Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CONTROLADORIA AULA 6 Profª Edenise Aparecida dos Anjos 2 CONVERSA INICIAL Esta aula tem o objetivo de apresentar como a criação de valor é gerada nas empresas e suas técnicas de avaliação. Para isso, vamos estudar os seguintes temas: 1. O processo empresarial de criação de valor; 2. Mensuração da criação de valor de uma companhia; 3. Técnicas de avaliação global; 4. EVA (Economic Value Added); 5. MVA (Market Value Added). CONTEXTUALIZANDO A criação de valor para a empresa, agregando riquezas ao acionista, é uma das novidades de gestão que tem aparecido nos últimos anos e que vem seduzindo as empresas a adotarem mecanismos para medir a geração de valor (Schmidt et al., 2014). No entanto, adotar conceitos e princípios da criação de valor baseados na gestão de valor não é suficiente; é necessário avaliar se as técnicas e estratégias adotadas surtem os efeitos desejados. Esta aula tem como objetivo apresentar os conceitos, técnicas e modelos de avaliação utilizando a gestão baseada em valor sob o enfoque da controladoria. TEMA 1 – O PROCESSO EMPRESARIAL DE CRIAÇÃO DE VALOR Para entendermos o processo de criação de valor nas empresas, vamos inicialmente apresentar conceitos e definições de criação de valor e aspectos introdutórios da gestão baseada em valor. 1.1 Processo de criação de valor A criação de valor ou adição de valor corresponde ao processo de geração de lucro para os acionistas (Padoveze, 2012). Neste contexto, as empresas criam valor pela obtenção de lucro na realização de suas transações de produção e vendas de bens e serviços. Do ponto de vista de finanças, todo empreendimento é financiado; desse modo, o lucro auferido nessas transações deve ser superior ao custo dos financiamentos obtidos (Padoveze, 2012). 3 Em adição, Assaf Neto (2017) discorre que a empresa cria valor para seus acionistas quando consegue apurar um retorno de seus investimentos superior ao custo de oportunidade do capital aplicado. Ou seja, a criação de valor é reconhecida, após a dedução de todas as despesas incorridas nas operações, inclusive o custo de oportunidade dos acionistas. Assim, se o resultado econômico for positivo, entende-se que há criação de valor; quando negativo, ocorre destruição de valor. Em outras palavras, o valor econômico é criado quando o retorno dos investimentos é maior que a remuneração exigida pelos fornecedores de capital. O excesso de lucro em relação ao custo de oportunidade é o que se denomina valor econômico agregado (Assaf Neto, 2017). Em relação à geração de riquezas para os acionistas, a riqueza é o valor do capital próprio, representado pelo capital investido e pelos lucros retidos (Padoveze, 2016). Em termos contábeis, esse valor é expresso pela figura do Patrimônio Líquido (PL) representado nas demonstrações financeiras. 𝐶𝑟𝑖𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 = 𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚𝑜𝑛𝑖𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 (𝑃𝐿𝐹) − 𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 (𝑃𝐿𝐼) Na visão de Padoveze (2012), o processo empresarial clássico de criação de valor é resumido em duas vertentes: Quadro 1 – Criação de valor: modelo contábil Ativo Passivo Criação de valor pela empresa por meio da apropriação do valor agregado dado pelos produtos e serviços (atividades produtivas) Criação de valor para o acionista por meio da adoção do custo de oportunidade de capital Fonte: Padoveze, 2016. 1.1.1 Processo de criação de valor por meio das atividades produtivas Sob a luz da teoria econômica, o conceito de adição ou agregação de valor, por meio dos produtos e serviços produzidos e vendidos, é visto como um processo contínuo de entradas (inputs) e saídas (outputs). Neste contexto, para produzir e entregar os produtos e serviços, a empresa necessita desenvolver uma série de atividades internas, que, por sua vez, também têm um preço de venda e, portanto, um valor agregado (Padoveze, 2016). 4 A criação de valor pode ser melhor entendida por meio do desenvolvimento das atividades produtivas internas, de modo que o lucro obtido na venda dos produtos e serviços decorra da máxima apropriação do valor agregado dado por eles, a preços de mercado. A Figura 1 apresenta um exemplo da criação de valor por meio das atividades de produção de produtos e serviços: Figura 1 – Valor agregado do produto e processo de apropriação do valor Fonte: Padoveze, 2016. Para melhor entender a adição de valor por meio da atividade produtiva, vamos utilizar como exemplo uma indústria madeireira e seus processos primários de manejo e beneficiamento, como segue: Atividade 1: compreende a atividade primária, na qual a madeira é retirada da floresta. Na serraria, as toras são cortadas por um processo mecânico, transformando-se em blocos ou pranchas. Neste processo tem-se a madeira bruta, serrada, em que o valor adicionando ainda não pode ser percebido pelo cliente. Atividade 2: compreende o processo de beneficiamento: armazenamento em estufas industriais para secagem. Este processo adiciona valor ao produto, pois prepara a madeira para as próximas etapas. 5 Figura 2 – Representação do valor adicionado da madeireira Atividade 3: após o beneficiamento, a madeira é aplainada e preparada para receber os primeiros tratamentos: camadas de verniz, fumigamento ou outros tratamentos específicos de acordo com a destinação do produto acabado, para o consumidor final ou indústria. Perceba que, na atividade 3, embora o cliente não tenha conhecimento dos processos que adicionaram valor ao produto por meio do processo produtivo, tem a percepção de qualidade do produto, que justifica o preço a ser pago, gerando valor ao produto. No entanto, cabe ressaltar que as adições de valor interno a um produto ou serviço têm um limite, que é o valor do produto final entregue ao mercado. Nas palavras de Padoveze (2012, p. 61), “todas as adições dentro da cadeia interna de atividades da empresa não conseguem exceder ao valor do produto final vendido aos clientes, que é o preço de mercado.” Em síntese, a adição de valor por meio das atividades e processos internos, por mais eficiente que seja o produto ou serviço final, não pode ultrapassar o valor de mercado. Entende-se, desse modo, que o valor adicionado por meio da atividades compreende a diferença dos preços de mercado dos materiais e serviços adquiridos de terceiros e o valor do produto final entregue aos clientes (Padoveze, 