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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE AGRONOMIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA – CIÊNCIAS DO SOLO
RESUMO
IMPORTÂNCIA E PAPEL DOS ANELÍDEOS DO SOLO
Camilla Santos Reis de Andrade da Silva
Seropédica-RJ
Maio/2019
O nome “anelídeo” vem do latin anellus, que significa anel, numa alusão aos segmentos anelares que podem ser vistos neste tipo de animal. Os anelídeos pertencem ao filo dos Annelida cuja principal caracteristica é a quantidade de cerdas que cada um dos organismos possuem. Reúnem animais invertebrados, de corpo mole e formado por anéis ou segmentos, muitos vivem na água e outros na terra úmida. Existem três grupos de anelideos: oligoquetos, poliquetos e aquetos/hurudíneos. A classificação destes grupos é baseada sobre a presença e ausência de cerdas: a) Os oligoquetos apresentam poucas cerdas por anel, sendo a minhoca e os enquitreídes são os principais representantes deste grupo; b) Os poliquetas possuem muitas cerdas em cada segmento, os nereis representam este grupo; c) Os aquetos/hirudíneos não possuem cerdas, neste grupo está a sanguessuga (Amabis e Martho, 2006). Dentre estes grupos, os oligoquetos (minhocas e enquitreídes) são os que exercem infuências positivas nos atributos físicos, químicos e biológicos do solo.
O conhecimento do comportamento animal é fundamental para a obtenção de melhores informações de como esses invertebrados atuam e se comportam no solo. Já que exercem serviços ecossitêsmicos de grande importânica para este recurso natural (Correia e Oliveira, 2006; Parron et al., 2015).
Os enquitreídes são microanelídeos saprófagos, comumente encontrados na maioria dos solos, desde que haja umidade, matéria orgânica e oxigenação suficientes. São importantes para a decomposição da matéria orgânica, sobretudo nas camadas mais superficiais do solo, assistindo na ciclagem dos nutrientes. Contribuem para a microporosidade do solo, devido ao hábito de produzir galerias verticalmente para seu deslocamento (Jänsch et al., 2005; Amorim et al., 2009). 
Na classificação da fauna do solo, os enquitreídes são inseridos no grupo da mesofauna por possuírem diâmetro de 0,2 a 2 mm (Aquino, et al., 2011). É um impotante bioindicador em diferentes usos do solo na Europa, mas ainda pouco se conhece no Brasil, a maior parte dos estudos com esses organimos concetram-se no Paraná. Apesar da sua importância, o conhecimento sobre a ecologia e biologia são extremamente escassos. Jänsch et al., (2005), afirmam que os enquitreídes foram negligenciados na biologia do solo até os últimos 50 anos, o que fez com que muitos aspectos de sua taxonomia bem como seus serviços ecossistêmicos começassem a ser conhecidos recentemente.
As minhocas, assim como enquitríedes também possuem papéis importantes para o solo. A grande maioria habita nas camadas superficiais, geralmente até 30 a 50 cm no perfil do solo (Brown e James, 2007). De acordo com Correa e Oliveira (2006), os tipos funcionais de minhocas presentes no solo são de acordo com o substrato utilizado como alimento e/ou moradia. Estes organimos alimentam-se de resíduos vegetais em diferentes estágios de decomposição e da microflora. Também podem ingerir seus próprios excrementos, bem como as fezes de outros organimos. Quanto à forma de alimentação, as minhocas podem ser classificadas em: a) Geófagas, ingerem e/ou transportam o solo, movendo-o no perfil; b) Detritívoros, são as que se alimentam próximo a superfície do solo, de raízes, plantas mortas e resíduos vegetais (Parron, et al.,2015).Vale ressaltar que ambas as espécies de minhocas alimentam-se de material orgânico e mineral. No entanto, as dretívoras consomem preferencialmente resíduos orgânicos, e as geófagas partículas mineiras (Steffen, et al.,2013).
