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DIREITO PENAL I – SEMANA 1
A partir dos estudos sobre as missões e características do Direito Penal no Estado Democrático de Direito, é correto afirmar que:
A) A criminalização secundária tem como características a igualdade e a abstração, uma vez que a lei penal é genérica e a todos dirigida.
B) Pode-se afirmar, no tocante aos objetivos e às missões do Direito Penal, que a opinião majoritária considera que a missão do Direito Penal é a de proteger bens jurídicos de possíveis lesões ou perigos, sendo que tais bens devem ser aqueles que permitem assegurar as condições de existência da sociedade, a fim de garantir os aspectos principais e indispensáveis da vida em comunidade.*
C) Destacam-se dentre as missões do Direito Penal, aplacar o clamor popular através de instrumentos simbólicos de punição e aplicar a pena com o escopo único de retribuir ao criminoso o mal causado, pois a pena é intrinsecamente justa.
D) A pena, exclusiva do Direito Penal, como visa ressocializar, seu uso é sempre salutar, devendo ser utilizada mesmo nos conflitos mais simples
E) Na aplicação da lei penal, o julgador, preocupado com a legitimação da atividade jurisdicional e com a adesão social a seus atos, deve orientar suas decisões em conformidade com o consenso geral da população.
COMENTÁRIOS ÚTEIS:
O estado do direito significou um vasto avanço, pois o mesmo representou o afastamento do autoritarismo estatal, a limitação do poder e também a estruturação do estado além da catalogação das leis que representam um ser passivo que deve ser observado por todos os cidadãos.
O Estado de Direito significou um expressivo avanço, pois representou o afastamento do autoritarismo estatal, a limitação do poder, a estruturação do Estado e a catalogação das leis, que passaram a ser passíveis de ser observadas por todos, cidadãos e governantes. Em outras palavras, o próprio chefe de Estado passou a se submeter às normas legais, não cabendo a ele criá-las, tampouco julgar aqueles que a elas infringem. As leis escritas estabeleceram de forma clara os comportamentos que se espera que todos devam seguir, e aqueles atos que todos devem se abster de cometer, definindo-os como crimes.
Todavia, embora o Estado de Direito representasse importante progresso no combate ao absolutismo monárquico, ainda carecia de conteúdo social, na medida em que apenas assegurava uma igualdade entre os homens meramente formal, ou seja, afirmava que todos são iguais perante a lei simplesmente porque assim está escrito, e nada mais.
O Estado Democrático de Direito visa garantir o respeito às liberdades civis, aos direitos humanos e às garantias fundamentais, através do estabelecimento de uma proteção jurídica. Não há a submissão de todos ao império da lei, mas um Estado em que as leis possuem adequação social. Dele, parte um dos principais princípios da nossa Constituição, que é o da dignidade da pessoa humana. De acordo com este, não há a possibilidade de se normatizar atos que não representam nenhum valor de interesse social. E mesmo o operador do Direito deve atentar-se ao princípio da dignidade da pessoa humana e todos os demais subprincípios regradores que dele partem, quando da aplicação da lei.
O Estado Democrático de Direito caracteriza-se pela igualdade entre os homens, visa promover e garantir uma sociedade livre e justa, mediante a aplicação de normas que visem o pleno desenvolvimento de toda a sociedade. Caracteriza-se, ainda, pela prioridade social, proporcionado os necessários meios e as oportunidades para o desenvolvimento de todos os indivíduos não apenas por conta da mera formalidade das leis, mas sim pela adequação destas às necessidades individuais.
Concordo com o Garantismo Penal, acerca do envolvimento da liberdade dos cidadãos e o poder do Estado, onde se garante o Estado Democrático de Direito que deve aumentar a liberdade das pessoas, e de outro lado, diminuir o poder estatal. Contudo, o estado também se submete as próprias leis elaboradas por ele, com isso, deve-se respeito a elas.
A Constituição Federal que está em vigência no Brasil é garantista, pois apresenta muitos princípios elaborados por Ferrajoli, porém na prática não alcança as suas finalidades pretendidas. O garantismo se define em um máximo conforto para os cidadãos que respeitam as normas, sendo assim, lhe dando uma liberdade total, todavia estão em conformidade com o direito. 
Por outro lado é oferecido o mínimo de conforto para o deliquente, retirando parcialmente a sua liberdade. O Direito Penal deve agir e ser aplicado com uma intervenção mínima na sociedade assim, outros ramos devem tentar solucionar e só depois o Direito Penal entrar em ação.
Concluindo, o Direito Penal deve-se preocupar com as lesões relevantes, todavia é preciso ofender um bem jurídico protegido, não se preocupando com a moralidade do indivíduo. A lesão para o Direito Penal entrar em ação deve ser significante, porém a insignificância não deve violar o ordenamento jurídico, tratando com irrelevância a conduta praticada somado ao bem jurídico protegido.
Os principais princípios do Garantismo Penal são: princípio da retributividade, contrária a abolição; princípio da legalidade, não há crime sem lei anterior que o defina; princípio da necessidade, somente buscar o Direito Penal em último caso e tentar resolver o conflito em outro ramo; princípio da lesividade, deve lesar um bem jurídico ou apresentar perigo; princípio da materialidade; princípio da culpabilidade, não se tem crime se não foi por querer; princípio da jurisdicionalidade, o processo está relacionado com as penas criminais que devem ser impostas segundo a Constituição; princípio acusatório, julgador é distinto do acusador; princípio do encargo da prova, o réu não deve provar sua inocência, todavia é a acusação que deve provar sua responsabilidade criminal; princípio do contraditório, a partir do processo o réu tem direito de saber de que lhe é acusado e que ele tem direito de se defender das devidas acusações.
O Direito Penal no Estado Democrático de Direito
Posto que o Brasil é um Estado Democrático de Direito, não mais se admitem critérios absolutistas na definição dos tipos penais, nem no procedimento dos operadores do direito de adequar a conduta ao fato típico. O legislador não tem o livre arbítrio para criar crimes a seu bel-prazer, para satisfazer seu ego pessoal.
Sob pena de atentar materialmente contra a Constituição, ferindo o princípio da dignidade da pessoa humana, toda norma que se pretender criar sem a devida adequação social, mediante a aferição de que realmente necessita ser descrita em tipo penal incriminador por representar anseio popular de proteção a bem jurídico, deverá ser imediatamente descartada. Como exemplo podemos citar um caso hipotético em que se pretende tornar crime o ato de levar as crianças para passear na praça. Vejamos que se não fosse o princípio político constitucional do Estado Democrático de Direito, a criação de uma norma como esta não seria nada impossível.
CAPEZ (2014) assinala que um crime, no Estado Democrático de Direito, para assim ser considerado, deve passar por exigências de ordem formal (somente as leis podem descrevê-los e cominar-lhes penas) e material (o seu conteúdo deve ser questionado à luz dos princípios constitucionais do Estado Democrático de Direito).
De outra banda, o operador do Direito durante sua tarefa de amoldar o fato concreto ao tipo previsto na norma, deverá atentar ao princípio da dignidade da pessoa humana e aos demais que dele partem, sobre os quais discorreremos a posteriori. A saber, subtrair um veículo para si ou para outrem é considerado crime de furto; todavia, muito embora subtrair para si ou para outrem um palito de dentes seja fato amoldado perfeitamente ao tipo previsto no artigo 155 do Código Penal, tal não tem conteúdo material de crime, ou seja, não ofende o sentimento social de justiça, razão pela qual não há necessidade de o Estado intervir para punir uma conduta que simplesmente é insignificante. Em caso de não observância ao princípio de que ora discorremosnessa situação hipotética, tal enquadramento será considerado materialmente inconstitucional.
Princípios decorrentes da dignidade da pessoa humana
À luz dos princípios decorrentes da dignidade da pessoa humana e do Estado Democrático de Direito, o Direito Penal deve ser legítimo e democrático, descrevendo tipos penais de categoria aberta de modo a ser preenchidos com conteúdo em conformidade com os mencionados princípios, sobre os quais passo a discorrer.
1 Princípio da insignificância
Em que pese as normas penais descreverem as ações passíveis de lesar ou ameaçar lesar bem jurídico tutelado, pelo princípio da insignificância os tribunais têm decidido que não cabe ao Direito Penal se preocupar com os chamados “crimes de bagatela”, que são aqueles cujos atos dos agentes são típicos por enquadrar-se perfeitamente ao tipo descrito na norma, mas que, de outra banda, não representam um mínimo de lesividade, ou a lesão causada ao bem jurídico é de tão pequena monta, tão insignificante, que não chega a ofender o sentimento social de justiça. Em outras palavras, a ação praticada pelo agente, além de se enquadrar objetivamente no tipo penal previamente descrito necessariamente deverá possuir conteúdo material de crime para que o Estado possa exercer o direito de punir.
O furto de um aparelho celular de última geração dificilmente se enquadrará nesse princípio. Já o furto de um chiclete, provavelmente sim. O sujeito que furta um chiclete, embora aja de forma típica, não tem sua ação clamada por justiça pela sociedade, ante a total insignificância da lesão por ele praticada ao bem jurídico.
O professor Fernando Capez ensina que não se deve confundir delito insignificante com crimes de menor potencial ofensivo, que são aqueles que são submetidos aos Juizados Especiais Criminais. Estes não são considerados insignificantes, pois têm lesividade perceptível socialmente, e são submetidos a procedimento processual de rito sumaríssimo.
