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DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM A P O S T I L A Antonio Carlos Tancredo DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 2 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 AGRADECIMENTOS À ENEFER Consultoria, Projetos Ltda e aos seus profissionais e consultores, pelo fornecimento do material bibliográfico para a elaboração da presente apostila. Ao engenheiro Alfredo Aroldo Simon, em especial, pelos seus conhecimentos transmitidos e pela sua grande contribuição na elaboração da apostila Aos técnicos Adilson Moreira da Silva e Fábio Lucien David Maciel, pela contribuição, presteza e eficiência na edição do texto. DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 3 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 ÍNDICE 1.0 CONCEITOS FÍSICOS 1.1 REVISÃO TEÓRICA 1.2 UNIDADES DE MEDIDA 1.3 FORÇAS QUE ATUAM NO TREM 1.4 RESISTÊNCIAS AO MOVIMENTO DO TREM 2.0 FUNDAMENTOS DA DINÂMICA DO TREM 2.1 POTÊNCIA DA LOCOMOTIVA 2.2 ESFORÇO TRATOR 2.3 FORÇAS E RESISTÊNCIAS DO MOVIMENTO DO TREM 2.4 ADERÊNCIA 2.5 FREIOS DO TREM 2.6 VELOCIDADE REGIME CONTÍNUO E DE EQUILÍBRIO 2.7 CAPACIDADE DE REBOQUE DA LOCOMOTIVA 2.8 RELAÇÃO DE TRANSMISSÃO E DIÂMETRO DA RODA 3.0 DESEMPENHO DO MATERIAL DE TRAÇÃO 4.0 CARRO FATOR E TONELADAS AJUSTADAS 5.0 PATINAÇÃO E LUBRIFICAÇÃO 5.1 PATINAÇÃO 5.2 LUBRIFICAÇÃO 6.0 TRAÇÃO MÚLTIPLA 7.0 LOCOMOTIVAS DE AUXÍLIO 8.0 NÚMERO DE EIXOS, TRUQUES E ENGATES DA LOCOMOTIVA 9.0 RAMPA COMPENSADA 10.0 APLICAÇÃO PRÁTICA – QUADRO DE TRAÇÃO 10.1 INTRODUÇÃO 10.2 ETAPAS NECESSÁRIAS 10.3 EXEMPLO DE CÁLCULO DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 4 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 1.0 CONCEITOS FÍSICOS 1.1 REVISÃO TEÓRICA As forças relacionados com a aceleração e velocidade de um trem são explicadas pelos princípios da física. Pela lei de Newton, se for aplicada uma força a uma massa, ela produz uma aceleração no objeto, ou seja: a força necessária é o produto de sua massa pela aceleração. Em outras palavras, quando uma força atua sobre uma massa, lhe imprime uma determinada aceleração. Força = Massa x Aceleração (1) Pela física, o peso é a força da gravidade agindo sobre a massa de um objeto, sendo o valor da gravidade constante para todos objetos. Deste modo: Energia consumida no movimento do objeto é igual ao produto da força atuante pela distância percorrida. Energia ou Trabalho = Força x Distância joule = N x m _ Potência é a energia usada na unidade de tempo. Potência = Energia / Tempo W = joule / s _ Velocidade é igual a distância percorrida pelo tempo despendido. Velocidade = Distância / Tempo V = m / s _ A combinação destas equações, resulta em: Potência = Força x Velocidade kW = kN x V m / s (2) Aceleração (m/s2) = , em que: ET = Esforço trator líquido em kN. P = Peso do trem em kN. Estas duas equações explicam a dinâmica do trem. ET 112 x P DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 5 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 1.2 UNIDADES DE MEDIDA As grandezas físicas, bem com as relações que existem entre si, são expressas numericamente pelas suas unidades de medida, como pode ser visto na tabela 1.2.1. Tabela 1.2.1 – Relação entre Unidades de Diversos Sistemas Grandezas Unidade – SI – Símbolo – SI – Unidade – Imperial – Símbolo – Imperial – Conversão Para Unidade Si Unidade Imperial Equivalente força Newton N libra-força lbf 1N 0,22 lbf massa quilograma kg libra lb 1 kg 2,2 lb espaço metro m jarda yd 1m 1,09 yd espaço Quilômetro km milha mile 1 km 0,62 mile tempo segundo s segundo s 1s 1s velocidade metro / segundo m/s milhas /hora mph 1 m/s 2,2 mph aceleração Metro/ segundo/ segundo m/s 2 pés/s 2 ft/s 2 1 m/s 2 3,281 feet/s 2 energia Joule J libra-força pé Lbf – ft sj 0,738 lbf-ft potência Watt W horse power HP kW 1,34 HP SI – Sistema Internacional de Unidades Imperial – Sistema Imperial Inglês 1.3 FORÇAS QUE ATUAM NO TREM Para que o trem se locomova, deve existir uma força. Se o trecho da via for em nível, a força não será grande, mas, se for em subida ou em descida, a força será muito maior e proporcional à inclinação, sendo que, na descida, é necessário o uso dos freios para evitar o descontrole do trem. As forças que impulsionam o movimento do trem são: - o esforço trator gerado pela locomotiva; - a força de rampa, quando o trecho é em descida. Por outro lado, as forças que se opõem ao movimento do trem são: - a resistência de rampa, quando o trecho for uma subida; - a resistência de curva; - a resistência normal; - a resistência de partida, se o trem estiver parado; - a frenagem do freio automático (do trem); - a frenagem do freio independente; - a frenagem do freio dinâmico. DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 6 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 1.4 FORÇAS E RESISTÊNCIAS DO MOVIMENTO DO TREM Quando o trem está parado, para se locomover, necessita de mais força do que precisaria para se manter em movimento pois precisa vencer sua inércia. Quando está em movimento, num trecho em nível e em tangente, se sua aceleração for reduzida a zero, a velocidade diminuirá gradualmente, podendo até parar, mesmo sem a aplicação de qualquer tipo de freio. Nesta condição, a força retardadora que atua no trem é chamada de resistência normal (devido aos rolamentos e ao vento) e varia de acordo com a velocidade. Convencionou-se que as forças têm um sinal (+) e as resistências, um sinal (-) como símbolos. . Resistência devido às curvas - Quando o trem entra em um trecho em curva, a resistência ao seu movimento aumenta, com intensidade que dependerá do comprimento do raio da curva. Entre os ferroviários, não existe unanimidade acerca do cálculo dessa resistência. . Resistência de rampa - É a resistência ao movimento do trem devido à rampa existente no trecho. O valor da resistência é determinada pela fórmula deduzida do plano inclinado, em função da inclinação da rampa e do peso do trem. . Efeito de rampa descendente - Na rampa descendente, a ação da força faz o trem ir mais rápido, assim, em vez de uma força negativa, deve-se contar com uma força positiva. . Esforço trator - É a força da locomotiva, disponível no contato roda-trilho, para tracionar o trem. O esforço trator deve ser um item importante da especificação de uma locomotiva. Geralmente, o fabricante fornece as curvas de potência da locomotiva, onde, em função da velocidade, conhece-se o esforço trator para cada ponto de aceleração. Para as locomotivas diesel-elétricas, na maioria da vezes, a curva fornecida pelo fabricante corresponde ao oitavo ponto da aceleração, para a potência medida no alternador principal. Neste caso, deve ser considerado as perdas de eficiência, elétrica e mecânica, entre o alternador e o contato roda-trilho. . Freios - São as forças retardadoras do movimento do trem. Quando o trem está em movimento, em um trecho em nível e em tangente, atua sobre ele uma força retardadora que é conhecida, no Brasil, como resistência normal. A resistência normal pode, em casos raros, fazer parar um trem, se o acelerador estiver no ponto zero, mesmo que depois de uma longa demora. Se o trem estiver em movimento num trecho com rampa descendente e se a resistência normal não for suficiente para neutralizar a ação da gravidade, neste caso, para o controle do trem, é necessária uma resistência maior que possa ser fornecida pelos sistemas de freios de atrito. DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 7 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 2.0 FUNDAMENTOS DA DINÂMICA DO TREM 2.1 POTÊNCIA DA LOCOMOTIVA Uma locomotiva que esteja rebocando um trem a uma velocidade V, em trechos de resistênciasdiferentes, desenvolve esforços de tração diferentes e, conseqüentemente, potências diferentes. A potência de um determinado momento é medida através da multiplicação do produto da velocidade nesse momento pelo esforço trator que a locomotiva está desenvolvendo. Da equação, pode ser deduzido que, se o esforço trator permanecer constante, dada uma variação positiva de velocidade, a potência aumentará. Na prática, isto é impossível devido à necessidade de equipamentos volumosos e caros que a operação exigiria. Sendo assim, quando a potência atinge seu valor máximo da capacidade (ou o índice) do equipamento, o esforço trator deve ser reduzido para compensar o aumento da velocidade. Para o caso representado no desenho 2.1.1, tal situação ocorre quando atinge a velocidade de regime contínuo, VRC. Portanto, a uma VRC, o esforço trator e também a potência se maximizam. Se esta potência for a máxima disponível no contato roda-trilho para movimentar o trem, então é a que deverá ser usada no dimensionamento do seu peso. Ao valor da potência no contato roda-trilho, devem ser acrescidos valores adicionais relativo às perdas de eficiência mecânica e elétrica e das cargas auxiliares, como as de iluminação, aquecimento, refrigeração, entre outras. Na prática, é improvável que a locomotiva possa dispor desta mesma potência para velocidades maiores, já que, dependendo do tipo de serviço, os custos associados para permanecer nesta situação são maiores do que as vantagens proporcionadas. DESENHO 2.1.1 100 0 80 85 90 9560 65 70 755515 20 25 30 35 40 45 505 10 F o rç a ( k W ) VRC VM DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 8 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 Deste modo, como é mostrado nos desenhos 2.2.1, 2.2.1 a 2.2.3, a velocidades maiores do que a VM, a potência começa a diminuir. Em resumo, para uma locomotiva diesel elétrica: P = ET x V , considerando