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1 Introdução Crimes omissivos próprios O crime omissivo se tipifica quando o agente não faz o que pode e deve fazer, e que foi juridicamente ordenado a ele. O crime omissivo então consiste na omissão de uma determinada ação que o sujeito tinha a obrigação de realizar e que podia reali- zar. O crime omissivo se divide em omissivo próprio e omissivo impróprio. Os crimes omissivos próprios são crimes de mera conduta e a gente não atribui a eles nenhum resultado. Os crimes omissivos impróprios, pelo contrário, são crimes de resultado. Em obediência ao princípio da reserva legal, os crimes omissivos próprios são previs- tos obrigatoriamente em tipos penais específicos. Os crimes omissivos impróprios não tem uma tipologia específica. Eles se inserem na tipificação comum dos crimes de resultado, como o homicídio e a lesão corporal. O agente vai responder não pelo resultado em si, mas por não ter evitado que esse resul- tado acontecesse. Pro Direito Penal, o não impedimento equivale a causar o resultado. Os crimes omissivos próprios ou puros, consistem na desobediência a uma norma mandamental, que determina a prática de uma conduta que não é realizada. Sucede então a omissão de um dever de agir, quando era possível agir, desde que o agente não sofresse riscos. Pra que o delito se consume, basta então a abstenção, ou seja a desobediência ao dever de agir. O resultado que eventualmente surge da omissão é irrelevante pra consumação do crime. Quem responde pelo resultado é a pessoa que deu causa ao resultado, e não aquele que se omitiu do dever de agir. O resultado pode configurar uma majorante ou uma qualificadora. Na omissão de socorro, por exemplo, prevista no artigo 135, do CP. Se a pessoa deixa de agir quando deveria, está consumado o crime de omissão de socorro. Se a vítima, quer dizer, a pessoa que estava em perigo, sofre uma lesão grave ou morre, ou seja, se se concretiza uma consequência danosa, o agente continua sendo responsabilizado pelo crime omissivo próprio, isto é, pela mera inatividade. O eventual resultado lesão grave ou morte, vai constituir uma ma- jorante da pena do crime de omissão de socorro, como está previsto no parágrafo único do artigo 135 do CP. Quem responde pelo crime de lesão grave ou de homicídio é a pessoa que causou a lesão ou a morte. Estrutura dos tipos omissivos e omissivos dolosos Direito Penal I 2 Crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão No crime comissivo por omissão ou omissivo impróprio, o dever de agir é pra evitar um resultado concreto. O agente não tem simplesmente a obrigação de agir, mas a obrigação de agir pra evitar um resultado, isto é, com a finalidade de impedir a ocorrência de determinado evento. Nos crimes comissivos por omissão, existe crime material ou crime de resultado. São elementos do crime omissivo impróprio: A abstenção da atividade que a norma impõe, ou seja, a ausência da ação imposta pelo norma penal A superveniência do resultado típico em decorrência da omissão, e aqui a gente vê a importância do resultado nesse tipo de crime E a existência da situação geradora do dever jurídico de agir, ou seja, o lugar do garantidor, que é a pessoa que deveria agir. Os crimes comissivos surgem de uma norma proibitiva. Ou seja, o direito proíbe que o sujeito aja de determinada maneira. Nos crimes comissivos por omissão, existe uma norma mandamental que é dirigida a um grupo restrito de sujeitos. Essa norma impõe, ao contrário do que acontece nos crimes comissivos, um dever de agir, pra impedir um resultado lesivo. Os sujeitos que fazem parte desse grupo restrito são os garantidores. Eles devem prevenir, ajudar, instruir, defender e proteger o bem jurídico que está sen- do ameaçado. Eles são a garantia de que o resultado lesivo não vai acontecer. No código de 1940, a figura do garantidor era só um produto da doutrina, ou seja, ela não estava expressa na lei. Com a reforma penal de 1984, o código passou a regular expressamente as hipóteses nas quais o agente