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UNIDADE 3 DIREITO unidade 3 -EDUCACIONAL EM GESTÃO EDUCACIONAL E ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA EDUCAÇÃO

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UNIDADE 3 DIREITO EDUCACIONAL EM GESTÃO EDUCACIONAL E ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA EDUCAÇÃO
Introdução 
Nesta unidade pretendemos discutir dois grandes temas: a gestão educacional e a estrutura e funcionamento da educação.
 Em relação à gestão, vamos apresentar alguns conceitos que ilustram a opção política pela gestão democrática, exarada nos textos legais. Já em relação à estrutura e funcionamento, abordaremos o desenho do sistema escolar brasileiro, bem como a estrutura administrativa que oferecem suporte ao funcionamento da educação básica no Brasil. 
1. Gestão Educacional 
O recorte da legalidade: alguns conceitos de base 
A natureza da disciplina em direito educacional nos impele a discutir a gestão educacional a partir de um recorte legal. Assim, o assunto não será abordado em toda sua vastidão. Contudo, pretendemos abarcar alguns conceitos imprescindíveis à compreensão da opção política que subjaz à legislação, antes de adentrar ao texto legal propriamente dito.
Administração ou gestão? 
Por muito tempo a direção escolar se configurou como administração, no sentido de que seria a responsável pelas tarefas de planejamento, organização, direção, coordenação e controle na rotina escolar. Contudo, ultimamente as teorias da administração se mostram insuficientes para dar conta dos contextos empresariais que demandam algo além dessas tarefas. Nesse sentido, ganha corpo o conceito de gestão que incorpora certa dose de filosofia e política. Na escola, especificamente, o perfil de formador demandado pela natureza da instituição alavanca o conceito de gestão como mais adequado ao contexto. 
O conceito de autoridade, basilar em administração, também se enfraqueceu com o tempo e, principalmente no contexto da escola pública, em que o tom se dá pela gestão participativa. As teorias de administração, por sua vez, que apontam o administrador ou o líder como o principal responsável pelo êxito das ações dos liderados, não encontra eco na gestão, que destaca colegiados, decisões coletivas, consenso. Nesse sentido, a gestão se apresenta como conceito mais abrangente que administração, pois tem como foco conduzir o grupo ao alcance de objetivos institucionais. Nesse modelo de gestão, podemos citar duas outras formas de apresentação: a cogestão e a autogestão. Como cogestão entendemos um modelo de administração em que ainda existe a figura do administrador, contudo, com autoridade limitada. As decisões se tornam legítimas quando tomadas em colaboração com os comandados. Já a autogestão se traduz num conceito que repousa sobre a ausência de autoridade, sem que isso signifique ausência de ordem. Nesse sistema as pessoas agem por convicção, e não por obediência a alguma autoridade. Esse modelo não conseguiu se firmar para além da ideologia. Assim, resta o modelo da cogestão que, na estrutura formal da escola pública, se assume com a presença do diretor como administrador. 
A estrutura escolar 
A estrutura administrativa, ou organização formal da escola é constituída pelos elementos sujeitos à administração, organizados intencionalmente com o intuito de atingir os objetivos da instituição, no caso, a aprendizagem de todos e de cada um. Distinguimos, portanto, na estrutura formal da escola cinco elementos: 
a) corpo discente: os alunos e sua faixa etária definem a natureza da escola como educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, superior. É em função do corpo discente que são definidos os objetivos da escola, explicitados em seu projeto político-pedagógico; 
b) programação: a programação é constituída pelo plano didático e pelo plano de trabalho. O plano didático se traduz no currículo e nos programas, além das práticas metodológicas e processos de avaliação, em função da aprendizagem dos alunos, voltados às diversas faixas de escolaridade oferecidas. Já o plano de trabalho consiste nas ações dos profissionais com vista ao sucesso do plano didático. Nesse sentido, temos o plano de trabalho dos docentes, da direção, da coordenação, entre outros;
 c) documentação e registro: é o conjunto de documentos que organizam a vida escolar dos alunos e o funcionamento da escola; 
d) pessoal escolar: pessoal administrativo (diretor, auxiliares de direção, secretários), corpo docente (professores), pessoal técnico (coordenador, orientador pedagógico) e pessoal de serviços (limpeza, cozinha, apoio ao aluno, portaria); e 
e) recursos materiais: estrutura física do prédio escolar, mobiliário, equipamentos, material permanente, material de consumo para uso didático e administrativo. 