o esforço trator em kg, medido no contato roda-trilho, e a velocidade em km/hora, tem-se para o valor da potência em CV, também no contato roda-trilho, no caso de locomotivas diesel. Para se ter a potência fornecida pelo motor ao gerador, então: Potência para tração = Potência no contato roda-trilho / Eficiência 1 CV = 75 kgm/segundo e P (CV) = 1/75 x ET x 1.000/3.600 Potência no trilho (CV) = (ET (kg) x V (km/h)) / 270 Potência para tração (gerador) (CV) = (ET (kg) x V (km/h))/(270 x eficiência (%)), variando a eficiência entre 0,82 e 0,85 Potência do motor diesel = Potência para tração + Potência para as cargas auxiliares Assim, a força necessária para imprimir a aceleração a um trem de peso W será: F = m x = W /g x sendo: F = Força em quilograma (kgf) W = Peso em kgf G = Aceleração da gravidade (9,81 m/s2) M = Massa em kg. A força necessária para imprimir uma aceleração de 1 km/hora/segundo, a um peso de uma tonelada, será em quilograma equivalente a: F = 1.000/9,81 x 1.000/3.600 = 28,3 kg Para imprimir uma aceleração de km/hora/segundo, a um peso W toneladas, será necessário uma força equivalente a: F = 28,3 x x W (kg). A aceleração angular das rodas, dos motores e das engrenagens necessita de diferentes quantidades de força, dependendo da relação entre suas massas e a massa da locomotiva. Para locomotivas em trens de passageiros e de carga, a quantidade necessária de força é bastante próxima ao valor 2,8 kg/t. Adicionando-o ao valor inicial, tem-se, como valor final, F = 31,1 x x W. A velocidade do trem na qual toda força tratora disponível é usada para vencer as resistências no trecho – não sobrando, portanto, força para a aceleração –, é chamada de velocidade de balanceamento do trecho para a locomotiva a que se refere (balancing speed). (1) (2) (3) sendo, , tem-se que: DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 9 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 2.2 ESFORÇO TRATOR Esforço trator (ET) ou esforço de tração de uma locomotiva é a força tratora que ela exerce na superfície de suas rodas no contato com o trilho. O máximo esforço trator que uma locomotiva pode despender, é limitado pelas condições limites de aderência no contato roda trilho. Sempre, a um determinado esforço de tração, corresponderá uma intensidade de corrente nos motores de tração. Assim, além do peso aderente, o esforço trator é limitado pelos motores de tração, pois que exista um limite de intensidade de corrente que os motores podem suportar continuamente sem se danificarem. Podem ser usadas sobrecargas nos motores de tração, mas estas têm que ter duração adequada, de forma a não superaquecerem os motores. Estas sobrecargas podem ser usadas para vencer trechos críticos e deverão ser seguidas de regimes mais leves para que as temperaturas do motor não ultrapassem as temperaturas permitidas pela sua classe de isolamento. Assim, há também que se considerar neste processo a importância do sistema de arrefecimento dos motores de tração, que são, geralmente, sistemas que sopram ar do meio ambiente através dos motores. Nas locomotivas elétricas, em geral os motores são dimensionados de forma a permitir maiores sobrecargas. As curvas esforço de tração/velocidade são fundamentais para a utilização adequada das locomotivas. Devido ao número e à natureza dos fatores que entram no cálculo, alguns deles do conhecimento específico do fabricante, caberá a este fornecer as referidas curvas ao comprador da locomotiva. Portanto, a intensidade do esforço trator dependerá da especificação da locomotiva e da ação do maquinista. No desenho 2.2.1, é mostrado um exemplo de uma típica curva de variação do esforço trator em função da velocidade. DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 10 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 No exemplo, o esforço trator é constante até VRC, neste intervalo de velocidade, conforme desenho 2.2.2, a aceleração é constante, e a velocidade cresce uniformemente com o tempo, resultando no valor máximo do esforço trator. Para velocidades maiores do que VRC, o ET diminui porque a aceleração também diminui e a velocidade não cresce tão rapidamente, como pode ser visto pela curva do desenho 2.2.3. DESENHO 2.2.2 Tempo (s) 0 12 13 14113 4 5 6 7 8 9 101 2 V e lo c id a d e ( m p h ) DESENHO 2.2.1 100 0 80 85 90 9560 65 70 755515 20 25 30 35 40 45 505 10 T ra ç ã o (k N ) VRC Máximo Esforço Trator 120 100 80 60 40 20 0 DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 11 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 Esforço trator (ET) é expresso em (kg) e seu valor pode ser determinado: (1) a partir do conhecimento do peso e resistência total do trem. Como exemplo: - Peso total do trem = Peso das locomotivas + Peso dos vagões; - Resistência total ao movimento do trem = Somatório das resistências (Normal + Curva + Rampa); - ET (kg) = Peso total do trem (t) x Resistência total do trem (kg/t). (2) a partir do conhecimento da curva de potência da locomotiva, especificada para cada intervalo de velocidade. (3) a partir do conhecimento da potência e das velocidades, pela fórmula: ET (kg) = (Potência no trilho (CV) x 270) / Velocidade (km / h) 2.3 RESISTÊNCIAS AO MOVIMENTO DO TREM As resistências que se opõem ao movimento dos trens podem ser classificadas como normais e acidentais. As resistências normais são aquelas que sempre estão presentes, qualquer que seja o trecho. São as resistências decorrentes da fricção, da oposição do ar e da flexão dos trilhos. As resistências acidentais aparecem em determinadas condições de percurso e são devidas às rampas e às curvas. Deverá ser considerada também a resistência causadapela aceleração, que é motivada pela inércia da massa e decorrente da reação contraria à variação de velocidade. Portanto, existem forças retardadoras que agem contra o movimento do trem, devido: DESENHO 2.2.3 0 0 20 40 60 80 100 120 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 Tempo (s) V e lo c id a d e ( m p h ) DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 12 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 - aos atritos gerados pelo próprio movimento do trem; - às resistências geradas pelo deslocamento do trem no ar, que, de acordo com sua aerodinâmica, podem atingir valores significativos dado um aumento de velocidade; - às resistências dos trechos em rampa, que, no caso das ferrovias brasileiras, são bastante comuns e apresentam grau significativos de elevação; - às resistências dos trechos em curva que variam de acordo com o valor dos raios de curvatura e com os da bitola. As duas primeiras são determinadas a partir de experiências e ensaios práticos e representadas por fórmulas matemáticas. As duas últimas, também representadas por fórmulas deduzidas geometricamente. a) Resistência na partida do trem A resistência na partida (RP) se deve à inércia do trem até então em repouso e também à resistência dos mancais, que é muito mais alta na partida do que quando o veículo está em movimento. A resistência do mancal varia de acordo com o tipo (plano ou de rolamento), com a temperatura ambiente e com o tempo em que o veículo permaneceu parado. O mancal que oferece a menor resistência ao movimento é o de rolamento. No trem de carga, a situação mais crítica, de máxima resistência, é quando os engates estão todos esticados, sem folga, sendo necessário movimentar todos os vagões simultaneamente. Em termos práticos, para vencer a resistência da partida, considera-se, no dimensionamento do trem 2,3 kg de força da locomotiva para cada tonelada de peso do trem. b) Resistência Normal A resistência normal é causada pelos seguintes fatores: atrito dos mancais, atritos no contato roda-trilho, atrito entre a roda e as sapatas, atritos das partes mecânicas, deslocamento do trem no ar, oscilações e vibrações dos veículos. Estes fatores, por sua vez, são funções das condições de conservação da linha e do material de transporte, como peso por eixo, área frontal, quantidade no trem, da temperatura ambiente e de outras. A resistência dos mancais varia de acordo com a carga por eixo do veículo e em baixa velocidade de operação, o tipo (se plano ou de rolamento), e sua lubrificação. A resistência na superfície do contato roda-trilho pode variar de acordo com a qualidade da via, mas, na prática, pode ser considerada como uma constante. Esta resistência é devido às partes mecânicas do trem e é causada pelo movimento lateral do veículo sobre os frisos da roda e pela fricção e impacto do friso da roda contra o boleto do trilho. A resistência varia com a velocidade do trem, alinhamento do trilho, qualidade de conservação da via, estado de desgaste do trilho, contorno e desgaste do aro da roda e o grau de interação da via com o truque. Além destes fatores, contribuem também o balanço dos veículos e as folgas e choques nos engates. DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 13 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 A resistência normal, que se deve à ação do ar, varia diretamente com a área da seção transversal do veículo, seu comprimento e com a velocidade do vento. É representada pela equação RN = A + BV + CDV2,sendo: RN a resistência normal, em kg/t; V a velocidade do trem, em km/h; A o parâmetro das resistências não relacionadas com a velocidade do trem, como a resistência dos mancais; B o coeficiente das resistências proporcionais à velocidade do trem, com o de giro das rodas; C o coeficiente das resistências proporcionais ao quadrado da velocidade, como as do ar e da oscilação dos vagões e D o coeficiente aerodinâmico. Portanto, são diversos os