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Água Subterrânea 8.1� ÍNDICE DO CAPÍTULO 8 Lista de Figuras 2 Lista de Quadros 3 8 ÁGUA SUBTERRÂNEA 8.4 8.1 INTRODUÇÃO 8.4 8.2 DEFINIÇÕES E CONCEITOS FUNDAMENTAIS 8.4 8.2.1 Aquíferos 8.4 8.2.2 Características dos aquíferos 8.6 8.2.3 Recarga 8.12 8.3 OCORRÊNCIA DE ÁGUA SUBTERRÂNEA 8.13 8.3.1 Tipos de rochas 8.13 8.3.2 Caracterização dos aquíferos 8.13 8.4 HIDRÁULICA DO ESCOAMENTO SUBTERRÂNEO 8.15 8.4.1 Introdução 8.15 8.4.2 Lei de Darcy 8.15 8.4.3 Equação da continuidade 8.20 8.4.4 Escoamento bidimensional plano. Função potencial e função de corrente8.23 8.4.5 Escoamento bidimensional radial 8.25 8.5 ESCOAMENTO SUBTERRÂNEO EM AQUÍFEROS CONFINADOS 8.25 8.5.1 Escoamento plano num aquífero confinado 8.25 8.5.2 Escoamento radial num aquífero confinado 8.27 8.6 ESCOAMENTO SUBTERRÂNEO EM AQUÍFEROS FREÁTICOS 8.32 8.6.1 Hipótese de Dupuit 8.32 8.6.2 Escoamento plano num aquífero freático 8.34 8.6.3 Escoamento radial num aquífero freático 8.36 8.7 ESCOAMENTO SUBTERRÂNEO EM REGIME VARIÁVEL 8.40 8.7.1 Escoamento radial num aquífero confinado 8.40 8.7.2 Escoamento radial num aquífero freático 8.42 8.8 ESCOAMENTO SUBTERRÂNEO EM AQUÍFEROS SEMICONFINADOS8.42 8.8.1 Equações gerais 8.42 8.8.2 Escoamento plano num aquífero semiconfinado 8.43 8.8.3 Estabilidade de escavações 8.45 8.9 INTRUSÃO SALINA EM AQUÍFEROS COSTEIROS 8.46 8.9.1 Introdução 8.46 8.9.2 Teoria de Ghyben-Herzberg 8.46 8.9.3 Problemas de exploração 8.48 8.9.4 Exploração da água subterrânea em ilhas marítimas 8.48 EXERCÍCIOS 8.50 BIBLIOGRAFIA 8.55 Lista de Figuras Figura 8.1 – Tipos de aquífero (adaptada de USBR, 1995) ............................................................8.6 Figura 8.2 – Porosidade primária .....................................................................................................8.6 Figura 8.3 – Porosidade secundária ..................................................................................................8.7 Figura 8.4 – Variação da porosidade, rendimento específico e retenção específica com o tipo de solo .....................................................................................................................................................8.9 Figura 8.5 – Permeâmetro de carga constante ...............................................................................8.11 Figura 8.6 – Exemplos ilustrativos de isotropia e homogeneidade ..............................................8.12 Figura 8.7 – Perfil típico dum aquífero numa rocha ígnea ou metamórfica ................................8.14 Figura 8.8 – Experiência laboratorial ilustrativa da lei de Darcy .................................................8.16 Figura 8.9 – Escoamento em aquíferos estratificados ...................................................................8.18 Figura 8.10 – Escoamento através da fundação duma barragem .................................................8.20 Figura 8.11 – Escoamento através do volume de controlo ...........................................................8.21 Figura 8.12 – Exemplo de rede de fluxo ........................................................................................8.24 Figura 8.13 – Exemplo de escoamento plano ................................................................................8.26 Figura 8.14 – Escoamento radial num aquífero confinado ...........................................................8.27 Figura 8.15 – Ensaio de bombagem para determinação da permeabilidade ................................8.30 Figura 8.16 – Poço de penetração parcial ......................................................................................8.30 Figura 8.17 – Rebaixamento num campo de furos ........................................................................8.32 Figura 8.18 – Ilustração da hipótese de Dupuit .............................................................................8.33 Figura 8.19 – Escoamento para valas num aquífero freático com recarga ..................................8.35 Figura 8.20 – Escoamento radial num aquífero freático ...............................................................8.36 Figura 8.21 – Superfícies equipotenciais no escoamento radial num aquífero freático..............8.37 Figura 8.22 – Ensaio de bombagem num aquífero freático ..........................................................8.38 Figura 8.23 – Escoamento na fundação duma barragem ..............................................................8.43 Figura 8.24 – Escoamento subterrâneo numa escavação ..............................................................8.45 Figura 8.25 – Esquema da intrusão salina segundo Ghyben e Herzberg .....................................8.47 Figura 8.26 – Salinização dum aquífero por exploração excessiva (adaptada de Lencastre e Franco, 1992) ...................................................................................................................................8.48 Figura 8.27 – Equilíbrio água doce-água salgada numa ilha marítima ........................................8.49 Lista de Quadros Quadro 8.1 – Porosidade predominante ...........................................................................................8.7 Quadro 8.2 – Valores de porosidade para diversos solos e rochas.................................................8.7 Quadro 8.3 – Valores de rendimento específico para diversos materiais ......................................8.8 Quadro 8.4 – Valores de permeabilidade de solos e rochas .........................................................8.10 Quadro 8.5 – Valores de F em poços de penetração parcial .........................................................8.31 Quadro 8.6 – Valores de W(u) para a curva – tipo........................................................................8.41 Água subterrânea 8.4 8 ÁGUA SUBTERRÂNEA 8.1 INTRODUÇÃO Parte da água que se infiltra e percola chega à zona saturada. O volume de água subterrâneo assim armazenado escoa-se para rios, fontes, lagos e oceanos. Dada a importância das reservas de água subterrânea, o conhecimento da sua ocorrência, fluxo e qualidade é importante para a gestão dos recursos hídricos e preservação do ambiente, para o projeto e operação de sistemas de abastecimento de água, de redes de drenagem urbana e agrícola ou de obras hidráulicas como barragens e diques de defesa. Esse conhecimento é também necessário em obras de construção como pontes e edifícios que envolvam grandes escavações. A água subterrânea é muito utilizada para o abastecimento de água urbano e rural. A utilização da água subterrânea, sobretudo para o abastecimento de pequenas comunidades rurais, apresenta algumas vantagens em relação à água superficial. As reservas de água subterrânea são cerca de trezentas vezes maiores que as de água superficial, embora a sua utilização sustentável seja muito limitada pelo longo tempo de residência que é várias ordens de grandeza superior ao da água superficial. Além disso, a disponibilidade da água subterrânea geralmente mostra menor variabilidade temporal que a da água superficial, devido à muito baixa velocidade do caudal subterrâneo e a uma menor exposição às perdas por evaporação comparativamente à evaporação nas albufeiras. A água subterrânea também se distribui por áreas geográficas extensas em lugar de estar concentrada como a água superficial. Finalmente, a água subterrânea tem muitas vezes melhor qualidade biológica e um mais baixo teor de sedimentos que a água superficial, por beneficiar dum sistema natural de filtração e de um longo tempo de residência. Neste capítulo, apresentam-se conceitos fundamentais, analisam-se as equações do escoamento subterrâneo e a sua resolução em situações de interesse prático em aquíferos confinados e freáticos e ainda os problemas de exploração de aquíferos costeiros. 