2012). CRIAÇÃO DE VALOR APROPRIAÇÃO DE VALOR ADICIONADO Atividade 3 Custo + Valor adicionado Atividade 2 Custo + Valor adicionado Atividade 1 Custo 6 1.1.2 Processo de criação de valor para os acionistas As empresas vêm revelando importantes avanços em sua forma de atuação, saindo de um posicionamento conservador em busca do lucro e rentabilidade para um enfoque preferencialmente voltado à riqueza dos acionistas (Assaf Neto, 2017). Neste contexto, o objetivo de criar valor aos acionistas demanda estratégias e ferramentas voltadas à criação de riquezas de seus proprietários. Nas palavras de Assaf Neto (2017): Criar valor para uma empresa ultrapassa o objetivo de cobrir os custos explícitos identificados nas vendas. Incorpora a remuneração dos custos implícitos (custo de oportunidade do capital próprio investido), não cotejados pela contabilidade tradicional na apuração dos demonstrativos de resultados, e consequentemente a quantificação da riqueza dos acionistas. Em virtude do exposto, observa-se que a gestão das empresas modernas, voltadas à criação de valor aos proprietários, demanda uma atuação mais abrangente e sofisticada da contabilidade, evidenciando assim a importância da controladoria no desenvolvimento de modelos teóricos e práticos para o processo de tomada de decisão.Para melhor entender a criação de valor, vamos estudar o modelo de gestão baseada em valor. 1.2 Gestão baseada em valor A gestão baseada em valor exige uma mudança de postura da empresa e de sua administração quanto à orientação, para que todos os agentes participem do processo de criação de valor (Assaf Neto, 2017). Desse modo, deve conciliar os interesses dos acionistas com seus stakeholders (funcionários, fornecedores, credores, clientes etc.), para orientar as decisões da empresa no sentido de criação de valor (aumento de riqueza) aos acionistas. Uma empresa agrega valor quando produz um resultado que supera o seu custo de capital. Sob esta ótica, Assaf Neto (2017) explica que o valor é criado quando o retorno dos investimentos é maior que a remuneração mínima exigida pelos fornecedores de capital, ou seja, o custo de oportunidade. Assim, o excesso de lucro em relação ao custo de oportunidade é o que se chama de valor econômico agregado. Custo de oportunidade é a medida de quanto se deixou de ganhar por não se aproveitar outras oportunidades disponíveis, ao decidir por determinada 7 alternativa financeira de mesmo risco. Equivale à remuneração mínima exigida por um investidor que remunera adequadamente o risco do capital aplicado. Isto posto, o objetivo de criação de valor deve estar presente em todos os níveis organizacionais, priorizando as decisões que interferem no valor econômico da empresa e privilegiando a gestão a partir de direcionadores de valor (Assaf Neto, 2017). Neste entendimento, a criação de valor de uma empresa é formada por uma combinação de diversos fatores, tais como estratégias e suas capacidades diferenciadoras e direcionadores de valor. Direcionadores de valor são as variáveis que afetam o valor da empresa. A escolha dos direcionadores é um processo dinâmico e exige reavaliação constante da correlação existente entre as variáveis (Assaf Neto, 2017). São exemplos de direcionadores de valor: margem de lucro, retorno sobre o investimento, giro dos ativos, alavancagem financeira, entre outros. As capacidades diferenciadoras podem ser entendidas como estratégias adotadas pelas empresas para atuar em um nível de diferenciação frente aos seus concorrentes de mercado, gerando vantagem competitiva e maior agregação de valor aos seus proprietários (Assaf Neto, 2017). O quadro 2 apresenta exemplos de capacidades diferenciadoras versus os direcionadores de valor (medidas não financeiras) que agregam valor à empresa. Quadro 2 – Capacidades diferenciadoras e direcionadores de valor Capacidades diferenciadoras Objetivo estratégico Direcionadores de valor Relações de negócios Conhecer a capacidade de relacionamento da empresa com o mercado financeiro, fornecedores, clientes e empregados, como fundamento diferenciador do sucesso empresarial Fidelidade dos clientes Satisfação dos empregados Atendimento dos fornecedores Alternativas de financiamento Conhecimento do negócio Ter a visão ampla da empresa, a sinergia do negócio. Visa o efetivo conhecimento de suas oportunidades e mais eficientes estratégias de agregar valor Necessidades dos clientes Dimensão e potencial do mercado Ganhos de escala Ganhos de eficiência operacional Qualidade Desenvolver o produto que o consumidor deseja adquirir pelo preço que se mostra disposto a pagar Preço de venda mais baixo Produtos com maior giro Medidas de redução de custos Satisfação dos clientes com novos produtos Inovação Atuar com vantagem competitiva em mercado de forte concorrência, criando alternativas inovadoras em atendimento, distribuição, vendas, produção etc. Rapidez no atendimento Redução na falta de estoques Tempo de produção Valor da marca Tempo de lançamento de novos produtos Fonte: Assaf Neto, 2017. 8 Já as estratégias financeiras, assim como as capacidades diferenciadoras, são voltadas ao objetivo da empresa de criar valor aos acionistas. São identificadas em três dimensões: operacionais, de financiamento e de investimento. Veja no Quadro 3, a seguir, as estratégias financeiras e os direcionadores de valor (medidas financeiras). Quadro 3 – Estratégias financeiras e direcionadores de valor Estratégias financeiras Objetivo estratégico Direcionadores de valor Operacionais Maximizar a eficiência das decisões operacionais, estabelecendo políticas de preços, compras, vendas, estoques etc. voltadas a criar valor Crescimento das vendas Prazos operacionais de cobrança e pagamentos Giro dos estoques Margem de lucro Financiamento Por meio das decisões de financiamento, procura-se minimizar o custo de capital da empresa, promovendo o incremento do valor de mercado Estrutura de capital Custo do capital próprio Custo do capital de terceiros Risco financeiro Investimento Implementar estratégias de investimento voltadas a agregar valor aos acionistas, por meio da obtenção de uma taxa de retorno maior que o custo de capital Investimento em capital de giro investimento em capital fixo Oportunidades de investimentos Análise giro × margem Risco operacional Fonte: Assaf Neto, 2017. Neste contexto, é de extrema importância que a empresa reconheça claramente suas estratégias financeiras e suas capacidades diferenciadoras, de maneira a atingir o objetivo de maximização da riqueza de seus proprietários. 