coeficientes que compõem a resistência normal ao movimento de um trem e, na maioria das vezes, seus valores não podem ser calculados analiticamente. Resumidamente, na tabela 2.3.1, são apresentados os fatores representados pelos coeficientes da equação da resistência normal. Tabela 2.3.1 – Coeficientes da Equação da Resistência Normal A B C e D - Resistência do atrito nas mangas do eixo, cubo da roda, etc. - Fricção do friso - Pressão do vento sobre a frente do trem - Resistência ao rolamento - Impacto do friso - Fricção superficial do ar na lateral do trem - Resistência da via - Resistência ao rolamento roda/ trilho - Arrasto do ar da traseira do trem - Ação de onda do trilho Os coeficientes A, B e C também podem variar de acordo com os diversos tipos de locomotivas, vagões e de trens. A curva da resistência normal, em função da velocidade do trem, tem o gráfico semelhante ao apresentado no desenho 2.3.1. DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 14 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 As fórmulas de maior aceitação no Brasil, para determinação das resistências normais, recomendadas pela AAR, é a equação de Davis, que no decorrer dos tempos, vem sofrendo modificações a fim de atender aos avanços tecnológicos dos materiais e equipamentos. As grandes modificações da equação de Davis ocorreram com os testes realizados durante as décadas de 40 e 50, tendo resultado na seguinte expressão: RN = 0,3 + + 0,003108 V + K , em que: RN = resistência em kg/t W = peso/eixo em t n = número de eixos V = velocidade em km/h K = coeficiente combinado de resistência do ar 0,0133 para equipamento convencional 0,0280 para piggy back 0,0164 para contêineres Recentemente a equação foi modificada em função de mudanças com relação às maiores capacidades carga/eixo e de velocidade, ao desenvolvimento de 9,08 W 0,0133 0,0280 0,0164 V2 Wn DESENHO 2.3.1 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100 Velocidade (mph) R e s is tê n c ia d o T re m ( k N ) DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 15 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 equipamentos mais modernos e em função da elaboração de projetos melhores para os truques de vagões e para as vias férreas. A seguir, é apresentada a versão de 1990, elaborada pela Canadian National, para a equação de Davis. Nela, os coeficientes foram obtidos a partir de testes com carros dinamômetros. RN = 0,75 + + 0,00932V + , em que: RN = resistência normal em kg/t; n = número de eixos; W = peso total em t; a = área da seção transversal do veículo em m2; V = velocidade do veículo em km/h; C = coeficiente aerodinâmico do veículo (específico da equação). A tabela 2.3.2 contém os valores verificados pela Canadian National para o coeficiente C (dada uma grande variação quanto aos tipos de veículos): Tabela 2.3.2 – Coeficiente C da Equação de Davis Modificada pela Canadian National Grau Aerodinâmico Veículo Coeficiente C Veículo Líder Veículo Rebocado Nil 1 Vagão aberto p/ transporte de automóveis - 12/3 Nil 2 Locomotiva p/trens de carga 24,0 5,5 Conjunto misto de vagões - 5,0 Low 3 RDC 19,0 4,0 Low 4 Convencional de passagens inclusive locomotiva 19,0 3,5 Med 5 14,0 3,0 Med 6 10,0 2,6 High 7 Passageiros – Alta velocidade 7,6 2,3 High 8 Máxima forma aerodinâmica 7,0 2,0 Dependendo do tipo de vagão predominante no trem, o coeficiente C pode ser ajustado. A tabela 2.3.3 apresenta o coeficiente C para casos relacionados com a área da seção transversal dos vários tipos de veículos. 8,165n W 1,885 . Ca V2 10.000 x W DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 16 MÓDULO- OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 Tabela 2.3.3 - Equação elaborada pela Canadian National com Coeficiente C Ajustado Tipo de Veículo Coeficiente C Área m2 Vagão fechado 4,9 13,00 Plataforma com painel (batente) nas cabeceiras (carregado) 5,3 13,00 Plataforma com painel (batente) nas cabeceiras (vazio) 12,0 13,00 Gôndola para carvão (carregado) 4,2 9,75 Gôndola para carvão (vazia) 12,0 9,75 Hopper fechado 7,1 11,60 Tanque 5,5 8,82 Plataforma convencional (sem carga de reboque) 5,0 2,32 Plataforma convencional (com carga de reboque) 5,0 11,61 Caboose 5,5 13,47 Carro de passageiros convencional 3,5 12,08 Equipamento moderno leve para passageiros 2,0 10,22 Locomotiva de carga a frente do trem 24,0 14,86 Vagão multinível p/transporte de autos (aberto) 12,3 13,94 Vagão multinível p/transporte de autos (fechado) 7,1 15,79 Na tabela 2.3.2, os valores do coeficiente C para vagões, gôndola e plataforma com painel vazios são muito maiores do que quando estes estão carregados, fato que é explicado pelo rodopio do ar dentro do vagão quando vazio, gerando turbulência. A AAR, em 1988, durante a condução de um programa de economia de energia, fez testes de confirmação dos valores dos coeficientes da equação original de Davis. Os resultados obtidos são a seguir apresentados: - Para vias de excelente padrão e estado de conservação, o coeficiente B apresentou valores desprezíveis e recomendou-se que fosse, então, retirado da equação. - A resistência ao movimento dos modernos mancais de rolamento apresentaram valores de resistência de 16-18 lbs/eixo, bastante próximos ao valor de 20 lbs/eixo até então usado na equação de Davis, modificada então para: DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 17 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 RN = 1,3 + + (unidades imperiais); RN em lbs/ton. - O parâmetro A, de valor 1,3, que independe da velocidade, pode variar de 2,13 lbs/ton, para o vagão carregado até 1,77 lbs/ton, para o vagão vazio, sem a lubrificação do trilho, e pode variar de 0,8 lbs/ton até 0,7 lbs/ton, respectivamente, com lubrificação também pode variar de 1,35 lbs/ton, para o vagão com truque de 3 peças, carregado, até 0,91 lbs/ton, para o vagão com truque radial de estrutura suspensa com alinhamento primário, vazio. - O coeficiente aerodinâmico C pode ser interpretado da seguinte maneira: Raero = CV 2 = 0,5 (C Da) V2 ; em que, é a densidade do ar, cujo valor depende da pressão atmosférica e da temperatura ambiental. O termo (C Da) corresponde à área de arrasto do trem, ou coeficiente de arrasto, que é igual ao somatório de todas as áreas de todos os veículos do trem. Deste modo, o valor do termo (C Da) varia conforme o projeto dos veículos, o espaçamento dos veículos no trem, o ângulo de guinada do vento e a formação do trem. No Brasil, a fórmula mais utilizada é a da equação de Davis. Convém lembrar que ela fornece a “taxa de resistência” em kgf/t para cada tipo de veículo. Para se determinar o valor da resistência, é necessário multiplicar pelo peso do veículo, expresso em toneladas. LOCOMOTIVAS: Rn = 0,65 + 13,2 + 0,00931 V + 0,00453 . A . V 2 W W . n VAGÕES: Rn = 0,65 + 13,2 + 0,1395 V + 0,000944 . A . V 2 W W . n sendo: W = peso por eixo – toneladas n = número de eixos V = velocidade do deslocamento – km / h A = área frontal = m2 Convém observar que, nas equações, a constante proporcional à velocidade do vagão é maior do que à da locomotiva. O vagão, sendo rebocado, está mais sujeito aos movimentos parasitas do trem. A constante proporcional ao quadrado da velocidade é maior na locomotiva. Ela sofre o ataque frontal do ar; o vagão, não. 18 W C a V2 Wn DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 18 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 As demais constantes foram obtidas por experiência e estão no sistema métrico. Substituindo os valores na equação, é encontrado a “taxa de resistência normal” em kgf/t. Outra observação é que a taxa de resistência normal para vagões vazios é maior do que a dos respectivos vagões carregados. É fácil aceitar isto se for lembrado que o vagão vazio, por ter menor inércia, estará sujeito a maiores variações quanto ao seu movimento. Para um mesmo esforço de tração, a locomotiva rebocará mais toneladas brutas se todos os vagões estiverem carregados do que se estiverem vazios. P = Esforço de tração (em toneladas) Taxa de resistência c) Resistência de rampa Deve-se à inclinação da rampa do traçado da ferrovia, que trás consigo o efeito da gravidade sobre o trem, isto é, a componente da força-peso tomada paralelamente à via. Nas ferrovias brasileiras, a ela, na maioria dos caso, que limita o peso do trem. Quando o trem viaja subindo uma rampa, tem contra si o efeito da aceleração constante da gravidade, definida pela letra g e tem o valor de 9,81m/s2 ou, mais precisamente na latitude 45o, de 9,80665m/s2. Na prática, a resistência de rampa, é calculada pela equação RR = 10 i, sendo RR a resistência de rampa em kg/t e i a inclinação da rampa em %. A equação RR = 10 i, pode ser deduzida a partir do desenho 2.3.2. Sendo, no desenho, E = o esforço necessário para deslocar o peso P Ri = a resistência oferecida pelo peso P da composição ao ser deslocada DESENHO 2.3.2 - MÓVEL DESLOCANDO EM UM PLANO INCLINADO DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 19 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 = ângulo que a linha faz com o plano horizontal Das relações trigonométricas, tem-se: tg = _h_ = __i__ = i% d 100 O esforço para deslocar o corpo P é no mínimo igual à resistência oferecida ao ser deslocado para subir a rampa. E = RR RR = P sen (expresso em kgf) Nos traçados das ferrovias, as rampas são muito pequenas, inferiores a 3% (tg = 0,03). Para estes valores de rampa, é válido considerar o valor do seno como equivalente ao da tangente. Para todas as declividades encontradas na tração por simples aderência, pode-se confundir o valor do seno com a tangente, isto é, com a inclinação da