assume a condição de garantidor (artigo 13, §2º do CP). Pressupostos fundamentais do crime omissivo impróprio Poder agir O poder agir é um pressuposto básico de todo comportamento humano. Na omis- são, também é necessário que o sujeito tenha a possibilidade física de agir, pra que a gente possa afirmar que ele voluntariamente não agiu. Só o dever de agir não é suficiente, é preciso que, além do dever de agir, exista também essa possibilidade física de agir. Essa possibilidade física não existe nos casos de coação física irresistível. Nesse caso, a gente não pode nem falar em omitente, ou seja, a pessoa que se omitiu, porque não existe vontade. E se não existe vontade, não existe ação, nem ativa e nem passiva. 3 Evitabilidade do resultado Ainda que o sujeito tivesse a possibilidade de agir, quando a gente faz um juízo hi- potético de eliminação, ou seja, a gente imagina que a conduta devida foi realizada, a gente precisa analisar se o resultado teria acontecido ou não. Se a conduta devida realizada impede o resultado, a gente considera que a omissão dessa conduta deu causa ao resultado. Se a realização da conduta devida não impediria a ocorrência do resultado, a gente conclui que a omissão não deu causa ao resultado. A ausência dessa relação de causalidade, ou melhor, dessa relação de não impe- dimento, faz com que a gente não possa atribuir o resultado ao omitente. Se isso acontecesse, a gente estaria diante de um caso de responsabilidade objetiva. Dever de evitar o resultado Se o agente podia agir e se o resultado desapareceria com a conduta omitida, ainda assim a gente não pode imputar o resultado ao sujeito que se omitiu. É necessária uma terceira condição: é preciso que o sujeito tivesse o dever de evitar o resultado, ou seja, o sujeito precisa ser garantidor da não ocorrência desse resultado. Como a gente acabou de falar, a figura do garantidor passou a ser regulada pelo nosso CP depois da Reforma Penal de 1984, no §2º do artigo 13. Fontes Originadoras da posição de garantidor Obrigação legal de cuidado, proteção ou vigilância Esse dever aparece numa série de situações, como, por exemplo, o dever de assis- tência que os cônjuges se devem mutuamente e que os pais devem aos filhos. Existe também o dever legal das pessoas que exercem determinadas atividades, que têm implícita a obrigação de cuidado, proteção ou vigilância em relação ao bem alheio, como o policial, o médico e o bombeiro. Nesses casos, o sujeito que, em razão da sua omissão, descumprindo o dever de agir, não interromper o processo causal e o resultado acabar ocorrendo, vai ser conside- rado pelo Direito Penal como causador desse resultado. De outra forma, assumir a responsabilidade de impedir o resultado O sujeito se coloca voluntariamente na condição de garantidor e assume esse com- promisso. Não é necessário que essa posição dure por determinado período, ela pode ser transitória, ainda que por algumas horas. Se essa pessoa se omitir diante de uma conduta necessária pra impedir um resultado lesivo, ela também vai ser respon- sável por esse resultado. 4 Com o comportamento anterior, cria o risco da ocorrência do resultado Nesses casos, o sujeito coloca em andamento, com a sua atividade anterior, um pro- cesso de risco, ou então, com o seu comportamento, agrava um processo que já existe. Não importa se isso acontece voluntariamente ou involuntariamente, de for- ma dolosa ou culposa. O que importa é se uma situação de risco foi originada ou se uma situação que já existia foi agravada a partir da ação ou da omissão do sujeito. Por conta desse comportamento anterior, surge a obrigação de impedir que essa situação de perigo evolua pra uma situação de dano efetivo, ou seja, que o resultado lesivo venha a ocorrer. Nessas situações, quando ocorre culpa, a gente pode ter dificuldade em determinar se se trata de um crime culposo comissivo por omissão, e que por isso só pode ser praticado pra quem é garantidor, ou se se tratade um crime culposo comissivo.
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