivas do pre- sidente da República, igualmente parece óbvio que o uso desse po- der para proteção de interesses pessoaisedesuafamílianãoestá. Como Moraes argumentou em sua decisão, nomeações para car- gos públicos devem respeito não apenasàsformalidadeslegais,mas tambémaosprincípiosde impes- soalidade,moralidadee interesse públicoinscritosnaConstituição. Acusado pelo ex-ministro Ser- gio Moro de tentar interferir na PF com o fim de obter informa- çõessobreinvestigaçõessigilosas, Bolsonaroreconheceuqueseuob- jetivo era exatamente esse, como senadahouvessedeerradonisso. “Sempre falei para ele: ‘Moro, nãotenho informaçõesdaPolícia Federal.Eutenhoquetododiater umrelatóriodoqueaconteceu,em especial nas últimas 24horas, pa- rapoderbemdecidirofuturodes- sa nação’”, declarouopresidente. As acusações deMoro ainda se- rão investigadas pelo inquérito aberto pelo STF, que será condu- zidopeloministroCelsodeMello, mas o pronunciamento deBolso- narodeixouclarassuasintenções. Há evidências deque ao chefe doExecutivo incomodaminvesti- gaçõesquemiramfilhosealiados, esobrammotivosparadesconfiar daescolhadodelegado,denotória intimidade coma família. Moraes apontou desvio de fina- lidade na nomeação, mesmo ar- gumentousadopeloministroGil- marMendesparaimpediraposse do ex-presidente Luiz Inácio Lu- la da Silva (PT) comoministro do governoDilmaRousseff, em2016. Entendeu-senaépocaqueano- meação do líder petista tinha co- mo objetivo principal livrá-lo das investigaçõesconduzidasporMo- ro e pela Lava Jato emCuritiba. SeadecisãodeMendespareceua estaFolha indevida, à luzdoprin- cípiodaseparaçãoentrePoderes, deve-sereconhecerqueascircuns- tânciasqueopaísvivehojetornam maisdefensáveismedidasexcepci- onaiscomoatomadaporMoraes. Desdearedemocratizaçãodopa- ís,nenhumpresidentedesafiouos limitesimpostospelaConstituição comoBolsonaro, que submete as instituiçõesdemocráticasaestres- se permanente com o claro obje- tivo de enfraquecê-las. Em casos assim,caberespondercomfirme- za aos que abusamde seupoder. Emmeioaoturbilhãodeatosede- claraçõesestapafúrdiasdasúltimas semanas, o presidente Jair Bolso- naromostrou aomenos um lam- pejo de sensatez ao esvaziar uma crise que se insinuava na condu- çãodapolítica econômica. “Ohomemquedecideeconomia no país é um só, chama-se Paulo Guedes”, disse na segunda-feira (27), tendoaoladooministrocita- do.Orapapétinhasuarazãodeser. Na semana anterior, a ala mili- tar do governo provocara alvoro- ço como anúncio de umobscuro programa de obras cujo propósi- to,segundoogeneralBragaNetto, chefedaCasaCivil, seriafomentar arecuperaçãodosinvestimentose da atividade produtiva depois de superadooimpactodocombateà disseminaçãodonovocoronavírus. Tudo estava errado na divulga- ção da empreitada, obviamente avalizada por Bolsonaro. O plano exibidonãopassavademeiadúzia deslidesvagosejargõestecnocráti- cos.Alémdisso,emborasejaneces- sário planejar o cenário pós-pan- demia,hámedidasmaisurgentes a tomar para amparar cidadãos, empresas, estados emunicípios. Dadaatradiçãoestatistaegasta- doradasForçasArmadas,surgiram temoresjustificadosdequesebus- cavaumabrechapermanentenas normas de contenção da despesa pública, ora correta e temporari- amente relaxadas para o enfren- tamento da calamidade. Intençõesdogêneroforamnega- dasporBragaNetto,masaausên- ciadenomesdaequipedeGuedes naentrevistaacirrouasincertezas. Opresidente,afinal, jáhaviademi- tidoo titulardaSaúdee logo faria omesmocomoda Justiça. Uma vez prestigiado, o minis- tro da Economia tratou de reafir- mar sua agendade reformas libe- raiseajustedasfinançaspúblicas. No que diz respeito ao longo pra- zo, ele está correto: o Estado bra- sileirosairáaindamaisdeficitário eendividadodestacrise,oquetor- na ilusório a esta altura imaginar programas grandiosos de obras. Entretantosuapastadeixaade- sejar, sim, na liderança das políti- casimediatasparaamitigaçãodos efeitosdarecessãoqueseiniciaso- breoempregoearendadas famí- lias. Esse vazio logo se viu ocupa- dopeloCongressoNacionale,em parte,peloBancoCentral—além, claro, de atrair osmilitares. Compelido a recuar em nomeação para a PF, Bolsonaro recebe nova lição sobre limites do poder são paulo O túmulo de Frank Sina- tracarregaumadasmais impactan- tes frases já gravadas em uma lápi- de. “Thebest isyettocome”(“ome- lhoraindaestáporvir”), prometea inscriçãonaCalifórnia. Éotítulodeumacançãodosanos 50,gravadaporSinatranadécadase- guinte. Foi a últimamúsica que ele interpretou empúblico. Mortoem 1998,ocantortransmi- teumamensagemdeesperança. Já os vivos em 2020 recebem basica- mentemensagensdedesesperança. Umadelasestampadanamanche- tedojornalTheNewYorkTimesna manhãdestaquarta(29),aorelatar o aceleradíssimo encolhimento da economia americana nesta crise. “Vai piorar”, anunciava-se ali. E daí? Edaí, JairBolsonaro,queseuspro- blemasmal começaram.Adeclara- ção do presidente sobre osmortos pelocoronavírusdesafiaquemacha- va que não haviamais nenhumab- surdo possível a ser dito por ele. E mostra que de Brasília não vai sair nada mesmo, se é que alguém ain- da esperava isso. O presidente ca- va cadadiamais fundo seupróprio buraco e leva seuministério junto. Quem espalhava pelas redes so- ciais gráficos de arrefecimento das curvas já recolheu as previsões. As regiõesdopaíscomUTIsemcolap- so são cadadiamais numerosas. Aeconomiamalcomeçouadesci- da. O PIB americano caiu 4,8% (ta- xaanualizada)noprimeiro trimes- tre;aprevisãoparaosegundovaina casados 30%negativos. Por aqui, o estragodaquedaderendasearras- tará pormuito tempo. O apoio popular ao presidente tende a sermenor, e o apoio políti- co,mais custoso e problemático. A disputainstitucionalsóagoracome- çaachegaraquestõesmaiscentrais doautoritarismodopresidente—e nãovaiaparecerdaínenhumasolu- çãoparaascrisessanitáriaeeconô- mica dos próximosmeses. Os túmulospelopaísestãosendo abertos a toque de caixa. O que vai escrito nas plaquinhas Bolsonaro nunca vai entender. roberto.dias@grupofolha.com.br brasília Jair Bolsonaro deve ter se cansado de cometer erros na crise docoronavírus.Depoisdepreversó 800mortesnopaís,deinsistirnopo- der milagroso de um remédio e de atazanargovernantesquetomaram medidasdeisolamento,opresiden- te decidiu fingir que não temmais nada a ver com isso. A curvademortes está emdispa- rada, mas Bolsonaro afirma que o problema é de governadores e pre- feitos.JáoministrodaSaúdeadmitiu queestá“navegandoàscegas”eque ninguémsabequandovaiseropico dacontaminação, embora seuche- fetenhaditohápoucomaisdeduas semanas que estava “começando a ir embora a questãodapandemia”. Bolsonarocomprovousuaincom- petênciaparalidarcomacrisee,ago- ra,resolveuabrirumbaúdebrinque- dosantigosparadistrairsuasbases. Comosenãoexistisseumadoen- ça devastadora, ele voltou a acenar a redutos conservadores com uma pauta voltada à segurança pública esuaconhecidacartilhaideológica. Na semana passada, depois de acertarademissãododiretordaPolí- ciaFederal,Bolsonaropegoucarona numamanifestaçãodegruposevan- gélicosepublicouumvídeoemque crianças diziam ser contra o abor- to. O tuíte tevemais de 85mil inte- rações entre seus seguidores. Opresidenteaindatentoureviver a ameaça fantasmadaesquerdana educação. Emdois eventos sem re- lação com a área, Bolsonaro elogi- ou oministro AbrahamWeintraub e reclamou da “doutrinação de dé- cadas” nas escolas brasileiras. Aideiaémudardeassuntoerefor- çarseuvínculocomgruposquepo- deriamficarperturbadoscomaes- calada demortes ou a saída de Ser- gioMoro do governo. Para isso, va- le buscar tambémseu adormecido discurso linha-dura na segurança. Nestaquarta(29),onovoministro da Justiçaexagerounapropaganda edisse queopresidente é “umpro- fetanocombateàcriminalidade”.O deputadoBolsonarojamaisaprovou umprojeto de lei sobre o tema. No Planalto,nãodesenvolveunenhuma política pública relevante na área. rio de janeiro Jair Bolsonaro insis- te na narrativa de que não tem na- daavercomasmortescausadaspe- laCovid-19.Vaiquecola. “Edaí?La- mento.Querqueeufaçaoquê?”,ele pergunta.Obrigadaporterpergun- tado,presidente.Aqui vãoalgumas sugestões do que fazer, visto que o senhor parecemeio sem ideia. Uma medida urgente é que você paredebrincarderoletarussacom avidadobrasileiro.OImperialCol- legedizqueoBrasil temamaior ta- xa de contágio do coranavírus do mundo e prevêmais de 5.000mor- tes, napróxima semana.Diferente- mentedoquevocêdisse, se insistir emabrirocomércio,quemcorreris- co é o povo.Oúnico risco a que vo- cê se expõe é ser tachado de geno- cida.Mas e daí? O que eu quero, Bolsonaro? Que vocêpeçadesculpasporterditoque égripezinha,histeria, fantasia.Que o vírus está indo embora, que está superdimensionado, que brasilei- ropula emesgoto enãopeganada, quetodomundovaimorrerumdia. Oquemaiseuquero?Quevocêpa- redetentar interferirnas investiga- ções da Polícia Federal para prote- gerseusfilhos,quemostreosresul- tadosdetodososseusexamespara Covid-19, que trate jornalistas sem parecerumcavalo,quenãocumpri- mente as pessoas comamão cheia de perdigotos, que desista de esti- mular e de participar de atos gol- pistas. Entenda, você até “manda”,mas não édonodopaís. Por fim, deixe que os governado- res façamoquevocênão temfeito, tentarpreservarvidas. Jádiziaqual- queravó:senãoforparaajudar,não