via. Deste modo, substituindo estes valores na equação anterior, tem-se: RR = P tg A tangente de é dada em porcentagem, e o peso P, em toneladas. Para o deslocamento de uma tonelada de peso P, ficaria: RR = 1 t x i RR = 1.000 x __i%__ kgf (por tonelada de peso deslocado) 100 Finalmente, para deslocar P toneladas, RR = P x 10 x i% kgf O valor 10 x i% é chamado de “taxa de resistência” e é expresso em kgf/t. Como exemplo, para uma rampa de 1,5% de greide, a RR é igual a15 kgf por tonelada de peso do trem. d) Resistência de curva A resistência de curva provém dos atritos resultantes do arranjo entre rodas e eixos e do paralelismo dos eixos nos truques. Estes atritos ocasionam perdas que se traduzem em uma resistência que depende principalmente do raio da curva e da bitola da via. As resistências que derivam das curvas do traçado da ferrovia, são determinadas tanto em função do valor do raio como do ângulo central, das curvas para corda de 20 metros. DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 20 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 Na prática, caso o raio de curva seja conhecido, a fórmula de Desdouits expressa na equação RC = 500 b / R, em que RC é o valor da resistência em kgf/t; b o valor da bitola que no Brasil varia de 1,0 a 1,6 metros e R, o valor do raio da curva em m. Caso se conheça o valor do ângulo interno, pode ser usada a equação RC = KG, sendo RC a resistência, em kgf/t; K uma constante valendo 0,54 para a bitola de 1,0 metro e 0,65 para a bitola de 1,6 metros e G o valor do ângulo interno para a corda de20 metros. Analisando-se o desenho 2.3.3, e poderá entender a fórmula para cálculo da resistência de curva para a bitola larga. A fórmula empírica, deduzida a partir de experiências realizadas, se baseia na noção de “grau vinte” de uma curva multiplicado por uma constante. Esta noção pode ser explicada pelo fato de que, quanto maior o grau, mais fechada será a curva e menor o seu raio. Chama-se grau vinte porque é o ângulo central de uma curva que subtende uma corda de 20m. RC = 0,65 x G20 kgf (por tonelada de peso deslocado) Para P toneladas, tem-se: RC = P x tonelada x 0,65 x G20 __kgf___ tonelada RC = P x 0,65 x G20 kgf O valor 0,65 x G20 é chamado de “taxa de resistência” e é expresso em kgf / t. Dado o raio de uma curva, é fácil determinar o seu G20. G20 = _1.145,93_ , ou ainda, R Sen (G20 : 2) = _10_ R (G20 : 2) = arco . seno _10_ R G20 = 2 x arco. seno _10_ R Exemplo: Dado R = 150m, calcular o seu G20: G20 = _1.145,93_ = 7,65 o = 7o 38’ 42” 150 ou G20 = 2 x arco.seno _10_ = 7,65 150 G20 = 7 o 38’ 42” DESENHO 2.3.3 2 0 m 10m R G20 DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 21 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 e) Resistência em túnel Nos trechos em túnel, na prática, considera-se uma resistência de 2 kgf/t, se a linha for singela, e de 1 kgf/t, se a linha for dupla. f) Resistência total A resistência total, RT, ao movimento do trem em um determinado trecho da ferrovia é o somatório de todas as resistências citadas acima. Então, RT = RP + RN + RR + RG + RT. 2.4 ADERÊNCIA A aderência entre a roda e o trilho impõe um limite ao esforço trator exercido nas rodas. Se o limite for ultrapassado, ocorrerá “patinação”, isto é, a roda gira livre sem movimento de translação do eixo. A aderência só será assegurada se o esforço trator na roda for menor que uma certa fração do peso sobre a mesma. ET = FA x P , sendo FA a força de aderência, t; coeficiente de aderência em porcentagem, %, e P o peso aderente da locomotiva em toneladas. Denomina-se coeficiente de aderência o coeficiente , obtido pela relação entre o esforço de tração suficiente para causar a patinação e o peso sobre as rodas motoras. Assim, = FA/P . O coeficiente de aderência é diminuído pelas seguintes condições: a) imperfeições da linha (mal estado de conservação dos trilhos; falta de nivelamento; juntas arriadas; superelevação inadequada, dentre outras). b) trilho úmido, oleoso ou com detritos vegetais (folhas de árvores, por exemplo); c) velocidade A variação do coeficiente de aderência com a velocidade é dada pelas seguintes fórmulas: PARA LOCOMOTIVA ELÉTRICA: v = o x (8+0,1V)/ (8+0,2V), sendo: v = coeficiente de aderência na velocidade V. o = coeficiente de aderência na partida. DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 22 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 PARA LOCOMOTIVA DIESEL ELÉTRICA: v = o / (1+0,005V). Sendo: v = Coeficiente de aderência na velocidade V. o = Coeficiente de aderência na partida. Os valores de variam de 25 a 35 %, para as locomotivas elétricas e diesel elétricas de corrente alternada, e de 20 a 25 %, para as diesel elétricas. Constantemente, estão sendo desenvolvidos estudos no sentido de aumentar o coeficiente de aderência, visando ao melhor aproveitamento do peso aderente da locomotiva. È importante que haja uma boa distribuição de peso entre os eixos motores e um bom sistema de suspensão, construindo-se os truques de forma a minimizar a transferência de peso entre os rodeiros quando se varia a velocidade. Este problema é uma preocupação constante, visto que, quando ocorre a aceleração, alguns rodeiros virão a ser sobrecarregados e outros, aliviados. O mesmo ocorre na desaceleração. Os rodeiros aliviados poderão patinar, fazendo com que o sistema de proteção entre em ação e reduza a força da locomotiva, não permitindo que a mesma opere dentro de suas possibilidades normais. Os processos até agora usados para corrigir a patinação são os destinados a aprimorar a distribuição do peso durante todas as fases do movimento da locomotiva, e o emprego de areia, quando necessário, entre a roda e o trilho. Existem nas locomotivas sistemas pneumáticos que jogam a areia depositada em reservatórios (localizados na locomotiva), sendo a superfície dos trilhos sob as rodas. Esses sistemas são comandados pelo maquinista, mas podem também ser acionados automaticamente através de um sistema de proteção contra a patinação. Esse sistema detecta a patinação de determinado rodeiro e, para preveni-la, deixa escorrer areia do reservatório, podendo também reduzir o esforço de tração, de maneira a impedir que ocorra a patinação. A patinação do rodeiro causa danos à roda e ao trilho e poderá, dependendo de sua intensidade, danificar seriamente o motor de tração, fazendo com este aumente violentamente a rotação, rompendo a bandagem devido à força centrífuga. Os coletores também são danificados, havendo o levantamento de suas lâminas. Quando ocorre o rompimento da bandagem, há, sempre, pesada avaria do motor, podendo-se, até mesmo, verificar sua perda total. Nas situação de frenagem do trem, os coeficientes de aderência adotados são menores devido à necessidade de maior segurança. Deste modo, resumindo, a aderência é definida pelo coeficiente de atrito existente na superfície de contato da roda da locomotiva com o boleto do trilho. A conjugação do produto do peso das rodas, o peso aderente da locomotiva, com o coeficiente de atrito define a força de aderência do contato roda-trilho. Como já foi explicado anteriormente, o esforço trator é a força máxima fornecida pela locomotiva no contato entre a roda e o trilho para a locomoção do trem. Quando o esforço trator, no contato roda-trilho, for maior do que a força de aderência, ocorrerá a patinação das rodas. Portanto, para que ocorra o movimento do trem, sem DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 23 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 patinação, é necessário que o esforço trator seja sempre menor do que o valor da força de patinação. Na prática, o coeficiente de aderência, obtido por experiências, varia conforme o estado de conservação da linha e de outros fatores e, também, conforme o sistema de controle de patinação da locomotiva. Os valores mais usados são: Trilho seco: 25% Trilho seco com areia: 33% Trilho molhado: 5 a 15% 2.5 FREIOS DO TREM 2.5.1 Introdução Imaginemos a seguinte situação: um trem longo, com mais de 1 km de comprimento, com a parte dianteira passando por um trecho em rampa ascendente e a parte traseira por um trecho de rampa descendente. Este trem pesando 10.000 toneladas viaja a 60 km/h. De repente o maquinista precisa parar este trem. A operação que se segue é extremamente complexa e só pode ser realizada com o auxílio dos sistemas de freio do trem, discutidos a seguir. 