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ÍNDICE CONSCIÊNCIA, EGO (EU), pág. 3 PERSONA, pág. 6 SOMBRA, pág. 9 PSIQUE, pág. 13 INCONSCIENTE PESSOAL, pág. 14 INCONSCIENTE COLETIVO, pág.14 ARQUÉTIPO, pág. 15 IMAGENS ARQUETÍPICAS, pág. 17 NUMINOSO, pág.17 SÍMBOLO, pág. 18 SIGNO, pág. 19 FUNÇÃO TRANSCENDENTE, pág. 20 COMPLEXOS, pág. 23 ANIMA – ANIMUS, pág. 27 ENERGIA PSÍQUICA, pág. 32 SELF (SI-MESMO), pág. 36 INDIVIDUAÇÃO, pág. 39 SINCRONICIDADE, pág.40 TIPOS PSICOLÓGICOS, pág.42 SONHOS E AMPLIFICAÇÃO, pág. 50 CONSCIÊNCIA – EGO (EU) “Nessa época tive um sonho inesquecível que me apavorou e encorajou ao mesmo tempo. De noite, num lugar desconhecido, eu avançava com dificuldade contra uma forte tempestade. Havia uma bruma espessa. Ia segurando e protegendo com as duas mãos uma pequena luz que ameaçava extinguir-se a qualquer momento. Sentia que era precisa mantê-la a qualquer custo, pois tudo dependia disso. Subitamente tive a sensação de que estava sendo seguido; olhei para trás e percebi uma forma negra e gigantesca acompanhando meus passos. No mesmo instante decidi, apesar do meu temor e sem preocupar-me com os perigos, salvar a pequena luz, através da noite e da tempestade. Ao acordar compreendi imediatamente que sonhara com o fantasma de Brocken”, com minha própria sombra projetada na bruma pela pequena luz que eu buscava proteger. Sabia que essa pequena chama era a minha consciência, a única luz que eu possuía. O conhecimento de mim mesmo era o único e maior tesouro que possuía. Apesar de infinitamente pequeno e frágil comparado aos poderes da sombra, era uma luz, minha única luz. Este sonho trouxe-me um grande esclarecimento sabia agora que meu nº 1 era quem levava a luz, enquanto que o nº 2 o seguia como uma sombra mgvft6inha tarefa consistia em conservar a chama sem olhar para trás em direção à via peracta, um domínio luminoso proibido de uma espécie diferente. Era necessário continuar contra a obscuridade imensa do mundo, onde não se vê, nem se percebe mais do que a superfície dos segredos insondáveis”. (JUNG, 2002, pág.86) Ao olharmos para a análise que Jung realiza sobre o seu sonho da luz e das imensas trevas, percebemos a tamanha e devida importância que a consciência tem na teoria junguiana. A compreensão faz com que tenhamos cautela e responsabilidade no cultivo da preservação e ampliação de nossa psique consciente. A autonomia e liberdade do eu só é possível, caso ocorra a diferenciação e distanciamento das amarras do inconsciente. A formação da consciência começa do indiferenciado inconsciente.Simbolicamente podemos pensar na vida que nasce e surge em nosso planeta, nasce da água, os continentes que vão emergindo da água, nós também ficamos dentro do líquido amniótico 9 meses, mesma correlação para a psique. A vontade é um aspecto que faz parte da consciência. A atenção consciente e a qualidade da vida cotidiana também estão na superfície. A aquisição da consciência é algo recente na história da humanidade. O Estabelecimento da cultura, estabelecimento de papéis, ritos, organização para sobrevivência. Começam as distinções sociais e grupos distintos. Por vontade, Jung entende como sendoa vontade a soma de energia à disposição da consciência. A volição é, portanto, um processo energético, liberado por motivação consciente. Não chamaria de volição um processo psíquico condicionado por motivação inconsciente. A vontade é um fenômeno psicológico que deve sua existência à cultura e à educação moral (JUNG, 1991, par.921) O estabelecimento da lei com mosaica, o respeito, o limite, as responsabilidades promovemnormas e estabelecem compromissos entre os indivíduos promovendo a sociabilização. Para desenvolver a consciência, estruturar o ego, precisamos do outro. O processo de psicoterapia ocorre na relação do eu com o outro. Transformações ocorrem através do vínculo terapêutico. Na Grécia, no Templo de Epidauro: doentes eram convidados antes de entrar no templo a passar uma noite em um dormitório para que sonhassem e tivessem sua cura através do auto-conhecimento. O sacerdote, grego antigo θεραπευτής ( therapeutḗs , " atendente " , analisa o sonho do doente e traz o conhecimento que irá possibilitar a oportunidade para que ocorra uma mudança na consciência sofredora do doente.Não existe cura e sim auto- cura, tomar consciência é "conhecer com", um processo que envolve o dinamismo da vinculação e o princípio da relação. (Edinger, 1989). Ego – sede da consciência, complexo do Eu, parte está mergulhado no inconsciente. No diagrama acima podemos perceber pela direção das duas flechas que o ego pode deslocar-se para as duas direções, sentido consciência e sentido inconsciente. Podemos compreender também que a consciência em termos de autonomia e espaço, ocupa apenas uma pequena parte no todo da psique. Neste diagrama também podemoster a concepção acerca dos estados de maior ou menor consciência. Ou seja, com a flutuação do complexo do ego, pode-se compreender também que temos momentos de maior ou menor atividade consciente. Quando CONSCIÊNCIA - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - INCONSCIENTE EGO estamos irritados, com fome, com sono, doentes, com dor, podemos notar esta oscilação e uma movimentação em sentido inconsciente,uma tendência a um estado de menor consciência, ficamos afetados e dependendo do grau de atuação dos aspectos inconscientes, teremos nossa independência prejudicada naquele instante. Ao contrário de Freud, para Jung, a consciência nasce do inconsciente. A consciência nos humaniza. Ter consciência está relacionado ao aspecto de reconhecermos nossas limitações e nossos conteúdos inconscientes positivos e negativos que nos afetam, perturbam e por vezes chegam a possuir a consciência. Quando oeu se afasta do arquétipo da totalidade, Self ou Si- Mesmo, falta de sentido e orientação na vida, sentimentos de desesperança irão se manifestar trazendo angústia e sofrimento. Tais sentimentos e manifestações se fazem cada vez mais presentes em nossa sociedade.As taxas de estresse, ansiedade e depressão e se elevaram com o decorrer dos últimos anos. Somos o país mais ansioso do mundo: O Brasil sofre uma epidemia de ansiedade. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o País tem o maior número de pessoas ansiosas do mundo: 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) convivem com o transtorno. Fonte: https://exame.abril.com.br/ciencia/brasil-e- o-pais-mais-ansioso-do-mundo-segundo-a-oms/ “O Brasil é considerado o país mais ansioso e estressado da América Latina. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nos últimos dez anos o número de pessoas com depressão aumentou 18,4%, isso corresponde a 322 milhões de indivíduos, ou 4,4% da população da Terra. No Brasil, 5,8% dos habitantes – a maior taxa do continente latino-americano – sofrem com o problema. Em relação à ansiedade, o Brasil também lidera, com 9,3% da população. Esse problema engloba efeitos como fobia, transtorno obsessivo- compulsivo, estresse pós-traumático e ataque de pânico. As mulheres sofrem mais com a ansiedade: cerca de 7,7% das mulheres são ansiosas e 5,1%, deprimidas. Já entre os homens, o número cai para 3,6% nos dois casos.” Fonte:https://jornal.usp.br/atualidades/brasil-vive-surto-de-depressao-e-ansiedade/ https://exame.abril.com.br/noticias-sobre/ansiedade/ https://jornal.usp.br/atualidades/brasil-vive-surto-de-depressao-e-ansiedade/ A dificuldade no acesso aos tratamentos de saúde adequados, um estilo de vida com pouca qualidade de vida em aspectos psíquicos, físicos, certamente acarretará em um país que tem pouca consciência, pouca autonomia frente aospoderes da sombra. Tempos sombrios! Que possamos ampliar e propagar a consciência aonde estivermos, promovendo oportunidade para que outros também possam se desenvolver e ir em direção a uma qualidade de vida mais digna. PERSONA A máscara no teatro grego, demonstrava qual o personagem estava em cena naquele momento. Um mesmo ator desempenhava mais de um papel durante a peça. O ator troca de máscara e neste momento, outro personagem está em cena. Mediador entre o mundo externo e o eu, a persona funciona como uma espécie de proteção ao Si-mesmo. Figura arquetípica da função