1.3 Pontos importantes para o processo de criação de valor Na visão de Padoveze (2012, p. 64), existem dois pontos referenciais na análise do processo de criação de valor: Valor agregado: expresso pelo valor de mercado do produto final entregue aos clientes menos o valor dos insumos adquiridos de terceiros, também a preço de mercado – conceito de valor adicionado adotado pela ciência contábil. Custo de oportunidade de capital dos acionistas: criação de valor, ou seja, o lucro empresarial que excede o custo de oportunidade do capital sobre o valor dos investimentos do negócio. 9 Neste sentido, Padoveze (2012) expõe os pontos referenciais como o foco da controladoria, principalmente quanto ao monitoramento da criação de valor mediante a adoção dos conceitos de lucro econômico (lucro empresarial) e o apoio às atividades operacionais no processo de geração de valor. Entende-se o fundamento do lucro econômico como: O resultado da empresa é obtido pela diferença entre o patrimônio final menos o inicial, excluídos os aumentos e reduções de capital durante o período; Ativos avaliados ao valor presente dos fluxos futuros de benefícios e, consequentemente, incorporação do conceito de goodwill; Adoção do custo de oportunidade de capital para mensuração dos resultados dos produtos, atividades e divisões da empresa; Adoção do custo de oportunidade para remuneração dos proprietários do capital em forma de dividendos e a manutenção do capital da empresa. Em síntese, entende-se que, para a criação de valor de uma empresa, toda a estrutura deve estar concentrada de forma congruente sob as duas perspectivas (valor agregado e custo de oportunidade), com o objetivo de cumprir sua missão, prezando pela continuidade do empreendimento. Na sequência vamos estudar os critérios para mensurar o valor de uma empresa. TEMA 2 – MENSURAÇÃO DA CRIAÇÃO DE VALOR DE UMA COMPANHIA Entendido o processo empresarial de criação de valor, vamos agora estudar as medidas de avaliação da criação de valor. 2.1 Mensuração da criação de valor A geração de valor de uma empresa deve ter como foco o acompanhamento do retorno sobre o capital investido e do custo médio ponderado de capital. Dessa maneira, procura-se identificar se a empresa está gerando, no mínimo, um lucro capaz de remunerar o capital total investido. Uma gestão voltada à criação de valor demanda estratégias financeiras emedidas de desempenho que agreguem riqueza a seus proprietários. Demanda o desenvolvimento de medidas econômicas de valor que possam revelar o valor criado ou destruído para os acionistas. 10 Neste contexto, apresentam-se as medidas de lucro e valor na tomada de decisão. A medida do lucro é dada pela contabilidade nas demonstrações financeiras, já o valor requer medidas de desempenho focadas na geração de valor econômico agregado (EVA) e valor de mercado agregado (MVA), que têm a capacidade de geração de valor sob a perspectiva de lucro econômico. Assaf Neto (2017) pondera que nem sempre essas medidas são fáceis de serem mensuradas, visto que o lucro de determinado período pode agregar valor mesmo sem apresentar “lucro” para a empresa, sendo essa uma das limitações de medidas econômica de desempenho. Ele evidencia ainda as críticas quanto à medida do lucro na agregação de valor econômico, por: Não incorporar o risco do negócio; Não incluir o custo de capital do acionista (custo de oportunidade); Ser apurado pelo regime de competência, não equivalendo a um resultado disponível de caixa; Ignorar o valor do dinheiro no tempo. No que tange ao valor, sua criação surge das expectativas futuras de desempenho em uma perspectiva de longo prazo, proveniente da capacidade da empresa em produzir um retorno superior ao rendimento mínimo desejado pelos acionistas (Assaf Neto, 2017). Neste contexto, é formada pela combinação de diversos fatores e estratégias acionadas pela empresa, como: Giro Dos Investimentos; Planejamento Tributário; Margens De Lucro E Desempenho Operacional; Retorno Dos Investimentos, Estrutura De Capital; Entre outros direcionadores de valor. Neste sentido, Assaf Neto (2017, p. 6) destaca que para focar o valor como objetivo de sua gestão, as empresas costumam adotar algumas ações diferenciadoras: Prioridade na geração de maiores retornos de caixa da empresa (fluxos de caixa), reduzindo a importância dos lucros medidos segundo os critérios contábeis; 11 Visão estratégica de longo prazo voltada para a criação de valor; o lucro por ação trimestral, por exemplo, deixa de revelar maior importância na avaliação econômica do desempenho; Definição de estratégias financeiras voltadas à valorização do negócio, ou seja, desenvolver uma visão da empresa de “fora para dentro” orientada pela maximização da riqueza dos acionistas; Foco principal da gestão da empresa no valor econômico que pode gerar, buscando oportunidades de negócios que produzem retornos superiores ao custo de oportunidade do capital (quanto maior a diferença entre esses dois valores – retorno esperado e custo de oportunidade –, mais elevado é o valor criado); Disseminação em toda a empresa do conceito de valor, motivando o pessoal para a criação de riqueza. O objetivo de valor do acionista é de responsabilidade de toda a organização, de todos os stakeholders (ou “partes interessadas”), e deve ser perseguido de maneira contínua; Adoção de um sistema de remuneração variável, no qual os pagamentos aos funcionários sejam estabelecidos a partir do valor criado. Um sistema de remuneração variável deve oferecer aos administradores motivação para que as estratégias sejam focadas na criação de valor aos acionistas; remuneração adequada, suficiente para mobilizar as pessoas a dedicar maiores esforços ao trabalho; e perspectivas de realização profissional que as motivem a permanecer na empresa, mesmo em momentos de recessão dos negócios. 