2 Princípio da alteridade
Não cabe ao Direito Penal criminalizar aquelas condutas que foram praticadas pelo agente contra si mesmo. Segundo este princípio, crime só é aquele fato típico capaz de causar lesão a bem jurídico alheio. O subjetivo do agente (seja ele considerado pecaminoso ou imoral), por si só, é incapaz de agredir bem jurídico. Por esta razão a auto-lesão não é considerada crime, nem é possível punir o suicida frustrado, que não conseguiu dar fim à própria vida.
CAPEZ (2014) cita um interessante exemplo. Usar entorpecente não é crime. O tipo penal descrito no artigo 28 da Lei 11.343 diz que é considerado crime o ato de portar entorpecente, e não o uso. Ou seja, o que causa perigo à sociedade é o fato de o sujeito portar droga, pois desse modo a substância estará em circulação, passível de ser comercializada ou entregue para terceira pessoa, alimentando, destarte, a possibilidade do tráfico. Assim sendo, portar substância entorpecente durante o tempo estritamente necessário para ser consumido é fato atípico. Quem usa droga apenas causa males a sim mesmo.
3 Princípio da confiança
Princípio pelo qual uma pessoa não pode ser penalizada por conta de lesão a bem jurídico que causou em decorrência da não observância de cautela ou da imprudência ou imperícia de outrem. Ora, na convivência em sociedade, em família, nas relações de trabalho, todos têm um papel a cumprir, devendo atentar às próprias ações, observando cuidados básicos necessários, e essa circunstância cria na coletividade uma natural confiança de uns para com os outros. Seria muito custoso para a sociedade o advento de lei que obrigasse as pessoas a vigiar o comportamento dos outros. Citemos um caso hipotético de motorista que, trafegando de modo ordeiro na sua preferencial, dentro do limite de velocidade permitido na via, ao passar por cruzamento tem sua trajetória interrompida por outro que não obedece a sinalização de parada obrigatória ali existente e dá causa a acidente do qual o passageiro do veículo que seguia na preferencial vai a óbito. O condutor do veículo que estava na preferencial não teve qualquer culpa no ocorrido, e pelo princípio da confiança, era natural que ele acreditasse que o motorista que chegou ao cruzamento respeitaria a sinalização de parada obrigatória.
4 Princípio da adequação social
Por esse princípio, o fato não poderá ser enquadrado como típico se, a despeito de ser descrito em norma penal, não for considerado pela sociedade, por conta do costume, como um ato criminoso. Em outras palavras, embora haja a descrição do tipo em norma penal, por ser o ato praticado pelo agente aceito socialmente, não deverá o operador do direito amoldá-lo à norma previamente descrita. Um exemplo para bem ilustrar o tema que ora nos ocupa seria o da loteria conhecida por “jogo do bicho”. Princípio criticado por parte da doutrina no sentido de que costume não revoga lei, não estando o operador do direito autorizado a desconsiderar crime previsto em lei vigente.
5 Princípio da legalidade
Não é pacificado o entendimento de que os princípios da legalidade e da reserva legal são sinônimos. Há autores que sustentam que os dois termos são equivalentes. Outra corrente entende que o princípio da legalidade é premissa maior que se divide em três subprincípios, a saber, o da reserva legal, o da determinação taxativa e o da irretroatividade.
CAPEZ (2014) ensina que o princípio da legalidade é gênero que compreende duas espécies: o da reserva legal e o da anterioridade de lei penal; para ele, o subprincípio da reserva legal reserva para o estrito campo da lei a existência do crime e o da anterioridade exige que a lei esteja em vigor no momento da prática da considerada infração penal. A seguir falarei sobre os princípios que, segundo considera-se, desdobram-se do da legalidade.
5.1 Princípio da reserva legal
Assim preceitua o artigo 1º do Código Penal, a saber “Artigo 1º: Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. Norma também inserta na Constituição Federal de 1988, no o artigo 5º, inciso XXXIX da Constituição Federal “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”.
Significa que ninguém poderá ser punido por praticar ato que lei anterior não descreva como crime. O crime só existe se, no momento da ação do sujeito, já estava previamente descrito em norma penal, e em plena vigência, criada pelo poder legislativo. Ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer qualquer coisa que seja, a não ser em virtude de lei.
O célebre pensador iluminista Cesare Beccaria, cujas teorias inspiram os mais diversos juristas, em sua consagrada obra “Dos delitos e das penas” assim se referiu à necessidade de a lei escrita ser anterior à conduta típica praticada pelo agente:
“A primeira consequência desses princípios é que só as leis podem fixar as penas de cada delito e que o direito de fazer leis penais não pode residir senão na pessoa do legislador, que representa toda a sociedade unida por um contrato social. Ora, o magistrado, que também faz parte da sociedade, não pode com justiça infligir a outro membro dessa sociedade uma pena que não seja estatuída pela lei; e, do momento em que o juiz é mais severo do que a lei, ele é injusto, pois acrescenta um castigo novo ao que já está determinado.” BECCARIA (2011), pág. 28
5.2 Princípio da taxatividade
Para ser considerado crime o ato praticado pelo agente necessariamente deve estar descrito em norma penal criada pelo poder legislativo em período anterior à prática da ação. Apenas a lei pode descrever os tipos penais, bem como estipular as respectivas penas. Pelo princípio da taxatividade, as leis devem descrever minuciosa e circunstanciadamente os tipos, individualizando, pois, a conduta criminosa, separando-a de todas as demais que assim não devem ser consideradas, de modo a facilitar a qualquer pessoa da sociedade o perfeito entendimento de seu enunciado. Vale anotar, todavia, que o artigo 3º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro é claro ao estabelecer que ninguém poderá descumprir a lei sob o argumentode que a desconhece.
5.3 Princípio da irretroatividade
Assim preceitua o artigo 2º do Código Penal:
“Artigo 2º: Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.”
A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso XL, dispõe que “A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. Sendo, portanto, bastante claro que em qualquer hipótese, a novatio legis incriminadora (lei nova que define como crime ação praticada pelo agente quando tal ainda não existia) não retroagirá e não incriminará o agente; da mesma forma, novatio legis in pejus, ou seja, nova lei que piora a situação do réu, não retroagirá para prejudicá-lo.
De outra banda, em caso de advento de novatio legis in mellius, ou seja, lei nova mais benéfica para o réu, esta sempre retroagirá em seu benefício. Vale ressaltar que, nesse sentido, caso seja editada lei nova que não mais considera crime o ato praticado pelo réu (abolitio criminis), pelo qual este já foi condenado, tal implicará na extinção do processo e na decretação de sua liberdade.
Importante colocar que esse princípio só é observado nas normas de caráter penal.
6 Princípio da intervenção mínima
Ao legislador, de acordo com esse princípio, caberá a tarefa de apenas descrever como crime aquelas condutas realmente passíveis de ser punidas com sanções penais, de maneira a não estabelecer penas para condutas que podem ser contidas mediante a aplicação de outros ramos do direito, que não as penas. De outra banda, o operador do Direito deverá sempre observar se a conduta praticada pelo agente necessita ser enquadrada em tipo penal, ou seja, se a pendência não pode ser satisfatoriamente resolvida mediante a aplicação de outros ramos menos agressivos do ordenamento jurídico.
7 Princípio da proporcionalidade
Quando o Estado edita uma nova lei penal um temor paira sobre a sociedade, pois tal representa uma nova regra a ser observada ou a descrição de outras condutas que não mais poderão ser praticadas, prevendo uma determinada pena para todo aquele que infringir a novatio legis (nova lei). Ou seja, quando o legislador descreve um novo tipo de crime impõe um ônus a mais para a sociedade.
Entretanto, o lado bom da questão é que essa nova regra a ser observada resulta em uma maior proteção ao bem jurídico tutelado. De maneira que a transformação de uma conduta em tipo penal apenas deverá ocorrer quando resultar em relevante proteção a bem jurídico; em outras palavras, quando a tutela for mais vantajosa para a sociedade que a limitação imposta pela nova lei.
8 Princípio da humanidade
A Constituição Federal de 1988 não admite a tortura e o tratamento desumano ou degradante (artigo 5º, inciso III), especifica os tipos de pena que são proibidos, a saber, a prisão perpétua, a de trabalhos forçados, de banimento e toda e qualquer pena cruel (artigo 5º, inciso XLVII), ou seja, em território nacional, enquanto viger a presente Carta Magna, tais sanções penais em hipóteses alguma serão empregadas (a exceção, para o caso de pena de morte, é a de estado de guerra declarada).
Além disso, preceitua a Constituição que nenhuma pena passará da pessoa do delinquente, ou seja, somente o agente, aquele que praticou o delito é que estará em situação de sofrer a penalidade; jamais terceira pessoa, familiar ou parente próximo.
Nos primórdios da humanidade, antes de se organizarem em civilizações, os homens viviam no chamado estado natural, subsistindo, pois, o jus naturale, condição de liberdade ilimitada em que os indivíduos podiam fazer uso de qualquer meio que entendiam necessário para preservar a própria existência; entre outras palavras “liberdade de fazer tudo aquilo que, segundo seu julgamento e razão, é adequado para atingir esse fim” HOBBES (2009), página 97.
HOBBES (2009) aduz que o homem é mau por natureza, havendo a necessidade de uma força sobre todos, que retire de cada um sua liberdade individual em favor desta; um poder soberano, que deverá atuar para manter a paz social, sendo, assim, o Estado, tal poder sobre os homens, que colocará um fim no "estado natural de guerra de todos contra todos". ROUSSEAU (2007) também falou sobre o contrato social, aduzindo, no entanto, que o homem é bom por natureza, e que o Estado, ao retirar sua liberdade natural, tornou-o escravo e agressivo, devido às inúmeras leis que, no seu modo de entender, privilegiam a classe dominante em detrimento da maioria, instaurando a desigualdade entre os homens.