de adaptação social. O bom filho, a boa esposa, o jovem desafiador ou polêmico, o executivo empreendedor, a pessoa irritante, são alguns exemplos de persona. Cada estado ou cada profissão, por exemplo, possui sua persona característica. O perigo está, no entanto, na identificação com a persona; O professor com seu manual, o tenor com sua voz. A identificação com a profissão ou com alguma posição social é sedutora pelo fato de poder se configurar como uma compensação para as frustrações pessoais e a incapacidade do ego em lidar com estas de maneira consciente.Durante a identificação com a persona a pessoa corre o perigo de ser tragada pelo inconsciente coletivo, se identificar com uma imagem interna e cair em um estado de inflação. Neste momento as pessoas passam a se achar os portadores da verdade universal, heróis, mártires, todo o interior da personalidade reprimido, indiferenciado e carregado desta dinâmica catastrófica. Quantomaior a rigidez da persona, maior a tendência do egocair na identificação arquetípica. Nos sonhos aparecem os temas das roupas, uniformes, chapéus e maquiagens fazendo a referência a esta figura arquetípica. Nos sonhos podemos ter dificuldades ao tirar a roupa, ou estarmos nus em público, expostos vulneráveis. Pessoas se identificam com suas profissões ou posições sociais, doutores e doutoras, militares, classe política, líderes religiosos, artistas. A esposa do fulano, o filho do beltrano. A frase “Você sabe com quem você está falando”? Quando ocorre a identificação com estas posições sociais e ocorre uma restriçãoao desenvolvimento. A identificação com a persona pode levar ao desenvolvimento de crises ou enfermidades psíquicas e físicas. Uma relação bem ajustada com a persona, será apropriada, de bom gosto, refletindo nosso interior e nosso senso exterior que possuímos de nós mesmos. O arquétipo da persona tem aspectos positivos e negativos, por vezes construtivos ou destrutivos. Uma persona que funciona corretamente, dará conta de três aspectos: 1) A imagem idealizada que o ego de todo ser humano tenha de si e tenha a intenção de transmitir. 2) A imagem que o mundo ao redor do ser humano faz ao seu respeito, de acordo com o gosto e o ideal de tal mundo. 3) Dar conta das condições psíquicas e físicas que impõem as limitações na realização da imagem idealizada de ego ou do mundo idealizado ao seu redor. Se estes três ou dois aspectos forem negligenciados, a persona poderá se tornar um empecilho para o desenvolvimento da personalidade. Pode-se dizer, sem exagero, que a persona é aquilo que não é verdadeiramente, mas o que nós mesmos e os outros pensam que somos. A Persona representa aquilo que queremos mostrar para o mundo, escondendo o que também somos. SOMBRA A parte inferior da personalidade. Os elementos psíquicos pessoais e coletivos que, incompatíveis com a forma de vida conscientemente escolhida, não foram vividos e se unem ao inconsciente, formando uma personalidade parcial, relativamente autônoma, com tendências opostas às do consciente. A sombra se comporta de maneira compensatória em relação à consciência. Sua ação pode ser tanto positiva como negativa. No sonho, a sombra tem frequentemente o mesmo sexo que o sonhador. Enquanto elemento do inconsciente pessoal, a sombra procede do eu: enquanto arquétipo do ‘eterno antagonista’, procede do inconsciente coletivo. Primeiramente, o inconsciente é dividido em inconsciente pessoal e inconsciente coletivo. O inconsciente pessoal possui caráter individual e é a soma das lembranças perdidas, dos conteúdos reprimidos pela consciência, das ideias e pensamentos tidos como incômodos. Os conteúdos que a consciência acaba por negar e reprimir, são os componentes da sombra. Darth Vader, personagem da série de filmes Star Wars. Anteriormente Anakin Skywalker foi um guerreiro jedi do Lado de Luz. Ignorando os ensinamentos Jedi, deixa-se dominar pelo medo de perder sua esposa e é seduzido pelo Lado Sombrio da Força, pondo tudo a perder. Anakin passa a ser conhecido como Darth Vader, o icônico vilão. A Sombra personifica o que o indivíduo recusa conhecer ou admitir e que, no entanto, sempre se impõe a ele, direta ou indiretamente, tais como os traços inferiores do caráter ou outras tendências incompatíveis. A sombra não conscientizada irá acabar por gerar o fenômeno da projeção de sombra, tudo que é “mal” cai para o outro, outro toma sobre si as nossas culpas, nossas falhas, o bode expiatório ou o Cordeiro de Deus que se faz maldito em nosso lugar. Por falta de reconhecimento da sombra temos tantas divisões entre as pessoas, hipocrisia, tanto preconceito, tanta dor e sofrimento O filme Coringa, apresenta a origem trágica do arqui-inimigo do Batman. Arthur Fleck, um homem que vivenciou desde a infância situações de violência, maus tratos e humilhações, acaba por não suportar as invasões do inconsciente. Os impulsos sombrios tomam a consciência, a tristeza e a agressividade reprimidas levam a destruição de Arthur Fleck. POTENCIALIDADES DA SOMBRA O potencial para o crescimento e desenvolvimento de Peter Pan estão em sua sombra. A sombra não representa somente a fonte de todo o mal, é possível, olhando mais acuradamente, descobrir que o homem inconsciente, precisamente a sombra, não é composto apenas de tendências moralmente repreensíveis, mas também de um certo número de boas qualidades, instintos normais, reações apropriadas, percepções realistas, impulsos criadores etc. (JUNG, 2002) Aspectos criativos habitam na sombra, possibilidades de desenvolvimento tidas como sendo aspectos inferiores, ao serem conscientizados e integrados na consciência poderão produzir acréscimos e ampliação na psique. PROJEÇÃO “Não se deve esquecer a seguinte regra: o inconsciente de uma pessoa se projeta sobre outra pessoa, isto é, aquilo que alguém não vê em si mesmo, passa a censurar no outro. Este princípio tem uma validade geral tão impressionante que seria bom se todos, antes de criticar os outros, se sentassem e ponderassem cuidadosamente se a carapuça que querem enfiar na cabeça do outro não é aquela que se ajusta perfeitamente a eles”.JUNG – 1993 - Civilização em transição. “As pessoas, quando educadas para enxergarem claramente o lado sombrio de sua própria natureza, aprendem ao mesmo tempo a compreender e amar seus semelhantes; Pelo menos assim se espera. Uma diminuição da hipocrisia e um aumento do autoconhecimento só podem resultar numa maior consideração para com o próximo, pois somos facilmente levados a transferir para nossos semelhantes a falta de respeito e a violência que praticamos contra nossa própria natureza”. (JUNG, 2004) “Que eu faça um mendigo sentar-se à minha mesa, que eu perdoe aquele que me ofende e me esforce por amar - inclusive o meu inimigo - em nome de Cristo, tudo isto, naturalmente, não deixa de ser uma grande virtude. O que faço ao menor dos meus irmãos é ao próprio Cristo que faço. “Mas, o que acontecerá, se descubro, porventura, que o menor, o mais miserávelde todos, o mais pobre dos mendigos, o mais insolente dos meus caluniadores, o meu inimigo, reside dentro de mim, sou eu mesmo, e precisa da esmola da minha bondade, e que eu mesmo sou o inimigo que é necessário amar?"