atrapalhe. Aproveite e demita o in- competente do Weintraub e tam- bémoRicardoSalles,antesquenão sobreumaárvoreempénaAmazô- nia.Antesqueeumeesqueça,conta pra gente, cadê oQueiroz? Se nada disso for possível, tenho uma sugestãomuitomais simples. Renuncie.E,porfavor, levejuntopa- raoinfernooszerosàesquerdados seusfilhos.SeDeusrealmenteexis- te, é para lá que vocês vão. Opior está por vir Baúde brinquedos antigos Oque eu quero, Bolsonaro? - Roberto Dias - Bruno Boghossian - Mariliz Pereira Jorge Sobramrazõesmorais, políti- cas e possivelmente jurídicas para o impedimento de Jair Bolsonaro.Asacusaçõesdomi- nistroSergioMoroaodeixaro cargosãograveseverossímeis. Somam-se à repulsivapartici- paçãodopresidentenamani- festaçãoemque,diantedoQG do Exército, uma turba urrou pelo fechamento doCongres- so e do SupremoTribunal Fe- deral,comavoltadaditadura. Aindaassim,édifícildescar- tarasconsideraçõesnãosóda oportunidade,massobretudo dos efeitos do impeachment. Se uma proposta nesse senti- do avançasse no Congresso, consumiria inevitavelmente a atenção, o tempo e os esfor- ços que devem ser dedicados aoúnicopropósitocoletivoque agora de fato importa: conter aenormedevastaçãohumana, social eeconômicaproduzida pelo coronavírus. Ela poderá ter também ou- tras consequências nefastas quenãoconvémignorar.Nosis- temapresidencialista, os titu- laresdoExecutivotêmmanda- tofixo;asuaabreviaçãoéqua- sesempretraumática.Comou semreeleição,ocalendáriopre- estabelecido é a regra de ou- ro que organiza a disputa pe- lo poder. Políticos e partidos têm nas eleições periódicas e comdata conhecidao seuho- rizonte de ação. Eis por que, na origem do presidencialismo,o impeach- ment foi criadocomorecurso últimoeexcepcionalpara fre- ar a ambição dos mandatári- os; suamerapossibilidadede- veria dispensar o seu efetivo emprego. O recurso frequen- teao impeachmentdesestru- tura o jogo do presidencialis- mo e cria perigosa instabili- dade institucional, que ten- de a enfraquecer a confiança na democracia. Em três décadas, a contar de 1989, dois presidentes fo- ram impedidos noBrasil. Nos EUA, em mais de dois sécu- los, foram abertos processos contra quatro presidentes. É insensato supor que um ter- ceiro trauma do gênero, ape- nasquatroanosdepoisdoan- terior,mesmoparabarrarum mandatáriocomostensivavo- caçãoautoritária, contribuirá paraofortalecimentodasnos- sas instituiçõesdemocráticas. Por fim, não custa lembrar que, afastado, Bolsonaro se- rásubstituídopelovice, gene- ral Hamilton Mourão, com o qual compartilha convicções reacionárias, entre elas uma visão antediluviana da ques- tãoambientaledorespeitoao mododevidadenossaspopu- lações indígenas; sensibilida- de zero para a tragédia social brasileira e, muito provavel- mente, a mesma concepção estreita da importância das liberdades civis. Assimnão fosse, não lhe te- riaocorrido,aodeixaroExér- cito para se juntar a Bolsona- ro, saudar o falecido major- torturador BrilhanteUstra. A sua ascensão ao poder trans- formariaodiaseguinteao im- peachmentnacontinuaçãodo atual pesadelo. mhermtavares@gmail.com Odia seguinte - MariaHermínia Tavares Pesquisadora do Cebrap e professora aposentada da USP. Escreve às quintas Benett Presidente acerta ao esvaziar disputa na economia, masministro deve liderançamais ativa na crise a eee opinião QUINTA-FEIRA, 30 DE ABRIL DE 2020 A3 Polícia Federal Jair Bolsonaro só sabemesmo fa- zer isto: recuar (“Bolsonaro recua e anula nomeação de Ramagem para direção-geral da Polícia Fe- deral”, Poder, 29/4). Danilo Bracchi (Ilhéus, BA) * Tal revogação evidenciamais ain- da o dolo e amá-fé do presidente Bolsonaro quanto ao desvio de fi- nalidade na nomeação de Rama- gem. Aliás, se Ramagem fosse éti- co, não teria aceitado tal nomea- ção, pois era evidente que coloca- riaaPFsobpermanentesuspeita, mesmoqueelefosseomaiscapaci- tadodos delegados. O certo é que Bolsonarodeixaclaroquenão lhe pode faltar o apoio permanente do Ramagem, como um fiel espi- ão. Se não pode ser na PF, que se- ja naAbin. Jorge Filgueiras (Recife, PE) * Caradepau.Bolsonarodizquepre- cisa de relatórios da PF para deci- dirofuturodanação.Deveriaére- ceber relatórios diários sobre as vítimas da Covid-19, mas isso ele não quer, afinal para ele não pas- sadeumagripezinha.Deusnos li- vre destes males: a pandemia e o pandemônio,nãonecessariamen- te nessa ordem. José Teodoro da Silva (São Paulo, SP) Sensatez Sensata a decisão do ministro do Supremo (“Alexandre de Moraes, do STF, suspende nomeação de Ramagem na Polícia Federal”, Po- der,29/4).Anomeaçãodeumami- godo investigadoparaconduzir a PF era um disparate, uma afron- ta ao cidadão brasileiro. E que o STF não vacile se forem necessá- rias suspensões cada vez que Bol- sonaroacharquetempoderesab- solutos sobre a nação. Willian Marques (Curitiba, PR) * Vejo a decisão do ministro como uma clara interferência do Judici- árionoExecutivo.ExisteoAI-5no Judiciário.Ea imprensasecaladi- ante daditadura. É preocupante. Jackson deMoura Ferro Silva (Itajaí, SC) * Essadecisão, juridicamente,nãose sustenta,poissuafundamentação repousa emdúvidas e hipóteses. Antonio Ferreira de Carvalho (Belém, PA) * Se um presidente não consegue nomear um chefe para PF (e is- so é atribuição de ministro), é si- naldequeofimda linhaestábem próximo. Não passa de um fanto- che (“BolsonarodesautorizaAGU edizquerecorreráaoSupremode decisão que barrou Ramagem na PF”, Poder, 29/4). Carlos Rogério DeMello (Lavras, MG) Pelo menos O delegado indicado pelo presi- dente para chefiar a Polícia Fede- ral nunca exerceu nenhuma che- fiaimportantenoórgão,nuncafoi superintendenteregionaloudire- tornasededainstituição.E,dere- pente,serianomeadoparaocargo de diretor-geral, sendo que há pe- lomenos 27 superintendentes re- gionaismaisexperientes,alémdos diretores na sede na Polícia Fede- ral. Ficou claro que não havia cri- tério técnico, apenas o interesse da investigada família Bolsonaro emseproteger. Paulo Henrique deMello (Valinhos, SP) Ponto mais baixo Maisumavez,opresidenteJairBol- sonaro admitiu e provou que não serveparanada.Nuncacontribuiu emnadanosquase30anosemque foi deputado no Congresso, ape- nas recebendo dinheiro público e criando alianças com milicianos. Estamos no ponto mais baixo na nossa história. Jenny Gonzales (São Paulo, SP) * Nopaísdapiadapronta,oanticris- to se chamaMessias. Fernando Scavone (São Paulo, SP) Testes DoriaeCovasdeveriamfazertestes emmassa, como acontece na Co- reia do Sul. Por que não fazem?A Folha tem que obter essa respos- ta.Nacoletiva,asperguntassãodi- fusas. Pareceque esses dois tema benesse da imprensa. José Roberto Alferes Siqueira (Cacoal, RO) Respiradores de SP Onde estão os órgãos para barrar essespolíticos?Dorianãocumpre oquefala.Ondeestãoasmáscaras que seriam feitas a R$ 0,80 pelos presidiários? Onde está a presta- çãodecontadessascompras?Po- líticoseaproveitadapandemiapa- ra fazer trapaças (“Doria compra respiradoressemlicitaçãodaChi- na por R$ 550mi; Promotoria in- vestiga”, Cotidiano, 29/4). Lirete Nogueira (Fortaleza, CE) * Parabéns, governador. São Paulo tem o que falta ao presidente: li- derança pela vida. Dermival Pereira deMacedo (Barueri, SP) * Doria está se aproveitando desse momento. Cadê o Ministério Pú- blico? Se Bolsonaro fizesse isso, a imprensajáestariacaindodepau. Carlos Alberto Siciliano (São Paulo, SP) Marcelo Coelho Concordo com quase tudo o que escreveuMarcelo Coelho (“O bol- sominioné tãoburroeotárioque acreditanaprópriamentira”, Ilus- trada, 29/4). O “quase” é pela ne- gligência que cometemos emnão reconhecer que há, sim, um gru- po que não é burro nem míope. É um grupo que sempre quer es- tar em vantagem. É ingenuidade acreditar que as pessoas são boas e manipuladas. Há muitas e mui- tas pessoas ruins, que não se im- portam que todos sofram, desde que elas se beneficiem. Laércio Martins (São Sebastião do Paraíso, MG) Parabéns a Marcelo Coelho pe- la análiseirretocável da realidade bolsonarista. Ronaldo Luiz Mincato (Campinas, SP) * Rebato com veemência o que es- creveu Marcelo Coelho. Admito que votei equivocadamente em Bolsonaro,masnãomeconsidero umbolsominion,mentiroso,burro emuitomenosotário.Aliás,otário é o colunista emuitos outros que não têm a humildade de se arre- penderporteremmantidoacorja petistanopoderportantotempo. Maurílio Polizello Júnior (Ribeirão Preto, SP) E daí? Sevocêvotounoatualpresidente, quandomorrerumparenteseu,um amigo, um conhecido ou um vizi- nho devido à Covid-19, lembre-se da resposta dele sobre asmortes: “E daí, sou oMessias, mas não fa- çomilagres”. Manoel Messias Borges de Araújo Filho (Rio de Janeiro, RJ) * “E daí que já são mais de 5.000?” Talvez o objetivo seja 6 milhões, comonoHolocausto.Afinal,asati- tudes, ideologias e sensibilidade sãodeumparaleloinegável.Como médico,queseidalutadoscolegas contra a morte travada nas UTIs, émuito difícil ouvir este “e daí?”