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DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DO ADOLESCENTE Professor: Me. Paulo Rogério da Silva Diretoria Executiva Pedagógica Janes Fidelis Tomelin Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Head de Projetos Educacionais Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Projeto Gráfico Thayla Guimarães Designer Educacional Marcus Vinicius Almeida Editoração Bruna Stefane Martins Marconato Ilustração Marcelo Goto / Bruno Pardinho Qualidade Textual Produção de Materiais DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site shutterstock.com C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SILVA, Paulo Rogério da. Adolescência e suas Características Psicossociais. Paulo Rogério da Silva. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 56 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Adolescência. 2. Psicossociais. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 370 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 04 sumário 06| ADOLESCÊNCIA: O QUE É? 15| ETAPA DE GRANDES TRANSFORMAÇÕES 25| EM BUSCA DA IDENTIDADE 34| ALTERIDADE E SEXUALIDADE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Apresentar a adolescência como uma etapa de mudança biopsicossocial, o que justifica, por sua vez, a complexidade em torno de sua tentativa de definição. • Identificar as principais transformações físicas, cognitivas e psicossociais que ocorrem no período da adolescência. • Compreender a adolescência como a busca por uma identidade em for- mação e abordar a concepção psicossocial acerca das crises segundo Erik Erikson, em especial sobre a crise decorrente da identidade versus confu- são de papéis, próprio da adolescência. • Elencar outros aspectos do desenvolvimento psicossocial da adolescência, como a alteridade, os relacionamentos sociais e a sexualidade. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Adolescência: o que é? • Etapa de grandes transformações • Em busca da identidade • Alteridade e Sexualidade DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DO ADOLESCENTE INTRODUÇÃO introdução Não é novidade o fato de que a adolescência tem sido objeto de estudo para inúmeras áreas do saber, bem como um tema de interesse para a sociedade em geral. Por outro lado, não raro, percebe-se uma permanente desorientação por parte de familiares e educadores quanto aos conceitos, práticas pedagógicas e questões metodológicos que envolvem o comportamento e a socialização dos adolescentes. Perante esse cenário, portanto, torna-se fundamental com- preender a adolescência, bem como as principais referências teórico-práticas que envolvem o seu desenvolvimento. Por conta disso, nossos encontros apresentarão alguns conceitos sobre adolescência, porém sem a pretensão em defini-la como se fosse um evento simples e objetivo. Pelo contrário, acreditamos que não há uma única forma de compreensão da adolescência, muito menos uma única teoria que a re- presente. Discutir sobre a adolescência é abrir mão de um certo dogmatismo conceitual para refletirmos sobre as diversas concepções apresentadas, inde- pendentemente das filiações teóricas. Levando em consideração a adolescência como um período de grandes transformações, abordaremos as principais mudanças físicas, cognitivas e psicos- sociais que ocorrem no período da adolescência, tendo como referência alguns autores como Piaget, Erikson, Freud e outros. Além disso, também estudaremos a adolescência como a busca por uma identidade em formação, demarcada pela vivência de crises e compromissos frente a si mesmo e aos outros. Logo, ao apresentarmos os processos de formação da identidade, também refletire- mos sobre a valorização da alteridade e das diferenças, elementos fundamentais para a constituição de bons vínculos relacionais com a família e com os amigos. Por fim, partindo do pressuposto do desenvolvimento psicossexual de Freud, abordaremos os desafios e as possibilidade de uma sadia orientação sexual, bem como o estabelecimento de canais de diálogo e formação sobre o assunto. Pós-Universo 6 Nas sociedades tribais, a passagem do mundo infantil para o adulto é marcada por rituais de passagem bem delimitados e específicos; em semanas ou meses, após o término das provas físicas ou comportamentais, a criança passava a ser aceita na tribo como adulto. Já nas sociedades modernas, pós-revolução industrial, por conta do de- senvolvimento do trabalho e das áreas especializadas, bem como os novos papéis assumidos por adolescentes e adultos, essa passagem do mundo infantil à maturida- de apresenta-se como um processo bem mais lento e fragmentado. Por conta disso, neste cenário atual, convém questionarmos: o que caracterizaria então um indiví- duo na adolescência? Seriam suas mudanças corporais? Sua maturidade emocional? Sua idade? A legislação? ADOLESCÊNCIA: O QUE É? Pós-Universo 7 Para continuarmos a discussão destes questionamentos, é preciso esclarecer três questões básicas: a. Distinção entre adolescência e puberdade. b. O caráter arbitrário da demarcação cronológica da adolescência. c. A complexidade em torno das concepções ou definições de adolescência(s). Puberdade e adolescência Diversos autores adotam a distinção entre puberdade e adolescência, que, apesar de intimamente ligados, são termos que não possuem os mesmos significados (WORLD HEALTH ORGANIZATION [WHO], 1986, 2014a; PAPALIA; FELDMAN, 2013; GRIFFA; MORENO, 2011; KAY; TASMAN, 2002, entre outros). O conceito de puberdade está relacionado, geralmente, às mudanças físicas que passam a ocorrer no início da ado- lescência a partir dos 8-10 anos (desenvolvimento do corpo e dos órgãos sexuais, bem como o surgimento de sinais fisiológicos do amadurecimento sexual). Já a adolescência envolve um processo de desenvolvimento mais complexo, que não se limita apenas à dimensão biológica, mas também leva em consideração as- pectos cognitivos, morais, emocionais e psicossociais. Para a Organização Mundial da Saúde, a adolescência é uma etapa biopsicossocial de grandes transformações, cujas características “dependem essencialmente das formas em que os fatores biológicos, psicológicos e sociais se combinam para assim moldar os padrões maturacionais en- volvidos” (WORLD HEALTH ORGANIZATION [WHO], 1986, p. 17, tradução nossa). A partir destas informações, é possível destacar pelo menos dois critérios de dis- tinção entre puberdade e adolescência: Em primeiro lugar, a puberdade é influente para a adolescência, mas não de- terminante. Segundo Moragas (apud GRIFFA; MORENO, 2011, p. 11), por exemplo, a puberdade, enquanto mudanças bioquímicas, pode ser precedida, acompanha- da ou seguida de um período da adolescência, porém, o contrário não procede; ou seja, se devido a transtornos físicos a puberdade não ocorrer – ou apenas aconte- cer de forma atenuada –, isso não quer dizer que a adolescência não se manifestará no indivíduo. Portanto, a puberdade é um elemento fundamental para o início da adolescência, mas não um requisito único e obrigatório, uma vez que a adolescên- cia não se resume apenas às transformações físicas. Pós-Universo 8 Em segundo lugar, se por um lado as mudanças da puberdade seguem, geral- mente, um mesmo padrão, não se pode afirmar o mesmo com relação às mudanças ocorridas naadolescência. Para Cerqueira-Santos, Melo Neto e Koller (2014, p. 18), en- quanto as mudanças biológicas do período da puberdade são universais e visíveis, os critérios que caracterizam a adolescência são psicossociais e variáveis de acordo com cada cultura e indivíduo. Desta maneira, universalizar os processos de desen- volvimento da adolescência, como se fossem os mesmos em todos os indivíduos e culturas, destitui o caráter singular e sociocultural da experiência adolescente, como também a caracteriza de modo ideológico, abstrato e hipostático – isto é, separado daquilo que o adolescente é na vida real. A etimologia do termo “puberdade” vem do latim “pubertas, -tatis” (adolescen- te, idade viril), que, por sua vez, decorre do verbo “pubescere”, que significa “cobrir-se de pelos, chegar à puberdade” ou, figurativamente, “brotar, crescer, desenvolver-se” (FARIA, 1982, p. 450). Já a palavra “adolescência”, que também tem origem no latim, vem do substantivo feminino “adolescentia, -ae” ou “adulescentia, -ae” (adolescência, mocidade), que deriva do verbo “adoles- cere”, que quer dizer “crescer, desenvolver-se, engrossar, tornar-se maior” Fonte: Faria (1982, p. 27-28). saiba mais Demarcações cronológicas da adolescência Do ponto de vista cronológico, existem inúmeros critérios que demarcam diferente- mente crianças, adolescentes, jovens e juventude. A Organização Mundial da Saúde, por exemplo, em seu documento Young People’s Health, define como “adolescen- tes” (adolescents) aquelas pessoas entre 10 e 19 anos, uma vez que essa faixa etária englobaria o tempo da puberdade, como também seria útil para fins estatísticos e políticos (WORLD HEALTH ORGANIZATION [WHO], 1986, p. 11). Esse, critério, porém, não é o mesmo utilizado pela ONU, que desde a ocasião do Ano Internacional da Juventude, em assembleia de 18 de novembro de 1985, definiu como “juventude” (youth) a faixa etária dos 15 aos 24 anos (UNITED NATIONS, 2001, p. 2). Pós-Universo 9 Para tentar resolver esse impasse – uma vez que essa demarcação da ONU não contemplava toda a etapa da adolescência –, a OMS criou mais uma demarcação cronológica, definindo como “jovens” (young people) a faixa etária dos 10 aos 24 anos e sugerindo, por sua vez, três divisões quinquenais (10-14, 15-19 e 20-24 anos) que poderiam ser consideradas separadamente, quando necessário (WORLD HEALTH ORGANIZATION [WHO], 1986, p. 12). Apesar da OMS ter incluído os indivíduos de 20-24 anos na definição de “jovens”, em seus documentos