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1 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM II Prof. Lair Ferreira de Oliveira Filho LAVAGEM GÁSTRICA A lavagem gástrica é um procedimento que visa preparar o aparelho digestivo para exames ou cirurgias, estancar hemorragias gástricas ou esofágicas usando líquidos gelados e remover do estômago conteúdo gástrico excessivo ou nocivo. Para a realização deste procedimento faz-se necessário inicialmente a passagem de uma sonda oro ou nasogástrica de grosso calibre. Em se tratando do conteúdo gástrico nocivo, tal procedimento visa evitar que substâncias tóxicas ingeridas cheguem ao intestino delgado, local onde ocorre a maior absorção devido à grande superfície absortiva. A absorção frequentemente é rápida, particularmente para substâncias lipossolúveis. Portanto, remover uma toxina do estômago pode diminuir a quantidade total absorvida e, por isso, reduzir sua toxicidade sistêmica. Apesar do procedimento de sondagem aparentar ser relativamente simples, esta técnica demanda conhecimento cientifico e habilidade técnica na medida em que não está isento de riscos. As complicações mais comuns são decorrentes da introdução incorreta, do mau posicionamento da sonda, da retirada acidental, do tipo de fixação externa e do tempo de permanência da sonda e incluem escoriações, hiperemias, perfurações no sistema digestivo, infecções nas vias aéreas superiores e inferiores, náuseas, distensão abdominal e obstrução parcial ou total da sonda. O procedimento também se associa com hipóxia transitória em pacientes prostrados, e pode resultar em aspiração pulmonar. A introdução de grande quantidade de líquido no estômago pode causar distensão gástrica com consequente abertura do piloro (pequena abertura que faz a comunicação entre o estômago e o duodeno) e extravasamento de conteúdo para o intestino delgado. Ou seja, ao invés de reduzir a fração de substância tóxica absorvida, o procedimento pode aumentar a absorção da droga, um processo associado com o rápido início de sintomatologia 2 Dentro da equipe de enfermagem, compete ao enfermeiro a realização de procedimento de maior complexidade conforme o disposto na Lei 7498/863. Ainda em relação ao procedimento de sondagem, as Resoluções COFEN 453/2014 e 619/2019 estabelecem que compete ao enfermeiro estabelecer a via de nutrição enteral e a sondagem nasogástrica. Quantidade de soro fisiológico ou água na lavagem gástrica A quantidade média de soro ou água é: Adultos: 6 a 8 litros de soro fisiológico; Crianças: 5 a 10 ml por kg até no máximo de 250 ml por vez. Deve-se atentar para não administrar quantidades maiores pois há risco de distensão gástrica. O volume aumentado de líquido pode “empurrar” o toxicante para o duodeno. Para evitar essa complicação, basta administrar 250 ml por vez. Contraindicações ■ pacientes com depressão do SNC (fazer proteção de vias aéreas antes do procedimento); 3 ■ ingestão de cáusticos, corrosivos, hidrocarbonetos ou derivados de petróleo. Exceção: se a toxicidade sistêmica do composto ingerido suplantar os malefícios do procedimento; ■ pacientes com risco de perfuração gastrintestinal; ■ distúrbios hidroeletrolíticos; ■ ingestão clinicamente insignificante ou de substâncias pouco tóxicas; ■ Saetta afirma que em crianças é preferível a indução de emese, tendo em vista o diminuto calibre das sondas a serem usadas, a falta de cooperação do paciente e a agressão psicológica que o ato poderia causar. Controvérsias Sobre a Efetividade da Lavagem Gástrica Kulig et al. , em estudo prospectivo envolvendo 592 casos de autointoxicação, concluíram que técnicas de esvaziamento gástrico na abordagem inicial da superdosagem medicamentosa são geralmente desprovidas de benefício, a não ser que a lavagem gástrica seja realizada com até uma hora da ingestão. Em contraposição, Tandberg et al. concluíram que a lavagem gástrica é o método conhecido de descontaminação mais eficiente no que tange à recuperação de quantidade de substância ingerida (45% comparado a 28% na êmese). Bateman afirmou que um equilíbrio precisa ser alcançado entre situações em que o procedimento é desprovido de valor (ex.: em doses medicamentosas não tóxicas) e naquelas em que seu papel é incerto porque os estudos realizados até o momento não abrangeram suas particularidades (ex.: na superdosagem de aspirina, em que há retardo do esvaziamento gástrico e também na superdosagem de compostos não adsorvidos pelo carvão ativado). Eddleston et al. mostraram que a lavagem gástrica realizada em localidades pobres, sem estrutura adequada e sem equipe bem treinada é perigosa; realizaram um estudo em seis hospitais do Sri-Lanka, acompanhando 14 lavagens gástricas em 23 dias. Três pacientes morreram durante o procedimento ou pouco após sua realização e sete aspiraram conteúdo gástrico, desenvolvendo pneumonia. Dessa forma, concluíram que seja considerada a lavagem para poucos pacientes: naqueles com ingestão de dose fatal do tóxico, que deram consentimento verbal ou estão sedados e intubados. 