Papéis da direção escolar 
a) Diretor gestor: cabe ao diretor coordenar os vários serviços da escola em prol dos objetivos educacionais, dando voz a todos os atores da rotina escolar. Essa é uma competência que exige habilidades como saber escutar, analisar propostas, conduzir ao consenso, lidar com a diversidade, ter resiliência, ser conciliador. O diretor gestor é aquele que viabiliza as propostas fechadas com o grupo escola-comunidade.
 b) Diretor educador: todas as experiências vividas pelos alunos na escola são educativas, de forma intencional, ou não. Assim, as ações da direção, a forma de organizar a rotina na escola, o trato que se dá aos alunos, comunidade e funcionários, sempre impactam, de alguma forma, na formação dos alunos, como exemplos. O clima institucional da escola é dado pela forma de gestão que se estabelece, além disso o diretor de escola já exerceu, em outro momento, atividades docentes. Cabe ao diretor, ainda, traçar planos formativos para sua equipe. Outro aspecto da prática gestora que também demanda o perfil educador é o trabalho com a comunidade, em que é comum a demanda por projetos que, de alguma forma, educam essa comunidade. Portanto, o papel educador do diretor é intrínseco ao cargo, sendo um perfil indispensável ao gestor escolar nos dias atuais. 
c) Diretor autoridade: embora a tônica atual da gestão escolar esteja pautada na gestão participativa, a autoridade do diretor não deixa de existir, considerando as responsabilidades que acumula na escola. Na verdade, tudo o que se passa no ambiente escolar é, de certa forma, responsabilidade do diretor. Se, por um lado, cabe ao diretor conduzir o grupo a decisões coletivas, não é o grupo que responde cível e/ou criminalmente pela execução das decisões, mas sim o diretor. Cabe ao diretor, ainda, a assinatura dos documentos escolares para que tenham validade legal. Por fim, a figura de autoridade também se dá em eventos e solenidades, ocasião em que a figura do diretor representa a própria escola. 
2. O princípio da gestão democrática na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) 
Escola e comunidade 
A relação entre escola e comunidade ganhou grande impulso a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, que retomou o processo de democratização no país. Até então, havia um grande fosso entre a escola a as famílias, uma vez que a escola, cujo acesso não era garantido a todos, era vista como local elitizado e, portanto, dominado por uma cultura e linguagem diferentes da comunidade menos privilegiada que a ela não ascendia. Nesse contexto, as mudanças trazidas pelo texto legal conferem um papel protagonista à sociedade, à comunidade, que passa de usuária do serviço público a colaboradora no gerenciamento da escola pública, senão de fato, ao menos na intenção legal, como apresentam os artigos 205 e 206, incisos I, IV e VI da constituição federal: 
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: 
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 
IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; 
VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei. 
De acordo com texto, ainda, a gestão democrática passa a ser umprincípio no ensino, retomado pela Lei da Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu artigo 3o , inciso VIII: 
Art. 3o O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino. 
Órgãos colegiados da gestão democrática: Conselhos de Escola 
A LDBEN faz, ainda, em seus artigo 14, incisos I e II, menção aos conselhos de escola ou órgãos equivalentes
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiarida-des e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pe-dagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. 
Os conselhos de escola são órgãos colegiados de natureza consultiva e deli-berativa, dos quais participam pessoas dos vários segmentos da escola: gestão docentes funcionários de apoio, pais e alunos. Esse conselho opina e delibera sobre assuntos referentes à gestão pedagógica, administrativa e financeira da escola. Representa, assim, um lugar de participação e decisão, um espaço de discussão, negociação e encaminhamento das demandas educacionais. Cabe, então, aos conselhos escolares reforçar o projeto político pedagógico da escola, como a própria expressão da organização educativa da escola, que deverá se orientar pelo princípio democrático da participação. 