. Teotônio Negrão Filho (Ribeirão Preto, SP) Acompanhando Opaís quebrando recordes de ca- sos emortes pela Covid-19 e omi- nistrodaSaúdedáentrevistadizen- doqueestá“acompanhandoosnú- meros”paraveraevolução.Deon- de saíramesses gestores? Alfredo dos Santos Júnior (Serra Negra, SP) PAINELDO LEITOR folha.com/paineldoleitor leitor@grupofolha.com.br Cartas para al. Barão de Limeira, 425, São Paulo, CEP 01202-900. A Folha se reserva o direito de publicar trechos das mensagens. Informe seu nome completo e endereço TENDÊNCIAS/DEBATES folha.com/tendencias debates@grupofolha.com.br Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros emundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo Nos últimos dias, como muitos de nós, tenho ficado em casa, em ho- me office, ajudando os filhos com os trabalhos escolares e testemu- nhando a transformação do mun- do diante da crise de saúde públi- ca. Issome levaarefletir sobreo lu- gar (ou a falta de lugar) da ciência emnossa sociedade. Ao observar a resistência de par- tedapopulaçãoàsrestriçõesemvi- gor,meperguntosobrearazãodes- sadesobediência.Alémdeumques- tionávelespíritodeprotesto, talati- tuderevela,acimadetudo,umdes- conhecimentoprofundodoquees- tamosvivenciando.Agrandemaio- ria não sabe como este vírus se re- produz e é transmitido. No entan- to, os vírus fazem parte domundo desde o início dos tempos e são ti- doshámuito comoumadas amea- çasmaisgravesparaasaúdeglobal. Lembrodemeusprimeiroscursos demicrobiologia:empoucotempo pude entender que, embora invisí- veis a olho nu, os microrganismos têm uma existência concreta e po- demsertransmitidoscomextrema facilidade. Umas poucas aulas prá- ticas complacas de Petri e estirpes inofensivasdebactérias forambas- tanteeficazesparamefazeremcom- preenderasnoçõesbásicasdeeste- rilização, transmissão e contágio. A falta de conhecimento históri- co também é espantosa. Quem vi- veu a epidemia da Aids logo deduz que não respeitar o confinamento equivale amanter relações sexuais semcamisinhaemmeioaosurtode HIV. Essesparalelos sãomenosób- viosparaosmais jovens,quenunca experimentaramaansiedadeeoris- co associado à contaminação viral. Mais uma vez, algumas horas dedi- cadasaexplicarahistóriadasgran- desepidemiaspoderiammudartu- do.Sãorelatosmarcantes.Quantos ignoramahistóriadapestebubôni- caoudagripeespanhola?Quantos sabemavaliarocustohumanodes- sas grandes tragédias? Enfim, é bastante claro que pou- cosentendemoimpactodaciência nesta crise de saúde. Sem as décadas de investimento robustoempesquisasfundamentais, que, utilizando técnicas modernas debiologiamolecular, nospermiti- ram detectar rapidamente o vírus por meio de sua sequência de áci- dos nucleicos, omomento atual— já terrível—poderia ser aindapior. Muitospaíses já se voltarampara apesquisacientífica—aúnicasaída para superar a epidemia. Anúncios de investimento chegam a bilhões dedólares.Éopreçoaserpagopara encontrar vacinas ou terapias anti- virais comarapideznecessária.Te- mosde fazer omesmo.Depressa. A primeira resposta é a consis- tência do nosso comportamento como sociedade: cada um deve es- tardispostoadesistirdecertascoi- sas, a encarar alguns sacrifícios pa- ra que todos possamos, juntos, fa- zer omelhor. A longo prazo, a única resposta paraevitaraocorrênciadessasepi- demias, ou pelo menos para redu- zir seu impacto, depende da ciên- cia e donosso interessenela. A cul- turacientíficatambémnosimpedi- riadeembarcaremdesinformações e fantasias nocivas. Acomunidadecientíficaestáple- namentemobilizadaparainformar, ensinar e proteger. Mas, para isso, precisa de investimento contínuo. Odia 1ºdeMaio, festado trabalho, nesteanonosconvidaaconsiderar- mosdiversas realidadeseaspectos que a crise do coronavírus pôs es- pecialmente em destaque: que no mundo há um grande número de pessoas boas; que o progresso de- veestarunidoaumdomíniosobre a natureza, e que, ao mesmo tem- po,arespeite;quedependemosuns dosoutros;quesomosvulneráveis; e que uma sociedade, para ser hu- mana, precisa ser solidária. Na resposta à pandemia, distin- guem-se sobre tudo as profissões voltadas para o cuidado das pes- soas. Palavras relacionadas com “cuidar” ocupam as manchetes: acompanhar, chorar, proteger, es- cutar... Essa situação nos faz pen- sarno“paraquê”eno“atéquepon- to” de qualquer trabalho. De algu- ma maneira, aprendemos a com- preendermelhor que o serviço é a alma da sociedade, o que dá senti- do ao trabalho. Otrabalhoébemmaisdoqueuma necessidadeouumproduto.O livro da Bíblia que relata as origens da humanidade afirma que Deus cri- ou o homem “para que trabalhas- se” e cuidasse domundo (Gênesis, 2,15). O trabalho não é um castigo, mas a situação normal do ser hu- manonouniverso.Medianteo tra- balho, estabelecemosumarelação comDeusecomosoutrose, traba- lhando,cadaumpodedesenvolver- semelhor como pessoa. A reação exemplar de inúmeros profissionais,crentesounão,peran- te à pandemia, está manifestando essa dimensão de serviço, e ajuda- nosapensarqueodestinatárioúl- timo de qualquer tarefa ou profis- sãoéalguémcomnomeesobreno- me, alguémque possui umadigni- dade irrenunciável. Todo trabalho nobre pode ser reconduzido, afi- nal, à tarefade“cuidardaspessoas”. Quando procuramos trabalhar bem, mantendo a abertura para o próximo,onossotrabalho,qualquer trabalho, ganha um sentido com- pletamente novo, e pode tornar-se umcaminhodeencontrocomDeus. Fazumbemmuitogrande integrar notrabalho—mesmonomaisroti- neiro— a perspectiva da “pessoa”, que é a do serviço que vai além do devido pela retribuição recebida. Como acontecia já nos primei- ros tempos do cristianismo, per- cebe-se também agora o potenci- al de cada leigo que tenta ser tes- temunha do Evangelho, ombro a ombro com seus colegas, compar- tilhandopaixãoprofissional, com- promisso e humanidade emmeio ao sofrimento causado pela pan- demia e pela incerteza do futuro. Todocristãoé“Igreja”e,apesardas limitaçõespessoais,seestiverunido aJesusCristo,pode levaroamorde Deus“àtorrentecirculatóriadasoci- edade”,paracitarumaimagemutili- zadaporsãoJosemaria,quepregou amensagemdasantidadeatravésdo trabalhoprofissional.Comonosso trabalhoeonossoserviçopodemos tornar presente o cuidado deDeus para comcadapessoa. A celebração de 1º de Maio tam- bémépreocupaçãopelo futuro,pe- la insegurançano trabalho a curto oumédioprazo.Oscatólicos recor- remoscomespecial empenhoà in- tercessãodesão JoséOperário,pa- raqueninguémpercaaesperança, paraquesaibamosnosajustaràno- va realidade. Que são José ilumine osquetêmdetomardecisões,enos ajudeacompreenderqueotrabalho é para a pessoa, e não o contrário. Nos próximos meses e anos se- rá importante “fazermemória” do que estamos vivendo, como pedia opapaFrancisco, e lembrar-nosde que “caímos na conta de que está- vamosnomesmobarco, todos frá- geis edesorientados;mas, aomes- motempo, importantesenecessári- os, todoschamadosaremar juntos”. Oxalá este dia 1º de Maio nos le- ve a desejar que a liberdade recu- perada no final do confinamento seja uma verdadeiraliberdade “a serviço dos outros”. O trabalho se tornará então, como é o desígnio de Deus desde o princípio, o cui- dadodomundo e, emprimeiro lu- gar, daspessoas quenelehabitam. O trabalho de cuidar domundo O vírus da ignorância - Fernando Ocáriz Monsenhor, é prelado da Opus Dei - Hugo Aguilaniu Biólogo geneticista e diretor-presidente do Instituto Serrapilheira A reação exemplar de profissionais na pandemia expõe a alma da sociedade Quantos sabem avaliar o custo humano das grandes tragédias epidêmicas? [ A celebração de 1º deMaio também é preocupação pelo futuro, pela insegurança no trabalho a curto ou médio prazo. Os católicos recorremos com especial empenho à intercessão de são José Operário, para que ninguém perca a esperança, para que saibamos nos ajustar à nova realidade [ Quem viveu a epidemia da Aids logo deduz que não respeitar o confinamento equivale amanter relações sexuais sem camisinha emmeio ao surto de HIV. Esses paralelos sãomenos óbvios para osmais jovens. (...) Mais uma vez, algumas horas dedicadas a explicar a história das grandes epidemias poderiammudar tudo An dr é St ef an in i a eee poder A4 QUINTA-FEIRA, 30 DE ABRIL DE 2020 Jornal filiado ao IVC Circulação paga às quintas de mar.2020, impresso mais digitais (IVC) 324.882 exemplares Páginas vistas no site da Folha emmar.2020 (Google Analytics) 404.556.455 Visitantes únicos no site da Folha emmar.2020 (Google Analytics) 69.769.423 Votei no Bolsonaro sabendo que era um jumento, mas esperando ummínimo de honestidade. Não teve. É burro e corrupto DeFernandoHoliday, vereador (Patriota-SP), sobre asmudanças feitas porBolsonaronadireçãodaPolícia Federal e noMinistério da Justiça TIROTEIO comMariana Carneiro e Guilherme Seto Nosseusprimeirosmovimentoscomodiretor-geralda Polícia Federal, antes de sua nomeação ser suspensa noSupremo,AlexandreRamagemprocuravaumnome para substituir o superintendente do Rio de Janeiro, umdoslocaismaissensíveisepolêmicosemrelaçãoà famíliaBolsonaro.Deacordocomrelatos,odelegado também indicou que fariamudanças emSãoPaulo e emMinasGerais.Aexpectativaeraadequepoliciaisdo Norteganhassemespaçonoórgãosobnovocomando. Largada denovo CarlosHenriqueOli- veiraestánachefiadoRiohá menosdecincomeses.Eleto- mou posse emdezembro do anopassado,apósumimbró- glio com sua nomeação, que durou de agosto até novem- bro. O delegado foi escolha deMaurício Valeixo, ex-dire- tor-geral,efoielogiadoporRa- magemnaprimeira reunião, nesta terça (28). lista Nosbastidores,Rama- gem