mais recentes, deixa claro que a demarcação cronológica oficial para a adolescência obedeceria unicamente à faixa etária dos 10 aos 19 anos (WORLD HEALTH ORGANIZATION [WHO], 2014a), critério esse que também é seguido pelo Ministério da Saúde, que adota igualmente essa faixa de 10-19 anos para a classifi- cação do público adolescente (BRASIL, 2010a, p. 7; 2010b, p. 5). No caso da legislação, no âmbito nacional, a demarcação cronológica da adoles- cência está representada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, que considera como adolescente pessoas entre 12 e 18 anos de idade (BRASIL, 2014, p. 11). No âmbito internacional, porém, a adolescência está incluída na definição de “criança” como pessoas menores de 18 anos de idade, adotada pela Convenção sobre os Direitos da Criança, realizada pela Assembleia da ONU, em 20 de novembro de 1989 (UNITED NATIONS, 1999, p. 46). A diversidade destas demarcações nos sugere que a definição de adolescência, segundo o aspecto etário, converge para uma questão de natureza arbitrária e espe- cificamente numérica, geralmente adotada para fins estatísticos, jurídicos e políticos. Tais demarcações que determinam o começo e o final da adolescência não devem, portanto, ser rigorosamente consideradas como períodos universais, uma vez que elas não se preocupam em considerar o aspecto desenvolvimentista do adolescen- te, mas apenas enquadrá-lo em classificações etárias. Para Calligaris (2000), esse assunto é problemático, não tanto com relação à entrada na adolescência, mas com a saída: enquanto o começo da adolescência é marcado pela puberdade – elemento este razoavelmente visível e objetivo –, o final da adolescência, enquanto exteriorização de práticas, comportamentos ou papéis sociais, não possui elementos de clareza e objetividade, o que reforça mais ainda o caráter indefinido da moratória adolescente: “como ninguém sabe direito o que é um homem ou uma mulher, ninguém sabe também o que é preciso para que um adolescente se torne adulto” (CALLIGARIS, 2000, p. 21). Pós-Universo 10 Moratória: na psicologia e na pedagogia, o conceito foi adaptado como um tempo de flexibilidade e espera que a sociedade concede ao adolescente. Segundo Erikson, moratória psicossocial na adolescência é “um compasso de espera nos compromissos adultos”. Trata-se do período necessário para os adolescentes procurem alternativas quanto à formação de sua identida- de e experimentação de papéis. Fonte: Erikson (1976). saiba mais Adolescência ou adolescências? Para compreendermos a complexidade do conceito de “adolescência”, precisamos, a princípio, retomar o desenvolvimento da abordagem com adolescentes na histó- ria. Phillipe Ariès, no seu livro História Social da Infância e da Família, volta às origens remotas da Idade Média para diagnosticar que, até o final do século XVIII, ainda não existia uma concepção de infância como período autônomo do desenvolvimento humano. Pelo contrário, as crianças eram tratadas como adultos em miniatura, desde os trajes até as atividades de lazer – o que implicava também na ausência do con- ceito de adolescência: “ Na sociedade medieval [...] o sentimento da infância não existia – o que não quer dizer que as crianças fossem negligenciadas, abandonadas ou despre- zadas. O sentimento de infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particu- laridade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. Essa consciência não existia (ARIÈS, 1986, p. 156). No entanto, a partir de meados do séc. XVI-XVII, com as mudanças promovidas pela Revolução Industrial, esse cenário foi, aos poucos, alterado, muito por conta do sur- gimento das leis trabalhistas – que proibiu o trabalho de crianças –, como também pela crescente política de escolarização. Tal distinção entre infância e mundo adulto fez, desta forma, com que também se cogitasse a hipótese de uma etapa de transição entre a infância e vida adulta, pesquisada, a partir do séc. XIX, por diversos autores. Pós-Universo 11 Dentre os precursores do estudo da adolescência como etapa de transição, podemos citar as pesquisas de Stanley Hall (1844-1924), que compreendia a adoles- cência como uma espécie de segundo nascimento. Adepto do evolucionismo, Hall considerava a adolescência como um período de transição, tipicamente conturbado e turbulento – em vista das alterações emergentes da puberdade –, mas que levava à evolução da vida adulta (GRIFFA; MORENO, 2011). As pesquisas de Sigmund Freud (1856-1939) também foram importantes para esse processo de desenvolvimento da abordagem adolescente. Apesar de não ter se ocupado especificamente com adolescentes, seus escritos acerca da tríade “pulsões- -autogratificação-culpa” e da questão relativa à “dissolução do complexo de Édipo” foram facilmente transpostos para a pesquisa com adolescentes, por autores como Anna Freud e Erik Erikson. Anna Freud (1895-1992), no livro O Ego e os Mecanismo de Defesa, descreve o comportamento adolescente como oscilante entre tendências que naturalmente se contrapõem – o que reforça, por sua vez, a ideia de um conflito existente entre pulsões, autogratificação e culpa. Segundo a autora, “os adolescentes são excessiva- mente egoístas” e se consideram o “centro do Universo”, porém, ao mesmo tempo, também “são capazes de tanta abnegação e dedicação”. Se por um lado, “atiram--se entusiasticamente à fruição da vida da comunidade, por outro, “possuem uma irresistível ânsia de solidão”. E termina afirmando o seguinte: “oscilam entre a cega submissão a um líder autoeleito e a rebelião insolente contra toda e qualquer au- toridade. São egoístas e materialistas. Ao mesmo tempo, porém, são cheios de um idealismo grandioso” (FREUD, A. 2006, p. 99). Para Freud, a estrutura psíquica humana é formada pelo “Ego” (ou eu), “Id” (princípio do prazer) e “Superego” (princípio da regra e contenção do Id). O Ego seria responsável pela interação entre sujeito e ambiente, como também pela mediação entre Id e Superego. O aumento da pressão pulsional do Id na adolescência faz com que o inconsciente busque com mais frequência a autogratificação. Esse processo, por sua vez, também ativa o mecanismo de repressão do Superego, que interrompe o processo, cria o sentimento de angústia/culpa e reorganiza uma nova estrutura psíquica moral. Quando tais reorganizações sublimam demasiadamente o processo de autogratifi- cação, surgem então as psicoses e patologias, que precisam ser resolvidas adequadamente na esfera consciente do Eu. Fonte: Freud (2011a; 2011b). saiba mais Pós-Universo 12 E você? Também considera oscilante o comportamento adolescente? Como você lidaria com ele nessas situações? reflita Apesar de inúmeros escritos psicanalíticos, foram os trabalhos de Erick Erikson (1902- 1994) que institucionalizaram a adolescência como um tema específico na literatura da psicologia do desenvolvimento: “à medida que os progressos tecnológicos ampliam cada vez mais o intervalo de tempo entre o começo da vida escolar e o acesso final do jovem ao trabalho especializado, a fase da adolescência torna-se um período mais acentuado e consciente” (ERIKSON, 1976, p. 128). Caracterizada pela crise entre “formação de identidade” e “confusão de papéis”, a adolescência, segundo Erikson, é a fase da moratória psicossocial, momento de pausa necessário para que os ado- lescentes experimentem novos papéis sociais e busquem o comprometimento do mundo adulto (ERIKSON, 1971; 1976). Na América Latina, a abordagem psicanalítica foi levada adiante por Arminda Aberastury e Maurício Knobel, que apresentam a adolescência como uma nova fase para o indivíduo, não só por conta das mudanças biológicas, mas também pelos novos papéis sociais assumidos do mundo adulto. Na opinião de Aberastury et al. (1981), em vista desta nova etapa, a adolescência caracteriza-se como uma vivência de lutos e perdas: luto pelo corpo infantil, que já não tem mais; luto pela identidade infantil, perdida por conta das novas responsabilidades assumidas; luto pelos pais da infância, que já não o tratam da mesma forma como na época de criança. Knobel (1981), por sua vez, apresenta a adolescência como um público vulnerá- vel, alvo de inúmeros fenômenos patológicos (alcoolismo, uso de drogas, violência etc.), que não têm origem no mundo adolescente, mas são decorrentes e estimula- dos pelo próprio mundo adulto. Pós-Universo 13 Por conta disso, o autor entende a adolescência a partir de características gerais que formam a chamada “síndrome da adolescência normal” e justificam essa vulnerabilidade: “ 1) busca de si mesmo e da identidade; 2) tendência grupal; 3) necessida- de de intelectualizar e fantasiar; 4) crises religiosas, que podem ir desde o ateísmo mais intransigente até o misticismo mais fervoroso; 5) deslocalização temporal, em que o pensamento adquire as características de pensamento primário; 6) evolução sexual manifesta, desde o autoerotismo até a heteros- sexualidade genital adulta; 7) atitude social reivindicatória com tendências anti ou associais de diversa intensidade; 8) contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta, dominada pela ação, que constitui a forma de expressão conceitual mais típica deste período da vida; 9) uma separação progressiva dos pais; e 10) constantes flutuações de humor e do estado de ânimo (KNOBEL, 1981, p. 29). A partir da segunda metade do séc. XX até hoje, diversos autores também buscaram compreender a adolescência, seja como fase de transição cognitiva, psicossocial, cul- tural, ou até como resultado das condições sócio-históricas. Papalia e Feldman (2013) consideram a adolescência como fase de transição no desenvolvimento entre a infância e a idade adulta, que envolve grandes mudanças físicas, cognitivas e psicossociais inter-relacionadas. Para Muuss (1976), a adolescên- cia