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O surgimento da ciência moderna e a história: as 
contribuições de Galileu Galilei e Francis Bacon. 
 
 
Ana Aparecida Arguelho de Souza* 
 
Seja dito claramente que não pode ser formulado um juízo correto nem 
sobre o nosso método nem sobre suas descobertas, pelo critério corrente 
- as antecipações; pois não nos podem pedir acolhimento do juízo cuja 
própria base está em julgamento. 
Francis Bacon 
 
Resumo: O presente trabalho é uma tentativa de evidenciar que o surgimento da ciência 
moderna está organicamente ligado ao projeto burguês de construção do modo capitalista de 
produção. Inicialmente, procurou-se delinear a base material feudal e a capitalista sobre as quais 
se travou o combate histórico que levou a filosofia antiga ceder lugar à ciência moderna. A partir 
daí tentou-se dar concretude histórica à discussão, evidenciando o percurso de Galileu Galilei e 
Francis Bacon, cientistas burgueses cuja contribuição científica foi decisiva para o 
desenvolvimento das forças produtivas capitalistas nos primórdios desse modo de produção. 
Palavras chave: filosofia, ciência, capitalismo. 
 
Abstract: The current work is an attempt of evidencing that the arising of the modern 
science is organically linked to the burgher project of construction the way of captalist 
production. Inicially, the material, feudal and capitalist bases sought to delineate about which the 
historical combact was formed and led the ancient philosophy to give way to the modern science. 
Afterwards, historical specificity was proposed to give discussion, highlighting the trajectory of 
Galileu Galilei and Francis Bacon, burgher scientists whose scientific contributions were decisive 
to the development of productive capitalism forces in the early of this way of production. 
Key words: philosophy, science and captalism. 
 
 
Introdução 
 
 
O propósito deste artigo é proceder a uma reflexão acerca de como a ciência, tal como ela é 
concebida na modernidade, nasceu por uma demanda do modo capitalista de produção, ligada ao 
seu projeto de construção, evidenciando alguns aspectos significativos da teoria de Francis Bacon 
e Galileu Galilei como pensadores que estiveram organicamente ligados a esse arrojado 
empreendimento orquestrado pela burguesia nascente. A história, tal como a concebeu Marx, é 
vista como movimento resultante de necessidades humanas e de luta por busca de respostas que 
as satisfaçam. Em confronto estão duas civilizações, a feudal, comandada pelos teólogos e a 
crença no poder divino, e a moderna, comandada pela burguesia e a crença no poder dos homens. 
Essa é uma perspectiva que possibilita a apreensão do surgimento e da evolução da ciência 
Revista Ágora - www.fes.br/revistas/agora/ojs/ - Campo Grande, v.1 n.4. 2005 Página 1 
moderna como elemento cuja proposta era a de transformar e não apenas de interpretar a 
realidade, a serviço de um projeto social específico. 
Assim, por ciência moderna, no período de evolução do feudalismo para o modo capitalista 
de produção, entenda-se a forma adquirida pela filosofia, agora conhecimento produzido pela 
razão humana em contato com a natureza, através da observação e da experimentação. Surgida de 
uma necessidade concreta da classe burguesa em ascensão, de colocar a natureza a serviço de seu 
projeto político e social, ao assumir essa nova forma, traz no seu interior a transformação de toda 
a filosofia que até então havia servido de sustentáculo ao feudalismo. Para que se compreenda 
essa transformação da filosofia é necessário enunciar a base material sobre a qual ela se 
desenvolveu. 
 
As condições materiais de produção da ciência 
 
Do ponto de vista da base material, o modo feudal de produção que configura a Europa dos 
séculos X a XIII caracteriza-se por uma economia essencialmente agrária, assentada no trabalho 
do servo que retira da terra seu sustento e o do senhor feudal. Este constitui o elemento 
fundamental da classe dominante por deter a posse das terras e dos instrumentos essenciais à 
produção. 
Tal forma de exploração necessita, para perpetuar-se, de uma justificativa, que é fornecida 
pela Igreja Cató1ica. Esta, já no período escravista, “trai os ideais confusos mas rebeldes dos 
explorados de Israel, que encarnou em seus primórdios”
 
