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SVAMPA NCLA cap 2 livro 2016

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Maristella Svampa
Nesta apresentação procura-se pontuar os aspectos mais importantes da vida e obra da autora argentina no âmbito das pesquisas do grupo de pesquisas Novo Constitucionalismo Latino-americano (NCLA) do PPGD/UFRJ. Pretende-se ainda fazer um fichamento resumo de 2 capítulos de livros da autora. 
Maristella Svampa foi selecionada como um dos marcos teóricos dos estudos desenvolvidos pelo grupo NCLA no ano de 2018, primeiro semestre.
Grupo de Pesquisa Novo Constitucionalismo Latino Americano (NCLA)
Programa de Pós-Graduação em Direito da UFRJ
Coordenadores do Grupo: Prof. José Ribas Vieira e Profa Lilian Balmant Emerique
Apresentação: Fernanda Lage (doutoranda e membro do grupo NCLA)
Quem é Maristella Svampa
É Socióloga, escritora e analista política argentina, da Província de Rio Negro, nascida em 08/05/1961. 
É formada em Filosofia, doutora em sociologia (Paris).
Atualmente é professora titular da Universidade Nacional de La Plata, pesquisadora do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas e coordenadora da revista “Observatório Social de América Latina” (OSAL) do Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais (CLACSO).
Entre la obsesión y la crítica ao desarrollo (p. 137-192)
Nas próximas telas será apresentado o fichamento-resumo do segundo capítulo do livro Debates Latinoamericanos. Indianismo, Desarrollo, Dependencia, Populismo, de 2016.
Em linhas gerais, o livro aborda os debates centrais da AmL, estabelece suas genealogias e filiações, detecta como as categorias herdadas do pensamento europeu servem de limite ao pensar a realidade heterogênea. Busca entender os desafios intelectuais e políticos da região da AmL.
Progresso e Civilização
São ideias-força que deram forma a uma cosmovisão acerca da Modernidade. Tais ideias tiveram forte pregnância no pensamento social e político dos países latino-americanos durante o século XIX.
Assim, a ideia de Modernidade associou-se intrinsecamente à exigência de erradicar a “barbárie” americana e seus “males endêmicos”, diretamente relacionada à população autóctone e ao legado católico hispânico.
No século XX pós 2ª GM, as noções progresso e civilização foram substituídas pela categoria desenvolvimento, mas utilizada de maneira similar à suas antecessoras.
Esses “avatares” configuraram-se em campos problemáticos como aqueles que se referem a relação entre desenvolvimento e progresso, desenvolvimento e natureza e desenvolvimento e liberdade.
Objetivo do capítulo Entre la obsesión e la crítica al desarrollo
Neste capítulo, Svampa se ocupará em seguir a pegada dos campos problemáticos
O da relação entre desenvolvimento e progresso – do qual nasce o paradigma produtivista (ideia de crescimento ilimitado). Apesar de possuir inúmeros questionamentos a este paradigma, ele ainda possui muitas bases e legitimidade e apresenta grande capacidade de adaptação e vampirização.
E entre desenvolvimento e natureza – a autora dará enfoque ao conceito de “desenvolvimento sustentável”, seus avatares e posterior fracasso. Svampa ilustra ainda o desafio político e intelectual que preenche a brecha cada vez mais visível entre desenvolvimento e proteção do meio ambiente.
Então são 2 os paradigmas a serem estudados neste capítulo: 
paradigma produtivista e paradigma ambiental.