8.2 DEFINIÇÕES E CONCEITOS FUNDAMENTAIS8.2.1 Aquíferos No vasto domínio do conhecimento que é a hidrologia, a parte dedicada ao estudo da água subterrânea designa-se por geohidrologia. O geohidrólogo é, portanto, um hidrólogo que se especializa no estudo de água subterrânea. Por seu lado, a hidrogeologia é a parte da geologia que se preocupa com a ocorrência da água subterrânea. Em princípio, a geohidrologia tem um caráter mais quantitativo do que a hidrogeologia mas frequentemente as duas designações confundem-se. O conhecimento da ocorrência da água subterrânea requer um estudo da distribuição vertical da água nos materiais ou formações geológicas subsuperficiais. A região subsuperficial pode dividir-se numa zona de aeração e numa zona de saturação. Na zona de aeração, a água fica retida pelas forças da capilaridade e pela atração molecular, agindo contra a força da gravidade. Designa-se esta zona também como zona não saturada, pois, além de material sólido e água, contém também ar a preencher parte do volume de vazios. Água subterrânea 8.5 Na zona de saturação, a água fica sob pressão hidrostática. Esta zona designa-se também por zona saturada, com o volume de vazios inteiramente ocupado por água. Apenas a água da zona saturada constitui o que se designa por água subterrânea. O lençol ou toalha ou nível freático é o nível do solo abaixo do qual os poros estão completamente preenchidos por água, estabelecendo a fronteira entre a zona de aeração e a zona saturada. Um aquífero é uma unidade geológica saturada que alimenta nascentes, rios, lagos e oceanos e de que pode ser extraída água em quantidade suficiente através de poços ou furos. Pode-se também definir um aquífero simplesmente como uma camada saturada de solo permeável que pode ceder água com facilidade. A grande maioria dos aquíferos em exploração ou com potencial para tal é constituída por materiais de textura grosseira (areia, seixo, calhau), rocha calcária carsificada onde a água formou cavidades por dissolução do material, rocha fraturada ou com falhas preenchidas por material permeável. As formações argilosas são aquíferos fracos, devido à dificuldade de cederem água. Um aquicludo é uma camada impermeável que não deixa passar água, embora possa contê- la, como acontece nos sedimentos com poros não ligados ou sedimentos com poros muito pequenos (por exemplo, estratos de argila compata). Também as rochas ígneas e metamórficas não fraturadas constituem exemplos de aquicludos. Um aquitardo é uma camada de solo semipermeável que só deixa passar um caudal relativamente pequeno. Toma-se em conta apenas o escoamento numa direção, pois o escoamento na direção perpendicular é desprezável. Consideram-se quatro tipos de aquíferos, confinado, semiconfinado, freático e suspenso, conforme se ilustra na Figura 8.1, adaptada de USBR (1995). Estes diversos tipos apresentam características distintas, que condicionam o modo como o escoamento se processa. Um aquífero confinado é um aquífero limitado superior e inferiormente por camadas impermeáveis. O nível piezométrico em qualquer ponto do aquífero confinado excede o nível do limite superior do aquífero e, por isso, quando se abre um poço ou um furo, a água sobe acima desse limite superior. Note-se que um aquífero confinado terá de dispor de uma zona não confinada através da qual possa ser alimentado, como se vê na Figura 8.1, caso contrário, a água armazenada será fóssil, não sofrendo um processo de renovação. Uma situação particular num aquífero confinado é a do furo ou poço artesiano em que o nível piezométrico se situa acima do nível da superfície do terreno, o que faz com que a água jorre sem necessidade de bombagem. O nome artesiano deve-se ao grande número de poços deste tipo abertos desde o século XII na província francesa de Artois, que era antes a região flamenga de Artesie. Um aquífero semiconfinado é um aquífero limitado por uma camada impermeável e por uma semipermeável ou por duas camadas semipermeáveis. Normalmente, as camadas semipermeáveis são-no apenas no sentido vertical (perpendicular à sua espessura). Um aquífero freático é um aquífero limitado inferiormente por uma camada impermeável ou semipermeável e não limitado superiormente. O limite superior do aquífero freático é definido pelo próprio nível freático. Água subterrânea 8.6 Um caso particular do aquífero freático é o aquífero suspenso, em que o aquífero se forma por cima duma camada impermeável de pequena extensão. Figura 8.1 – Tipos de aquífero (adaptada de USBR, 1995) 8.2.2 Características dos aquíferos Na caracterização dum aquífero interessam as propriedades relativas ao armazenamento e cedência de água, à forma como a água se escoa e à homogeneidade e isotropia. A porosidade n é a característica que define a capacidade de armazenamento. Como se viu no Capítulo 7, a porosidade é um valor adimensional definido como a relação entre o volume ocupável por fluidos (ar e água) e o volume total de solo. Distingue-se normalmente entre a porosidade primária e a porosidade secundária. A porosidade primária resulta do período de constituição da rocha ou do solo (Figura 8.2) e é determinante para solos (areias, argilas, siltes), assim como para certas rochas como os basaltos. A porosidade secundária é gerada após a constituição da rocha por fraturação, alteração e, no caso das rochas calcárias, por dissolução do carbonato de cálcio pela água (carsificação). A Figura 8.3 mostra exemplos de porosidade secundária. Figura 8.2 – Porosidade primária Água subterrânea 8.7 Figura 8.3 – Porosidade secundária O Quadro 8.1 mostra o tipo de porosidade predominante para as várias rochas e sedimentos, enquanto o Quadro 8.2 apresenta valores representativos da porosidade. Quadro 8.1 – Porosidade predominante Tipo de rocha Porosidade primária Porosidade primaria e secundária Porosidade secundária Rochas ígneas intrusivas (plutónicas) rocha meteorizada granito, diorito, gabro Rochas ígneas extrusivas (vulcânicas) cinza, ejeções vulcânicas tufo vulcânico, escória, pomes riolito, basalto, andesito Rochas metamórficas quartzito, gneisse, xisto, filito, micaxisto, mármore Carbonatos calcário oolítico, grés calcário calcário, dolomite Outras rochas sedimentares argilito, grés, conglomerado, ardósia, brecha Formações não consolidadas argila, silte, areia, areão Quadro 8.2 – Valores de porosidade para diversos solos e rochas Material Porosidade (%) areão grosseiro 25-35 areão fino 25-40 areia grossa 30-40 areia fina 25-50 silte 35-50 argila 40-60 grés 5-30 calcário 0-35 dolomite 0-20 calcário carsificado 5-50 xisto argiloso 0-15 rocha cristalina fraturada 0-10 rocha cristalina compata 0-5 basalto 3-35 granito meteorizado 35-55 Água subterrânea 8.8 A porosidade diminui com o aumento do diâmetro médio das partículas (a argila é mais porosa que a areia grossa), porque materiais grosseiros têm uma granulometria menos uniforme, resultando em menor espaço vazio entre os grãos. A porosidade varia com o grau de compatação. Por exemplo, se considerarmos um material composto por esferas todas com o mesmo diâmetro, a porosidade pode variar de cerca de 48 por cento num arranjo cúbico para cerca de 26 por cento num arranjo romboédrico. Embora a porosidade represente a quantidade de água que um aquífero pode conter, não indica quanta água ele pode fornecer. Quando a água é drenada num material pela ação da gravidade, só parte do volume total armazenado nos seus poros é libertada. A quantidade de água que a unidade de volume do material fornece nessas condições chama-se rendimento específico ou cedência específica, que é um parâmetro adimensional. O rendimento específico Sy (do inglês specific yield) é entãodefinido como a relação entre o volume de água drenada por gravidade num solo inicialmente saturado e o volume total do solo. O Quadro 8.3 apresenta alguns valores representativos para o rendimento específico de várias rochas. Quadro 8.3 – Valores de rendimento específico para diversos materiais Material Rendimento específico (%) areão grosseiro 22-23 areão médio 23-24 areão fino 25 areia grossa 27 areia média 26-28 areia fina 21-23 silte 8 argila arenosa 7 argila 2-3 grés 21-27 calcário 14 Note-se que a argila e o silte têm um rendimento específico bastante baixo, embora a respetiva porosidade seja alta. A retenção específica r é também um parâmetro adimensional, definido como o volume de água que fica retido, por atração molecular, adsorção e capilaridade, no solo inicialmente saturado depois de terminada a drenagem por gravidade, como percentagem do volume total de solo. A retenção específica é o mesmo que a capacidade de campo, já apresentada no Capítulo 7. Com estas definições de porosidade n, rendimento específico Sy e retenção específica r, é evidente que n = r + Sy. A Figura 8.4 mostra a relação entre a porosidade, o rendimento específico e a retenção específica dos diversos materiais de aquíferos. Água subterrânea 8.9 Figura 8.4 – Variação da porosidade, rendimento específico e retenção específica com o tipo de solo Outros parâmetros relacionados com a função de armazenamento do aquífero são o armazenamento específico e o coeficiente de armazenamento. O armazenamento específico Ss, com dimensões [L -1 ], é o volume de água que pode ser libertado por unidade de volume do aquífero para um abaixamento unitário da altura piezométrica. O significado do armazenamento específico é o seguinte: quando o nível piezométrico diminui, reduz a pressão sobre os grãos que constituem o esqueleto sólido do aquífero; o volume da fase sólida aumenta devido ao novo arranjo dos grãos, a porosidade diminui e a água é expulsa. O coeficiente de armazenamento S é o volume de água libertado por uma coluna de aquífero de secção transversal unitária para um abaixamento unitário da altura piezométrica e é um parâmetro adimensional. A relação entre o armazenamento específico e o coeficiente de armazenamento no caso dum aquífero confinado de espessura h é dada por: S = h × Ss (8.1) Quando o aquífero é freático com uma espessura saturada h, essa relação é S = h × Ss + Sy (8.2) Com efeito, no aquífero freático, para além da água que é expulsa pela expansão do esqueleto sólido, acresce a água correspondente ao abaixamento unitário do nível freático. Normalmente, o valor do rendimento específico Sy é muito superior a h Ss. Por isso, o Água subterrânea 8.10 coeficiente de armazenamento é muito maior num aquífero freático do que num aquífero confinado. b) Características relativas à condutividade de água A permeabilidade ou condutividade hidráulica K é uma característica do