pediu sugestões de no- mes para o comando doRio, mas aindanão tinha escolhi- do. Para São Paulo, Alexan- dre Saraiva, superintenden- tedaPFdoAmazonas,estava nalistadecotados.Seunome foipartedaprimeiracriseen- volvendoopresidentedaRe- pública e o órgão, em agosto do anopassado. ajuda Nodiscursodesaída,o ex-ministroSergioMorodisse que o presidente queria tro- car o diretor-geral e as chefi- as deRio ePernambuco sem motivos razoáveis. nem tudo A informação da PFnanoitedequarta(29)era a de que, por outro lado, Ra- magemestavadecididoanão mexeremPernambuco.OPai- nel mostrou ontem que ha- viasinalizaçãonestesentido. teimosia Segundo relatos, antes de Ramagem ser esco- lhido,generalHeleno(GSI)le- vouquatro indicaçõesparaa PF ao presidente Bolsonaro. Foi ignorado. nãodá ApesardeBolsonaro terditoqueaindasonhacom Ramagem,aPFavaliaquenão hápossibilidadedissoocorrer agora. No Judiciário, a análi- seédequequalqueraçãoper- deuoobjetoapartirda revo- gaçãodanomeação. feitos Opositoresdizemque Bolsonaro conseguiu em 16 mesesacumulardoisdosmais polêmicosepisódiosdogover- noDilmaRousseffedeMichel Temer.Opresidentereprodu- ziucomMorocrisesemelhan- teàdelaçãodeJoesleyBatista paraTemer,enaindicaçãode Ramagem, o caso danomea- çãode Lula paraDilma. baixas Os principais hospi- tais particulares de São Pau- lo jáafastaram 1.895profissi- onais por suspeita ou conta- minaçãopelocoronavírus.Al- guns hospitais não informa- ramquantosforamafastados, o que evidencia queonúme- ro é aindamaior. voltando Prevent Senior (371),BeneficênciaPortugue- sa(390),SãoCamilo(353),Os- waldoCruz(187)eSantaCata- rina (142) informaramosnú- merosaoPainel, ressaltando quepartedosfuncionários já havia retornadoao trabalho. sigilo Os números de Eins- tein(348)eSírio-Libanês(104) sãodofinaldemarço.SãoLu- iz e 9 de Julho disseram que os números são informados para a Secretaria de Saúde. pantomima O ex-presiden- te e atual senador Fernando Collor(Pros-AL)temrespon- didodemaneiradespojadaa perguntasnoTwitter. Sobreo realityshowBBB,Collordisse tertorcidomuitoporBabu,e respondeuquepodemcontar comeleparaumaCPIdoBBB que favoreça oparticipante. patuscada Umseguidorpe- diuquefalasseque“aFiatTo- ro[carrodivulgadonoBBB]é a evolução da Elba”. Um Fiat Elbafoipivôdedenúnciasque resultaramnoimpeachment deCollor,em 1992.Osenador respondeu que “evolução da ElbadeveseraPalioWeekend. ATorodeveseraevoluçãoda Strada, não?”. mãofechada AFapesp,uma das principais agências de fomento à pesquisa científi- ca do país, teve redução de 58,4% nos repasses federais em2019,primeiroanodogo- vernoBolsonaro. aporte OsR$6,2milhõesdes- tinadosàinstituição,vincula- da à Secretaria de Desenvol- vimento Econômico do go- vernoJoãoDoria(PSDB),não são nemmetade dos R$ 14,9 milhões de 2018. A compen- sação em 2019 veio pormeio de R$ 1,3 bilhão do estado. A Fapespéfinanciadoradepes- quisas sobre o coronavírus. Camila Mattoso painel@grupofolha.com.brPAINEL MG, PR, RJ, SP R$ 5 (seg. a sáb.) R$ 7 (domingo) Redação São Paulo Al. Barão de Limeira, 425 | Campos Elíseos | 01202-900 | (11) 3224-3222 Atendimento ao assinante (11) 3224-3090 | 0800-775-8080 Ombudsman ombudsman@grupofolha.com.br | 0800-015-9000 Assine a Folha assine.folha.com.br | 0800-015-8000 Venda avulsa ES, GO, MT, MS, RS R$ 6 R$ 8,50 DF, SC R$ 5,50 R$ 8 AL, BA, PE, SE, TO R$ 9,25 R$ 11 Outros estados R$ 10 R$ 11,50 Assinatura semestral à vista com entrega domiciliar diária Carga tributária 3,65% MG, PR, RJ, SP R$ 685 ES, GO, MT, MS, RS R$ 1.089 DF, SC R$ 858 AL, BA, PE, SE, TO R$ 1.177 Outros estados R$ 1.460 GRUPO FOLHA brasília OministroAlexandre deMoraes,doSupremoTribu- nalFederal, suspendeunesta quarta-feira(29)anomeação deAlexandreRamagempara adiretoria-geraldaPolíciaFe- deral,emmaisumatodacor- tecontrárioamedidasadota- das por Jair Bolsonaro. Após a Advocacia-Geral da Uniãoafirmarqueocasoesta- vaencerradoeoprópriopre- sidente revogar anomeação, ele afirmou que quem man- da no governo é ele e que irá apresentar recurso ao STF. A decisão deMoraes se ba- seia,principalmente,nasafir- maçõesdeBolsonarodeque pretendiausaraPF,umórgão deinvestigação,comoprodu- tordeinformaçõesparasuas tomadas de decisão. O ministro concedeu limi- nar(decisãoprovisória)auma açãoprotocoladapelooposi- cionistaPDT,quealegou“abu- so de poder por desvio de fi- nalidade” com a nomeação dodelegadopara a PF. Moraes destacou que sua decisão era cabível pois a PF nãoéum“órgãodeinteligên- ciadaPresidênciadaRepúbli- ca”, mas sim “polícia judiciá- riadaUnião, inclusiveemdi- versasinvestigaçõessigilosas”. Na decisão, oministro afir- mouhaver“inobservânciaaos princípiosconstitucionaisda impessoalidade, da morali- dade e do interesse público”, acrescentando que, “em um sistemarepublicano,nãoexis- te poder absoluto ou ilimita- do, porque seria a negativa dopróprioEstadodeDireito”. Ramagem chefiou a segu- rança de Bolsonaro durante acampanhade2018, tornou- seamigodafamíliaeviroudi- retor-geral da Abin (Agência BrasileiradeInteligência).Sua possenocomandodaPFseria na tarde desta quarta-feira. Nosábado(25),aFolhamos- trouqueapuraçãocomanda- dapeloSTF,comparticipação de equipes da PF, tem indíci- osdeenvolvimentodeCarlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente, em esquema de disseminaçãode fakenews. A solenidade desta quarta foi mantida, mas apenas pa- ra a posse do novo ministro da Justiça,AndréMendonça, queassumiuolugardeSergio Moro —que deixou o gover- noacusandoopresidentede tentarinterferirpoliticamen- te nas investigações daPF. Nacerimônia,Bolsonarofez acenos a ministros da cortepresentes—DiasToffoli,pre- sidentedoSTF,eGilmarMen- des—, mas defendeu a inde- pendência entre os Poderes. “RespeitooPoderJudiciário, respeitoassuasdecisões,mas nósantesdetudorespeitamos a nossa Constituição. O se- nhorRamagem,que tomaria posse hoje, foi impedido por umadecisãomonocráticade umministro do STF”, discur- sou, destacando que conhe- ceu seu indicadonaeleição. “Creioserumamissãohon- radaparaosenhorRamagem. Gostariadehonrá-lohojedan- do-lhepossecomodiretor-ge- ral da Polícia Federal. Tenho certezaqueesse sonhomeu, maisdele[Ramagem],breve- menteseconcretizaráparao bemda nossa Polícia Federa e donossoBrasil”, afirmou. Namesmasolenidade, len- doumartigodaConstituição, Bolsonarotambémdestacou a importância da harmonia entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e dis- se que segue esse princípio. “Assimmecomportoedirijo essanação.Nãopossoadmitir queninguémousedesrespei- taroutentardesbordaranos- saConstituição.Esseéomeu papel; o papel não sódosde- mais Poderes, bem como de qualquer cidadão desse Bra- sil. Harmonia, independên- cia e respeito entre si.” Ao voltar para o Palácio da Alvorada,Bolsonarodesautori- zouaAGUedissequeoórgão, diferentementedenotaoficial que havia divulgadomais ce- do, vai recorrerdadecisãode Moraes. “É dever dela [AGU] recorrer. Quem manda sou eueeuquerooRamagemlá.” Bolsonaroafirmouque,seo recursonãodercerto,eletem “várias opções” para o pos- to, entre elas o secretário de Segurança Pública do Distri- to Federal, AndersonTorres. Poucodepoisdeopresiden- tedesautorizaranotadaAGU, JoséLevi,onovoresponsável peloórgão,reafirmouoinver- STFbarranovo chefedaPF, Bolsonaro fala emPoderes independentes e recorrerá Presidente cancela nomeação de Ramagem após derrota judicial, mas desautoriza AGU, diz que quemmanda é ele e que insistirá no nome so. “Jáfoiditoquenãohaverá recurso”, disse. Ele deu a en- tender,porém,quenãotinha informaçãosobreasnovasde- clarações dopresidente. Comoadecisãosobreocaso foimonocrática, a AGUpode recorrer para queMoraes re- avalieopróprioentendimen- tooupara levarocasoaople- nário.Assim,caberiaaos11mi- nistrosdacortedecidirseano- meaçãodeixoudeobservaros princípiosdaimpessoalidade, moralidadeedointeressepú- blico, comoafirmouMoraes. O ministro tem defendido nos bastidores, porém, que nãocabereferendodoplená- rio em liminar emmandado de segurança, que foi omeio processual usadopelo PDT. Assim,segundoele,suadeci- sãonãopoderiasersubmetida aos demaismagistrados, que sóseriamchamadosaopinar aofinaldainstruçãodoproces- so, ou seja, após a apresenta- çãodemanifestaçõesdaspar- teseoutrasdiligências.Atese, no entanto, é controversa, e outrosministrosdiscordam. Há outra discussão jurídi- ca, sobre seoprocessoainda podeser julgadoouseestaria encerrado,vistoqueopróprio Bolsonaro sustou os efeitos danomeaçãodeRamagem. Emsuadecisão,Moraestrata operfildeRamagemesuapro- ximidadecomafamíliaBolso- narodeformasecundária.Ele usadeclaraçõesdopresidente edeMoroparaexemplificaros riscosdanomeação. Em referência às relações deRamagemcomafamíliado presidente, oministro apon- tou ainda que o princípio da impessoalidade encontra-se nomesmocampododaigual- dade eda legalidade. Moraesdeclarouaindaque oPoderJudiciárionãodevese restringirsóao“exameestri- toda legalidadedoatoadmi- nistrativo”, mas também ob- servar“amoraladministrati- va”e“ointeressecoletivo,em fielobservânciaao ‘sensoco- mumdehonestidade,equilí- brioeéticadasInstituições’”. ApósasaídadeMoro,ano- meaçãodonovodiretordaPF viroualvodeaçõesnaJustiça ederesistêncianoCongresso. Continua na pág. A6 Opresidente Jair Bolsonaro e o filho Flávio em aglomeração