(PONCE, 1983, p.87), conforme afirma 
Anibal Ponce. Sob o Feudalismo, aparece como a grande Senhora Feudal, possuidora de vastas 
extensões de terra e detentora do monopólio da produção intelectual. Tomando ao mundo grego a 
filosofia de Platão e Aristóteles, dela se apropria para construir a Escolástica, teologia filosófica 
com que justifica a ordem feudal vigente. Há uma interessante semelhança do “mundo das idéias” 
de Platão com o Paraíso cristão e da “causa primeira” de Aristóteles com a forma de um Deus, que 
é causa primeira de todas as coisas, no ideário escolástico. 
De forma que a filosofia antiga, devidamente apropriada pela Igreja Feudal, permite a 
representação de um sistema social baseado na existência de Deus como explicativo, não só dos 
fenômenos naturais, mas até mesmo das injustiças sociais. Ainda no dizer de Aníbal Ponce: 
 
Enquanto o servo sofria sob seu senhor, o cristianismo proclamava que eles eram iguais diante de 
Deus. Descoberta maravilhosa que respeitava o status quo terreno, enquanto não chegava o dia de 
alterá-lo, mas no céu...
 
(PONCE, 1983, p.87) 
 
No feudalismo, o conhecimento e a própria divisão do trabalho são fundados na vontade 
divina, de sorte que, revoltar-se contra a ordem estabelecida é se colocar diretamente contra Deus. 
É o primado da Fé sobre a Razão, sustentado pela concepção geocêntrica de universo, de 
Ptolomeu, e justificado pelas “verdades bíblicas”, que colocam Deus na origem de todas as coisas 
e o homem, seu semelhante, no centro do Universo. 
Entretanto, no interior da sociedade feudal começa a surgir a negação do modo feudal de 
produzir a vida, com o aparecimento dos burgos, pequenas cidades onde se desenvolve o 
comércio, em decorrência da produção de excedentes possibilitada por um certo desenvolvimento 
tecno1ógico e a conseqüente ampliação da produção agrícola. 
Revista Ágora - www.fes.br/revistas/agora/ojs/ - Campo Grande, v.1 n.4. 2005 Página 2 
A essas inovações técnicas, que permitiram a produção de excedentes destinados às trocas 
comerciais, soma-se o crescimento demográfico, que acarreta o aumento numérico da força de 
trabalho. 
Tais fatores combinados permitiram a liberação de parte da população para ocupar-se com 
atividades econômicas não vinculadas diretamente à terra como o artesanato, cuja produção 
mercantil (para fins de troca) constitui forte elemento de desagregação das formas feudais de 
produção e começa a dar a forma do novo modo de produção, o capitalismo. Este é calcado numa 
divisão do trabalho um pouco mais acentuada e num tipo de propriedade diferente da feudal. 
Esse deslocamento das forças produtivas do campo para a cidade pode ser concebido: 
 
Como a separação entre o capital e a propriedade da terra, como o começo de uma existência e de um 
desenvolvimento do capital independente da propriedade da terra, como o começo de uma 
propriedade que tem por base somente o trabalho e a troca. (MARX; ENGELS, 1987, p.79) 
 
Nos burgos, os artesãos, que são também comerciantes (o artesão que produz é o mesmo 
que comercializa seus produtos), se organizam em “corporações de ofício”, associações ainda de 
caráter feudal, que aos poucos passam a controlar o sistema produtivo. O explicativo da 
existência das corporações está na Ideologia Alemã: 
 
A concorrência dos servos fugitivos que não cessavam de afluir às cidades e, com isso, a necessidade 
de uma força militar urbana organizada, o vínculo da propriedade em comum com um determinado 
trabalho, a necessidade de edifícios comuns para a venda de mercadorias – numa época em que os 
artesãos eram também comerciantes- e a conseqüente exclusão de pessoas não qualificadas de tais 
estabelecimentos, a oposição de interesses entre os diferentes ofícios, a necessidade de proteger o 
trabalho aprendido a duras penas e a organização feudal de todo o país: estas foram as causas que 
levaram os trabalhadores de cada ofício a se unirem em corporações. (MARX; ENGELS, 1987, p.79) 
 