também é compreendida como um período de transição, enfatizando, porém, a passagem da dependência infantil para a autossuficiência adulta. De acordo com Levisky (2013), a fase de transição da adolescência não pode ser encarada de um modo universalista (isto é, de um mesmo modo para todos), pois a passagem da infância para a vida adulta acontece de acordo com as condições ambientais, socio- culturais e segundo os critérios da história pessoal do indivíduo. Segundo Calligaris (2000), os adolescentes apresentam dificuldades em atraves- sar essa fase de transição, pois, uma vez que a questão da moratória é algo instituído culturalmente pelo mundo adulto – tão desorientado quanto o da adolescência –, os critérios que preveem a saída da moratória adolescente tornam-se incertos e vagos. Por fim, Becker (1989) salienta a necessidade de um tratamento especial com relação ao adolescente, bem como a necessidade de prescindir daquelas representações sociais que o consideram como pessimista e polêmico, uma vez que a transição da infância para a vida adulta equivale à passagem de uma atitude de simples especta- dor para outra ativa e questionadora. Pós-Universo 14 No entanto, para alguns autores adeptos da linha sócio-histórica, como Cerqueira- Santos, Melo Neto e Koller (2014), Aguiar, Bock e Ozella (2007) e Bock (2007), as abordagens e pesquisas realizadas pela psicologia convencional, de modo geral, tem provocado uma certa naturalização a respeito do desenvolvimento na adoles- cência, sem nenhuma preocupação de contextualizá-las na cultura, na sociedade e na história. Noutras palavras, segundo a interpretação sócio-histórica, a questão da adoles- cência não deve ser compreendida a partir de etapas ou transições universais; pelo contrário, a adolescência é resultado de uma produção cultural típica das exigências da sociedade atual. Para Bock (2007, p. 68), “a abordagem sócio-histórica, ao estudar a adolescência, não faz a pergunta ‘o que é a adolescência’, mas, ‘como se constituiu historicamente este período do desenvolvimento’”. Nesta perspectiva, os conflitos da adolescência precisam ser avaliados e com- preendidos a partir das próprias condições de vida do adolescente. Negligenciar tais condições na psicologia do desenvolvimento – por meio de teorias que supõem a generalização de estágios ou uma igualdade de critérios interpretativos para a com- preensão dos dilemas – equivale a dissimular e ocultar as desigualdades presentes nas relações sociais dos adolescentes, bem como naturalizar e legitimar um concei- to oficial – e, por isso, ideológico – de adolescência, totalmente desvinculado das condições reais de vida (AGUIAR; BOCK; OZELLA, 2007). Mas depois de tantas definições e conceitos, perguntamos: é possível responder o que é adolescência? Levando em consideração a complexidade da adolescência, suas inúmeras interpretações, linhas de pensamento, demarcações cronológicas e outros elementos afins, podemos concluir que toda tentativa de definição tem como resultado o empobrecimento da discussão e da prática, a ideologização do concei- to e a fragmentação do tema. Mais importante do que encontrar uma definição é ter a convicção que a adolescência precisa ser compreendida a partir dela mesma, levando em consideração todos os aspectos relevantes para o desenvolvimento do adolescente (físico, cognitivo, moral, emocional, psíquico, pessoal, sócio-histórico). Enfim, a adolescência nãoé um problema, uma fase negativamente conflitiva, muito menos rebelde por natureza. Pensar a adolescência é também compreender a maturação da autonomia do indivíduo, capaz de pensar, questionar e participar ativamente da vida familiar, escolar e social. Acima de tudo, como educadores, preci- samos desafiar nossas crenças teóricas e representações sociais sobre o adolescente, bem como perceber que, para além das filiações teóricas, não temos em mãos uma “adolescência”, mas “adolescências”. Pós-Universo 15 Conforme já estudamos, a adolescência é um período que oferece ao indivíduo oportunidades de desenvolvimento não apenas restritos ao aspecto biológico, mas também cognitivo, moral e psicossocial. Ou seja, trata-se de um momento de grandes transformações em um curto período de tempo. Por conta disso, torna-se essencial conhecermos um pouco mais sobre tais mu- danças, para assim compreendermos a subjetividade adolescente e seus típicos comportamentos. Para tanto, nesse encontro, voltaremos nossa atenção para o de- senvolvimento físico e cognitivo na adolescência. ETAPA DE GRANDES TRANSFORMAÇÕES Pós-Universo 16 Desenvolvimento físico O desenvolvimento físico na adolescência tem como referência a puberdade, que se trata das modificações biológicas que ocorrem, normalmente, a partir dos 8 anos nas meninas e dos 9 anos nos meninos. De modo geral, é possível perceber tais mu- danças físicas na adolescência a partir de três aspectos: 1. Pelo rápido crescimento corporal. Também chamado de “estirão do crescimento”, é possível notar no adolescente o rápido aumento na altura, peso, musculatura e ossatura. Para as meninas, esse processo ocorre entre os 9 anos e meio aos 14 anos e meio (em média, aos 10 anos); e para os meninos, entre os 10 anos e meio e os 16 anos (em média, aos 12 anos). Desta maneira, como o estirão de crescimento das meninas pode ocorrer dois anos antes que o dos meninos, é possível notar que, inicialmente, por volta dos 13 anos, as meninas costumam ser mais altas e pesadas que os meninos da mesma idade (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Figura 1 - Crescimento corporal feminino na adolescência Fonte: Amaral (2007, p. 4). Pós-Universo 17 2. Pelo desenvolvimento dos caracteres sexuais primários e secundá- rios. Os caracteres sexuais primários são aqueles relacionados aos órgãos de reprodução (ovários, trompas, útero e vagina para as meninas; testícu- los, pênis, escroto, vesículas seminais e próstata para os meninos), que já existiam antes da puberdade, mas que, a partir dela, crescem de tamanho e amadurecem. Já os caracteres sexuais secundários são aqueles sinais fi- siológicos de amadurecimento sexual que não envolvem diretamente os órgãos sexuais e que aparecem somente com a puberdade (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Tabela 1 – Desenvolvimento dos Caracteres Sexuais Primários e Secundários Meninos Meninas Caracteres sexuais primários Aumento do pênis e dos testículos. Crescimento do útero e da vagina Caracteres sexuais secundários Modificação na voz, apare- cimento de pelos púbicos, axilares e faciais, aumento na largura dos ombros, mudança na textura da pele (que pode provocar a acne) Crescimento das glândulas mamárias, aparecimento de pelo púbicos, aumento dos quadris, mudança na textura da pele (que pode provocar a acne) Fonte: adaptada de Papalia e Feldman (2013); Griffa e Moreno (2011). 3. Pelo aparecimento dos sinais de maturidade sexual. O desenvolvimen- to dos órgãos reprodutores leva, portanto, à maturidade sexual. Para os meninos o principal sinal desta maturidade é a produção do esperma, per- cebido com a espermaca (primeira ejaculação), em torno dos 13 anos. Para as meninas, o principal sinal é a menstruação, percebido com a menarca (primeira menstruação), por volta dos 10 aos 16 anos e meio. Pós-Universo 18 Tabela 2 – Sequência usual de mudanças fisiológicas na adolescência Características Femininas Idade de Aparecimento Crescimento dos seios 6-13 Crescimento dos pelos pubianos 6-14 Crescimento corporal 9,5-14,5 Menarca 10-16,5 Pelos axilares Cerca de dois anos após o aparecimento de pelos pubianos Aumento na produção de glându- las sebáceas e sudoríparas (o que pode causar acne) Aproximadamente na mesma época que o aparecimento de pelos axilares Características Masculinas Idade de Aparecimento Crescimento dos testículos, escroto 10-13,5 Crescimento dos pelos pubianos 12-16 Crescimento corporal 10,5-16 Crescimento do pênis, da próstata e das vesículas seminais 11-14,5 Alteração na voz Aproximadamente na mesma época que o crescimento do pênis Primeira ejaculação do sêmen Aproximadamente um ano depois do início do crescimento do pênis Pelos faciais e axilares Aproximadamente dois anos após o apareci- mento de pelos pubianos Aumento na produção de glându- las sebáceas e sudoríparas (o que pode causar acne) Aproximadamente na mesma época que o aparecimento dos pelos axilares Fonte: adaptada de Papalia e Feldman (2013). Apesar destas mudanças serem universais e ocorrerem em todos os seres humanos, não podemos deixar de observar que elas podem sofrer variações, isto é, ser aceleradas, atrasadas ou até interrompidas, dependendo dos fatores ambientais, socioeconômi- cos, psíquicas e nutricionais. Diversas pesquisas afirmam uma relação causal entre sinais da puberdade e fatores externos, como desnutrição e o atraso da menarca. Segundo Mattos (1985), em estudos realizados sobre a idade da menarca em meninas do Brasil e outros feitos nos Estados Unidos e na Europa, verificou-se que nas primeiras Pós-Universo 19 a menarca instala-se mais tarde que nas últimas. Esses resultados levaram a autora concluir que uma das causas para o atraso da menarca é a diferença na alimentação, decorrente da diferença de nível socioeconômico. Além disso, as mudanças físicas nunca ocorrem isoladamente; juntamente com a mudança corporal vem também as mudanças comportamentais. O luto pelo corpo infantil e pelos papéis desempenhados na infância dizem ao adolescente que ele não é mais criança e, por isso, está num processo de avaliação e moratória perante o mundo adulto. Um indivíduo com corpo adulto, porém com aspectos identitários e comportamentais ainda ligados ao mundo infantil. Justamente por não acompa- nhar a rapidez destas transformações, o adolescente se sente confuso e com dúvidas sobre o que