na posse do titular da Justiça Ueslei Marcelino/Reuters EMDIA DE VISITA DE BOLSONARO, CENTRAL PARA COVID- 19 CONFIRMA INTEGRANTE INFECTADO Um integrante do Centro de Coordenação das Operações do Comitê de Crise, que acompanha as ações de combate ao novo corona- vírus, obteve resultado positivo para a Covid-19 nesta quarta (29). O local analisa a possibilidade de que os 32 membros sejam submeti- dos a testagem para a doença. Nesta quarta, a sala onde está instalado o centro foi visitada pelo presidente Jair Bolsonaro, acompanhado doministro Walter Braga Netto (Casa Civil) e de empresários que apoiam o governo, como LucianoHang (Havan), Meyer Nigri (Tecnisa) e Flávio Rocha (Riachuelo). Os integrantes foram avisados pormeio de mensagemde WhatsApp. Bolsonaro, o ministro e os empresários entraram na sala sem máscaras. a eee QUINTA-FEIRA, 30 DE ABRIL DE 2020 A5 100 m de altura Mastros foram construídos de forma independente e formam o arco Complexo viário desafoga o trânsito na região da rotatória do Colinas Única ponte em arco e curva do Brasil PISTA SUPERIOR 70 estais, posicionados tridimensionalmente, que garantem beleza e sustentação 36 mil metros de cordoalhas (cabos) de estaiamento 60 mil trabalhadores transportados nesses ônibus 1.246 viagens de ônibus 180 mil veículos CIRCULAÇÃO DIÁRIA PISTA INFERIOR COMPRIMENTO DOS VIADUTOS EM FORMATO DE “X” COMPARE COM OUTRAS CONSTRUÇÕES 302 m 365 m 100 m 92 m 30 m Pista inferior Pista superior Arco da Inovação Prédio da Fiesp Cristo Redentor O Arco da Inovação equivale a um prédio de 33 andares. É oito metros mais alto que o prédio da Fiesp, na av. Paulista, e tem quase três vezes e meia a altura do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro Av. Jorge Zarur Av . S ão Jo ão APRESENTA Ateliê de produção de conteúdo para estratégia de marcas e mercado publicitário em todas as plataformas | Fotos: Ehder de Souza Ponte estaiada entregue em São José dos Campos contou com as mais avançadas técnicas de construção e é a única no Brasil em arco e curva; vai desafogar o principal ponto de congestionamento da cidade Desafio de engenharia e cartão postal A cidade de São José dos Campos (SP) ganhou na última semana uma obra querepresentaaomesmotempoa força da engenharia para superar desafios e a possibilidade de de- senvolver complexos viários que embelezam o entorno em vez de deteriorá-lo. ChamadadeArcodaInovação, a obra foi realizada pela Constru- toraQueirozGalvãoapósprocesso licitatóriodaPrefeituradeSãoJosé dosCampos.Osdoisviadutos, em formatodeXequepassamsobum arcode100metrosdealtura,ligam as avenidas São João e Jorge Zarur e resolvem o principal nó de con- gestionamento da cidade. Para sua realização, a equipe de engenharia daQueirozGalvão foi em busca das técnicas mais avançadas, principalmente para a construção do arco. Por meio de um sistema de fôrmas auto- trepantes (ATR), foram constru- ídos os doismastros de forma in- dependente, que se encontraram a 100metros de altura para criar a estrutura semielíptica. Aoarco foramfixados 70estais que permitem a sustentação dos dois viadutos que se cruzam den- tro dele. A colocação de cada um dessesestaisdependeudecálcu- loscriteriososparadefinirpo- siçãoeinclinação,garantindo o entrelaçamento perfeito entre eles. No interior deles,hámais de 36mil metros de cabos. Outro desafio foi o terreno (a estruturaestá ao largodeumcór- rego,epartedaobraaconteceudu- rante o período das chuvas, o que deixa o terreno mais instável). Aí, contouaexperiênciadostrabalha- doresdaconstrutoraeainteração entre as equipes de projeto e de execução, o que permitiu ade- quações, recálculosereenge- nharia paramanter a conti- nuidade das obras. O resultado é umno- vomarcoarquitetônicoe cartãopostaldacidade. Arco de 100 metros de altura visto de cima, com os estais que sustentam os viadutos Viadutos em X, que passam dentro do arco e que ligam as avenidas Jorge Zarur e São João a eee -Matheus Teixeira e Julia Chaib brasília Adecisãodoministro AlexandredeMoraes de sus- pender a nomeação de Ale- xandreRamagemparaache- fiadaPolíciaFederalentrapa- raasériederevesesqueacor- te impôsaogovernonosúlti- mos dois meses e mantém a pressãodoSupremoTribunal FederalsobreJairBolsonaro. Desde que a Organização Mundial de Saúde declarou pandemiadonovocoronaví- rus, em 11março, o STF con- trariou os interesses do Exe- cutivoemaomenos 12ações. OdespachodeMoraesdes- taquarta(29)sobreaPFfoinamesma linha. Esse caso, po- rém,revelouumcomponente amaisnarelaçãoentreosPo- deres, na avaliaçãodeminis- tros de tribunais superiores. Aosuspenderanomeação, eles avaliam nos bastidores que Moraes um mandou re- cadoclarodequeacortenão aceitará interferência na PF, sobretudoemdoisinquéritos sobsigilo:osqueinvestigama organizaçãodeatospró-inter- vençãomilitareadissemina- çãodefakenews,quetemum filhodopresidente,overeador CarlosBolsonaro(Republica- nos-RJ),namiracomosupos- toarticuladordeesquemade disseminaçãonotícias falsas. CarloséofilhodeBolsona- romaispróximodeRamagem. Asduas investigaçõessãoca- ras para umaala do STF. Desde que o ministro Dias Toffoli, presidente da corte, instaurou o inquérito sobre notícias falsas contra minis- trosdoSTF,emmarçode2019, ele foialvodecríticasdepro- curadoreseinvestigadores li- gados à Lava Jato. Toffoli, porém, sempre fez questão de defender a lega- lidade da medida para levá- la adiante. Na visão dele e de outrosministros,a investiga- ção é importante para eluci- dar a rede de ataques que os atingeeconteressesdisparos. Essaapuraçãofoimuitocri- ticadaporjuristasepelamili- tância bolsonarista, mas de- fendidapelogovernofederal. Segundo as críticas o STF não poderia ter agido de ofí- cio, ou seja, ter determinado a abertura de inquérito sem ter sido provocado pela Pro- curadoria-GeraldaRepública, comoé a regra do Judiciário. AAdvocacia-GeraldaUnião, porém,manifestou-secontra o arquivamentodo caso. Nestaquarta,logoapósade- cisão deMoraes, a leitura de atoresdo Judiciário foi queo ministrotraçouumalinhade até ondeBolsonaropode ir. Houveinclusiveaavaliação dequeoSTFpoderáautorizar diligências da PF nos próxi- mos dias contra integrantes doesquemadefakenews,pa- ramostrar quenão recuará. Essa decisão não foi o pri- meiro recadodoministro ao Planaltoemrelaçãoàautono- miadaPF.Nomesmodia em que Moro acusou Bolsonaro deinterferirnacorporação,na sexta (24), Alexandre deMo- raesdeterminouàPFquenão troque os delegados respon- sáveispelasinvestigaçõesdos atospró-ditaduraeadenotí- cias falsas na internet. O presidente não é oficial- mente investigado, mas par- ticipou dos atos e, se houver indícios de que ele ajudou a organizar os protestos, po- deráviraralvodasapurações. Além dessas ações, houve outras decisões do tribunal que limitaram a atuação do Executivo. Ainda sobre a de- missão deMoro, o STF auto- rizoua investigaçãocontrao chefedoExecutivoparaapu- rar as acusações do ex-juiz. Esse inquérito pode impu- tar crimes tanto aBolsonaro quanto aMoro. Dentrodacorte,Moroacu- muladesafetosdesdequecon- duzia a Lava Jato. Por isso, a medida pode ser usada tam- bémparamandarrecadosao ex-ministro. Emoutrafrente,Bolsonaro sofreuderrotasemmedidasli- gadasaocombateàpandemia. Naprincipaldelas,osminis- tros impediramaofensivado presidentecontragovernado- reseprefeitosparaflexibilizar a quarentena. Porunanimidade,oSTFde- cidiuqueestadosemunicípi- os têm competência concor- renteemmatériadesaúdepú- blicae,portanto,podemregu- lamentaroisolamentosocial. Amesmadecisão foi toma- daemrelaçãoàatribuiçãopa- ralistarasatividadesessenci- ais na pandemia. Segundo o tribunal, os entes da federa- ção podem, de acordo com aspeculiaridadesdecada re- gião,definirquaisserviçospo- dem ser prestados no perío- doda crise. Nos bastidores, os minis- tros dizem que irão limitar as ações do presidente que vãonacontramãodaharmo- nia entre os Poderes e os en- tes da federação. No entan- to, prometem ajudar quan- do o governo estiver alinha- do com os demais atores no enfrentamento àpandemia. Comoprova disso, Alexan- dre de Moraes levou menos de48horasparaanalisaruma ação da AGU e dar liberdade paraogovernodescumprira Lei de Responsabilidade Fis- cal emanobrar o orçamento no combate à doença. Namesmalinha,oplenário dacortederruboudecisão li- minardoministroRicardoLe- wandowskiparamanterava- lidade daMP que permitia o cortede salário e reduçãode jornadaeasuspensãodecon- tratodetrabalhopormeiode acordo individual entre pa- trão e empregado. poder A6 QUINTA-FEIRA, 30 DE ABRIL DE 2020 Nosúltimosanos,oSTFjábar- rouaindicaçãodeoutrosmi- nistros por presidentes. Em 2018, a então presidente do Supremo,CármenLúcia,sus- pendeu a posse da deputada federalCristianeBrasil (PTB- RJ) para oMinistério do Tra- balho.Emdespacho,acolheu parcialmentereclamaçãoque citavacondenaçõescontraela na Justiça doTrabalho. Ocasomaiscélebrefoiodo ex-presidente Lula. Em 2016, quando o impeachment ba- tia à sua porta, Dilma Rous- seff (PT) tentou emplacar o petista na Casa Civil, a esco- lhachegouaserpublicadano DiárioOficial,masfoibarrada pordecisõesdaJustiçaFederal eporGilmarMendes,doSTF. Na época, ele disse ter vis- todesviodefinalidadenano- meação, que teria o objetivo