2.5.2 A Operação dos Freios O sistema de freio a ar comprimido presente nos trens de carga não mudou sua concepção operacional básica desde a década de 1930. Cada locomotiva possui um compressor que fornece o ar comprimido para todo o sistema de freio do trem. A pressão do ar na tubulação do sistema de freio é controlada por meio de válvulas de alimentação, sendo de no mínimo 70 psi. Na maioria das vezes, é de 90 psi e pode chegar a 110 psi. A canalização do sistema de freio é instalada ao longo de todo o comprimento do trem, levando o ar comprimido da locomotiva para o reservatório fixados nos vagões. A mesma tubulação é usada, para o controle dos freios, pelas válvulas sensíveisa variação da pressão. Deste modo, cada vagão tem o seu próprio equipamento de freio, formado pelos seguintes componentes: um cilindro, sapatas, hastes e alavancas, reservatórios de ar auxiliar e de emergência e uma válvula AB ou ABD. A válvula AB é usada para direcionar o ar procedente dos reservatórios auxiliar e de emergência para o cilindro de freio e também para fazer a exaustão do ar. O pistão do cilindro de freio é conectado às sapatas de freio da roda por meio de hastes e de alavancas. Os freios somente serão aplicados quando ocorrer uma redução na pressão do encanamento do ar comprimido que faça a válvula AB funcionar de maneira a dirigir o ar comprimido para o cilindro. Nos Estados Unidos se torna obrigatório, a partir de 1977, em todos novos vagões, o uso da válvula ABDW, que representa um significativo avanço técnico da válvula ABD por possuir um dispositivo de “serviço rápido continuo”, cujas vantagens, com relação à ABD, são: maior velocidade de DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 24 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 frenagem de serviço, melhoria no aumento médio da pressão do cilindro de freio, distâncias de parada reduzidas no mínimo em 20% e redução dos esforços longitudinais do trem. A seguir são listados os tipos de operações com os freios: Freios de Serviço – A ação dos freios é aplicada normalmente para parar ou controlar a velocidade do trem. A intensidade da força de frenagem desejada é obtida com a redução da pressão do encanamento geral, que varia entre 6 psi a 26 psi. A redução da pressão aciona a válvula AB, permitindo que o ar comprimido do reservatório seja encaminhado para o cilindro de freio. A pressão do ar comprimido agindo contra o pistão do cilindro faz a aplicação dos freios. Normalmente, o freio de serviço pode atingir 75% da capacidade do freio de emergência. Frenagem em Tração – É exatamente o que é feito pelo maquinista quando ele se antecipa, no tempo, a um evento com o trem, aumentando ou reduzindo a velocidade, uma aplicação de serviço dos freios, sem redução do ponto do acelerador. Se com a redução da velocidade, o evento tiver sido resolvido, sem que tenha havido a necessidade de parar o trem, os freios poderão, então, ser aliviados e o acelerador poderá ser acionado. Freio Independente – É o próprio freio da locomotiva, isto é, ele somente freia a locomotiva. O freio independente, quando a locomotiva está atrelada ao trem tem um efeito mínimo sobre o mesmo nos casos de controle da velocidade e paradas. O uso do freio independente, normalmente, é feito nas manobras e no estacionamento, ou quando é necessário pequena força de freio. Os trens de carga devem ser parados com o freio automático ou com uma combinação entre os freios automático e dinâmico. Entretanto, quando em baixa velocidade e as condições permitirem, principalmente em manobras, o trem poderá ser parado somente com o freio da locomotiva. O uso impróprio do freio independente pode causar choques bastantes severos. Quando for usado o freio da locomotiva somente para parar o trem, deve ser aplicada pequena pressão nos cilindros de freio da locomotiva até que o trem tenha “encolhido”, e então aumentar a pressão para o valor necessário, tomando o cuidado de reduzir a pressão do cilindro de freio quando estiver parando, para reduzir a possibilidade de deslizamento das rodas. Quando for necessário aliviar os freios da locomotiva ou reduzir a pressão no cilindro de freio, com os freios do trem aplicados, basta comprimir o punho do manipulador de freio independente. Para o equipamento 26L, existente nas locomotivas GE U- 20-C, se o punho for comprimido enquanto na zona de aplicação, a pressão será reduzida para a correspondente à posição do punho na zona de aplicação. Já para o equipamento 6SL, existente nas locomotivas GE U-13-B, o punho do manipulador tem que ser movido para a posição de alívio total, para fazer qualquer alívio nos freios da locomotiva. Para velocidades normais na linha, o freio independente não deve ser utilizado para controlar a velocidade do trem, devendo ser aliviado quando da aplicação do freio dinâmico, a não ser em situações de emergência. DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 25 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 As seguintes precauções devem ser tomadas, com relação ao freio independente: sob condições normais, o freio independente não deve ser aplicado quando a locomotiva estiver acelerando ou usando freio dinâmico; quando operando em tração múltipla, para que os freios das locomotivas não utilizem o freio automático, o manipulador do freio independente deve ser comprimido na posição “alívio” por 4 segundos para cada locomotiva componente do trem. Freio Dinâmico – A frenagem dinâmica consiste em se reduzir a velocidade do trem empregando-se parte de sua força viva para acionar as armaduras dos motores de tração, que passam a trabalhar como geradores, criando-se desse modo, uma resistência ao movimento do trem, que poderá ser utilizada para diminuir sua velocidade ou sua parada. Os motores de tração são transformados em geradores elétricos através de operações de controle adequadas. Os campos dos motores de tração são acionados por uma fonte de energia localizada na locomotiva e, nas armaduras, acionadas pela energia cinética do trem, são geradas correntes elétricas. A resistência que se opõe à rotação das armaduras absorve parte da energia cinética do trem, fazendo com que sua velocidade diminua. Existem duas formas de aplicação de energia elétrica gerada nas armaduras: uma é queimada pela resistência existente na própria locomotiva e outra, conhecida como regenerativa, pode ser jogada no sistema de distribuição para ser usada por outro trem. Quando devidamente empregado, o freio dinâmico permite o controle da velocidade dos trens, mesmo os longos e pesados, com pequeno ou nenhum emprego de freio à ar, existindo, no entanto, uma velocidade mínima nas armaduras dos motores de tração, para sua aplicação. A quantidade de força de frenagem é limitada pela capacidade do equipamento de freio dinâmico e pela aderência do contato roda-trilho. É comum considerar-se o esforço de frenagem máximo igual a 20% do peso aderente. As vantagens econômicas do freio dinâmico são tantas que seu emprego em locomotivas elétricas e diesel elétricas está hoje generalizado. Entre as vantagens proporcionadas pelo freio dinâmico, podem-se citar: - redução do custo de manutenção das sapatas de freio, rodas, trilhos, aparelhos de choque e tração e componentes do sistema de freio a ar; - aumento da segurança da operação (por reduzir o perigo advindo do superaquecimento das sapatas e rodas); - possibilidade de se aumentar, com segurança, a velocidade nas descidas, por proporcionar o aumento da disponibilidade de frenagem. O uso do freio regenerativo representa uma grande economia de energia em regiões com rampas longas e pesadas, pois permite que pela regulação dos horários, os trens que sobem utilizem a energia gerada pelos que descem, apesar de parte DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 26 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 desta energia ser consumida pelas próprias resistências do trem no fio de contato e na linha de transmissão. O freio dinâmico, tem grande uso no controle da velocidade do trem, principalmente, complementando o freio automático a ar comprimido. Quando se quiser mudar o regime da locomotiva do de tração para o de uso de freio dinâmico, a aceleração deverá ser reduzida um ponto por vez, rebaixando-se um intervalo de 2 a 3 segundos entre as mudanças, permitindo o ajustamento das folgas do trem antes do uso do freio dinâmico. Além disso, deve-se aguardar cerca de 10 segundos após colocar a alavanca do acelerador na posição “desligado”, antes de se iniciar a frenagem dinâmica. O freio dinâmico deve ser aplicado lentamente, observando-se o crescimento da amperagem. Parauma nova aceleração após frenagem dinâmica, deve-se aguardar os mesmos intervalos de tempo. O freio dinâmico e o freio independente não devem ser usados ao mesmo tempo, a não ser em certos procedimentos especiais de partida do trem em declives. Quando a força disponível pelo freio dinâmico não for suficiente para controlar a velocidade, o freio automático deve ser aplicado de forma que o freio dinâmico seja reduzido a uma faixa em que ele permita flexibilidade, não mais que ¾ de sua capacidade máxima, para controlar as mudanças de velocidade necessárias, dadas as características físicas da linha. Para a aplicação do freio dinâmico em combinação com o freio automático, o punho do manipulador do freio independente deve ser comprimido com freqüência, de maneira a garantir que não será desenvolvida pressão nos cilindros de freio da locomotiva. Freio de Emergência – È o freio de máxima capacidade do trem, que deve ser utilizado quando há uma situação de emergência. Na aplicação do freio de emergência, a pressão em toda a tubulação cai para uma atmosfera, seqüencialmente de vagão a vagão, da frente até a retaguarda. Como resultado da queda brusca da pressão, a válvula AB de cada vagão direciona o ar dos reservatórios auxiliar e de emergência para o cilindro de freio, produzindo força de frenagem suficiente para parar o trem. O freio de emergência é a aplicação mais rápida possível e, uma vez acionado, não pode mais ser cancelado. Quando o freio de emergência for acionado, a tração deve ser cortada de imediato e o acelerador levado à posição de vazio. Após uma aplicação de emergência, a válvula AB precisa de tempo para se rearmar, de maneira a permitir que o sistema de ar comprimido se recarregue, permitindo que o trem prossiga sua marcha. Considerações Especiais – Em um trem longo, por exemplo de 1.684m de comprimento, a queda da pressão na canalização pela aplicação do freio de emergência, levaria 6 segundos para acionar o freio do último vagão, neste caso o deslocamento da onda de pressão é de 281m/s. O sistema é especificado para que em 10 segundos entre em ação a válvula AB e a aplicação efetiva do freio, quando a pressão na canalização é de 70 psi. Neste