aquífero que define a sua capacidade de escoar água subterrânea. Tem as dimensões duma velocidade, sendo geralmente expressa em metros por dia. A permeabilidade depende das características do solo e do líquido. Em termos de características do solo, a permeabilidade depende muito do tamanho e uniformidade dos grãos no caso de formações não consolidadas e do grau da alteração e fraturação no caso das formações rochosas. No que se refere ao líquido, a característica mais importante é a viscosidade cinemática. Para que um solo tenha uma permeabilidade alta, não basta que a porosidade seja alta, é preciso que os poros e fissuras também estejam ligados. O Quadro 8.4 apresenta valores típicos de permeabilidade para os mais frequentes materiais constituintes de aquíferos Quadro 8.4 – Valores de permeabilidade de solos e rochas Material Permeabilidade (m/dia) Areão 100-1000 Areia grossa 20-100 Areia média 5-20 Areia fina 1-5 Silte 0,1-1 Argila (superficial) 0,01-0,2 Argila (profunda) 10 -8 -0,1 Grés 0,2-3 Calcário 1 Dolomite 0,001 Basalto 0,01 Granito meteorizado 1,5 Granito não meteorizado 0,2 A permeabilidade de um solo pode ser determinada em laboratório com a utilização de um permeâmetro. Para solos arenosos, utilizam-se permeâmetros de carga constante, como o ilustrado na Figura 8.5, ao passo que para solos argilosos utilizam-se permeâmetros de carga variável. No caso do permeâmetro de carga constante, a permeabilidade é calculada através da aplicação da lei de Darcy, que se refere no ponto 8.4.2. Água subterrânea 8.11 Figura 8.5 – Permeâmetro de carga constante A permeabilidade de um aquífero pode ser determinada no campo através de ensaios de bombagem como se descreve mais adiante. Pode também fazer-se a sua determinação através de análises da granulometria do solo, mas este método é pouco rigoroso embora Shepherd (1989) tenha proposto a equação geral K = C d50 j onde d50 é o diâmetro mediano, C é um fator de forma das partículas e j um expoente assumindo valores entre 1,5 e 2. O potencial de transmissão de água de um aquífero depende não só da permeabilidade, mas também da sua espessura. A característica que traduz esse potencial é a transmissividade T, definida como o produto da permeabilidade K pela espessura H, T = K H. Como a permeabilidade tem as dimensões de velocidade, a transmissividade tem as dimensões de um caudal específico, sendo expressa geralmente em m 2 /dia. No caso de um aquitardo, interessa conhecer a sua resistência hidráulica. A resistência hidráulica c duma camada semipermeável, que deixa passar água principalmente na direção vertical, é a razão entre a espessura H da camada e a sua permeabilidade K, c = H / K. Tem dimensão do tempo, expressando-se normalmente em dias. c) Homogeneidade e isotropia Para a caracterização dum aquífero, importa conhecer a variação das suas características, principalmente da permeabilidade, em diversas direções e de ponto para ponto, utilizando-se para tal os conceitos de homogeneidade e isotropia dum meio contínuo. Diz-se que um aquífero é isotrópico se, em qualquer ponto, as suas características não variam com a direção. Caso isso não se verifique, o aquífero diz-se anisotrópico. Água subterrânea 8.12 Diz-se que um aquífero é homogéneo se as suas características não variam de ponto para ponto, caso contrário, diz-se que é heterogéneo. A Figura 8.6 apresenta diversos exemplos ilustrativos de homogeneidade e isotropia. Figura 8.6 – Exemplos ilustrativos de isotropia e homogeneidade 8.2.3 Recarga Define-se recarga R como a parte da precipitação que se infiltra e percola até ao lençol freático. A recarga depende das características da zona superficial não saturada, da zona de recarga e do modo como ocorre a precipitação. Precipitações prolongadas de baixa intensidade originam maiores recargas que precipitações intensas de curta duração, atendendo ao rápido decréscimo da capacidade de infiltração. Para além da precipitação, podem existir outras fontes de recarga dum aquífero, principalmente rios e lagos, fluxos interaquíferos e irrigação. A recarga anual média é normalmente uma fração bastante pequena da precipitação anual média na região onde se dá a recarga do aquífero, raramente excedendo 20 por cento e sendo frequentemente muito inferior. A recarga estabelece o limite superior do que é designado por rendimento seguro ou extração garantida (safe yield), definido como o máximo caudal médio que se pode extrair do aquífero de forma sustentável. O rendimento seguro varia normalmente entre 10 e 40 por cento do valor da recarga. O potencial de extração de água subterrânea está, no entanto, limitado não apenas pela recarga mas também pelo fato de o aquífero poder ser um contributo importante para a alimentação de rios(escoamento de base), lagos e pântanos. Esta interligação entre água subterrânea e água superficial deve ser bem compreendida para evitar uma dupla contagem dos mesmos recursos hídricos. Em termos médios, a entrada de água no aquífero através da recarga está em equilíbrio com a saída de água, seja para um rio, uma fonte, o mar ou por evaporação no Água subterrânea 8.13 caso de aquíferos pouco profundos. A extração de água do aquífero vai, pois, reduzir o valor de uma ou mais dessas descargas, como realçado por Theis (1940). No caso de aquíferos costeiros, que escoam diretamente para o mar, para além da limitação imposta pelo valor da recarga, existe ainda o risco de intrusão salina, como se verá mais adiante. 8.3 OCORRÊNCIA DE ÁGUA SUBTERRÂNEA 8.3.1 Tipos de rochas As características dum aquífero dependem do material de que é composto, da sua origem, da relação entre os grãos e os poros, da profundidade, da recarga a que está sujeito e de outros fatores. Contudo, a estrutura geológica, a litologia e a estratigrafia de rochas e sedimentos numa zona podem dar uma primeira ideia do potencial dos aquíferos. As rochas ígneas são formadas a partir de magma vindo do interior da Terra. Existem rochas ígneas intrusivas ou plutónicas, formadas no interior da crusta terrestre, como o granito, o sienito, ou o diorito, e rochas ígneas extrusivas ou vulcânicas, formadas à superfície por vulcões, de que são exemplo os riolitos e os basaltos. Os minerais mais importantes nas rochas ígneas são o quartzo, o alcali-feldspato, a plagioclase e a mica. As rochas metamórficas são formadas pela mudança de composição mineralógica de rochas ígneas ou rochas sedimentares, devido à sua exposição a altas pressões e/ou altas temperaturas. São exemplos o gneisse (origem: granito), o quartzito (origem: grés), o migmatito (mistura), o filito (origem: argilito) e o mármore (origem: calcário). As rochas sedimentares são o resultado da meteorização de rochas ígneas ou metamórficas, seguidas pelo transporte e deposição do material meteorizado num outro lugar e, finalmente, a cimentação do mesmo. São exemplos os grés (origem: areia), o calcário (origem: argila) e o conglomerado (origem: areão). Os sedimentos (materiais não consolidados) são formados da mesma maneira que as rochas sedimentares, mas não sofrem cimentação. . 8.3.2 Caracterização dos aquíferos a) Rochas ígneas e metamórficas Rochas ígneas e metamórficas não alteradas são fracos aquíferos, uma vez que as suas permeabilidades e porosidade são muito baixas. Basicamente existem dois tipos de aquíferos nas rochas ígneas e metamórficas: aquíferos em vales e aquíferos em zonas de fraturação e falhas. Os aquíferos em vales são formados durante o processo de meteorização. Existem principalmente nos estratos superficiais, até a uma profundidade de cerca de 50 metros. Este substrato é designado por regolito e geralmente forma aquíferos limitados, devido à baixa transmissividade (baixa permeabilidade e espessura limitada). A Figura 8.7 mostra um perfil típico destes aquíferos. Interessa escolher as zonas com maiores espessuras do regolito, que assim podem permitir pequenos aproveitamentos. Água subterrânea 8.14 Figura 8.7 – Perfil típico dum aquífero numa rocha ígnea ou metamórfica No caso de aquíferos em zonas de fraturação e falhas, é muito importante analisar o sistema da fraturação, bem como o processo da recarga. A profundidade de falhas em rochas ígneas e metamórficas raramente ultrapassa 150 metros. A zona adjacente à falha pode ser fraturada, mas este tipo de aquíferos ainda continua limitado em termos de produtividade. Importa salientar que nem sempre as falhas se tornam zonas produtivas num meio hidrogeológico. A sua produtividade depende muito da forma final da falha, se é aberta ou fechada, e do material de enchimento da falha. As falhas podem tornar-se barreiras ao escoamento subterrâneo no caso em que elas são enchidas por materiais de baixa permeabilidade. O mármore carsificado, que pode ter características hidráulicas muito boas, é uma exceção à regra geral de fraca produtividade das rochas metamórficas. Também algumas rochas ígneas extrusivas, como os basaltos, podem, por vezes, ter boas características hidráulicas, dependendo da presença de fraturas e da meteorização física e química dos vários estratos. Os riolitos são geralmente menos permeáveis que os basaltos que são mais facilmente meteorizáveis. Embora esta situação seja vantajosa, a maior parte