deimpedirumaiminentepri- sãodo ex-presidente. ConversasdeLulagravadas pelaPolíciaFederal,mantidas sobsigilodesde2016erevela- das pela Folha em setembro passado,porém,colocamem xequeatesedequesuanome- açãoporDilma tivesse como objetivo principal obstruir as investigaçõesdaLavaJato. Bruno Boghossian, Matheus Teixeira, Ricardo Della Coletta, Daniel Carvalho e Gustavo Uribe Medida tem respaldo de especialistas,mas há quemveja ativismo -Renata Galf são paulo A decisão do mi- nistro Alexandre de Moraes desuspenderanomeaçãode Alexandre Ramagem levan- ta questionamentos por en- volveraçãodiscricionáriado presidente da República, ou seja, que não exige critérios objetivosparaaescolha,mas “juízodeconveniênciaeopor- tunidade”. Paraamaioriadosespecia- listas ouvidos pela Folha, foi correta a decisão deMoraes. Segundoeles, opoderdeno- meação do presidente não é absoluto e deve respeitar as regras previstas pela Consti- tuição, como impessoalida- de,moralidade e legalidade. “O que o Supremo faz não égovernaremlugardopresi- dente, é evitarodesgoverno. O Supremo está estreitando o leque de escolhas do presi- dente, não eliminando”, afir- mouGustavoBinenbojm,pro- fessor de direito administra- tivo da Universidade do Es- tadodoRiodeJaneiro(Uerj). Na decisão, Moraes argu- Continuação da pág. A4 STF barra novo chefe da PF, Bolsonaro fala em Poderes independentes e recorrerá mentaquehouveabusodepo- dernanomeação,vistoquea leiprevêquesãonulososatos praticadosporagentespúbli- cos comfinalidade diferente da que é prevista em lei. Para o professor de direi- to público da FGV Carlos Ari Sundfeld, “a decisão é técni- ca,dificilmentepoderiacontar comindícios tão fortes como aconfissãodopresidente,isso fezoSTFdecidircorretamen- teporsuspenderanomeação”. SegundoSundfeld,odesvio definalidadeestariaem“não colocaralguémparacumprir as normas,mas alguémpara ajudar o presidente a fazer interferênciasquea leiveda”. Háquemafirme,noentan- to,queseriaprecisohaverpro- vas mais contundentes para queanomeação fosseanula- danestemomento. Oprofessordedireitocons- titucionaldaUSPElivaldaSil- va Ramos vê ativismo judici- alnadecisãoeafirmaqueela cria umprecedente ruim. Para ele ainda não há pro- vas suficientes de que a no- meação de Ramagem seria abuso de poder, mas apenas indícios.Segundoele,apesar dealiminar(decisãoprovisó- ria)poderserconcedidasem provascabais,porsetratarda suspensão de um ato discri- cionário seria preciso haver provasmaismaduras. Oprofessordedireitocons- titucionaldaUFPR(Universi- dade Federal do Paraná) Mi- guel Gualano de Godoy tam- bémvêadecisãocomreceio, masconsidera temerário co- locaradecisãoemtermosde certo e errado. “Mais proble- mático que a decisão do mi- nistro Alexandre de Moraes éoSTFnãofirmarumprece- dentenítido sobreashipóte- sesqueautorizamessa inter- venção, quedeve sempre ser excepcional”, afirma. Apesar disso, Gualano não consideraadecisãocomoati- vismojudicial, jáquealeiper- mitequeatosdenomeaçãose- jamanuladospeloJudiciário. Para Lucianode SouzaGo- doy, advogado e ex-juiz fede- ral, foi correta a decisão em caráter provisório, combase no conceito do perigo da de- mora.“Oujuizconcedeoune- ga,seelenegaeonovodiretor tomaposseedáaopresiden- te os relatórios que ele disse que almejava, terá se consu- madoodanoenão temmais como reverter.” A professorade direito pú- blicodaUSPMariaPaulaDal- lariBucciconcordacomade- cisãodoSTF.Segundoela,nos fatos trazidos nos pronunci- amentos do ex-ministro da JustiçaSergioMoroedopre- sidenteestá “plenamenteca- racterizado o abuso de po- der,pordesviodefinalidade”. $ Derrotas de Bolsonaro no Supremo Isolamento social (24.mar) Marco Aurélio Mello mantém a legalidade dos decretos que impõem restrições a circulação Acesso à Informação (26.mar) Alexandre de Moraes suspende retirada da obrigatoriedade de órgãos públicos cumprirem prazo para responder pedidos Prorrogação deMP (27.mar) Moraes nega pedido do Planalto para ampliar a vigência de medidas provisórias Proibiçãodecampanha (31.mar) LuísRobertoBarroso veta a circulaçãoda campanha federal “OBrasil nãopode parar”, contra o isolamento Autonomia dos estados (8.abr) Moraes decide que estados e municípios têm autonomia para impor o isolamento social. No dia 15, STF decide por unanimidade Convidados na posse do novoministro da Justiça e do novo advogado-geral da União, no Planalto Pedro Ladeira/Folhapress DecisãodoSupremo mantémpressão sobreopresidente Nos bastidores, determinação do ministro Alexandre de Moraes foi lida como imposição de limites ao Executivo Oministro Alexandre deMoraes no plenário da corte Rosinei Coutinho - 6.fev.20/STF $ Entenda a decisão e relembre outros casos NOMEAÇÃO PARAA PF • Oministro Alexandre de Moraes suspendeu a nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da PF após o PDT entrar commandado de segurança alegando “abuso de poder por desvio definalidade” no ato de Jair Bolsonaro • Omagistrado baseou sua decisão no comportamento do chefe do Executivo. Segundo o ministro, há elementos que apontam o interesse de Bolsonaro em escolher para o comando da corporação alguém que pudesse fornecer acesso a informações privilegiadas. O próprio presidente admitiu interesse pessoal emações da PF, em pronunciamento após a demissão de Sergio Moro • Para oministro do STF, houve “inobservância aos princípios constitucionais da impessoalidade, damoralidade e do interesse público” na nomeação. “Em um sistema republicano, não existe poder absoluto ou ilimitado (...)”, acrescentou • Alexandre citou ainda acusações do ex-juiz contra o presidente. “[Moro] afirmou (...) que o presidente da República informou-lhe da futura nomeação (...), para que pudesse ter ‘interferência política’ na instituição, no sentido de ‘ter uma pessoa do contato pessoal dele’, ‘que pudesse ligar, colher informações, colher relatórios de inteligência’” •Ramageméamigo dos filhos deBolsonaro. Sobre essa relação, o ministro afirmou que o princípio da impessoalidade “exige do administrador público a prática do ato somente visando seu fim legal, de forma impessoal” LULA Dilma Rousseff (PT) tentou nomear Lula para ser ministro da Casa Civil, emmarço de 2016, antes do impeachment. Gilmar Mendes, do STF, impediu a posse, dizendo entender que havia um desvio de finalidade na nomeação. Omagistrado concluiu na época que a intenção do ato era impedir a prisão de Lula. Mais tarde, conversas de Lula gravadas pela PF e reveladas pela Folha colocaram em xeque essa tese CRISTIANE BRASIL Em janeiro de 2018, a ministra Cármen Lúcia, na época presidente do STF, suspendeu a posse da então deputada federal Cristiane Brasil (PTB- RJ), filha do ex-deputado Roberto Jefferson, para o comando doMinistério do Trabalho. A ministra acolheu “parcialmente” reclamação de um grupo de advogados, que chamou de “grande imoralidade” a nomeação, porque Cristiane já tinha sido condenada na Justiça do Trabalho MOREIRA FRANCO Em fevereiro de 2017, a nomeação de Moreira para a Secretaria-Geral da Presidência chegou a ser suspensa por juízes federais. O argumento era que a escolha de Michel Temer visava proteger o aliado, citado por executivos da Odebrecht em delação premiada com a PGR. A AGU reverteu as decisões a eee poder QUINTA-FEIRA, 30 DE ABRIL DE 2020 A7 -CamilaMattoso brasília A decisão do minis- tro Alexandre deMoraes, do STF (Supremo Tribunal Fe- deral), pegou a Polícia Fede- raldesurpresanamanhãdes- ta quarta-feira (29). A nome- açãodeAlexandreRamagem já era dada comocerta. Uma reuniãocomdiretoresesupe- rintendentes na terça (28) ti- nhadadoinícioaonovociclo. Tanto integrantesdacúpu- la quanto membros da ba- se da corporação já conside- ravam a escolha do sucessor de Maurício Valeixo um as- sunto encerrado. Policiaispassaramodiaarti- culandoumamaneiradepres- sionaropresidenteJairBolso- naro (sem partido) a tomar umarápidadecisãoenãoper- mitirqueoórgãofiqueacéfa- lodiantedasuspensãodano- meaçãodeRamagem. Membros da direção ten- taramcontatocommilitares próximosaopresidentepara ajudarnoconvencimento.Até ofinaldanoitedestaquarta,a expectativaeraqueadecisão seria por um nome que não agravassemais a crise naPF. Depois de afirmar que res- peita oPoder Judiciário, Bol- sonaro disse que a AGU (Ad- vocacia-Geral da União) vai recorrerda liminardeMora- es. “Quemmandasoueueeu querooRamagemlá”,afirmou. AntesdadecisãodoSupre- mo,asatençõesestavamvol- tadas para a escolha dos no- vosdiretoresedecomoono- vocomandantefariaparasu- perardesconfiançasinternas e principalmente da opinião pública,porcausadasacusa- çõesfeitaspeloex-ministroda Justiça SergioMoro. O ex-juiz afirmou ao anun- ciar suademissãoqueBolso- narohavialheinformadoque gostariaderealizaratrocana PFparaquepudesseter inter- ferência política, “uma pes- soa de contato pessoal, que pudesse ligarecolher relató- rios de inteligência”, de acor- do comsuas palavras. Nascontasdepoliciais,oór- gão está há quase dezmeses sangrando.Acriseteveinício ainda em agosto do ano pas- sado,quandoBolsonaroatro- pelou a direção da PF e deci- diutrocarosuperintendente doRio de Janeiro. A principal reclamação de delegadoséqueasituaçãode instabilidadeatrapalhaoan- damentodetrabalhos,parali- sandotambéminvestigações. Apesar