Sendo o Estado, de acordo com os mencionados teóricos, resultado de um contrato assinado pelos homens, que cederam suas liberdades primitivas e naturais em favor de um poder soberano, cada integrante da sociedade se comprometeu a cumprir as regras estabelecidas, a fim de que a ordem se mantivesse e o direito de todos fosse garantido, sobretudo o de ir e vir. Cabe a este Estado fazer cumprir as regras, e, ao infringimento destas, punir o infrator que violou a liberdade de outrem. Mas qual o limite para a punição? Qual e pena mais apropriada para cada um dos diferentes tipos de crimes? Pode o Estado cometer um crime para punir outro?
A parte da liberdade que foi recusada por todos os homens em favor do Estado representa o “capital” empregado por cada um dos membros signatários nessa soberana empresa, sendo o lucro aferido de tal associação a almejada paz. BECCARIA (2011), observando esta circunstância, lembra que as penas não podem exceder a porção mínima de liberdade depositada por cada indivíduo, sendo qualquer punição que a isto exceda um abuso, jamais um ato de aplicação da justiça:
"O conjunto de todas essas pequenas porções de liberdade constitui o fundamento do direito de punir. Todo exercício de poder que se afastar dessa base é abuso e não justiça; é um poder de fato e não de direito; é uma usurpação e não mais um poder legítimo” BECCARIA (2011), página 27
O mesmo pensador anotou, ainda que a pena tem por única finalidade impedir que o infrator siga cometendo os atos delituosos e induzindo a todos os demais a fazer o mesmo. Para ele, a pena tem que ser certa, ou seja, o cidadão tem que estar ciente de que será punido. Contudo, a sanção jamais deverá ser cruel, pois muitos são os exemplos de nações nas quais as penas, sendo cruéis, não impediram a incidência de prática de crimes ainda mais atrozes. A pena justa, para o teórico, sempre deverá ser aquela que representar para o infrator um mal maior do que o benefício alcançado pela prática do crime. A crueldade de uma pena estabelece uma injusta proporção entre o delito e a sanção. Assinala, ainda, o teórico, que a pena capital apenas é justificável nas situações de desordem e caos social, quando as leis deixam de ser cumpridas coletivamente, e ainda assim quando tal for a única maneira de se impor novamente a ordem e a paz. Em outras palavras, em situação de guerra. A pena de morte, para ele, nada mais é do que um espetáculo macabro; jamais será uma forma justa de punir.
9 Princípio da necessidade e idoneidade
Decorrente da proporcionalidade. De acordo com aludido princípio, sempre que determinada conduta lesiva à sociedade puder ser reparada por outros ramos do direito, que não o penal, deverá assim ser procedido. Quando estiver esta circunstância presente e o critério não for observado, havendo sanção penal incompatível ou desproporcional à conduta praticada, tal padecerá de vício constitucional, por ferir a premissa maior da dignidade da pessoa humana, decorrente do Estado Democrático de Direito.
10 Princípio da ofensividade
Não cabe ao Direito Penal descrever punição para crime que só existe na mente do agente, ou seja, aquele que não foi colocado em prática ou ao menos tentado. Por este princípio, apenas se considera crime a efetiva lesão a bem jurídico. Explicando o princípio, CAPEZ (2014) anota que toda norma penal que nãovislumbrar um bem jurídico claramente definido e dotado de um mínimo de relevância social será considerada nula e materialmente constitucional. Trata-se de princípio ainda discutido no Brasil. Todavia, o referido autor entende que:
“(...) subsiste a possibilidade de tipificação dos crimes de perigo abstrato em nosso ordenamento legal, como legítima estratégia de defesa do bem jurídico contra agressões em seu estágio ainda embrionário, reprimindo-se a conduta, antes que ela venha a produzir um perigo concreto ou um dano efetivo. Trata-se de cautela reveladora de zelo do Estado em proteger adequadamente certos interesses. Eventuais excessos podem, no entanto, ser corrigidos pela aplicação do princípio da proporcionalidade.” CAPEZ (2014), página 41.
11 Princípio da autorresponsabilidade
Os danos que o agente comete contra si mesmo, em decorrência da não observância de determinadas cautelas, por imperícia, ou mesmo dolosamente, apenas são passíveis de ser imputados ao próprio agente, e nunca a terceira pessoa que eventualmente o aconselhou ou motivou. Não se trata aqui do caso do suicida que tirou a própria vida após ser induzido ou instigado por alguém, mas daquele caso hipotético em que o indivíduo foi motivado por um amigo a praticar natação e, ao fazê-lo, acabou se afogando.
12 Princípio da imputação pessoal
Todo aquele que não reunir capacidade mental suficiente para compreender o ato criminoso que pratica não poderá sofrer sanção penal. Em outras palavras, o Direito Penal não pode punir os inimputáveis.
13 Princípio da responsabilidade subjetiva
Nenhum ato poderá ser considerado crime, e, portanto, passível de ser responsabilizado mediante aplicação de pena, se não foi cometido com dolo ou culpa, bem como se o fato concreto não reunir todos os elementos da culpabilidade.
14 Princípio da presunção da inocência
Assim preceitua o artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. A lei é clara ao afirmar que toda pessoa será considerada inocente até que seja condenada em processo criminal não mais pendente de recurso, ou seja, em condenação transitada em julgado.
CONCLUSÃO
A Constituição brasileira de 1988 consagra em seu artigo 1º o Estado Democrático de Direito, cujo princípio mais importante é o da dignidade da pessoa humana, valor que visa proteger o ser humano de tudo aquilo que lhe possa levar ao desprezo. Em torno desse princípio gravitam os direitos fundamentais e uma gama de subprincípios que devem nortear o legislador penal durante os procedimentos de criação das leis bem como o operador do direito no momento de proceder a adequação típica do ato praticado à norma penal.
Dado que, no Brasil, a penalidade máxima que pode ser infligida ao transgressor da lei é a de privação da liberdade, sendo esta considerada o segundo maior bem do ser humano, após a vida, e considerando que o princípio da dignidade da pessoa humana é uma forma de valorização do homem, que visa garantir a sua integridade, evitando-se a sua depreciação ou a sua redução, bem como considerando que a vida em sociedade é o resultado de um contrato assinado por todos os homens, que cederam parte de sua liberdade primitiva ilimitada em favor do Estado, para que este promovesse as condições e os regramentos da vida coletiva, elaborando leis e protegendo os bens jurídicos mais importantes.
Considerando, ainda, que a agressão a um bem jurídico tutelado pelo Estado precisa receber uma resposta eficaz do poder supremo, que deve objetivar, além da punição propriamente dita, a reparação da lesão causada pelo agente transgressor da lei.
Ainda, levando em consideração que a punição tem que representar para o criminoso um mal maior que a vantagem por ele percebida com seu ato ilícito, nada mais que isso. Resulta concluir que punir não é sinônimo de desprezar, diminuir, insultar, agredir, humilhar, torturar, desonrar, desqualificar, ferir ou matar.
No Estado Democrático de Direito o Direito Penal não é instrumento de repressão ou opressão. Exerce, pois, função regradora dos contatos sociais, mediante a aplicação de penas que visem unicamente coibir as ações nocivas e estimular as condutas lícitas, satisfazendo deste modo o anseio coletivo, contribuindo, destarte, para a pacificação social.
Referências Bibliográficas
- BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 2011
- CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Parte Geral 1, 18º edição. São Paulo: Saraiva, 2014.
- HOBBES, Thomas. Leviatã, ou matéria, formas e poder de um estado eclesiástico e civil. São Paulo: Martin Claret, 2009.
- HOBSBAWN, Eric J. A Era das Revoluções. São Paulo: Paz e Terra, 2009.
- LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2014.
- ROUSSEAU, Jean-Jacques. A origem da desigualdade entre os homens. São Paulo: Lafonte, 2012.
- ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. São Paulo: Martin Claret, 2007.
DIREITO PENAL I – SEMANA 2
Sobre os princípios norteadores e garantidores do Direito Penal, assinale a opção INCORRETA:
A) A ideia de que o Direito Penal, deve tutelar os valores considerados imprescindíveis para a sociedade, e não todos os bens jurídicos, sintetiza o princípio da intervenção mínima.
B) A tipificação de condutas somente terá por premissa critérios formais, não sendo questionada à luz dos princípios constitucionais
C) Segundo o princípio da lesividade somente pode ser considerada lesiva a conduta que, sendo capaz de extrapolar a esfera interna do agente, não configure uma autolesão, não sancione o agente pelo o que ele é e tampouco não configure uma real lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado.
D) A aplicação do princípio da insignificância tem por finalidade excluir ou de afastar a própria tipicidade penal.
E) O princípio da proporcionalidade das penas aplica-se tanto na criminalização das condutas, quanto na aplicação da pena pelo juiz.
COMENTÁRIOS ÚTEIS:
 A elaboração de novas leis penais propõe a instituição de novos crimes e, por conseguinte, cria um novo grupo de criminosos. Ressalta ainda que nessa primeira etapa. Assim, as normas criminalizantes são estabelecidas em forma de regramentos genéricos, programáticos, os quais, para sua aplicação, utilizam-se de um instrumental jurídico definido, de regras de aplicação, que serão viabilizadas pelas agências de criminalização secundária. A criminalização secundária, de acordo com Zaffaroni (2015) corresponde à ação punitiva do Estado aos crimes que são identificados. Neste processo o indivíduo já sofreu a criminalização primária e então passará a ser apreciada sua conduta pelas instituições do sistema penal. Desta forma, a análise pode começar com o inquérito policial ou com o próprio juiz, culminando num julgamento que poderá absolvê-lo, momento no qual estará esse indivíduo livre do sistema, ou condená-lo, levando o delinquente ao cárcere. O objetivo maior aqui é aplicar a lei penal ao acusado da prática do crime, e se for comprovado sua culpabilidade, aplicar-lhe a devida punição.