dos produtos de pulverização dos basaltos consiste em materiais finos argilosos na superfície devido à predominância de minerais de ferro e magnésio, situação que apenas melhora com a profundidade. b) Rochas sedimentares As rochas sedimentares podem ter características hidráulicas muito variáveis. A permeabilidade e a porosidade do grés dependem muito da composição original do material arenoso cimentado, em termos de granulometria e uniformidade, e da sua fraturação. O argilito pode por vezes ter uma porosidade alta, mas geralmente tem uma permeabilidade muito baixa. O conglomerado é, muitas das vezes, um bom aquífero, porém a sua distribuição espacial é Água subterrânea 8.15 limitada. É de salientar que as características hidráulicas do grés e do conglomerado são inferiores às do material original não consolidado (areia, areão). Calcários e dolomitos bem carsificados podem constituir aquíferos excelentes, com porosidades altas e permeabilidades altíssimas. Se não existe uma porosidade secundária, as características dependem muito da composição do material, que pode variar muito. Assim, a porosidade primária e permeabilidade podem também variar muito. Os aquíferos em rochas sedimentares consistem geralmente em camadas com porosidade primária (e muitas das vezes também secundária). Assim, os sistemas aquíferos podem ser extensos, desde que sejam contínuos. A ocorrência de água subterrânea não é limitada às camadas superficiais. Podem encontrar-se aquíferos em rochas sedimentares até profundidades de 1000 metros. c) Sedimentos A maioria dos aquíferos no mundo é desenvolvida em sedimentos, principalmente areias e areão. A argila pode ter uma porosidade alta, mas a sua permeabilidade é quase sempre baixa. Aquíferos em sedimentos consistem quase sempre em camadas, principalmente com porosidade primária. Tal como no caso dos aquíferos em rochas sedimentares, os sistemas aquíferos em sedimentos são contínuos, podem ser muito extensos, e a água subterrânea pode encontrar-se até grandes profundidades. 8.4 HIDRÁULICA DO ESCOAMENTO SUBTERRÂNEO 8.4.1 Introdução A hidráulica do escoamento subterrâneo baseia-se na lei de Darcy e na equação da continuidade. A conjugação destas duas leis permite estabelecer as equações diferenciais do escoamento subterrâneo, cuja integração é normalmente complexa, sendo essa integração aqui feita para algumas situações particulares de maior interesse prático. 8.4.2 Lei de Darcy A lei de Darcy é uma das equações fundamentais para o estudo da hidráulica do escoamento subterrâneo. Como já se apresentou no capítulo anterior, ela diz que o escoamento da água através dum meio poroso saturado homogéneo e isotrópico é proporcional ao gradiente do potencial hidráulico ou gradiente hidráulico, Figura 8.8. Água subterrânea 8.16 Figura 8.8 – Experiência laboratorial ilustrativa da lei de Darcy A lei de Darcy é expressa pela fórmula: L Kv 21 (8.3) em que v é a velocidade de escoamento (m/dia); φ é o potencial hidráulico ou carga (m); φ1 – φ2 é a perda de carga (m); L é a distância entre os pontos onde as cargas φ2 e φ1 foram medidas (m); K é uma constante de proporcionalidade (m/dia). Como o valor da velocidade é muito baixo, a componente da carga cinemáticapode ser desprezada, e φ é então igual à cota piezométrica. O valor de (φ2 – φ1)/L é o gradiente hidráulico i = grad(φ) e é adimensional. Assim, pode escrever-se: iKv (8.4) Pode ver-se que a constante de proporcionalidade tem as dimensões duma velocidade (m/dia). De fato, esta constante de proporcionalidade é a permeabilidade K. Quando se introduz no dispositivo experimental areia mais grossa, com maior permeabilidade, regista-se uma maior velocidade de escoamento. O sinal negativo na equação (8.4) exprime que o escoamento é no sentido contrário ao do sentido positivo do gradiente hidráulico. v representa a velocidade aparente de filtração. A velocidade efetiva do escoamento é maior do que v, porque uma parte da secção do escoamento é ocupada por partículas sólidas, estando apenas os poros disponíveis para o escoamento. Dada a irregularidade das dimensões e da distribuição dos poros, apenas se torna possível definir a velocidade média efetiva do escoamento, através de Água subterrânea 8.17 e e n v v (8.5) sendo ne a porosidade efetiva do meio, ou seja, a parte dos poros utilizada pelo escoamento subterrâneo. Para areão, areia, silte e argila, o valor da porosidade efetiva é aproximadamente igual ao rendimento específico. Interessa saber quais os limites de validade da lei de Darcy. Como se sabe da mecânica dos fluidos (Quintela, 1983), no escoamento em regime laminar a velocidade média do escoamento é diretamente proporcional ao gradiente hidráulico, tal como na lei de Darcy. Por isso, assume-se que a lei de Darcy é válida para escoamentos laminares em meio poroso. No escoamento em condutas e outras secções de grande dimensão, o critério utilizado para distinguir entre o regime laminar e o regime turbulento é o do número de Reynolds, dado por υ Dv Re (8.6) em que Re é o número de Reynolds; v é a velocidade do escoamento; D é o diâmetro da secção; é a viscosidade cinemática da água. Para se aplicar este critério ao escoamento subterrâneo, introduzem-se as seguintes alterações na fórmula do número de Reynolds: a velocidade do escoamento é substituída pela velocidade aparente de filtração e o diâmetro da secção é substituído por um diâmetro característico dos poros, como D10 da curva granulométrica do material do aquífero. Estudos experimentais referidos em Bear (1988) e Fetter (2001) indicam que a lei de Darcy se mantém válida para valores de Re não superiores a 10, verificando-se desvios para valores superiores de Re, embora o movimento turbulento apenas se inicie para valores de Re na faixa de 60–150. Verifica-se que, em grande parte dos casos, o escoamento subterrâneo se processa com valores de Re inferiores a 1, bem dentro do domínio de validade da lei de Darcy. A partir da lei de Darcy, pode exprimir-se o caudal específico (caudal por unidade de largura do aquífero) pela fórmula: iHKq (8.7) em que o caudal específico q vem expresso em m 2 /dia. O gradiente hidráulico depende da orientação. A lei de Darcy pode ser escrita de forma generalizada como: xxx iKv (8.8) em que vx é a velocidade do escoamento no sentido x; Kx é a permeabilidade no sentido x; ix = x é o gradiente hidráulico no sentido x. Água subterrânea 8.18 Podem escrever-se expressões análogas para vy e vz. Note-se que no caso dum aquífero isotrópico será Kx = Ky = Kz = K. Tem interesse considerar a situação dum meio estratificado, i.e., um meio composto por camadas paralelas, cada uma delas homogénea e isotrópica, mas com diferenças de permeabilidade entre as várias camadas. A estratificação pode verificar-se numa direção perpendicular ao fluxo ou numa direção paralela ao fluxo. Figura 8.9 – Escoamento em aquíferos estratificados a) Estratificação em direção perpendicular ao fluxo Neste caso, o caudal e a velocidade são iguais em todas as camadas atravessadas, conforme o esquema da esquerda na Figura 8.9. Para cada uma das camadas j pode escrever-se: jjj jjjjj KHvΔh HΔhKiKv (8.9) A perda de carga total do escoamento ao atravessar as várias camadas, Δh, calcula-se como: )K/(HvΔhΔh j j j j j (8.10) Para todo o aquífero, com espessura total H e no qual o escoamento se processa com a perda de carga total Δh, pode escrever-se a lei de Darcy como: j j j jeqeqeq H/ΔhKH/ΔhKiKv (8.11) em que Keq é a permeabilidade equivalente do aquífero, dada por: j j j j j veq c H K H H KK (8.12) Água subterrânea 8.19 sendo cj a resistência hidráulica da camada j (dias). Pode então tratar-se o aquífero estratificado na direção perpendicular ao fluxo como um aquífero homogéneo isotrópico com permeabilidade Keq = Kv. Dado que a resistência hidráulica de todo o aquífero na direção vertical é igual a H/Kv, pode também concluir-se que um escoamento que atravessa um aquífero estratificado enfrenta uma resistência hidráulica igual ao somatório das resistências hidráulicas dos estratos atravessados. b) Estratificação em direção paralela ao fluxo Neste caso, o gradiente do escoamento subterrâneo é igual em todas camadas, conforme o esquema da direita na Figura 8.9. Para cada uma das camadas j pode escrever-se: LΔHHKiHKq jjjjj (8.13) em que qj é o caudal específico na camada j. O caudal total q que atravessa as várias camadas é dado por L Δh )H(Kqq j j j j j (8.14) Para todo o aquífero com espessura total H e no qual o caudal q se processa com a mesma perda de carga total Δh, pode escrever-se a lei de Darcy como: L Δh HKq j jeq (8.15) em que Keq é a permeabilidade equivalente de todo o aquífero, dada por H HK KK j jj heq (8.16) Pode, pois, tratar-se o aquífero estratificado na direção paralela ao fluxo com um aquífero homogéneo isotrópico com permeabilidade Keq = Kh . Dado que a transmissividade de todo o aquífero na direção horizontal é igual a HKh , pode também concluir-se que a transmissividade dum aquífero estratificado na direção do caudal é igual ao somatório das transmissividades dos estratos. Num aquífero estratificado, existem diferenças marcadas no escoamento nas camadas mais permeáveis (aquíferos) e nas menos permeáveis (aquitardos). O