exemplo, a aplicação efetiva do freio de emergência em todos os vagões do trem levaria 16 segundos. Outro fato é que a força de frenagem máxima na superfície do contato roda-trilho deve ser menor do que a força aderente do trem vazio. Como a força máxima de freio é a determinada DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 27 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 para um trem vazio, isto significa que um trem pesando duas vezes o peso de um vazio precisaria do dobro de distância para parar. Desta forma, o maquinista deve conhecer bem as características do trecho da linha em que está operando, para que possa planejar com antecedência este tipo de operação. Agindo desta forma, o maquinista poderá utilizar a velocidade do trem para vencer aclives ou ondulações de terreno, executando operações previstas da forma recomendada pelos procedimentos operacionais da ferrovia, aumentando, por conseguinte, a segurança do trem e a economia de combustível. Sempre que possível, ou seja, sempre que não forem necessárias mudanças bruscas na condição do trem, deve-se dar preferência à frenagem ou à redução de velocidade com o trem encolhido, iniciando a operação com antecedência. Deve-se evitar o freio de “esticamento”, frenagem contra aceleração, pois o consumo de combustível com este procedimento é muito superior ao anterior. O freio dinâmico deve ser usado não apenas para completar o freio automático em descidas, mas também para redução e controle de velocidade, desde que as condições da linha o permita. Além disso, devem ser preparados os procedimentos de como usar os freios na partida, aceleração, controle da velocidade, redução da velocidade e parada do trem nos trechos em que a linha está em nível, rampa ascendente, rampa descendente e em terreno ondulado. Aplicação de Serviço – Como foi apresentado, o trem tem diversas maneiras de controlar a sua velocidade e de parar. No caso de parada do trem, será necessário conhecer as condições operacionais para se dispor de distância e tempo seguros. Num trecho em nível e em tangente, a resistência normal até poderá parar o trem, se o acelerador for levado ao ponto zero, mas levará muito tempo. Se o trem estiver descendo um trecho e sua resistência normal for inferior à resistência da rampa, então, para a sua parada, será necessária ainda mais resistência, que poderá ser fornecida pelos freios. A resistência normal atuará continuamente enquanto o trem estiver em movimento. Sob condições normais de operação, uma aplicação de freio deve ser iniciada a uma distância suficiente, de forma que a redução de velocidade desejada possa ser obtida usando-se inicialmente uma redução mínima. Normalmente, a parada se completa com não mais de 15 psi de redução total no encanamento geral. Tal procedimento permitirá a redução das forças no trem e também uma reserva de freio, para o caso de o trem ter de ser parado em uma distância menor que a prevista. O uso de uma redução total de serviço não deixará nenhum poder de frenagem de reserva (exceto se for aplicada o freio de emergência) e limitará a capacidade do maquinista de controlar o trem. Portanto, a frenagem correta do trem requer um planejamento antecipado e o uso moderado de redução de pressão. DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 28 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 Na condução do trem, o controle das folgas nos engates é essencial. Conhecendo a composição do trem e as características físicas da via, o maquinista poderá prever as ações das folgas de engates que poderão ocorrer e usar os freios e o acelerador de forma a minimizar os efeitos. Qualquer mudança de velocidade deverá ser feita gradualmente, para que, a não ser em caso de emergência, as folgas do trem possam se ajustar às aplicações e alívios de freio. Nas aplicações de serviço, reduções de pressão no encanamento geral do freio menores que a mínima devem ser definitivamente evitadas. A redução inicial deve ser entre 5 e 8 psi. Sob condições normais, o uso de uma aplicação gradual é o método correto para aplicação do freio. Este tipo de aplicação é feito com uma redução mínima inicial, aguardando-se pelo menos 20 segundos, para outras reduções de 2 a 3 psi possam ser feitas de acordo com as necessidades um intervalo de pelo menos 30 segundos entre cada aplicação adicional deve ser conservado. O alívio dos freios de uma aplicação de serviço é conseguida pela movimentação do punho do manipulador do freio automático para a posição de alívio ou marcha. Isto faz com que seja aumentada a pressão no encanamento geral, o que causa o alívio dos freios dos vagões, zerando as pressões nos cilindros de freios e recarregando os reservatórios. O tempo para iniciar o alívio dos freios no último vagão depende de vários fatores, tais como comprimento do trem, vazamento no encanamento geral e tipo de válvula de controle do vagão. Por exemplo, para o equipamento AB em um trem com 50 vagões, o tempo para iniciar o alívio no último vagão é de 6,9 segundos. Em um trem com 100 vagões, o tempo é de 13,3 segundos. Para se conseguir o alívio em marcha, deve-se antes dar tempo para que a última aplicação de freio se efetive na cauda do trem. Após uma redução de velocidade, nunca deve ser feito o alívio em marcha dos freios, a não ser que uma redução de pelo menos 10 psi tenha sido feita. O alívio em marcha não deve ser feito se o manômetro do encanamento geral indicar um vazamento excessivo neste caso, colocar a locomotiva em marcha lenta e permitir a parada completa do trem antes de aliviar. O alívio em marcha não deve ser feito após uma aplicação de emergência se a emergência tiver partido o trem, colocar a válvula do freio automático na posição de emergência, desligara locomotiva e pesquisar a causa da ocorrência. Após o alívio em marcha, é importante dar tempo para alívio dos freios ao longo do trem antes de se aumentar a aceleração. Em nenhuma circunstância, deve ser feito o alívio parcial ou gradual dos freios em um trem de carga. Quanto ao uso do acelerador durante a partida do trem, devido ao esforço trator elevado das locomotivas diesel elétricas, é importante que todos os freios do trem e das locomotivas estejam totalmente aliviados antes de se iniciar a partida. O tempo aproximado para alívio dos freios após uma aplicação total de serviço em trens com vazamento permitido, de 5 psi/minuto, são de 2 minutos, para os que tenham de 60 a 80 vagões, é de 3 minutos, para os que possuam de 81 a 100 vagões. Se os freios forem aplicados em emergência, deverá ser permitido um adicional de tempo de 1 a 2 minutos. Se o vazamento for maior, mais tempo será necessário. A partida do trem se inicia com o acelerador na posição mais baixa possível. O ponto de aceleração não deverá ser avançado enquanto a amperagem ainda estiver aumentando. Se o trem não se mover com aceleração que, pela experiência, é tida DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 29 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 como suficiente, é aconselhável desacelerar o trem e verificar se há freios agarrados ou assim outro problema. Aumentando-se a aceleração apenas um ponto por vez, para se evitar patinação. O amperímetro dos motores de tração é um bom guia para a utilização do acelerador da locomotiva, que se movimenta para a direita (aumento de amperagem) com o aumento do ponto de aceleração. Quando o aumento de potência é absorvido, o ponteiro começa a se mover para a esquerda ou a se estabilizar. Neste instante, o acelerador pode ser avançado novamente. Assim, para máxima aceleração sem patinação, o acelerador deve ser avançado um ponto somente depois de verificada a estabilização do ponteiro do amperímetro. Ao passar com as locomotivas em chaves de aparelhos de mudança de via nos cruzamentos, reduz-se a aceleração para o ponto 4, dez segundos antes do cruzamento, ou para um ponto inferior, se a aceleração já estiver no ponto 4, uma nova aceleração só deverá ocorrer depois que todas as locomotivas do trem tiverem passado pela chave. Potência Dissipada pelas Rodas dos Vagões – O limite da potência dissipada continuamente nas rodas dos vagões impõe uma restrição à carga rebocada e/ou a velocidade de um trem nos trechos de longos declives. Caso os limites recomendados para esta potência forem ultrapassados, haverá risco de se comprometer a eficiência do freio devido ao superaquecimento excessivo das sapatas, além de contribuir para o aparecimento de trinca nas rodas ou até para sua ruptura. A potência dissipada nas rodas dos vagões durante a frenagem de um trem, é calculada desprezando-se a contribuição do freio dinâmico ou pneumático da locomotiva, condição crítica de operação nos declives. Deve haver, portanto, um equilíbrio entre o número, peso médio dos vagões e velocidade da composição, de modo a não se ultrapassar os valores limites recomendados para a potência dissipada continuamente nas rodas dos vagões, que, segundo os especialistas, correspondem a: 25, 30, 35 e 50 BHP/roda com diâmetro, respectivamente, de 33, 36, 38 e 40 polegadas. A operação contínua, não deve ultrapassar, nestas condições, no máximo, uma hora. Cálculo do Freio dinâmico – O cálculo das forças de freio é um procedimento complexo, mas pode ser simplificado com o uso de gráfico e tabelas. No gráfico, do desenho 2.5.1, determina-se a força de retardamento (resistência) por eixo para faixa estendida do freio dinâmico em várias velocidades. Na locomotiva SD-40, o freio dinâmico completo é regulado para 700A. Se for necessário menos, por exemplo de 400A para o uso do freio dinâmico, então para achar