O plano nacional de educação, com vigência de 2001 a 2011 tinha como meta a implantação dos conselhos em todas as escolas da educação básica, como segue: 
a) Educação infantil: implantar Conselhos Escolares e outras formas de participação das comunidades escolar e local, na melhoria do funcionamento das instituições de Educação Infantil e no enriquecimento das oportunidades educativas e dos recursos pedagógicos.
 b) Ensino fundamental: promover a participação da comunidade na gestão das escolas, universalizando, em dois anos, a instituição de Conselhos Escolares ou órgãos equivalentes. 
c) Ensino médio: criar mecanismos, como Conselhos ou equivalentes, para incentivar a participação da comunidade na gestão, manutenção e melhoria das condições de funcionamento das escolas. A fim de apoiar as ações dos conselhos escolares, o Ministério da educação criou, em 2004, o Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, de cunho formativo, com os objetivos a seguir. 
I – Ampliar a participação das comunidades escolar e local na gestão administrativa, financeira e pedagógica das escolas públicas. 
II – Apoiar a implantação e o fortalecimento de Conselhos Escolares. 
III – Instituir políticas de indução para implantação de Conselhos Escolares. 
IV – Promover em parceria com os sistemas de ensino a capacitação de conselheiros escolares, utilizando inclusive metodologias de educação a distância.
V – Estimular a integração entre os Conselhos Escolares. 
VI – Apoiar os Conselhos Escolares na construção coletiva de um projeto educacional no âmbito da escola, em consonância com o processo de democratização da sociedade; 
VII – Promover a cultura de acompanhamento e avaliação no âmbito das escolas para a garantia da qualidade da educação. 
As funções dos conselhos de escola: deliberativa, fiscal, mobilizadora e pedagógica 
O Conselho Escolar possui as seguintes funções: 
• consultiva: opinar, emitir parecer, discutir; 
• deliberativa: decidir, deliberar, aprovar, reelaborar; 
• fiscal: fiscalizar, acompanhar, supervisionar, aprovar prestação de contas; 
• mobilizadora: mobilizar, articular, apoiar, avaliar, promover, estimular; 
• pedagógica: educar, refletir, planejar, avaliar e compartilhar.
A função consultiva se dá quando algum segmento da escola consulta, solicitando um perecer, uma opinião sobre alguma questão. Assim, é importante que o conselho busque informações legais sobre os temas a serem analisados. 
A função deliberativa acontece quando o conselho decide sobre alguma questão da escola. Quando os segmentos exercem coletivamente a função deliberativa e proporcionam um espaço de autonomia na escola, isso é garantido por lei, no artigo 15 da LDBEN: Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de Educação Básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira observadas as normas gerais de direito financeiro público. 
A função fiscal se concretiza pelo acompanhamento do cumprimento das normas do regimento escolar, das ações expressas no projeto político-pedagógico, dos resultados da aprendizagem, dos índices alcançados em avaliações institucionais e, ainda, dos recursos financeiros recebidos pela escola por meio de programas de financiamento.
A TENÇÃO: como exemplo de avaliação institucional, podemos citar o Índice de De-senvolvimento da Educação Básica (IDEB). O IDEB foi criado em 2007 e represen-ta a iniciativa de reunir, num só indicador, dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação: fluxo escolar e médias de desempenho nas avaliações. O indicador é calculado a partir dos dados sobre a aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e médias de desempenho nas avaliações do Inep: o Saeb, para as unidades da federação e para o país, e a Prova Brasil para os municípios. Ele permite traçar me-tas de qualidade educacional para os sistemas educacionais. 
A função mobilizadora é aquela que agrega as pessoas em torno de um objetivo comum. Portanto, cabe ao conselho incentivar a participação. Considerando que a participação é um ato voluntário, o conselho deve agir para além do incentivo, em direção ao convencimento, utilizando estratégias que “contaminem” a comunidade escolar a respeito das necessidades da escola que precisam ser discutidas pelas várias representações dos sujeitos que compõem a escola. 