CEPAL – fará a apresentação de alguns autores da Cepal, que introduzem termos chave como “centro-periferia” importante para se ler as assimetrias e os obstáculos ao desenvolvimento 
O paradigma do desenvolvimento
Legado do pensamento clássico – uma concepção produtivista do progresso sobre uma base de ganhos materiais e a Ascenção da economia com “ciência” paradigmática. {importante para pesquisa do Vítor na JIC-JUR}
A produção deixa de ser um meio e se transforma em um fim em si mesmo
MITOLOGIA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO (P. 139) – um fim em si mesmo, de tal modo que o desenvolvimento de um país se media por sua capacidade de produção (bens e serviços produzidos por um país – PIB)
A mitologia do crescimento tem como consequência um reducionismo econômico – marca o reconhecimento da hegemonia estadunidense, início do processo de descolonização da Ásia e da África e a criação de vários organismos internacionais consagrados ao tema desenvolvimento (ex: Organização das Nações Unidas)
O Discurso de Truman
Em 1949, o presidente norte-americano anunciou:
“o velho imperialismo – a exploração para benefício estrangeiro – já não tem cabimento em nossos planos. O que pensamos é um programa de desenvolvimento baseado nos conceito de “trato justo” e democrático (...) que contribua para a melhoria e para o crescimento das áreas subdesenvolvidas” {livre tradução a partir da citação na p. 140}
O discurso de Truman foi um divisor de águas entre o político e o simbólico
A partir daí, nova mitologia do ocidente:
O desenvolvimento se tornou um valor universal, homogêneo, o grande objeto de desejo e a nova mitologia do ocidente (Esteva, 1996 apud Svampa 2016, p. 140)
Nesta linha, a ONU lançou no início dos anos 60 “El Decenio del Desarrollo”, cuja proposta de solução para as áreas subdesenvolvidas seria a transferência de tecnologia dos países ricos para os países pobres.
Novo enfoque, mirada evolutiva e normativa do discurso hegemônico
Nesse novo enfoque, o desenvolvimento era uma questão de tempo. Os países subdesenvolvidos deveriam inspirar-se e repetir o exemplo das economias avançadas
Na AmL cresce a preocupação com a problemática do subdesenvolvimento
A partir da periferia nascia uma nova teoria de desenvolvimento, original e de corte heterodoxo, que não apenas oferecia explicação diferente, mas também propunha políticas públicas para superar obstáculos ao desenvolvimento (a teoria de desenvolvimento da Cepal)
O paradigma estruturalista (p. 142)
O economista argentino Raúl Prebisch e seu famoso trabalho “El Desarrollo de la América Latina y alguns de sus principales problemas” (1948) – um manifesto teórico político, a base do paradigma estruturalista.
Prebisch demonstrou as diferenças entre as economias do centro e da periferia. Foi o precursor da Teoria da Dependência, uma das pérolas da Cepal
A origem da nossa condição periférica é a divisão internacional do trabalho
Prebisch desmistificou a teoria clássica ao ressaltar que o problema do não desenvolvimento da AmL não é questão de tempo e sim de estrutura. Os países periféricos tem uma estrutura econômica débil e vulnerável. 
Portanto a superação do subdesenvolvimento passaria pela ruptura com a dependência e não pela modernização e industrialização da economia.
Parêntesis: a Teoria da dependência é uma formulação teórica desenvolvida por intelectuais, consiste em uma leitura crítica, marxista e não dogmática dos processos de reprodução do subdesenvolvimento na periferia do capitalismo mundial
O Estado deve conduzir o processo de desenvolvimento (p.143)
Uma ideia chave da Cepal foi a de que a industrialização era a chave latino-americana
Reformas estruturais e institucionais pró industrialização
Substituição do modelo de “crescimento para fora” centrado na produção e exportação de matérias primas por um modelo de “crescimento para dentro”, cujo motor seria a industrialização baseada na substituição das importações
O Estado é a ideia FORÇA nesse processo de desenvolvimento
Citação importante (p. 144)
“Por ejemplo, no se puede explicar la especialización de la economia latino-americana sin considerar um centro que, al industrializarse, condiciona el modo de ser de la periferia”
Neste trecho, Svampa cita O. Sunkel e P. Paz para explicar a diferença entre o método clássico (abstrato e histórico), indutivo e dedutivo e o método histórico-estrutural, na qual uma parte jamais pode ser analisada de forma ilhada, sem sua relação com o todo.
Desenvolvimentismo (p. 145-146)
Em que pese a Cepal estar naturalmente vinculada ao termo desenvolvimentismo, ressalta-se que o mesmo possuiu várias versões e variantes
Desenvolvimentismo populista (Péron na Argentina e Vargas no Brasil)
Impulsionavam a demanda e o consumo através da expansãodo mercado interno
Os denominados especificamente “desenvolvimentistas” (Kubitesch no Brasil e Frondizi na Argentina)
Apontaram mais para o investimento e outorgaram um papel importante ao capital estrangeiro
Outros modelos desenvolvimentistas: Venezuela (1958), Peru (1962) e Chile (1964)
Neste trecho, Svampa segue a autora norteamericana Katharyn Sikkind (2009), que explora as diferenças entre o projeto desenvolvimentista no Brasil e na Argentina, explicando que o êxito do mesmo no Brasil se deu devido ao consenso que o projeto possuía no interior das elites brasileiras.