exatamente mundo adulto espera dele. Desenvolvimento cognitivo Ao observar um adolescente, são notáveis as mudanças físicas. No entanto, as mu- danças na adolescência não ocorrem apenas no plano biológico, mas também no modo como pensam, avaliam e resolvem cognitivamente as situações e problemas. Apesar de apresentar, em alguns momentos, aspectos imaturos do pensamento, o adolescente é capaz de promover raciocínios abstratos, bem como avaliar juízos morais de modo sofisticado. Para conhecermos um pouco mais esse aspecto do desenvolvimento, estudare- mos alguns elementos de Jean Piaget (1896-1980), que oferecerá pistas fundamentais para a compreensão do amadurecimento cognitiva na adolescência. Os pressupostos da teoria do desenvolvimento de Piaget A teoria de Jean Piaget é singular para o estudo da adolescência porque, além de apresentar elementos específicos do estágio de desenvolvimento cognitivo do ado- lescente, também oferece subsídios para avaliar de que modo esse amadurecimento cognitivo pode ser ou não aplicado em outras áreas, por exemplo, na moral. Todavia, antes de falarmos especificamente sobre o estágio cognitivo na adolescência, pas- saremos por alguns conceitos básicos de Piaget, como inteligência e conhecimento, assimilação, acomodação, equilibração. Pós-Universo 20 1. Inteligência e Conhecimento. Na opinião de Piaget, a inteligência é compreendida como um desenvolvimento da capacidade de resolução de problemas e superação de limites, funções que estão ligadas, por sua vez, à capacidade adaptativa – que é inata aoser humano. Entretanto, apesar da tendência adaptativa ser inata, o mesmo não ocorre com o conhecimento, que nada mais é do que o resultado bem-sucedido desta interação adap- tativa do sujeito com o meio, mediada pela inteligência. Desta maneira, em oposição ao behaviorismo, o desenvolvimento cognitivo segundo Piaget não ocorre pelo acúmulo de informações (estímulos), mas, sobretudo, por meio de reorganizações de conhecimentos já existentes ou novos (es- quemas), através da interação entre sujeito (inteligência) e objeto (meio) (PIAGET, 1969). 2. Assimilação. A concepção interacionista entre sujeito e objeto promove outro conceito básico: o de assimilação. Para o autor, assimilar é equiva- lente ao processo de “incorporar as coisas e pessoas à atividade própria do sujeito, isto é, ‘assimilar’ o mundo exterior às estruturas já construídas” (PIAGET, 1969, p. 15). Noutras palavras, trata-se do procedimento mental de abstração e incorporação de informações de um objeto exterior aos es- quemas já existentes no sujeito. SUJEITO ASSIMILAÇÃO OBJETO Figura 2 - O mecanismo de assimilação Fonte: elaborada pelo autor. Pós-Universo 21 3. Acomodação. Uma vez que há novas informações incorporadas na mente, o sujeito passa então a reformular as estruturas cognitivas já existentes em vista dos novos conteúdos assimilados. Ou seja, enquanto a assimilação é a percepção de novos conteúdos vindos do objeto, a acomodação é a reestru- turação de conhecimentos anteriores existentes no sujeito. Portanto, “toda necessidade tende: 1º) a incorporar as coisas e pessoas à atividade própria do sujeito, isto é, ‘assimilar’ o mundo exterior às estruturas já construídas; e 2º) a reajustar estas últimas em função das transformações ocorridas, ou seja, ‘acomodá-las’ aos objetos externos” (PIAGET, 1969, p. 15). SUJEITO ACOMODAÇÃO OBJETO Figura 3 - O mecanismo de acomodação. Fonte: elaborada pelo autor. • 4. Equilibração. Para Piaget, a equilibração é compreendida como uma adequação mental bem-sucedida entre os novos conteúdos assimilados e as estruturas já existentes reformuladas. Isso gerará uma desequilibração temporária, mas que tem como objetivo a própria equilibração, isto é, a consolidação de novas informações reformuladas pelo sujeito. Quanto mais o sujeito adequa os novos objetos (assimilação) às reformulações mentais (acomodação), mais ele conhece. “Ora, assimilando assim os objetos, a ação e o pensamento são compelidos a se acomodarem a estes, isto é, a se reajustarem por ocasião de cada variação exterior. Pode chamar ‘adaptação’ ao equilíbrio destas assimilações e acomodações” (PIAGET, 1969, p. 15-16). Pós-Universo 22 Os estágios do desenvolvimento cognitivo Na proposta de Piaget, o conhecimento não é algo linear (acúmulo de informa- ções), mas um processo que acontece por saltos, rupturas, estágios e permanentes reorganizações (PIAGET, 1969, p. 11). Levando em consideração esse pressuposto, o desenvolvimento cognitivo passa então por estágios evolutivos intimamente relacio- nados, previstos inclusive por faixas etárias distintas. Contudo, deve-se notar que o começo e o fim de cada estágio dependem de outros elementos, como as caracte- rísticas biológicas dos indivíduos e os fatores externos em geral (cultura, sociedade, educação, condições socioeconômicas etc.). Por isso, as faixas etárias apresentadas em cada estágio são apenas referenciais criados pelo próprio autor em vista de melhor entendimento do desenvolvimento humano. No livro Seis Estudos de Psicologia, Piaget (1969) apresenta os seguintes estágios para o desenvolvimento cognitivo: Tabela 3 – Estágios do Desenvolvimento Cognitivo segundo Piaget Estágio Características Sensório- motor (0 a 2 anos) Possui uma inteligência prática, pois não emprega a linguagem, mas se adapta ao meio usando suas percepções (sensório) e ações (motor). Aquisições: *evolução da percepção e da motricidade; tem um crescimento orgânico acelerado; *demonstra sentimentos de afeto; *demonstra atitude ativa e participativa perante o meio. Limitações: ausência de capacidade de representação simbólica e, por isso, de pensamento e linguagem. Pré- Operatório (2 a 7 anos) Aparecimento da função simbólica e desenvolvimento da linguagem. Aquisições: *possui função simbólica ou representativa (por meio da memória, da imitação, do desenho, da linguagem e da brincadeira do “faz de conta”); *tem noção de identidade; *de classificação de coisas (por cores/formatos); *de causalidade. Limitações: *não consegue pensar em duas situações diferentes ao mesmo tempo (centração); *faz confusão entre aparência e realidade (ficção); *não reconhece o mesmo volume de água em copos com ta- manhos diferentes (ausência de conservação de tamanho e volume); *transporta para outras situações aquilo que aprendeu (raciocínio transdutivo); *aceita apenas aquilo que é bom para ela (egocentris- mo); *atribui vida própria aos objetos do cotidiano (animismo). Pós-Universo 23 Estágio Características Operatório Concreto (7 a 12 anos) Construção e descentração cognitiva Aquisições: *possui uma lógica interna consistente e a habilidade de solucionar problemas concretos (resolvendo limitações do estágio anterior, como a conservação de volume/tamanho e formação do conceito de número); *observa a totalidade de diferentes ângulos; *possui uma organização mental integrada; *trabalha em grupo e coopera com o outro. Limitações: apesar de ter um pensamento lógico, ainda está preso aos conceitos concretos, impedido-o de raciocinar por meio de abstrações. Operatório Formal (12 anos em diante) Desenvolve a capacidade de abstração, simultaneidade e o raciocínio hipotético-dedutivo. Fonte: Piaget (1969); Papalia, Feldman (2014). No caso do estágio operatório formal, próprio do desenvolvimento cognitivo na adolescência, convém passarmos para algumas considerações mais detalhadas, que estudaremos logo a seguir. Adolescência: Estágio das Operações Formais Os adolescentes entram no estágio operatório formal a partir do momento em que desenvolvem a capacidade de pensar de modo abstrato, separado da referência concreta do objeto em questão. Piaget considera esse processo como “a passagem do pensamento concreto para o ‘formal’” (PIAGET, 1969, p. 62-63). Ou seja, a partir do momento em que o adolescente começa a raciocinar de maneira lógica e sis- temática, liberta-se inteiramente do objeto (inclusive o representado visivelmente), passando a operar cognitivamente em termos formais (em contraposição a conteú- do) e situar o real a partir de deduções hipotéticas. Geralmente, esse amadurecimento cognitivo ocorre a partir dos 11-12 anos, proporcionando ao adolescente uma flexibilidade maior quanto à manipulação da informação em termos de hipóteses. A novidade deste estágio é justamente o fato de o adolescente conseguir raciocinar corretamente sobre proposições que não acre- dita ou que considera apenas como puras hipóteses. Ou seja, esse estágio é definido pela habilidade de engajar-se no raciocínio abstrato, cujas deduções lógicas passam a ser realizadas por meio de formulações hipotética e dedutivas, sem a obrigatorie- dade da referência aos objetos concretos. Pós-Universo 24 Ora, a obtenção desta nova forma de pensamento, por ideias gerais e constru- ções abstratas, efetua-se, na verdade, de modo bastante contínuo e menos brusco do que parece [...]