(JUNG, 2004) O grande obstáculo para o desenvolvimento humano não é a existência da sombra. Toda a humanidade possui sombra, isto é algo natural e faz parte da totalidade. Se temos um lado claro, teremos um lado escuro. Os problemas surgem devido a falta de atitude consciente e responsabilidade diante dos poderes sombrios inconscientes. PSIQUE - Do Grego “ψυχή”, psykhé, usada para descrever a alma ou espírito. - São os aspectos conscientes e inconscientes, totalidade de todos os processos psíquicos. Não confundir com anima. INCONSCIENTE PESSOAL - Está relacionado com os aspectos individuais, históricos, contém lembranças perdidas, reprimidas (propositalmente esquecidas), evocações dolorosas, percepções que, por assim dizer, não ultrapassaram o limiar da consciência, isto é, percepções dos sentidos que por falta de intensidade não atingiram a consciência. INCONSCIENTE COLETIVO - É a camada mais profunda da psique constituído de padrões não individuais, mas universais. - Formado de conteúdos coletivos das formas básicas de pensamento, sentimento e instinto, de tudo aquilo que consideramos universal. - Aspecto curador. - Aspecto transformador. A base da psique é constituída pelos arquétipos Da pesquisa dos produtos do inconsciente resultam ainda alusões claras e estruturas arquetípicas que coincidem com os temas míticos, e entre elas determinados tipos que merecem o nome de dominantes: trata-se de arquétipos como anima, animus, ancião, bruxa, sombra, mãe-terra, etc. e as dominantes de ordem do Si-mesmo, do círculo e da quaternidade, respectivamente das quatro ‘funções’ ou dos aspectos do Si-mesmo ou do consciente. Percebe-se sem dificuldades que o conhecimento destes tipos facilita muito a interpretação dos mitos e ao mesmo tempo a coloca no chão a que pertence, isto é, na base da psique. (JUNG, 1995 par.611) A base de todo funcionamento da psique, que tem como matriz o inconsciente, é imagética ou mitológica, e a relação compensatória que o inconsciente estabelece com a consciência frequentemente se manifesta através das imagens simbólicas que nos aparecem em sonhos oufantasias. Quando observamos e compreendemos tais imagens, facilitamos o entendimento sobre quem se é e sua totalidade. Ao conhecer a dinâmica arquetípica, podemos entender quais as compensações e projeções feitas pelo inconsciente. (JUNG,1998) ARQUÉTIPO O arquétipo é uma espécie de aptidão para reproduzir constantemente as mesmas ideias míticas; se não as mesmas, pelo menos parecidas. -Padrões universais, coletivo, traz em si o aspecto claro e escuro, positivo e negativo. Podem aparecer em forma de imagem personificada assim como a anima e o animus ou simbólica, como aspectos ligados a morte, renascimento, amor. - A quantidade de arquétipos é relativamente limitada, corresponde às possibilidades das vivências fundamentais típicas que a humanidade já experimentou desde os seus primórdios. O arquétipo não é apenas um protótipo, mas também uma manifestação processual-dinâmico. Todas as manifestações da vida repousam na base arquetípica, em níveis biológico, psicofísico ou espiritual. Representam reproduções de reações instintivas A descida do Espírito Santo com o batismo de fogo em Pentecostes - A este conceito corresponde a ideia de alma, espírito, Deus, saúde, força corporal, fertilidade, poder mágico, influência, poder, respeito, remédio, bem como certos estados de afetos. JUNG (2004). - A forma do arquétipo é o aspecto herdado. O conteúdo do seu preenchimento não é herdado. Como por exemplo arquétipo materno e arquétipo paterno, inúmeras imagens arquetípicas surgirão no preenchimento. IMAGENS ARQUETÍPICAS - O arquétipo funciona como um nódulo de concentração de energia psíquica. Quando esta energia, em estado potencial, atualiza-se, toma forma, então teremos a imagem arquetípica. Não poderemos denominar esta imagem de arquétipo, pois o arquétipo é unicamente uma virtualidade. (SILVEIRA, 1974). Deméter Kuan Yin Virgem Maria Acima, Deméter deusa grega da agricultura, Kuan Yin deusa chinesa da compaixão e a Virgem Maria a Mãe Santa no catolicismo. As três divindades acima, são imagens arquetípicas do arquétipo da Grande Mãe, expressão do sagrado feminino. O arquétipo é a forma, o conteúdo é a imagem arquetípica. O conteúdo arquetípico terá relação direta com o contexto cultural o qual está inserida a manifestação específica da imagem. NUMINOSO Jung cria o conceito de numinoso, partindo do teólogo alemão Rudolf Otto -25/09/1869 - 06/03/1937 - Alemanha - Tremendum (que causa tremor); Majestas (avassalador); Mysterium (o totalmente oculto). - Experiência Religiosa = Numinoso; Efeito que arrebata e controla. - Elemento da inconsciência coletiva; Fascinante; Assombroso. Numinoso é o efeito fascinante e terrível que o arquétipo produz sobre a consciência. Grandes manifestações coletivas como passeatas, eleições, jogos de futebol, shows de rock, cultos religiosos, são experiências que exemplificam o caráter arrebatador numinoso. A experiência em contato direto com o Sagrado traz o perigo da perda e dissolução da consciência. SÍMBOLO O símbolo é uma linguagem universal infinitamente rica, capaz de exprimir por meio de imagens muitas coisas que transcendem das problemáticas especificas dos indivíduos. - “Um símbolo não traz explicações, impulsiona para além de si mesmo na direção de um sentido ainda distante, inapreensível, obscuramente pressentido e que nenhuma palavra de língua falada poderia exprimir de maneira satisfatória" (Jung). A serpente enquanto símbolo expressa múltiplas possibilidades e significados. Dois pacientes podem sonhar com serpente e o significado ser distinto. Devemos levar em conta que a riqueza do símbolo consiste justamente de carregar em si diversidades de significados. Ao analisar os símbolos de um sonho é necessário termos cuidados específicos. Em capítulo mais adiante será detalhado como acolher e trabalhar os materiais de maneira eficaz e coerente SIGNO Os Símbolos alcançam dimensões que o conhecimento racional não pode atingir. Transmitem intuições altamente estimulantes prenunciadoras de fenômenos ainda desconhecidos. Mas desde que seu conteúdo misterioso venha a ser apreendido pelo pensamento lógico, esvaziam- se e morrem, viram apenas signos. O signo encerra e esgota as possibilidades de associações. Me recordo de conversar com um senhor quando eu ainda era criança. Estava fazendo minha primeira comunhão e o tema da cruz do Cristo para mim, tinha um significado positivo. Tal homem era evangélico ao lhe dizer sobre a primeira comunhão e falarmos sobre a cruz, descobri pela primeira vez em minha vida que a cruz poderia ter um significado distinto daquele o qual haviam me ensinado como sendo o correto e único. O senhor me contou que para ele a cruz tinha um significado negativo, pois era um instrumento de destruição para alguém querido por ele. Tive uma sensação estranha. Como poderia ser que algo até então somente positivo, também poderia ter um significado negativo? Assim, compreende-se a complexidade que existe em meio as associações e produções de signos FUNÇÃO TRANSCENDENTE A função transcendente se refere ao processo de transpor, superar a unilateralidadeou conectar os opostos consciente e inconsciente. - É o processo psíquico da possibilidade de uma nova síntese. É a superação dos opostos que leva à integração, com a assimilação de conteúdos inconscientes. A superação dos conflitos de estar polarizado e o fim da unilateralidade do ego. A função transcendente é o processo, e a expressão resultante é o símbolo. Me recordo de um caso de um rapaz jovem, com ataques de pânico, bastante envergonhado, com dificuldades na área da sexualidade. Tinha tido apenas um único relacionamento. Sua namorada, o havia traído e ele decidiu terminar a relação. Seus ataques de pânico o motivaram a procurar a psicoterapia. Começamos a trabalhar com algumas técnicas corporais e de respiração, sua ansiedade e o pânico foram baixando gradativamente, também começamos a análise de seus sonhos. Sua timidez o impedia de se aproximar das mulheres, impedindo o assim de desfrutar os prazeres que um relacionamento e a sexualidade podem ofertar ao ser humano. Ele trouxe um sonho em que uma amiga gritava para ele: “OUSADIA”! No sonho seguinte aparecia a figura típica de um malandro, após este sonho, o próximo trazia a figura de um homem negro sorridente com o pênis a mostra apontando para o paciente e dizendo: “CHUPA”! Analisamos os sonhos e as mensagens de incentivo ao rapaz para se aventurar no caminho do prazer e da descontração foram ficando evidentes. Nesta trinca de sonhos tivemos a anima pedindo ousadia, a desenvoltura das investidas de sedução na imagem de sombra do malandro. Por fim, o homem negro que pedia ao paciente que ele praticasse sexo oral nele,que o deixou encabulado. Perguntei ao rapaz se ele tinha desejos sexuais por homens. Ele disse que não.Trouxe a ele a imagem arquetípica de Exu, o mensageiro dos Orixás, Senhor dos Caminhos, que abre e fecha, brincalhão, comunicativo e expansivo. O sonho, não se tratava da realização de um desejo reprimido. O sonhador precisava chupar Exu simbolicamente, chupar, absorver suas características inspiradoras. Exu com seu porrete Ogó, em formato de