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TUTORIA 6 - PREOCUPAÇÃO JUSTIFICADA Maria Karoline Duque ★ Mecanismo de agressão dos vírus *Diferentemente da maioria das bactérias, dos fungos e dos parasitas, os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios, que dependem do maquinário bioquímico da célula do hospedeiro para a sua replicação. *Os vírus mais simples consistem em um genoma de ácido desoxirribonucleico (DNA) ou ácido ribonucleico (RNA) empacotado em um envoltório protetor de proteína (capsídeo) e, em alguns vírus, em uma membrana lipoproteica (envelope). *Vírion: partícula viral completa. *Os vírus replicam-se de maneira distinta daquela das células; isto é, os vírus não sofrem fissão binária ou mitose. Um vírus pode replicar-se e originar uma progênie de centenas de vírus pela montagem dos componentes individuais,, enquanto uma célula divide-se e origina duas células-filhas. *Durante o ciclo de replicação, a célula infectada do hospedeiro é programada para produzir várias cópias de ácido nucleico viral e proteínas do envelope. *A estrutura física e genética dos vírus foi otimizada por mutação e seleção para infectar os seres humanos e outros hospedeiros, burlando seu sistema imune. ● Composição química ➢ Ácidos nucleicos virais *O ácido nucleico viral (genoma) situa-se internamente e pode consistir em DNA de fita simples ou dupla, ou em RNA de fita simples ou dupla, lineares ou circulares. *O DNA sempre corresponde a uma única molécula, já o RNA pode apresentar-se como molécula única ou em vários fragmentos. *Praticamente todos os vírus contêm uma única cópia de seu genoma, ou seja, são haploides. A exceção corresponde à família dos retrovírus, cujos membros apresentam duas cópias de seu genoma de RNA, isto é, são diploides. *São as características referentes aos ácidos nucleicos que permitem classificar os vírus em famílias. ➢ Capsídeo *O ácido nucleico é circundado por um envoltório proteico denominado capsídeo, composto por subunidades denominadas capsômeros. *A estrutura composta pelo ácido nucleico e pelas proteínas do capsídeo é denominada nucleocapsídeo. *O arranjo dos capsômeros confere à estrutura viral sua simetria geométrica. *Os nucleocapsídeos virais exibem dois tipos de simetria: - Icosaédrica, na qual os capsômeros são arranjados em 20 triângulos que formam uma figura geométrica (um icosaedro) de contorno aproximadamente esférico. - Helicoidal, na qual os capsômeros são arranjados em uma espiral oca de configuração semelhante a um bastão. A hélice pode ser rígida ou flexível. - Complexa, apresenta dois tipos de peptídeos. *Todos os vírus humanos que apresentam nucleocapsídeo helicoidal são envoltos por uma membrana externa denominada envelope, isto é, não há vírus helicoidais nus. Os vírus que apresentam nucleocapsídeo icosaédrico podem ser envelopados ou nus. *A vantagem da construção da partícula viral a partir de subunidades proteicas idênticas é dupla: reduz a necessidade de informação genética e propicia a automontagem, isto é, não são requeridas enzimas ou energia. ➢ Proteínas virais ➔ Internas *Enzimáticas: estão presentes em quantidades mínimas, mas são indispensáveis ao início do ciclo de replicação. As principais são as polimerases que sintetizam o mRNA viral e a transcriptase reversa. ➔ Externas *As proteínas do capsídeo protegem o material genético contra inativação por nucleases e medeiam a ligação do vírus a receptores específicos na superfície da célula hospedeira (especificidade). *As proteínas virais externas são também importantes antígenos que induzem anticorpos neutralizantes e ativam células T citotóxicas a fim de matarem células infectadas por vírus. Essas proteínas virais externas não somente induzem os anticorpos, mas também são alvo de anticorpos, ou seja, os anticorpos ligam-se a essas proteínas virais e impedem (“neutralizam”) a penetração e replicação do vírus na célula. *Alguns vírus contêm proteínas regulatórias no vírion, em uma estrutura denominada tegumento, localizada entre o nucleocapsídeo e o envelope. Essas proteínas regulatórias incluem fatores de transcrição e de tradução que controlam processos virais ou celulares. ➢ Envelopes *É uma membrana lipoproteica (fosfolipídica) composta por lipídeos derivados da membrana da célula hospedeira, e de proteínas vírus-específicas. Além disso, há, frequentemente na superfície, glicoproteínas na forma de projeções semelhantes a espículas, que se ligam a receptores da célula hospedeira durante a entrada do vírus na célula. Outra proteína, a proteína da matriz, medeia a interação