a taxa de ocupação, divida este valor por 700A. Mesmo procedimento para achar a taxa de esforço trator, por exemplo se o acelerador estiver no ponto 6, então dividindo por 8 tem-se, 6/8. DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 30 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 No gráfico do desenho 2.5.1, a partir da velocidade do trem, for traçada uma linha perpendicular até cortar a linha do freio dinâmico. Deste ponto, traçou-se uma linha horizontal até encontrar a linha da força de retardamento por eixo. Conhecendo-se a força de retardamento por locomotiva e multiplicando-a pelo número de locomotivas do módulo de tração do trem, tem-se como resultado a força retardadora do freio dinâmico das locomotivas para a velocidade selecionada. Exemplo para um trem com o peso total de 6.000 t, tracionado por 4 locomotivas de 6 eixos e equipadas com freio dinâmico, viajando num trecho com descendente de 1% na velocidade de equilíbrio de 80,5km/h. Então, calculando as forças que atuam no trem, tem-se: - resistência normal = 2,3 kgf/t x 6.000t = 13.800 kgf - resistência de grade = 10 kgf/t x 1,0 x 6000t = 60.000 kgf. Neste caso, a força retardadora do movimento do trem, a resistência normal, é menor do que a força que está acelerando o trem, a resistência de rampa. Portanto, a força resultante é de 46.200 kgf. Para equilibrar o trem na velocidade de 80,5 km/h, sob a ação da força aceleradora de 46.200 kgf, pode-se utilizar o freio dinâmico, que deverá fornecer uma força retardadora de mesma intensidade para que se consiga equilibrar a velocidade em aproximadamente 80,5 km/h. DESENHO 2.5.1 ADERÊNCIA MÍNIMA TRILHO EM BOM ESTADO SAPATA DE COMPOSIÇÃO SAPATA METÁLICA F O R Ç A R E T A R D A D O R A D O F R E IO D IN Â M IC O - 1 .0 0 0 l b s . VELOCIDADE (mph) P E R C E N T U A L D E A D E R Ê N C IA 7060 60 15 50 50 40 40 10 30 30 20 20 5 10 10 0 0 F R E IO D IN Â M IC O C O N V E N C IO N A L ADERÊNCIA MÍNIMA TRILHO EM MAU ESTADO F R E IO D IN Â M IC O F A IX A E S T E N D ID A DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 31 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 Assim, para se conseguir o equilíbrio, é necessário uma força retardadora do freio dinâmico de 46.200 kgf (101.762 lbs), então, no gráfico do desenho 2.5.1, localiza-se na linha das velocidade a de 80,5km/h (50 mph). Elevar uma perpendicular deste ponto até cortar a curva de freio dinâmico encontra-se a força retardadora do freio dinâmico da locomotiva, de cerca de 28.200 lbs, ou 4.700 lbs/eixo ( 2.134 kg/eixo). Como o módulo de tração do trem tem 4 locomotivas e 24 eixos, a força total do freio dinâmico, será de 51.215 kgf. Como precisa-se de somente 42.600 kgf, 1.775 kg/eixo (42.600 kg / 24 eixos) para o equilíbrio da velocidade, deve-se determinar os amperes do freio dinâmico dividindo 1.775 kg/eixo por 2.134 kg/eixo. O resultado será 83 %. Deste modo, cada locomotiva do conjunto precisará de 581A (0,83 x 700A) de freio dinâmico para equilibrar o trem na velocidade de 80,5 km/h um trem que esteja descendo um trecho em rampa de 1%. Cálculo do Freio Automático – Na tabela abaixo, são apresentadas as forças retardadoras do freio pneumático, de vagões de 4 eixos, correspondentes às aplicações do sistema. Redução em kPa (em psi) Força retardadora em N (em lbs) 41 6 6.228 1.400 48 7 7.429 1.670 55 8 8.630 1.940 62 9 9.831 2.210 69 10 11.032 2.480 76 11 12.233 2.750 83 12 13.434 3.020 90 13 14.635 3.290 96 14 15.836 3.560 103 15 17.037 3.830 110 16 18.238 4.100 117 17 19.439 4.370 124 18 20.640 4.640 131 19 21.841 4.910 138 20 23.042 5.180 145 21 24.243 5.450 152 22 25.444 5.720 159 23 26.645 5.990 165 24 27.846 6.260 172 25 29.047 6.530 179 26 30.248 6.800 Emergência 621 90 34.696 7.800 Imagine-se um trem de 100 vagões que pese 8.000 t (71.172 kN), com 4 locomotivas, 24 eixos, descendo um trecho com grade de 1,5%, em tangente, na velocidadede equilíbrio desejado de 64,4km/h (40 mph). Se as locomotivas pesarem 180t (1.601kN) cada, então, o peso total do trem será de: DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 32 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 Peso dos vagões: 8.000 t Peso das locomotivas: ___800 t Peso total: 8.800 t Resistência normal: (2,3 kgf/t x 8.800t) -20.240 kgf Resistência de grade: (1,5x10 x 8.800) 132.000 kgf Força no trem: 111.760 kgf Para equilibrar o trem, necessita-se 111.760 kgf de força de freio, que pode ser fornecida pelo freio dinâmico e pelo freio pneumático. Se for acionado o freio pneumático, aplicação de 6 psi, o trem será freiado com uma força de 63.560 kgf (100 vagões x 1.400 lb/vagão). Segundo esta hipótese, para o equilíbrio da velocidade em 64,4 km/h (40 mph), é exigida do freio dinâmico uma força de 58.200 kgf (111,760 kgf – 63.560 kgf). No desenho 2.5.1, para a velocidade de 40 mph, o freio dinâmico disponibiliza 15.890 kgf (35.000 lbs) por locomotiva e para o trem com 4 locomotivas, 63.560 kgf. Desta maneira, a combinação dos dois tipos de freio pode equilibrar a velocidade do trem. 2.6 VELOCIDADE EM REGIME CONTÍNUO E DE EQUILÍBRIO No desenho 2.6.1, são representadas curvas típicas, a do esforço trator disponível para a tração do trem e as de resistência total ao movimento do trem, uma para o trecho em rampa de 0,5 % de greide e outra para o trecho em nível, todas tendo como uma das variáveis a velocidade. Na curva do esforço trator, pode ser visto que o seu valor permanece constante, no intervalo da velocidade de 0 até 20 mph, e, a partir desta velocidade, seu valor varia de acordo com a variação da velocidade. Na especificação da locomotiva, a velocidade de 20 mph é conhecida como velocidade de regime contínuo, VRC. Em termos operacionais isso significa que a locomotiva pode funcionar de maneira contínua, sem o super aquecimento dos motores de tração em velocidades superiores a 20 mph. Na prática, significa que o calor gerado pelos motores de tração, que causa o super aquecimento, é dissipado pelos refrigeradores, fato que não ocorre para velocidades menores que 20 mph. No intervalo de 0 a 20 mph, a locomotiva só pode funcionar durante o tempo limitado pelo fabricante, sob pena de queimar os motores de tração pelo super aquecimento. No Brasil, para as locomotivas de trem de carga, a velocidade de regime contínuo varia de 12,6 km/h, como é o caso da GE U23 CA de bitola larga, até 21,3 km/h, como ocorre na ALCO MX-620. A velocidade de regime contínuo tem uma relação direta com a relação de engrenagem. Quanto maior a relação de engrenagem, menor é a velocidade de regime contínuo e maior o esforço trator, para um mesmo raio de roda. A especificação da velocidade de regime contínuo de uma frota de locomotivas de uma ferrovia é um importante fator de ganhos de custos no dimensionamento dos trens. Nas ferrovias que operam com conjunto de locomotivas em tração múltipla, a especificação de uma única velocidade de regime contínuo para todas as locomotivas da frota eliminará a limitação de operação de conjuntos de tipos DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 33 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 diferentes de locomotivas. O conjunto de tração múltipla formado por locomotivas de tipos diferentes e com diferentes velocidades de regime contínuo limitará obrigatoriamente a velocidade do trem, igualando-a à da locomotiva que tiver a maior velocidade de regime contínuo. As demais locomotivas, com velocidades de regime contínuo menores, permanecerão com folga de esforço trator. No exemplo do desenho 2.6.1, pode ser também deduzido que o trem tem esforço trator suficiente para tracionar o trem até atingir a velocidade de equilíbrio de 85 mph, no trecho de rampa de 0,5%, e de 95 mph, no trecho em nível. Portanto, nestes trechos, estas são as velocidades máximas que o trem poderá atingir. Para o trecho em rampa de 0,5%, se no caso for o trecho dimensionante do peso do trem, no intervalo de velocidade de 0 a 95 mph, o esforço trator é maior do que a resistência total. Isto significa que, neste intervalo, existe disponibilidade de força para a aceleração do trem. 2.7 CAPACIDADE DE REBOQUE DA LOCOMOTIVA Chama-se tonelagem de um trem o peso total deste trem, obtido pela soma do peso morto dos vagões com o peso da carga, medidos em toneladas. A capacidade de reboque de uma locomotiva é dada pela fórmula: C = ET/RT – Pc, sendo: C = capacidade de reboque em kg ET = esforço de tração em kgf RT = resistência total ao movimento do trem em kgf/t Pc = peso da locomotiva em kg 0 0 20 40 60 80 100 120 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100 Velocidade (mph) Esforço Trator Resistência Linha 0,5% de Ramp a Resistência da Linha em Nív el E T / R e s is tê n c ia ( k N ) DESENHO 2.6.1 DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 34 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 Como a resistência depende do trecho, as capacidades variam de acordo com suas tipologias. Para possibilitar a formação dos trens adequados às locomotivas em serviço, procura-se agrupar segmentos da linha, em seqüência, com resistências não muito diferentes, determinando-se a capacidade das locomotivas para os mesmos. Isto evita a necessidade de recomposição muito freqüente do trem. Estes grupamentos de segmentos da linha são chamados de perfis. O quadro de tração indica, para cada perfil, a capacidade de reboque de cada tipo de locomotiva. Quando, na seqüência de segmentos de trecho, houve uma variação muito grande de resistência, muda-se o perfil. O encarregado da operação resolverá, então, quanto à conveniência de recompor o trem entre os perfis ou adotar a