pênis. O paciente ficou impressionado, evangélico até então, tinha começado a se interessar pelas religiões afros. Este sonho despertou seu lado galanteador, começou a se relacionar com as mulheres, seus caminhos para o prazer estavam abertos. A expressão simbólica trouxe a possibilidade de transformação. COMPLEXOS - A palavra complexo é baseada no latim, complexus, que significa, conexão, liga, amarrado junto. - O complexo é resultado de muitas partes que ficaram entrelaçadas, formando um grupo ou núcleo, se tornando uma unidade. O núcleo do complexo é o arquétipo. Os complexos são aspectos normais da psique, mas podem se tornar patológicos, autônomos, quando em termos de energia, possuam um valor que supere a vontade consciente, uma forte carga emocional que pode chegara perturbar e a interferir `nas intenções da consciência, prejudicando e influenciando nos aspectos da memória, da tomada de decisões e na concepções de ideias e pensamentos (JUNG,1998). Segundo Jacobi, (JACOBI, 1995) ocomplexo em si é um elemento estrutural da psique, e por isso mesmo, só pode ser considerado saudável. POSSESSÃO DO COMPLEXO - Todo mundo sabe que as pessoas “têm complexos”. Mas o que não é bem conhecido e, embora teoricamente seja de maior importância, é que os complexos podem nos ter. - Enquanto possuída pelo complexo, a consciência tem sua autonomia e seu julgamento prejudicados. -Durante a possessão surgem afetos avassaladores, comportamentos agressivos, excessos, comportamentos de risco a autopreservação, discursos em que a censura se rompe e o que seria impensável em ser dito ou feito acaba por encontrar sua expressão. Como vimos anteriormente o arquétipo é o núcleo de todo o complexo. O arquétipo materno evidentemente constitui o núcleo do complexo materno. Na lista de atributos abaixo, temos algumas características contraditórias, como não poderia deixar de ser. Esta enumeração não pretende ser completa. Ela apenas indica os traços essenciais do arquétipo materno. Seus atributos são o ‘maternal’ simplesmente a mágica autoridade do feminino; a sabedoria e a elevação espiritual além da razão; o bondoso, o que cuida, o que sustenta, o que proporciona condições de crescimento, fertilidade e alimento; o lugar da transformação mágica, do renascimento; o instinto e o impulso favoráveis; o secreto, o oculto, o obscuro, o abissal, o mundo dos mortos, o devorador, sedutor e venenoso, o apavorante e fatal.(JUNG,2003, pár.158) Uma vez que o mundo só existe devido ao equilíbrio dos opostos, o racional é contrabalançado pelo irracional e o que é planejado pelo que é dado (JUNG, 2003). Temos elementos estruturantes, positivos e construtivos para o desenvolvimento da psique, presentes no complexo materno, mas temos elementos regressivos, dissolvidores e negativos também. Quando a consciência lida com o complexo materno, não pode escolher somente a parte que lhe interessa, ela recebe tanto a parte boa como a ruim. COMPLEXO MATERNO POSITIVO Capacidade de cuidar, ser cuidado, propiciar prazer, bem- estar e nutrição. - Estimula a capacidade lúdica, fantasiosa e criativa. - Propicia a união e o vínculo afetivo de qualquer natureza. COMPLEXO MATERNO NEGATIVO - A atuação do complexo materno negativo acarreta em baixa autoestima, passividade, falsa submissão, dependência, hipersensibilidade à rejeição, depressão, alcoolismo e outros vícios. - Incapacidade de discriminação e tomadas de decisão entre o que é apropriado ou não para si ou para a situação são comuns. COMPLEXO PATERNO POSITIVO No núcleo do complexo paterno, temos o arquétipo paterno que traz princípios de limites, autonomia, disciplina e capacidade discriminatória. - A técnica e a prescrição em detrimento da criatividade e improviso. - Espírito independente, senso do dever e capacidade lógica. COMPLEXO PATERNO NEGATIVO Cronos devorando seu filho - Ausência, incongruência, desdém, ameaças de abandono, indução de culpa (bode expiatório) e agressão física. - Pai alcoólatra: filho que tem de se tornar “pai” da família precocemente, “adultecer”. ANIMA- ANIMUS PROJEÇÃO Projeção é a transferência imperceptível e involuntária, de conteúdos inconscientes positivos ou negativos no outro. - Onde nos falta conhecimento da realidade será completado pela projeção. - Quanto maior a falta de autoconhecimento, consciência e discernimento, maior será a projeção. Nas relações amorosas ocorrem as projeções de anima e animus. O príncipe encantado, a esposa dedicada, o amante sedutor, a femme fatale, são alguns exemplos de imagens de animus e anima projetados nos parceiros e parceiras que são humanos, limitados e falíveis. Porém, em estado de paixão a consciência rebaixa e as projeções dos arquétipos contrassexuais. ARQUÉTIPO DA ANIMA - Personificação do inconsciente masculino. Comum aparecer nos sonhos dos homens na imagem de uma mulher. - A primeira imagem de anima será a mãe ou cuidadora. Mediadora entre o inconsciente e a consciência do homem. -Feminilidade inferior do homem, inferior por estar por trás da personalidade consciente e por carecer de desenvolvimento. - Sempre relacionada aos aspectos emocionais e afetivos, realçando e alterando o humor da consciência masculina. -Arquétipo da vida ESTÁGIOS DA ANIMA: Os estágios da anima, estão relacionados ao amadurecimento e estruturação daconsciência. A expressão estágio, representa a ideia de que estes estágios podem ocorrer por diversas vezes ao longo da vida do homem. Todo início de relacionamento amoroso, muito provavelmente será marcado pelo estágio 1 da Eva. 01 – Eva: representa para o homem o relacionamento instintivo e biológico, sexualidade, do apaixonamento, do desejo sexual mais forte no homem, por isso o homem se masturba mais, projeta mais o instintivo (cérebro reptiliano), ter prazer etc. 02 – Helena de Tróia: romântico e estético, da parceira, até que a morte os separe, viver para sempre juntos. 03 – Virgem Maria:Estágio que eleva ao amor e à grandeza espiritual. Ego maduro. 04 – Sophia simbolizado pela sabedoria. Sofia, amor pelo saber. POSSESSÃO PELA ANIMA Incertezas, paralisações, impulsividade, agressividade. - O homem necessita de desenvolvimento egóico, quanto menor a consciência de si mesmo, mais o homem vivenciará os aspectos instintivos e primitivos da Anima e se tornará prisioneiro dela. A FUNÇÃO POSITIVA DA ANIMA Porém, quando o homem leva à sério e concretiza as emoções, as fantasias, os sentimentos através das artes, música ou dança, o homem poderá experimentar a Anima como sendo sua guia inspiradora em seu processo de desenvolvimento. ARQUÉTIPO DO ANIMUS Personificação do inconsciente feminino. Comum aparecer nos sonhos das mulheres na imagem de um homem. -A primeira imagem de animus será o pai ou cuidador. Personificação do inconsciente feminino. Comum aparecer nos sonhos das mulheres na imagem de um homem. -Realça as convicções e a razão. ESTÁGIOS DE ANIMUS Os estágios expressam a maturidade egóica da mulher. Quanto mais evoluído for o ego feminino, tanto mais avançado será o estágio do animus. 01 – Personificação da força física tal como o primeiro estágio da anima, aspectos estéticos, físicos e maior atração sexual são características presentes durante esta etapa. 