entre as proteínas do capsídeo e o envelope. *Com exceção do herpes vírus, o envelope viral é adquirido à medida que o vírus deixa a célula, em um processo denominado “brotamento”, durante o processo de maturação. Assim, a composição do envelope é determinada pelo tipo específico de membrana celular envolvida. *Em geral, a presença de um envelope confere instabilidade ao vírus. Os vírus envelopados são mais sensíveis ao calor, ao dessecamento, a detergentes, e a solventes lipídicos, como álcool e éter, quando comparados aos vírus não envelopados (nucleocapsídeo), que são compostos apenas por ácido nucleico e proteínas do capsídeo. *Uma interessante correlação clínica a partir dessa observação é que, virtualmente, todos os vírus transmitidos pela via fecal-oral (aqueles que devem sobreviver no meio ambiente) não apresentam envelope, isto é, são vírus de nucleocapsídeo nu. Contrariamente, os vírus envelopados são transmitidos com mais frequência por contato direto, como pelo sangue ou por transmissão sexual. Outros vírus envelopados são transmitidos diretamente pela picada de insetos ou por mordeduras animais. *Ou seja, vírus envelopados devem permanecer úmidos e são geralmente transmitidos em fluidos, perdigotos, sangue e tecidos. A maioria não pode sobreviver às condições severas do trato gastrointestinal. *As proteínas de superfície dos vírus, sejam proteínas do capsídeo ou glicoproteínas do envelope, correspondem aos principais antígenos contra os quais o hospedeiro dirige sua resposta imune aos vírus. ● Replicação *A célula age como uma fábrica, fornecendo os substratos, a energia e o maquinário necessários para a síntese de proteínas virais e para a replicação do genoma. *Para que ocorra a replicação do vírus, é necessária a síntese de proteínas virais pelo mecanismo de síntese proteica da célula hospedeira. Por conseguinte, o genoma do vírus deve ser capaz de produzir uma RNAm. *Após a produção do ácido nucleico e das proteínas virais, os componentes se organizam para formar novos vírions infectantes, resultando em uma nova progênie viral. *Apesar de as estratégias de multiplicação variarem entre grupos de vírus, o perfil dos ciclos de replicação são parecidos. ➢ Fase precoce *Durante a fase precoce da infecção, o vírus deve reconhecer uma célula-alvo apropriada, fixar-se a ela, penetrar a membrana plasmática e ser captado por essa célula, liberar (desencapsidar) o seu genoma dentro do citoplasma e, se necessário, liberar o genoma para o núcleo. ➢ Fase tardia *A fase tardia começa com o início da replicaçãodo genoma e a síntese macromolecular viral e procede por meio da montagem e da liberação viral. *Período de eclipse: a desencapsidação do genoma a partir do capsídeo ou envelope, durante a fase precoce, abole sua capacidade infecciosa e sua estrutura identificável. O período de eclipse, semelhante ao eclipse solar, termina com o aparecimento de novos vírions após a montagem do vírus. *Período latente: durante o qual um vírus infeccioso extracelular não é detectado, inclui o período de eclipse e termina com a liberação de novos vírus. BACTERIÓFAGOS *Embora a maneira pela qual um vírus penetra e é liberado da célula hospedeira possa variar, o mecanismo básico de multiplicação viral é similar para todos os vírus. ➢ Ciclo lítico (bacteriófagos T-pares) ➔ Adsorção *Os bacteriófagos T-pares possuem fibras na extremidade da cauda que servem como sítios de adsorção. Os receptores complementares estão na parede da célula bacteriana. ➔ Penetração *Após a adsorção, os bacteriófagos T-pares injetam seu DNA (ácido nucleico) dentro da bactéria. Para isso, a cauda do bacteriófago libera uma enzima, a lisozima, que destrói uma porção da parede celular bacteriana. Durante o processo de penetração, a bainha da cauda do fago se contrai, e o centro da cauda atravessa a parede da célula bacteriana. Quando o centro alcança a membrana plasmática, o DNA da cabeça do fago penetra na bactéria, passando através do lúmen da cauda e da membrana plasmática. O capsídeo permanece do lado de fora da célula bacteriana. ➔ Biossíntese viral *Assim que o DNA do bacteriófago alcança o citoplasma da célula hospedeira, ocorre a biossíntese do ácido nucleico e das proteínas virais. A síntese proteica do hospedeiro é interrompida pela degradação do seu DNA induzida pelo vírus, pela ação de proteínas virais que interferem com a transcrição, ou pela inibição da tradução. ➔ Maturação *As cabeças e as caudas dos fagos são montadas separadamente a partir de subunidades de proteínas (a cabeça recebe o DNA viral e se liga à cauda). ➔ Liberação *O estágio final da multiplicação viral é a liberação dos vírions da célula hospedeira. A lisozima, codificada por um gene viral, é sintetizada dentro da célula. Essa enzima destrói a parede celular bacteriana, liberando os novos bacteriófagos produzidos. Os fagos liberados infectam outras células suscetíveis vizinhas, e o ciclo de multiplicação viral é repetido dentro dessas células. ➢ Ciclo lisogênico (bacteriófago lambda) *Em contraste aos bacteriófagos T-pares, alguns vírus não causam lise e morte celular quando se multiplicam na célula hospedeira. Esses fagos lisogênicos (também denominados fagos temperados) podem induzir um ciclo lítico, entretanto são capazes de incorporar seu DNA ao DNA da célula hospedeira para iniciar um ciclo lisogênico. Na lisogenia, o fago permanece latente (inativo). As células bacterianas hospedeiras são conhecidas como células lisogênicas. *Um evento espontâneo raro ou mesmo a ação da luz UV ou de determinadas substâncias químicas pode levar à excisão do DNA do profago e ao início do ciclo lítico. *A lisogenia apresenta três consequências importantes. Em primeiro lugar, as células lisogênicas são imunes à reinfecção pelo mesmo fago. A segunda consequência é que as células hospedeiras podem exibir novas propriedades, o que é conhecido como conversão. A terceira consequência da lisogenia é que ela torna possível a transdução especializada (determinados genes bacterianos podem ser empacotados em um capsídeo de fago e transferidos para outra bactéria). ANIMAIS ➢ Reconhecimento e fixação à célula alvo *Interação do vírion com um local receptor específico sobre a superfície da célula. *Os receptores para o vírus na célula podem ser proteínas ou carboidratos em glicoproteínas ou glicolipídeos. *Os vírus que se ligam aos receptores expressos em tipos específicos de célula podem ser restritos a certas espécies (espectro de hospedeiros) (humanos, camundongos) ou tipos específicos de células. *A suscetibilidade da célula-alvo define o tropismo tecidual (neurotrópico, linfotrópico). *Os receptores virais encontrados na superfície celular são proteínas que exibem outras funções na vida celular. Provavelmente a mais bem conhecida corresponda à proteína CD4, que atua como um dos receptores para o HIV, mas cuja função normal consiste na ligação de proteínas MHC de classe 2 envolvidas na ativação de células T auxiliares. Alguns outros exemplos podem ilustrar esta questão: o vírus da raiva liga-se ao receptor de acetilcolina, o vírus Epstein-Barr liga-se a um receptor do complemento, o vírus da vacínia liga-se ao receptor do fator de crescimento epidérmico, e o rinovírus liga-se à integrina ICAM-1. ➢ Penetração *O mecanismo de internalização depende da estrutura do vírion e do tipo de célula. *A maioria dos vírus não envelopados entra na célula por endocitose mediada por receptor ou por meio de viropexia. - Endocitose *A endocitose é um processo normal usado pela célula para a captação de moléculas ligadas a receptor, tais como hormônios, lipoproteínas de baixa densidade e transferrina. - Viropexia *As estruturas hidrofóbicas das proteínas do capsídeo podem ficar expostas após a ligação do vírus às células e essas estruturas auxiliam o vírus ou o genoma viral a deslizar através da membrana (penetração direta). *Os vírus envelopados fundem suas membranas com as membranas celulares para liberar o nucleocapsídeo ou o genoma diretamente dentro do citoplasma. O pH ideal para a fusão determina se a penetração ocorre na superfície celular em pH neutro ou se o vírus deve ser internalizado por endocitose e a fusão ocorrer em um endossomo em pH ácido. ➢ Desencapsidação/desnudamento *Uma vez internalizado, o nucleocapsídeo deve ser transferido para o sítio de replicação dentro da célula e o capsídeo ou o envelope, removido. *O genoma dos vírus DNA deve ser transferido para o núcleo, enquanto a maioria dos vírus RNA permanece no citoplasma. *O processo de desencapsidação pode ser iniciado por uma fixação ao receptor ou promovido por ambiente ácido ou por proteases encontradas em um endossomo ou lisossomo. *Os vírus envelopados são desencapsidados na fusão com as membranas das células. *Nesse estágio, ocorre perda da infecciosidade do vírus original (período eclipse). Os vírus são os únicos agentes infecciosos em que a dissolução do agente infectante constitui uma etapa obrigatória na via de replicação. ➢ Biossíntese viral *Ácido nucleico infeccioso: corresponde a um DNA ou RNA viral purificado (desprovido de qualquer proteína), capaz de realizar o ciclo completo de crescimento viral e resultar