. É, na realidade, por volta de doze anos que é preciso situar a mo- dificação decisiva, depois da qual o impulso se orientará, pouco a pouco, na direção da reflexão livre e destacada do real (PIAGET, 1969, p. 62). O pensamento hipotético-dedutivo é o mais importante aspecto apresentado nessa fase de desenvolvimento, uma vez que o adolescente passa a criar hipóte- ses para tentar explicar e sanar problemas, relacionados ou não aos seus próprios dilemas: “o pensamento formal é, portanto, ‘hipotético-dedutivo’, isto é, capaz de deduziras conclusões de puras hipóteses e não somente através de uma observa- ção real” (PIAGET, 1969, p. 63). Por conta disso, diferentemente das crianças, os adolescentes são capazes de usar símbolos para representar outros símbolos, compreender a álgebra e cálculo mate- mático mais sofisticado. No campo textual, conseguem explorar melhor as metáforas e a alegoria, bem como descobrir significados mais profundos na literatura em geral (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Com isso, aquele conhecimento do operatório concreto que se limitava apenas ao campo das afirmações factuais do “é”, passa agora a incorporar a hipótese do “poderia ser”. A metodologia científica e os conceitos abstratos também aparecem nessa etapa do desenvolvimento, uma vez que as “conclusões [do pensamento hi- potético-dedutivo] são válidas, mesmo independentemente da realidade de fato [...], por isto que esta forma de pensamento envolve uma dificuldade e um trabalho mental muito maiores que o pensamento concreto (PIAGET, 1969, p. 63-64). A possibilidade do pensamento abstrato também traz ao adolescente algumas implicações emocionais, uma vez que agora as suas relações de amor e ódio, por exemplo, não estão mais delimitadas ao campo do concreto das pessoas físicas (pais, familiares, colegas etc.), mas também a ideias, sentimentos, ideologias (liberdade, independência etc.). Além disso, o exercício da reflexão também permite ao adoles- cente submeter o mundo real aos sistemas e teorias criadas pelo seu pensamento, tendência essa que vai se atenuando aos poucos, através da reconciliação do pen- samento com a realidade, até ficar claro que a função da reflexão não é somente contradizer, mas interpretar a experiência (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Pós-Universo 25 A identidade é um tema que pode ser discutido em qualquer fase do desenvolvi- mento humano. No entanto, na adolescência, a questão da formação da identidade ganha destaque singular, em especial por conta das inúmeras transformações de- correntes deste período que os tira da infância e os coloca, de maneira repentina, em contato com o mundo adulto. Essa transição, sem dúvida, desestabiliza algumas convicções relacionados ao “eu” infantil, resultando, no adolescente, uma confusão de papéis e da própria identidade. Por conta disso, como educadores, torna-se fundamental oferecermos ao ado- lescente as condições necessárias para a superação deste momento de crise e, consequentemente, a construção de sua identidade de modo integrado consigo mesmo (sexualidade) e com os outros (alteridade). Todavia, para que isso realmente aconteça, é importante conhecermos os aspectos que envolvem a crise de identi- dade na adolescência, bem como os processos de formação. EM BUSCA DA IDENTIDADE Pós-Universo 26 Erikson e o desenvolvimento psicossocial Um dos primeiros teóricos a pesquisar a questão da crise e dos processos formação da identidade foi Erik Erikson (1902-1994). Decorrente de uma vertente psicanalítica, o pensamento de Erikson modificou e ampliou a teoria freudiana ao enfatizar não apenas os aspectos biológicos e pulsionais na formação da personalidade, mas prin- cipalmente as influências da sociedade para o desenvolvimento do eu (ego). Sendo assim, enquanto Freud leva em consideração aspectos biopsíquicos, Erikson enfati- za os aspectos psicossociais para o desenvolvimento da personalidade. Erikson também foi pioneiro na abordagem do desenvolvimento humano segundo a perspectiva do ciclo da vida: contrariando a tese de Freud, que acreditava que o “eu” era moldado principalmente pelas experiências da infância, Erikson afirma que o desenvolvimento da personalidade se estende por toda a vida. Ou seja, segundo o desenvolvimento psicossocial, o indivíduo passa por estágios, distribuídos ao longo de todo o ciclo da vida (ERIKSON, 1971; 1976). Estágios do Desenvolvimento Psicossocial Segundo Erikson, existem oito estágios; em cada um deles existem conflitos externos e internos – próprios de cada idade – que geram crises na personalidade. Tais crises precisam ser satisfatoriamente resolvidas para que assim ocorra o desenvolvimen- to saudável do indivíduo. Sendo assim, cada fase do desenvolvimento traz consigo uma nova crise a ser superada pelo eu, cuja solução requer o equilíbrio entre uma tendência positiva e uma tendência negativa correspondente (ERIKSON, 1971, 1976). Para a resolução satisfatória da crise deve predominar, sem dúvida alguma, a qualidade positiva; porém, é preciso observar que, na opinião de Erikson, também é necessário um pouco da qualidade negativa para a superação ideal. Por exemplo, no caso da crise da primeira idade (confiança versus desconfiança), é fundamental que a criança aprenda a confiar no mundo e nas pessoas; no entanto, também é preciso um pouco de desconfiança para aprender a se proteger do perigo. O êxito em cada estágio (isto é, a solução bem-sucedida da crise) é representa- do pelo desenvolvimento de uma determinada virtude, que possibilita ao indivíduo uma boa estrutura na personalidade para lidar com a próxima crise e superá-la Pós-Universo 27 satisfatoriamente (PAPALIA, FELDMAN, 2013). Portanto, quando há uma superação predominantemente positiva, a personalidade tende a se fortalecer e se tornar cada vez mais estruturada e estável; porém, quando o desfecho da crise é contrário, isto é, predominantemente negativo, a personalidade tende a se tornar mais frágil e ins- tável (ERIKSON, 1971, 1976). Tabela 4 – Desenvolvimento Psicossocial segundo Erikson Estágio (Ano) Resolução da crise Desafios Virtudes Positiva Negativa 1ª Idade (0-1) Confiança Sente-se prote- gido, seguro e desenvolve o sen- timento básico de confiança Desconfiança Sente-se desprote- gido, retraído, tem medo e aprende a desconfiar do mundo Desenvolver a sensa- ção de um lugar bom e seguro Esperança 2ª Idade (1-3) Autonomia Sente-se in- dependente, atreve-se a fazer coisas e de- senvolver suas capacidades Vergonha Sente-se depen- dente dos pais e inseguro para de- senvolver suas capacidades Saber que uma pessoa dependen- te é capaz de tomar decisões Força de vontade 3ª Idade (3-6) Iniciativa Ativo, desinibi- do, espontâneo, possui vivacidade e orgulha-se de suas capacidades Culpa Passivo, inibido, não tem espontaneida- de, sente-se culpa e se considera mau Desenvolver disposições para lidar com novas experiên- cias, como o fracasso Coragem / Tenacidade 4ª Idade (6-12) Produtividade Empreendedor, gosta de rea- lizar coisas, participar de jogos e competir Inferioridade Sem iniciativa, considera-se in- ferior e medíocre e evita entrar em competições Desenvolver habilidades básicas e tra- balhar com os outros Habilidade / Competência Pós-Universo 28 Estágio (Ano) Resolução da crise Desafios Virtudes Positiva Negativa 5ª Idade (12-20) Identidade Sabe o que quer e possui uma vi- vência integrada consigo mesmo e com os outros Confusão de papéis Desconhece o que quer, e não sabe se situar em relação a si mesmo e aos outros Desenvolver o senso estável e in- tegrado da individualida- de (identidade) Fidelidade 6ª Idade (20-35) Intimidade Capacidade de estabelecer vín- culos amorosos e sociais estáveis Isolamento Não consegue estabelecer re- lacionamentos amorosos e sociais Construir relações pro- fundas e duradouras Amor / filiação 7ª Idade (35-60) Generalidade Produtivo, cria- tivo e gosta de colaborar com as novas gerações Estagnação Improdutivo, preocupado consigo mesmo e egocêntrico Auxiliar as gera- ções futuras (educação dos filhos, cuidado com as crianças ou trabalho afim) Produção / cuidado 8ª Idade (60 em diante) Integridade Aceita sua vida como algo valioso e está sa- tisfeito com ela Desesperança Considera a vida como um tempo perdido e teme a morte Encarar a vida como satisfatória e digna Sabedoria Fonte: adaptada de Erikson (1971); Papalia e Feldman (2013). Adolescência:Identidade versus Confusão de Papéis Erikson (1976) compreende a identidade como uma concepção adequada e convic- ta de si mesmo (self), constituída de crenças, valores, virtudes e metas com os quais o indivíduo está comprometido, cujas influências não estão relacionadas apenas a questões intrapessoais (aspectos psíquicos e biológicos), mas também interpessoais (socialização e alteridade) e socioculturais (valores e papéis assumidos). Pós-Universo 29 Como já observado, a partir da puberdade o indivíduo é repentinamente desloca- do do mundo infantil para um primeiro contato com o mundo adulto. Esse processo é impactante do ponto de vista da complexidade e da rapidez das transformações, uma vez que ele subtrai todas as referências estabelecidas na infância, sem ofere- cer ao adolescente um tempo hábil de adaptação adequado às novas mudanças: o corpo não é mesmo, os papéis sociais também não são iguais, e até os pais já não o tratam da mesma maneira. No lugar do simples cuidado familiar, entra em cena a constante pressão decorrente do olhar sancionador dos adultos. Toda essa situação, portanto, cria no adolescente incertezas a respeito de si mesmo, o que resulta, inevitavelmente, numa crise de identidade que pode retardar a con- quista da maturidade psicológica. No entanto, o que realmente agrava essa crise é a incapacidade do adolescente em fixar uma identidade ocupacional a respeito dos papéis que precisará assumir e desempenhar na sociedade adulta (ERIKSON, 1971). Como tentativa de solução, é comum os adolescentes criarem identificações grupais como refúgio protecionista à pressão promovida pelo mundo adulto, que leva a uma temporária perda da identidade individual. Tais identificações grupais podem desencadear inúmeras atitudes de intolerância ao diferente, bem como in- centivar reações comportamentais regressivamente infantis (ERIKSON, 1971). Levando em consideração a teoria do desenvolvimento psicossocial, a principal tarefa da adolescência, segundo Erikson, é confrontar essa crise decorrente do con- flito entre identidade versus confusão de papéis: “em sua busca por um novo sentido de continuidade e coerência, os adolescentes têm que voltar a travar muitas batalhas dos anos anteriores, mesmo que para isso devam designar artificialmente