Neste diapasão, se explica que a criminalização secundária é exercida pelas agências do sistema penal tais como: “a polícia, a magistratura, órgãos de controle da delinquência juvenil” que serão os responsáveis pela execução da lei penal. Complementa tal entendimento, Zaffaroni (2015) ao analisar que a atuação das agências policiais também está condicionada ao trabalho de outras agências, como as políticas (que estão em busca de votos) e as de comunicação social (mídias). 
DIREITO PENAL I – SEMANA 3
 (XXIX EXAME DE ORDEM UNIFICADO)
Em 05/10/2018, Lúcio, com o intuito de obter dinheiro para adquirir uma moto em comemoração ao seu aniversário de 18 anos, que aconteceria em 09/10/2018, sequestra Danilo, com a ajuda de um amigo ainda não identificado. No mesmo dia, a dupla entra em contato com a família da vítima, exigindo o pagamento da quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) para sua liberação. Duas semanas após a restrição da liberdade da vítima, período duranteo qual os autores permaneceram em constante contato com a família da vítima exigindo o pagamento do resgate, a polícia encontrou o local do cativeiro e conseguiu libertar Danilo, encaminhando, de imediato, Lúcio à Delegacia. Em sede policial, Lúcio entra em contato com o advogado da família.
Considerando os fatos narrados, o(a) advogado(a) de Lúcio, em entrevista pessoal e reservada, deverá esclarecer que sua conduta:
A) não permite que seja oferecida denúncia pelo Ministério Público, pois o Código Penal adota a Teoria da Ação para definição do tempo do crime, sendo Lúcio inimputável para fins penais.
B) não permite que seja oferecida denúncia pelo órgão ministerial, pois o Código Penal adota a Teoria do Resultado para definir o tempo do crime, e, sendo este de natureza formal, sua consumação se deu em 05/10/2018.
C) configura fato típico, ilícito e culpável, podendo Lúcio ser responsabilizado, na condição de imputável, pelo crime de extorsão mediante sequestro qualificado na forma consumada.
D) configura fato típico, ilícito e culpável, podendo Lúcio ser responsabilizado, na condição de imputável, pelo crime de extorsão mediante sequestro qualificado na forma tentada, já que o crime não se consumou por circunstâncias alheias à sua vontade, pois não houve obtenção da vantagem indevida.
COMENTÁRIOS ÚTEIS:
O que é o "Tempo do Crime" e qual a sua importância no Direito Penal? Tempo do Crime é o marco adotado para estabelecer o momento (tempo) do cometimento de um crime.
Consoante artigo 4º do código penal, "Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado". Nos sistemas penais é possível adotar a teoria da atividade na qual o que importa é o momento da conduta (omissiva ou comissiva) delituosa, pouco importando em que momento se deu o resultado. Há também a teoria do resultado na qual retira-se a importância do momento da conduta e o que importará é o momento em que se deu o resultado, ou seja, a consumação. Por fim, existe ainda a teoria mista ou da ubiquidade que adota as duas teorias anteriores ao mesmo tempo. 
Conforme leitura do artigo 4º supracitado, fica evidente que o Código Penal pátrio adotou a teoria da atividade, neste sentido, importa o momento da conduta comissiva ou omissiva para a prática de fato definido como crime. Assim, Rogério Greco em seu Curso de Direito Penal 2010, "Pela teoria da atividade, tempo do crime será o da ação ou da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Para essa teoria, o que importa é o momento da conduta, comissiva ou omissiva, mesmo que o resultado dela se distancie no tempo".
Mas qual a importância prática de se adotar esta teoria e estabelecer o momento do crime? No momento da conduta, é aplicada a lei em vigor, exceto se no momento resultado outra lei penal mais benéfica incidir sobre o fato; em casos de crimes permanentes, a lei que incidirá será aquela em vigor quando cessar o estado de permanência, ainda que seja lei mais severa (considera-se que a ação ou omissão está ocorrendo durante a permanência); a imputabilidade ou inimputabilidade do agente é avaliada em consonância com o momento da conduta, assim, por exemplo, se Mévio comete o fato tipificado como crime presente no artigo 157 do código penal (roubo) 1 (um) dia antes de completar 18 (dezoito) anos, no dia seguinte já considerado maior, prevalecerá a inimputabilidade ao tempo do crime (momento da atividade), ou seja, Mévio não cometeu crime (menores de 18 não cometem crime).
A importância do Tempo do Crime ainda se verifica quando da incidência da extratividade da lei penal. A extratividade da lei penal é composta de ultratividade e retroatividade, a primeira se dá quando a lei penal mesmo já revogada continua a regular fatos ocorridos ao tempo de sua vigência, já a segunda ocorre quando retroage para atingir fatos ocorridos antes da sua vigência. Maior importância é com relação a ultratividade, uma vez que uma lei poderá estar em vigor durante o cometimento de um fato definido como crime, entretanto lei nova poderá dar um tratamento ainda mais rigoroso para os que praticarem tais condutas, neste sentido, deverá ser a lei anterior mais benéfica ultrativa continuando a regular os fatos ocorridos ao tempo da sua vigência, prevalecendo a irretroatividade da novatio legis in pejus. Neste mesmo sentido Cleber Masson em seu Código Penal Comentado 2013, "Pode ocorrer ainda a ultratividade da lei mais benéfica, que se verifica quando o crime foi praticado durante a vigência de uma lei, posteriormente revogada por outra prejudicial ao agente. Subsistem, no caso, os efeitos da lei anterior, mais favorável".
O crime permanente é aquele cujo momento da consumação se prolonga no tempo por vontade do agente, como sequestro e cárcere privado. Segundo a súmula, a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. continuado é uma ficção legal, pois não se trata de um crime, e sim de uma sucessão de crimes da mesma espécie, cada um devendo ser considerado isoladamente.
REFERÊNCIAS
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Rio de Janeiro: Impetus, 2010.
MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. São Paulo: MÉTODO, 2013.
DIREITO PENAL I – SEMANA 4
 Aplicação Prática Teórica
Esta aula apresenta ATIVIDADE DE CAMPO. Desta forma, você deverá ler o caso concreto constante no roteiro de estudos e responder às questões formuladas sobre ele. 
O seu professor estabelecerá a data de entrega deste caso concreto – TURMA DE QUEIMADOS 7/4/2020. VALE ATÉ 2,5 pontos
Leia a notícia abaixo e responda, de forma objetiva e fundamentada às questões formuladas
Feminicídio também abrange mulheres transexuais, decide Justiça do DF
Determinação se deu a partir de caso de vítima agredida em lanchonete, em Taguatinga, no ano passado. Suspeitos ainda serão julgados.
Por Pedro Alves, G1 DF. Disponível em: <https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2019/08/09/feminicidio-tambem-abrange-mulheres-transexuais-decide-justica-do-df.ghtml>Atualizado em: 09/08/2019.
Determinação se deu a partir de caso de vítima agredida em lanchonete, em Taguatinga, no ano passado. Suspeitos ainda serão julgados. A 3ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TDJFT) rejeitou recurso e manteve como tentativa de feminicídio um crime cometido contra uma mulher transexual. A decisão foi unânime. Os suspeitos ainda serão julgados pelo crime. Ao analisar o caso, o desembargador Waldir Leôncio Lopes Júnior entendeu que “a imputação do feminicídio se deveu ao menosprezo ou discriminação à condição de mulher trans da ofendida”.
O caso: A decisão foi tomada no caso da estudante Jéssica Oliveira, vítima de tentativa de homicídio em abril do ano passado. Ela foi agredida por quatro pessoas dentro de uma lanchonete, em Taguatinga. O crime foi registrado por câmeras de segurança (veja acima). As imagens mostram que a transexual foi atingida com socos e pontapés. Os suspeitos também usaram cadeiras e uma pedra de 3 quilos para agredir a vítima. À época, a Polícia Civil decidiu indiciar os criminosos por tentativa de feminicídio. Foi o primeiro caso envolvendo uma transexual a ser tipificado dessa forma no DF.
Discussão na Justiça: O Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) também denunciou os acusados pelo crime e a acusação foi aceita pela Justiça. Os agressores recorreram da decisão, sob o argumento de que não poderiam ser acusados de tentativa de feminicídio, já que a vítima não é "biologicamente do sexo feminino". O MP, por sua vez, argumentou pela manutenção da denúncia, já que “o crime foi praticado contra mulher por razões da condição de sexo feminino, em menosprezo e discriminação à condição de mulher”.
"Dupla vulnerabilidade"
Ao decidir sobre o caso, o desembargador Waldir Leôncio Lopes Júnior diz estar ciente da “polêmica que envolve a questão”. No entanto, segundo o magistrado, “não se pode deixar de considerar a situação de dupla vulnerabilidade a que as pessoas transgênerosfemininas, grupo ao qual pertence a ofendida, são expostas”. “Por um lado, em virtude da discriminação existente em relação ao gênero feminino, e de outro, pelo preconceito de parte da sociedade ao buscarem o reconhecimento de sua identidade de gênero”, diz o relatório.