2.2 Exemplo para explicar o conflito entre valor e lucro A empresa Prestes S.A. está avaliando a venda de um ativo (unidade de negócio) avaliado pela contabilidade em $70,0 milhões. O lucro operacional decorrente desse investimento (lucro antes das despesas de juros) é de $9,8 milhões. O ROI (retorno sobre o investimento) corporativo, calculado pela relação entre o resultado operacional líquido e o capital investido, está fixado num padrão de 12%, e o custo de capital identificado com esse ativo atinge 16%. Resumindo, tem-se os seguintes valores da empresa e da unidade de negócio (ativo): Valor contábil do ativo (unidade de negócio) = $70,0 milhões; 12 lucro operacional gerado pelo ativo = $9,8 milhões; custo de capital aplicado no ativo = 16,0%; ROI corporativo = 12,0%. Se o objetivo da empresa é focado na geração de lucro, a unidade de negócio pode ser considerada atraente, contribuindo de forma positiva na formação do resultado operacional da empresa. A rentabilidade do ativo (lucro operacional gerado pelo ativo/valor contábil do ativo = $9,8 / $70,0 = 14%) é atraente para a média do negócio, superando os 12% de taxa de retorno calculada para a empresa. A venda desse ativo acarretaria uma redução no lucro da sociedade, com repercussões negativas sobre os indicadores tradicionais de desempenho financeiro, fluxos de dividendos e participação sobre os lucros. Se a prioridade da empresa é o retorno sobre o investimento (ROI), a decisão de manter o ativo é reforçada pela presença de um ROI superior ao da corporação. Eliminando a unidade de negócio, a taxa de retorno total do investimento se reduz, gerando dúvidas sobre a qualidade da decisão e o desempenho da empresa, uma vez mais, que o ROI da unidade de negócio de 14% é superior ao da empresa, de 12%. Se o objetivo da empresa é a criação de valor, a manutenção do investimento é um indicativo de desvalorização do valor de mercado da empresa. O retorno de 14,0% é insuficiente para remunerar os proprietários de capital em sua rentabilidade mínima exigida no ativo de 16%, ou seja: Lucro operacional: $9,8 milhões Custo de capital (valor contábil do ativo x % taxa do custo do capital aplicado no ativo ($ 70,0 milhões x 16%): ($11,2 milhões) Valor criado: ($1,4 milhão) Fonte: Adaptado de Assaf Neto, 2017, p. 17. Pelo exemplo exposto, observa-se que a mensuração do valor de uma empresa está diretamente associada à geração de resultados, usando o lucro como medida de valor por meios indicadores de rentabilidade: ROI – retorno sobre o investimento: traduz o quociente entre o lucro (excedente monetário mínimo exigido pelo investidor para manter o 13 negócio atrativo) proporcionado pelo negócio e o investimento (na forma de aplicação de capital em meios de produção, no âmbito da economia, ou na forma de compra de ativos financeiros, no âmbito das finanças). 𝑅𝑂𝐼 = 𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 ROA – retorno sobre o ativo: traduz o quociente entre o lucro operacional e o ativo total. Mostra como os ativos estão a ser rentabilizados pelo negócio. 𝑅𝑂𝐴 = 𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝑜𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠 ROE – retorno sobre o patrimônio líquido: traduz o quociente entre o lucro líquido e o patrimônio líquido. Indica a rentabilidade dos recursos investidos pelos proprietários. 𝑅𝑂𝐸 = 𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 LPA – lucro por ação: representa o quociente entre o lucro líquido e o número de ações da empresa. 𝐿𝑃𝐴 = 𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑎çõ𝑒𝑠 Os indicadores de rentabilidade e lucratividade são para a sobrevivência das empresas (Padoveze, 2012). Proporcionam a análise da geração da margem de lucro pelo desempenho operacional, por meio dos conceitos giro dos ativos e alavancagem do capital de terceiros para a rentabilidade do capital próprio. No entanto, são indicadores de desempenho contábeis, não expressam a real criação de riqueza para a empresa (Saurin, 2000). Assim, para mensurar a criação de valor de uma empresa, além dos indicadores de rentabilidade, devem ser considerados o Economic Value Added (EVA®), que mensura a criação de valor proporcionada pela empresa, e o Market Value Added (MVA®), que dá informações do valor demercado. TEMA 3 – TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO GLOBAL A fim de explorar a potencialidade do modelo de gestão baseado na criação de valor para melhorar o desempenho, as empresas devolvem técnicas 14 ou critérios para avaliar o seu valor. A capacidade global do negócio, ou a atividade desenvolvida pela empresa, é vista sob duas perspectivas de geração de valor, a do proprietário (acionistas) e a das atividades do negócio (empresa). 3.1 Valor da empresa É o valor que será obtido pela venda da empresa a seus novos proprietários (Padoveze, 2012). Logo, o processo de criação de valor de uma empresa deve ser de avaliação permanente, usando como referência os sistemas de informações contábeis. Neste contexto, a contabilidade deve mensurar adequadamente o valor da empresa e orientar os gestores para que possam ajustar o planejamento quanto ao direcionamento dos investimentos, ou seja, se estes devem ou não ser mantidos a partir da análise da criação ou destruição de valor. A Figura 3 apresenta o papel da controladoria na criação de valor da empresa. Figura 3 – Controladoria e a criação de valor de uma empresa Fonte: Padoveze, 2012. 3.2 Principais critérios para avaliar o valor de uma empresa Em um primeiro momento, na avaliação do valor de uma empresa, deve- se observar algumas questões básicas: a criação de valor, descontinuidade do negócio ou estabelecer um valor-base para venda. Estabelecer o valor-base para a negociação é ponto fundamental na decisão de comprar ou não uma empresa, na participação acionária ou até mesmo para avaliar a continuidade do investimento (Padoveze 2012). No caso de negociação, o valor da empresa se situará entre os principais critérios a serem aplicados: valor contábil, de mercado, cotação da ação e valor econômico. Missão da empresa Lucro •Garantir a missão da empresa e sua continuidade Avaliação de desempenho •Lucro como medida de eficácia empresarial Valor da empresa •Foco da controladoria 15 De acordo com Padoveze (2012), apresentaremos os critérios utilizados para calcular e avaliar a capacidade global do negócio em criar valor: 3.2.1 Valor contábil Valor do patrimônio líquido (ativos e passivos) registrado contabilmente, segundo os princípios e normas. Fundamenta-se no princípio do custo como base de valor e no regime de competência (os ativos são avaliados a custos de aquisição ou produção, e os direitos e obrigações avaliados com encargos até a data do balanço patrimonial). Neste entendimento, o “valor da empresa” corresponde ao valor total do patrimônio líquido. 