02 – Homem romântico e de ação: poesia, letras românticas, inteligentes e politizadas, maneira como o artista retrata as mulheres; homem de negócios, ação. 03 – Condutor do Verbo, professor, conhecimento, grande orador intelecto, mestre 04 – Sábio, o que guia e inspira no caminho de espiritualidade, individuação. POSSESSÃO PELO ANIMUS - A mulher que não se conhece fica cada vez mais vítima dos julgamentos e convicções do Animus, anulando cada vez mais sua própria essência, subjugada por pensamentos autodepreciativos, agressiva e intransigente. A FUNÇÃO POSITIVA DO ANIMUS - O lado positivo do Animus inspira um espírito de iniciativa, coragem e na sua forma mais elevada, de grande profundidade espiritual. ENERGIA PSÍQUICA Jung cria o conceito de energia psíquica no sentido de ampliar o conceito de energia libidinal para além do sentido único da sexualidade, sentido este delineado por Freud. Concepção Causal X Finalista A visão freudiana, corresponde a visão causal. Neste tipo de visão busca-se a causa no passado da infância a respeito dos problemas no presente. Freud está em busca do “por que”. A visão junguiana, corresponde a visão finalista, neste tipo de visão busca-se o entendimento da dinâmica da psique, no presente. Jung busca compreender o “para que”. Qual a consequência do estilo de vida que eu tenho? Qual a consequência do meu tipo de comportamento? Opostos A energia é uma abstração que expressa uma relação com um determinado de tema, envolve uma predileção e automaticamente exclusão. A energia é quantitativa, transformável. Processo psicofísico: psique e corpo são interligados. Sistema de Valores Psicológicos • Valores são avaliações quantitativas de energia • Medidas, valores morais, estéticos, coletivos • Quanto mais falamos a respeito de algo, maior o valor, maior a carga de energia psíquica constelada, ativada por aquele assunto, tema. • Sistema coletivo – Sistema subjetivo • Avaliação subjetiva individual, relativismo, cada um definirá aquilo que lhe é importante, segundo seus próprios valores. Avaliação Quantitativa Objetiva • Complexos: conteúdo emocional, associações consteladas. Irão condicionar a experiência determinada, fato vivido, causal vinculado ao ambiente. • Força constelada, constelação específica, relacionada a um tema • A força consteladora do elemento nuclear do complexo corresponde à intensidade de valor do mesmo, ou seja, à sua energia. Avaliação do valor energético 1- Quanto mais frequentemente encontrar constelações, maior valor psicológico. 2- Frequência e intensidade relativas dos sinais de perturbação do complexo. Lapsos de linguagem, esquecimentos, mal-entendidos. ex: tempo que o paciente gasta falando sobre certos assuntos- Intensidade de fenômenos afetivos: pulso, condução de energia na pele, batimento cardíaco, respiração. Sistema subjetivo Energia, como movimento, situação, força, condição, potencial • Fenômenos dinâmicos, instintos, desejos, vontade, afeto. • Atenção, rendimento de trabalho • Processo psíquico, processo de vida, energia da vida. • Libido, esfera crítica da interação de corpo e alma. Tradução de libido segundo Jung, não está relacionado somente a sexualidade: avidez, desejo, impulso, também são traduções pertinentes. PROGRESSÃO X REGRESSÃO • Energia em Progressão é o dia a dia do caminhar evolutivo do processo psicológico de adaptação ao contexto da realidade do mundo externo, nunca cessa. Completar a adaptação por meio de nova a atitude, dar satisfações à exigência das condições do ambiente. Corresponde a extroversão. • Energia em Regressão, é o investimento da energia no mundo interno, este é movimento necessário para os novos nascimentos e transformações. Corresponde a introversão • Não confundir progressão com evolução, não confundir regressão com involução. SELF (SI-MESMO) Self representa o ser em sua totalidade. - É o centro organizador, auto regulador e integrador da psique; - Eixo Ego-Self; - Totalidade da psique; Para Jung, o Si-mesmo é a vivência da manifestação psicológica do sagrado. Para a psicologia analítica, o Self, existe e a atua na psique semelhante ao modo de Deus, não importa se a pessoa tem uma crença consciente ou não. A mandala exprime-se, simbolicamente, por um círculo, um quadrado ou um quatérnio, num dispositivo simétrico do número 4 e de seus múltiplos. - Tornar-se único e integro é o próprio processo de amadurecimento que envolve o fortalecimento do ego, o reconhecimento do Self e sua realização. Self – totalidade VELHO SÁBIO – VELHA SÁBIA O Self nos sonhos masculinos toma, muitas vezes, a forma de “Velhos Homens Sábios”. - O Self aparece nos sonhos usualmente em momentos críticos da vida do sonhador – instantes decisivos em que suas atitudes básicas e todo seu modo de vida estão em processo de mutação. O Self nos sonhos femininos toma, muitas vezes, a forma de “Velhas Mulheres Sábias”. Philemom, Velho Sábio que apareceu para Jung, pintura realizada por ele próprio CRIANÇA DIVINA Pequeno Buda Menino Jesus A criança, o jovem, representa o Self e o seu poder de renovação. Uma nova orientação por meio da qual tudo se torna cheio de vida e de iniciativa. Potencial do vir a ser. INDIVIDUAÇÃO Carvalho e Cerejeira ambas são árvores, cada qual ao seu modo, já contém em suas sementes o potencial do seu vir a ser. - O sentido e a meta do processo são a realização da personalidade originária, presente no germe embrionário,em todos os seus aspectos. - É o estabelecimento e o desabrochar da totalidade originária, potencial. [...] Chamei a esse processo de processo de individuação. - Tornar-se um consigo e um com o coletivo. - (JUNG, 1987b, § 186, p. 186-187). - Uso a palavra ‘individuação’ para designar um processo pelo qual um ser torna-se um ‘individuum’ psicológico, isto é, uma unidade autônoma e indivisível, uma totalidade. A individuação significa tender a tornar-se um ser realmente individual; na medida em que entendemos por individualidade a forma de nossa unicidade, a mais íntima, nossa unicidade última e irrevogável; trata-se da realização de seu Si-mesmo, no que tem de mais pessoal, e de mais rebelde a toda comparação. Poder-se-ia, pois, traduzir a palavra ‘individuação’ por ‘realização de si mesmo’, ‘realização do Si–mesmo’. (JUNG,2002,par.355) Para que ocorra o processo de individuação é necessário que se tenha um ego estruturado, a fim de que a vida consciente se adapte as exigências do coletivo, bem como a oportunidade para que o inconsciente se expresse de maneira tal que ocorra a integração destes opostos. Quando ocorre a unilateralidade da consciência, a repressão dos conteúdos considerados hostis ou a fragmentação do ego, não há realização do Self(Si- mesmo).Para que a realização da personalidade ocorra é necessário que o ego suporte a tensão entre os opostos, somente na tensão ocorre a expressão da vida em sua totalidade. SINCRONICIDADE Simultaneidade de um estado psíquico com um ou vários acontecimentos que aparecem como paralelos significativos. Princípio de conexões acausais, mas que se relacionam entre si, concedendo-lhes significado. Coincidência de um estado psíquico com um acontecimento futuro, portanto, distante no tempo e ainda não presente, e que só pode ser verificado também posteriormente. A Sincronicidade é o estado que trará a possibilidade da conscientização de aspectos inconscientes. Jung nos conta o exemplo de uma paciente que o processo de análise se encontrava bastante restrito. A paciente conta sobre o sonho com um besouro dourado. No mesmo instante, Jung ouve um barulho em sua janela, ele a abre, apanha um besouro dourado, tal como descrito pela paciente em seu sonho. Após este evento, a análise seguiu um rumo mais amplo. Todos nós passamos pelos eventos sincronísticos, estes ocorrem. Cito aqui como exemplo, dois momentos distintos que ocorreram em minha vida. Nas duas situações entrei em conato com o volume V da Obra Completa de Jung, se trata de Símbolos da Transformação. Símbolos da Transformação marca o fechamento do ciclo de colaborações e vínculo entre Jung e Freud. Nesta obra, o criador da Psicologia Analítica expressa ideias distintas e discordantes das defendidas por Freud. É a jornada de individuação, o chamado que ocorre na metanoia. Nos dois momentos em que entrei em contato com o referido livro, encerrei vínculos importantes em minha vida e iniciei processos de transformações bastante intensos e profundos. TIPOS PSICOLÓGICOS A teoria dos tipos psicológicos nos ajuda a esclarecer as afinidades, interesses, mal-entendidos e as dificuldades que surgem nos relacionamentos entre os indivíduos. Na tipologia junguiana as pessoas serão classificadas ematitudes e funções psíquicas. As atitudes são introversão e extroversão. Todos nós temos as duas atitudes. Uma será mais desenvolvida do que a outra. - Existem duas atitudes: Introversão e Extroversão. - No introvertido o foco de atenção está no mundo interno, já o extrovertido seu foco de atenção é o mundo externo. Atitude: Introversão - Hesitantes; não podem viver antes de compreender a vida; Atitude reservada e questionadora; Atenção voltada para o interior. - Seu mundo real é o interno, suas ideias; vão das considerações para a ação e voltam para as considerações; Tendência à não