na produção de partículas virais completas. Tal definição é importante para o entendimento de que todos os vírus são infecciosos, contudo nem todos os DNAs ou RNAs (genomas) virais purificados o são. *Uma vez dentro da célula, o genoma deve dirigir a síntese de RNAm viral e de proteínas e gerar cópias idênticas de si próprio. *A primeira etapa da expressão gênica viral consiste na síntese de mRNA. A partir desse ponto, os vírusseguem vias diferentes, dependendo da natureza de seu ácido nucleico e da região celular onde estão se replicando. *Durante a replicação viral, todas as macromoléculas são produzidas em uma sequência altamente organizada, com controle quantitativo e temporal (se vírus de DNA). ➔ Transcrição *Síntese de RNAm. *Uma vez sintetizado, o mRNA viral de vírus de DNA ou de RNA é traduzido pelos ribossomos da célula hospedeira em proteínas virais, das quais algumas correspondem a proteínas precoces, isto é, enzimas necessárias à replicação do genoma viral, enquanto outras são proteínas tardias, ou seja, proteínas estruturais da progênie viral. A referência temporal de tradução das proteínas baseia-se na replicação do genoma. ➔ Tradução *As enzimas virais são quase que exclusivamente envolvidas na replicação e no processamento do ácido nucleico viral. As enzimas necessárias para a síntese de proteínas, os ribossomos, o tRNA e a produção de energia são fornecidos pela célula hospedeira e são usados na síntese de proteínas virais, incluindo enzimas virais. Embora os menores vírions não envelopados não contenham nenhuma enzima, os vírions maiores podem possuir uma ou mais enzimas que auxiliam no processo de penetração do vírus na célula hospedeira ou na replicação do ácido nucleico viral. *Proteínas precoces: a mais importante das proteínas precoces é a polimerase que sintetizará várias cópias do material genético viral que consiste na progênie de partículas virais. *Proteínas tardias: alguns mRNAs virais são traduzidos em polipeptídeos precursores que devem ser clivados por proteases a fim de originar as proteínas estruturais funcionais, enquanto outros mRNAs virais são traduzidos diretamente em proteínas estruturais. ➔ Replicação do genoma *A replicação do genoma viral é governada pelo princípio da complementaridade, que requer a síntese de uma fita com uma sequência de bases complementares; esta fita atua então como molde para a síntese do real genoma viral. ➢ Montagem *O vírion é construído a partir de partes pequenas e facilmente fabricadas, que incluem o genoma em um pacote funcional. Cada parte do virion possui estruturas de reconhecimento que permitem ao vírus formar as interações apropriadas proteína-proteína, proteína-ácido nucleico e (nos vírus envelopados) proteína-membrana, necessárias para a montagem na estrutura final. *O processo de montagem começa quando as peças necessárias são sintetizadas e a concentração de proteínas estruturais na célula é suficiente para dirigir o processo termodinamicamente. *O sítio e o mecanismo de montagem do vírion na célula dependem de onde ocorre a replicação do genoma, e se a estrutura final é um capsídeo descoberto ou um vírus envelopado. *A montagem dos vírus de DNA, exceto os poxvírus, acontece no núcleo e requer transporte das proteínas do vírion para dentro do núcleo. *A montagem dos vírus de RNA e dos poxvírus ocorre no citoplasma. *Nos vírus envelopados, as glicoproteínas virais recém-sintetizadas e processadas são transferidas para membrana celular pelo transporte vesicular. A aquisição de um envelope ocorre após a associação do nucleocapsídeo com regiões contendo glicoproteínas virais das membranas celulares do hospedeiro, em um processo chamado brotamento. ➢ Liberação *Os vírus podem ser liberados das células após a lise celular, por exocitose ou pelo brotamento da membrana plasmática. *Os vírus de capsídeo descoberto são geralmente liberados depois da lise celular. *A liberação de muitos vírus envelopados acontece após o brotamento da membrana plasmática, sem matar a célula. A sobrevivência da célula permite a liberação contínua de vírus a partir dessa fábrica. ● Patogênese viral *Muitos vírus codificam atividades (fatores de virulência) que promovem maior eficiência da replicação viral, transmissão, acesso e ligação do vírus ao tecido-alvo ou escape das defesas do hospedeiro e da resolução pelo sistema imune. Essas atividades podem não ser essenciais para o crescimento viral em cultura de células, mas são necessárias à patogenicidade ou à sobrevivência do vírus no hospedeiro.
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