Svampa cita a análise feita por O’Donnell, o qual verifica o exitoso acoplamento do desenvolvimentismo com governos autoritários, o que daria conta de uma ampla funcionalidade para o desenvolvimentismo, reduzindo-o a um programa de industrialização.
Celso Furtado e a Teoria do Bloqueio Estrutural (p. 146 ss)
Nas próximas páginas, Svampa dispensa atenção à Celso Furtado e sua Teoria do Bloqueio Estrutural
“La experiencia en América Latina ha demostrado que esse tipo de industrialización substitutiva tende a perde impulso, al agotarse la fase de las sustituciones ‘fáciles’ y provoca eventualmente estancamento” (FURTADO, Celso apud Svampa 2016, p. 146)
TEORIA DO BLOQUEIO ESTRUTURAL – ligada à exaustão do modelo de substituição de importações.
Assinala não somente os limites da experiência desenvolvimentista como também da própria Cepal
Celso Furtado deixou a Cepal em 1958
Furtado sustentava que a industrialização substitutiva agravava o dualismo do mercado de trabalho, ampliando o hiato entre o setor moderno e a economia pré-capitalista
Ala sociológica modernizadora da Cepal (p. 147)
Representada por José Medina Echavarría
Objetivo – superar o enfoque economicista
Echavarría na Cepal por 25 anos (1952-1977)
Publicou várias obras, entre elas “El Desarrollo social em América Latina en la posguerra“ (1963)
Echavarría utilizou o conceito sociológico “porosidade estrutural”, que afirmava a coexistência entre aspectos tradicionais e aspectos modernos nas sociedades latino-americanas, o que a longo prazo pode significar um obstáculo ao desenvolvimento
Em 1971, a Cepal criou um projeto interdisciplinar, cujo resultado foi a criação de um novo conceito, estilos de desenvolvimento (Gutiérrez Garza, 1994). 
A revista da Cepal dedicou um número exclusivo a esta discussão
Ao estilo de desenvolvimento se contrapunham, Aníbal Pinto (texto com predominância do enfoque econômico) e 
Jorge Graciarena (enfatizava a necessidade de se incluir a dimensão do poder do Estado)
Aníbal Pinto caracterizará o estilo de desenvolvimento dominante como concentrador e excludente, frente a distribuição desigual de ingresso e uma alarmante presença da pobreza crítica (Pinto, 1976, 2008 apud Svampa 2016)
Meados dos anos 60, há um giro no pensamento da Cepal, desde as estruturas sociais, sem abandonar a análise das estruturas econômicas. De onde sai o seguinte questionamento: Onde estão as falhas?
O modelo de industrialização por substituição possui claros limites
A necessidade de um desenvolvimento autônomo para as economias latino-americanas
Tornou-se evidente o estrangulamento externo e os problemas resultantes e o desequilíbrio na balança de comércio
As teses acima anteciparam a Teoria do Bloqueio Estrutural de
Celso Furtado
Desequilíbrio Estrutural – obstáculo ao desenvolvimento (p 148)
AmL: 2 setores distintos de produtividade
1) PRIMÁRIO – com preços e custos menores ao mercado internacional
2) SECUNDÁRIO – custos e preços superiores aos internacionais, devido al alto custo dos componente de insumos. Por esse motivo não consegue exportar.
O desequilíbrio não é reconhecido, sequer corrigido (p. 149)
Ao contrário, causa crises recorrentes que requerem uma política cambiária diferente dos países desenvolvidos
É nesse contexto que o desenvolvimento dá lugar à dependência
Após a década de 1970, a Cepal deixa de ser caracterizada como “formadora” de um pensamento crítico.