praticidade. Atitude: Extroversão - Impulsivos; não podem compreender a vida antes de vivê- la; Atitude relaxada e confiante; Atenção voltada para oexterior. Acessíveis e sociáveis, preferem o mundo das coisas e pessoas ao mundo das ideias. Dedicam-se exageradamente a exigências externas. Funções da consciência Todos nós temos quatro funções psíquicas. São elas: sentimento, pensamento, sensação e intuição. Uma delas, será a mais bem desenvolvida, denominada função principal, em seguida teremos a função auxiliar, uma terceira também auxiliar e por último, menos desenvolvida a função inferior. Sobre a função inferior, Jung nos conta que:”Não é a gente que a tem na mão, mas alguém a tem”. Quando totalmente indiferenciada, misturada ao inconsciente, caráter infantil e arcaico, instintiva. Por isso somos surpreendidos por comportamentos marcados por estados de humor, infantis, arcaicos e instintivos. A função sensação é a função ligada ao aqui e agora, momento presente, detalhista, focal, grande capacidade de execução, vinculada aos órgãos dos sentidos. Esta é função do real, segundo Jung. A função intuição nos traz dados e informações de forma perceptiva via inconsciente, visão da totalidade, criativa, podendo até mesmo antecipar aspectos futuros. A função pensamento está ligada ao intelecto, a lógica, prós e contras, os fatos objetivos, tendência a priorizar o que precisa ser feito ao invés de priorizar as pessoas e suas Funções Psíquicas Sensação Intuição Pensamento Sentimento Desenvolvimento Humano e Capacitação Profissional Desenvolvimento Humano e Capacitação Profissional subjetividades. A função sentimento é a função dos valores, para Jung, sentimento não é sinônimo de emoção ou afeto. O sentimento está relacionado com aquilo que é importante para alguém sua subjetividade, tendência em valorizar o outro e a sua subjetividade. As funções psíquicas também serão classificadas em funções irracionais e racionais. As funções sensação e intuição são funções irracionais. Por irracional, entende-se a possibilidade de receber informação, poder processá-la e agir. Alguns autores posteriormente chamaram as funções irracionais de funções de percepção. Existem duas maneiras de se obter informações: pela sensação, via órgão dos sentidos, criando uma ideia concreta; ou pela intuição recebendo a informação e não se fixando na característica concreta, mas em suas possibilidades do futuro. Sensação e intuição são opostas entre si. As funções pensamento e sentimento são funções racionais. Por racional, entende-se a possibilidade de avaliar as informações recebidas e como prefere tomar decisões. Existem duas maneiras de tomada de posição: avaliação pelo pensamento de maneira lógica e racional; pelo sentimento a avaliação é feita através dos valores pessoais. Pensamento e sentimento são opostos entre si (ZACHARIAS, 2006). Vamos verificar alguns exemplos de diagramas: No diagrama, podemos ver a atitude predominante e a função principal na superfície consciente. Na parte inferior inconsciente temos a disposição da atitude oposta e da função inferior. Nas laterais, as funções auxiliares. Neste diagrama temos o tipo pensamento extrovertido, função principal pensamento, atitude consciente extroversão, com função auxiliar intuição. A função sensação FUNÇÃO PRINCIPAL FUNÇÃO INFERIOR ATITUDE ATITUDE FUNÇÃO AUXILIARFUNÇÃO AUXILIAR FUNÇÃO PRINCIPAL PENSAMENTO FUNÇÃO INFERIOR SENTIMENTO ATITUDE EXTROVERTIDO ATITUDE INTROVERTIDO FUNÇÃO AUXILIAR SENSAÇÃO FUNÇÃO AUXILIAR INTUIÇÃO também é uma função auxiliar, porém menos diferenciada que a intuição.Na parte de baixo temos a função inferior que é o sentimento introvertido. Neste diagrama temos o tipo intuiçãointrovertido, função principal intuição, atitude consciente introversão, com função auxiliar sentimento. A função pensamento também é uma função auxiliar, porém menos diferenciada que a função sentimento. Na parte de baixo temos a função inferior que é a sensação. Vamos agora para a descrição dos oito tipos descritos por Jung. São quatro tipos introvertidos e quatro tipos extrovertidos. Não existe um tipo melhor ou pior do que os outros todos terão suas habilidades e suas dificuldades. A teoria dos tipos psicológicos não visa rotular ou enquadrar as pessoas. A teoria visa esclarecer as diferenças e promover a compreensão. Mediante o esclarecimento podemos ter uma visão de acolhimento e entendimento do indivíduo consigo e para com o outro. FUNÇÃO PRINCIPAL INTUIÇÃO FUNÇÃO INFERIOR SENSAÇÃO ATITUDE INTROVERTIDO ATITUDE EXTROVERTIDO FUNÇÃO AUXILIAR PENSAMENTO FUNÇÃO AUXILIAR SENTIMENTO PENSAMENTO INTROVERTIDO Função Inferior: Sentimento Extrovertido - Capacidade de organização dos fatos e ideias utilizando-se de princípios lógicos. - Interesse em questões relacionadas à ciência e tecnologia. - Impessoais, sentem mais interesse por coisas do que relacionamentos humanos. - Imaturidade emocional com sentimento avassalador, intenso e desmedido. PENSAMENTO EXTROVERTIDO Função Inferior: Sentimento Introvertido - Estabelece passos, organiza e prioriza a ação em direção a um objetivo único e imutável. - Estabelece limites, regras, regulamentos e leis a serem cumpridas sem questionamentos, sem perda de tempo. - Tendência a não considerar o ponto de vista do outro. - Dificuldades em expressar os sentimentos. SENTIMENTO INTROVERTIDO Função Inferior: Pensamento Extrovertido - Possui uma escala diferenciada de valores, ética silenciosa, valorizando a moral. - Mais preocupados com as pessoas ao seu redor do que consigo mesmo. - Vagueia sobre uma imensa série de fatos e se perde tal como num pantanal de detalhes. - Dificuldade de ampliar fatos e ideias, caindo na monomania intelectual. SENTIMENTO EXTROVERTIDO Função Inferior: Pensamento Introvertido - Mais interessados nas pessoas do que nas coisas. - Capacidade em promover no ambiente uma atmosfera de aceitação muito agradável. - Pensamentos autodepreciativos, negativos, cínicos e destrutivos. - Julgamentos críticos à respeito das pessoas. SENSAÇÃO INTROVERTIDA Função Inferior: Intuição Extrovertida - Perfeccionismo, paciência e detalhista. - Responsabilidade, precisão e organização. - Dificuldade em lidar com as próprias fantasias; vendo com desconfiança suas próprias intuições; - Há uma grande dificuldade em lidar com o mundo do futuro. SENSAÇÃO EXTROVERTIDA Função Inferior: Intuição Introvertida - Imensa e exata consciência da realidade externa em todas as suas diferenciações. - Percebe a textura das coisas (se é seda ou lã) e geralmente o bom gosto está presente. - Tem dificuldade em lidar com múltiplas possibilidades, se atendo apenas aos fatos. - Tendência a intuições persecutórias, premonições suspeitas e sombrias. INTUIÇÃO INTROVERTIDA Função Inferior: Sensação Extrovertida - Alto senso poético, literário e cultural. - Possuem sempre novas maneiras de resolver problemas, valorizando sempre a inspiração e a imaginação. - Dificuldade em lidar com o corpo concreto, desde cuidados estéticos e saúde. - Tendência à perplexidade das fantasias, ficando absorto em si mesmo. INTUIÇÃO EXTROVERTIDA Função Inferior: Sensação Introvertida - Capacidade de imaginar possibilidades e potencialidades futuras ainda não realizadas. - Visão do todo, personalidade criativa. - Dificuldade em ser objetivo, semeia, mas não colhe. - Dificuldade em lidar com o corpo concreto, desde cuidados estéticos e saúde. A IMPORTÂNCIA DA FUNÇÃO INFERIOR - Entender a Função Inferior - Confrontar a função inferior. - Admitir a importância e o seu sentido. - Tornar consciente aquilo que permanecia inconsciente. - Utilizar a função auxiliar para se aproximar da função inferior. Ter a humildade de se descer com as outras funções para o nível inferior. - Sacrifício da função principal. Algo novo, diferente e inédito em relação à vida, na qual se usam todas e nenhuma das funções durante todo o tempo. SONHOS e AMPLIFICAÇÃO Quando lidamos com o conteúdo pessoal em análise o trabalho de atribuição de significado deve sempre recair sobre o paciente. O analista não tem muita licença para interferir. Porém, quando lidamos com o conteúdo coletivo, estamos lidando com um assunto onde toda a humanidade foi, é e será participante das dores, paixões, tristezas