Nesse momento, o intercâmbio comercial entre as cidades é ainda restrito, dada a frágil 
ligação entre as mesmas e a produção artesanal, de caráter corporativo, ocorrer ainda em pequena 
escala. A divisão do trabalho é pouco acentuada e o capital é também corporativo porque ligado 
diretamente ao trabalho corporativo e, portanto, possuído pelo artesão-comerciante que produziu 
e realizou a troca. 
A evolução da divisão do trabalho se dá na separação entre a produção e o comércio. Como 
exigência da ampliação do capital forma-se uma classe especial de comerciantes, que alarga o 
mercado para além das vizinhanças mais próximas e intensifica as relações comerciais entre as 
cidades. Essas relações, por sua vez, provocam uma nova divisão na produção, em que cada 
cidade explorará, predominantemente, um ramo industrial. E, ainda, essa divisão do trabalho 
entre as diversas cidades traz como conseqüência o advento das manufaturas, ramos da produção 
que, se desenvolvendo à parte do sistema corporativo, substituem gradativamente o trabalho 
artesanal, imprimem um novo ritmo à produção e estabelecem entre as nações uma relação de 
concorrência, na qual a luta pelo alargamento de mercados adquire, então, um significado 
político. 
A necessidade de alargamento de mercados e de conquista de novos espaços produtivos 
explica o estabelecimento do sistema colonial que se desenvolve a partir do século XVI na 
América, como exigência do capital mercantil europeu na busca de formas permanentes de 
reprodução, já que o proveito que retira das formas pré-capitalistas de produção lhe garante a 
Revista Ágora - www.fes.br/revistas/agora/ojs/ - Campo Grande, v.1 n.4. 2005 Página 3 
existência, mas não a perpetuação. Assim, é a colônia, a esfera de ação direta e exclusiva do 
capital, nessa fase de seu desenvolvimento. É nela que o capital pode criar as condições ideais de 
reprodução, inviáveis em território europeu, dadas às relações de propriedade existentes. 
Como ilustra Pedro Alcântara Figueira sobre o capital mercantil português: 
 
Dentro do território nacional português a aristocracia dividia o poder com a burguesia mercantil, 
gerando uma conciliação que impedia a revolução no campo e o desabrochar de relações capitalistas 
de produção. Entretanto, a burguesia tinha as mãos livres para agir fora de Portugal. O mundo 
colonial seria seu campo de ação. (FIGUEIRA; MENDES, 1987, p.22) 
 
Também a Ideologia Alemã ilustra: 
[...] a manufatura e em geral o movimento da produção receberam um enorme impulso através da 
extensão do comércio em conseqüência da descoberta da América e da rota marítima para as Índias 
Orientais. As expedições de aventureiros, a colonização e sobretudo a extensão dos mercados até a 
formação de um mercado mundial que se tornara possível e ampliava cada dia mais provocaram 
nova fase no desenvolvimento histórico. (MARX; ENGELS, 1987, p.88) 
 
É sob essas condições materiais que a nova classe em formação, a burguesia, vai se 
desenvolvendo e consolidando. E, ao longo do seu amadurecimento, começa a perceber que tem 
poder sobre a natureza; a iniciativa individual começa a ganhar importância e a pesar mais do 
que a vontade divina. Mas o domínio da natureza faz-se necessário sob uma nova ótica, em que a 
experimentação substitui as pré-suposições. O conhecimento se assenta no real que existe, não 
mais no mundo das idéias como em Platão, ou na fé como quer a Igreja, mas no universo físico 
concreto, na natureza. 
 
Galileu Galilei e Francis Bacon 
 
Expressões de diferentes etapas desse momento histórico, surgem Galileu Galilei e Francis 
Bacon. 
Galileu (1564-1642), astrônomo e físico italiano, viveu em Florença ao tempo em que as 
cidades comerciais italianas, após considerável desenvolvimento econômico em função da 
expansão do comércio, entraram em decadência devido ao deslocamento e avanço das forças 
produtivas para a Holanda. 
É, portanto, um representante da fase inicial do capitalismo, o novo modo de produção que 
desponta com a burguesia. É o arauto dessa nova ordem social fundada numa nova divisão do 
trabalho e expressa cientificamente na teoria heliocêntrica, de Copérnico, que se contrapõe 
frontalmente ao sistema ptolomaico, justificador da imobilidade da terra e, portanto, da 
preservação do modo feudal de produção. 
Na peça Galileu Galilei, Bertolt Brecht expressa, de modo magistral, esse momento : 
 
Muros e casas, tudo parado! Há dois mil anos a humanidade acreditou que o sol e as estrelas do céu 
giram em torno dela. O tempo antigo acabou e agora é um novo tempo. E a terra rola alegremente em 
volta do sol, e as mercadoras de peixes, os comerciantes, os príncipes, e mesmo o papa, rolam com 
ela. (BRECHT, 1978, p.15) 
 
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A comprovação da teoria heliocêntrica só foi possível com a utilização do telescópio, como 
instrumento avançado para a observação científica. Aqui, a nova ciência da natureza (filosofia 
natural) é a matemática. 
 