Visão antropocêntrica da natureza (p. 150)
Pensamento predominante: a natureza é uma “canasta de recursos”
O imaginário da conquista espanhola oscila entre duas grandes ideias
O deslumbramento (América continente exuberante, paisagens extraordinárias, produtora de matérias {metais por ex El Cerro Rico de Potosí)
A inferioridade (continente jovem e imaturo, ideias apoiadas em dados “científicos”)
2 destaques (p. 151)
Horácio Machado Aráoz (2014) Confronta a paisagem bifronte do colonialismo:
De um lado, fantasmas desenvolvidos, ilustrados pelo luxo, progresso, ostentação, inversão do cálculo custo-benefício
Do outro lado, fantasmas do horror, visíveis na pobreza inédita, a fome como castigo, a privação e o sacrifício de milhões de vidas
Antonelli Gerbi
Svampa tece agradecimentos a Antonelli Gerbi por sua monumental obra “La Disputa del Novo Mundo (1982)”, que conta a história e a tese da inferioridade da América
Continente Imaturo (Buffon – cientista francês) – p. 152
A autora destaca os estudos de Buffon, pois foi partidário de uma visão monogenista, ilustrou o conceito de variação (ou mestiçagem) considerada como uma degeneração.
Alexander Von Humboldt – se diferencia do pensamento dominante da época (1790-1830). Humboldt conhecia a América como ninguém. Ele ilustrava as selvas tropicais, as altas cordilheiras, as vastas planícies, construindo uma imagem da natureza como imensurável, porém em seu relato omite ao homem uma natureza que não necessita do ser humano para existir. (p. 153)
A obra de Humboldt influenciou Darwin
HEGEL – foi quem mais influenciou para uma visão da América como continente imaturo e inferior, definido como pura natureza. Hegel retomou e hiperbolizou a tese de Buffon
La vanguardia capitalista (p. 154)
De acordo com Svampa, o fim do domínio colonial na América abriria outros horizontes reconectados com a ideia original da conquista espanhola, denominada por Pratt de
“La vanguardia capitalista”, ideia na qual a América era vista como continente reservatório privilegiado por grandes recursos naturais. 
Por trás da fascinação humboldtiana por um mundo novo e virginal, estava a natureza cada vez mais reduzida a matéria prima.
La maldición de la abundancia (p. 154)
A natureza possuía imagem ambivalente. Em o Facundo de Sarmiento (1845), se adverte: de um lado, a natureza como um ser monstruoso, enorme e ameaçante, e por outro, a natureza assimilada como inferioridade, atraso, barbárie. Por outro, elogiada por sua abundância e potencialidade.
Essa dupla visão da natureza aparece num ensaio de 1969 de um escritor mexicano, Carlos Fuentes, abordando a novela hispano-americana. Fuentes aborda o conflito maior entre civilização e barbárie, e ressalta que na realidade a grande personagem é a natureza, imensa e pouco dominável, erigida como o maior desafio do homem americano.
Todo esse contexto estimulou a visão eldoradista, tema de enorme pregnância no imaginário político e social do homem latino-americano. A visão eldoradista foi desenvolvida por diferentes autores, especialmente historiadores e economistas.
Visão Eldoradista (p. 156)
Apoiada em 3 eixos
A consolidação do modelo primário exportador (matérias primas)
A captação de renda extraordinária e seu derivado, o rentismo
As oligarquias parasitárias
Importante 
Zavaleta (p. 156)
René Zavaleta Mercado - Influente Pensador boliviano na segunda metade do séc. XX
Político, sociólogo e filósofo (1935-1984)
Analisou diferentes períodos históricos que envolviam processos ligados a memória mediana, remetendo à larga memória do “saqueo colonial”, através do excedente infecundo, fazendo correlações com a guerra do Pacífico e com os ciclos de exploração de metais e minerais.
O Estado é um estado aparente, no qual funcionou o “excedente infecundo”, ou seja, economia de exploração de seres humanos e recursos naturais apoiada em ciclos históricos de auge de diferentes matérias primas (prata, castanha, petróleo, estanho, gás etc)
Zavaleta definiu o Estado como aparente realidade semicolonial de países que possuem“ilusionamente” território, população e poder político. 
Esses países possuem constituições, mas não tem momentos constitucionais. Fracassam no conceito de soberania. São Estados incertos
Concepção elitista (p. 157)
O excedente é utilizado de maneira não equilibrada, o que dá origem a uma concepção elitista, vertical e conservadora, a qual associa a ideia de que riqueza cria poder, contraposta à ideia de que quem cria poder de fato é o povo, em um ato revolucionário.