e alegrias presentes ali nos símbolos expressados pelo inconsciente. Surge a amplificação, como ferramenta útil e prática na tentativa de se interpretar o que há nestas mensagens e bem como tais interpretações podem ser de grande auxílio na vida do paciente. Na prática da psicoterapia de orientação analítica, é comum a utilização de trabalhos com sonhos, imaginação ativa, sandplay, danças e outras técnicas que visam à expressão do inconsciente. Busca-se a compreensão dos conteúdos, que serão interpretados pelo analista e devolvidos ao paciente. Mas, qual a utilidade deste trabalho para o paciente? Não estaria o analista apenas expressando de forma soberba talvez seu conhecimento intelectual e cultural, utilizando-se de referências mitológicas, poéticas e artísticas para dar forma ao seu pensamento? Não seria mais pertinente pedirmos a associação livre do paciente frente tal material? Frente a estas questões, devemos primeiro entender a diferenciação entre a associação livre de Freud e a amplificação de Jung. -Diferenciação entre associação livre e amplificação. Logicamente devo mencionar aqui o mérito de Freud, que nos despertou para toda a problemática dos sonhos, habilitando-nos a penetrar nesse mundo de imagens. Sabemos que sua ideia era que os sonhos representavam a distorção de um desejo oculto, não satisfeito, por discordar do consciente. Devido a essa censura, ele surge distorcido para que a consciência não o reconheça, podendo assim, ao mesmo tempo, mostrar-se e viver. Freud nos diz: ´Vamos corrigir por completo essa distorção; seja natural, abandone suas tendências deformadoras, deixe as associações correrem livremente, e aí chegaremos aos fatos naturais`. Meu ponto de vista é totalmente diverso. Freud está procurando os complexos, eu não. Aí está a diferença central. Procuro saber o que o inconsciente está fazendo com os complexos, porque isso me interessa muito mais do que o fato de as pessoas terem complexos. Todos nós os temos; trata-se de um fato muito corriqueiro e desprovido de interesse. É apenas de interesse saber o que as pessoas fazem dos complexos; aí está o que realmente interessa, a questão prática central. Freud aplica um princípio totalmente diferente e oposto, que em lógica é chamado reductio ad primam figuram (redução à primeira figura). Isto é um tipo de silogismo, uma sequência complicada de conclusões lógicas, cuja característica é começar de um juízo perfeitamente sensato, racional, e, através de observações e insinuações sub-reptícias, ir mudando a natureza da primeira assertiva sensata, até atingir a distorção completa, o aspecto insensato. (JUNG, 2004, par. 175) Recordo-me de uma propaganda que mostrava de forma irônica a maneira de como o pensamento freudiano se desenvolvia em análise. Na propaganda o psicanalista abre a porta olha para o paciente e lhe diz: “A culpa é da sua mãe!.”Em seguida, bate a porta na cara do coitado do paciente. Se formos pensar a maneira do raciocínio freudiano,vamos sempre buscar a existência dos complexos na associação livre, e somente isso. A culpa é da minha mãe. E agora? O que eu faço com esta informação? Esta propaganda evidentemente trata de forma lúdica a maneira que o pensamento de Freud tem da psique. Na psicanálise freudiana temos uma linha fixa, um silogismo, do qual segue um exemplo: O amor é cego. Deus é amor. Logo, Stevie Wonder é Deus. Este é um exemplo do que vem a ser um silogismo, uma linha lógica e desastrosa. Para Freud importa menos o conteúdo presente no sonho, ou na fala do paciente, uma vez que ele sempre vai nos remeter, no final de tudo, à nomeação dos complexos – particularmente o de Édipo, e o desejo reprimido. Com isto em mente, citarei o caso e um sonho de uma paciente que atendo, para deixar mais claro a diferença entre associação livre e amplificação. Retomarei este sonho e a sua amplificação mais adiante. Paciente A., 35 anos viúva, não trabalha desde que seu marido morreu há sete anos, vivendo da pensão do falecido marido, depressiva, sem filhos. No sonho, ela dança com o falecido marido, os dois entram em coreografias bem eróticas, ambos ficam com suas partes íntimas à mostra e atritando, sem ter penetração. No fim, o marido ejacula diretamente no chão. Imediatamente, uma menininha entra no salão e aponta para a poça de esperma no solo. Vamos falar sobre o conceito de amplificação. Jung comenta o seguinte: Há uma máxima do Talmude que diz que o sonho é sua própria interpretação. Ele é a totalidade de si próprio. E se julgarmos que há alguma coisa por trás ou que algo foi escondido, não há dúvida de que não o entendemos. Portanto, antes de mais nada, quando os senhores abordarem um sonho, pensem: ´Não entendo uma palavra do que está aqui`. Recebo muito bem essa sensação de incompetência, pois então sei que será preciso um bom trabalho em minha tentativa de entender o sonho. O que faço é o seguinte: Adoto o método do filólogo que está bem longe de ser livre- associação, aplicando um princípio lógico - a amplificação, que consiste simplesmente em estabelecer paralelos. Por exemplo, no caso de uma palavra muito rara, com a qual nunca antes nos defrontamos, tenta-se encontrar passagens de textos paralelos, se possível, aplicações paralelas, onde a palavra ocorra. Aí tentamos colocar a fórmula que adquirimos através dos conhecimentos de outros textos frente à passagem que nos trouxe dúvida. Se ela se tiver, então, tornado legível, poderemos dizer: ´ Agora é fácil compreendê-la. ` Foi assim que aprendemos a ler hieróglifos e inscrições cuneiformes, e dessa mesma forma poderemos ler os sonhos. (JUNG, 2004, par.172, 173) Como se pode ver, a amplificação é uma técnica em busca de se decifrar uma linguagem oculta e ou obscura. A associação livre freudiana acaba por ser uma técnica que visa atestar uma verdade teórica. Na livre-associação psicanalítica, já sabemos previamente o que iremos encontrar quanto aos conteúdos da psique. Na amplificação, buscamos uma mensagem e ou conteúdo expresso na linguagem simbólica dos sonhos, no discurso do paciente e na sua dinâmica de funcionamento, conteúdo este que não conhecemos previamente.A amplificação tem uma utilidade prática e não apenas nominal do conteúdo que foi amplificado, pois buscamos a dinâmica do complexo, o modo como atua na psique do paciente e em sua vida cotidiana, e não apenas nomeá-lo ao sujeito. Vamos agora procurar entender a ajuda que a amplificação traz para o paciente Na perspectiva junguiana, compreendemos que a psique se expressa através de uma linguagem oculta, a linguagem simbólica. A incerteza inicial do significado e a certeza da natureza arquetípica são referências a que o analista deve sempre se ater no trabalho com a amplificação. Jung comenta o seguinte sobre o fundamento da psique e a necessidade de conhecimento do analista a respeito de mitologias: Devemos admitir, porém que os conteúdos arquetípicos do inconsciente coletivo assumem muitas vezes uma forma grotesca e horripilante em sonhos e fantasias. Até mesmo a consciência mais racional não é imune aos sonhos e fantasias. Até mesmo a consciência mais racional não é imune aos sonhos de angústia que podem perturbá-la profundamente, ou às representações obsessivas e angustiantes. A elucidação psicológica dessas imagens que não podem ser ignoradas ou caladas conduz logicamente às profundezas da fenomenologia histórico-religiosa. A história das religiões em seu sentido mais amplo (incluindo mitologia, folclore e psicologia primitiva) representa o depósito do tesouro das formas arquetípica; o médico colhe nesse domínio paralelos auxiliares e material comparativo eloqüente destinado a tranquilizar e esclarecer a consciência gravemente perturbada em sua orientação. É indispensável, no entanto dar às fantasias emergentes, estranhas à consciência e aparentemente ameaçadoras em relação a ela, um contexto que as aproxime da compreensão. Como a experiência mostra, isto ocorre favoravelmente através do material mitológico comparativo. (JUNG, 1994, par.38) Quando estamos lidando com um símbolo estamos lidando com um conteúdo imagético que, por ser de natureza arcaica, carrega consigo uma série de significados, daí a importância da amplificação. Duas