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑐𝑜𝑛𝑡á𝑏𝑖𝑙 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑝𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 3.2.2 Valor de mercado Corresponde à avaliação da empresa ao valor de mercado (ativos e passivos ajustados a preço de mercado). Neste conceito, se a empresa estiver em descontinuidade, os valores dos ativos serão avaliados a valor de mercado, equiparados ao preço de um bem usado. Se a empresa estiver em condições de continuidade, os ativos e passivos serão avaliados individualmente de acordo com os critérios básicos observáveis de valor de mercado: valor justo, valor presente, preços de reposição ou de realização, valor de mercado ou potencial de benefício futuro, valor em uso, entre outros. 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 = 𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑝𝑟𝑒ç𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜𝑠 (Valor de mercado dos bens e direitos avaliados individualmente (-)Valor de mercado das dívidas avaliadas individualmente) O Quadro 4 apresenta de forma resumida as diferenças dos valores contábeis e de mercado, assim como os critérios-base do valor de mercado. 16 Quadro 4 – Valor da empresa: valor contábil e valor de mercado Elementos patrimoniais Valor contábil (R$) Valor de mercado (R$) Critério básico de valor de mercado ATIVO CIRCULANTE 11.480 12.860 Caixa e bancos 200 200 Não há ajuste Aplicações financeiras 2.200 2.180 Ajuste pelo valor justo, se disponível para venda ou negociação (1) Clientes 3.350 3.280 Ajuste a valor presente – dedução dos juros adicionados nas vendas a prazo Estoques 5.730 7.200 Ajuste a preços de reposição (materiais) ou preço de venda realizável liquido (produtos acabados) ATIVO NÃO CIRCULANTE 7.880 9.780 Realizável a longo prazo 110 10 Ajuste a valor de mercado ou provável realização (valor justo) Investimentos 1.200 1.330 Avaliação a valor de mercado ou potencial de benefício futuro Imobilizado 9.800 8.140 Preço de mercado ou de construção (Imóveis), Valor de mercado no estado ou valor em uso (máquinas e equipamentos) (2) (-) Depreciação acumulada -2.430 0 Os preços de mercado já́ evidenciam os bens depreciados (-) Perdas do valor recuperável -1.000 0 Os preços de mercado já́ evidenciam o valor da desvalorização dos bens Intangível 350 300 Avaliação a valor de mercado ou potencial de benefício futuro (-) Amortização acumulada -100 0 Os preços de mercado já́ evidenciam os intangíveis amortizados (-) ) Perdas do valor recuperável -50 0 Os preços de mercado já́ evidenciam o valor da desvalorização dos intangíveis ATIVO TOTAL 19.360 22.640 PASSIVO CIRCULANTE 6.270 6.330 Fornecedores 2.280 2.260 Ajuste a valor presente - dedução dos juros adicionados nas compras a prazo Salários a pagar 2.740 2.740 Dificilmente há ajustes, salvo se existirem compromissos atrasados Impostos a recolher 1.250 1.330 Ajustes por possíveis multas e juros por atraso PASSIVO NÃO CIRCULANTE 4.560 4.610 Empréstimos e financiamentos 4.560 4.610 Ajustes por contratos de hedge cambial, contratos de swap etc., se houver, ao valor justo PATRIMÔNIO LÍQUIDO 8.530 11.700 Capital social 5.000 5.000 Valor de mercado residual, obtido por diferença Reservas e lucros acumulados 3.530 6.700 PASSIVO TOTAL + PL 19.360 22.640 Fonte: Padoveze, 2012, p. 66. Observe o valor do patrimônio líquido (PL): o valor contábil do PL é de R$8.530 registrados de acordo com as normas e princípios contábeis. Já o valor de mercado é ajustado de acordo com os critérios de avaliação individual de cada elemento do balanço a preços de mercado, apurando neste exemplo um valor de R$11.700. 17 3.2.3 Cotação da ação ou cota Neste critério, a empresa vale a cotação da ação ou cota de mercado negociadas nas bolsas de valores e de balcão. O Quadro 5 evidencia o cálculo do valor de uma empresa por meio da integralização de suas ações. 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑎 𝑝𝑒𝑙𝑎 𝑐𝑜𝑡𝑎çã𝑜 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 = 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑎çõ𝑒𝑠 𝑋 𝐶𝑜𝑡𝑎çã𝑜 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 𝑛𝑎 𝑏𝑜𝑙𝑠𝑎 Quadro 5 – Valor da empresa por cota/ação Cotação da ação Ordinárias Preferenciais Total Quantidade integralizada 3.200.000 4.500.000 7.700.000 Cotação unitária da ação no mercado R$ 1,20 R$ 1,40 Valor da empresa R$ 3.840.000 R$ 6.300.000 R$ 10.140.000 Fonte: Padoveze, 2012. Normalmente, este critério atende aos princípios de criação de valor econômico, por estar atrelado à expectativa de fluxos futuros de lucros e dividendos. 3.2.4 Valor econômico Neste conceito, o valor atual da empresa é decorrente de sua rentabilidade futura, ou seja, incorpora os conceitos de fluxos de benefícios futuros. Os lucros da empresa são projetados considerando os produtos e mercados atuais e os futuros, avaliando sua rentabilidade e trazendo esses valores ao valor presente por uma taxa de desconto (veja exemplo do quadro 6). Inclui nesse entendimento: Fluxo futuro de benefícios; Fluxo futuro de dividendos; Fluxo futuro de lucros; Fluxo futuro de caixa ou fluxo de caixa descontado. 18 Quadro 6 – Apuração do valor econômico A = Valor da empresa pelo critério de potencial de rentabilidade R$ 13.127.022 B = Valor da empresa pelos ativos e passivos avaliados individualmente R$ 11.700,000 C = Valor do goodwill (A – B) R$ 1. 427,022 Fonte: Padoveze, 2012. Essecritério é considerado o mais adequado para avaliação de uma empresa, por representar, além da capacidade de geração de lucros, a análise de risco e retorno de um investimento e a geração de caixa (Padoveze, 2012). Outros elementos, devem ser considerados na avaliação da criação de valor, como os ativos intangíveis (goodwill) e o custo de oportunidade. Ativos intangíveis: elementos patrimoniais que adicionam valor a uma empresa, mas caracterizam-se como elementos de difícil mensuração por não existirem fisicamente (Padoveze, 2012). Exemplos: goodwill, fundos de comércio, marca da empresa ou de produtos etc. Goodwill: é entendido como a diferença entre o valor econômico da empresa, calculado pelo valor presente de seus rendimentos esperados futuros, e o montante do capital investido no negócio. O goodwill favorável é formado sempre que a empresa remunera os seus investidores acima de suas expectativas mínimas de retorno, produzindo uma valorização no preço de negociação de suas ações (Assaf Neto, 2017). Custo de oportunidade: é um conceito econômico indispensável a todo processo de decisão. É entendido como uma oportunidade renunciada em detrimento de outra de igual risco. Isto é, o custo de oportunidade nada mais é do que atribuir um custo de capital ao retorno