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TÍTULOS DE CRÉDITO

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TÍTULOS DE CRÉDITO
Laís Stefanello
1. Introdução
	O título de crédito surgiu como elemento novo a facilitar a vida dos indivíduos e, consequentemente, o progresso dos povos. Mas, desde o início foi evidenciado um problema relativo à circulação dos direitos creditórios, problema que, de fato, só veio a ser solucionado com o aparecimento dos títulos de crédito.
	Modernamente, o direito cambiário encontra sua justificação não na tutela do comerciante, mas na tutela do crédito e da circulação de bens ou serviços, vale dizer, é permitir o bom desenvolvimento das relações de crédito e das atividades econômicas. Dentro dessa concepção, a disciplina dos títulos de crédito ganha importância, na medida em que eles são os principais instrumentos de circulação de riquezas no mundo moderno. 
	Assim, os títulos de crédito talvez representem a principal contribuição do direito comercial para a economia moderna.
2. Breve Histórico
	A origem dos títulos de créditos ocorreu na Idade Média, no século XIII, pelos países da Itália, França e Alemanha, pois nesses países havia feiras de mercadores onde havia a necessidade de ter um documento que representasse o acordo firmado e facilitasse as trocas das moedas diretamente nas casas de câmbio.
	Esse processo de conceituação dos títulos de créditos vem somente no século XX, no ano de 1930, para uma reunião de vários juristas que se encontraram em Genebra, na Suíça, com a intenção da criação de uma legislação uniforme, chamada Lei Uniforme de Genebra.
	
3. Conceito
	Título de crédito é um documento que tem como objetivo representar um crédito relativo a uma transação específica de mercado, facilitando desta forma a sua circulação entre diversos titulares distintos, substituindo num dado momento a moeda corrente ou dinheiro em espécie, além de garantir a segurança da transação. Pode conceituar título de crédito como um documento representativo do direito de crédito pecuniário que nele se contém e que pode ser executado por si mesmo, de forma literal e autônoma, independentemente de qualquer outro negócio jurídico subjacente ou subentendido, bastando que preencha os requisitos legais.
	A Conferência de Genebra realizou no ano de 1930, tinha como objetivo a uniformização da legislação relativa a letra de câmbio a nota promissória e ao cheque em âmbito internacional de modo a propiciar maior eficiência aos Empreendimentos empresariais que horas se tornava cada vez mais globalizados demandando um aperfeiçoamento do crédito ponto na referida conferência houve aprovação de três Convenções a primeira delas para adoção de uma lei uniforme sobre letra de câmbio e nota promissória já a segunda para regular conflitos de lei em matéria de letra de câmbio e nota promissória e a terceira relativo ao imposto do seu em matéria de letra de câmbio e nota promissória.
 	Diante disso e tendo presente que segue em vigor o Decreto nº 2044/1908, o que define uma letra de câmbio e a nota promissória deve-se distinguir a aplicabilidade de um diploma em detrimento de outro quando em conflito.
	De forma subsidiária, os títulos de crédito estão submetidos ao o Direito das Obrigações, do Código Civil de 2002, sendo aplicados quando não houver um tratamento diverso na legislação especial, como dispõe o artigo 903 do Código Civil de 2002, juntamente com as principais leis são: Decreto nº 57.663/1966 (Letra de Câmbio e Nota Promissória); Lei nº 5.474/1968 (Lei da Duplicatas); Lei nº 7.357/1985 (Lei do Cheques) e Lei nº 10.931/2004 (Lei da Cédula de Crédito Bancário). 
	Os princípios ou características essenciais dos títulos de créditos, se resumem em três: cartularidade, literalidade e autonomia.
a) Cartularidade: ou incorporação é a característica pela qual o crédito se incorpora ao documento, ou seja, se materializa no título, assim por exemplo, o direito de crédito de um cheque está incorporado nele próprio, portanto basta apresentá-lo no banco sacado para exercer o direito.
b) Literalidade: é o atributo do título de crédito pelo qual só vale aquilo que nele está escrito, sendo nulo qualquer adendo, assim por exemplo, se uma pessoa emite uma nota promissória com vencimento para trinta dias, não poderá por meio de outro documento alterar a data do pagamento, pois é direito do credor (beneficiário original ou endossatário) receber no vencimento estipulado. Segundo a Súmula 387 do Supremo Tribunal Federal, ainda que incompleto o título de crédito, poderá ser completado por terceiro de boa-fé antes da cobrança ou protesto.
c) Autonomia: significa que as obrigações assumidas no título são independentes umas das outras. Conforme a Súmula 258 do Supremo Tribunal de Justiça; A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão do título que a originou.
d) Abstração: é o princípio dos títulos de crédito através do qual se torna desnecessário a verificação do negócio jurídico que originou o título, a duplicata não possui esta característica, pois é vinculada ao negócio mercantil que lhe deu origem.