pessoas in- teiramente bem-intencionadas para representar os papéis de adversários” (ERIKSON, 1971, p. 240). Esse é justamente o papel da moratória psicossocial: oferecer ao adolescente um tempo para que busque compromissos aos quais possa ser fiel. Desta forma, os adolescentes que superam adequadamente essa crise são aqueles que desenvol- vem uma virtude da fidelidade, concretizada pelo compromisso que os permitem assumir convictamente a escolha de uma ocupação, a adoção de valores e o desen- volvimento integrado de uma sexualidade satisfatória (ERIKSON, 1971, 1976). Pós-Universo 30 Estados de identidade: crise e comprometimento Ainda na década de 60, o psicólogo James E. Marcia (1966), no artigo Development an Validation of Ego-Identity Status, apresentou o conceito de “estados de identidade”. Levando em consideração o estudo realizado com adolescentes norte-americanos, o autor chegou à conclusão que a formação da identidade na adolescência pode chegar a quatro estados de identidades distintos, chamados pelo autor de “realização de identidade” (identity achievement), “execução” (foreclosure), “moratória” (morato- rium) e “difusão de identidade” (identity-diffusion) (MARCIA, 1966). É importante observar que os quatro estados de identidade não são estágios, mas representam o estado da formação da personalidade num determinado momento da adolescência; isso quer dizer que eles podem mudar para qualquer direção em mo- mentos de desenvolvimento posterior. Mas como? O critério que diferencia ou altera um estado de identidade do outro está relacionado com a presença ou a ausência de dois elementos fundamentais para a formação da identidade: crise e compromis- so. Segundo James Marcia, enquanto “a crise refere-se ao período de engajamento do adolescente no que diz respeito à escolha de alternativas significativas, o com- promisso refere-se ao grau de investimento pessoal que o indivíduo demonstra” (MARCIA, 1966, p. 551). Os quatro estados de identidade representam, portanto, quatro posturas ou ati- tudes da adolescência frente ao processo de formação da personalidade. Podem demonstrar desde uma total integração, como também uma dissociação completa entre crise (escolha de alternativas) e compromisso (tomada de decisão e investi- mento pessoal). Vejamos: 1. Vivência de uma crise que leva ao compromisso. Essa atitude demonstra que o adolescente assumiu autenticamente um compromisso após o dilema das escolhas e alternativas (crise). Ou seja, quando o adolescente considera seriamente todas as escolhas e alternativas ocupacionais possíveis e toma uma decisão a partir de seus próprios critérios, então podemos dizer que ele entrou no estado de “realização da identidade”. Segundo James Marcia (1966, p. 551), esse estado “diz respeito ao indivíduo que experimentou um período de crise e está comprometido com uma ocupação e ideologia”. Pós-Universo 31 2. Aceitação de um compromisso, porém sem a vivência da crise. Essa atitude, por sua vez, demonstra que o adolescente não dedicou tempo para considerar as alternativas e escolhas, assumindo, consequentemen- te, compromissos e planos eleitos por outras pessoas, como pais, figuras de autoridade etc. Noutras palavras, quando o adolescente se comprome- te com planos que não foram escolhidos por ele mesmo, então podemos dizer que ele aderiu o estado de “execução”, caracterizado justamente por aquele indivíduo que “não passou pela experiência da crise, mas expressa compromisso” (MARCIA, 1966, p. 552). 3. Vivência de uma crise, porém sem a aceitação de um compromisso. Essa atitude representa que o adolescente está passando pelo período da crise, ponderando as alternativas, porém, sem a concretização de tomadas de decisões que o levem a assumir um determinado compromisso. Ou melhor, quando o adolescente continuamente posterga os compromissos relacio- nados às alternativas que ponderou no momento da crise, então podemos afirmar que ainda permanece no estado de “moratória”. Para James Marcia (1966, p. 552), esse estado refere-se “ao período de crise com compromis- sos bastante vagos”, mas que, todavia, parece disposto a travar “uma luta ativa para assumir compromissos”. 4. Nenhuma crise, nenhum compromisso. Essa atitude, enfim, demons- tra que o adolescente ainda não considerou seriamente as alternativas (isto é, não vivenciou uma crise), muito menos assumiu qualquer compro- misso ocupacional ou ideológico traçado por si mesmo ou por outros. Ou seja, quando o adolescente não está preocupado em ponderar alternativas, definir escolhas, ignorando assim, qualquer tipo de compromisso posterior, então podemos quer dizer que ele ainda permanece no estado de “difusão da identidade”, que diz respeito ao indivíduo que “pode ter experimentado ou não o período de crise”, cuja “marca registrada é uma falta de compro- misso” (MARCIA, 1966, p. 552). Pós-Universo 32 Tabela 5 – Respostas típicas dos adolescentes a respeito dos quatro estados de identidade Perguntas Respostas típicas para os quatro estados Sobre o compromisso ocupacional: “Até que ponto você estaria disposto(a) a pensar em desistir de entrar no(a)_________ se surgisse algo melhor?” Realização de identidade: “Bem, eu poderia fazê- lo, mas duvido. Não consigo imaginar o que seria esse ‘melhor’ para mim”. Execução: “Não estaria muito disposto(a). Isso é o que eu sempre quis fazer. O pessoal está feliz com isso e eu também”. Moratória: “Imagino que se eu soubesse com certeza poderia responder melhor. Teria que ser algo em uma área geral – algo relacionado com...”. Difusão de identidade: “Ah, certamente. Se surgisse algomelhor, eu mudaria”. Sobre o compromisso ideológico: “Você já teve alguma dúvida quanto a suas crenças religiosas?” Realização de identidade: “Sim, comecei a me per- guntar se Deus existe. Agora isso está resolvido. A mim, parece-me que... ”. Execução: “Não, na verdade, não; nossa família está praticamente de acordo com essas coisas”. Moratória: “Sim, acho que estou passando por isso agora. Simplesmente, não vejo como pode existir Deus e haver tanto mal no mundo... ”. Difusão de identidade: “Ah, não sei. Acho que sim. Todo mundo passa por esse tipo de fase. Mas eu realmen- te não me preocupo muito. Imagino que uma religião é tão boa quanto outra”. Fonte: adaptada de Marcia (1966); Papalia e Feldman (2013). A partir das informações apresentadas, podemos concluir que parte da tarefa dos familiares e educadores – com relação ao desenvolvimento da identidade do ado- lescente – é justamente reforçar a vivência da crise e a aceitação do compromisso. A partir destes dois elementos, torna-se possível ao adolescente firmar sua identida- de de maneira integrada, em especial, com relação a si mesmo, à vivência saudável de sua sexualidade e à escolha da ocupação e dos valores significativos para a vida. Pós-Universo 33 Tabela 6 – Fatores familiares e de personalidade associados aos quatro estados de identidade Fator Realização da identidade Execução Moratória Difusão da identidade Família Os pais encorajam a au- tonomia e a ligação com professores; as di- ferenças são exploradas dentro de um contexto de reciprocidade. Os pais en- volvem-se excessiva- mente na vida de seus filhos; as famílias evitam a ex- pressão de diferenças. Os ado- lescentes frequentemen- te se envolvem em uma disputa ambi- valente com a autoridade dos pais. Os pais não inter- vêm na educação dos filhos; rejeitam os filhos ou não estão disponíveis para eles. Personalidade Altos níveis de desen- volvimento do ego, do raciocínio moral, da autoconvicção, da autoestima, do desem- penho sob pressão e da intimidade. Níveis mais altos de au- toritarismo e pensamento estereotipado, obediência à autoridade, re- lacionamentos dependentes, baixo nível de ansiedade. Muito ansioso e receoso do sucesso; níveis ele- vados de desenvolvi- mento do ego, do ra- ciocínio moral e da autoestima. Resultados mistos, com baixos níveis de desenvolvimento do ego, do raciocínio moral, da complexi- dade cognitiva e da autoconvicção; baixa capacidade de cooperação. Fonte: Papalia e Feldman (2013). Pós-Universo 34 Apesar de importante, o desenvolvimento psicossocial do adolescente não se resume apenas ao tema da identidade. Por conta disso, nesse encontro, estudaremos outras questões que também constituem desenvolvimento psicossocial da adolescência, como a alteridade, os relacionamentos (entre familiares e pares) e a sexualidade. A partir desses elementos, teremos condições de compreender os aspectos básicos que compõem o desenvolvimento do adolescente de um modo integral. ALTERIDADE E SEXUALIDADE Pós-Universo 35 Adolescência e alteridade Se o processo da identidade se apresenta como fundamental na adolescência, não menos importante também é o caso da alteridade. Aliás, para a formação da identidade é imprescindível a noção de alteridade. A relação entre “eu” e “outro” é re- ciprocamente constitutiva, uma vez que a existência de uma das partes só ganha sentido em sua relação com a outra. Não é possível falar da identidade sem a alteri- dade, como também é em face da identidade que a alteridade se caracteriza como tal. Para Laing (1986, p. 78), “não podemos fazer o relato fiel de ‘uma pessoa’ sem falar do seu relacionamento com os outros”. Portanto, a formação da personalidade não depende apenas do “eu”, mas também da sua relação com o outro. O conceito de alteridade foi discutido por muitos autores. Dentre eles, podemos citar Martin Buber (1878-1965) e Emanuel Lévinas (1906-1995). Segundo Buber, não é possível existir um “eu” excluindo a noção de “tu”. Ao dizer a palavra “eu”, reconhece-se implicitamente um “tu”. Isso quer dizer que, na expres- são “eu-tu” os sujeitos só se constituem como indivíduos porque, entre cada polo relacional, há uma relação constitutiva de identidade-alteridade