escoamento horizontal, na direção paralela à estratificação, processa-se na quase totalidade nos aquíferos, sendo desprezável o caudal que passa nos aquitardos. Por outro lado, o escoamento vertical é uma fração muito pequena do escoamento horizontal. Geralmente, o escoamento vertical nos aquíferos pode ser desprezado em relação ao escoamento Água subterrânea 8.20 horizontal. Os aquitardos contribuem com a quase totalidade da resistência hidráulica vertical, ao passo que em geral a resistência hidráulica vertical nos aquíferos pode ser desprezada. Assim, quase não se verifica uma perda de carga nos aquíferos na direção vertical. Isso é uma vantagem na instalação de piezómetros para registar níveis piezométricos, pois a profundidade do filtro não é crítica. O exemplo do escoamento subterrâneo através da fundação permeável duma barragem de terra, Figura 8.10, ilustra bem o interesse do estudo dos meios anisotrópicos e estratificados. A construção duma vala corta-águas na fundação preenchida com material impermeável reduz muito o caudal que se escoa através da fundação, podendo determinar-se a largura da vala necessária para reduzir esse caudal a um valor máximo predeterminado. Figura 8.10 – Escoamento através da fundação duma barragem 8.4.3 Equação da continuidade A equação da continuidade aplicada a um aquífero diz que o caudal de entrada no aquífero, incluindo a recarga menos o caudal de saída, será igual à variação do volume armazenado por unidade de tempo.A aplicação da equação da continuidade em conjugação com a lei de Darcy dá origem a equações diferenciais, cuja integração será mais ou menos complexa, como se verá ao estudarem-se os escoamentos nos diferentes tipos de aquíferos. Como as variações de nível nos aquíferos são bastante lentas, é possível estudar muitos problemas práticos numa situação de regime permanente. Em certos casos, porem, terá de se fazer o estudo considerando o regime como variável. Considere-se num aquífero isotrópico confinado um elemento de volume infinitesimal, volume de controlo, Figura 8.11. Água subterrânea 8.21 Figura 8.11 – Escoamento através do volume de controlo Fetter (2001) mostra que, desprezando a compressibilidade da água, a equação da continuidade conduz a t S z q y q x q s zyx (8.17) sendo qj o caudal específico que se escoa na direção j, e φ, a carga hidráulica. Conjugando agora a equação da continuidade com a lei de Darcy, obtém-se t S z K y K x K s2 2 z2 2 y2 2 x (8.18) que é a equação geral do escoamento subterrâneo num aquífero confinado em meio homogéneo anisotrópico em regime variável, sendo Ss o armazenamento específico anteriormente definido. No caso de um aquífero freático, há que considerar que a espessura saturada varia, ao contrário do que se passa com um aquífero confinado. De acordo com Fetter (2001), a equação geral do escoamento num aquífero freático homogéneo anisotrópico é a chamada equação de Boussinesq: t h S z h h z K y h h y K x h h x K yzyx (8.19) onde h é a espessura do aquífero e Sy, o rendimento específico anteriormente definido. Para os casos em que a variação é pequena em comparação com a espessura saturada, pode tomar-se uma espessura saturada média, H, constante no aquífero, chegando-se a: t h H S z h K y h K x h K y 2 2 z2 2 y2 2 x (8.20) Estas equações não são integráveis analiticamente, podendo recorrer-se a soluções numéricas através de métodos como o dos elementos finitos. Neste capítulo ver-se-ão soluções analíticas para situações simplificadas de interesse prático em engenharia civil, designadamente as do escoamento plano e do escoamento radial num meio isotrópico em regime permanente. Água subterrânea 8.22 As equações (8.18) e (8.20) podem ser simplificadas para uma série de casos particulares. Assim, num aquífero confinado homogéneo isotrópico, a permeabilidade é constante, donde resulta t S) zyx (K s2 2 2 2 2 2 (8.21) Esta equação pode escrever-se: tKh S zyx 2 2 2 2 2 2 (8.22) em que S é o coeficiente de armazenamento e h, a espessura saturada do aquífero, considerada constante. Se, em vez de regime variável, se tiver regime permanente num aquífero confinado homogéneo, obter-se-á 0 z K y K x K 2 2 z2 2 y2 2 x (8.23) uma vez que ∂φ/∂t = 0. Se, além de homogéneo, o aquífero for isotrópico, então a igualdade anterior simplifica-se 0 zyx 2 2 2 2 2 2 2 (8.24) A equação (8.24) é a conhecida equação de Laplace. Mesmo neste caso mais simples dum aquífero homogéneo e isotrópico em regime permanente, a equação de Laplace muitas das vezes não consegue integrar-se analiticamente, fazendo-se a integração por métodos numéricos. Considerando agora um aquífero freático homogéneo isotrópico em regime variável, com uma espessura aproximadamente constante, H, a equação (8.20) simplifica-se, uma vez que K é constante: t h KH S z h y h x h y 2 2 2 2 2 2 (8.25) No caso de um aquífero freático homogéneo anisotrópico em regime permanente, a equação (8.20) reduz-se a 0 2 2 2 2 2 2 z h K y h K x h K zyx (8.26) Finalmente, se se tiver um aquífero freático homogéneo isotrópico em regime permanente, obtém-se novamente a equação de Laplace: 0 z h y h x h 2 2 2 2 2 2 (8.27) Água subterrânea 8.23 No remanescente deste capítulo, serão analisados escoamentos em meio homogéneo isotrópico e regime permanente. Sempre que se tratar de escoamento em meio anisotrópico ou em regime variável, tal será explicitamente referido. 8.4.4 Escoamento bidimensional plano. Função potencial e função de corrente Em muitas situações, o escoamento subterrâneo pode ser tratado como um escoamento bidimensional, se as características do aquífero e as condições de fronteira se repetem em planos paralelos – escoamento plano – ou em planos todos concorrentes num mesmo eixo – escoamento radial. No caso do escoamento bidimensional plano, a equação diferencial do escoamento em regime permanente num meio homogéneo e isotrópico é 0 yx 2 2 2 2 (8.28) Também neste caso se pode fazer a integração numérica da equação diferencial utilizando métodos numéricos. Um outro processo consiste em utilizar os conceitos de função potencial Ф e função de corrente Ψ, com base nos quais é possível traçar redes de escoamento compostas por linhas equipotenciais (Ф constante) e por linhas de corrente (Ψ constante) que se cruzam perpendicularmente. Define-se a função potencial Ф como: KΦ (8.29) Como K é constante num aquífero homogéneo e isotrópico, pode escrever-se: ΦΦgradv (8.30) Como se tem 0Φ22 , a função potencial Ф é uma função harmónica. A função de corrente Ψ é definida por x Ψ y Φ v y Ψ x Φ v yx (8.31) Definindo-se deste modo Ф e Ψ, verifica-se que as duas funções são ortogonais em qualquer ponto, sendo igualmente 0 2 . As funções Ф e Ψ definem a função complexa W = Ф + i Ψ, de grande interesse na resolução de problemas de escoamento em meio poroso. As dimensões de Ф e Ψ são L 2 T -1 , sendo normalmente expressas em m 2 /dia. A utilização da função potencial e da função de corrente permitem uma resolução gráfica do problema do escoamento plano, através do traçado de uma rede de escoamento (Cedergren, 1989). A rede de escoamento num meio homogéneo e isotrópico em regime permanente resulta num conjunto de retângulos (aproximados) e dela se podem calcular velocidade, caudais e perdas de carga. A Figura 8.12 mostra um exemplo duma tal rede para escoamento subterrâneo na fundação de uma barragem, com a representação das linhas equipotenciais e das linhas de corrente. Água subterrânea 8.24 Figura 8.12 – Exemplo de rede de fluxo O caudal que passa entre quaisquer duas linhas de corrente contíguas é o mesmo. Com efeito, se considerarmos um retângulo genérico da rede, com dimensões Δs (segundo a linha de corrente) e Δn (segundo a linha equipotencial), teremos que a velocidade vp num ponto no interior do quadrado é dada por Δs ΦΦ Δs ΔΦ v 12p (8.32) e também por Δn ΨΨ Δn ΔΨ v 12p (8.33) O caudal é então dado por 1212p ΨΨ)Φ(Φ Δs Δn ΔnvΔq (8.34) Habitualmente, constrói-se uma rede de fluxo tal que Δn = Δs, uma vez que o traçado se torna mais simples. Harr (1962) sugeriu os seguintes passos para o traçado duma rede de escoamento: desenhar os limites do domínio do escoamento à mesma escala horizontal e vertical, de modo a que todas as linhas equipotenciais e de corrente que se desenham estejam contidas dentro desses limites; traçar tentativamente três ou quatro linhas de corrente, que definam uma transição suave entre as linhas de corrente limitantes do problema, tendo em conta que a distância entre linhas decorrente adjacentes aumenta na direção do maior raio de curvatura; traçar tentativamente as linhas equipotenciais, tendo em conta que devem cortar todas as linhas de corrente, incluindo as limitantes, formando ângulos retos e que devem formar quadrados (exceto nas proximidades de pontos singulares); ajustar a posição das linhas de corrente e das equipotenciais, até se obter a correta ortogonalidade e a formação dos quadrados curvilíneos, num procedimento de aproximações sucessivas. O traçado duma rede de escoamento é mais simples num aquífero confinado, visto que num aquífero freático têm de fazer-se tentativas para se obter a correta definição da superfície freática. Água subterrânea 8.25 Uma vez traçada a rede de escoamento, há que atribuir valores às várias linhas equipotenciais e de corrente. A atribuição de valores às linhas equipotenciais é relativamente simples, pois, em geral, conhece-se a diferença de níveis de água entre dois pontos, Δh. Se entre eles houver n+1 equipotenciais (contando as que passam pelos próprios pontos), a variação de nível entre equipotenciais sucessivas é dada por Δh/n, sendo o valor da função potencial dado pela equação (8.29). Se essas equipotenciais são cortadas por s+1 linhas de corrente, o caudal que passa entre duas linhas de corrente adjacentes é q/s, sendo q o caudal total. Conhecendo Δh e a permeabilidade K, o caudal que passa entre linhas de corrente adjacentes é dado por ΔhK s q (8.35) É igualmente simples determinar a velocidade média entre linhas de corrente e a perda de carga ao longo das várias linhas de corrente. 