Milcíades Peña (p. 157)
Historiador marxista argentino, Intelectual (1933-1965)
Descreveu a guerra do Paraguai como um 
ato a serviço dos interesses do Império Britânico
Assumiu a tarefa de desmascarar vários mitos e lugares comuns da historiografia liberal
Peña era diferente da esquerda da época. 
Para ele, a organização econômica e social da AmL não era do tipo feudal, 
mas sim um “capitalismo colonial”.
Em seu grande livro Historia del Pueblo argentino (1957), fez referência a uma “maldição da abundância fácil”, relacionada à rentabilidade extraordinária produzida pela pampa argentina, eixo do modelo agroexportador.
A maldição da abundância fácil (p. 158)
É a chave para explicar a diferença entre o norte dos EUA e o Rio de la Plata
Uslar Pietri (1906-2001) e Rodolfo Quintero (1903-1985) (p. 159)
As análises que dizem respeito à Venezuela estão ligadas às diferentes consequências socioeconômicas da economia do petróleo, vão desde a dependência externa até a emergência de determinada configuração cultural local/nacional
Arthuro Uslar Pietro, em 1936, introduziu a questão com o artigo “Sembrar el petróleo”, defendendo o redirecionamento de recursos provenientes da renda petrolífera a fim de impulsionar a economia nacional, visando o desenvolvimento integral do país.
Quintero, em seu livro Antropologia del Petroleo (1972) faz uma reflexão focalizada na cultura do petróleo, suas modalidades, seus efeitos sociais e psicológicos, deteriorantes das culturas crioulas, com traços marcantes ligados ao capital monopolista. 
Nessa linha, a cultura do petróleo é entendida como a cultura da conquista, cuja filosofia é condicionar a população à fonte produtora de matérias primas.
Rodolfo Quintero – político marxista, antropólogo, etnólogo, prof. Universitário, fundador e militante do Partido Comunista, diretor do Instituto de Investigações Econômicas e Sociais da Faculdade de Economia da Universidade Central da Venezuela
Arturo Uslar Pietro – advogado, escritor, político, periodista e produtor de televisão, um dos principais intelectuais da Venezuela do séc. XX. Fundou o Partido Democrático Venezuelano. Em 1963, candidatou-se a presidente da Venezuela e foi derrotado por Raúl Leoni. Foi senador e embaixador pela Venezuela na Unesco.
La emergência de la cuestión ambiental (p. 160-183)
Enormes mudanças nas últimas 5 décadas
Crise na ideia e modernização e emergência da questão ambiental
A crítica ao desenvolvimento e o mito do crescimento econômico aos poucos abrem espaço a diferentes manifestações e perspectivas políticas e filosóficas acerca da relação entre natureza humana e não humana
Na AmL ocorre o fracasso do desenvolvimentismo e ascensão da fase monetarista (Consenso de Washington e globalização assimétrica)
Inúmeras críticas, constatação de limitações e déficits sociais, alusões a brechas raciais e de gênero, tudo isso denominado por Unceta de “giro social”, abertura de um campo crítico em torno do aumento da pobreza e das desigualdades (Unceta, 2009 apud Svampa, 2016, p. 161)
A seguir, Svampa abordará as perspectivas alternativas, os avatares e discussões sobre o conceito de desenvolvimento sustentável e as respostas elaboradas desde “el SUL”
Em direção ao paradigma do desenvolvimento sustentável (p. 161-164)
Desde Descartes e F. Bacon – dualismo ontológico, antropocentrismo, valorização e controle do homem sobre a natureza – essa base da ciência ocidental moderna tem por consequência a desvalorização daquele que é diferente.