A função pedagógica se dá quando cada membro do conselho descobre como contribuir para a qualidade da educação na unidade escolar. Considerando que todas as experiências na escola educam, todos podem participar do processo educacional. Contudo, os membros do conselho escolar têm um compromisso com essa tarefa, que se concretizam com algumas funções específicas: • participar de todas as reuniões do Conselho Escolar;
 • reunir-se com seu segmento para compartilhar ideias, informar as deliberações do Conselho, identificar necessidades e elaborar propostas; 
• contribuir na elaboração do Projeto Político Pedagógico da escola; 
• estimular a promoção de eventos educativos, envolvendo as comunidades escolar e local (semana de artes, de ciências, gincanas, torneios esportivos); 
• acompanhar a execução do calendário escolar, assegurando o cumprimento dos duzentos dias letivos e das oitocentas horas anuais de efetivo trabalho escolar estabelecido conforme o inciso I, do artigo 24 da LDBEN; 
• discutir com o seu segmento e demais conselheiros quais são as alternativas para promover o respeito às diversidades: étnico-racial, de gênero e de deficiências;
 • apropriar-se dos resultados das avaliações internas e externas da escola, com o objetivo de acompanhar e propor ações de melhoria da aprendizagem; 
• buscar a melhoria das condições de infraestrutura, materiais didáticos e pedagógicos da escola; 
• acompanhar a execução dos encaminhamentos gerados no âmbito do Conselho Escolar; debater as situações de convivência na escola, ajudando a promover uma cultura de paz; 
• participar de reuniões, cursos, seminários, fóruns e eventos promovidos pela escola e outras instâncias. 
Como se vê, o conselho escolar tem o papel de acompanhar e contribuir para a qualidade da educação oferecida pela escola. A esse respeito podemos citar o art. 12 da LDBEN: 
Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: 
VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; 
VII – informar pai e mãe, conviventes ou não com os seus filhos, e, se for o caso, os responsáveislegais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola; 
VIII – notificar ao Conselho Tutelar do município, ao juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de 50% do percentual permitido em lei. 
Estrutura e funcionamento da educação 
Sistema escolar brasileiro 
O conceito de sistema advém da física e foi absorvido pelas ciências sociais. Em sua origem, significa um conjunto autônomo e orgânico de elementos que funcionam em harmonia, com determinada finalidade. Embora o termo sistema escolar e sistema educacional sejam utilizados com frequência, na constituição e na LDBEN somente encontramos o termo sistema de ensino. 
A opção pelo termo retrata uma concepção da educação que se deseja para a sociedade. Embora desde a Constituição de 1934, sob influência dos pioneiros da educação, ficasse registrada uma necessidade de um projeto de educação nacional, somente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1960 isso começa a ganhar corpo. Essa lei criava os sistemas de ensino federal, estaduais e do Distrito Federal.
 Atualmente, a Constituição Federal não estabelece uma hierarquia entre os sistemas, considerando que cada um tem suas próprias responsabilidades. O que se encontra no texto legal é o princípio da colaboração. Tanto a constituição quanto a LDBEN estabelecem princípios e diretrizes necessárias ao projeto nacional de educação. Contudo, a hierarquia se dá pela abrangência da lei que estabelece limites de autonomia e competências para cada elemento do sistema. 
Em termos de documentação em prol da unidade do sistema contamos, atualmente, com o Plano Nacional de Educação (PNE), que reafirma a aspiração pela unidade do sistema, já comentada por Sucupira (1963), no Conselho Federal de Educação 1963: 
Toda a doutrina da lei admite uma rica variedade de processos e iniciativas, uma diversidade fecunda que possa encaminhar novas experiências e à livre afirmação dos núcleos regionais de elaboração de cultura, mantendo a unidade básica de um projeto nacional. Se é verdade que a democracia significa a crença no poder da integração espontânea dos grupos e poderes criadores, não é menos certo que, numa sociedade complexa e em desenvolvimento, essas forças devem ser coordenadas e dirigidas por um esforço comum de realização do bem coletivo. Mas, em vez da unificação totalitária imposta, rigidamente, pelo poder central, trata-se de uma unidade vital e orgânica, onde as forças criadoras em matéria de educação colaboram sob a mesma orientação para o objetivo fundamental de construir a nação e proporcionar a todos a educação necessária para ao desenvolvimento das pessoas. [...] nos encontramos em face de uma descentralização articulada, onde cada sistema de ensino atua em função das necessidades e dos objetivos específicos de sua região, mas submetidos às diretrizes gerais da educação nacional. 