8.4.5 Escoamento bidimensional radial O escoamento bidimensional radial tem bastante interesse no estudo do escoamento subterrâneo, porque o escoamento para um poço ou furo pode ser considerado como tendo simetria radial. Num aquífero confinado homogéneo e isotrópico, utilizando coordenadas cilíndricas, a equação (8.20) transforma-se em tKh S z ) r (r rr 1 2 2 (8.36) para escoamento em regime variável. No regime permanente, o 2º membro é igual a zero. Para um aquífero freático homogéneo e isotrópico, a equação (8.23) em coordenadas cilíndricas é t h KH S z h ) r h (r rr 1 y 2 2 (8.37) 8.5 ESCOAMENTO SUBTERRÂNEO EM AQUÍFEROS CONFINADOS 8.5.1 Escoamento plano num aquífero confinado Embora a equação diferencial do escoamento subterrâneo não permita na generalidade dos casos uma integração analítica, existem algumas situações de interesse prático em que é possível obter facilmente soluções analíticas. Tal é o caso do escoamento plano e do escoamento radial. Em variadas situações, o escoamento pode processar-se num aquífero confinado, cujo comprimento é muito maior que a espessura. Nesses casos, o escoamento torna-se unidimensional (exceto em zonas restritas próximas das fronteiras do aquífero) e a integração da equação de Laplace é simples. Com efeito, nessas condições pode admitir-se que a velocidade apenas tem componente segundo x, vx, veja-se a Figura 8.13. Água subterrânea 8.26 Figura 8.13 – Exemplo de escoamento plano Com efeito, se v = vx, a equação diferencial do escoamento torna-se simplesmente uma equação diferencial ordinária, cuja integração é imediata: K c x K c KcxcΦ c dx dΦ 0 dx Φd x Φ 11 21 1 2 2 2 2 (8.38) considerando a definição de função potencial Ф dada pela equação (8.27). As duas constantes de integração, c1 e c2, são determinadas a partir das condições de fronteira: 2 1 L;x 0;x donde se obtêm os valores de c1 e c2: /LKc Kc 121 12 e a equação da linha piezométrica φ(x), que é uma reta, com os valores de φ a variarem linearmente entre φ1 e φ2. x L )( 12 1 (8.39) A velocidade do escoamento é constante e dada por Água subterrânea 8.27 L Kv 21 (8.40) O caudal por metro de largura do aquífero será L T L KHvHq 2121 (8.41) 8.5.2 Escoamento radial num aquífero confinado Considere-se a situação representada na Figura 8.14 dum poço cilíndrico no centro duma ilha circular em que o poço atravessa toda a espessura do aquífero confinado, supondo uma espessura constante H. Figura 8.14 – Escoamento radial num aquífero confinado Abrangem-se aqui, na designação de poço, quer os poços quer os furos. Um poço que atravessa toda a espessura dum aquífero diz-se um poço completo ou poço de penetração completa. A situação hipotética representada na figura é uma idealização de uma situação prática dum furo num aquífero extenso que não sofre a influência de outros furos. Na situação da Figura 8.14 existe no aquífero um escoamento radial dirigido da periferia para o centro. Como o sistema apresenta simetria radial, as superfícies equipotenciais são cilíndricas, concêntricas com o poço, e as linhas de corrente são semirretas horizontais radiais. A uma distância r do centro do poço, a cota piezométrica é φ < φ0. A diferença de φ – φ0 = s designa-se por rebaixamento. No poço (r = rp), a cota piezométrica é φp e o rebaixamento é sp. Do poço extrai-se um caudal constante Q0. Devido à simetria radial e à espessura constante, o escoamento pode ser estudado como unidirecional na direção radial. A equação (8.36) do escoamento radial em regime permanente escreve-se então, atendendo a que tanto ∂φ/∂z como ∂φ/∂t são nulos, Água subterrânea 8.28 0) dr d (r dr d r 1 (8.42) A integração desta equação diferencial conduz a r 1 c dr d 1 (8.43) 21 c(r)lnc (8.44) As constantes de integração c1 e c2 podem ser determinadas a partir das condições de fronteira. Considere-se uma superfície cilíndrica com raio r. O caudal que atravessa qualquer superfície cilíndrica concêntrica com o poço é um caudal constante Q. A equação de continuidade escreve-se simplesmente como: Q = – Q0, utilizando-se o sinal negativo porque o sentido de Q é contrário ao do eixo r. Será também: rvHr2πQ (8.45) em que vr é a velocidade do escoamento na direção radial: r 1 2ππ Q v 0r (8.46) Note-se que a velocidade tangencial é nula visto que a superfície cilíndrica é uma superfície equipotencial. A lei de Darcy escreve-se para o escoamento radial: dr d Kv r (8.47) em que o sinal negativo indica que o escoamento se processa no sentido de φ decrescente, ou seja, para o centro do poço. Assim: r 1 H2π Q dr d Kv 0r (8.48) Será portanto, comparando as equações (8.43) e (8.48), T2π Q HK2π Q c 001 (8.49) A condição de fronteira para a determinação de c2 é φ = φ0 para r = r0: 0 0 022o 0 0 rln T2π Q ccrln T2π Q (8.50) Água subterrânea 8.29 A expressão resultante é a equação apresentada por Thiem em 1906 (Custodio e Llamas, 1983): r r ln T2π Q s 000 (8.51) que mostra que a cota piezométrica decresce de forma logarítmica desde a periferia até ao poço. Da equação de Thiem obtém-se imediatamente o valor do rebaixamento no poço, sp: p 00 p r r ln T2π Q s (8.52) Se se considerar um ponto a uma distância r1 onde se verifica um rebaixamento s1, pode escrever-se: p 10 1p r r ln T2π Q ss (8.53) A equação (8.53) é designada por curva característica do poço. A equação de Thiem e as seguintes foram obtidas considerando a situação idealizada dum poço completo no centro de uma ilha circular. Como na prática não se está nessa situação, toma- se para r0, raio de influência do poço, a distância para a qual a ação do poço já pouco se faz sentir, i.e. o rebaixamento é negligenciável.Se se instalarem vários piezómetros (poços ou furos onde se pode medir o nível de água) a distâncias ri e se medirem os rebaixamentos si para um dado caudal extraído em regime permanente, é possível marcar num gráfico em papel semilogarítmico os pontos [s i, ln(ri)] e traçar a reta que melhor se ajusta a esses pontos. Para s = 0, obter-se-á o valor de ln(r0). Para r = rp, obtém-se o rebaixamento teórico no poço, sp. Este valor pode diferir do valor real medido no poço, spr, devido às perdas de carga à entrada do poço. Chama-se raio equivalente do poço, re, ao valor de r que corresponde a spr na equação de Thiem. Após o traçado da reta, é possível obter os valores da permeabilidade K e da transmissividade T = K H a partir de 1 2 21 0 r r ln )s(sH2π Q K (8.54) sendo s1 – s2 a diferença de rebaixamento entre os pontos 1 e 2, situados a distâncias r1 e r2, respetivamente. O ensaio de bombagem para determinar a permeabilidade K dum aquífero consiste precisamente em bombear um dado caudal constante, Q0, durante tempo suficiente para se estabelecer o regime permanente, dispondo de dois ou mais piezómetros para medição dos níveis da água e usando-se as equações anteriores para calcular K. A Figura 8.15 mostra o esquema de um ensaio de bombagem. Água subterrânea 8.30 Figura 8.15 – Ensaio de bombagem para determinação da permeabilidade Com frequência a espessura do aquífero é demasiado grande para que o furo ou poço abranja a totalidade da espessura, H. Apenas num certo comprimento, menor que H, se estabelece uma zona filtrante por onde se processa a entrada de água no poço, como se representa na Figura 8.16. As linhas de corrente já não são horizontais e há um afastamento em relação à teoria dos poços completos. Figura 8.16 – Poço de penetração parcial Água subterrânea 8.31 Estes poços, chamados poços de penetração parcial, devem ser estudados usando redes de fluxo ou métodos numéricos. Com base nessas análises e em medições de campo, têm sido propostas diversas fórmulas, como a proposta por TNO (1964): )),F() r 4b ((ln δ δ1 T2π Q s)(s p ppp (8.55) em que (sp)p é o rebaixamento no poço de penetração parcial; sp é o rebaixamento de um poço completo similar que bombeia o mesmo caudal; δ é a razão l/H entre o comprimento l da zona filtrante e a espessura H do aquífero; ε é a excentricidade relativa da zona filtrante, dada por |a – b|/(2H); a é a distância do topo da zona filtrante ao topo do aquífero; b é a distância da base da zona filtrante à base do aquífero. O Quadro 8.5 apresenta valores de F (δ,ε) para valores habituais de δ e ε. Quadro 8.5 – Valores de F em poços de penetração parcial ε 0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 δ 0.1 4,298 4,297 4,294 4,287 4,276 4,259 4,232 4,184 4,084 3,605 0.2 3,809 3,806 3,797 