mutuamente reco- nhecível: “‘toda vida verdadeira é encontro’. Eu só existo na medida em que digo ‘Tu’ ao outro, aceitando-o irrestritamente em sua alteridade, como a totalidade do meu ser, e por ele sou assim aceito. O ‘Eu’ sem o ‘Tu’ é apenas abstração” (BUBER, 1982, p. 7). Ou seja, identidade e alteridade só ganham sentido existencial quando são con- siderados como elementos relacionais. Para Lévinas, a alteridade é compreendida como a constatação do outro como sujeito – e não como mero objeto: o “outro” é tão sujeito quanto “eu” também o sou. Isso desperta para uma corresponsabilidade entre ambos: “o Eu diante do Outro é infinitamente responsável” (LÉVINAS, 2009, p. 53). Na medida em que o “eu” confere ao “outro” o status de sujeito, possibilita uma relação intersubjetiva do “nós”, demar- cada, por sua vez, pela presença da diferença – e não tanto da igualdade. Pós-Universo 36 Desta maneira, respeitar a alteridade implica no reconhecimento da diferença. Woodward (2000, p. 9), no trecho abaixo, esclarece bem essa relação: “ A identidade é relacional. A identidade sérvia [por exemplo] depende, para existir, de algo fora dela: a saber, de outra identidade (croata), de uma iden- tidade que ela não é, que difere da identidade sérvia, mas que, entretanto, fornece as condições para que ela exista. Ser um sérvio é ser um “não-croa- ta”. A identidade é, assim, marcada pela diferença (WOODWARD, 2000, p. 9) Para o adolescente, a questão da alteridade ganha um tratamento especial: uma vez que na adolescência é comum a vivência de uma crise de identidade (ERIKSON, 1971, 1976), as referências para o reconhecimento da alteridade nas relações adolescentes também sofrem alterações. Se por um lado o adolescente normalmente recorre às identificações grupais para se afirmar enquanto indivíduo – assumindo assim papéis transitórios de outras pessoas para ser aceito socialmente – (ERIKSON, 1971; KNOBEL, 1981), por outro lado, ele apresenta uma relevante dificuldade no reconhecimento da alteridade e daqueles valores externos a sua vivência grupal. Desta forma, a tão conhecida “tendência grupal” do adolescente, motivada por uma crise de identidade e de papéis, e combinada por uma “atitude social reivindi- catória” e “constantes flutuações de humor e do estado de ânimo” (KNOBEL, 1981, p. 29), pode promover na adolescência uma organização psíquica conflituosa, carrega- da de reações comportamentais próximas da estigmatização do diferente. “ A Alteridade não é apenas uma qualidade do outro, é sua realidade, sua ins- tância, a verdade do seu ser e, por isso, para nós, torna-se muito fácil uma permanência na coletividade e na camaradagem – difícil e sublime é co- -habitar com a diferença, é viver o eu-tu profundamente (HADDOCK-LOBO, 2006. p. 48). Enquanto educadores, precisamos compreender esse processo pelo qual passa o ado- lescente, ajudando-o não a fugir das crises, mas a vivenciá-las de maneira saudável, de modo a assumir um compromisso que integre uma busca autêntica de si mesmo, bem como dos novos valores e papéis sociais, sem com isso desconsiderar os valores decor- rentes da alteridade. Ao possibilitarmos ao adolescente experiências positivas acerca da alteridade, também estaremos colaborando com a formação de sua identidade. Pós-Universo 37 A relação familiar e com os pares O relacionamento social é outro elemento a ser observado no desenvolvimento psicossocial do adolescente. Se por um lado eles passam mais tempo com amigos e pares, por outro afastam-se mais do convívio familiar. No entanto, apesar disso, segundo Papalia e Feldman (2013), a maioria dos valores fundamentais dos adoles- centes ainda permanecepróxima aos valores dos pais; mesmo quando buscam no grupo de amigos modelos comportamentais, companhia ou intimidade, ainda con- sideram os pais como uma “base segura”, através da qual experimentam a liberdade. Esse vínculo de segurança com pais é importante para o adolescente desenvol- ver uma relação saudável consigo mesmo e com os outros, uma vez que ele passa a ser um ponto de referência seguro para os momentos de tensão. Adolescentes que mantêm relações sustentáveis com a família, desenvolvem uma disposição mais segura também com relação ao seu projeto de vida. Por conta disso, é tarefa da família enco- rajar os adolescentes na formação de identidade individual e ocupacional, sem com isso promover uma pressão por determinadas escolhas profissionais (OSÓRIO, 1996). Essa referência familiar também ajuda a repensar o rótulo do adolescente como naturalmente “rebelde”. Sobre isso, Papalia e Feldman (2013), a partir de inúmeras pesquisas de outros autores, afirmam que aqueles adolescentes criados em lugares que possuem uma atmosfera familiar positiva tendem a atravessar a adolescência de maneira estável e ajustada, sem grandes problemas relacionais ou comportamentais. Contudo, ainda para as autoras, adolescentes “desajustados”, geralmente, resultam de uma atmosfera familiar igualmente desajustada. É fato que o adolescente possui uma variação intensa de humor (KNOBEL, 1981), em especial no início da adolescência, o que colabora para a presença dos confli- tos familiares, dos comportamentos de risco (álcool, tabaco e drogas) e depressão. Conflitos familiares e distúrbios comportamentais tem um forte impacto sobre o so- frimento emocional na adolescência. Por conta disso, é fundamental que familiares e professores tenham uma compreensão adequada dos conflitos na adolescência, prescindindo de rótulos, por exemplo, que o consideram um problema: “adultos que pressupõem que o tumulto adolescente é normal e necessário podem deixar de captar os sinais dos poucos jovens que necessitam de ajuda especial” (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 436). Pós-Universo 38 O tipo de relacionamento que os adolescentes possuem com seus pais (grau de conflito e qualidade da comunicação) tem uma relação próxima com a intimida- de emocional desenvolvida entre eles durante a infância. Por isso, a importância em enfatizar a atenção dos familiares adultos quanto à criação e manutenção de bons vínculos com os adolescentes – até mesmo porque o bom relacionamento com os pais nesse período também resulta no estabelecimento de relações saudáveis com outras pessoas na fase adulta (PAPALIA, FELDMAN, 2013; GRIFFA, MORENO, 2011, OSÓRIO, 1996). Ainda sobre o relacionamento entre familiares e adolescentes, alguns autores observam outros desafios que precisam ser superados. Ao mesmo tempo que os adolescentes sentem uma tensão entre a dependência dos pais e a necessidade de se libertar, os pais, por sua vez, anseiam pela independência do filho, porém, sentem dificuldades em deixá-los partir (OSÓRIO, 1996). Portanto, a crise da adolescência também provoca conflitos nos pais, uma vez que eles vivenciam o dilema entre dar suficiente autonomia aos adolescentes e pro- tegê-los de seus próprios comportamentos imaturos. Como resultado, surgem os diversos estilos de monitoramento parental, que vão desde um estilo mais autoritá- rio até um modelo mais democrático, que, na opinião de Papalia e Feldman (2013), tende a surtir resultados mais positivos. “ O estilo de parentalidade democrático continua a promover o desenvol- vimento psicossocial saudável. Pais que demonstram decepção pelo mau comportamento dos adolescentes são mais eficazes em motivar compor- tamento responsável do que pais que punem severamente. O estilo de parentalidade excessivamente rigoroso e autoritário pode levar um adoles- cente a rejeitar a influência dos pais e a procurar apoio e aprovação dos pares a qualquer preço. Pais democráticos insistem em regras, normas e valores im- portantes, mas estão dispostos a ouvir, explicar e negociar. Eles exercem o controle apropriado sobre a conduta de um filho (controle comportamen- tal), mas não sobre os sentimentos, as crenças e o senso de identidade dele (controle psicológico) (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 438). Pós-Universo 39 Já com relação aos pares, o estilo da relação do adolescente se modifica. O grupo dos pares configura-se para o adolescente como uma fonte de apoio emocional, afeto, acolhimento, como também como uma fonte de pressão em favor daqueles comportamentos desaprovados pelos pais. É por meio do grupo dos pares que o adolescente experimenta a sua autonomia, independência em relação aos pais, bem como um ambiente para a formação de relacionamentos íntimos, que serão impor- tantes para o amadurecimento à vida adulta (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Se por um lado, na infância, as relações de amizades tinham um caráter mais pessoal, por outro, na adolescência, elas ganham uma natureza mais grupal (KNOBEL, 1981). Aliás, é por meio do grupo de pares – as panelinhas ou turmas – que o adoles- cente passa a estabelecer um código de amizade e de moral, geralmente emprestando de outros os papéis sociais que serão assumidos. A admissão funciona como uma ini- ciação do novo integrante quanto à imagem, identidade e reputação do grupo, que a partir de então configurará o código de conduta social do adolescente. Tais grupos podem ser definidos por inúmeros critérios: por rótulos, ideologias, gostos estéticos, etnia, nível socioeconômico, vizinhança etc. (PAPALIA; FELDMAN, 2013). A influência dos amigos e pares atinge seu ponto máximo por volta dos 12 ou 13 anos – porém, essa demarcação não é fixa e pode anteceder ou se estender. É nessa fase que a participação no grupo pode levar o adolescente à vivência de comporta- mentos antissociais e de risco (brigas, transgressão de regras, uso de drogas, tabaco, álcool etc.) como tentativa de reafirmação de sua identidade em crise. Geralmente, as amizades tendem a perder o seu aspecto grupal e se tornarem mais íntimas e pessoais no final da