Em relação a moradia e a estratificação vertical, as minhocas são classicadas em: a) Endogéicas: são espécies geófagas, habitam os horizontes minerais do solo, são maiores, menos pigmentadas, possuem maior ciclo de vida, entre 3 a 7 anos; b) Anécicas: são espécies dretitívoras, constroem galerias verticais permanentes, alimentam-se de resíduos em estágios de decomposição na superfície, transportando-os para o interior do solo, e assim aceleram a decomposição (James, 2000; Lourenço, 2014); e c) Epigéicas: são espécies detritívoras, vivem na superfície do solo (0 a 10 cm) e alimentam-se de matéria orgânica em etapas primárias ou intermediárias de decomposição. Possuem curto ciclo de vida, geralmente entre 2 a 3 anos, rápido crescimento e rápida reprodução. Seus dejetos possuem alto teor de substâncias húmicas (Bouché, 1977; James, 2000). Estas classificações fornecem informações sobre os efeitos e alterações que atividade destes organismos provocam no solo.
Na classificação da fauna do solo, as minhocas são inseridos no grupo da macrofauna por possuirem diâmetro de 2 a 20 mm (Aquino, et al., 2011). De acordo com Beare et al. (1995), as minhocas representam entre 40% a 90% da biomassa da macrofauna na maioria dos ecossistemas tropicais. E a zona do solo influenciada pela ação das minhocas chama-se drilosfera.
As minhocas são consideradas “engenheiras do escossistemas”, pois suas atividades no solo geram estruturas biogênicas (galerias, ninhos, câmeras e bolotas fecais), que modificam as propriedades do solo, bem como a disponibilidade recursos para outros organismos. Estas estruturas biogênicas são geradas à partir da ação de movimentação e a ingestão de partículas do solo pelas engenheiras (Parron, et al., 2015). Estas estruturas influenciam postivamente as taxas de escorrimento e infiltração de água e a capacidade de armazenamento de água no perfil do solo. A biopertubação também afeta outros processos ecossistêmicos, inclui-se a formação de camadas edáficas (pedogênese) e a estruturação de agregados. Uma maneira de avaliar a contribuição de fauna a esses processos é através da avaliação da proporção de agregados biogênicos (cropólitos de minhoca) no solo (Lee e Foster, 1991).
Os agregados biogênicos diferem dos fisiogênicos, sendo os primeiros são resultado do processo de ingestão de solo e resíduos orgânicos pelas minhocas. São estáveis e resistentes a ciclo de umedecimento e secagem do solo, que confere maior resistência a erosão hídrica e eólica (Oyedele et al., 2006). Segundo Lavelle, 1997, o processo de digestão de partículas orgânicas e minerais tem grande influência pela associação mutualística com a microflora ingerida. A simbiose entre o trato digestivo da minhoca e a microflora do solo permite as mesmas se alimentem de substratos complexos. E através disto, os carpólitos são ricos em matéria orgânica estabilizada.
Em diferentes classes de solo em Areia /PB, Neto et al (2010) compararam esse tipo de agregado aos fisiogênicos em relação aos atributos físicos e químicos. Os autores concluíram que estes agregados biogênicos contribuem mais eficientemente na proteção física da matéria orgânica do solo, reduzindo sua taxa de decomposição e elevando o potencial de sequestro de carbono pelo solo. E observaram que os coprólitos possuem melhor qualidade dos atributos químicos, representada por maiores valores de pH e teores de cátions, fósforo, carbono orgânico, e menores teores de alumínio e acidez trocável em comparação aos fisiogênicos. Desta forma, os autores evidenciaram esses resultados como um reflexo da atividade biológica na gênese dos agregados biogênicos. Outros estudos também constataram a importância e papel destes agregados em agroecossistemas (Fiuza et al. 2011). 
Outo papel importante é a vermicompostagem, que consiste em um processo de reciclagem de resíduos orgânicos por meio da criação de minhocas e da microflora que vive em seu trato digestivo com intuito de gerar adubo orgânico (húmus), o qual é capaz de melhorar as condições físicas, químicas e biológicas do solo, e possui altor valor na produção de mudas. (Oliveira et al., 2011). Também apresentam carcaterísticas interessantes para serem utlilizadas como bioindicadores do solo por serem sensíveis às mudançasinduzidas por atividades antrópicas e naturais ao solo. (Bronw e Dominguez, 2010). São capazes de acumular metais pesados em seus tecidos e são responsivas à muitos agrotóxicos. Além disso, são reconhecidas pelos agriculturores como indicadores de “terra boa” (Steffen et al., 2013; Lavelle et al.,1994).
Referências Bibliográficas
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