Lei Maria da Penha
Em maio do ano passado, o TJDFT já havia entendido que a Lei Maria da Penha também é válida para transexuais. Polícia registra sete casos graves de violência doméstica durante o fim de semana, em Rondônia. À ocasião, o tribunal julgou o caso de uma mulher trans que foi agredida pelo ex-namorado após passeio com as amigas. O ataque teria sido motivado por ciúmes. Segundo o entendimento dos desembargadores, "uma vez que se apresenta dessa forma, a vítima também carrega consigo todos os estereótipos de vulnerabilidade e sujeição voltados ao gênero feminino, combatidos pela Lei Maria da Penha."
Ante o exposto, com base nos estudos realizados nas aulas 1 a 4, responda de forma objetiva e fundamentada às questões formuladas - JUSTIFICADAMENTE
a) Os desembargadores, ao considerarem uma mulher transexual como vítima de feminicídio se utilizaram de um recurso interpretativo ou integrativo? Diferencie interpretação analógica e analogia. (1,0 pt)
SUGESTÃO DE RESPOSTA: Os Desembargadores se utilizaram de um RECURSO INTERPRETATIVO. No que diz respeito a diferença entre INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA E ANALOGIA, devemos considerar que a interpretação analógica extensiva decorre da busca do sentido de um texto legal existente, enquanto a analogia é empregada justamente na ausência de texto legal especifico sobre o caso concreto.
A diferença entre interpretação analógica e analogia reside na voluntas legis: na primeira, pretende a vontade da norma abranger os casos semelhantes por ela regulados; na segunda, ocorre o inverso: não é pretensão da lei aplicar o seu conteúdo aos casos análogos, tanto que silencia a respeito, mas o intérprete assim o faz, suprindo a lacuna” (Damásio de Jesus)
A interpretação analógica é uma operação intelectual consistente em revelar o conteúdo da lei, quando esta utiliza expressões genéricas, vinculadas a especificações. Não há criação de norma, mas, exclusivamente, a pesquisa de sua extensão. Assim, no homicídio qualificado por motivo torpe: “Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe”. O legislador, depois de mencionar expressamente uma hipótese de torpeza (paga ou promessa de recompensa), utiliza expressão genérica, com o que fica abrangido, pela norma, qualquer caso estigmatizado pela torpeza. Por outro lado a analogia é basicamente fazer incidir uma lei em uma hipótese por ela não prevista.
RECURSO ESPECIAL REsp 121428 RJ 1997/0014040-7 (STJ)
3. Não se pode confundir analogia com interpretação analógica ou extensiva. A analogia é técnica de integração, vale dizer, recurso de que se vale o operador do direito diante de uma lacuna no ordenamento jurídico. Já a interpretação, seja ela extensiva ou analógica, objetiva desvendar o sentido e o alcance da norma, para então definir-lhe, com certeza, a sua extensão. A norma existe, sendo o método interpretativo necessário, apenas, para precisar-lhe os contornos. 
Fonte: Damásio (Direito Penal. Parte Geral. S. Paulo: Saraiva, 2003, p. 46)
Fonte: Alexandre Araripe Marinho e Andre Freitas – Manual de Direito Penal – Parte Geral, Lumen Juris, p. 79
b) A matéria trata de feminicídio tentado praticado por quatro jovens menores de 18 anos. Caso a vítima viesse a falecer três meses após em decorrência das agressões sofridas, seria possível imputar tal delito aos envolvidos que tenham completado 18 anos antes do falecimento da vítima? (0,5 pt)
EVIDENTE QUE NÃO. Segundo o Código Penal diz que os menores de 18 anos SÃO INIIMPUTÁVEIS (art.27,CP). Não será possível imputar tal delito aos envolvidos que tenham completado 18 anos antes do falecimento da vítima, porque no momento da ação os sujeitos eram considerados inimputáveis. De acordo com o Art. 4° do CP, "considera-se praticado o crime no momento da ação ou da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado." O CRIME DE HOMICÍDIO é considerado INSTANTÂNEO DE EFEITOS PERMANENTES.
Além do mais vale a pena cuidar nesse campo da  teoria da causalidade adequada por ser uma das formas de se estudar o nexo de causalidade no direito, e, segundo a qual se faz necessária a verificação do nexo de causalidade entre determinada conduta anterior e o resultado criminoso que ocorreu em momento posterior.
Conceito de Causalidade Adequada A teoria da causalidade adequada dispõe acerca de quais causas seriam necessárias para o evento criminoso, bem como se seria adequado ou razoável, em cada caso concreto, atribuir como causa à infração penal tal conduta perpetrada pelo agente infrator.
Sempre importante entender o conceito de nexo causal ou nexo de causalidade, que consiste na relação entre determinada conduta perpetrada pelo agente infrator e o resultado dela advindo.
Crime instantâneo “Crime instantâneo é aquele que se consuma em momento determinado (consumação imediata), sem qualquer prolongação. Não significa que ocorre rapidamente, mas que, uma vez reunidos seus elementos, a consumação ocorre peremptoriamente. O conceito de crime instantâneo não se confunde com a obtenção do proveito pelo sujeito ativo. O fato, por exemplo, de o agente roubar um veículo e com ele permanecer não torna o crime permanente, já que a consumação ocorreu no momento em que, empregada a violência, a grave ameaça ou outro meio capaz de reduzir a vítima à impossibilidade de resistência, deu-se a subtração.
Crime permanente Crime permanente é aquele em que a execução se protrai no tempo por determinação do sujeito ativo. Ou seja, é a modalidade de crime em que a ofensa ao bem jurídico se dá de maneira constante e cessa de acordo com a vontade do agente. Por exemplo, a extorsão mediante sequestro. A relevância prática de se constatar a permanência é estabelecer o início da contagem do prazo prescricional, que só ocorre após a cessação da ofensa ao bem jurídico (artigo 111, inciso III, do Código Penal), além da possibilidade, em qualquer momento, da prisão em flagrante.
Crime instantâneo de efeitos permanentes Nos crimes instantâneos de efeitos permanentes, a consumação também ocorre em momento determinado, mas os efeitos dela decorrentes são indeléveis, como no homicídio consumado, por exemplo”.
c) Caso a vítima viesse a falecer a caminho do hospital em decorrência da colisão da ambulância na qual se encontrava com um ônibus, o resultado morte seria imputado aos adolescentes? (0,5 pt)
O resultado morte não poderia ser imputado aos adolescentes, pois a morte da vítima foi consequência da colisão da ambulância e não em decorrência das agressões sofridas.
O que é nexo causal?
Análise sobre causas absolutamente e relativamente independentes.
Para que certo resultado seja imputado a um agente é necessária a demonstração do nexo causal entre a conduta praticada e a consequência.
Nesse sentido, nexo causal pode ser considerado como um elemento integrante do fato típico, o qual – por sua vez – ao lado da antijuridicidade e da culpabilidade, constitui a teoria tripartida do delito (1).
O artigo 13 do Código Penal define como causa a “ação ou a omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”.
Nesse contexto, para identificar qual conduta deu causa a certo resultado, bastaria eliminar, mentalmente, certo fato do qual se suspeita. Se o resultado desaparecesse, as suspeitas estariam confirmadas e identificado estaria o acontecimento causador do resultado.
O método da supressão hipotética, como conhecida a técnica acima, é bastante efetivo, é verdade. Não se ignoram, no entanto, dois problemas que podem surgir em referido processo mental.
O primeiro deles ocorre quando duas causas suficientes atuam em conjunto na produção de um mesmo resultado. Aqui, eliminar uma delas não leva ao desaparecimento do resultado, conduzindo à falsa impressão de não se tratar, verdadeiramente, de uma causa (em que pese seja exatamente isso).
O exemplo praticamenteunânime encontrado na doutrina é o do envenenamento de uma mesma refeição duas vezes, em doses fatais, por pessoas diferentes. A vítima, como esperado, vem a óbito. Contudo, a supressão da conduta de um agente não excluiria o resultado, por mais que ambas devam, sim, ser consideradas causas. (2)
O segundo é o perigo de uma regressão ao infinito. Isso porque é natural que haja uma “cadeia de causalidade” cujo fim não possa ser estabelecido. Em outras palavras, “uma coisa é causada por outra, que é causada por outra e por outra e por aí vai…”.
Em um crime de lesão corporal praticada a golpes de faca, certamente as facadas dão causa ao resultado. Porém, não se pode atribuir ao fabricante da arma o resultado produzido. Eis aí o perigo: a exclusão mental da fabricação da faca faria desaparecer a lesão; todavia, não há dúvida de que, aqui, não se imputa o resultado ao fabricante.
Portanto, para que se evite referido perigo, a estratégia é limitar a regressão até o último momento em que seja possível identificar dolo/culpa do agente na produção do resultado. Soa pouco razoável atribuir a consequência a quem não tenha agido com o mínimo de vontade e de consciência voltados para a produção do resultado em questão. (3) Um fabricante de facas não as produz para que homicidas as usem seus intentos criminosos (ao menos em tese…).
A interação entra conduta e fatos paralelos
Muitas vezes, no contexto de um delito, a conduta de certo agente pode vir acompanhada de outros fatos relevantes. A depender do caso, pode ser que a conduta ou esses outros fatos sejam a causa do resultado, assim como também é possível que sejam os dois, concomitantemente.
Diante de tal cenário, para saber qual a solução jurídica prevista pelo ordenamento, deparando-se como uma dessas cumulações, é imprescindível observar o que efetivamente gerou o resultado final (qual a “causa”, verdadeiramente) e definir o nível de dependência entre conduta do agente e fato paralelo.
Podemos, nesse sentido, deparar-nos com um fato paralelo que seja absolutamente independente em relação à conduta do agente – hipótese em que ambas poderiam levar ao resultado, independentemente da ocorrência um do outro – ou com um fato relativamente independente em relação à conduta do agente – quando somente se configura o resultado se conjugado fato e conduta.