3,781 3,756 3,716 3,650 3,525 3,116 0.3 3,586 3,581 3,566 3,537 3,490 3,425 3,276 2,893 0.4 3,479 3,471 3,445 3,395 3,312 3,165 2,786 0.5 3,447 3,433 3,388 3,302 3,145 2,754 0.6 3,479 3,455 3,374 3,208 2,786 0.7 3,586 3,538 3,370 2,893 0.8 3,809 3,688 3,116 0.9 4,298 3,605 Schneebeli (1966) propôs uma outra fórmula para poços de penetração parcial: ) r 2l ln l H 2H r (ln T2π Q )(s p 0 pp (8.56) No caso de se ter um campo de furos com n furos relativamente próximos uns dos outros, isto é, com distâncias entre furos muito inferiores a r0, pode usar-se em primeira aproximação a seguinte fórmula para calcular o rebaixamento num ponto qualquer do aquífero, aplicando o princípio de sobreposição (Figura 8.17): i 0 n 1i i d r lnQ T2π 1 s (8.57) em que di é a distância do ponto ao furo i. Água subterrânea 8.32 Figura 8.17 – Rebaixamento num campo de furos 8.6 ESCOAMENTO SUBTERRÂNEO EM AQUÍFEROS FREÁTICOS 8.6.1 Hipótese de Dupuit O estudo do escoamento subterrâneo em aquíferos freáticos é mais complexo que o relativo aos aquíferos confinados, visto que o nível freático que define o limite superior do aquífero é alterado pelo próprio escoamento. Um outro fator que aumenta a complexidade da análise é que nos aquíferos freáticos há casos em que é preciso entrar em conta com a recarga no estudo do escoamento. Considerando a situação do escoamento tridimensional em regime permanente num aquífero freático com recarga R, mas sem alimentação de aquíferos mais profundos, a equação da continuidade (8.17) escreve-se: 0R z q y q x q zyx (8.58) sendo qx, qy e qz os caudais que atravessam o volume de controlo ao longo da espessura total do aquífero. Com a inclusão da recarga R, a equação de Boussinesq (8.19) passa então a ser 0R z h h z K y h h y K x h h x K zyx (8.59) Esta equação representa o escoamento num aquífero freático homogéneo e anisotrópico em regime permanente, com recarga R, mas sem alimentação de aquíferos mais profundos. No caso dum aquífero homogéneo e isotrópico, Kx = Ky = Kz = K, donde se chega a Água subterrânea 8.33 0 K 2R z h y h x h 2 22 2 22 2 22 (8.60) Note-se que, num aquífero freático, a cota piezométrica é dada por h, altura da toalha freática acima da camada impermeável suposta horizontal. Tal como no caso dos aquíferos confinados, estas equações podem ser integradas usando métodos numéricos, embora com a dificuldade adicional de a fronteira superior do domínio não estar definida a priori. O engenheiro francês Jules Dupuit apresentou em 1863 a seguinte hipótese para permitir determinar uma equação do escoamento subterrâneo em aquíferos freáticos que se pudesse analisar com mais facilidade: numa secção transversal qualquer, a distribuição de velocidades é uniforme; a componente vertical da velocidade em qualquer ponto é desprezável, portanto vz = 0. Isto não é válido em zonas do aquífero onde a curvatura da toalha freática é acentuada, como acontece na vizinhança de valas ou poços para onde se dá o escoamento. A Figura 8.18 ilustra esta hipótese. Se se admitir que vz = 0, as superfícies equipotenciais são verticais. Figura 8.18 – Ilustração da hipótese de Dupuit Com a hipótese de Dupuit (vz = 0), chega-se a: 0 K 2R y h x h 2 22 2 22 (8.61) que é a chamada equação de Dupuit-Forchheimer, válida para um aquífero freático homogéneo e isotrópico em regime permanente, com componente vertical da velocidade desprezável em qualquer ponto. Nos subcapítulos seguintes, apresentam-se resoluções da equação de Dupuit-Forchheimer para escoamentos unidimensionais (plano e radial). Água subterrânea 8.34 8.6.2 Escoamento plano num aquífero freático Considere-se o aquífero freático representado na Figura 8.18, onde o escoamento se processa da vala da esquerda para a vala da direita, com os níveis nas valas constantes (regime permanente) numa situação em que não há recarga. Como se trata dum escoamento plano, h ≡ h(x). A equação de Dupuit-Forcheimer reduz-se a 0 dx hd 2 22 (8.62) A integração conduz a 21 2 cxch As condições de fronteira são h = h0, para x = 0, e h = h1, para x = L, permitindo assim obter a equação da linha freática: x L hh hh 2 1 2 02 0 2 (8.63) Num aquífero freático, h representa a cota piezométrica. Note-se que, enquanto num aquífero confinado a variação da cota piezométrica com x é linear, no aquífero freático, a variação de h com x é parabólica. Como dx dh Kvv x ctehvqq xx deduz-se facilmente que o caudal q por metro de largura é dado pela seguinte expressão: 2120 2 hh 2L K dx hd K 2 1 q (8.64) Considere-se agora o aquífero freático representado na Figura 8.19, em que se tem de considerar a recarga R por metro de comprimento do aquífero. Os níveis nas valas mantêm-se constantes (regime permanente) e iguais. Nestas condições, há simetria no escoamento e a linha freática atinge a sua cota mais alta a meia distância entre as valas. Água subterrânea 8.35 Figura 8.19 – Escoamento para valas num aquífero freático com recarga Tomando o ponto a meia distância entre as valas como a origem do eixo xx, pode fazer-se a integração da equação de Dupuit-Forcheimer. 0 K 2R dx hd 2 22 (8.65) obtendo-se 21 22 cxcx K R h Daqui se obtêm facilmente as expressões da velocidade e do caudal: 2 Kcx2R vhq 2h Kcx2R dx dh Kvv 1 1 x (8.66) As condições de fronteira são: para x = 0, q = 0 (o gradiente do nível freático é nulo); para x = L/2, h = h1. Donde 2 2 2 1 2 1 x 2 L K R hh xRq 0c (8.67) É fácil obter a expressão de hmax e do caudal q escoado para cada uma das valas: Água subterrânea 8.36 2 RL q 4K RL hh 2 2 1 2 max (8.68) A obtenção das equações para o caudal e para o nível freático para a situação mais geral do escoamento com recarga e sem simetria (níveis diferentes nas valas) pode ser feita de modo semelhante, considerando nesse caso que a localização da secção onde se verifica hmax é desconhecida. Havendo uma terceira incógnita, a condição de fronteira adicional é o conhecimento do valor de h2 , diferente de h1. 8.6.3 Escoamento radial num aquífero freático Considere-se a situação de um poço completo num aquífero freático extenso (Figura 8.20). Do poço está a ser bombeado um caudal constante Q0. O aquífero pode receber uma recarga uniforme R. Figura 8.20 – Escoamento radial num aquífero freático Considerando o poço no centro duma ilha circular, existe uma superfície cilíndrica, concêntrica com o poço à distância r0, que seria o raio dessa ilha hipotética. Numa situação real, r0 é a distância do poço até onde se situa o divisor de águas (o gradiente de nível freático é nulo), que então não é atravessado por nenhum caudal. A distância desse divisor de águas r0 é determinada pela relação entre o caudal bombeado do poço e a recarga. Sendo r0 bastante grande relativamente ao raio do poço, pode tomar-se rp = 0. As superfícies equipotenciais são superfícies cilíndricas, como se representa na Figura 8.21. . Água subterrânea 8.37 Figura 8.21 – Superfícies equipotenciais no escoamento radial num aquífero freático Para o escoamento radial com escoamento em regime permanente, a equação de Dupuit – Forcheimer escreve-se: 0 K R dr dh r dr d r h (8.69) No caso de não haver recarga, a integração desta equação conduz a (r)lncch 21 2 A determinação das constantes de integração é feita com a imposição das condições de fronteira: – para r = r0, h = h0; – o caudal que atravessa qualquer superfície equipotencial é igual ao caudal Q0 retirado do poço. )(rln πK Q hc πK Q c QπKcr2πhvQ rh2 Kc dr dh Kv rh2 c dr dh r c dr dh 2h )(rlncch 0 02 01 0 2 02 2 22 021 2 0 (8.70) Água subterrânea 8.38 O sinal negativo para v e Q significa que o escoamento se processa em sentido oposto ao de r. Chega-se então à expressão da superfície freática: 0 02 0 2 r r ln πK Q hh (8.71) Quando existe uma recarga uniforme R, a integração da equação diferencial conduz à seguinte expressão para a superfície freática: 220 0 02 0 2 rr 2K R ) r r ln( πK Q hh (8.72) Neste caso, o caudal que atravessa uma dada superfície equipotencial não é constante, podendo ser calculado simplesmente por RrπQQ 20 (8.73) A distância da linha de separação das águas, r0, pode então calcular-se atendendo a que nessa linha o caudal Q será nulo: Rπ Q r0RrπQ 00 2 00 (8.74) A expressão (8.71) da situação sem recarga pode ser utilizada para a determinação da permeabilidade num aquífero freático através de um ensaio de bombagem, onde se medem os rebaixamentos s1 e s2 em dois piezómetros situados a distâncias r1 e r2 do poço onde se bombeia o caudal Q0, como se ilustra na Figura 8.22. No ensaio de bombagem é preciso garantir que não se verifique recarga nenhuma, sendo necessário tomar medidas adequadas para evitar que a água bombeada se infiltre e retorne ao aquífero. Figura 8.22 – Ensaio de bombagem num aquífero freático Os rebaixamentos são dados por Água subterrânea 8.39 202 101 hhs hhs (8.75) A partir da equação (8.69) pode escrever-se: 2 102 2 2 1 2 002 2 2 0 1 002 1 2 0 r r ln πK Q hh r r ln πK Q hh r r ln πK Q hh (8.76) donde se calcula o valor da permeabilidade K através de 2 1 2 2 2 1 0 r r ln hhπ Q K (8.77) O rebaixamento no poço, sp, é dado por sp = h0 – hp. Como h0 2 – hp 2 = (h0 – hp) (h0 + hp), então: p 0 p0 0 p r r ln hhπK Q s (8.78) Esta equação, que relaciona o rebaixamento no poço com o caudal bombeado Q0, designa-se