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Impactos do coronavírus nas relações de trabalho HENRIQUE CORREIA Procurador do Trabalho Professor de Direito do Trabalho do Curso Aprovação PGE. Autor e Coordenador de diversos livros para concursos públicos pela Editora Juspodivm. Twitter: @profcorreia / Instagram: Prof_correia www.youtube.com/c/HenriqueCorreiaprofessor Carreiras Trabalhistas: carreirastrabalhistascomElissoneHenrique - Site: www.henriquecorreia.com.br 1. Pandemia do coronavírus De acordo com informações do site do Ministério da Saúde, o novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China e é responsável pela doença chamada de coronavírus (COVID-19). Com a declaração de pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS), surgem diversas questões atinentes às medidas de contenção e tratamento da doença, que trazem consequências para as relações de trabalho. Neste artigo, serão abordadas algumas medidas que poderão ser adotadas pelos empregadores na contenção da doença. É importante destacar que o presente trabalho não pretende esgotar as discussões sobre o assunto, tendo como parâmetro informar as partes da relação de emprego e fomentar as discussões sobre o tema. 2. Trabalho em “homeoffice” e teletrabalho A primeira dúvida das empresas e dos trabalhadores é a possibilidade de trabalho em domicílio. De nossa opinião, a empresa pode determinar, desde que seja tecnicamente viável, o trabalho realizado na modalidade “homeoffice”. Nesse caso, a alteração do local de trabalho ocorre em razão de força maior (pandemia) que justifica a adoção da medida. O trabalhador em “homeoffice” mantém todos os direitos trabalhistas, inclusive no tocante à limitação da jornada de trabalho, intervalos e períodos de descanso. Diante da urgência das medidas de contenção, entendo que as modificações podem ser realizadas imediatamente, bastando a comunicação aos empregados afetados. Outro questionamento diz respeito à possibilidade de implementação do teletrabalho, que corresponde ao regime de contratação regulamentado pela Reforma Trabalhista nos art. 75-A a 75-E da CLT. No teletrabalho, o empregado deixa de se submeter às regras atinentes à limitação da jornada de trabalho, não tendo direito a horas extras, intervalos e demais períodos de descaso. De acordo com o art. 75-C, § 1º da CLT, a alteração do regime presencial para teletrabalho exige o acordo bilateral entre empregado e Impactos do coronavírus nas relações de trabalho HENRIQUE CORREIA Procurador do Trabalho Professor de Direito do Trabalho do Curso Aprovação PGE. Autor e Coordenador de diversos livros para concursos públicos pela Editora Juspodivm. Twitter: @profcorreia / Instagram: Prof_correia www.youtube.com/c/HenriqueCorreiaprofessor Carreiras Trabalhistas: carreirastrabalhistascomElissoneHenrique - Site: www.henriquecorreia.com.br empregador. Além disso, a legislação exige o prazo mínimo de 15 dias de transição. Diante da gravidade da situação, entendo que esse prazo pode ser desconsiderado para fins de saúde e segurança no trabalho. Entretanto, como a medida pode trazer prejuízos ao trabalhador pela ausência de limitação da jornada de trabalho, deve permanecer a exigência para a realização de acordo individual escrito entre empresa e empregado autorizando a instituição do teletrabalho. 3. Adoção de quarentena e isolamento pelo Poder Público Com o avanço da doença e diante de medidas já adotadas por outros países, surge a dúvida sobre as consequências para as relações de trabalho da determinação de quarentena ou isolamento pelos gestores de saúde. No dia 06/02/2020, foi promulgada a Lei nº 13.979/2020, que dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019. De acordo com a legislação e desde que autorizado ou determinado pelo Ministério da Saúde, é possível a adoção de medidas de isolamento e quarentena pelos gestores de saúde: Art. 3º da Lei nº 13.979/2019: Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus, poderão ser adotadas, entre outras, as seguintes medidas: I - isolamento; II - quarentena; De acordo com o art. 3º, § 3º dessa lei, a ausência do empregado no trabalho pela quarentena será considerada falta justificada ao trabalho. Nesse caso, o empregado receberá a remuneração normalmente, configurando hipótese de interrupção do contrato de trabalho. Cabe, portanto, ao empregador o pagamento dos salários. Impactos do coronavírus nas relações de trabalho HENRIQUE CORREIA Procurador do Trabalho Professor de Direito do Trabalho do Curso Aprovação PGE. Autor e Coordenador de diversos livros para concursos públicos pela Editora Juspodivm. Twitter: @profcorreia / Instagram: Prof_correia www.youtube.com/c/HenriqueCorreiaprofessor Carreiras Trabalhistas: carreirastrabalhistascomElissoneHenrique - Site: www.henriquecorreia.com.br Vale destacar que, se ultrapassados 30 dias de licença remunerada, o empregado perde o direito de férias (art. 133, II, da CLT), iniciando novo período aquisitivo com o retorno ao trabalho. Além disso, há a necessidade do pagamento do adicional de 1/3 ao trabalhador. 