A organização atual de fóruns dos sistemas (Consed, Undime, UNCME, Fórum dos Conselhos Estaduais) constitui importante estratégia para o planejamento Conselhos na gestão da educação integrado, a troca de experiências exitosas e a atuação em regime de colaboração. Contudo, o objetivo de instituir um sistema nacional de educação até 2014, indicado no então plano nacional da educação, não se realizou: 
Art. 13. O poder público deverá instituir, em lei específica, contados 2 (dois) anos da publicação desta Lei, o Sistema Nacional de Educação, responsável pela articulação entre os sistemas de ensino, em regime de colaboração, para efetivação das diretrizes, metas e estratégias do Plano Nacional de Educação.
 Nesse quadro, foi criada em 2011 a Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino (Sase), com o objetivo de construir consensos e acordos em torno de temas relativos ao sistema nacional de educação. Essa secretaria, então, tem a competência de estimular os sistemas de ensino para que as metas de seus planos estejam de acordo com o plano nacional de educação. Para tanto, passa a oferecer apoio técnico ao distrito federal, estados e municípios. Outra ação importante dessa Secretaria é oferecer assessoria técnica para implantação de políticas voltadas à valorização do magistério, principalmente na implantação da Lei 11.738/08 que estabelece o piso salarial profissional nacional. 
 Fatores como defeitos na articulação entre os vários graus de ensino, falta de equivalência real entre as modalidades, multiplicidades de entidades mantenedoras de escolas e, consequente, diversidade de orientação, autorizam afirmar que ainda não temos um sistema de ensino. Embora ainda não possamos afirmar que dispomos de um sistema de ensino, devemos reconhecer que há uma institucionalização na educação que lhe confere certo grau de organicidade, diferenciando o ensino de educação em seu sentido amplo. Enquanto a educação se dá em várias instituições que não são necessariamente responsáveis pelo ensino formal, como a família, a Igreja, o grupo de esportes etc., o ensino está representado exclusivamente pela escola. Somente ela certifica o sujeito quanto aos conhecimentos formais reconhecidos pela sociedade. Além disso, outros fatores contribuem para o reconhecimento dessa organização: 
• o ensino é ministrado em língua nacional;
 • todas as escolas se encontram dentro do território nacional;
 • a instituição de ensino deve estar a serviço da cultura brasileira; 
• todas as escolas estão sujeitas à legislação comum; e 
• a existência de determinações legais sobre a articulação entre os níveis e modalidades de ensino. 
Desse ponto de vista, podemos falar em uma estrutura administrativa da educação. Todas as instituições sociais, como a escola, têm objetivos propostos pela sociedade a serem cumpridos. Assim, necessitam de normas para organizarem distribuição de tarefas, coordenação de diferentes funções, exercício de autoridade, distribuição de responsabilidades. E o conjunto dessas normas, representado na forma de leis, decretos, portarias, passa a dar forma à estrutura administrativa da organização. Para os teóricos da administração, isto é burocracia. Não estamos, contudo, nos referindo à burocracia como termo pejorativo, popularmente vista como processos que atrasam o andamento das instituições. Estamos nos referindo ao conceito de burocracia que nos é oferecido pelas Ciências Sociais. Em uma burocracia, regulamentos e métodos determinam a autoridade pela posição hierárquica que o indivíduo ocupa na instituição. Nesse sistema hierárquico existe uma cadeia de autoridades, cujas atividades obedecem a regras abstratas, porém claramente definidas: para cada situação teoricamente possível existe uma regra. Assim funciona a estrutura administrativa entre as instituições educacionais no Brasil. 