por curva característica do poço. Por outro lado, como hp = h0 – sp, pode escrever-se 0 p p0e p r r lns2hπKq s Q (8.79) em que qe é o caudal específico ou o caudal por metro de rebaixamento no poço. A partir desta última expressão verifica-se que 0Q0sp (8.80) 0 p2 0maxmax0p r r lnhKπQQQhs (8.81) max0 p 2 0 2 p 2 0 p0p0 2 0 p0p max Q Q 1 h h h h 1 h hhhh h s2hs Q Q (8.82) A experiência indica que não se deve explorar um poço num aquífero freático com valores de rebaixamento sp acima de 0,5 h0, o que corresponde a extrair um caudal Q de cerca de 75 por cento do caudal máximo. Para pequenos rebaixamentos e numa zona afastada do poço, tem-se Água subterrânea 8.40 r r ln hK2π Q s2hshhhhhh 0 0 000 22 0 (8.83) expressão semelhante à encontrada para o aquífero confinado. No caso de se verificarem grandes rebaixamentos no poço, o valor de sp a considerar para o cálculo do caudal difere do sp medido, devido às restrições impostas pela hipótese de Dupuit. Sendo sp o valor medido, pode utilizar-se a fórmula de Jacobs para obter o valor corrigido s’p: 0 2 p p ' p 2h s ss (8.84) 8.7 ESCOAMENTO SUBTERRÂNEO EM REGIME VARIÁVEL 8.7.1 Escoamento radial num aquífero confinado Consideremos um poço de penetração completa num aquífero confinado de grande extensão e onde se bombeia um caudal constante. Quando se inicia a bombagem, a cota piezométrica é constante em todo o aquífero. O caudal bombeado é igual ao integral estendido à área de influência da redução da cota piezométrica vezes o coeficiente de armazenamento. Como o caudal resulta da redução do armazenamento de água no aquífero, a carga irá continuar a decrescer, mas cada vez mais lentamente, uma vez que a área de influência está continuamente a aumentar, até se chegar a uma situação em que tal decréscimo é negligenciável. Nessa altura, considera-se que se atingiu a situação de equilíbrio que foi estudada nos itens anteriores. Até lá, o escoamento processa-se em regime variável, cuja análise tem interesse prático, principalmente para a determinação da permeabilidade K e do coeficiente de armazenamentoS através dum ensaio de bombagem. A equação diferencial do escoamento radial em regime variável, aceitando que as velocidades não têm componente vertical z, é tKh S ) r (r rr 1 (8.85) em que φ é a carga, r, a distância radial ao poço, S, o coeficiente de armazenamento, K, a permeabilidade, h, a espessura saturada do aquífero e t, o tempo decorrido desde o início da bombagem. Todd e Mays (2005) referem que Theis obteve uma solução para esta equação diferencial, impondo como condições h = h0, para t = 0, e h = h0, para r → ∞, para qualquer t. A expressão derivada por Theis foi du u e hK4π Q s u u (8.86) sendo s o rebaixamento, Q, o caudal constante bombeado, e u definido como thK4 Sr u 2 (8.87) Água subterrânea 8.41 A equação (8.87) é chamada equação de Theis. Esta equação é mais utilizada em ensaios de bombagem destinados a determinar a permeabilidade dum aquífero do que as equações correspondentes à situação de equilíbrio por diversas razões: Basta apenas um poço de observação em vez de dois. O tempo requerido de bombagem, é menor visto que não é necessário chegar à situação de equilíbrio. Permite determinar o valor do coeficiente de armazenamento S. A equação de Theis não é, no entanto, de fácil utilização. Por isso, Theis propôs um método mais prático de resolução. Neste método, a equação (8.84) é escrita como W(u) hK4π Q s (8.88) Reescrevendo a equação (8.87) como u S hK4 t r 2 (8.89) e atendendo a que hK4π Q e S hK4 são constantes, a relação entre entre W(u) e u deve ser semelhante à relação entre s e r 2 /t. Theis sugeriu uma solução aproximada para a determinação de S e K baseada num método gráfico de sobreposição. Prepara-se um gráfico em papel logarítmico de W(u) versus u, gráfico que se designa por curva – tipo. O Quadro 8.6, apresentado em Todd e Mays (2005), dá valores de W(u). Traça-se depois um gráfico de s versus r 2 /t também em papel logarítmico, designado por curva de dados, com valores de s, r e t obtidos no ensaio de bombagem. Sobrepõem-se os dois gráficos, mantendo os eixos coordenados paralelos, ajustando-se até se encontrar por tentativas uma posição onde a maioria dos pontos observados no ensaio de bombagem se situam sobre a curva – tipo. Escolhe-se então um ponto do qual se obtêm as coordenadas s, r 2 /t, u, W e, a partir delas, os valores de S e K pelas equações (8.88) e (8.89). Quadro 8.6 – Valores de W(u) para a curva – tipo u 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 * 1 0,219 0,049 0,013 0,0038 0,0011 0,00036 0,00012 0,000038 0,00001 * 10 -1 1,82 1,22 0,91 0,70 0,56 0,45 0,37 0,31 0,26 * 10 -2 4,04 3,35 2,96 2,68 2,47 2,30 2,15 2,03 1,92 * 10 -3 6,33 5,64 5,23 4,95 4,73 4,54 4,39 4,26 4,14 * 10 -4 8,63 7,94 7,53 7,25 7,02 6,84 6,69 6,55 6,44 * 10 -5 10,94 10,24 9,84 9,55 9,33 9,14 8,99 8,86 8,74 * 10 -6 13,24 12,55 12,14 11,85 11,63 11,45 11,29 11,16 11,04 * 10 -7 15,54 14,85 14,44 14,15 13,93 13,75 13,60 13,46 13,34 * 10 -8 17,84 17,15 16,74 16,46 16,23 16,05 15,90 15,76 15,65 * 10 -9 20,15 19,45 19,05 18,76 18,54 18,35 18,20 18,07 17,95 * 10 -10 22,45 21,76 21,35 21,06 20,84 20,66 20,50 20,37 20,25 * 10 -11 24,75 24,06 23,65 23,36 23,14 22,96 22,81 22,67 22,55 * 10 -12 27,05 26,36 25,96 25,67 25,44 25,26 25,11 24,97 24,86 * 10 -13 29,36 28,66 28,26 27,97 27,75 27,56 27,41 27,28 27,16 * 10 -14 31,66 30,97 30,56 30,27 30,05 29,87 29,71 29,58 29,46 * 10 -15 33,96 33,27 32,86 32,58 32,35 32,17 32,02 31,88 31,76 Água subterrânea 8.42 Kruseman e De Ridder (1990) sumarizam outros processos para utilização da equação de Theis em ensaios de bombagem. 8.7.2 Escoamento radial num aquífero freático Os métodos apresentados para resolver o problema do escoamento em regime variável num aquífero confinado podem ser também utilizados para o caso dum aquífero freático, desde que se possa assumir que, tal como no caso do aquífero confinado, a água retirada do armazenamento é instantaneamente transformada em caudal. Esta hipótese é válida quando o rebaixamento é pequeno relativamente à espessura saturada do aquífero. Quando o rebaixamento é grande, essa hipótese não se mantém inteiramente válida, porque, quando a superfície freática baixa, a drenagem por gravidade da água da zona não saturada dá-se com velocidade variável, referida como escoamento retardado. Por isso, Todd (1980) refere que o tempo mínimo de bombagem não deve ser inferior a 4 horas, para areia média a grossa e material mais grosseiro, 30 horas, para areia fina, e 7 dias, para silte e argila. 8.8 ESCOAMENTO SUBTERRÂNEO EM AQUÍFEROS SEMICONFINADOS 8.8.1 Equações gerais Considere-se um aquífero semiconfinado que se encontra entre duas camadas semipermeáveis (aquitardos). A camada semipermeável de cima tem uma resistência hidráulica de cc, a de baixo, de cb. Os níveis piezométricos no aquífero de cima e no de baixo são respetivamente φc e φb. A lei de Darcy diz que c Δφ H Δφ K dz dφ Kv s ssz em que c = Hs/Ks é a resistência hidráulica da camada semipermeável, exprimindo-se em dias. Assim, pode escrever-se a equação da continuidade em regime permanente para um aquífero semiconfinado com espessura H, como: 0 ccy v H x v H b b c cyx (8.90) Substituindo a lei de Darcy na equação da continuidade: 0 ccy K y H x K x H b b c c yx (8.91) Obtém-se então a equação geral de escoamento subterrâneo num aquífero semiconfinado, homogéneo e isotrópico em regime permanente: 0 ccy KH x KH b b c c 2 2 2 2 (8.92) É mais comum escrever essa equação como: Água subterrânea 8.43 0 cKHcKHyx b b c c 2 2 2 2 (8.93) ou como: 0 λλyx 2b b 2 c c 2 2 2 2 (8.94) Define-se o fator λ = KHc como fator de dispersão. Quando a permeabilidade K dos aquitardos é muito baixa, os valores de cb e cc são muito elevados, e esta equação reduz-se à equação de Laplace para escoamento bidimensional num aquífero confinado. A resolução analítica da equação diferencial do escoamento subterrâneo em aquíferos semiconfinados também é complexa, obrigando à utilização de métodos numéricos para a sua integração. 8.8.2 Escoamento plano num aquífero semiconfinado Uma situação relevante na prática é a ressurgência de água subterrânea a jusante duma barragem, proveniente do escoamento subterrâneo através da sua fundação (Figura 8.23). Figura 8.23 – Escoamento na fundação duma barragem Considere-se um aquífero semiconfinado com uma base impermeável. Neste caso, o escoamento torna-se unidimensional e a equação (8.92) simplifica-se. A equação geral do escoamento subterrâneo unidimensional em aquíferos semiconfinados pode escrever-se como: Água subterrânea 8.44 0 λ h dx d 22 2 (8.95) em que h é a carga na camada semipermeável. Se a jusante o nível freático h for constante e uniforme, h1, a equação será 0 λ h dx d 2 1 2 2 (8.96) A integração desta equação conduz a 1 λ x 2 λ x 1 heCeC Os valores de C1 e C2 obtêm-se através das condições de fronteira a jusante da barragem: 1h;x C2 = 0 x = xj (limite da barragem a jusante): φ = φj λ x 1j11 λ x 1j jj ehCheC Assim: 1λ xx 1j heh j (8.97) Como q = – KH dφ/dx , virá λ xx 1j λ xx 1j 11 e c λ he λ KH hq (8.98) Se a barragem for impermeável, o caudal por baixo da barragem será constante,
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