adolescência, fator esse que será importante para a transição e amadurecimento do adolescente para os relacionamentos da vida adulta. Vale, portanto, aos familiares e educadores reconhecer a importância do agru- pamento de pares nessa fase, seus benefícios e riscos, para que, assim, tenham condições de prevenir determinados comportamentos autodestrutivos – que a prin- cípio podem ocorrer em qualquer fase desenvolvimento, mas que, sem dúvida, são frequentes na adolescência. Pós-Universo 40 Adolescência e sexualidade A relação entre adolescente e sexualidade é complexa e delicada. Em primeiro lugar, porque, ao mesmo tempo em que a cultura midiática impõe uma certa licenciosi- dade de determinados assuntos relacionados à sexualidade, sem o menor interesse de formação e contextualização pedagógica, por outro lado, na cultura tradicional e moral, a questão da sexualidade é carregada de tabus, generalizações e preconcei- tos que impedem e sublimam a reflexão e o debate sobre esse assunto. Em segundo lugar, por conta do descompasso que pode ocorrer entre desenvolvimento corporal e de outras áreas, como por exemplo, o adolescente vive um momento de explo- são de hormônios, que possibilita ao seu corpo necessidades sexuais reais, porém, por vezes, sem o devido tempo de adaptação cognitiva, emocional e psicossocial. Em geral, a sexualidade é reduzida à dimensão genital e biológica do ato sexual. Entretanto, essa limitação conceitual é falha, bem como exclui outros elementos im- portantes, como sentimentos, escolhas, convivência, cumplicidade etc. Enfim, uma vez que a condição humana não se limita apenas ao âmbito natural – mas também cultural –, a questão da sexualidade também se estrutura para além da mera repro- dução animal. Segundo a OMS, “ Sexualidade é um aspecto central do ser humano durante toda sua vida e abrangeo sexo, as identidades e os papéis de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução. A sexualidade é experimentada e expressada nos pensamentos, nas fantasias, nos desejos, na opinião, nas atitudes, nos valores, nos comportamentos, nas práticas, nos papéis e nos re- lacionamentos. Embora a sexualidade possa incluir todas estas dimensões, nem todas são sempre experimentadas ou expressadas. A sexualidade é influenciada pela interação de fatores biológicos, psicológicos, sociais, eco- nômicos, políticos, cultural, éticos, legais, históricos, religiosos e espirituais. (WORLD HEALTH ORGANIZATION [WHO], 2007, p. 5, tradução nossa). Pós-Universo 41 Por conta disso, o conceito de sexualidade é mais amplo do que o de sexo ou ato sexual, possuindo assim, características humanas que se desenvolvem ao longo de todo o de- senvolvimento humano. Para Freud (2016), em seu texto Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, de 1905, a sexualidade não se dirige apenas à reprodução, nem está limi- tada às condições de maturação genital, mas é compreendida como prazer vital que se manifesta em determinadas zonas erógenas que se alteram a cada período humano. Na teoria freudiana, esse processo é conhecido como desenvolvimento psicosse- xual, que se trata de uma sequência de cinco fases distintas (oral, anal, fálica, latência e genital), das quais, considerava as três primeiras como fundamentais para o de- senvolvimento da personalidade. A partir do momento que a criança amadurece, a libido (pulsão ou energia sexual) vai se deslocando para outras partes do corpo e criando novas zonas erógenas. • Fase oral: nesta fase, que vai do nascimento aos 12/18 meses, o bebê ex- pressa sua primeira relação com sexualidade por meio da boca, sua principal forma de prazer e saciedade biológica. Por isso é comum os bebês desta idade levarem constantemente a mão e os objetos à boca (FREUD, 2016). • Fase anal: neste período, entre os 12/18 meses aos 3 anos, a criança obtém gratificação de prazer por meio do controle dos esfíncteres (estrutura mus- cular do corpo humano que controla determinados orifícios), no caso, retendo e expelindo as fezes. O treinamento para o uso do banheiro é im- portante (FREUD, 2016). • Fase fálica: neste estágio, dos 3 aos 6 anos, a criança possui sua fonte de prazer nos órgãos genitais, não enquanto ato sexual, mas como explora- ção e curiosidade em conhecer seu próprio corpo e o das outras pessoas. Segundo Freud, nesse estágio de desenvolvimento ocorre um evento fun- damental, no qual o menino desenvolve um apego à mãe (Complexo de Édipo) e a menina ao pai (Complexo de Elektra), ao mesmo tempo em que ambos apresentam impulsos agressivos contra o genitor do mesmo sexo, considerando-o como um rival. A tendência é, posteriormente, a criança romper com esse complexo por meio da identificação com o genitor do mesmo sexo (FREUD, 2016). Pós-Universo 42 • Fase da latência: esse momento, dos 6 aos 11 anos, é caracterizado pela saída do Complexo Édipo/Elektra, bem como uma relativa tranquilidade emocional. Por conta disso, a energia sexual da criança é redirecionada para fins intelectuais e sociais, como escola, relacionamentos e hobbies em geral (FREUD, 2016). • Fase genital: por fim, essa etapa do desenvolvimento, que vai dos 12 anos em diante, o adolescente vivencia a gratificação da sexualidade por meio da redescoberta dos impulsos sexuais reprimidos durante a latência. Daí a importância de uma efetiva orientação sexual para que essa fase seja ple- namente desenvolvida (FREUD, 2016). Segundo Freud, “a propriedade erógena pode se ligar a certas partes do corpo de maneira notável. Há zonas erógenas predestinadas, como eviden- cia o exemplo do ato de chupar [no bebê]. No entanto, o mesmo exemplo ensina que qualquer outra parte da pele ou das mucosas pode servir de zona erógena, ou seja, deve possuir alguma aptidão para isso. Assim, a pro- dução da sensação de prazer depende mais da qualidade do estímulo que da natureza da parte do corpo”. Fonte: Freud (2016, p. 88). saiba mais Não é preciso muito esforço para compreender tamanha importância de se tratar desse tema na adolescência e com os adolescentes. Como já observado, culturalmen- te falando, a discussão e o tratamento desse assunto carregam inúmeros desafios e tabus, resultado de um processo histórico de identificação da sexualidade para fins reprodutivos e controlados por regras morais de cunho religioso. O fato é que, atualmente, os adolescentes estão expostos a uma carga excessiva de estímulos ima- géticos relacionados aos genitais e ao ato sexual, por meio de canais que não estão preocupados em formá-los para uma educação sexual adequada. Diante desta situa- ção, perguntamos: nós, enquanto educadores, o estamos fazendo a esse respeito? E o que podemos fazer? Pós-Universo 43 Primeiramente, é imprescindível buscar informações para a realização de uma boa orientação. Usar terminologias e conceitos corretos, por exemplo, são pressupostos básicos para trabalhar esse tema com adolescentes. Ou seja, ninguém oferece aquilo que não tem; por isso, a orientação só acontece quando há interesse, por parte de educadores e pais, em conhecer mais sobre esse tema na adolescência, bem como ter a coragem de despir-se dos próprios preconceitos e tabus sobre o assunto. Quem não conhece, não forma; e aquilo que não forma, deforma! Para conhecer um pouco mais sobre a terminologia adequada com relação às discussões e pesquisas de gênero, consulte, ao final desta unidade, a seção “Aprofundando”. Fonte: o autor. atenção Em segundo lugar, no caso de instituições educacionais, algumas ações e estratégias podem ser ótimos canais para uma formação sexual para adolescentes, como rodas de conversas, encontros, mesas-redondas, discussões em sala etc. Devemos lembrar que, se a sexualidade não é considerada apenas como genitália, a orientação sexual com adolescentes, por parte de educadores, também precisa ser integral, abordan- do tanto os conflitos biológicos, como também os dilemas psicossociais. atividades de estudo 1. As demarcações cronológicas, apesar de não se apresentarem como critério de de- finição, apresentam inúmeras informações a respeito do período da adolescência, em especial para fins estatísticos e políticos. Assinale alternativa correta. a) Organização Mundial da Saúde (OMS) define como adolescente aqueles indiví- duos entre 12 e 19 anos. b) A Organização das Nações Unidas define como ‘juventude’ a faixa etária que vai dos 15 aos 20 anos. c) O Ministério da Saúde e o Estatuto da Criança e do Adolescente possuem o mesmo critério de demarcação cronológica, que vai dos 10 aos 19 anos. d) Para a comunidade internacional, a adolescência está incluída na definição de “criança” como pessoas menores de 20 anos de idade, adotada pela Convenção sobre os Direitos da Criança. e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. 2. Arminda Aberastury, et al. caracterizam a adolescência como uma vivência de três lutos específicos. Segundo os autores, esses lutos representam: a) Perda pelo corpo infantil / perda pelos brinquedos / perda pelos pais da infância. b) Perda pela imaginação / perda pelo corpo infantil / perda pelos pais da infância. c) Perda pelo corpo infantil / perda pelos papéis sociais infantis / perda pelos pais da infância. d) Perda pela criatividade / perda pelo corpo / perda pelos papéis sociais infantis. e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. atividades de estudo 3. Jean Piaget divide os períodos do desenvolvimento humano de acordo com o apa- recimento de novas qualidades de pensamento. Com base nessa teoria, assinale a alternativa correta. a) No período sensório-motor, o que de mais importante acontece é o aparecimen- to da linguagem, que provoca transformações nos aspectos intelectual, afetivo e social da criança. b) No período das operações formais, ocorre a passagem
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