Estrutura administrativa da educação 
É possível representar a estrutura administrativa da educação no Brasil utilizando uma pirâmide, na qual o Ministério da Educação ocupa o topo e as escolas, a base. Entre uma parte e a outra estão os vários órgãos encarregados de administrar a educação escolar. No entanto, devemos lembrar que não há uma subordinação direta de todos os órgão e repartições estaduais e municipais aos órgãos da administração federal. Assim, temos:Escola
Escola
MEC
A administração no âmbito federal 
A LDBEN, em seu Título IV, fala da organização da educação sob a forma de colaboração, e não de sistema: 
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino. 
Art. 8o Contudo, explicita as instituições que compõem cada “sistema”: federal, estadual e municipal. 
O “sistema” federal: 
Art. 16. O sistema federal de ensino compreende:
 I – as instituições de ensino mantidas pela União; 
II – as instituições de educação superior criadas e mantidas pela iniciativa privada;
III – os órgãos federais de educação.
O “sistema” estadual: 
Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Federal compreendem:I – as instituições de ensino mantidas, respectivamente, pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal; 
II – as instituições de educação superior mantidas pelo Poder Público municipal; 
III – as instituições de ensino fundamental e médio criadas e mantidas pela iniciativa privada; 
IV – os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal, respectivamente. Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada, integram seu sistema de ensino. 
O “sistema” municipal: 
Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem:
 I – as instituições do ensino fundamental, médio e de educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal; 
II – as instituições de educação infantil criadas e mantidas pela iniciativa privada; 
III – os órgãos municipais de educação. 
Nesse contexto, distribui as responsabilidades entre os entes da federação, explicitando o que cabe à União sem, contudo, fazer o mesmo em relação aos estados e municípios: 
§ 1o Caberá à União a coordenação da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais. 
§ 2o Os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos termos desta Lei. 
No art. 9o , então, a Lei passa a detalhar as responsabilidades da União, que se incumbirá de:
 I – elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os municípios;
 II – organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos territórios; 
III – prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios para o desenvolvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistributiva e supletiva;
IV – estabelecer, em colaboração com os estados, o Distrito Federal e os municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum; V – coletar, analisar e disseminar informações sobre a educação; 
VI – assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino; VII – baixar normas gerais sobre cursos de graduação e pós-graduação; 
VIII – assegurar processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, com a cooperação dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de ensino; 
IX – autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino. 
§ 1oNa estrutura educacional, haverá um Conselho Nacional de Educação, com funções normativas e de supervisão e atividade permanente, criado por lei.
§ 2oPara o cumprimento do disposto nos incisos V a IX, a União terá acesso a todos os dados e informações necessários de todos os estabelecimentos e órgãos educacionais.
§ 3o As atribuições constantes do inciso IX poderão ser delegadas aos estados e ao Distrito Federal, desde que mantenham instituições de educação superior.
Todas essas responsabilidades atribuídas à União se concretizam pelas ações dos vários órgãos que se subordinam ou mantém vinculação direta com o Ministério da Educação, cuja estrutura organizacional, apresentada a seguir, nos dá uma ideia da amplitude de suas responsabilidades:
Com base no organograma, vamos entender uma pouco mais sobre as atribuições de cada órgão:
a) Conselho Nacional de Educação: cria normas, delibera e assessora o ministério, no âmbito federal em matéria de educação. Nesse sentido, formula e avalia a política nacional de educação. O Conselho é formado por 24 conselheiros, escolhidos e nomeados pelo presidente da República a partir de indicações da sociedade civil, pois suas funções são consideradas de interesse público relevante. O Conselho é organizado em duas câmaras: Câmara de Educação Básica e Câmara de Educação Superior, que se reúnem mensalmente, ou sempre que convocados. Já o Conselho se reúne a cada dois meses. Quando presente, o ministro preside as reuniões. Na ausência deste, as reuniões são presididas por um presidente leito entre seus pares.