produzido por um investimento. Diante do exposto, Padoveze (2012, p. 69) conclui: “o valor da empresa deve ser calculado segundo a melhor competência dos gestores empresariais, lembrando sempre que a importância do valor da empresa está́ em ter o melhor parâmetro para a gestão de controladoria, que é o processo de criação de valor”. Neste contexto, a apuração de valor econômico exige ajustes nos ativos e resultados da empresa, como medidas de valor contábil e econômico. Por sua vez, a criação de valor pode ser obtida pela medida de desempenho EVA. O EVA mensura o retorno mínimo exigido, considerando o nível de risco do negócio para apuração do resultado econômico, o qual será ganho ou perda 19 do empreendimento após remuneração de todo o capital aplicado (o lucro líquido contábil só considera o custo do capital de terceiros) (Martins et al., 2017). TEMA 4 – EVA (ECONOMIC VALUE ADDED) EVA (Economic Value Added), traduzido como valor econômico adicionado, é marca registrada da empresa de consultoria Stern Stewart & Co. desde os anos 1980. Trata-se de um instrumento de gestão empresarial que tem como base de cálculo a mensuração do lucro residual com retorno sobre as taxas (custo de oportunidade) e capital investido (Oliveira et al., 2015). 4.1 Definição EVA é uma medida de valor que tem como objetivo a maximização dos lucros dos detentores de capital, isto é, remunerar os donos do dinheiro (Oliveira et al., 2015). Portanto, é uma medida de desempenho ligada diretamente à criação de riqueza ao acionista. É o indicador para a tomada de decisão e criação de valores para o dono do capital. Para Assaf Neto (2017, p. 113) “o fundamento do conceito de EVA é o lucro residual, lucro que resta após serem deduzidos todos os custos e encargos de capital, inclusive o custo do capital próprio. É o lucro na visão dos acionistas”, o que evidencia o custo de oportunidade dos investimentos. Já para Padoveze (2012, p. 62) “o conceito de EVA nada mais é do que a aplicação do conceito de custo de oportunidade do capital e do conceito de manutenção do capital financeiro da empresa”. Sob esta ótica, uma das contribuições do EVA é o esclarecimento quanto ao fato de que o capital próprio tem um custo, embora não tão aparente quanto o custo do capital de terceiros. Segundo Oliveira et al., (2015), obter lucro positivo ou certo nível de lucro por ação já não é suficiente para a empresa. É preciso obter resultados suficientes para cobrir os custos do capital de terceiros e o custo de oportunidade do capital próprio, antes que ela comece a criar valor. 4.2 Valor econômico agregado O conceito de EVA deve ser aplicado na avaliação de desempenho global de uma empresa, de modo que cada operação possa ser medida pelo EVA, subtraindo do lucro operacional ajustado o custo do capital. Nesse contexto, o 20 valor econômico agregado seria, então, o lucro econômico (e não apenas um valor contábil) que restou depois de ter sido subtraído o custo de todo o capital empregado no negócio (Oliveira et al., 2015). Por exemplo, se a taxa mínima de retorno exigida pelos investidores de uma empresa é de 12%, ganhos acima desse percentual indicam agregação de valor econômico. Assim, se o capital investido é de $100,0 milhões e o custo de oportunidade de 8%, o EVA atinge: Retorno: 12% × $ 100,0 = $ 12,0 milhões Custo de Capital: 8% × $ 100,0 = ($ 8,0 milhões) EVA = $ 4,0 milhões Um EVA maior que zero indica a presença de uma taxa de retorno superior ao seu custo de oportunidade (remuneração mínima exigida pelos proprietários de capital). Pode-se concluir, portanto, que o seu valor econômico (valor justo) supera o capital investido em seus ativos, criando uma riqueza econômica conhecida por goodwill (Assaf Neto, 2017). Um resultado de EVA igual a zero não indica que a empresa nada ganhou; neste caso, a conclusão é de que o retorno auferido foi exatamente igual ao exigido pelos investidores, isto é, a empresa cumpriu as expectativas de ganho de seus credores e acionistas ao remunerar os capitais investidos pelos custo de oportunidade requerido (Assaf Neto, 2017). Já o EVA negativo revela que os lucros da empresa ficaram abaixo de seu custo de capital, indicando destruição de valor. Em outras palavras, o capital investido não gerou um retorno que justificasse o risco, devendo ser entendido como um alerta para a empresa identificar as causas desse desempenho (Assaf Neto, 2017). Veja exemplos a seguir. Quadro 7 – Casos possíveis de EVA EVA > 0 EVA < 0 EVA = 0 Ativos Capital investido Valor econômico da empresa Ativos Capital investido Valor econômico da empresa Ativos Capital investido Valor econômico da empresa Goodwill favorável Goodwill desfavorável Fonte: Assaf Neto, 2017. 21 4.3 Formulação do EVA O cálculo do EVA exige algumas adaptações nos demonstrativos de resultados, procurando, entre outras medidas, evidenciar sua parte operacional legítima, a segmentação do imposto de renda sobre os resultados da atividade e os benefícios fiscais provenientes do uso de capital de terceiros (Assaf Neto, 2017). A medida de valor econômico agregado pode ser determinada a partir do lucro operacional (NOPAT) e do lucro líquido, expressa como: EVA = NOPAT – ((C% X (TC) NOPAT = resultado operacional após imposto de renda; C% = custo médio ponderado do capital da empresa (%); TC% = capital total ou investimento. A estrutura básica de cálculo do EVA apresenta-se da seguinte maneira: Lucro operacional líquido do IR (NOPAT) XXX (-) Custo total de capital (K0% x TC) XX (=) Valor econômico agregado XXXX O EVA pode ainda ser apurado por meio de uma formulação mais analítica: EVA = (ROI - WACC) x INVESTIMENTO Estratégias operacionais Estratégias financeiras Estratégias de Investimento (Giro x Margem) Custo e estrutura de capital Oportunidade de Crescimento com EVA positivo ROI = retorno sobre o capital investido, formado pelo produto do giro do investimento e margem operacional; WACC = custo total de capital exigido pelas diversas fontes de financiamentos, próprias e de terceiros; INVESTIMENTO = total dos recursos próprios e de terceiros deliberadamente levantados pela empresa e aplicados em seu negócio (capital de giro mais capital fixo). Exemplo de formulação básica do EVA (adaptado de Oliveira et al., 2015): 22 Considere que um investidor tem $50.000,00 disponível, sendo duas as opções de investimento: Investirno mercado financeiro e ganhar 10% ao ano; Abrir um pequeno negócio. Escolheu a segunda opção, que, após um