4. Proteção do meio ambiente de trabalho e afastamento do trabalhador com COVID-19 É dever das empresas manter o meio ambiente de trabalho sadio. Dessa forma, os empregadores devem orientar os empregados em boas práticas de higiene e saúde diante do coronavírus para evitar a disseminação da doença. Nesse sentido, devem ser transmitidas aos empregados ordens, conforme orientações da OMS, para lavar as mãos com água e sabão ou passar álcool gel, evitando o contato com as mucosas, cobrir boca e nariz ao espirrar ou tossir, dentre outras. Caso o empregado descumpra as determinações, seria possível a aplicação de sanções e, a depender da gravidade, podendo transmitir a doença aos demais empregados, incidir hipótese de justa causa. Como devem proceder as empresas se o empregado estiver com suspeita de coronavírus ou com a doença desenvolvida sem que haja determinação de quarentena? Nesse caso, o empregado será afastado de suas atividades nas mesmas hipóteses de afastamento por licenças de saúde. O empregado apresenta o atestado médico à empresa e deve ser afastado do trabalho. Os primeiros quinze dias de afastamento devem ser pagos pela empresa e, a partir do 16º dia, o valor é pago pelo INSS como auxílio-doença. Impactos do coronavírus nas relações de trabalho HENRIQUE CORREIA Procurador do Trabalho Professor de Direito do Trabalho do Curso Aprovação PGE. Autor e Coordenador de diversos livros para concursos públicos pela Editora Juspodivm. Twitter: @profcorreia / Instagram: Prof_correia www.youtube.com/c/HenriqueCorreiaprofessor Carreiras Trabalhistas: carreirastrabalhistascomElissoneHenrique - Site: www.henriquecorreia.com.br 5. Concessão de férias aos empregados Como medida para evitar a contaminação, as empresas podem conceder férias individuais ou coletivas aos trabalhadores. As férias coletivas podem ser determinadas a todos os empregados ou a trabalhadores de determinados estabelecimentos ou setores da empresa nos termos do art. 139 da CLT. Nesse caso, o § 2º do art. 139 exige a comunicação prévia de 15 dias ao Ministério da Economia e ao sindicato da categoria profissional. Entendo que, diante da configuração de força maior, o prazo poderá ser dispensado como medida de higiene, saúde e segurança do trabalho. Além disso, é possível, ainda, a concessão de férias individuais aos empregados que tenham completada período aquisitivo. Nesse caso, a legislação exige a comunicação prévia ao empregado com antecedência de, pelo menos, 30 dias. Entendo que, em razão de força maior para conter a pandemia,a comunicação prévia pode ser dispensada. É importante destacar que as férias são concedidas a critério da empresa sempre de acordo com seus interesses. Por fim, ainda que ausente previsão de adiantamento de férias na legislação, entendo que há possibilidade de concessão de férias proporcionais em razão das medidas de prevenção à transmissão do coronavírus. 6. Opções para as empresas adotarem se o empregado não tiver tempo suficiente para o gozo de férias A depender da situação, entendo que a empresa poderá adotar duas medidas: - Compensação de jornada e banco de horas: Por acordo individual com os trabalhadores ou mediante negociação coletiva, as empresas podem firmar compensação de jornada e banco de horas nos termos do art. 59 da CLT para que os trabalhadores possam compensar eventuais horas extras realizadas com descansos durante a pandemia. Nessa hipótese, o trabalhador descansará as horas extras já realizadas. Impactos do coronavírus nas relações de trabalho HENRIQUE CORREIA Procurador do Trabalho Professor de Direito do Trabalho do Curso Aprovação PGE. Autor e Coordenador de diversos livros para concursos públicos pela Editora Juspodivm. Twitter: @profcorreia / Instagram: Prof_correia www.youtube.com/c/HenriqueCorreiaprofessor Carreiras Trabalhistas: carreirastrabalhistascomElissoneHenrique - Site: www.henriquecorreia.com.br - Recuperação de horas: É válido mencionar ainda a possibilidade de adoção de recuperação de horas prevista no art. 61 da CLT em razão de força maior. Ocorrerá a prestação de serviços além do horário normal, para recuperação de horas, em razão da paralisação da empresa resultante de causas acidentais ou de força maior. Nesse caso específico, a prestação de horas extras será de, no máximo, 2 horas diárias, durante os dias indispensáveis à recuperação do tempo perdido. Durante esse período, é devido valor da hora normal acrescido de adicional de 50%, não se confundindo com compensação de jornada. Esse período não poderá ser superior a 45 dias por ano. Não há necessidade de prévio acordo ou convenção coletiva. De acordo com o art. 61, § 3º, da CLT, há necessidade de prévia autorização do Ministério da Economia. 7. A opção dos sindicatos Tendo em vista o poder conferido os sindicatos para estabelecer condições de trabalho aos empregados representados (art. 611-A da CLT), entendo que a negociação entre as empresas e os sindicatos dos empregados é fundamental para negociações atinentes à compensação de jornada, banco de horas, remuneração dos trabalhadores durante os períodos de quarentena e medidas de proteção aos trabalhadores. 