4 Importante Sempre se deve pesar riscos e benefícios do procedimento em cada caso. O alvo da terapêutica é o paciente e não a simples remoção da substância tóxica. Cuidados de enfermagem / Tomada de decisão Prevenção de broncoaspiração – Fazer a aspiração naso-traqueal ou realizar o teste da ausculta ao inserir 10 ml de ar; Verificar insuficiência respiratória – A presença de laringoespasmo é uma complicação grave da sondagem nasogástrica e por isso exige atenção médica imediata; Manter o decúbito elevado para diminuir risco de broncoaspiração; Prevenção de distensão abdominal – Inserir a quantidade de líquido recomendada; Verificar posicionamento da sonda – Fazer a aspiração naso- traqueal ou teste da ausculta ao inserir 10 ml de ar. Fazer reposicionamento; Observar se a quantidade de líquido drenada é a mesma quantidade administrada. Caso não seja, pode ter ocorrido distensão gástrica; Procedimento Materiais Necessários ► Luvas de procedimento ► Sonda nasogástrica ► Seringa de 20 ml ► Estetoscópio ► Micropore ► Tesoura ► Gaze ► Xilocaína gel ► Frasco para drenagem do conteúdo gástrico ► Toalha ► Soro fisiológico. Etapas do Procedimento 5 ► Higienizar as mãos. ► Preparar material e ambiente. ► Paramentar-se adequadamente. ► Explicar para o paciente/família os riscos/benefícios e objetivos do procedimento. ► Realizar a inserção de sonda nasogástrica. ► Preparar e administrar a solução conforme prescrição médica. ► Deixar a sonda fechada por tempo determinado ou iniciar drenagem, conforme a indicação. ► Manter a sonda nasogástrica ou retirá-la conforme necessidade. ► Organizar os materiais e encaminhá-los ao destino adequado. ► Higienizar as mãos. ► Registrar a quantidade e características do conteúdo drenado. Procedimento Operacional Padrão (SONDAGEM NASOGÁSTRICA) MATERIAIS NECESSÁRIOS ► Bandeja contendo sonda nasogástrica em calibre adequado ► Frasco coletor ► Seringa de 20 ml ► Pacote de gaze ► Toalha de rosto ► Lubrificante ► Micropore para fixação ► Estetoscópio ► Tesoura. ETAPAS DO PROCEDIMENTO ► Higienizar as mãos. ► Preparar material e ambiente. ► Explicar ao paciente/família os benefícios e objetivos do procedimento. ► Paramentar-se adequadamente. ► Posicionar o paciente em fowler (45º) sem travesseiro. ► Medir a sonda da ponta do nariz ao lóbulo da orelha até o apêndice xifóide e daí mais 3 cm marcando com esparadrapo. ► Lubrificar a ponta da sonda. ► Passar a sonda através de uma das narinas solicitar ao paciente que auxilie (quando possível) deglutindo a sonda quando passar pela faringe. Pode haver náuseas e vômitos, portanto deixe-o repousar alguns minutos. ► Introduzir a sonda até a porção marcada com o esparadrapo. ► Verificar se a sondaestá bem posicionada no estômago: aspirando o conteúdo gástrico e injetando 20 ml de ar através da sonda e com o estetoscópio sobre o epigástrio, auscultar a presença de som estridente. 6 ► Adaptar a sonda no frasco coletor. ► Ajustar a sonda na posição correta e fixá-la com micropore sobre a pele do paciente (região nasal). ► Identificar a data da sondagem com um pequeno pedaço de esparadrapo. ► Recolher o material. ► Retirar as luvas e lavar as mãos. ► Anotar o procedimento realizado registrando intercorrências, sinais de resíduos e posicionamento da sonda. Sonda Nasogástrica (também chamada de Levine). Possui numeração 10, 12, 14, 16, 18, 20 e 22. Referências Saetta JP, Gastric decontaminating procedures: is it time to call a stop?. J R Soc Med. 1993; 86(7): 396-9. 4. Kulig K, Bar-Or D, Cantrill SV, Rosen P, Rumack BH. Management of acutely poisoned patients without gastric emptying. Ann Emerg Med. 1985;14:562-7 5. Tandberg D, Diven BG, McLeod JW. Ipecac-induced emesis versus gastric lavage: a controlled study in normal adults. Am J Emerg Med. 1986;4(3):205-9 6. 7 Bateman DN, Gastric decontamination-a view for the millennium, Accid Emerg Med. 1999, 16:84-6; 7. Eddleston M, Haggalla S, Sudarshan K, Senthilkumaran M, Karalliedde L, Ariaratnam A, Sheriff MHR, Warrell DA, Buckley NA. The Hazards of Gastric Lavage for Intentional Self-Poisoning in a Resource Poor location, Clin Toxicol. (Philadelphia). 2007; 45(2):163-43
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