“Los limites del crescimento” (1972) – do Club de Roma – denuncia os limites da exploração da natureza e sua incompatibilidade com um sistema econômico fundado no crescimento indefinido
1972 – Conferencia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (Estocolmo). Visualiza-se uma relação + estreita entre os impactos do desenvolvimento econômico e o meio humano. Persiste na ideia de progresso, porém denuncia os danos ao meio humano
Década de 1980 - nova reflexão ecológica a partir do grave acidente nuclear na central de Chernobil
1992 – Rio ECO 92 – cresce o interesse sobre a questão ambiental
2 visões polares
Além da evidente complexidade em torno da questão ambiental, está claro que o conceito de desenvolvimento sustentável difere da concepção acerca da relaçãoo homem-natureza
De um lado, um enfoque ecocêntrico ou biocêntrico, acentuando a deterioração do meio ambiente e a finitude de recursos
De outro, apesar das críticas ao mito do crescimento, permanece uma visão antropocêntrica que prioriza o desenvolvimento sobre o meio ambiente
Os avatares do paradigma de desenvolvimento sustentável marcaram o triungo da concepção antropocêntrica
Na Declaração do Rio (1992) aparecem os novos princípios da precaução e o princípio preventivo
Um segundo conjunto de ideias definido por Svampa com “desarrollo sostenible fuerte”, considera que o ingresso da natureza ao mercado não é suficiente, aprofundando as críticas às posturas ortodoxas do progresso. Aprofunda as críticas ao desenvolvimento convencional, entretanto aceita a natureza como forma de Capital.
Amartya Senn
Surge a noção de desenvolvimento humano
vinculada ao programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), inspirada em ideias como as do filósofo Amartya Senn (equidade, liberdade e competência)
!
Ou seja, as ideias de Amartya Senn ainda não significam 
uma proposta alternativa ao neoliberalismo
Amartya Kumar Sen – economista e filósofo, nascido na Índia (1933). Professor de economia e filosofia nas universidades de Harvard e Thomas W. Lamont. Membro sênior da Harvard Society of Fellows. Foi presidente de algumas associações econômicas, como a OXFAM. Testemunhou a escassez de alimentos em Bengali/Índia (1943), a qual provocou a morte de quase 3 milhões de pessoas, o que desencadeou seu interesse por reformas sociais a fim de melhorar as condições dos países subdesenvolvidos. Sua obra sofre influência de Adam Smith e John Rawls.
Conceitos e visões alternativas do Sul (p. 165-171)
Anos 1970 e 80 – Svampa se detém a alguns posicionamentos críticos da época, vários deles hoje esquecidos
Tais posicionamentos discrepavam com a visão emergente dos países desenvolvidos acerca das responsabilidades e tarefas pendentes ao processo de deterioração e contaminação ambiental
Conceito de ECODESENVOLVIMENTO – produto do diálogo entre norte e sul, de “êxito fulgaz”, elaborado ao longo de várias reuniões
Conferência de Cocoyoc (Morelos, México, 1974) – conceituou o ecodesenvolvimento
A conferência de Cocoyoc estabeleceu que o problema não era a população e sim a distribuição desigual da riqueza, que as desigualdades não são produto de condições geográficas, e sim de formas de exploração neocolonial. Recebeu influência da Teoria da Dependência.
Conferência de Estocolmo – retoma o conceito de ecodesenvolvimento e o define como “desenvolvimento socialmente desejável, economicamente viável e ecologicamente prudente”
Porém, o termo ecodesenvolvimento teve uma vida breve, foi abandonado inclusive por seus promotores.
Observação importante (p. 166)
Precisamos ter em conta que as esquerdas da AmL – seja em suas matrizes anticapitalista ou populista – se mostraram sumamente refratárias às correntes ambientalistas.
As esquerdas latino-americanas consideravam a problemática ecológica como uma preocupação importada da agenda dos países ricos
Celso Furtado
Em 1974, o influente economista Celso Furtado, no livro “O mito do desenvolvimento econômico e o futuro do terceiro mundo” questionou as afirmações do MIT, afirmando que seus técnicos desconheciam a especificidade do fenômenodo subdesenvolvimento, deformação provocada pela relação entre os países dominantes e os países dependentes.
Para Furtado, a grande maioria da população era setor excluído do consumo e o estilo de vida promovido pelo capitalismo só podia ser preservado a uma minoria dos países industrializados e nos países subdesenvolvidos, a uma minoria dominante
Ideias de Celso Furtado
Modelo Mundial Latino-americano
Na mesma linha de Furtado, um grupo interdisciplinar de especialistas, liderado por Amílcar Herrera, elaborou um modelo alternativo ao Informe Meadows, pois consideravam que por detrás deste havia uma lógica neomalthusiana.