8. A infecção por coronavírus durante a prestação dos serviços configura acidente de trabalho? A infecção por profissionais da saúde configura acidente de trabalho equiparado na condição de doenças ocupacionais nos termos do art. 20 da Lei nº 8.213/1991. No entanto, em outras áreas, se a eventual infecção não decorrer diretamente da atividade desenvolvida, entendo que não há configuração de acidente de trabalho por equiparação. Impactos do coronavírus nas relações de trabalho HENRIQUE CORREIA Procurador do Trabalho Professor de Direito do Trabalho do Curso Aprovação PGE. Autor e Coordenador de diversos livros para concursos públicos pela Editora Juspodivm. Twitter: @profcorreia / Instagram: Prof_correia www.youtube.com/c/HenriqueCorreiaprofessor Carreiras Trabalhistas: carreirastrabalhistascomElissoneHenrique - Site: www.henriquecorreia.com.br 9. A situação dos empregados domésticos Os empregados domésticos não têm a opção de realizar o trabalho à distância (“homeoffice”) e estão sujeitos à contaminação por coronavírus no caso de a família a qual presta os serviços ter se contaminado. Surgem, portanto, dúvidas sobre quais medidas podem ser adotadas para a proteção desses trabalhadores. Para aqueles que completaram o período aquisitivo, é possível a concessão de férias individuais, sendo permitida a dispensa da comunicação prévia de 30 dias diante da urgência em adotar medidas de combate à pandemia. Além disso, os empregados domésticos que contam com banco de horas, poderão utilizar esse banco de horas em acordo com seu empregador para descansar no período mais intenso da pandemia. Entendo que, durante esse período, devem ser evitar as dispensas desses trabalhadores, pois é indispensável a solidariedade no enfrentamento da crise. 10. Redução de jornada e salário por instrumento coletivo e por acordo individual De acordo com o art. 7º da Constituição Federal, a redução da jornada de trabalho e dos salários depende de prévia negociação coletiva com o sindicato. Além disso, o art. 611-A, § 3º da CLT estabelece que, se houver previsão em acordo ou convenção coletiva de redução de salário, deve ser assegurada estabilidade no empregado até o fim da vigência desse instrumento coletivo. Diante da pandemia de coronavírus, o governo anunciou que encaminhará Medida Provisória que prevê a possibilidade de as empresas cortarem os salários e a jornada pela metade durante a pandemia1. Para a adoção dessas medidas de “lay off”, será exigido o acordo individual com o trabalhador. De toda forma, deverá ser assegurado o salário mínimo hora do empregado. 1 Fonte: https://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2020/03/18/governo-quer-permitir-reducao-de- salario-e-jornada-de-trabalho-em-ate-50-por-virus.htm https://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2020/03/18/governo-quer-permitir-reducao-de-salario-e-jornada-de-trabalho-em-ate-50-por-virus.htm https://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2020/03/18/governo-quer-permitir-reducao-de-salario-e-jornada-de-trabalho-em-ate-50-por-virus.htm Impactos do coronavírus nas relações de trabalho HENRIQUE CORREIA Procurador do Trabalho Professor de Direito do Trabalho do Curso Aprovação PGE. Autor e Coordenador de diversos livros para concursos públicos pela Editora Juspodivm. Twitter: @profcorreia / Instagram: Prof_correia www.youtube.com/c/HenriqueCorreiaprofessor Carreiras Trabalhistas: carreirastrabalhistascomElissoneHenrique - Site: www.henriquecorreia.com.br Entendo que essa medida provisória terá sua constitucionalidade questionada por violar expressa previsão constitucional que veda a redução de jornada e salário de forma individual pelos empregados. No entanto, diante da situação peculiar que enfrentamos, é necessário aguardar o posicionamento dos tribunais sobre o tema. Além disso, serão previstas regras que facilitam o trabalho remoto, a antecipação de férias e de feriados e a decretação de férias coletivas. Por fim, foi anunciado também que o governo federal destinará R$ 15 bilhões em benefícios de até R$ 200,00 por mês para os trabalhadores informais e autônomos por 3 meses. Para a adoção da medida, o governo espera a decretação do estado de calamidade pública, que autorizará o não cumprimento do teto de gastos públicos. 11. Razoabilidade e bom-senso no enfrentando da pandemia A adoção de medidas de higiene pela população também deve ser aplicada no âmbito das relações de trabalho, com determinação para lavar as mãos com água e sabão ou use álcool em gel, cobrir o nariz e boca ao espirrar ou tossir, evitar aglomerações e o trabalho se estiver doente, manter os ambientes bem ventilados e não compartilhar objetos pessoais. O ideal seria que o Estado interviesse para resguardar os empregados da iniciativa privada contra os efeitos da pandemia. No dia 16/03/2020, o Governo Federal anunciou a antecipação do abono salarial e da segunda parcela do 13º salário do INSS, além da ampliação de beneficiários do Bolsa Família. Medidas que auxiliam na preservação dos empregos também podem ser adotadas pelo Estado para mitigar os impactos do Coronavírus. Por fim, as empresas, empregadose os profissionais do direito devem se pautar pela razoabilidade nas ações adotadas diante do enfrentamento do coronavírus de modo a proporcionar a melhor solução e que tragam menos impactos à saúde da população.
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