tonelagem correspondente ao perfil de maior resistência, para evitar a recomposição. Há casos em que se usa uma locomotiva de auxílio para vencer o trecho crítico. Isto evita tanto a redução da tonelagem quanto a recomposição. Com o desenvolvimento das locomotivas elétricas e diesel elétricas, foi possível generalizar o uso do mecanismo de tração múltipla, que consiste em rebocar trens mais pesados usando-se mais de uma locomotiva, todas elas controladas por uma única cabine de comando. A tração múltipla é limitada pela capacidade de transferência dos sinais de comando de uma locomotiva para outra e pelo esforço nos engates dos vagões, quando todas as locomotivas vão na frente do trem. Já existe, para evitar essa limitação imposta pelos engates, a possibilidade de o comando ser transmitido por rádio, permitindo colocar locomotivas entre séries de vagões. Estes sistemas mais modernos são conhecidos pelo nome Locotrol. No caso de tração múltipla com locomotivas iguais, o esforço de tração total será igual à soma dos esforços de tração de cada locomotiva. Se as locomotivas, no entanto, forem diferentes, o esforço de tração de uma delas, a ser considerado na soma, será o esforço de tração correspondente à velocidade da unidade que tiver a maior velocidade de regime contínuo. Como foi visto na equação de Davis, as resistências normais variam em função do número de eixos dos vagões. Assim, quando existir uma carga “Q” a ser transportada, a resistência normal será menor se for usado um vagão com capacidade “Q”. Se forem usados dois vagões de capacidade Q/2, a resistência normal será maior pois o número de eixos passará de 4 para 8, tendo considerado a mesma tara para os dois casos. Assim, no segundo caso, cada vagão teria metade do peso total do primeiro. Desta forma, a força necessária para rebocar um trem com peso P, composto por m + n vagões, deverá ser maior do que a necessária para rebocá-lo com m vagões, num mesmo trecho, à mesma velocidade, como se adicionasse ao peso do trem um outro peso, função do número de vagões. O carro fator depende do trecho, sendo tanto maior quanto menor for a resistência domesmo. DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 35 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 Os quadros de tração indicam, portanto, as tonelagens compensadas por tipo de locomotiva, em cada perfil, e o carro fator deste. A seguir, propomos o seguinte exercício: Considerando a capacidade de uma locomotiva em um determinado trecho, cujo carro fator igual a 5, de 1.200 t: a) verificar se um trem de 1.100 t de peso bruto com 25 vagões pode ser tracionado por esta locomotiva; b) verificar o mesmo para um trem de peso igual mas com apenas 11 vagões. Solução da Questão a): 1.100 + 25 x 5 = 1.225 t 1.225 é maior do 1.200, verifica-se então, que o trem não pode ser tracionado pela locomotiva. Solução da Questão b): 1.100 + 21 x 5 = 1.155 t 1.155 é menor do 1.200, verifica-se então, que o trem pode ser tracionado pela locomotiva. As tonelagens indicadas nos quadros de tração das locomotivas de carga são sempre as máximas permitidas. Para trens de passageiros ou especiais de carga, são feitas reduções nas tonelagens, para permitir maiores velocidades. Assim, resumindo, capacidade de reboque da locomotiva corresponde ao esforço de tração disponível no engate da locomotiva para rebocar o trem. Na prática, o esforço de tração é o que interessa conhecer, quando é necessário rebocar algo. Os fabricantes de locomotivas fornecem os dados principais da máquina, tais como: potência, peso total, comprimento, largura, altura, raio mínimo de inscrição, esforço de tração máximo e velocidade de regime contínuo. Este esforço de tração máximo, em quilogramas-força, está associado à velocidade de regime contínuo da locomotiva. Nesta velocidade, a locomotiva pode se deslocar continuamente, sem ocasionar danos para os motores de tração, desenvolvendo esforço de tração maior nas rodas da locomotiva. Alguns fabricantes fornecem as curvas em um gráfico de potência que contém as velocidades associadas ao esforço de tração disponível nas rodas da locomotiva. A curva representa um somatório de pequenas curvas de potência devido à ligação dos motores de tração, ora em série, ora em paralelo. No desenho 2.7.1, é apresentada a curva de potência da locomotiva GM SD40-2. DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 36 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 A curva que melhor passa pelos pontos do gráfico é uma curva logarítmica de coeficiente de correlação igual a 0,99. E = a + b ln . V_ a = 97,002 b = -21,228 exemplo: E = 97,002 – 21,228 Ln . 13,7 E = 41.440 kgf Obs. : Na realidade, para V = 13,7 km/h ET = 41.000 kgf Com a curva, é possível saber o esforço de tração na roda da locomotiva GM SD40- 2 para qualquer velocidade. Conhecendo o esforço trator, na velocidade desejada, pode-se agora calcular o esforço de tração disponível da locomotiva no engate. Dados da locomotiva: Esforço máximo de tração = 41.000 kgf V (km/h) ET (kgf) 10 48.123 15 39.516 20 33.409 25 28.672 30 24.801 35 21.529 40 18.694 DESENHO 2.7.1 - CURVA ESFORÇO TRATOR X VELOCIDADE km/h 1 0 k g f 3 60 50 0 10 20 30 40 50 60 0 40 30 20 10 DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 37 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 Área = 3,05 x 4,74 = 14,76m2 Peso total = 180 toneladas Velocidade de regime contínuo = 13,7 km/h Se 13,7 km/h também for a velocidade de equilíbrio, então a capacidade de reboque da locomotiva será calculada para esta velocidade. Para esta velocidade de regime contínuo, geralmente, não é nem preciso fazer o cálculo do esforço de tração na roda, uma vez que é um dado fornecido pelo fabricante. Para V = 13,7 km/h, o Et = 41.000 kgf Sabe-se que a locomotiva demandará um pequeno esforço para seu próprio deslocamento. Para conhecê-lo, multiplica-se seu peso pela taxa de resistência total ao movimento. Exemplificando, admitindo-se que a rampa compensada já foi calculada é de 2,47%. Cálculo da taxa de resistência normal. RN = 0,65 + _13,2_ + 0,00931 x 13,7 + 0,00453 x 14,46 x 13,72 180 : 6 180 RN = 1,29 kgf/t (para a locomotiva) Cálculo da taxa de resistência de rampa: RG = 10 x i. RG = 10 x 2,47 RG = 24,7 kgf/t Cálculo da taxa de resistência total da locomotiva para se auto-tracionar: RTL = RG + RN. RTL = 24,7 + 1,29 RTL = 25,99 kgf/t Esforço consumido para deslocar a locomotiva a 13,7 km/h: ETL = P x RTL. ETL = 180 t x 25,99 kgf t ETL = 4.678 kgf DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 38 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 Como observação, é importante lembrar que o peso da locomotiva é uma força vertical (força de gravidade) e o esforço para deslocá-la é uma força paralela ao plano do seu deslocamento. A “taxa de resistência”, sendo um número adimensional (kgf/t = força / força), funciona na verdade como um coeficiente de atrito. Isto explica o papel da “taxa de resistência” de tornar uma força vertical (o peso das locomotivas e o peso dos vagões) em uma força (que resiste ao deslocamento) paralela a seu plano. Finalmente, o esforço de tração disponível no engate da locomotiva é: ET = 41.000 kgf – 4.678 kgf ET = 36.322 kgf 2.8 RELAÇÃO DE TRANSMISSÃO E DIÂMETRO DA RODA No desenho 2.8.1, apresenta-se a relação de transmissão do movimento do motor de tração da locomotiva para a roda. F x r’ = R x ET (1) T = torque do motor de tração = F x r, daí que F = Substituindo, em (1), F pelo seu valor, temos que: x r’ = R’ x TE; = relação de engrenagem = T r T r r' r DESENHO 2.8.1 - REPRESENTAÇÃO DA RELAÇÃO DE TRANSMISSÃO F COROA r` R TE PI NHÃO r DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 39 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 ET = x (2) = rendimento Na demonstração acima, não foi mencionada a relação de engrenagem. Na locomotiva, um conjunto de engrenagens liga o eixo do motor de tração ao eixo das rodas, sendo o esforço-trator para locomover o trem diretamente proporcional ao torque do motor e à relação de engrenagens e inversamente proporcional ao raio da roda. Em outras palavras, quanto maior for o número de dentes da coroa e menor for o pinhão, maior será o esforço-trator. Na prática, porém, existe um limite para o valor da relação de transmissão, devido à necessidade de a caixa de engrenagens ter de ficar pelo menos 10 cm acima do topo do trilho. Por esta mesma razão, o raio da roda tem também um tamanho limite. Nos desenhos 2.8.2 e 2.8.3, ilustra-se a relação de transmissão. T x R DESENHO 2.8.2 - DESENHO ILUSTRATIVO DA RELAÇÃO DE TRANSMISSÃO PLAN VIEW CROSS SECTION END VIEW CROSS SECTION Diagram showing how a DC motor drives the axle through a pinion and gearwheet Gear Armature Drive Shaft Pinion Axle Field (Fixed - the Stator) Armature (Rotating - the Rotor) Traction Motor Case Armature Drive Shaft Armature (Rotating) Field (Fixed) DINÂMICA E DESEMPENHO DO TREM 40 MÓDULO - OPERAÇÃO FERROVIÁRIA ACT - 2001 O diâmetro das rodas é um item importante na especificação das locomotivas, tanto para a via permanente como para a produção do esforço-trator. Na fórmula (2), pode ser visto que o esforço-trator varia de acordo com o comprimento do raio da roda. Como a roda, com o uso, sofre desgastes e torneamentos, seu raio diminui de comprimento com o passar do tempo. Uma diminuição no diâmetro da roda, decorrente do desgaste e dos torneamentos, altera a relação de engrenagem fazendo com que o esforço-trator aumente. No dimensionamento do trem, é usual considerar um diâmetro médio a ser adotado como referência
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