pessoas podem ter o mesmo sonho, porém, o significado será sempre diferente, uma vez que são sujeitos distintos, e estamos falando do relacionamento dinâmico dos complexos com o resto da psique. Muitas vezes o sujeito pode sonhar com o mesmo símbolo em sonhos diferentes e ainda assim o significado ser outro naquele momento da vida daquele indivíduo. O símbolo é um elemento obscuro precisa ser esclarecido e conscientizado para que mediante a compreensão de sua mensagem, a consciência possa integrar o conteúdo necessário e continuar a ter perseverança e discernimento de suas ações, em sua jornada. Compreendemos então que, os mitos se tornam ferramenta de trabalho do terapeuta, o que justifica seu estudo. Neste outro texto, Jung fala sobre o fundamento da psique: A psicologia moderna tem a vantagem de ter conhecido uma área de fenômenos psíquicos que sem dúvida representa a matriz de toda mitologia: sonhos visões, fantasias e ilusões. Aqui ela não só encontra frequentes analogias com temas míticos, mas também tem a oportunidade ímpar de observar ao vivo e analisar a origem e o funcionamento de tais conteúdos. No sonho de fato podemos demonstrar a mesma ambiguidade e multiplicidade aparentemente ilimitada das figuras. Por outro lado, estamos em condições de verificar certas leis ou pelo menos regras, que tornam a interpretação um pouco mais segura. Sabemos, por exemplo, que os sonhos compensam o estado consciente, isto é, completam o que nele falta. Este conhecimento, importante para a interpretação dos sonhos, também vale para o mito. Da pesquisa dos produtos do inconsciente resultam ainda alusões claras e estruturas arquetípicas que coincidem com os temas míticos, e entre elas determinados tipos que merecem o nome de dominantes: trata-se de arquétipos como anima, animus, ancião, bruxa, sombra, mãe-terra, etc. e as dominantes de ordem do si - mesmo, do círculo e da quaternidade, respectivamente das quatro ´funções` ou dos aspectos do si - mesmo ou do consciente. Percebe-se sem dificuldades que o conhecimento destes tipos facilita muito a interpretação dos mitos e ao mesmo tempo a coloca no chão a que pertence, isto é, na base da psique. (JUNG, 1995 par.611) A base de todo funcionamento da psique, que tem como matriz o inconsciente, é imagética ou mitológica, e a relação compensatória que o inconsciente estabelece com a consciência frequentemente se manifesta através das imagens simbólicas que nosaparecem em sonhos ou fantasias. Quando observamos e compreendemos tais imagens, facilitamos o entendimento do paciente sobre quem ele é em sua totalidade. Tanto na interpretação da dinâmica arquetípica como na interpretação dos sonhos, o terapeuta também conta com regras definidas, que o auxiliam bastante em seu trabalho. Ao conhecer a dinâmica arquetípica, podemos entender quais as compensações e projeções feitas pelo inconsciente do paciente, que muitas vezes relata que se sente perdido. Desta forma, o perceber, sentir, pensar e interpretar do terapeuta podem atuar como uma grande ajuda para o paciente. Neste texto, Jung fala sobre a importância do pensar do analista: Quando um analista tem que lidar com um arquétipo, é bom que comece a pensar. Ao tratar do inconsciente pessoal não se tem o direito de pensar, nem de somar nada às experiências do paciente. É possível adicionar qualquer coisa à personalidade de alguém. Você é uma personalidade definida. E o outro também tem vida e estrutura mentais próprias, e por isso mesmo ele é uma pessoa. Mas quando não se trata mais de sua pessoa, quando eu também sou ele, a estrutura básica de sua mente é fundamentalmente a mesma, aí eu posso começar a pensar e fazer associações em seu lugar. É possível até fornecer-lhe o contexto apropriado, pois o paciente está completamente solto e sem orientação, não sabe de onde vem o lagarto caranguejo, nem qual o seu significado; mas conheço essas coisas e posso dar- lhe o material. (JUNG, 2004, par.190) Retomemos o sonho de minha paciente exposto acima. Temos uma conotação sexual e erótica num primeiro momento, o que um psicanalista freudiano provavelmente entenderia como informação suficiente, a partir de sua base teórica a respeito da função dos sonhos. Uma viúva, deprimida, realiza seus desejos através dos sonhos. O que mudará para a paciente saber desta informação? Provavelmente ela já saiba. Falar para ela que era o animus dançando com a consciência e a menininha era o arquétipo da criança divina, também daria na mesma. Então o mito se fez muito importante para a compreensão da mensagem deste sonho. Conhecendo a dinâmica de minha paciente, muito associada com a de uma puella, logo poderia inferir hipoteticamente que o inconsciente irá propor, em algum momento, nos sonhos, algo relacionado a ela amadurecer e se tornar adulta de fato. O termo puella deriva do latim e é o gênero feminino de puer aeternus, em português significa a eterna criança. A dança e o parceiro de dança dela estão ligados ao mito de Dioniso, deus do vinho. Dioniso é uma imagem arquetípica de puer, logo ele só pode estar lá representando a imaturidade e a inconsequência da sonhadora. Mas eu sabia que não era isso, pois o inconsciente já havia mostrado tal mensagem em sonhos anteriores. O sêmen, as sementes caíram no solo. Dioniso também é o deus da agricultura. Ser agricultor exige responsabilidade e trabalho, um investimento de libido com duração temporal definida em respeito aos ciclos da natureza, justamente o que faltava para esta moça. Ela já sabia de sua tendência dionisíaca de ser, mas não sabia que Dioniso era também o deus da agricultura, tampouco eu imaginava que a psique iria utilizar o mito de Dioniso para comunicar algo relacionado a ser adulto ou responsável. Eu lhe contei estas coisas, e a interpretação do mito. No mesmo dia ela se encontrou com seu amigo, para tratar de outro assunto. Ele disse a ela que estaria abrindo um novo negócio e precisaria de alguém que tivesse uma experiência específica – exatamente o tipo de experiência que ela tem - de trabalho. Ela ficou muito feliz e pensando que horas antes estivera falando sobre isso na sessão, lembrou-se naquele momento da interpretação do mito de Dioniso como sendo o deus da agricultura e não somente do êxtase e do entusiasmo. A paciente aceitou a proposta de trabalho. Este é um exemplo de como a amplificação mítica pode ajudar paciente e analista não somente no processo da psicoterapia, como também em sua jornada de individuação. BIBLIOGRAFIA: CAVALLI,Thom F. Psicologia Alquímica – Receitas antigas para viver num mundo novo. São Paulo: Cultrix, 2005. EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. ed. 5. São Paulo: Cultrix, 2007. HOPCKE, Robert H. Guia para a Obra Completa de C.G.Jung. ed.5. Vozes, 2019 JACOBI, Jolande. Complexo, arquétipo, símbolo na psicologia de C. G. Jung. São Paulo: Cultrix, 1995. JACOBI, Jolande. A Psicologia de C.G. JUNG. Uma introdução a obra completa. Petrópolis. Vozes, 2017 JUNG, Carl Gustav. Tipos Psicológicos. Petrópolis. Vozes. 1991. _______________. Psicologia e Alquimia. Petrópolis. 2. ed. Vozes, 1994. _______________. Símbolos da Transformação. 4. ed Petrópolis. Vozes, 1995. _______________. A Natureza da Psique. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1998. _______________.Memórias, Sonhos, Reflexões. 22. ed. São Paulo: Nova Fronteira, 2002. _______________. O Homem e seus Símbolos. 2. ed. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 2008. _______________. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. _______________. Fundamentos de Psicologia Analítica. 12. ed. Petrópolis: Vozes, 2004. LIMA FILHO, Alberto Pereira. O Pai e a Psique. São Paulo: Paulus, 2002. NEUMANN, Erich. História da Origem da Consciência. São Paulo: Cultrix, 1995. VON FRANZ, Marie-Louise, HILLMAN, James. A Tipologia de Jung. 7. ed. São Paulo: 2013 ZACHARIAS, José Jorge Morais. Entendendo os Tipos Humanos. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2006. E-book escrito por Rangel Fabrete psicólogo especialista em psicologia analítica, mestre em psicossomática e coordenador do curso de Extensão em psicologia analítica do Instituto Freedom.
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