Os fatos (causas) absolutamente independentes e a conduta do agente
O fato preexistente absolutamente independente é aquele que se dá anteriormente à conduta do agente.
Exemplo. Marcos, desafeto de Tiago, sabendo que este se encontra hospitalizado em razão de acidente automobilístico, decide fazer-lhe uma visita. Chegando lá, tenta matá-lo a golpes de faca. No entanto, desfere poucos golpes e é impedido. A vítima falece posteriormente em razão dos ferimentos decorrentes do acidente. Assim, Marcos responde apenas por tentativa de homicídio, uma vez que o que realmente deu causa à morte de Tiago foi o acidente.
Veja que, como o acidente foi o fato gerador do óbito, e não as facadas, em tal caso o acidente será considerado, nos dizeres da doutrina, uma “causa preexistente absolutamente independente” em relação à conduta do agente Marcos.
Por sua vez, o fato concomitante absolutamente independente corresponde àquele que se manifesta simultaneamente à conduta do agente.
Exemplo. Marcos e João atiram em Tiago, no mesmo instante, com o ânimo de matá-lo. O projétil de Marcos atinge a cabeça e o de João, o coração. Fica provado que a vítima padeceu em decorrência do tiro no coração. Em que pese ambos tivessem agido com animus necandi, atirando em regiões fatais, apenas aquele que efetivamente deu causa ao resultado será responsabilizado pelo homicídio. O outro, entretanto, responde pela tentativa. (4)
Aqui, como apenas o disparo de João provocou a morte de Tiago, apenas esse fato será considerado causa. Referida causa classifica-se como “causa concomitante absolutamente independente” em relação à conduta do agente Marcos. A conduta deste último não configura uma causa do resultado morte.
Por fim, quando se fala em fato superveniente absolutamente independente, refere-se ao acontecimento que ocorre depois da manifestação da conduta do agente.
Exemplo. Tiago é alvejado por Marcos, que intencionava matá-lo, tudo isso em um prédio em construção. Logo após, o prédio desaba. Marcos, sobrevivente, descobre que apenas responderá por tentativa de homicídio, pois restou comprovado que a morte da vítima decorreu dos ferimentos provocados por esmagamento. (5)
Causa da morte, aqui, serão os ferimentos decorrentes do esmagamento. Trata-se, assim, de uma “causa superveniente absolutamente independente” em relação à conduta do agente Marcos. A conduta deste último, como anteriormente, não configura uma causa do resultado morte.
Os fatos (causas) relativamente independentes e a conduta do agente
Os fatos relativamente independentes, como foi dito, devem ser conjugados à conduta do agente para que se alcance o resultado produzido e, igualmente, podem ser classificadas segundo o critério temporal.
Quando preexistente, caso o agente desconheça a existência desse fato, este somente responderá por sua conduta.
Exemplo. Marcos estupra Maria. Após o coito, Maria falece em decorrência de ataque cardíaco, pois sofria, desde criança, de grave doença no coração, desconhecida pelo agressor. Nesse caso, Marcos, uma vez que desconhecia a cardiopatia, responde somente pelo delito de estupro.
Por outro lado, se o agente conhecer o fato preexistente, deve-se observar seu dolo.
Assim, imaginando-se o caso de uma pessoa hemofílica, esfaqueada por Tiago em área que comumente não induz óbito, mas com intenção de matá-la, e este conhecendo a condição da vítima, é evidente que o agente responde por homicídio. No entanto, se o dolo de Tiago fosse laedendi, nesse caso responderia o agente por lesão corporal seguida de morte.
Referidos fatos anteriores – cardiopatia e hemofilia – sem os quais não teriam ocorrido os resultados morte, são considerados “causas preexistentes relativamente independentes” às condutas de Marcos e Tiago.
No fato concomitante relativamente independente, tem-se um acontecimento que se manifesta no exato momento da prática delituosa e com ela atua para a produção do resultado.
Exemplo é o da vítima de um estrangulamento a qual, durante o ato e em decorrência deste, sofre um infarto, que em conjunto da asfixia, leva a sua morte. O fato concomitante não rompe o nexo de causalidade, de modo que o agente responde pelo resultado produzido (a morte, neste caso).
Logo, o infarto é “causa concomitante relativamente independente” em relação à conduta do agente.
Por fim, o fato superveniente relativamente independente é aquele que ocorre em momento posterior à ação ou à omissão do agente. Esse fato será a causa para um resultado final ao lado da conduta (do agente) responsável por deflagrar a cadeia de acontecimentos.
Preleciona o § 1º do artigo 13 do diploma repressivo que a “superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou”.
A aplicação do dispositivo depende de observar se a causa superveniente encaixa-se na linha de desdobramento natural iniciada pela conduta do agente (6); ou seja, se é esperado que, a partir da conduta do agente, a causa superveniente venha a se manifestar em casos similares.
Em outras palavras: sendo esperado que a causa posterior ocorra em situações similares à deflagrada pela conduta do agente, então, nesse caso, não estará excluído o nexo causal e, por conseguinte, a imputação.
Por outro lado, se a causa posterior for considerada como absolutamente anormal, fora da linha de desdobramento lógico, fora do esperado de se acontecer como decorrência de um comportamento semelhante ao do agente, aí, então, estará excluída a imputação. Responderá o agente apenas pelos fatos praticados anteriormente, e não pelo resultado final.
Impossível fugir do clichê da doutrina tal como está no caso concreto:
Imagine queMarcos desfira inúmeros tiros em Tiago, com intenção de matar. Socorrido, no caminho, a ambulância que transportava Tiago ao hospital é abalroada por uma viatura policial, capota e, em razão dos ferimentos provocados pelo impacto, Tiago morre.
Pois bem. Em que pese o fato de Tiago ter sido vitimado por Marcos seja determinante para que ele estivesse dentro da ambulância abalroada, não se pode considerar que o acidente em questão insira-se na linha de desdobramento natural iniciada por um intento homicida. Basta perceber quão baixa é a probabilidade de isso ocorrer.
Assim, nesse caso, Marcos não deve ser responsabilizado pela morte de Tiago mas, tão somente, pela tentativa de homicídio.
Por fim, pontua-se que, na hipótese das causas supervenientes relativamente independentes, é fundamental observar a necessária proporcionalidade entre a conduta do agente e o resultado final.
Segundo Greco, há que se verificar certa dose de significância na ação/omissão do agente. Explica o autor que o nexo causal rompe-se em casos cujos resultados finais, os quais dependeram de causas supervenientes, demonstram-se excessivamente gravosos em relação à conduta inicial.
Imagine que, por acidente, Marcos cause um pequeno corte no dedo de Tiago com um instrumento enferrujado e, sem o tratamento adequado, Tiago contrai tétano e morre. Ora, seria desproporcional responsabilizar Marcos pela morte de Tiago, em que pese seja comum (linha de desdobramento natural) que em ferimentos do tipo se contraia tétano. (7)
Portanto, conclusivamente, à parte de tudo que foi mencionado como importante na análise da relação entre causa e consequência, do nexo causal, além disso tudo é imprescindível que o resultado seja proporcional à conduta inicial do agente.
REFERÊNCIAS
Greco, Rogério. Curso de Direito Penal. 18 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2016. 980 p.
(1) Segundo referida teoria, crime é o fato típico, antijurídico e culpável. O primeiro é composto por uma conduta (comissiva ou omissiva), por seu resultado, pelo nexo causal a uni-los e pela tipicidade.
(2) Greco, Rogério. Curso de Direito Penal. 18 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2016. p. 327.
(3) Greco, Rogério. Curso de Direito Penal. 18 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2016. p. 328.
(4) Greco, Rogério. Curso de Direito Penal. 18 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2016. p. 331.
(5) Greco, Rogério. Curso de Direito Penal. 18 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2016. p. 331.
(6) Greco, Rogério. Curso de Direito Penal. 18 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2016. p. 334.
(7) Greco, Rogério. Curso de Direito Penal. 18 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2016. p. 335-336.
d) Caso um policial estivesse presente no momento do crime e, por livre e espontânea vontade, decidisse não intervir na defesa da vítima, sua conduta teria relevância penal? (0,5 pt)
SIM, a conduta pode ser considerada uma OMISSÃO DE SOCORRO (CP, art. 135) ou uma PREVARICAÇÃO (CP, art. 319), ou quem sabe, caso o agente pretenda aquele mesmo resultado na condição de agente garantidor, responderá pelo mesmo resultado do crime executado pelo sujeito ativo principal (omissão imprópria) – conduta comissiva por omissão. 
Mostra-se imprescindível destacarmos o significado da omissão, em especial a omissão imprópria, e sua relevância no ordenamento jurídico pátrio, porquanto, é por meio dela que exsurge a responsabilização do agente de segurança pública, quando presencia e não intervém em ações delitivas, para evitar o resultado antijurídico, podendo fazê-lo.
Por base o entendimento sedimentado na mais seleta doutrina hodierna, pode-se induzir que existem duas classificações de omissões, quais sejam a própria e a imprópria. Sendo oportuno destacar que, na doutrina, são achadas nomenclaturas diversas.
Posto isso, deduz-se que a omissão própria é caracterizada pelo dever de agir, contudo, sem a obrigatoriedade do agente impedir o resultado, e relaciona-se, em regra, a delitos de mera conduta, ou seja, aqueles crimes que possuem resultado jurídico, porém, não naturalístico, no mundo real, como exemplo o crime de omissão de socorro (art. 135, do Código Penal).