de momentos de calmaria nos dez meses que se passaram desde a primei- ra turbulência, policiais rela- tamqueasituaçãonuncapa- receude fato resolvida. Apassagemdeanochegou DelegadosveemPFsangrandoe tentamevitarquefiqueacéfala Decisão do STF que barrou posse de Ramagem pega corporação de surpresa INQUÉRITODAS FAKENEWS Em inquérito sigiloso conduzido pelo STF, a PF identificou o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, como um dos articuladores de um esquema criminoso de fake news. Dentro da PF, não há dúvidas de que Bolsonaro quis exonerar o ex- diretor da PFMaurício Valeixo, homem de confiança de Moro, porque tinha ciência de que a corporação havia chegado ao seufilho. Para o presidente, tirar Valeixo da direção da PF poderia abrir caminho para obter informações da investigação do STF ou trocar o grupo de delegados do caso ATOS PRÓ-GOLPEMILITAR Oministro Alexandre de Moraes, do STF, autorizou a abertura de inquérito para investigar os atos do dia 19 demarço. O pedido foi feito por Augusto Aras. O objetivo é apurar possível violação da Lei de SegurançaNacional por “atos contra o regime da democracia brasileira”. A investigaçãomira empresários e aomenos dois deputados federais bolsonaristas por, possivelmente, terem organizado e financiado os eventos. Os nomes sãomantidos em sigilo. Bolsonaro, que participou dos atos em Brasília, não será investigado, segundo interlocutores do procurador- geral. Eles alertam, porém, que, caso sejam encontrados indícios de que o chefe do Executivo ajudou a organizá- los, ele pode vir a ser alvo CASOQUEIROZ Em agosto do ano passado, Bolsonaro anunciou que trocaria a o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Ricardo Saadi, por questões de gestão e produtividade. A corporação passava por momento delicado, após vir à tona o caso Fabrício Queiroz, policial aposentado e ex- assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos- RJ) na Assembleia do Rio. Ele é o pivô da investigação do Ministério Público que atingiu o senador, primogênito do presidente. A suspeita é de que o dinheiro seja de um esquemade “rachadinha” —quando funcionários são coagidos a devolver parte de seus saláriosaos deputados Mendonçadiz quepresidente é profeta e prometemais operações -Daniel Carvalho e Ricardo Della Coletta brasília O novo ministro da Justiça e Segurança Pública, André Luiz Mendonça, to- mou posse nesta quarta-fei- ra(29)prestandocontinência e fazendoumasériedemen- ções elogiosas ao presidente JairBolsonaro(sempartido), a quemchamoudeprofeta. Em seu discurso e diante de uma plateia majoritaria- mente sem máscaras e com nomes do Judiciário e parla- mentares,eleprometeumais operaçõesdaPolíciaFederal, atuação técnica e imparcial. “Combateirrestritoàcrimi- nalidade.Hámaisdeumadé- cada tenho me dedicado, na práticaenateoria,aocomba- te à corrupção. Presidente, o senhor tem sido, há 30 anos, umprofetanocombateàcri- minalidade”,disseMendonça em uma das manifestações elogiosasquefezaBolsonaro. O novoministro da Justiça fez homenagem também ao ministrodaSecretaria-Geral, Jorge Oliveira, nome que era inicialmente o mais cotado paraassumirapastanolugar deSergioMoro,quepediude- missãona semanapassada. DissequeoBrasilvive“mo- mentodifícilnahistória”elis- touvalorescomosquaisdisse secomprometer:oEstadode Direito, liberdade,fraternida- de, igualdade, bem estar, de- senvolvimento, segurança e “acima de tudo” Justiça. Afir- mouestarsempredisposto“a prestarcontasnãosóaochefe danação,masatodoopovo”. Ele também disse se com- prometer com o combate ir- restrito à criminalidade. “Cobre de nósmais opera- çõesdaPolíciaFederal,presi- dente”, disse o ministro, que também afirmou compro- missocomaatuaçãointegra- dacomestadosemunicípios. Ao falar da PF, defendeu princípios de autonomia, in- dependênciatécnica,respon- sabilidade,prestaçãodecon- tas e controle. Eletomouposseaoladode JoséLevi,novoAdvogado-Ge- raldaUnião(AGU).Participa- ramdacerimôniaospresiden- tesdoSTF(SupremoTribunal Federal),ministroDiasToffo- li,edoSTJ(SuperiorTribunal deJustiça), JoãoOtávioNoro- nha, oministroGilmarMen- des (STF) e o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB). Asolenidadeincluiriatam- bémapossedeAlexandreRa- magemcomodiretor-geralda PF,masBolsonarorecuoude- pois da decisãodo Supremo. AndrédeAlmeidaMendon- ça,47,deixouaAdvocacia-Ge- ral da União e ocupa a vaga deixadaporMoro,que,aope- dirdemissão,acusouopresi- dentedeinterferênciasnaPF. O novo ministro é pastor da IgrejaPresbiterianaEspe- rançadeBrasíliaeintegravaa AGUdesde2000, quandoen- cerrousuaatividadecomoad- vogadoconcursadodaPetro- bras(1997-2000). Integrantes da bancada evangélica esta- vampresentes à cerimônia. Em outubro de 2002, ele publicou no jornal Folha de Londrina um artigo sobre a eleição do ex-presidente Lu- la (PT). Intitulado“Opovose dáumaoportunidade”,o tex- totemtomotimista.Nele,diz que“oBrasilcresceueseupo- voamadureceu,restandocon- solidadaademocracianãosó porqueonovopresidente foi eleitopelopovo,masporque saiu dopróprio povo”. Horas após sua nomeação ter sido publicada, Mendon- çapublicounasredessociais: “Agradeço ao presidente Jair Bolsonaroporconfiaramim amissãodeconduzir aspolí- ticaspúblicasde JustiçaeSe- gurançadonossopaís”. Afirmou que seu compro- misso“écontinuardesenvol- vendootrabalhotécnicoque tempautadominhavida”.Dis- secontarcomoapoiodopo- vobrasileiroeencerroupedin- do “queDeusnos abençoe”. Mendonça foi corregedor da AGU no governo Temer. ChegouaogovernoBolsonaro por indicaçãodoministroda CGU(ControladoriaGeralda União),WagnerRosário,com apoiodabancadaevangélica. A sua transferência para a Justiça teve apoio da cúpula militarearticulaçãodopresi- dentedoSTF, JoséDiasToffo- li.Aexpectativaéadequeele melhore a relação de Bolso- naro comoPoder Judiciário. AtransferênciadeMendon- çafortaleceaindicaçãodeseu nomepara umadas duas va- gas a que Bolsonaro terá di- reito de preencher no STF. O presidente já disse que con- sidera oministro, a quem se referiu como “terrivelmente evangélico”,aumdospostos. Entre oministro do STF GilmarMendes e o presidente da corte, Dias Toffoli, o novo titular da Justiça, AndréMendonça, abraça o presidente na posse Pedro Ladeira/Folhapress atrazernovoânimo,maslogo emjaneiroveioasegundacri- se, dandomais sinais de que a relaçãodeMoroeBolsona- ro estava enfraquecida e que seria difícil reatá-la. Quandoapandemiadoco- ronavírus começou, surgiu outra indicação de aparente tranquilidade —que, de no- vo, duroupouco. Oex-ministrodaJustiçavol- tou para amira do presiden- te, entreoutrosmotivos,por não se posicionar contra o isolamento social. Nosbastidores,segundore- velou Moro, havia por parte de Bolsonaro principalmen- teapreocupaçãocominqué- ritos emandamento. ComadecisãodeMoraes,a PolíciaFederal ficará tempo- rariamente sob o comando de Disney Rosseti, número 2 da ainda atual gestão. Em seu pronunciamento bombástico de despedida, MorodisseterindicadoaBol- sonaro o nome do delegado para substituir Maurício Va- leixonocargodediretor-geral. “Eunãopermaneço.Tenho compromisso com a institu- ição, quenãopodeparar, até quesedefinamascoisas.Mas estou de saída”, disse Rosseti aoPainelnestaquarta.Odire- tor deve ser transferidopara uma funçãoemumtribunal, na área de segurança. Na última terça-feira (28), Ramagemacenoupara alvos dopresidenteemsuaprimei- rareuniãocomodiretor-geral. Odelegadofeznominalmente elogiosaossuperintendentes dacorporaçãonoRiodeJanei- ro e emPernambuco. Sergio Moro disse em sua saída que o presidente que- ria substituí-los sem motivo e semrazão aceitáveis. Ramagem também quis se posicionar em relação ao ex- ministro, fazendo menção positiva a dois delegados sa- bidamente ligadosaMoro.O diretor pediu tranquilidade. A transmissão do cargo foi elogiada, por ter contado in- clusivecomaparticipaçãode Valeixo.Elestrocaramhome- nagensno encontro. O ex-diretor-geral lembrou na conversa que Ramagem chegou a quase fazer parte da sua gestão. Ele foi indica- doparaassumirasuperinten- dência de Alagoas, mas de- sistiu quando foi convidado pelopresidenteparaachefia daAbin(AgênciaBrasileirade Inteligência). NaPF,atribui-seoutromo- mento ruim do ano passado à família Bolsonaro. Em julho, o presidente do STF,DiasToffoli,determinou asuspensãodeinvestigações criminaispelopaísqueusem dados detalhados de órgãos decontrole (comoCoaf eRe- ceita Federal) sem autoriza- ção judicial, atendendo a pe- didodadefesadosenadorFlá- vioBolsonaro(Republicanos- RJ),filhomaisvelhodopresi- dente daRepública. Apolêmicadecisãoqueres- tringiuautilizaçãoderelatóri- osdoCoaf (ConselhodeCon- troledeAtividadesFinancei- ras) fez as atividades do ór- gãodespencarem. Centenas de inquéritos fo- ramparalisadosporcausada liminar,segundoinformações daPolícia Federal. Em agosto do ano passa- do,porexemplo,oórgãoela- borou apenas 136 relatórios de inteligênciafinanceira (os RIFs), caindo a índices que existiam em período anteri- or à Operação Lava Jato. Na médiadoprimeirosemestre, eram 741pormês. $ Casos da PF que envolvem entorno do presidente a eee poder A8 QUINTA-FEIRA, 30 DE ABRIL DE 2020 OPINIÃO -Fernando Limongi e Argelina Cheibub Figueiredo Professor da Escola de Economia de São