b) Secretaria Executiva: oferece suporte às ações do ministro no que concerne às diretrizes da educação nacional e supervisiona a atuação das demais secretarias a ela subordinadas. 
c) Secretaria de Assuntos Administrativos: planeja, coordena e supervisiona ações ligadas aso sistemas federais de organização no âmbito do ministério; cuida da administração e formação de pessoal do ministério; orienta os demais órgãos do ministério quanto ao cumprimento de normas administrativas. 
d) Secretaria de Planejamento e Orçamento: planeja, coordena e supervisiona as atividades relacionadas aos sistemas federais de planejamento e orçamento; orienta entidades vinculadas em relação ao cumprimento de normas; cuida da execução orçamentária, financeira e contábil no ministério; cuida dos bens e valores públicos no ministério.
e) Diretoria de Tecnologia da Informação: oferece subsídios ao secretário executivo, relacionados à tecnologia da informação e comunicação, no âmbito do ministério. 
f) Secretaria de Ensino Superior: unidade do ministério responsável por planejar, coordenar, supervisionar as políticas do ensino superior. 
g) Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica: responsável por planejar, implementar e supervisionar as políticas voltadas à educação profissional e tecnológica, inclusive no que se refere a pesquisas de demandas, modelos de gestão, financiamentos. 
h) Secretaria de Educação Básica: responsável pelo planejamento e implantação das políticas na educação básica, ou seja, na educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, a fim de assegurar a formação do cidadão como profere a lei. 
i) Secretaria de Educação Básica, Alfabetização, Diversidade e Inclusão: promove articulação entre os sistemas na implantação de políticas voltadas à educação de jovens e adultos, alfabetização, educação em direitos humanos, educação especial, educação no campo, educação indígena, ou seja, todos os grupos que compõem minorias, num movimento de educação inclusiva. 
j) Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino: foi instituída a partir da demanda do Conae 2010, bem como do Plano Nacional de Educação (PNE) de 2014, com a tarefa de organizar o Sistema Nacional de Educação. 
k) Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior: responsável pela regulamentação e supervisão de instituições de educação superior públicas e privadas, que fazem parte do Sistema Federal de Educação; A administração no âmbito estadual Encontramos na LDBEN as indicações sobre as responsabilidades dos estados quanto à organização da educação, no art. 10: Art. 10. Os estados incumbir-se-ão de: 
I – organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino; 
II – definir, com os municípios, formas de colaboração na oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público; 
III – elaborar e executar políticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coordenando as suas ações e as dos seus municípios; 
IV – autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino; 
V – baixar normas complementares para o seu sistema de ensino; 
VI – assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem, respeitado o disposto no art. 38 desta Lei; 
VII– assumir o transporte escolar dos alunos da rede estadual. Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as competências referentes aos Estados e aos municípios. 
Em síntese, há certa autonomia para administrar o ensino fundamental e médio, em sistema de colaboração com os municípios, normatizando ações necessárias para seu funcionamento, sempre em consonância com normas superiores.
É possível representar a estrutura administrativa: 
Secretaria Estadual de Educação 
Diretorias de Ensino 83 
 Escolas 
A administração em âmbito municipal 
Encontramos na LDBEN as indicações sobre as responsabilidades dos estados quanto à organização da educação, no art. 11: 
Os municípios incumbir-se-ão de: 
I – organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos estados;
 II – exercer ação redistributiva em relação às suas escolas; 
III – baixar normas complementares para o seu sistema de ensino; 
IV – autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos do seu sistema de ensino; V – oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino; 
VI – assumir o transporte escolar dos alunos da rede municipal; Parágrafo único. Os municípios poderão optar, ainda, por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um sistema único de educação básica. 
Observa-se que os municípios contam com responsabilidades análogas às dos estados, no que concerne aos seus limites: normatizar, autorizar funcionamento e supervisionar escola de educação infantil e ensino fundamental, podendo, ainda, compor ações com os Estado para manutenção e funcionamento das escolas.
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