Explicando que o citado crime de omissão de socorro encontra-se no título I, capítulo III, “da periclitação da vida e da saúde”, do Código Penal, e traz como imposição à sociedade o dever de dar assistência à criança abandonada ou extraviada, à pessoa inválida ou ferida, assim como ao desamparado ou em grave e eminente perigo de vida, quando isso for possível sem risco pessoal.
Aqui se pune o ato egoístico daquele que nem sequer se digna a pedir o socorro à autoridade pública, em favor das pessoas nas condições descritas na capitulação legal.
O crime de omissão de socorro, por estar na categoria dos crimes omissivos próprios, não permite a modalidade tentada, se configurando com a mera conduta de se omitir, podendo o agente agir.
Por sua vez, a omissão imprópria traz o dever legal de o agente evitar o resultado antijurídico, porque lhe é incumbido, pelo Estado, por intermédio da Lei (Vide art. 5, Inciso II, da Constituição Federal de 88), a condição de garantidor, em consonância ao artigo 13, e seus itens, do Código Penal. Respondendo, o agente, neste caso, pelo resultado que poderia ter evitado com a sua intervenção.
No caso da omissão imprópria, existe a exigência do nexo causal, diferentemente da omissão própria, porque, embora em ambos os casos o agente não tenha dado causa, aqui, depreende-se que tinha o dever legal de impedir o resultado, assim, equipare-se ao causador do ilícito penal, (art. 13, § 2º, e seus incisos c.c artigo 14, inciso I, ambos do Código Penal), com redação dada pela Lei 7.209/84.
A jurisprudência é uníssona no sentido de que o autor da omissão deve estar em condições de realizar a ação. Se não existir tal possibilidade de ação, por qualquer razão, não se pode falar em omissão.
De igual sorte, a omissão deve ter relevância no mundo jurídico, caso contrário, pode-se estar defronte a indiferente penal, ou, ainda, a depender do caso concreto e da qualidade funcional do autor, do crime de prevaricação (art. 319, do Código Penal), ou mesmo de crime descrito na Lei de improbidade administrativa.
Sendo que o artigo 13, § 2º, do Código Penal, trouxe figuras omissivas, que possuem relevância jurídica, porém, para o que importa no presente resumo, é a alínea a, do citado artigo de Lei.
Passadas as considerações preliminares, adentraremos ao teor do artigo 13, § 2º, alínea a do Código Penal, com redação dada pela Lei 7.209/84, sendo oportuno trazer o seu teor à colação;
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
(...).
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância.
(...).
Por base isso, adentraremos ao tema proposto, qual seja, a responsabilidade do agente de segurança pública que se omite diante de ilícito penal, quando fora das suas atribuições funcionais.
Inicia-se aduzindo que existe celeuma doutrinária e jurisprudencial acerca da responsabilidade do agente de segurança pública que, não estando em horário de serviço, deixa de intervir em ocorrências delitivas, podendo agir.
Todavia, é consabido, pelo teor do artigo 13, § 2º, alínea a, do Código Penal, que o agente de segurança pública, estando em serviço, deixa de intervir em ocorrência delitiva, visando evitar o resultado, a dependendo do grau da omissão, responde pelo crime imputado ao criminoso, em concurso de agentes (art. 29, do Código Penal).
O Decreto-Lei 3.689/41, doravante denominado Código de Processo Penal, em seu artigo 301, de forma similar, apregoa a responsabilidade das autoridades policiais e seus agentes em prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito. Reafirmando a obrigatoriedade do agente de segurança pública quando defronte a situações delitivas.
Ou seja, impõe às autoridades de Polícia, compreendido, nesse caso, osDelegados de Polícia Judiciária no âmbito de suas jurisdições e os comandantes/chefes das demais instituições, e por seus agentes, conforme o artigo 144, da Constituição Federal, prender quem se ache em flagrante delito.
Que o agente de segurança pública, quando do seu horário de serviço está obrigado a intervir em situações delitivas, isso é incontestável, entretanto, a grande questão é, quando o agente de segurança pública está em seu horário de folga, férias, ou afastado, se permaneceria o seu dever legal de agir.
Nesse ponto a doutrina e a jurisprudência divergem, contudo, o entendimento majoritário hoje é o de que o Policial fora do seu horário de serviço não está obrigado a intervir em situações delitivas, portanto, o “dever de agir”, trazido pelos artigos 13, § 2º, alínea a do Código Penal cumulado ao artigo 301, do Código de Processo Penal são relativos.
Para a doutrina de Nucci, (2016, p. 432), o dever do agente não se restringe ao seu horário de serviço, mas está obrigado a agir 24 horas por dia. Como se observa;
Conferiu a lei a possibilidade de que qualquer pessoa do povo – inclusive a vítima do crime – prenda aquele que for encontrado em flagrante delito (conceituando-o no art. 302), num autêntico exercício de cidadania, em nome do cumprimento das leis do País. Quanto às autoridades policiais e seus agentes (Polícia Militar ou Civil), impôs o dever de efetivá-la, sob pena de responder criminal e funcionalmente pelo seu descaso. E deve fazê-lo durante as 24 horas do dia, quando possível. Note-se o disposto no seguinte acórdão: TJSP: “A situação de trabalho do policial civil o remete ao porte permanente de arma, já que considerado por lei constantemente atrelado aos seus deveres funcionais” (HC 342.778-3, Jaú, 6.ª C., rel. Barbosa Pereira, 19.04.2001, v.u., JUBI 60/01). Quando qualquer pessoa do povo prende alguém em flagrante, está agindo sob a excludente de ilicitude denominada exercício regular de direito (art. 23, III, CP); quando a prisão for realizada por policial, trata-se de estrito cumprimento de dever legal (art. 23, III, CP).
Já para Nestor Távora (2016, p 523), a responsabilidade do policial se restringe ao horário de serviço, dentro das suas funções. Pontuando;
Entendemos que esta obrigatoriedade perdura enquanto os integrantes estiverem em serviço. Durante as férias, licenças, folgas. Os policiais atuam como qualquer cidadão, e a obrigatoriedade cede espaço à mera faculdade.
Já para a jurisprudência, em conformidade com o informativo nº 421, do Supremo Tribunal Federal, o agente de segurança, quando fora das suas atribuições funcionais, não está obrigado a agir, porém, caso o faça, a partir do momento que se apresenta como policial avoca a responsabilidade legal para si, estando obrigado, então, a intervir no andamento da ação delitiva.
Em outras palavras, o agente presencia uma ação delitiva, e está em posse da sua arma, ao sacá-la e se apresentar como Policial, independentemente de estar ou não de serviço retoma a qualidade de Policial e age, a partir de então, em nome do Estado.
Pode-se comparar o exemplo ao “Superman”, que quando presencia o perigo retira a roupa de cidadão comum e veste-se com a roupa do super-herói.
Ainda, em conformidade com o tema proposto, o Superior Tribunal de Justiça se posicionou por intermédio da súmula nº 47, que crimes cometidos por Policiais Militares com a arma da Corporação contra civis, ainda que em horário de folga, a competência para o julgamento é da Justiça Militar.
Assim, observa-se que se torna coerente e harmônico o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, porque quando o agente utiliza a arma que lhe é fornecida pelo Estado no cometimento de crime, entende-se estar ele investido na qualidade de representante desse mesmo Estado.
Embora exista discussão doutrinária a respeito do tema, o entendimento jurisprudencial está delineado no sentido de que o agente de segurança pública, quando fora das suas atribuições institucionais, está desobrigado a intervir em ocorrências delitivas, porém, o fazendo, avoca para si a responsabilidade legal de impedir o resultado lesivo.
Conclui-se que a corrente jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal parece a mais coerente com a realidade, até porque existem policiais que não portam as armas a eles fornecidas pelo Estado 24 horas por dia, o que se poderia, fazendo tal imposição aos agentes, criar figuras penais objetivas, que vai de encontro à ordem jurídica pátria.
Referências
BRASIL, Constituição da Republica Federativa do Brasil, disponível no seguinte link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituição/constituição.htm.
BRASIL, Decreto-Lei 2.848, de Código Penal Brasileiro de 1940. Disponível no seguinte link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm.
BRASIL, Decreto-Lei 3.689, de Código de Processo Penal Brasileiro de 1941. Disponível no seguinte link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm.
BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Disponível no seguinte link. http://www.stj.jus.br/portal/site/STJ.
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Disponível no seguinte link. http://www.stf.jus.br/portal/principal/principal.asp.
NUCCI, Guilherme de Souza, Código de Processo Penal comentado / Guilherme de Souza Nucci. – 15. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2016.
TÁVORA, Nestor. ARAÚJO, Fábio Roque. Código de Processo Penal Para Concursos. Salvador: Jus Podivm, 2016.
A POSSIBILIDADE DE FIGURAR PESSOA TRANSEXUAL COMO VÍTIMA DO FEMINICÍDIO
Com o advento da Lei 13.104/15 nasceu questão polêmica quanto ao sujeito passivo do crime de feminicídio: a (im)possibilidade de figurar pessoa transexual como vítima do feminicídio.
Antes de nos posicionarmos à respeito da referida celeuma, bem como antes de apresentarmos as correstes que discutem o tema, importante esclarecer e definir a figura do transexual.
Primordialmente, não se pode confundir o transexual com o homossexual, bissexual, travesti ou mesmo com o intersexual. O transexual é o indivíduo que possui identidade de gênero diversa do sexo físico, ou seja, há uma dicotomia físico-psíquica. Em outras palavras, o transexual, apesar de ter nascido fisicamente com um determinado sexo, possui psicologicamente sexo diverso, manifestando a vontade de viver como sendo do sexo oposto. A manifestação da vontade de viver como sendo do sexo oposto ao físico é comumente exteriorizado através da cirurgia de mudança de sexo, apresentando-se como um instrumento eficaz para a conformação do estado psíquico e físico do transexual.