Paulo da FGV e do departamento de ciência política da USP e professora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj SergioMorosaiuatirando.Su- asdenúnciasreabriramasca- sas de apostas: Jair Bolsona- ro resistirá? Completará seu mandato? A experiência re- centecolocouoimpeachment do presidente na agenda. As atenções se voltaram para o presidente daCâmara. Nãofaltamrazõesparaque Rodrigo Maia acate um dos muitos pedidos que tem à disposição.Estes semultipli- cam com a velocidade do ví- rus ao qual o presidente, em razãodeseupassadodeatle- ta, acredita ser imune. No caso de seu afastamen- to, a proteçãonão lhe é dada pelapráticaesportivaoupor seupassadoprofissional.Seu vice é sua maior defesa, não tanto pelo que é —um mili- tar reformado—, mas mais peloquenãoé—umpolítico. Por isso, é pouco prová- vel que o Congresso dê iní- cio a um processo de impe- achment contra o presiden- te.Nãopelas razõesque têm sido citadas pelos analistas. Apoio das ruas não é condi- çãonecessáriaparadesenca- dear a ação. Em geral, o que ocorreéo inverso.Sãoas for-çaspolíticasengajadasemen- curtar o mandato presiden- cial que mobilizam e levam os cidadãos às ruas. O impeachment é antes de tudo um ato político. Como tal, quem o provoca deve es- tar preparado para o dia se- guinte, isto é, temque “com- binarcomoadversário”e,no caso, este não é o proverbial zagueiro russo, mas o vice- presidente. Sem saber qual o perfil do novogoverno,queespaçoes- te lhe reserva, políticos não vãosemover.Eovice,porde- finição,porqueeleitoconjun- tamente com o presidente, é um elemento de continui- dade. Em outras palavras, o grupoencasteladonopoder precisa de segurança de que seus interesses serãopreser- vados na nova ordem. Eéaíqueumapossívelação peloCongressocontraBolso- naroencontraseumaiorobs- táculo.HamiltonMourãonão épolítico,eaexperiênciana- cionalrecenteensinaqueim- peachmentsnãodecolamsem queo vice entre emcampo. ItamarFrancoeMichelTe- mer(MDB)foramosfiadores daderrubadadosdois titula- res que sucederam. A nego- ciação com Mourão está e deve continuar interditada, seja porque ele não tem ba- se política própria, seja por seu passadomilitar. Uma outra possibilidade aventada é a da intervenção das Forças Armadas, via um golpe aberto oubranco. A primeira possibilidade pode ser descartada. Os mi- litares não derrubarão Bol- sonaroparaassumiropoder pormeiosextralegais.Nãohá apoioparaesterecursoextre- moque,comcerteza, levariaa umconflitointernoacorpora- ção.Quem lideraria o golpe? Quemcorreriaoriscodeque- brar a hierarquia? Quem as- sumiria o poder? A pressão para que Bolso- narorenuncieseriaumasolu- çãomaisconvenienteparaas Supremonão terá comoevitar confronto comopresidente Individualmente, ministros têmmostrado disposição para o ativismo imoderado aprender lições, deve ter en- tendido que Bolsonaro não fala da boca para fora quan- dodizquenãoquernegociar. Bolsonarocontinuaomes- mocamicasecapazdeplane- jar dinamitar as adutoras do Riode Janeiroparaobter au- mento salarial. Mas, como diz o ditado, cão que muito ladra nãomorde. Bolsonaro não negocia, mas recua. Se tem alguma habilidade, é a de cutucar a onça com vara curta e sair ileso. Os ataques, contudo, dei- xam digitais compromete- doras. Para onde se olha, so- bretudo quando se olha pa- ra baixo, para o submundo, lá estão as marcas deixadas pelo clã Bolsonaro e seus ca- maradas. Basta ler os jornais parasaberque,defato,Moro se afastou para salvar o que restavada suabiografia. Bol- sonaro, como o próprio afir- mou em sua lenga-lenga da última sexta-feira (24), tam- bém tem uma biografia. No seucaso,contudo,édelaque ele temque se salvar. Dadoo seu intervencionis- moimoderado,oSTFnãoterá comoevitaroconfrontocom o presidente. E não terá por- queopresidente daRepúbli- ca não deixará de produzir elementos para tanto. Para fazer jus ao seu apeli- do quando na ativa, o presi- dentedesembestouaprodu- zir indícioscontrasipróprio, comoodecreto assinadopa- raquebrarocontrolesobreo desviodearmasdeutilização exclusivadasForçasArmadas. Coincidênciaounão,nomes- mo dia, novas revelações so- bre a relação do filho 01 com as milícias do Rio de Janeiro vieramà luz. No ritmo atual, embreve, faltarápescoçopa- ra tanta corda. O ministro Alexandre de Moraes já deu demonstra- ção clara de que não abrirá mão do comando da investi- gação a ele designada, inves- tigaçãoque,todossabem, in- clusiveopresidente,chegará aofilho02,CarlosBolsonaro, e sua redede robôs. Celso de Mello seguiu na mesma toada e, em pouco tempo, os demais supremos terão oportunidade de con- tribuir para montar o cerco aopresidente. OSTFvemtratandoa letra da Constituição com a elas- ticidade necessária para in- tervir e colocar a conveniên- cia a serviço de suas inclina- ções políticas de momento, mesmo quando amparadas por maiorias circunstanci- ais, como no caso da prisão após condenação em segun- da instância. O presidente, como uma criança birrenta, não vai pa- rardeprovocar,decriarcasos (e investigações) enquanto nãoencontrar limites.Odes- tino do presidente está nas mãos do STF. JoãoPereiraCoutinhofezuma perguntaestranhaemseuarti- godestasemana:porquesalvar um jovemdelinquente e aban- donar um velho exemplar? A perguntaéprovocativa,masre- al,nestestemposdepandemia. Odebateéoseguinte:oque fa- zer quando as UTIs explodem degente e hámais pessoas em situaçãocríticadoqueacapa- cidade de atendimento? Foi odilemavividopela Itá- lia, semanasatrás.Umapubli- cação do Colégio Italiano de Anestesia,Analgesia,Reanima- ção e Terapia Intensiva criou um protocolo para lidar com o tema espinhoso. O conceito é simples: dado que os recur- sos são escassos, o foco é pre- servar quem tem “maior pro- babilidade de sobrevivência”. Comosegundaopção,quem tem mais anos de vida pela frente, de forma a “maximi- zarbenefíciosparaamaioria”. Logo me perguntei: quantos anos? 50 anos me parece OK; 10 anos soa pouco relevante. Quemvaidecidir essas coisas? Oprotocoloé,poróbvio,utili- tarista.Seuscritérioschocama partir deumolharmenos trei- nado.Umdeles,emparticular: estabelecer um limite de idade naentradanaUTI.Pessoasse- rãoexcluídas“apriori”.Meinco- modaimensamenteisso.Imagi- neimeuvelhopai, sevivofosse, aos91,dandodecaranaporta. Concorde-se ounãocomes- te ouaquele critério, émelhor teralgumprotocolodoquene- nhum. O pior cenário é quan- do escolhas desse tipo são to- madas subjetivamente, noca- lor da hora. Há quem vámais longe nis- so tudo. Peter Singer (nosso filósofo utilitarista-chefe) de- fende que a sociedade como um todo deve pensar não em vidas perdidas, mas em anos de vida perdidos. Ele mencio- na umestudomostrando que aItáliaperdeuemmédia “ape- nas” trêsanosdevidaparaca- damorteregistrada.Singervai além: sugerequeamelhormé- trica seria calcular tudo em termos de “bem-estar”. Certo seria calcular o quanto per- demos, emtermosde felicida- de agregada, parando a eco- nomiapordois ou trêsmeses, vis à vis o benefício de preser- varumcerto estoquede “anos devida”, emgeraldestinadosa pessoasmuito idosas. Singer acredita que os eco- nomistas facilmente fariames- sa conta, colocandoumpreço navidahumana.Pergunteipa- raumamigoeconomista, e ele concordou: “fazemos isso toda hora, a começarquandodeci- dimos o orçamento público”. Deminhaparte,desconfiode tudoisso.SigocomoamigoCou- tinho:“oproblemadoutilitaris- moéqueeleéassazflexível”.Di- go que é preciso propor algum critério mais objetivo para sa- berquandoacontabilidadede vidashumanas éaceitável. Joshua Greene sugere o se- guinte: concordaríamosemsa- crificarumesalvarquatroope- ráriosdistraídos,nofamosodi- lemadobondedesgovernado. Com uma condição: cada um imaginando a si mesmo den- trodoexperimento.Seria ilógi- conãomultiplicarporquatro a chance de sobreviver. Omesmoraciocíniodeixade funcionar quando o contexto é mais aberto. Alguém topa- ria viver em uma sociedade na qual pudesse ser sacrifica- do,aqualquermomento,para salvar trêsouquatropessoas? O utilitarismo é uma ética plausível em situações extre- mas, quando as opções em jo- gosãopoucaseoscritériosam- plamentecompartilhados.Mas éimplausívelnagrandesocieda- de,ondeacontademaximização dobem-estaréexageradamente “flexível”,etodosdemandamos, comrazão,direitos iguais. O país deveria pensar nisso quando ingressana fasemais críticadapandemia.Devería- mos fazerqualquercoisapara evitarquenossosprofissionais de saúde tenhamque fazer es- colhas de vida e de morte en- tre cidadãos brasileiros, por falta de leitos e respiradores. Dinheiro não nos falta, visto que nenhum corte na carne vi- mosatéagoradosetorpúblico, enemmesmoosR$2bilhõesque nossospolíticosreservarampa- ra gastar na campanha eleito- ral foramdestinadosà saúde. Seriaumaestranhaformade contabilidadehumanainvestir empanfletosonecessáriopara que nenhumde nossos velhos seja retiradodeumventilador, emumhospital qualquerdes- te país imenso e ingrato. Brasil precisa fazer qualquer coisa para evitar o drama vivido em hospitais italianos - Fernando Schüler Professor do Insper e curador do projeto Fronteiras do Pensamento. Foi diretor da Fundação Iberê Camargo Estranha contabilidade humana dom.ElioGaspari, JaniodeFreitas
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