ano, apresentou este resultado: $ Receita operacional líquida 129.045 (–) Despesas operacionais (119.954) Lucro operacional 9.091 (–) Tributação sobre o lucro = 34% (3.091) Lucro líquido operacional, após a tributação (NOPAT) 6.000 Seu lucro depois dos impostos foi de $6.000. Se tivesse investido no mercado financeiro a 10%, teria ganhado $5.000, igual a $50.000 × 10% ao ano. Comparando o resultado das duas opções, pode-se apurar o valor econômico agregado: $ Lucro operacional líquido depois dos impostos (NOPAT) 6.000 Custo do capital (10%) – (50.000 X 10% ao ano) 5.000 EVA 1.000 Ganhou, portanto, $1.000 a mais do que esperava, deixando-lhe satisfeito com o pequeno negócio, que criou valor. O valor de $1.000 é o valor econômico agregado. Em suma, por meio da análise das medidas financeiras (lucro e rentabilidade), é impossível identificar se a empresa está criando ou destruindo valor. Neste contexto, o EVA contribui para evidenciar a eficácia da administração da empresa, ao considerar o custo de oportunidade do capital ao investimento (Assaf Neto, 2017). As organizações que utilizam o modelo de gestão baseado em valor possuem uma visão mais direcionada à concepção dos negócios, à continuidade do empreendimento e ao objetivo de maximização da riqueza de seus acionistas. 23 4.4 EVA e o sistema de recompensa Para Oliveira et al., (2015) “a verdadeira chave para o sucesso de estrutura do EVA reside na utilização de suas melhorias num tipo de plano de remuneração variável único, que ativa a imaginação e a iniciativa de gerentes e funcionários”. O plano de incentivos baseados na criação de valor tem como objetivo motivar os gerentes a ter pensamentos e atitudes de donos do negócio. Diferentemente dos planos de incentivo tradicionais, que remuneram seus gestores por desempenho por meio de metas fixadas em um orçamento, o EVA remunera os gerentes por meio da criação de valor. Neste contexto, as empresas possuem em sua estrutura hierárquica diferentes níveis de gerência, logo, requerem um mix de remuneração diferente, com o bônus de cada gerente baseado principalmente no EVA que ele pode afetar (Oliveira et al., 2015). Desse modo, de acordo com a estrutura hierárquica e nível de responsabilidade dos acionistas, executivos seniores, diretores e outros tomadores de decisões, estes deveriam receber bônus atrelados à rentabilidade do patrimônio, no intuito de incentivar o desempenho futuro, baseado em medidas globais da empresa como o EVA. Já os executivos de nível tático ou segunda linha são tipicamente gerentes-chaves de divisão e desempenham papel importante na criação de valor, embora tenham pouca responsabilidade direta perante os acionistas. Para melhor remunerá-los por sua influência na criação de valor, seus incentivos devem ser baseados em opções de ações (Oliveira et al., 2015). No entanto, alguns gerentes são responsáveis apenas por alguns dos fatores necessários para o cálculo do EVA, e medidas relevantes e específicas deveriam ser utilizadas (Oliveira et al., 2015). Por exemplo, um gerente de materiais pode ser bem avaliado tanto com base no giro dos estoques como na adequação dos estoques. Neste contexto, Oliveira et al. (2015) elencam elementos-chave nos planos de bônus de EVA: Remuneração por EVA crescente: para elevar o EVA, gerentes cortarão custos e levarão o lucro sem adicionar mais capital, converterão ativos improdutivos em caixa que poderão ser reinvestidos ou distribuídos a acionistas; investirão capital para impulsionar crescimento lucrativo; e escolherão estratégias financeiras que minimizem o custo de capital. 24 Inexistência de chão e tetos: gerentes recebem participação ilimitada da melhoria dessa medida, mas os bônus também podem ser negativos. Bônus-alvo: o pagamento do bônus aumenta cadenciado à medida que os lucros chegam a 100% do alvo em 100% dos lucros orçados, atingindo seu limite máximo em 150% do bônus-alvo quando os lucros atingem 120% do orçamento. O bônus é zero em qualquer nível abaixo de 80% do alvo. Banco de bônus: o objetivo é assegurar que os gerentes recebam bônus apenas por melhorias sustentadas por EVA. Bônus negativos são sacados e bônus positivos excepcionais são depositados na conta bancária virtual do indivíduo, e uma parcela, digamos um terço, de qualquer saldo positivo no banco é também paga a cada ano. Alvos de desempenho determinados por fórmulas e não por negociação: os gerentes ganham seus bônus-alvo quando o aumento de EVA em dólares for igual à melhoria esperada. Isso é semelhante aos alvos de desempenho em planos convencionais, mas com duas diferenças cruciais: O montante anual de melhoria esperada é predeterminado por períodos de aproximadamente cinco anos, em vez de ser negociado ano a ano. A base à qual a melhoria esperada é somada é automaticamente reajustada para cima ou para baixo a cada ano, em conformidade com a experiência efetiva. TEMA 5 – MVA (MARKET VALUE ADDED) Assim como o EVA, o MVA (Market Value Added – cuja tradução “valor de mercado adicionado”) é uma marca patenteada por Stern Stewart & Co. O MVA é uma medida de valor corporativo geral, que envolve o capital total de uma empresa, incluindo ações, empréstimos e ganhos retidos, e deduz isso do valor de seu capital acionário e dívidas. 5.1 Definição O MVA é definido por Oliveira et al. (2015) como a diferença entre o valor de mercado de uma empresa e o capital investido pelos acionistas-proprietários. 25 O valor de mercado corresponde a quanto o empresário obteria ao vender todas as suas ações. Para Schmidt et al. (2014), o MVA pode ser conceituado como “a diferença entre entrada de caixa e saída de caixa – entre aquilo que investidores colocam na empresa como capital e o que poderiam receber vendendo pelo preço de mercado corrente”. Por outro lado, Padoveze (2012) determina que o conceito de MVA é decorrente do conceito de EVA. Ele mede o resultado de um período, ou seja, o quanto a empresa agregou de lucro para o acionista naquele período em relação ao custo de oportunidade do mercado. Em outras palavras, o MVA mede o crescimento do valor total da empresa, resultante do EVA de todos os períodos – é o valor de mercado de uma empresa menos o valor contábil de seu capital investido: MVA = valor de mercado da empresa (–) capital investido Assim, o MVA é o valor que supera o capital investido no negócio. Essa medida precisa considerar em seu cálculo o custo de oportunidade do capital investido e também os fluxos de benefícios de caixa pagos pela empresa no período. Considere o seguinte exemplo de Assaf Neto, 2017: Uma empresa sem dívidas com patrimônio líquido (PL) de $200,0 milhões, cujo capital foi investido há quatro anos, está atualmente precificada no mercado quanto ao valor corrente de suas ações, por $ 290,0 milhões. Assim, com base nessa comparação entre o capital próprio investido há quatro anos e o valor de mercado atual de suas ações, a riqueza gerada pelo mercado (MVA) atinge: MVA = $ 290,0 – $ 200,0 = $ 90,0 milhões Ao se admitir que o acionista exija um retorno mínimo de 14% ao ano, o capital investido há quatro anos na empresa deve representar na data atual: [$ 200,0 × (1,14)^4 = ] = $ 337,79 milhões. Observe que, pela medida do MVA, a empresa criou $ 90,0 milhões de riqueza para seus acionistas. Por outro lado, a expectativa do mercado é que a empresa deve valer, no mínimo, $ 337,79 milhões. 