Apresentando definição do transexualismo, Genival Veloso de França esclarece que:
“Trata-se, pois, de uma inversão psicossocial, uma aversão e uma negação ao sexo de origem, o que leva esses indivíduos a protestarem e insistirem numa forma de cura por meio da cirurgia de reversão genital, assumindo, assim, a identidade do seu desejado gênero”.[1]
Ultrapassada tal premissa, para responder a indagação inaugural do presente tópico deve-se levar em consideração três critérios apresentados pela doutrina para a definição de ‘mulher’ quando da aplicação da qualificadora do feminicídio:
a) Critério psicológico: apesar da vítima ter nascido homem, não aceita essa condição psicologicamente, se identificando, portanto, como mulher.
b) Critério biológico: a vítima é geneticamente mulher.
c) Critério jurídico: basta ser a vítima reconhecida como mulher juridicamente, com o seu registro civil alterado para o sexo feminino através de decisão judicial, bem como já possua características físicas do sexo feminino (cirurgia de mudança de sexo), pratica comumente levada a efeito por transexuais.
Pra responder sobre a possibilidade ou não do transexual como vítima do feminicídio, duas posições discutem o assunto.
Fruto de uma doutrina conservadora, uma primeira corrente defende que o transexual não pode figurar como vítima do feminicídio, uma vez que, apesar de passar por cirurgia de mudança de sexo tendo seu órgão genital alterado em conformidade com sua identidade de gênero psíquico, geneticamentenão é mulher. Ou seja, leva-se em consideração apenas o critério biológico para a configuração do feminicídio.
Em sentido contrário, uma corrente considerada moderna entende ser perfeitamente possível que um transexual seja vítima de feminicídio, desde que altere o sexo de forma permanente (cirurgia de mudança de sexo irreversível). De acordo com esta correte, o transexual deve ser tratado conforme sua atual realidade morfológica, coadunando-se, inclusive, com o atual entendimento jurisprudencial no qual admite a alteração do registro civil. Diversamente da corrente anterior, leva-se em consideração os critérios biológico e jurídico.
Ademais, compartilhando de raciocínio similar, o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais já aplicou a Lei Maria da Penha também para transexuais:
“Para a configuração da violência doméstica não é necessário que as partes sejam marido e mulher, nem que estejam ou tenham sido casados, já que a união estável também se encontra sob o manto protetivo da lei. Admite-se que o sujeito ativo seja tanto homem quanto mulher, bastando a existência de relação familiar ou de afetividade, não importando o gênero do agressor, já que a norma visa tão somente à repressão e prevenção da violência doméstica contra a mulher. Quanto ao sujeito passivo abarcado pela lei, exige-se uma qualidade especial: ser mulher, compreendidas como tal as lésbicas, os transgêneros, as transexuais e as travestis, que tenham identidade com o sexo feminino. Ademais, não só as esposas, companheiras, namoradas ou amantes estão no âmbito de abrangência do delito de violência doméstica como sujeitos passivos. Também as filhas e netas do agressor como sua mãe, sogra, avó ou qualquer outra parente que mantém vínculo familiar com ele podem integrar o polo passivo da ação delituosa”.[2]
Compartilhamos do entendimento desta segunda corrente. Em relação ao transexual, que após cirurgia de mudança de sexo, bem como após provimento jurisdicional obtém formalmente o direito de ser identificado civilmente como sendo do sexo feminino, haverá indiscutivelmente a incidência da lei penal considerando-o mulher, aplicando o critério jurídico para a incidência do feminicídio no caso de vítima transexual.
O mesmo raciocínio não se estende ao travesti diante da impossibilidade de ser identificado como mulher.
Portanto, para os efeitos penais da qualificadora em estudo, entendemos ser perfeitamente possível figurar o transexual como vítima do feminicídio, desde que alterado suas características mediante cirurgia de mudança de sexo e alterado formalmente sua identidade civil como sendo do sexo feminino.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FRANÇA, Genival Veloso de. Fundamentos de Medicina Legal. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
[1] FRANÇA, Genival Veloso de. Fundamentos de Medicina Legal. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005, p. 235.
[2] HC 1.0000.09.513119-9/000, j. 24/02/2010, rel. Des. Júlio Cezar Gutierrez.
 (XXVIII EXAME DE ORDEM UNIFICADO)
David, em dia de sol, levou sua filha, Vivi, de 03 anos, para a piscina do clube. Enquanto a filha brincava na piscina infantil, David precisou ir ao banheiro, solicitando, então, que sua amiga Carla, que estava no local, ficasse atenta para que nada de mal ocorresse com Vivi. Carla se comprometeu a cuidar da filha de David. Naquele momento, Vitor assumiu o posto de salva-vidas da piscina. Carla, que sempre fora apaixonada por Vitor, começou a conversar com ele e ambos ficam de costas para a piscina, não atentando para as crianças que lá estavam. Vivi começa a brincar com o filtro da piscina e acaba sofrendo uma sucção que a deixa embaixo da água por tempo suficiente para causar seu afogamento. David vê quando o ato acontece através de pequena janela no banheiro do local, mas o fecho da porta fica emperrado e ele não consegue sair. Vitor e Carla não veem o ato de afogamento da criança porque estavam de costas para a piscina conversando. Diante do resultado morte, David, Carla e Vitor ficam preocupados com sua responsabilização penal e procuram um advogado, esclarecendo que nenhum deles adotou comportamento positivo para gerar o resultado. Considerando as informações narradas, o advogado deverá esclarecer que:
A) Carla e Vitor, apenas, poderão responder por homicídio culposo, já que podiam atuar e possuíam obrigação de agir na situação.
B) David, apenas, poderá responder por homicídio culposo, já que era o único com dever legal de agir por ser pai da criança.
C) David, Carla, Vitor poderão responder por homicídio culposo, já que os três tinham o dever de agir.
D) Vitor, apenas, poderá responder pelo crime de omissão de socorro.
Nesta atividade de campo, caracterizada pelo caso concreto, o discente terá a oportunidade de desenvolver as habilidades e competências necessárias para a análise crítica, autoaprendizagem e articulação entre teoria e prática, de modo a fundamentar suas respostas a partir dos seguintes temas:
Letra A: análise da teoria da norma.
Letra B: análise do tempo do crime
Letra C: análise da relação de causalidade. Não obstante seja objeto da aula 5, o discente poderá pesquisar sobre o tema.
Letra D: análise da omissão imprópria e responsabilização jurídico-penal da conduta do agente garantidor.
A questão versa sobre a responsabilização do agente garantidor, consoante o disposto no art.13,§2º, do Código Penal.
DIREITO PENAL I – SEMANA 5
(XXIX EXAME UNIFICADO DE ORDEM) Durante a madrugada, Lucas ingressou em uma residência e subtraiu um computador. Quando se preparava para sair da residência, ainda dentro da casa, foi surpreendido pela chegada do proprietário. Assustado, ele o empurrou e conseguiu fugir com a coisa subtraída. Na manhã seguinte, arrependeu-se e resolveu devolver a coisa subtraída ao legítimo dono, o que efetivamente veio a ocorrer. O proprietário, revoltado com a conduta anterior de Lucas, compareceu em sede policial e narrou o ocorrido. Intimado pelo Delegado para comparecer em sede policial, Lucas, preocupado com uma possível responsabilização penal, procura o advogado da família e solicita esclarecimentos sobre a sua situação jurídica, reiterando que já no dia seguinte devolvera o bem subtraído. Na ocasião da assistência jurídica, o(a) advogado(a) deverá informar a Lucas que poderá ser reconhecido(a) 
A) a desistência voluntária, havendo exclusão da tipicidade de sua conduta. 
B) o arrependimento eficaz, respondendo o agente apenas pelos atos até então praticados. 
C) o arrependimento posterior, não sendo afastada a tipicidade da conduta, mas gerando aplicação de causa de diminuição de pena.
D) a atenuante da reparação do dano, apenas, não sendo, porém, afastada a tipicidade da conduta.
COMENTÁRIOS:
Trata-se de crime de ROUBO previsto no art. 157 do CP, dado à violência sacada contra a vítima visando assegurar o produto do crime. Cremos que houve uma progressão criminosa. 
Aliás Crime progressivo é aquele realizado mediante um único ato ou atos que compõem único contexto. Em outras palavras, ocorre quando o agente, para alcançar um resultado mais grave, passa por uma conduta inicial que produz um evento menos grave.
· A progressão criminosa é aquela realizada mediante dois atos, dois movimentos, ou seja, quando o agente inicia um comportamento que configura um crime menos grave, porém, ainda dentro do mesmo iter criminis, resolve praticar uma infração mais grave, que pressupõe a primeira.
A diferença básica entre crime progressivo e progressão criminosa se relaciona diretamente com a questão de dolo. No crime progressivo o agente, desde o início, tem a intenção de praticar um crime mais grave, mas, para concretizá-lo, passa pelo menos grave. Na progressão criminosa o agente inicialmente queria o resultado menos grave, mas, no "meio do caminho" muda de ideia e passa a querer o resultado mais grave, como demonstra a proposta da questão. 
Noutro giro, são espécies da chamada tentativa abandonada, vêm previstos no art. 15 do Código Penal. Aquele que, voluntariamente, desiste em prosseguir na execução do crime só responderá pelos atos

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