A filosofia está escrita nesse grandíssimo livro que continuamente está aberto diante de nossos olhos 
(eu digo, o Universo), mas não se pode entender se antes não se aprender a entender a língua e os 
caracteres em que está escrito. Está escrito em língua matemática e os caracteres são triângulos, 
círculos e outras figuras geométricas, e sem tais meios é impossível entender humanamente algo a seu 
respeito; sem eles vaguear-se-á em vão por um obscuro labirinto . (BANFI, 1986, p.84) 
 
A finalidade prática das descobertas de Galileu no campo da astronomia está na origem dos 
estudos que contribuíram para o alargamento das fronteiras marítimas necessárias à expansão do 
comércio. 
Galileu, enquanto homem marcado pelas determinações de seu tempo, nasceu sob o signo 
da Igreja que, nesse momento, aciona o mecanismo da Inquisição para preservar a ortodoxia 
católica, e, por meio da fé ingênua nas “verdades bíblicas”, todo o sistema. Por essa razão, vem 
tentando no decurso de sua vida estabelecer uma relação de concordância entre suas teorias e a 
revelação bíblica, interpretada dentro da tradição católica no contexto do século XVII. Em carta 
enviada ao Pe. Benedito Castelli (seu discípulo e colaborador), ele afirma a infalibilidade da Bíblia 
e argumenta que qualquer contradição entre suas teorias e a fé cristã se assenta em possíveis 
erros de interpretação das verdades bíblicas, decorrentes da necessidade de adaptá-las ao 
“entendimento dos povos rudes e incultos”. Afirma, ainda, que a verdade científica deve servir de 
guia para a interpretação bíblica porque 
 
a natureza inexorável, imutável e indiferente a que suas recônditas razões e modos de operar sejam 
acessíveis ou não ao entendimento dos homens, razão pela qual jamais transgride os termos das leis a 
ela impostas, parece(-me) que o concernente aos efeitos naturais, que a experiência sensível coloca-
nos diante dos olhos, ou que as necessárias demonstrações comprovam, não deva de maneira alguma 
ser colocado em dúvida pelas passagens da Escritura devido ao fato de haver nas palavras uma 
aparência de significado diferente. (GALILEI, _____, p._____) 
 
Mas a publicação, em 1632, de seu Diálogo Sobre os Dois Principais Sistemas de Mundo o 
leva, finalmente, à Inquisição, que o obriga a abjurar publicamente suas teorias e o mantém, 
posteriormente, sob constante vigilância. Confinado pela Inquisição em sua casa de Florença, 
escreve sua obra mais significativa, os Diálogos Sobre as Duas Novas Ciências,que em 1638 é 
publicado na Holanda, então o novo eixo para o qual se desloca e floresce o comércio e, em 
função disso, a cultura. Galileu fica na história como um marco separatório entre o domínio da fé 
sobre a razão e a fé na razão humana. 
Na esteira de Galileu, consolidando no âmbito da ciência, o capitalismo nascente, surge 
Francis Bacon (1561), típico representante da ciência burguesa, já na fase em que na Inglaterra 
desponta a manufatura. Embora contemporâneo de Galileu, expressa um novo tempo do 
capitalismo em razão deste ter-se desenvolvido mais rapidamente na Inglaterra que nas outras 
nações da Europa e pelo fato de que cada etapa do desenvolvimento das forças produtivas cria 
necessidades próprias que exigem respostas específicas. 
Assim, em sua obra fundamental, o Novum Organum, que já no título expressa o 
antagonismo ao Organum de Aristóteles, ele reivindica para a ciência a função transformadora da 
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natureza, ao invés da contemplação pura e simples de uma ordem de coisas eternas e perfeitas, 
supostamente criadas por um ser superior. Para Bacon, a ciência é investigação empírica nascida 
do contato com o real e não oriunda de “verdades inamovíveis”. 
 