26 Como o preço de mercado é de somente $ 290,0 milhões, conclui-se que não houve criação de valor econômico. Ocorreu, em verdade, uma destruição de riqueza no montante de $47,79 milhões ($337,79 – $290,0). O MVA captura as estimativas demercado quanto às perspectivas de crescimento da empresa. Assim, se o resultado for positivo, pode-se dizer que a empresa realmente criou valor para quem tiver suas ações. No caso da ocorrência de valor negativo, significa que houve destruição de valor do acionista, pois o valor de mercado é inferior ao valor gasto no investimento (Padoveze, 2012). 5.2 EVA e MVA Outro aspecto acerca da criação de valor é a correlação positiva entre as medidas EVA e MVA, visto que, se os administradores melhorarem a medida EVA, o MVA da empresa terá uma probabilidade maior de melhorar também (Oliveira et al., 2015). Por exemplo, o MVA mede o valor acumulado em toda a trajetória de uma empresa até determinada data, enquanto o EVA calcula a riqueza criada em determinado espaço de tempo. Neste contexto, Oliveira et al., (2015 p. 165) cita algumas maneiras para aumentar o valor econômico agregado: Cortar custos e reduzir impostos para aumentar o NOPAT (representa o lucro operacional líquido, deduzido o imposto de renda) sem crescer capital; ou seja, operar de forma mais eficiente para ganhar maior retorno sobre o capital já investido no negócio; Empreender todos os investimentos nos quais o aumento de NOPAT será maior do que o aumento de encargos de capital; ou seja, investir em crescimento lucrativo, empreendendo todos os projetos com valor líquido presente positivo que prometam produzir um retorno sobre capital que exceda o custo de capital; Retirar capital de operações quando as economias decorrentes da redução dos encargos de capital excedam qualquer redução de NOPAT; ou seja, deixar de investir em – ou liquidar – ativos e atividades que não estejam gerando retornos iguais ou maiores do que o custo de capital; 27 Estruturar as finanças da empresa de forma tal que minimizem o custo de capital, algo que reside exclusivamente nos domínios do departamento financeiro e do conselho de administração. TROCANDO IDEIAS Nesta aula observamos que a realidade dos negócios traz às organizações o desafio de gerar valor a seus proprietários, motivadas por estratégias corporativas adequadas ao comportamento do mercado. Neste contexto, discuta no fórum: como um produto ou serviço pode agregar valor a uma empresa por meios de suas diversas atividades e processos internos? NA PRÁTICA Com base no que foi exposto nesta aula, analise as assertivas a seguir (a resposta está ao final deste documento): I. Uma gestão voltada à criação de valor demanda estratégias financeiras e medidas de desempenho ligadas à agregação de riqueza aos seus proprietários. II. O EVA é uma medida de desempenho econômico que possibilita o desenvolvimento de sistema de recompensas, no qual os gestores são remunerados com base na criação de valor agregado. III. O custo de oportunidade do capital próprio é a remuneração máxima esperada pelos proprietários de capital em relação ao investimento feito. IV. O MVA mede o crescimento do valor total da empresa, resultante do EVA de todos os períodos. É o valor de mercado de uma empresa menos o valor contábil de seu capital investido. Assinale a alternativa correta: a. I, II e III estão corretas. b. I, II e IV estão corretas. c. I, III, e IV estão corretas. d. II, III e IV estão corretas. e. Todas as sentenças estão corretas. 28 FINALIZANDO Nesta aula foram tratados os seguintes temas a respeito da criação de valor nas empresas: 1. O processo empresarial de criação de valor: geração de valor por meio das atividades e processos internos da empresa e remuneração do capital dos sócios. 2. Mensuração da criação de valor de uma companhia: medidas contábeis de rentabilidade do lucro e medidas de criação de valor. 3. Técnicas de avaliação global: o valor de uma empresa e os critérios para avaliá-lo (valor contábil, econômico, ações e valor de mercado). 4. EVA (Economic Value Added): o lucro residual, que resta após serem deduzidos todos os custos e encargos de capital, inclusive o custo do capital próprio. 5. MVA (Market Value Added): o valor que supera o capital investido no negócio e que considera em seu cálculo o custo de oportunidade do capital investido e também os fluxos de benefícios de caixa pagos pela empresa no período. 29 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Valuation – métricas de valor & avaliação de empresas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2017. MARTINS, E.; DINIZ, A.; MIRANDA, J. Análise avançada das demonstrações contábeis: uma abordagem crítica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2017. OLIVEIRA, L. M.; PEREZ, J. H.; SILVA, C. A. S. Controladoria estratégica: textos e casos práticos com solução. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015. PADOVEZE, C. Controladoria: estratégica e operacional. São Paulo: Cencage Learning, 2012. _____. Administração financeira: uma abordagem global. São Paulo: Saraiva, 2016. ROSS, S. A. et al. Administração financeira. São Paulo: AMGH, 2015. ROSSETTI, J. P. Contabilidade social. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1994. SAURIN, V. ; MUSSI, C. C.; CORDIOLI, L. A. Estudo do desempenho econômico das empresas estatais privatizadas com base no MVA e no EVA®. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 1, n. 11, 2000. SCHMIDT, P.; SANTOS, J. L.; SANTOS M. A. Manual de controladoria. São Paulo: Atlas, 2014. 30 RESPOSTA b. I, II e IV estão corretas.
Compartilhar