	Existe várias espécies de títulos de crédito no Brasil, todos regulados por legislação específica. Com isso, vamos apresentar as principais modalidades que garantem a grande maioria das operações de crédito no mercado brasileiro, sendo a letra de câmbio, a nota promissória, o cheque e a duplicata.
4. Letra de Câmbio
	Letra de câmbio é uma ordem de pagamento à vista ou a prazo, por meio da qual o sacador dirige ao sacado com o objetivo de que este pague a importância nela consignada a um terceiro chamado tomador.
	Com isso, são exigidos a denominação ‘letra de câmbio’, a quantia que deve ser paga, o nome da pessoa que deve pagar, o nome da pessoa a quem se deve pagar, a data do saque, o lugar onde a letra foi sacada e a assinatura do sacador. A falta da expressão letra de câmbio, mesmo que desconfigure o título, não afasta, por si só, a responsabilidade do devedor pela obrigação.
	Em relação ao prazo, este é de 01 (um) ano contado da data de emissão, na contagem do prazo exclui o dia do aceite e conta-se o último. Ocorre que o vencimento antecipado quando faltar ou houver recusa do aceite, falência do sacado ou falência do sacador. O pagamento deve ser efetuado no lugar indicado na letra, na falta de indicação, o lugar será aquele designado ao lado do nome e o lugar do domicilio do sacado.
	Portanto, o aval é a garantia do pagamento do débito expresso pela letra de câmbio, pode ser dado por terceiro ou mesmo por um dos signatários da letra. O avalista é responsável pela obrigação da mesma maneira que é o avalizado, é responsável, ainda que nula.
	O endosso é o meio pelo qual se transfere o título de um credor para o outro, é um ato unilateral de declaração de vontade que exige a forma escrita, se dá com a assinatura do endossante no verso da letra, ou em outro lugar e pode ser lançado ainda, para cancelar o endosso basta risca-lo. Com isso, o endosso deve ser puro e simples, sendo vedado o endosso parcial, sendo posterior ao protesto por falta de pagamento ou dado depois de expirado o prazo fixado para fazer o protesto produz os efeitos de uma cessão ordinária de crédito.
	Todas as ações contra o aceitante prescrevem em 03 (três) anos, contados do vencimento da letra, aquelas movidas pelo portador contra os endossantes e contra o sacador prescrevem em 01 (um) ano contado da data do protesto. As ações dos endossantes, uns contra os outros e contra o sacador, prescrevem em 06 (seis) meses contados da data em que o endossante pagou a letra, o prazo para o avalista é de 05 (cinco) anos. Cumpre lembrar que o protesto interrompe a prescrição.
	O protesto cambiário tem duas hipóteses, sendo a primeira protesto probatório que tem a função de constituir a mora do devedor; e o protesto conservatório que quando a lei determinar para conservar direitos do portador. O protesto, em caso de recusa de pagamento, deve ser no primeiro dia útil seguinte ao do vencimento.
	
5. Nota Promissória
	A Nota Promissória é uma promessa de pagamento, onde esse título de crédito constitui compromissoescrito e solene pelo qual alguém se obriga a pagar a outrem certa soma em dinheiro.
	Aplicam-se à nota promissória os dispositivos relativos à letra de câmbio, com exceção daqueles que se referem ao aceite e a duplicidade, no mais, a nota promissória é título literal e abstrato.
	A denominação de nota promissória ou termo correspondente, a soma em dinheiro a pagar; o nome da pessoa a quem se deve pagar; a assinatura do próprio punho do emitente ou do mandatário especial. 
	Nota promissória em branco entende-se que foi facultado ao portador preenche-la posteriormente com os requisitos essenciais.