O doc.: “Catástrofe o Nueva Sociedad? Modelo Mundial Latinoamericano (MML)” (1975)
Considerava que o uso devastador dos recursos naturais e a deterioração do meio ambiente não estavam ligados ao aumento da população, e sim ao alto consumo dos países mais ricos. Os setores privilegiados do planeta deveriam reduzir seu consumo excessivo a fim de reduzir a pressão sobre os recursos naturais
MML: enfoque na satisfação das necessidade básicas. A sociedade proposta pelo MML deve ser não consumista, e a produção deve ser determinada por necessidades sociais e não pela ganância
Aposta da Fundação de Bariloche
A aposta da Fundação de Bariloche, da mesma forma que a de Celso Furtado, baseou-se em uma linha de pensamento autônomo e contra-hegemônico, elaborado desde a periferia, questionava a colonialidade do saber e apontava para reformas estruturais, incluindo pensar uma sociedade mais igualitária e mudanças nos padrões de consumo.
Ambas deixaram assentada sua confiança no progresso e na tecnologia
A partir de 1976, com a ditadura civil-militar da Argentina, fatores endógenos conspiraram contra a continuação e evolução dessa perspectiva crítica da Fundação de Bariloche.
Svampa cita Unceta (2009), que detectou 4 campos de anomalias identificadas no início dos anos 1970
A pobreza, o desemprego e a desigualdade não diminuíram
A progressiva deterioração do meio ambiente
A falta de equidade de gênero
O crescimento econômico sem respeito as liberdades e aos direitos humanos
Mau desenvolvimento (p. 170-171)
Termo utilizado por diversos autores.
Celso Furtado – tratou subdesenvolvimento e mau desenvolvimento como sinônimos
Heterogeneidade regional e cultural, aprofundamento das desigualdades não apenas sociais, mas também entre os países do norte e do sul
René Dumont e M. F. Mottin – em um livro sobre 3 países latino-americanos (Brasil, México e Peru)
Um paradoxo: consideráveis forças produtivas, muitas riquezas, cidades gigantescas, mas com profundas desigualdades, esbanjamentos e pilhagem configurando dimensões do mau desenvolvimento
Samir Amin – livro “Maldevelopment. Anatomy of a Global failure” (1990)
Maior densidade conceitual ao termo mau desenvolvimento
Vandana Shiva
Releitura do termo mau desenvolvimento sob uma ótica geopolítica e de gênero
O desenvolvimento, que deveria ter sido um projeto pós colonial de progresso e bem-estar para todos, gerou excedentes comerciais, ocupou as colônias, destruiu as economias locais e se converteu em fonte de pobreza para as colônias
Continuação da colonização baseada na exploração da mulher e na degradação da natureza
Do desenvolvimento à escala humana para o pós-desenvolvimento (p. 172-176)
Anos 1980 – colapso dos socialismos reais e consenso do neoliberalismo
Liberação das forças “benéficas” do mercado
Anos 80 – década perdida
Prevaleceu o consenso de Washington, ajuste do gasto estatal, política de privatizações e abertura financeira
Crise das esquerdas
Muitos autores latino-americanos plantaram uma concepção inclusiva e participativa do desenvolvimento
Respeito às culturas campesinas e originárias
Fortalecimento das economias locais e regionais
O chileno Mandref Max-Neef junto com Antonio Elizalde e Martín Hopenhayn deram enfoque ao “desenvolvimento em escala humana”, que propõe uma releitura do sistema econômico sob uma perspectiva de atenção às necessidades básicas, incluindo o marco social e ecológico.
Enfoque crítico humanístico
Em suma, a perspectiva crítica da visão macrossocial, planificadora e centralizada de desenvolvimento oferece um enfoque crítico humanístico. Parte da crítica uma visão produtivista e ao mesmo tempo que questiona a consolidação de uma sociedade consumista.