Entretanto, para que se penetre nos estatutos mais profundos da natureza é preciso um método mais 
adequado e seguro de abstração, que permita “recolher os axiomas dos dados dos sentidos e 
particularidades, ascendendo contínua e gradativamente, até alcançar, em último lugar, os princípios 
de máxima generalidade”. (BACON, 1980, p.16) 
 
Este é o método empírico que se contrapõe à lógica e ao silogismo próprio do método 
utilizado até então pela Escolástica. Todavia a investigação da natureza para sua transformação 
só alcança seus efeitos com o concurso de instrumentos que regulam e ampliam o movimento das 
mãos e aguçam o intelecto. Se a investigação do real se inicia por meio dos sentidos, os 
instrumentos auxiliam na superação das limitações postas pelo uso puro e simples destes na 
investigação. Isso está ligado, num certo sentido, com a libertação do homem, por meio do seu 
domínio sobre a natureza. A utilização pura e simples dos sentidos, entende Bacon, permite que 
os preconceitos (ídolos) influenciem a razão e deformem a interpretação do real, e em razão disso, 
o homem não atinge o poder que lhe é dado pelo domínio pleno do saber. Daí, a necessidade de 
instrumentos. 
Nesse sentido, com Bacon, a ciência adquire um novo estatuto que supera o dogmatismo da 
“ciência” anterior e se coloca na perspectiva da história, porque encarna a necessidade histórica 
de uma classe que para expandir e consolidar seu comércio e manufaturas tem que lançar mão de 
todas as possibilidades de avanço técnico-científico. Portanto, a base material dessa nova ciência 
encontra-se no processo manufatureiro que, ainda não estando completo, necessita desse avanço 
da tecnologia e da ciência para chegar ao pleno amadurecimento. 
 
Considerações finais 
 
O empirismo de Bacon, como se pôde constatar, é parto de seu tempo e expressa um novo 
estágio das forças produtivas. Por isso, nele já se percebe uma consciência histórica mais 
definida. Galileu, onde a Inquisição tem mão forte, tenta uma concordância entre a ciência e a fé 
cristã, enquanto Bacon acentua em seu Organum a medida exata da filosofia antiga. Elogia e 
respeita-a para o seu tempo, mas critica com veemência os que querem tomá-la no tempo 
presente. O tempo presente, para Bacon, é o da ciência moderna. 
A contribuição que se pretendeu com este artigo é reconstituir as bases materiais que 
fundaram a ciência moderna, com o sentido de evidenciar a natureza histórica de todas as 
questões humanas. Significa dizer que, se nos primórdios do capitalismo a criação da ciência 
constituiu um avanço, a forma como na atualidade os interesses do capital dela têm-se apropriado 
e as intenções com que tem sido utilizada, evidenciam que o seu uso racional tem produzido mais 
danos que benefícios, tanto no campo da ética como no campo da própria materialidade, pois se 
de um lado seu desenvolvimento propicia conquistas, por outro aprofunda a cada dia as 
contradições sociais, dispondo, ao lado dos monopólios de mercado, a profunda miséria gerada 
pelo desemprego que assola o mundo. Isso, de certa forma, nos coloca na posição de Bacon e 
Galileu, como sujeitos da história que, de um ou de outro modo, têm que tomar nas mãos a tarefa 
Revista Ágora - www.fes.br/revistas/agora/ojs/ - Campo Grande, v.1 n.4. 2005 Página 6 
de forjar novos instrumentos e saberes voltados para a construção de uma nova sociedade e de 
uma nova ética, a partir do lugar que ocupamos nesta, comandada pelos monopólios. 
Referências 
 
BACON, Francis. Novum Organum. São Paulo: Editora Abril Cultural, 1980, p.16. (Coleção Os 
pensadores). 
BANFI, Antonio. Galileu. Lisboa: Edições 70, 1986. 
BRECHT, Bertolt. Vida de Galileu. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. Coleção Teatro de B. 
Brecht. Volume V. 
FIGUEIRA, Pedro de Alcântara e MENDES, Claudinei. M.M. Estudo Preliminar. ln: Economia 
Cristã dos Senhores do Governo dos Escravos. São Paulo: Editorial Grijalbo, 1977. 
GALILEI, Galileu. Ciência e fé. Trad. Carlos Arthur R. do Nascimento. Rio de Janeiro: Nova Stella, 
1988. 
MARX, K. e ENGELS, F. A ideologia alemã. 6ª ed., São Paulo: Hucitecc, 1987. 
PONCE, Anibal. Educação e luta de classes. 6ª ed., São Paulo: Cortez, 1983. 
 
*Professora da Faculdade Estácio de Sá de Campo Grande e da Universidade Estadual de 
Mato Grosso do Sul. Mestre em Educação pela UFMS e Doutora em Literatura pela 
UNESP - campus Assis. 
Revista Ágora - www.fes.br/revistas/agora/ojs/ - Campo Grande, v.1 n.4. 2005 Página 7

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