	A data do vencimento e o lugar do pagamento não foram inseridos presumem-se deferidos pelo portador. Se não constar data de vencimento, será pagamento à vista. E será pagável no domicílio do seu emitente a nota que não indicar o lugar do pagamento, não se admite nota promissória ao portador.
	Para a nota promissória ser à vista não se deve indicar a data do vencimento. Possuindo assim a prescrição de 06 (seis) meses, prescrevendo assim a ação de um endossante contra o outro. Em 01 (um) ano a ação do portador contra o endossante. E por fim, em 03 (três) anos a ação do portador contra o emitente e contra o respectivo avalista.
6. Cheque
	A definição para cheque pode ser dada como sendo uma ordem incondicional de pagamento à vista, dada por uma pessoa física ou jurídica, denominada de sacador, contra o banco onde tem fundos, denominado de sacado, para que pague ao credor, tomador ou beneficiário a importância nele escrita. O cheque está disciplinado pela Lei nº 7.357, de 02 setembro de 1985, denominada de Lei do Cheque. Tendo três partes envolvidas: o emitente, passador ou sacador que é o titular de conta corrente junto instituição financeira; o sacado que a instituição financeira que dispõe dos recursos do sacador e que está obrigado a cumprir a ordem do emitente, dentro dos limites de seus fundos; o tomador ou beneficiário que é a pessoa em favor de quem o cheque deve ser pago ou creditado em sua conta;
	O cheque, embora seja uma ordem de pagamento à vista, não comporta aceite, haja vista já possuir a assinatura do emitente, que é a pessoa devedora da operação que está sendo paga pelo cheque.
	Fica destacado que no cheque, o sacado não é o devedor, apenas está obrigado a acatar a ordem de pagamento feita pelo emitente, lembrando ainda que nos termos do disposto na legislação, ou seja, Lei do Cheque, em seu artigo. 32, Lei nº 7.357/1985, o cheque é pagável à vista, considerando-se como não-escrita qualquer menção em contrário. Assim, o cheque apresentado para pagamento antes do dia indicado como data de emissão é pagável no dia da apresentação.
	A Lei do Cheque em seu artigo 1º, estabelece os requisitos essenciais para a validade do cheque, são eles: a denominação cheque, inscrita no contexto do título e expressa na língua em que este é redigido; a ordem incondicional de pagar quantia determinada; o nome da instituição financeira que deve pagar; a indicação do lugar de pagamento; a indicação da data e do lugar de emissão; a assinatura do emitente, ou de seu mandatário com poderes especiais.
	O cheque tem prazo para sua apresentação junto ao banco sacado, sendo este prazo diferenciado, dependendo da praça de emissão; conforme o artigo 33 da Lei n. 7.357/85, o cheque deve ser apresentado para pagamento, a contar do dia da emissão, no prazo de 30 (trinta) dias, quando emitido no lugar onde houver de ser pago, e de 60 (sessenta) dias, quando emitido em outro lugar do País ou no exterior.
	Mesmo o cheque seja uma ordem de pagamento à vista junto ao banco sacado, o pagamento, entretanto, pode ser sustado, mediante as seguintes circunstâncias: revogação ou contraordem, pode ser realizada pelo emitente do cheque, nos termos do artigo 35 da Lei do Cheque, através de contraordem dada por comunicação escrita dirigida ao banco sacado, ou por via judicial ou extrajudicial, com razões motivadoras do ato, produzindo efeitos depois de decorrido prazo de apresentação do cheque; oposição ou sustação, pode ser realizada pelo emitente ou credor, nos termos do artigo 36 da Lei do Cheque, mesmo durante o prazo de apresentação, por meio de sustação de pagamento do cheque manifestada por escrito ao banco sacado e fundada em relevante razão de direito.
	A revogação ou sustação se excluem reciprocamente, de modo que, adotada uma via, não pode ser posteriormente adotada outra, não cabendo, em nenhuma hipótese ao sacado avaliar a relevância das razões invocadas para a recusa do pagamento.