A crítica mais radical à visão hegemônica de desenvolvimento provém do pós-estruturalismo – Ignacy Sachs coordenou a edição do Dicionário do Desenvolvimento
O capítulo do desenvolvimento ficou a cargo de Gustavo Esteva, que fez uma crítica demolidora à invenção do desenvolvimento e à sua contra-cara, o subdesenvolvimento
De grande virulência colonizadora, de caráter monocultural. O subdesenvolvimento foi classificado de endógeno
O desenvolvimento sustentável e o desenvolvimento humano classificados como atenuantes do mesmo modelo colonizador
Arturo Escobar – antropólogo colombiano
Em sintonia com os questionamentos próprios indigenistas, procurou desmontar o conceito moderno de desenvolvimento, desvelando os principais mecanismos de dominação e o ocultamento e a subvalorização de outras experiências (locais e práticas vernáculas)
Escobar influenciou o pensamento ambiental e a ecologia política na AmL, baseada na construção coletiva, no princípio da reciprocidade e nos saberes locais, cujos protagonistas são os movimentos sociais
Boaventura de Sousa Santos – epistemicídio
A crítica pós-estruturalista questionou os modos pelos quais os países do Terceiro Mundo foram definidos como países subdesenvolvidos.
Por que e por meio de que processo histórico e com que consequências, Ásia, África e AmL foram idealizados como continentes do Terceiro Mundo, através de que discursos e práticas de desenvolvimento?
Assim, um eixo do pós-desenvolvimento é a crítica e a desconstrução do desenvolvimento
Outros eixos são a valorização de culturas vernáculas, de depender menos do conhecimento externo e o objetivo de criar um mundo social, cultural e ecologicamente sustentável
Gudynas – alternativas ao desenvolvimento (2012) – o autor uruguaio propõe uma cosmovisão relacional entre os vínculos entre a natureza humana e não humana, incluindo a sustentabilidade superforte, o biocentrismo e a ecologia profunda
Movimentos sociais, ambientalismo e ecologia política (p. 176-179)
Durante muitos anos a resistência coletiva de lutas esteve ligada à classe trabalhadora, conceitualizada como movimentos sociais
A partir dos anos 1960, surge nova categoria empírica e teórica expressando nova politização da sociedade. São os “novos movimentos sociais”, os quais compreendem os movimentos ecologistas ou ambientais, os movimentos feministas, os pacifistas e os estudantis
Nesse contexto, ocorre a emergência de novas coordenadas culturais e políticas
Os movimentos ecologistas são herdeiros do sucesso de 1968, crítica tanto ao produtivismo capitalista como ao socialismo soviético
OBS IMPORTANTE: O porquê de o movimento ambientalista ser incipiente se de deve muito particularmente ao fato de as ideias em torno da preocupação com o ambiente serem ideias propostas pela agenda dos países centrais, e também porque o principal problema da AmL é a pobreza
Argentina – Miguel Grinberg
Brasil – Seringueiros, Chico Mendes
Perspectivas críticas: da economia ecológica à ecologia política (p. 179-182)
Svampa transcreve uma citação de Enrique Leff, 1995, para quem, de forma resumida, o ambientalismo está associado a uma modernidade alternativa, ele desconstrói a lógica do capital e desconcentra o poder para construir outra racionalidade social
A autora cita a consolidação de novos ramos e disciplinas do saber: ecologia política, filosofia ambiental, economia ecológica e história ambiental
Fala de uma crise civilizatória ou crise do conhecimento – reflexão sobre os modos de pensamento hoje insustentáveis para o mundo
Ressalta o grupo de estudos de ecologia política da CLASCO, coordenado pelo sociólogo Héctor Alimonda, como pioneiro na problematização dessas questões
Dá destaque a Enrique Leff, mexicano,criador de diferentes conceitos-horizonte
Racionalidade ambiental, saber ambiental, complexidade ambiental, epistemologia ambiental, diálogo dos saberes e etc
Leff em 2006 definiu a ecologia política como campo em construção a partir da articulação do pensamento crítico com a ação política. É um território em disputa, no qual se constrói novas identidades culturais em torno da defesa da natureza
Vários autores estão estudando esses novos conflitos, e ressaltam o caráter desigual das condições de acesso à proteção ambiental
Observa-se uma demanda cada vez maior por parte dos países desenvolvidos na defesa e proteção do ambiente
O enfoque nas desigualdades dos custos ambientais, na falta de participação e de democracia, no racismo ambiental, no despojamento dos povos originários, na injustiça de gênero estão na origem de diversas redes de justiça ambiental da AmL desde os anos 1990.

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