7. Duplicata
	
	A Duplicata é um título de crédito em que sua emissão depende de uma causa anterior, conforme o que determina a Lei 5.474 de 18 de julho de 1968, em seu artigo 1º, dizendo que em todo o contrato de compra e venda mercantil entre partes domiciliadas no território brasileiro, com prazo não inferior a 30 (trinta) dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias, o vendedor extrairá a respectiva fatura para apresentação ao comprador.
	A duplicata é um título de crédito causal vinculado a operações de compra e venda de mercadorias, envolvendo um empresário como sacador, ou de prestação de serviços, envolvendo um prestador de serviços empresário ou não como sacador, com pagamento à vista ou a prazo, e representativo do crédito originado a partir de referidas operações.
	No que se refere à duplicata de prestação de serviços, a Lei das Duplicatas, no artigo 20, estabelece que as empresas, individuais ou coletivas, fundações ou sociedades civis, que se dediquem à prestação de serviços, poderão, também, na forma desta Lei, emitir fatura e duplicata. Com isso, a fatura deverá discriminar a natureza dos serviços prestados, a soma a pagar em dinheiro corresponderá ao preço dos serviços prestados, sendo aplicado à fatura e a duplicata de prestação de serviços, com as adaptações cabíveis, as disposições relativas à fatura e duplicada de venda mercantil.
	Nas operações envolvendo a emissão de duplicatas temos as seguintes partes: o sacador ou emitente que é o titular, empresário, sociedade empresária ou não, do crédito originado contra o adquirente de produtos ou contratante de serviços; o sacado que é a pessoa contra quem a ordem é emitida, seja um adquirente de produtos, seja um contratante de serviços quaisquer, consumidor ou não.
	Os requisitos essenciais para a emissão da duplicata estão relacionados no artigo 2º, § 1º da Lei de Duplicatas, são eles: a denominação "duplicata", a data de sua emissão e o número de ordem; o número da fatura; a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista; o nome e domicílio do vendedor e do comprador; a importância a pagar, em algarismos e por extenso; a praça de pagamento; a cláusula à ordem; a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite cambial; a assinatura do emitente;
	O prazo para remessa da duplicata será de 30 (trinta) dias, contado da data de sua emissão, se a remessa for feita por intermédio de representantes, instituições financeiras, procuradores ou correspondentes, estes deverão apresentar o título ao comprador dentro de 10 (dez) dias, contados da data de seu recebimento na praça de pagamento. A duplicata quando não for à vista, deverá ser devolvida pelo comprador ao apresentante dentro do prazo de 10 (dez) dias, contados da data de sua apresentação, devidamente assinada ou acompanhada de declaração, por escrito, contendo as razões da falta do aceite.
	Quanto ao protesto da duplicata, conforme o disposto nos artigos 13 e 14 da Lei de Duplicatas, deve ser efetuado na praça de seu pagamento, dentro do prazo de 30 (trinta) dias contados de seu vencimento, podendo o título ser protestado pelas seguintes razões, por falta de aceite, falta de devolução ou falta de pagamento;
	Para a propositura da ação executiva judicial devem ser observados os seguintes prazos prescricionais: contra o sacado e respectivos avalistas, 03 (três) anos, contados da data do vencimento do título; contra endossante, avalista01 (um) ano contado da data do protesto; de qualquer dos coobrigados contra os demais, 01 (um) ano, contado da data em que tenha sido efetuado o pagamento do título;
	De acordo com o artigo 18 da Lei das Duplicatas, a cobrança judicial poderá ser proposta contra um ou contra todos os coobrigados, sem observância da ordem em que figurem no título, os coobrigados da duplicata respondem solidariamente pelo aceite e pelo pagamento.
8. Bibliografia
BERTOLDI, Marcelo M e RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso Avançado de Direito Comercial. 6ª ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2011. 
BRASIL. Código Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. 
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios Gonçalves. Sinopses Jurídicas - Títulos de Crédito e Contratos Mercantis. 2ª Edição. Editora Saraiva, 2005.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Sinopses Jurídicas - Direito das Obrigações - Parte Especial (contratos). 8ª Edição. Editora Saraiva, 2007
SANTOS, Elisabete Teixeira Vido dos. Direito Empresarial. 12. ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. 
TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial: Títulos de Crédito. V. 2. 3ª ed. São Paulo, Atlas, 2012. 
TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Empresarial Sistematizado: doutrina, jurisprudência e prática. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

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